Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
01 Laureate- International Universities Práticas educacionais Renata Largura Práticas educacionais Sumário 03 CAPÍTULO 3 - Novos Paradigmas da Educação .................................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 3.1 A educação inclusiva no contexto atual ......................................................................05 3.1.1 A educação inclusiva no Plano Nacional de Educação (PNE) ................................07 3.1.2 O aluno da educação inclusiva .........................................................................08 3.1.3 Os desafios de estabelecer um projeto pedagógico inclusivo ................................08 3.2 A educação integral .................................................................................................09 3.2.1 O planejamento pedagógico na educação integral .............................................10 3.2.2 Espaços e infraestrutura ...................................................................................11 3.2.3 A formação e atuação dos professores para a educação integral .........................12 3.3 O tempo pedagógico ...............................................................................................12 3.3.1 O conselho escolar na gestão do tempo pedagógico ..........................................13 3.4 A educação ambiental e a sustentabilidade ................................................................13 3.4.1 Sustentabilidade ..............................................................................................20 3.4.2 O Parâmetro Curricular Nacional – Meio Ambiente .............................................15 Síntese ....................................................................................................................18 Referências Bibliográficas ................................................................................................19 Capítulo 3 05 Introdução Neste estudo, você conhecerá o importante papel da escola no contexto contemporâneo. A evo- lução do mundo trouxe consigo demandas complexas sobre os conhecimentos que as pessoas precisam adquirir e a necessidade de dominar ferramentas tecnológicas que mudam constante- mente. O que sabíamos há alguns anos pode estar completamente obsoleto daqui a pouco – e este é um desafio que os educadores precisam encarar para que tenham possibilidades de inserir seus alunos nesta sociedade que está em constante mudança. Todo processo educacional precisa estar carregado de intencionalidades que possam transformar alunos em cidadãos participantes da construção de sua própria história e da sociedade em que estão inseridos. Eles precisam conscientizar-se de que são os protagonistas de seu processo edu- cacional e, consequentemente, agentes para uma sociedade mais justa, equânime e igualitária. Hoje, é fácil perceber a enorme quantidade de informações a que somos expostos. Ao refletir sobre esse processo em nossa sociedade, podemos dizer que é possível reter todas as informa- ções com as quais temos contato e transformá-las em aprendizagem significativa? É praticamente impossível, pois, além de se apresentarem em uma grande quantidade, elas se atualizam fre- quentemente. Dessa maneira, a aprendizagem só pode acontecer quando se desenvolvem habilidades que tor- nam o aluno capaz de selecionar o que é importante para o processo de ensino/aprendizagem e quando se propõem ações que o auxiliem na sistematização de suas experiências de vida. Nesse sentido, a educação formal, que se dá nos espaços escolares, atualmente se mantém em formato linear e instrucional, privilegiando a aquisição de conhecimentos por meio de repetição e memorização – ações que, muitas vezes, estão distantes da realidade dos alunos –, o que acarreta uma educação “bancária” (FREIRE, 2005, p. 58). Em suas concepções pedagógicas, o educador Paulo Freire coloca o conhecimento como ferramenta essencial para possibilitar a construção do mundo e aponta que é inerente ao ser humano aprender apenas o que é signifi- cativo e o que se deseja aprender: Enquanto na prática ‘bancária’ da educação, antidialógica por essência, por isto, não comunicativa, o educador deposita no educando o conteúdo programático da educação, que ele mesmo elabora ou elaboram para ele, na prática problematizadora, dialógica por excelência, este conteúdo, que jamais é ‘depositado’, se organiza e se constitui na visão do mundo dos educandos, em que se encontram seus ‘temas geradores’. (FREIRE, 2005, p. 58) Novos Paradigmas da Educação 06 Laureate- International Universities Práticas educacionais Paulo Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Pernambuco, uma das regiões mais pobres do país na época, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Graduado pela Faculdade de Direito de Recife, foi professor de Língua Portuguesa do Colégio Oswaldo Cruz e diretor do setor de Educa- ção e Cultura do Serviço Social da Indústria (Sesi) de 1947 a 1954. Ao lado de outros educadores e pessoas interessadas na educação escolarizada, fundou o Instituto Ca- pibaribe. Ele foi quase tudo o que se pode ser como educador, de professor de escola a criador de ideias e métodos. A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação, que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capa- citando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação, fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados no período da ditadura militar. Leia mais sobre o autor no endereço: <http://www.paulofreire.org/ paulo-freire-patrono-da-educacao-brasileira>. VOCÊ O CONHECE? Perceba que a educação baseada em práticas problematizadoras constitui-se em uma possi- bilidade válida de transformação da realidade educacional – que, até então, está baseada no formato instrucional. Hoje, as escolas acabam privilegiando apenas os alunos que se adaptam à metodologia de ensino cartesiana e acabam por excluir os alunos que possuem necessidades diferentes das que são impostas pelo modelo vigente. O que é a metodologia de ensino cartesiana? O método cartesiano é derivado da obra O discurso do método, de René Descartes, em que o filósofo propõe uma sequência lógica de quatro passos para que o homem possa alcançar a verdade e embasar todo o conhecimento. Para chegar à verdade, Descartes sugere um raciocínio baseado na dúvida e na refutação de verdades absolutas. Esse método trouxe consequências como a fragmentação do saber nas ciências sociais, que evoluiu para a educação, trazendo as divisões das áreas de conhecimentos. É nesse ponto que devemos nos debruçar e discutir, pois metodologias que estão baseadas na visão cartesiana reforçam o ensino fragmentado e colocam em detrimento o ensino que busca o desenvolvimento de habili- dades e competências. Leia mais na pesquisa O legado de Descartes (CHADDAD; GHI- LARDI, 2012), disponível no endereço: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2012a/ humanas/o%20legado.pdf>. NÓS QUEREMOS SABER! Sobre a complexidade humana no processo de ensino/aprendizagem, Freire (1996, p.17) aponta ainda a necessidade de refletirmos sobre a essência da natureza humana, que é inacabada e se abre como possibilidade de construção e reconstrução do aluno/cidadão social diante dos de- safios de sua época. Sendo assim, fica evidente a necessidade de repensar e atualizar o modelo dos sistemas de ensino, que ainda estão baseados no modelo cartesiano, linear e instrucional. Nesse momento, estamos tratando da complexidade de novos cenários educacionais em sua totalidade, e as demandas da escola são uma parte indissociável da construção de um novo modelo de sociedade,que busca formar alunos que se tornem cidadãos participantes e atuantes na construção de sua própria história. 07 3.1 A educação inclusiva no contexto atual A educação inclusiva é uma das áreas do cenário educacional que vêm buscando promover a efetiva inclusão de alunos com deficiência, de maneira a garantir a aprendizagem para todos. São grandes os desafios encontrados nessa área educacional: você já refletiu sobre quais são os principais obstáculos que os educadores e gestores precisam enfrentar? Os desafios dessa busca passam tanto pela formação dos professores – que precisam atuar em um contexto de diversida- de e precisam de fortalecimento em sua formação – até a criação de uma rede de colaboração entre corpo docente e sociedade, para construir propostas viáveis nas escolas. Para as escolas, o desafio consiste em efetivar a educação de todas as crianças e implica enxer- gar as deficiências dos alunos como diversidades e não como dificuldades ou problemas. É uma oportunidade de desenvolver uma visão positiva em relação à convivência entre diferentes tipos de alunos. 3.1.1 A educação inclusiva no Plano Nacional de Educação (PNE) A discussão sobre a educação inclusiva se aqueceu nos últimos anos, quando o Plano Nacional de Educação, sancionado em 2010, instituiu como uma de suas metas a universalização do atendimento escolar para alunos com deficiências no ensino regular. Até então, o sistema educacional brasileiro adotava dois tipos de atendimento: a escola regular e a escola especial, sendo que o aluno era matriculado em um tipo de escola ou outra. As dis- cussões giram em torno de como as escolas regulares se estruturam a partir disto e como o corpo docente tem trabalhado para bater essa meta. Em 2011, foi publicado um texto substitutivo para o Plano Nacional de Educação, que descreveu que o atendimento escolar deverá ser ofertado “preferencialmente” na rede regular de ensino. Assim, o atendimento em escolas especiais deve ser ofertado quando o atendimento ao aluno não for possível em classes regulares. Atualmente, o ensino regular e o especial coexistem e ambos visam à preparação do aluno para inserção e atuação na sociedade. São as necessidades do aluno que determinarão se ele deverá ser matriculado em uma escola regular, em uma especial ou nas duas. Nesse quesito, existem grandes impasses, visto que a matrícula se dará de acordo com a avaliação de um especialista da área de saúde e, em muitos casos, a escola escolhida não possui condições básicas para recebê-lo. É importante destacar que a escola regular se torna inclusiva quando prepara o aluno para a atuação ativa na sociedade contemporânea, pois é a partir da diversidade e da complexidade do ser humano que é possível construir culturas igualitárias. Logo, conclui-se que a sociedade, em conjunto com o corpo docente e as esferas governamen- tais, deve pensar em ações que possibilitem cada vez mais a inclusão nas escolas regulares, mesmo que o texto substitutivo do Plano Nacional de Educação favoreça o precedente de que os alunos com necessidades educacionais especiais continuem matriculados apenas nas escolas especiais. 08 Laureate- International Universities Práticas educacionais 3.1.2 O aluno da educação inclusiva Definições e classificações de alunos com necessidades educacionais especiais devem ser con- textualizadas e não devem se esgotar em uma categorização simplista, visto que as pessoas se modificam e evoluem constantemente, de maneira que transformam o contexto em que estão in- seridas. Nesse sentido, o Plano Nacional de Educação (PNE) considera os alunos que necessitam de atendimento na educação inclusiva os que apresentam as seguintes deficiências: • intelectuais; • físicas; • auditivas; • visuais; • múltiplas; • transtorno global do desenvolvimento – são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e, na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo, como autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil; • altas habilidades – demonstram potencial elevado ou talento extraordinário em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentarem grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. A partir desses conceitos, o PNE considera como necessidades especiais o aluno que tem impe- dimentos em longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial e que, em interação com di- versas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade (BRASIL, 2007). 3.1.3 Os desafios de estabelecer um projeto pedagógico inclusivo A quantidade de alunos com diferentes necessidades especiais que a escola e o corpo docente podem receber para integrar em suas turmas requer uma prática didática que esteja voltada para alterar a situação de exclusão, além de reforçar a importância da promoção de ambientes heterogêneos, com vistas a promover a aprendizagem significativa de todos os alunos. Mas como superar os desafios trazidos pela inclusão no contexto escolar? São grandes os desafios enfrentados para promover a inclusão nas escolas, começando pela estrutura física dos estabelecimentos, que, muitas vezes, precisam ser adaptados por nunca terem recebido nenhum aluno com necessidades especiais. Na imagem a seguir, você pode conferir aspectos arquitetônicos de uma escola projetada com o objetivo de promover a locomoção de todos com segurança e autonomia. O infográfico é interativo e você pode acessá-lo no link: http://gestaoescolar.abril.com.br/espaco/escola-inclusiva.html 09 Figura 1 – Proposta de projeto de uma escola que esteja adaptada para receber todos os alunos Fonte: Nova Escola, 2015. Existem também as salas de aula adaptadas, como as salas recurso, que são projetadas com a intenção de atender às demandas pedagógicas dos alunos com necessidades educacionais especiais. Atualmente, existem dois modelos: as multifuncionais, como são denominadas pelo Ministério da Educação (MEC), onde todos os tipos de problemas podem ser atendidos; e as de recurso, que são preparadas para cada um. É importante destacar que as atividades nessas salas acontecem em contraturno, e mesmo que elas possuam equipamentos que subsidiem o trabalho do professor, é a atuação do profissional envolvido que trará impacto significativo na aprendizagem do aluno. Entre as atribuições do do- cente, está a responsabilidade da criação de um plano pedagógico e a elaboração de material específico. As questões sobre a educação inclusiva merecem estar sempre em discussão nas escolas para inspirarem melhores práticas e as ações necessárias para um bom atendimento do aluno com necessidades educacionais especiais, pois é a partir da inclusão que a escola pode transformar a comunidade em que está inserida. 3.2 A educação integral Atualmente, existem muitas propostas para a ampliação da oferta de experiências na educação integral, como o aumento progressivo do tempo de permanência do aluno na escola. Mas qual é a necessidade desse aumento da oferta em relação à qualidade do processo ensino/aprendi- zagem na educação integral? É necessário desenvolver uma visão abrangente sobre ela, que a transforme em política pública articuladora da transformação. 10 Laureate- International Universities Práticas educacionais O Plano Nacional de Educação aponta a garantia de educação integral em sua meta 21, que determina: “Ampliar progressivamente a jornada escolar, visando expandir a escola de tempo integral, que abranja um período de pelo menos sete horas diárias, com previsão de professores e funcionários em número suficiente.” (BRASIL, 2014). Esse aumento deve contemplar qualidadedo tempo de permanência na escola, de forma que garanta o acesso a atividades como: • arte; • esporte; • lazer; • cultura; • conteúdos pedagógicos e científicos; • possibilidade de profissionalização. A qualidade das atividades ofertadas é fator determinante para a obtenção de resultados que transformem o cenário educacional brasileiro, mas muitos desafios precisam ser enfrentados para que bons resultados sejam atingidos – a começar pelo planejamento pedagógico da escola. O site mantido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo sobre as escolas de tempo integral. Nele, você pode acompanhar a evolução desse programa, que atu- almente atende mais de 50 mil alunos em contraturno nas aulas regulares e 80 mil no novo modelo de escola de tempo integral, que significa manter os estudantes nas esco- las em uma jornada diária de até nove horas e meia. Disponível no endereço: <http:// www.educacao.sp.gov.br/escola-tempo-integral>. NÃO DEIXE DE LER... 3.2.1 O planejamento pedagógico na educação integral Um paradigma que precisa ser superado na proposta pedagógica da educação integral é o da fragmentação dos saberes. Em seu lugar, devem ser trabalhados conteúdos que promovam a integração com dimensões físicas, afetivas, cognitivas, socioemocionais e éticas dos alunos. Para promover essa superação, é preciso ter em mente que apenas o aumento da carga horária e a oferta de atividades extras que não estejam articuladas com o projeto pedagógico não ga- rantirão o desenvolvimento integral dos alunos. É necessário, além de rever espaços físicos, tempo de permanência, intervenções pedagógicas, integração da família e adoção das tecnologias educacionais, determinar objetivos de aprendi- zagem articulados com o currículo escolar. 11 Um planejamento pedagógico precisa contemplar reflexões sobre: • quais competências poderão ser desenvolvidas com a proposta que está sendo feita; • como as atividades propostas podem potencializar a interdisciplinaridade; • se as atividades que estão sendo propostas estão embasadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais; • se há previsão da participação dos alunos, da família e da comunidade na proposta pedagógica, bem como no projeto político pedagógico da escola. A importância de se refletir sobre essas questões no planejamento da educação integral aponta para a possibilidade de construir ações com intencionalidade pedagógica, que proporcionem uma maneira concreta de se atingir os objetivos propostos e de se obter resultados significativos na melhoria da qualidade da educação ofertada. No que consiste o planejamento pedagógico? Não é apenas um documento formal elaborado pelo corpo docente da escola para direcionar o trabalho, mas também um guia articulador de processo permanente e mutável na escola. Nele, estão contidas informações como: intencionalidades didáticas e pedagógicas; conteúdos curriculares; competências e habilidades que se esperam desenvolver junto aos alunos; recursos físicos e financeiros; processo de formação continuada do corpo docente. NÓS QUEREMOS SABER! 3.2.2 Espaços e infraestrutura Outra questão que precisa ser debatida é a financeira, uma vez que as escolas precisam ter um orçamento à disposição para atender às demandas da implementação da educação integral. Adaptação dos espaços físicos e melhorias na infraestrutura de uma instituição demandam maior investimento de recursos financeiros, para que sejam ofertados ambientes de aprendizagem ade- quados às atividades que serão realizadas. A meta 6 do Plano Nacional de Educação aponta, no item 6.3, que a estratégia sobre recursos é: Institucionalizar e manter, em regime de colaboração, com o programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como de produção de material didático e de formação de recursos humanos para a Educação em tempo integral. (BRASIL, 2014) Além dessas questões de espaço e infraestrutura, é necessário calcular e estruturar o aumento do número de refeições diárias, a organização da higiene dos alunos e a possibilidade de oferta de transporte seguro entre residência e escola. 12 Laureate- International Universities Práticas educacionais São inúmeros os desafios que se apresentam na implementação da educação integral. Para auxiliar os gestores e o corpo docente nessa importante tarefa, o MEC criou o Programa Mais Educação, que se constitui em estratégias para auxiliar na ampliação da rede de escolas de educação integral. No documento denominado Passo a Passo, o objetivo é esclarecer como a escola e o corpo docente podem obter auxílio na im- plantação dessa modalidade de ensino, inclusive na composição dos recursos finan- ceiros. Disponível no endereço: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&task=doc_download&gid=8168&Itemid>. NÃO DEIXE DE LER... 3.2.3 A formação e atuação dos professores para a educação integral Outro grande desafio para organização da proposta de educação integral de uma escola é a formação dos professores que atuarão com as atividades planejadas. Compreende-se que serão necessários diferentes perfis para uma atuação vinculada à proposta pedagógica, aos objetivos e às expectativas de aprendizagem que se esperam alcançar. De acordo com Moll (2012, p. 142), “a formação inicial e continuada dos professores e demais profissionais da educação é tema estruturante para a consolidação da agenda da educação integral”. Sendo assim, ao planejar a implantação de uma política de educação integral, é necessário refletir e definir o perfil dos profissionais que atuarão na escola. Essa ação envolve a avaliação da necessidade de contratação de professores para áreas específicas ou a contratação gradativa com carga horária de 40 horas semanais. Existem situações em que a escola estabelece parcerias com organizações sociais para o de- sempenho das atividades. Nesse caso, a escola precisa definir bem o perfil e as competências que se esperam dos educadores que estarão envolvidos na prática pedagógica. Nos dois casos – parceria e contratação –, a formação inicial deve ser embasada. Há também a necessidade de formação continuada, para que os professores estejam preparados para a atuação com a educação integral. 3.3 O tempo pedagógico Caracteriza-se pelo tempo em que o aluno permanece na escola e que favorece a aquisição de aprendizagens significativas. É importante destacar que este não se limita apenas pelas atividades determinadas pelas políticas educacionais, mas também pelas horas livres a que os alunos estão expostos durante a jornada escolar – que também deve ter uma intencionalidade pedagógica, com vistas de formação integral e cidadã dos alunos. Mas quem é responsável pela verificação do planejamento para que o tempo pedagógico não seja desperdiçado? De acordo com o MEC (BRASIL, 2004), todos os envolvidos na rotina escolar são responsáveis por garantir que o tempo pedagógico não seja desperdiçado ou esvaziado de sentido, mas é o conselho escolar que deve assumir a tarefa de ampliar as oportunidades de aprendizagens significativas. 13 3.3.1 O conselho escolar na gestão do tempo pedagógico É por meio do estímulo da participação do corpo docente em discussões coletivas que o conselho escolar pode articular a reflexão sobre o planejamento pedagógico que será adotado e sobre o cotidiano escolar. É também por meio do currículo adotado que a escola, junto ao corpo docente e o conselho escolar, assegura a aprendizagem significativa e a formação cidadã. Mas é importante refletir: quem é que determina qual o conhecimento que deverá ser adquirido? Quais os interesses sobrea escolha dos conteúdos selecionados e, principalmente, como os alunos desenvolverão esses conhecimentos, já que cada indivíduo possui ritmo próprio de apren- dizagem? Nesta última reflexão, é de vital importância que o conselho escolar tenha constante atenção so- bre o fato de que o currículo e as práticas pedagógicas não se constituem em um campo neutro no processo ensino/aprendizagem. Tanto os especialistas, no Ministério ou secretarias de educação, como os docentes, os gestores e demais segmentos da escola, ao definirem a política de ensino para uma rede ou unidade escolar, estarão sempre refletindo visões particulares de mundo, de sociedade, de escola, de aprendizagem e de ensino, entre outras. (BRASIL, 2004, p. 56) Logo, o currículo escolar não pode ser um veículo de transmissão de conhecimento neutro, mas, sim, um instrumento que organiza, socializa e constrói saberes. E para cumprir essa missão, deve-se partir da reflexão sobre o aproveitamento do tempo pedagógico e o respeito às particu- laridades de aprendizagem de cada aluno. 3.4 A educação ambiental e a sustentabilidade Educação ambiental não é um assunto novo no Brasil. Em seus estudos, Paulo Freire (1996, p.24) demandava a interação entre o sujeito e o meio no qual ele está inserido, para dar intencio- nalidade pedagógica em suas práticas e inserir o aluno de forma significativa em seu processo educacional. Esse processo iniciou-se nos anos 1960 e hoje estamos diante de uma sociedade com preocupa- ções políticas que colocam os problemas do meio ambiente e a interação do homem em primeiro plano. Mas como chegamos a esse ponto e qual é o papel da educação diante dos efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas? A educação ambiental pode ser conceituada como prática social transformadora, comprometida com a justiça ambiental e com o respeito às diferenças culturais e biológicas (TRISTÃO, 2012, p. 11). Já a educação passa, em primeiro plano, pelo desenvolvimento de ações didáticas foca- das em conteúdos curriculares, mas, diante dos desafios contemporâneos, são indissociáveis da prática educacional as questões que se referem aos problemas sociais, culturais e econômicos de uma nação. E, nesse sentido, a questão do desenvolvimento sustentável torna-se também inseparável do processo educacional. Depende da qualidade da educação a sobrevivência do nosso planeta. Temas como a escassez da água, energia, agricultura, saúde e alimentação precisam estar no processo educacional para que esta e as próximas gerações compreendam o mundo que as cerca. Nesse cenário, o bom desempenho dos professores é um desafio que precisa ser encarado com seriedade, e as práticas didáticas precisam estar embasadas em valores éticos. 14 Laureate- International Universities Práticas educacionais O envolvimento com temáticas sobre a complexidade dos problemas ambientais e a busca por soluções no cotidiano escolar são ações que precisam estar internalizadas na vida dos professo- res e do corpo discente das escolas. Dessa forma, a prática da educação ambiental não se diferencia das questões já expostas ante- riormente neste capítulo no que se refere à superação da visão instrucional da educação. Tristão (2012, p.12) coloca que os desafios da educação ambiental estão articulados com o desempe- nho do educador na contemporaneidade e não se tratam de generalizações. Entre os principais desafios, a autora destaca: • Enfrentar a multiplicidade de visões O educador precisa estar preparado para fazer conexão entre vida, conhecimento e as diferentes culturas. Esse enfrentamento articula-se com o pressuposto da educação ambiental no sentido de respeitar a diversidade cultural, social e biológica. Mas como tratar da multiplicidade dentro de escolas que seguem uma estrutura curricular? Trata-se de ampliar a função da escola, de simples transmissão de conhecimento para estabelecimento de uma troca de comunicação com reflexão crítica, criadora de um sistema imaginativo e transformador da cultura e do ser humano. (TRISTÃO, 2012, p. 237) • Superar a visão do especialista Adotar a prática da interdisciplinaridade, que requer a interação, a cooperação e o relaciona- mento entre as áreas do conhecimento, disciplinas e, consequentemente, entre pessoas. Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. (BRASIL, 1997a, p. 27) Muitas vezes, o que acaba acontecendo quando o corpo docente se propõe a utilizar a interdis- ciplinaridade nas práticas pedagógicas que envolvem a educação ambiental são trocas de expe- riências entre as áreas do conhecimento que são correlatas, como a Geografia e a Biologia, por exemplo. Os projetos que envolvem a prática da multidisciplinaridade têm como meta envolver várias disciplinas e visam a transformar de maneira significativa o entorno em que a escola está inserida. Conheça o caso das escolas mineiras que desenvolvem projetos voltados à preservação ambiental envolvendo a comunidade. Disponível no endereço: <https://www.educa- cao.mg.gov.br/ajuda/story/5647-pedagogia-sustentavel-escolas-mineiras-desenvol- vem-projetos-voltados-a-preservacao-ambiental-envolvendo-a-comunidade> NÃO DEIXE DE LER... • Superar a pedagogia das incertezas Para Tristão (2012, p.14), ainda hoje a Pedagogia como ciência é marcada pelo ideal objetivista, que coloca o seu objeto de estudo em um patamar distante da realidade – em que o sujeito não é parte do processo de construção – e continua reafirmando a especialização dos saberes. É necessário construir a escola como um espaço de reflexão, prática social de vida como co- nhecimento e de conhecimento como vida, que possibilite uma abertura para se pensar além da ciência. 15 • Superar a lógica da exclusão É importante propor a eliminação das desigualdades sociais e, principalmente, a exclusão da pobreza do mundo, a fim de garantir um desenvolvimento sustentável para todos. Com essas questões, compreendemos como é necessário adotar ações para construir propostas educacionais que são ecologicamente corretas. Essa construção requer professores que não podem mais adotar uma postura de meros transmissores de conhecimento; eles precisam se en- volver com conhecimentos sociais, políticos e culturais, que promovam um processo de ensino/ aprendizagem significativo. 3.4.1 Sustentabilidade Em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que tem como princípio adotar ações e estratégias para a construção de uma sociedade sustentável. Compreendem-se como sustentáveis as atividades que, para todos os fins práticos, possam ter continuidade indefinidamente. A sustentabilidade depende de fatores muitas vezes desconhecidos e imprevisíveis. Diante dessa problemática, o processo educacional da sociedade é visto como recurso articulador para a obtenção de resultados processuais. De acordo com o PNUMA (BRASIL, 1997b), uma sociedade sustentável é aquela que vive em harmonia com nove princípios interligados. Veja quais são: 1. Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos (princípio fundamental). 2. Melhorar a qualidade da vida humana (critério de sustentabilidade). 3. Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra (critério de sustentabilidade). 4. Minimizar o esgotamento de recursos não renováveis (critério de sustentabilidade). 5. Permanecer nos limites de capacidade de suporte do planeta Terra (critério de sustentabilidade). 6. Modificar atitudes e práticas pessoais (meio para se chegar à sustentabilidade). 7. Permitir que as comunidades cuidem do seu próprio ambiente (meio para se chegar à sustentabilidade). 8. Gerar uma estruturanacional para a integração de desenvolvimento e conservação (meio para se chegar à sustentabilidade). 9. Constituir uma aliança global (meio para se chegar à sustentabilidade). Para atender às demandas dos princípios elencados pelo PNUMA, o MEC publicou Parâmetros Curriculares Nacionais que comtemplam diversos temas, sendo que um deles busca inserir o tema meio ambiente como elemento transversal na educação fundamental. 16 Laureate- International Universities Práticas educacionais 3.4.2 O Parâmetro Curricular Nacional – Meio Ambiente A principal função de publicar o PCN Meio Ambiente é contribuir para a formação de alunos conscientes de sua participação na conservação do planeta, no presente e para o futuro, com comprometimento. Saber exigir e respeitar direitos próprios e os de toda a comunidade torna-se parte do processo educacional – e este é um grande desafio no que tange à educação ambiental. O PCN "Meio Ambiente" foi elaborado com a intenção de introduzir esse tema transversal ao longo das nove séries do ensino fundamental e subsidiar o trabalho dos professores, de manei- ra que os alunos possam desenvolver suas potencialidades e adotar posturas que contribuam para a preservação do meio ambiente e colaborem para que a sociedade seja ambientalmente sustentável. Para alcançar esses propósitos, os objetivos elencados para os estudantes do ensino fundamental foram (BRASIL, 1997a, p. 31): • identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se afetivamente ligado a ela, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente; • perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural, adotando postura de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural; • observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo propositivo, para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida; • adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que o leve a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis; • compreender que os problemas ambientais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto local quanto globalmente; • conhecer e compreender, de modo integrado, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente; • perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de causa/efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de seu meio; • compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem, aplicando-os no cotidiano. Perceba que, para atingir esses objetivos, o trabalho pedagógico com a educação ambiental deve estar centrado no desenvolvimento atitudinal, procedimental, processual e com vistas a de- senvolver uma postura ética. Nesse sentido, podemos concluir, mais uma vez, que é necessária a superação do ensino instrucional e baseado apenas em conceitos. É de fundamental importância uma prática didática que demande a compreensão da contemporaneidade. Ao observar o Quadro 1, você verá que é possível refletir sobre a superação do antigo paradig- ma educacional a partir de diversas dimensões em que o cenário educacional está inserido e das demandas que o novo paradigma exige da postura do corpo docente: 17 Antigos paradigmas Novos paradigmas Princípios filosóficos Direito de ensinar Direito de aprender. Conteúdo Um fim em si mesmo Um meio para desenvolver competências. Conhecimento Fragmentado. Dividido por disciplinas. Ensino de regras, fatos, defi- nições, acúmulo de informa- ções desvinculadas da vida do aluno. Caráter enciclopédico. Privilegia a memória e a pa- dronização. Integrado pelo trabalho inter- disciplinar e pela contextuali- zação. Privilegia a construção de conceitos e o entendimento. Teoria e prática aplicadas no cotidiano do aluno. Ênfase na produção e siste- matização do sentido. Organização curricular Por disciplinas. Por áreas do conhecimento. Por eixos organizadores. Por tema gerador. Por conjunto de competên- cias. Professor Transmissor do conhecimento. Determina o conteúdo a ser trabalhado. Facilita a aprendizagem do aluno. Avalia e ressignifica a sua prá- tica. Gerencia a informação. Aluno Passivo, recebe os conheci- mentos descontextualizados. Ativo e participativo na cons- trução do seu conhecimento. Avaliação Classificatória e excludente. Gera resultados baseada na capacidade de o aluno reter informações. Formativa e diagnóstica do ensino e aprendizagem. Aponta dificuldades e possibi- lita a intervenção pedagógica. Gera dados que possibilitam avaliar o desenvolvimento de competências. Quadro 1 – Compreensão do novo paradigma Fonte: Adaptado de Paraná, 2000. Perceba que essa reflexão ultrapassa a dimensão de níveis de ensino, modalidades atendidas e concepções didáticas. São diretrizes que podem nortear a construção de uma prática pedagógica que atenda às necessidades da sociedade atual, na tentativa de superar desafios. 18 Laureate- International Universities Síntese Neste estudo, você: • conheceu o que se caracteriza por novos paradigmas da educação; • compreendeu a necessidade de superar a prática da educação instrucional; • entendeu os desafios da educação inclusiva no contexto atual; • aprendeu o que é educação integral e quais são seus desafios; • identificou a importância da educação ambiental no contexto educacional atual. Síntese 19 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curricu- lares/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998. ______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente. Bra- sília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997a. ______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente, saú- de. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997b, 128 p. ______. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB no 2, art. 5o, Inciso III. Brasília: MEC, 2001. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Edu- cação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Documento elaborado pelo Gru- po de Trabalho nomeado pela portaria Ministerial no 555, de 5 de junho de 2007. Disponível em: <http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015. ______. Presidência da República. Lei no 13.005/2014, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Disponível em: <http://fne.mec. gov.br/images/doc/LeiPNE.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2015. CHADDAD, F. R.; GHILARDI, R. P. O legado de Descartes. Centro Científico Conhecer, Goi- ânia, 2012. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2012a/humanas/o%20lega- do.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2015. DEMO, P. Complexidade e Aprendizagem: a dinâmica não linear no conhecimento. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2011. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. MOLL, J. et al. Caminhos da educação integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Penso, 2012. PARANÁ. Secretaria de Educação. Novos paradigmas Curriculares e Alternativas de Organização Pedagógica na Educação Básica Brasileira. Curitiba: Secretaria de Edu- cação do Paraná, 2000. Disponível em: <http://www.namodemello.com.br/pdf/escritos/outros/ propedauton.pdf>.Acesso em: 24 abr. 2015. RUSCHEINSKY, A. (Org.). Educação Ambiental: abordagens múltiplas. 2 ed. Porto Alegre: Penso, 2012. TRISTÃO, M. A educação ambiental e a emergência de uma cultura sustentável no cenário da globalização. Revista Interthesis. Volume 9, nº1, Jan/Jun 2012. UFSC. Florianópolis SC. Bibliográficas
Compartilhar