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Análise detalhado sobre alguns aspectos das repercussões das transformações sociais no ofício docente Mudanças na família, os meios de comunicação de massa e outras instituições de socialização: A contemporaneidade vive uma mudança profunda nas instituições. Família, Igreja e Escola, instituições de peso na origem do estado moderno, assumem hoje novos contornos. Novas configurações sociais e familiares, novas formas de se relacionar e de se comunicar, novas constituições culturais, consumo exacerbado, fragmentação, incerteza, instabilidade, fragilidade, mudanças nos modelos de autoridade... As instituições responsáveis pela socialização infantil e juvenil também sofrem mudanças profundas. Os meios de comunicação de massa passam a exercer um papel relevante na formação das crianças e dos jovens. Os valores por eles difundidos, pelas famílias e pela escola muitas vezes são contraditórios. As responsabilidades da escola e da família, antes bem delimitadas, hoje são difusas. Novas exigências e desafios para a escola e para os/as professores/as. A escola está submetida a um novo conjunto de demandas sociais. Em alguns casos, chega-se a pedir à escola o que as famílias já não estão em condições de dar: contenção afetiva, orientação ético-moral, orientação vocacional e relacionada a um projeto de vida etc. Esses novos desafios se traduzem em novas exigências para o perfil de competências do docente. (ibid, p.70) Estes novos desafios tornam ainda mais complexo o trabalho do/a professor/a e nos instigam a novas reflexões: A escola deve assumir novos papéis? Ao assumir alguns papéis que antes eram da família estará comprometendo sua identidade profissional e deixando de exercer sua principal função ou a própria função social da escola também está se transformando? Estas novas exigências podem promover o desenvolvimento de novas competências profissionais ou representam um empobrecimento da profissão. Os fenômenos de exclusão social e os novos desafios da educabilidade As enormes desigualdades sociais da contemporaneidade, a vulnerabilidade e exclusão de grandes grupos de famílias, crianças e adolescentes do sistema produtivo e de consumo e os fenômenos a elas associados (pobreza extrema, violência, desnutrição, desintegração social e familiar, entre outros) são fatores que interferem, direta ou indiretamente, na atividade docente. Os professores politicamente comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e mais democrática encontram-se diante de alguns impasses: Podem os alunos em condições sociais tão desiguais ter condições de educabilidade menos desiguais? Qual o papel da escola na ampliação do capital cultural dos alunos de classes sociais excluídas ou desfavorecidas social e economicamente? Cabe à escola um papel também assistencial - alimentar, administrar situações de conflito intra e extraescolares, atuar na socialização primária desenvolvendo valores éticos - ou este seria um desvio do seu papel? Para Tedesco e Fanfani (2002) Esses fenômenos põem em crise determinadas identidades profissionais e requerem uma discussão: ou bem o magistério opta pelo aprofundamento de sua especialização profissional ou bem desenvolve uma nova profissionalidade pedagógico/assistencial (organizador e mobilizador de recursos sociais para a infância em função de objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de subjetividades). (ibid. 74) Novos alunos: as características sociais e culturais dos destinatários da ação educativa Promover novas aprendizagens para as novas gerações implica em conhecer mais profundamente a infância e a juventude atual em diversos aspectos: seus interesses e linguagens, a sua forma de aprender e de se relacionar com os conhecimentos e com os outros, a influência dos diferentes meios de comunicação em sua formação e visão de mundo. Como ressaltam os autores, o conflito cultural entre as novas gerações e seus docentes não é apenas e sobretudo uma questão de valores, mas remete à difícil questão da coexistência de dois modos de apropriação e uso da cultura, um tradicional e proposicional, que reina nas coisas da escola, e outro que tende ao não proposicional e que os jovens “experimentam” e vivem em sua vida cotidiana e que se exercita e aprende ao mesmo tempo na relação com os meios de comunicação de massa (sobretudo a televisão) e o resto da oferta de bens culturais (internet, vídeo, videogames, música etc.). (ibid, p. 78) O contexto organizacional / institucional do trabalho docente e a emergência do docente coletivo Trabalhar em equipe é uma exigência de diferentes contextos profissionais atuais. Os processos de descentralização, o crescente nível de autonomia dos professores e a participação de agentes escolares e extraescolares em todos os níveis e a interação com outros âmbitos (produtivos, culturais, científico- tecnológicos, artísticos etc.) da vida social são fatores apontados por Tedesco e Fanfani (ibid) como responsáveis por uma nova configuração de docência: a passagem de um exercício individual do ofício a uma cultura de profissionalismo coletivo. A cultura escolar predominante do século passado, individual, centralizada, dá lugar a uma cultura da troca que pode ser muito favorável ao protagonismo do professor, não só como autor de sua prática, mas como coautor, corresponsável pelo projeto educativo da escola. As trocas entre os profissionais dentro e fora da escola, compartilhando experiências e saberes, reforçam a concepção de docência como atividade de pesquisa e produção de saberes, como espaço de reflexão sobre a prática e o protagonismo docente, ressaltado por alguns autores (NÓVOA, 2006; ALARCÃO, 2003; SACRISTÁN, 1995; GIROUX e MCLAREN, 1995), conferindo a este aspecto da formação continuada uma relevância no processo do aperfeiçoamento profissional dos professores.
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