Prévia do material em texto
Profa. Daniele Hermes CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA Indicação deve ser criteriosa pacientes que realmente já tentaram mudanças no padrão e comportamento alimentar, aumento de atividade física e terapia medicamentosa Pacientes com IMC maior ou igual a 40Kg/m2 e que tentaram tratamento clínico por mais de 2 anos consecutivos, mas sem sucesso Pacientes com IMC maior ou igual a 35Kg/m2, mas que apresentem, pelo menos, uma comorbidade Entre 16 e 18 anos: sempre que houver indicação e consenso entre a família e equipe multidisciplinar Pacientes com IMC entre 30 e 35 kg/m² na presença de comorbidades que tenham obrigatoriamente a classificação “grave” por um médico especialista na respectiva área da doença. É também obrigatória a constatação de “intratabilidade clínica da obesidade” por um endocrinologista Contra-indicações Condições clínicas precárias Retardo mental, transtornos psiquiátricos graves Abuso ou dependência de droga ou álcool RESTRITIVAS – saciedade precoce e restrição da ingestão de alimentos calóricos Banda gástrica ajustável Gastroplastia vertical ou Sleeve DISABSORTIVAS – redução expressiva do segmento intestinal capaz de absorver nutrientes Derivação biliopancreática de Scopinaro MISTAS – restrição da ingestão alimentar, além de promover disabsorção de parte dos nutrientes ingeridos Bypass gástrico em Y-de-Roux ▪ Utilização reconhecida como método terapêutico auxiliar para preparo pré-operatório ▪ Colocado por endoscopia - insuflado com soro fisiológico e azul de metileno (~500 mL de líquido) ▪ Facilmente reversível ▪ Sensação de plenitude gástrica ▪ Perda de peso similar: dieta + medicamentos + mudança de hábito ▪ Facilita mudança de hábito alimentar e comportamental Corresponde a colocação de uma prótese anelar em torno do estômago, acoplado a um dispositivo que permite insuflar ou desinsuflar a banda, respectivamente aumentando ou diminuindo a restrição, garantindo emagrecimento com mínimo de vômito. O volume do reservatório gástrico proximal deve ser de cerca de 15mL O estômago é transformado em um tubo, com capacidade de 80 a 100 mililitros (ml). Essa intervenção provoca boa perda de peso, comparável à do bypass gástrico e maior que a proporcionada pela banda gástrica ajustável. É um procedimento relativamente novo, praticado desde o início dos anos 2000. Tem boa eficácia sobre o controle da hipertensão e de doenças dos lípides (colesterol e triglicérides). Consiste em uma gastrectomia parcial, criando um reservatório com capacidade de aproximadamente 200 a 500mL, o que provoca pequena restrição. Um longo desvio intestinal permite absorção de nutrientes em um pequeno segmento intestinal, medindo entre 50 e 100cm, localizado no íleo distal. Diarréia crônica e flatulência são comuns, assim como má absorção de proteínas, gorduras, ferro, vitaminas lipossolúveis e cálcio Proposta por Fobi e Capella, possui um reservatório gástrico proximal de cerca de 30mL – 50 mL, porém é criado uma anastomose para o jejuno. O desvio do trânsito alimentar, evitando o duodeno e o jejuno proximal, é responsável pela disabsorção de lípides, carboidratos, vitaminas, ferro e cálcio. Restam cerca de 2/3 de intestino delgado capaz de absorver, o que evita o surgimento de diarréia crônica Técnicas restritivas são apropriadas para indivíduos com IMC inferior a 50Kg/m2, rigorosamente selecionados entre aqueles com boa aderência à dieta Técnicas mistas aplicam-se a maioria dos obesos mórbidos, e por isso são consideradas padrão-ouro Técnicas disabsortivas são indicadas para superobesos e para obesos mórbidos que não aceitem restrição alimentar Os resultados dos procedimentos cirúrgicos são avaliados em termos de melhora da qualidade de vida, remissão de comorbidades e perda de peso em excesso (PPE) % PPE = [(peso inicial – peso final) / (peso inicial – peso ideal)] x 100 A %PPE é de 50% nas técnicas restritivas, de 60 a 70% nas mistas e de 70 a 80% nas disabsortivas Promover perda de peso saudável e prevenção de deficiências nutricionais por meio da reeducação alimentar, acarretando modificação no comportamento alimentar e no estilo de vida desses indivíduos, além de diminuição de comorbidades e melhora da qualidade de vida Equipe Mínima: Médico especialista em cirurgia geral ou cirurgia do aparelho digestivo; Nutricionista; Psicólogo ou psiquiatra; Clínico-geral ou endocrinologista. Equipe complementar: Equipe médica composta por: clínico geral, cardiologista, pneumologista, endocrinologista, angiologista/cirurgião vascular e cirurgião plástico; Anestesiologista; Enfermeiro; Assistente Social; Fisioterapeuta. Exames laboratoriais (de rotina): Hemograma, coagulograma, Na, K, ureia, creat, glicemia de jejum, bilirrubinas, TGO, TGP, FA, Gama GT, colesterol total e frações, TG, proteína total, albumina, ácido úrico Preparar o paciente para o programa de alimentação no período pós-operatório Promover uma reeducação alimentar que terá continuidade com o processo cirúrgico Superobesos deveriam emagrecer 10% do peso antes da operação Identificar erros alimentares e de comportamento praticados Avaliação laboratorial Exames de rotina A critério – hemoglobina glicosilada, fibrinogênio, insulina, hormônios tireoidianos, cálcio magnésio, fósforo, ferro, ferritina, transferrina, ácido fólico, vitamina B12 Avaliação antropométrica Peso atual IMC Circunferência abdominal Histórico do peso habitual Anamnese alimentar Paladar, sintomas gastrintestinais, como náuseas, vômitos, funcionamento intestinal, diarreia, constipação, mastigação e deglutição, absorção de nutrientes, intolerância ou alergia alimentar, utilização de suplementos nutricionais Recordatório alimentar de 24h, questionário de frequência alimentar Análise da habilidade para preparar os alimentos Compreensão das orientações relativas à técnica cirúrgica e às etapas de realimentação Processo de reeducação alimentar Orientação de práticas alimentares saudáveis Guia Alimentar para a População Brasileira Correção dos erros alimentares e, principalmente, as condições para evitar carências nutricionais no pós-operatório Orientação do programa de alimentação pós- operatório Progressão da dieta em consistência e volume, primeiro período pós-operatório, mudanças definitivas devido ao processo cirúrgico O programa de realimentação leva em consideração a progressão de consistência em fases e o progresso de volumes pequenos para volumes maiores Técnicas restritivas e mistas – adaptação a uma dieta fracionada, com pequeno volume Bypass em Y-de-Roux (reservatório gástrico em torno de 30 mL) – ingestão de no máximo 50mL por refeição (um copo de café descartável) Derivações biliopancreáticas (redução da capacidade gástrica para 200 a 500mL) – ingestão aceitável de 200 a 300mL por vez Frequência maior do número de refeições Evitar período de jejum maior que 3h – prevenir hipoglicemia Aumenta-se a CONSISTÊNCIA dos alimentos ao longo de 2 meses, podendo variar de acordo com a tolerância individual Dieta Líquida restrita (7 dias) ▪ Objetivo: repouso gástrico, adaptação aos pequenos volumes e a hidratação ▪ Consiste em líquidos claros que forneçam pouco/nenhum resíduo e sejam facilmente digeridos ▪ Ex: bebidas não calóricas, não gaseificadas, sem café, com água de coco, chás sem açúcar, caldos de sopas ▪ Máximo 50 mL/ refeiçãoa cada 30 minutos aproximadamente ▪ Inadequada em quase todos os nutrientes ▪ A orientação nutricional deverá ser iniciada antes da alta hospitalar 50 mL = copo para cafezinho Dieta Líquida completa (até 30 dias) ▪ Objetivo: evitar a sobrecarga de volume e consistência e estímulos antes da adaptação completa das anastomoses ▪ Introdução de preparações liquidificadas ▪ Bebidas sem açúcar ▪ Iniciar fornecimento protéico. Ex: leite, iogurte, mingau ralo ▪ 30 – 100 mL (~ 50 mL/ refeição) e 8-10 refeições/dia ou mais ▪ Elevada perda de peso Dieta Pastosa (até 1 mês) Objetivo: fornecer alimentos que exijam o mínimo de mastigação e de fácil trânsito e digestibilidade Dieta pastosa: purês, pastas ou cremes Ex: suflês, arroz “papa”, feijão liquidificado, macarrão, carne moída, frango desfiado, ovo cozido, frutas cozidas, amassadas ou raspadas, biscoitos e pães amolecidos > variedade de alimentos e volume das refeições 100-150 mL, 6-7 refeições/dia ou mais Fornecimento protéico adequado Dieta Branda ▪ Objetivo: fornecer dieta com apresentação natural e de fácil digestão, pela redução de fibras e gordura das preparações ▪ Evolução da alimentação para uma consistência cada vez mais próxima da dieta livre ▪ Introdução de alimentos sólidos gradualmente ▪ Redução de fibras vegetais crus são excluídos ▪ Maior tempo de cozimento que a dieta normal ▪ Realizar 6 à 7 refeições diárias, com o volume de 100 à 200 mL ▪ O paciente pode ser capaz de selecionar os alimentos que lhe tragam mais conforto, satisfação e qualidade nutricional Dieta Livre ou Normal ▪ Objetivo: proporcionar todos os nutrientes, manter o controle do volume ▪ Dieta completa alimentação saudável ▪ Etapa final da evolução dietética pós-operatória ▪ O paciente deve apresentar segurança na escolha dos alimentos, conhecimento dos alimentos e propriedades nutricionais ▪ A qualidade nutricional será avaliada pela seleção adequada dos alimentos Reservar de 30-40 minutos para as refeições Comer devagar, aumentando a mastigação de forma exaustiva As porções devem ser pequenas Utilizar talheres pequenos (sobremesa) Não ingerir líquidos durante as refeições (deve ser realizada nos intervalos das refeições, em pequenas quantidades) Valorizar o consumo de alimentos protéicos: carnes magras, leite e derivados e soja Excluir alimentos doces, como açúcar, mel ▪ Comuns no pós-operatório e necessitam de acompanhamento ▪ Decorrentes da ingestão de quantidades de alimentos superiores a nova capacidade gástrica, intolerância a alimentos gordurosos e/ou doces e a baixa adesão ao tratamento ▪ Vômitos ▪ Náuseas ▪ Desidratação ▪ Constipação ▪ Diarréia ▪ Síndrome de Dumping Rápido esvaziamento gástrico e chegada rápida de CHO “simples” ao intestino Sudorese, plenitude e distensão gástrica, dor abdominal, náuseas, taquicardia, hipotensão, diarreia Poder osmótico dos CHO simples e perda da regulação gastrointestinal Recomendações: Restrição CHO simples Sem líquidos durante as refeições Mastigação correta Quantidades adequadas Objetivos – evitar desidratação, desnutrição protéica e deficiência de vitaminas e minerais HIDRATAÇÃO Causas – ingestão diminuída de líquidos, frequentes episódios de fezes líquidas, vômitos e diarreia Ingestão de 2000mL/dia de líquidos, com baixo teor calórico VALOR CALÓRICO TOTAL Consumo inicial - pode ser de 300Kcal/dia Terceira semana - pode atingir 700Kcal/dia Primeiro mês – 500 a 1000Kcal/dia (ao final) PROTEÍNAS Consumo inicial – 0,5 a 0,6g/Kg/dia (peso teórico) 35 a 40g/dia PROTEÍNAS Dificuldades – baixa ingestão alimentar e intolerância a carne comum nesses pacientes, perda nas fezes (cirurgias malabsortivas 3º mês pós-operatório = déficit protéico, com perda de massa corporal (restaurado 12 a 18 meses após a cirurgia) 60 a 80g/dia Depleção importante – 1,5 a 2,0g/Kg/dia (peso corrigido) CARBOIDRATOS A ingestão de carboidratos de absorção rápida e açúcares pode causar síndrome de dumping (mal estar pós-prandial, fraqueza, taquicardia, sudorese fria e vertigem) O açúcar e os alimentos que o contenham devem ser excluídos Alguns pacientes apresentam na fase inicial intolerância à lactose, devendo-se, nesse caso, excluir o leite de vaca Fórmulas especiais sem lactose, como substituto ao leite de vaca, além de suplementação de vitamina D e cálcio GORDURAS Ingestão de gorduras poliinsaturadas e monoinsaturadas para a prevenção de deficiência de ácidos graxos essenciais Por conterem alto valor calórico, deve-se consumir alimentos e preparações com pouca quantidade de gordura e evitar as preparações que utilizam gordura no preparo VITAMINAS E MINERAIS Complicações nutricionais Síndrome de Wernicke-Korsakoff – deficiência de tiamina (anorexia, náuseas, vômitos, diploplia, ansiedade, depressão; evolui para desorientação, alucinação e coma) Reposição de tiamina Anemia megaloblástica, por deficiência de vitamina B12 e ácido fólico; anemia ferropriva, hipocalcemia e hipoproteinemia Má absorção de vitaminas lipossolúveis Queda de cabelo, unha quebradiça e pele ressecada no período de emagrecimento rápido (deficiência de proteínas, zinco, ferro e ácido fólico) Deficiências tendem a melhorar com a estabilização do peso Soares, 2007 Frequência da deficiência de micronutrientes segundo o tipo de cirurgia bariátrica Iniciada no primeiro mês pós-operatório Poderá ser utilizada por toda a vida Soares, 2007 Carências de micronutrientes e suplementação sugerida de acordo com a técnica cirúrgica empregada Evacuações pastosas e frequentes (cirurgias má absortivas), com odor fétido e flatulência Restringir gordura da dieta Vômito persistente Investigar estenose no nível do anel de silicone ou de estoma calibrado ou pode ser atribuído a uma tendência ao refluxo gastroesofágico Intolerância a certos alimentos, como carne vermelha, arroz, frituras, verduras, etc. Orientar cozimento, trituração, mastigação IMPORTANTE Avaliação e acompanhamento dos pacientes por equipe multidisciplinar, por muitos anos Emagrecimento insuficiente, relacionado com a escolha inadequada da técnica, o abuso de alimentos calóricos ou o sedentarismo Pode ocorrer novo ganho de peso a partir do segundo ano de pós-operatório (pp cirurgia restritiva) nova operação Técnicas má absortivas podem evoluir com desnutrição grave procedimento cirúrgico para aumentar a alça absortiva Acompanhamento ambulatorial a cada 3 meses no primeiro ano, após a cada semestre Exames de sangue de rotina Acompanhamento nutricional mensal nos primeiros quatro meses, após bimestral até estabilizar o peso (1,5 ano após a cirurgia) Orientar atividade física (30 min. de caminhada diária associada com hidroginástica, esporte ou dança) a GRAVIDEZ é contra-indicada até o segundo ano pós- cirúrgico SILVA, Sandra Maria Chemin Seabra da; MURA, Joana D'Arc Pereira. Tratado de alimentação, nutrição & dietoterapia. São Paulo: Roca, 2007. xlvi, 1122 p. CUPPARI, Lilian, (Coord.). Nutrição nas doenças crônicas não-transmissíveis. Barueri: Manole, 2009. COZZOLINO, Silvia Maria Franciscato. Biodisponibilidade de nutrientes. 4. ed. atual e ampl. Barueri: Manole, 2012. Bruno Zilberstein; Denise Madi Carreiro. Mitos e realidades sobre obesidade e cirurgia bariátrica. São Paulo, 2004.