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3. Reta tangente Um dos problemas fundamentais do Cálculo é o de determinar o que se entende por reta tangente ao gráfico de uma função em certo ponto. Essa idéia corresponde essencialmente a um processo de limite, conforme veremos logo mais. O que se costuma pensar, quando se fala de reta tangente a uma curva é uma reta que corta a curva em apenas um ponto. Entretanto, apenas em alguns casos isso é verdade, como no caso da circunferência, como mostrado na figura a seguir. Na figura a seguir, vemos uma figura onde a reta que é de fato a tangente e que corta a curva em mais de um ponto. Portanto, a idéia anterior não corresponde à realidade. Vejamos então como podemos definir a reta tangente ao gráfico de uma função em um ponto P. Essa idéia é devida ao grande matemático francês Pierre de Fermat (1601- 1665) que deixou uma obra de muita importância para a Matemática. Consideremos um ponto Q diferente de P e olhemos para a reta determinada por P e Q , que chamaremos de retas secantes, conforme a figura abaixo. Fazemos então o ponto Q se aproximar do ponto P e olhamos o que acontece com essas retas secantes. Se essas retas ficarem próximas de uma reta bem definida, diremos que essa reta de quem as secantes se aproximam é a reta tangente ao gráfico de f no ponto P . A figura a seguir dá uma idéia dessa situação. Perceba o ponto Q se deslocando sobre o gráfico da função na direção do ponto P e note que as secantes vão girando e ficando cada vez mais próximas da reta t . Dessa forma, podemos pensar que A reta tangente a uma curva num ponto é a posição-limite das retas secantes PQ , quando Q se aproxima de P . Vejamos alguns casos onde não existe reta tangente num ponto considerado. No primeiro desenho, perceba que, se nos aproximamos do ponto onde existe o “bico” no gráfico, pela direita, teremos uma “tangente pela direita”, no caso a reta vermelha, ao passo que se nos aproximarmos pela esquerda, a reta azul será a “tangente pela esquerda”. Ou seja, como as secantes não ficam próximas de uma reta definida, não temos reta tangente ao gráfico no ponto onde está o “bico”. Uma outra situação semelhante à anterior é mostrada na figura a seguir, onde, também no vértice da curva, não temos reta tangente. Pode-se pensar que nos pontos onde temos um “bico”, obrigatoriamente não teremos reta tangente. A figura a seguir desfaz essa impressão. No ponto onde está o “bico”, temos que existe a reta tangente e ela é vertical. Toda a discussão feita até agora é baseada apenas em figuras e na construção sugerida pela idéia de Pierre Fermat. A questão agora é a seguinte: Como descobrir se existe tangente ao gráfico de uma função em um ponto? Vamos utilizar para isso a noção de coeficiente angular de uma reta. Recorde que se r é uma reta, definimos a sua inclinação como sendo o menor ângulo medido no sentido anti-horário que essa reta faz com o eixo das abscissas. Também definimos o seu coeficiente angular como sendo a tangente de sua inclinação. Confira a figura abaixo. De acordo com a figura anterior, vemos que se os pontos ( )1 1,A x y= e ( )2 2,B x y= pertencem à reta r e α é a sua inclinação, o seu coeficiente angular é dado por 2 1 2 1 y y tg x x α − = − . Em geral representaremos o coeficiente angular de uma reta pela letra m . Esse raciocínio só é válido se a reta não for vertical. Nesse caso a sua inclinação é 090 ou 2 pi rad. Nesse caso não definimos o seu coeficiente angular. Após essa rápida revisão, voltemos ao problema de decidir se existe ou não a reta tangente ao gráfico de uma função num dado ponto. Para respondermos a essa questão, vamos nos basear no entendimento acerca da reta tangente que tivemos anteriormente. A reta tangente no ponto P é a posição-limite das retas secantes PQ , quando Q se aproxima de P . Baseados nisso é bastante razoável admitirmos que O coeficiente angular da reta tangente no ponto P é o limite dos coeficientes angulares das secantes quando Q se aproxima de P . É através disso que vamos calcular o coeficiente angular da reta tangente e, conseqüentemente sabermos se ela existe ou não. Vejamos alguns exemplos. Exemplo 1. Consideremos a função ( ) 2f x x= e vamos descobrir a equação da reta tangente ao gráfico de f no ponto ( )0,0P = . Em primeiro lugar, o que devemos fazer é encontrarmos o coeficiente angular de cada uma das secantes. Tome então um ponto ( ),Q x y= sobre o gráfico de f . Isso obriga que 2y x= . Assim, o ponto Q na realidade é ( )2,Q x x= . O coeficiente angular da secante que passa por P e Q – que vamos representar por sm é dado por 2 20 0 Q P s Q P y y x x m x x x x x − − = = = = − − Em segundo lugar, lembramos que o coeficiente angular da reta tangente no ponto P é o limite dos coeficientes angulares das secantes quando Q se aproxima de P . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que limT sQ Pm m→= . Agora perceba uma pequena sutileza lingüística: dizer que Q está próximo de P é o mesmo que dizer que x está próximo de 0 . Portanto, 0 lim 0T x m x → = = . Isso acarreta que a reta tangente ao gráfico de f no ponto ( )0,0P = é horizontal. Veja a figura a seguir. Exemplo 2: Consideraremos a mesma função do Exemplo 1, só que mudaremos o ponto. Dessa vez o ponto ( )2,4P = . O raciocínio é semelhante ao anterior. Começamos com um ponto genérico Q sobre o gráfico de ( ) 2f x x= - que é, ninguém mais, ninguém menos que a parábola 2y x= . Em virtude dessa escolha, temos ( )2,Q x x= . Assim, o coeficiente angular de cada uma das secantes que passa por P e Q é dado por: ( )( )2 2 24 2 2 2 Q P s Q P y y x xx m x x x x x − − + − = = = = + − − − . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P é o mesmo que dizer que x está próximo de 2 . Portanto, 2 lim 2 4T x m x → = + = . Isso acarreta que a reta tangente ao gráfico de f no ponto ( )2,4P = é a reta de equação ( )4 4 2y x− = ⋅ − . Veja a figura a seguir. Exemplo 3: Consideremos agora a função ( ) 24 , 14 8 , 1 x se xf x x x se x < = − + ≥ e vamos investigar a existência de reta tangente ao gráfico de f no ponto ( )1,4P = . Para facilitar um pouco mais a nossa vida, vamos olhar para o gráfico dessa função. Ele está mostrado a seguir e já sinaliza com uma primeira suspeita: não há reta tangente no ponto dado! Apesar disso, vamos fazer um cálculo para confirmar o que a figura está indicando. Lembre que uma figura às vezes pode nos enganar. Basta lembrar as ilusões de óptica. Já dá pra notar que antes de 1x = a função está definida de um jeito e depois de 1x = , de outro jeito. Isso nos faz lembrar uma das figuras lá do início, onde tínhamos uma situação de uma “tangente pela direita” e de uma “tangente pela esquerda”. Esse fenômeno vai acontecer aqui e a gente só vai fazer umas contas pra confirmar que, de fato ele existe. Então vamos lá. Vamos ver o caso da “tangente à esquerda”. Tomemos um ponto genérico ( ),Q x y= à esquerda de ( )1,4P = , sobre o gráfico de f . Pelo fato de Q estar à esquerda de P , temos que 1x < . Portanto, como o ponto ( ),Q x y= pertence ao gráfico de f e o gráfico de f , para 1x < , é a reta 4y x= , segue que ( ,4 )Q x x= . Agora procedemos como nos exemplos anteriores. O coeficiente angular de cada uma das secantes que passa por P e Q é dado por: ( )4 14 4 4 1 1 Q P s Q P y y xx m xx x x − − − = = = = − − − . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que pela esquerda limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P pela esquerda, é o mesmo que dizer que x está próximo de 1, pela esquerda. Portanto, 1 lim 4 4T x m −→ = = . Isso acarreta que a reta “tangente à esquerda” ao gráfico de f no ponto ( )1,4P = é a reta de equação ( )4 4 1y x− = ⋅ − , ou seja, a reta 4y x= . Vejamos agora o caso da “tangente pela direita”. Então vamos lá. Tomemos um ponto genérico ( ),Q x y= à direita de ( )1,4P = , sobre o gráfico de f . Pelo fato de Q estar à direita de P , temos que 1x > . Portanto, como o ponto ( ),Q x y= pertence ao gráfico de f e o gráfico de f , para 1x > , é a parábola 24 8y x x= − + , segue que 2( , 4 8 )Q x x x= − + . Agora procedemos como nos exemplos anteriores. O coeficiente angular de cada uma das secantes que passa por P e Q é dado por: ( ) ( ) ( ) 222 4 2 1 4 14 8 4 4 1 1 1 1 Q P s Q P x xy y xx x m x x x x x x − − + − − − − + − = = = = = − − − − − − . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que pela direita limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P pela direita, é o mesmo que dizer que x está próximo de 1, pela direita. Portanto, ( ) 1 lim 4 1 0T x m x +→ = − − = . Isso acarreta que a reta “tangente à direita” ao gráfico de f no ponto ( )1,4P = é a reta de equação ( )4 0 1y x− = ⋅ − , ou seja, a reta 4y = , que é uma reta horizontal passando pelo ponto ( )1,4P = . Na figura a seguir mostramos o gráfico de f , bem como as tangentes “pela esquerda” e “pela direita”. Moral da história: não temos reta tangente, pois as tangentes pela esquerda e direita são diferentes. Exemplo 4. Vamos considerar agora a função ( ) 13f x x= e vamos ver se existe reta tangente no ponto ( )0,0P = . Em primeiro lugar, o que devemos fazer é encontrar o coeficiente angular de cada uma das secantes. Tome então um ponto ( ),Q x y= sobre o gráfico de f . Isso obriga que 13y x= . Assim, o ponto Q na realidade é ( )13,Q x x= . O coeficiente angular da secante que passa por P e Q – que vamos representar por sm é dado por 1 1 3 3 2 3 2 3 23 0 1 1 0 Q P s Q P y y x x m x x x x x xx −− − = = = = = = − − Em segundo lugar, lembramos que o coeficiente angular da reta tangente no ponto P é o limite dos coeficientes angulares das secantes quando Q se aproxima de P . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P é o mesmo que dizer que x está próximo de 0 . Portanto, 3 20 1limT x m x→ = = +∞ , o que acarreta ser a reta tangente vertical, conforme nos mostra a figura a seguir. Exercícios propostos 1. Determine a equação da reta tangente ao gráfico da função ( ) 22f x x= , no ponto em que 2x = . 2. Determine o coeficiente angular da reta tangente à curva 1y x = no ponto ( )13, 3 . 3. Considerando a função ( ) 2,, 00 x se xf x x se x − < = ≥ , decida se existe reta tangente ao gráfico de f no ponto em que 0.x = _______________________________________________ Soluções 1. Primeiro vamos determinar o coeficiente angular dessa reta tangente. O ponto P possui abscissa igual a 2 , logo sua ordenada será ( ) 22 2 2 8y f= = ⋅ = . Assim ( )2,8P = . Agora o que devemos fazer é encontrar o coeficiente angular de cada uma das secantes que ligam P a Q . Tome então um ponto ( ),Q x y= sobre o gráfico de f . Isso obriga que 22y x= . Assim, o ponto Q na realidade é ( )2,2Q x x= . O coeficiente angular da secante que passa por P e Q é dado por: ( ) ( )( ) ( ) 22 2 4 2 2 22 8 2 2 2 2 2 Q P s Q P xy y x xx m x x x x x x − − − + − = = = = = + − − − − Em segundo lugar, lembramos que o coeficiente angular da reta tangente no ponto P é o limite dos coeficientes angulares das secantes quando Q se aproxima de P . Assim sendo, denotando o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P é o mesmo que dizer que x está próximo de 2 . Portanto ( ) 2 lim 2 2 8T x m x → = + = . Agora é só escrever a equação da reta. A equação da reta pedida será ( )8 8 2y x− = ⋅ − , ou seja, 8 8x y− = . 2. Fazendo ( )y f x= , o problema se reduz a determinarmos a equação da reta tangente ao gráfico de ( ) 1f x x = no ponto ( )13, 3 . Portanto, procedendo como na questão anterior, primeiramente vamos descobrir quanto vale o coeficiente angular da reta pedida. Agora o que devemos fazer é encontrar o coeficiente angular de cada uma das secantes que ligam P a Q . Tome então um ponto ( ),Q x y= sobre o gráfico de f . Isso obriga que 1y x = . Assim, o ponto Q na realidade é 1,Q x x = . O coeficiente angular da secante que passa por P e Q é dado por: ( ) 1 1 3 3 13 3 3 3 3 3 3 x xx xm x x x x x − − − − = = = = − − ⋅ − Assim sendo, denotando o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P é o mesmo que dizer que x está próximo de 3 . Portanto 3 1 1lim 3 9T x m x→ − − = = . Portanto a equação da reta tangente será ( )1 1 3 3 9 y x− = − − , ou seja, 9 3 3y x− = − + , ou ainda, 9 6x y+ = . 3. Primeiro construímos o gráfico de f . Perceba que já há um indício de que não há reta tangente no ponto ( )0,0 . Tomemos um ponto genérico ( ),Q x y= à esquerda de ( )0,0P = , sobre o gráfico de f . Pelo fato de Q estar à esquerda de P , temos que 0x < . Portanto, como o ponto ( ),Q x y= pertence ao gráfico de f e o gráfico de f , para 0x < , é a reta y x= − , segue que ( , )Q x x= − . Agora procedemos como nos exemplos anteriores. O coeficiente angular de cada uma das secantes que passa por P e Q é dado por: 0 1 0 Q P s Q P y y x x m x x x x − − − − = = = = − − − . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que pela esquerda limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P pela esquerda, é o mesmo que dizer que x está próximo de 0 , pela esquerda. Portanto, 0 lim 1 1T x m −→ = − = − . Tomemos um ponto genérico ( ),Q x y= à direita de ( )0,0P = , sobre o gráfico de f . Pelo fato de Q estar à direita de P , temos que 0x > . Portanto, como o ponto ( ),Q x y= pertence ao gráfico de f e o gráfico de f , para 0x > , é a parábola 2y x= , segue que 2( , )Q x x= . Agora procedemos como nos exemplos anteriores. O coeficiente angular de cada uma das secantes que passa por P e Q é dado por: 2 20 0 Q P s Q P y y x x m x x x x x − − = = = = − − . Assim sendo, se representarmos o coeficiente angular da tangente por Tm , temos que pela direita limT sQ Pm m→= . Agora perceba: dizer que Q está próximo de P pela direita, é o mesmo que dizer que x está próximo de 0 , pela direita. Portanto, 0 lim 0T x m x +→ = = . Isso acarreta que não existe a tangente no ponto dado.
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