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novo projeto da lei Maria da Penha

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A criação da Lei Maria da Penha foi uma verdadeira transformação no amparo de mulheres em situação de violência – vocábulo este que também se fez existir por meio de debate sobre a própria condição da mulher nesse contexto, ou seja, lutou-se até para que a mesma deixasse de ser vítima e passasse a ser um sujeito digno de superação. Essa mesma Lei, logo em seu nascimento, também encontrou obstáculos em relação a sua constitucionalidade.
Tendo isso em mente, podemos entender melhor por que alterações legislativas feitas sem prévia consulta popular podem ser capazes de gerar prejuízos para aquelas pessoas que, inicialmente, se visava acolher: 
O Projeto de Lei da Câmara n° 7, de 2016, de autoria do deputado federal Sergio Vidigal (PDT/ES), aprovado no dia 10 de outubro de 2017, traz em sua ementa: “Acrescenta dispositivos à Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, para dispor sobre o direito da vítima de violência doméstica de ter atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado, preferencialmente, por servidores do sexo feminino, e dá outras providências”.
Enquanto os artigos 10-A e 12-A buscam criar meios para que as delegacias e o atendimento ali oferecido seja melhor adaptado à realidade da mulher em situação de violência – cuidados no atendimento, recintos projetados para tal finalidade, acompanhamento de profissional capacitado no momento da inquirição, criação de delegacias e setores especializados – o art. 12-B confere à autoridade policial um poder que não é condizente com essa mesma realidade e deixa de levar em conta outros fatores.
O grande debate gira em torno da previsão que traz o art. 12-B: a autoridade policial teria poderes para aplicar as medidas protetivas de urgência previstas na Lei.
Segundo o texto, o delegado poderá determinar as medidas protetivas em casos de risco real ou iminente à vida ou à integridade física e psicológica da mulher, e deverá comunicar ao juiz e ao MP em até 24 horas para definir a manutenção da decisão. Entre as medidas que podem ser aplicadas estão a proibição de o agressor manter contato ou se aproximar da mulher, de seus familiares e das testemunhas, vetando-o de frequentar determinados lugares, e o encaminhamento à rede de apoio às vítimas de violência.
Prós e contras da lei:
O autor da proposta, deputado Sergio Vidigal (PDT-ES), afirma que dar esse poder à autoridade policial irá acelerar a apreciação dos pedidos das vítimas e garantirá segurança às mulheres. Nesse sentido, a matéria também determina que deve ser priorizada a criação de delegacias especializadas de atendimento à mulher, núcleos investigativos de feminicídio e equipes especializadas para o atendimento e investigação de atos graves de violência contra a mulher. Também estabelece que a vítima de violência deve ser atendida, preferencialmente, por outras mulheres e fixa diretrizes para a escuta dos envolvidos, como a garantia de que sejam ouvidas em local isolado e específico e de que não haverá contato com investigados ou suspeitos.
Para o delegado da Polícia Civil do Paraná Henrique Hoffmann, porém, o projeto não representa qualquer prejuízo à inafastabilidade da jurisdição, pois a decisão, além de não ser definitiva, é submetida à análise judicial. “Em resumo a proposta de alteração não suprime direitos, apenas os acrescenta à Lei 11.340/06”, diz.
A inovação em nada afeta a capacidade postulatória da vítima, garante Hoffmann. Ele argumenta que essas medidas protetivas não se submetem à reserva constitucional de jurisdição e, por isso, podem ser outorgadas aos delegados. “Isso foi feito com outras medidas cautelares, como prisão em flagrante, fiança, apreensão de bens, dentre outras”, ressalta.
"O objetivo é apenas garantir com maior efetividade a incolumidade física e psicológica da vítima. Afinal, a CPMI da Violência Doméstica constatou que a morosidade na proteção judicial da vítima é a regra, sendo que o prazo para a concessão das medidas protetivas geralmente varia de 1 a 6 meses", explica o delegado.
Para Leila Linhares Barsted, diretora da ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação e uma das redatoras do texto da Maria da Penha, o projeto subverte a lógica da legislação atual, que tem como foco a garantia ao acesso das mulheres à Justiça e à rede de apoio, como instituições de acolhimento e de atenção à saúde. “Nós, mulheres que trabalhamos na proposta original, queríamos realmente garantir às mulheres o acesso à Justiça, que é uma garantia prevista não apenas na Constituição, mas especificamente no caso das mulheres, em convenções internacionais das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos”, relembra Leila.
Ela explica que a norma em vigor prevê a competência do Judiciário na determinação de medidas, dando à polícia o dever de orientar a vítima sobre medidas protetivas e outras questões, como registro de ocorrência, além de apoiá-la para buscar pertences em casa. Para Leila, o direito das mulheres de ter acesso ao Judiciário é importante porque neste momento que a vítima é acompanhada pela Defensoria Pública e recebe apoio e informações sobre seus direitos. Ela também relata que as mulheres costumam ser discriminadas na delegacia.
Isso porque diversas organizações já apontaram os problemas em tal medida: a autoridade policial não é investida de função jurisdicional, logo estaria ferindo a própria tripartição dos Poderes; a Polícia, que já encontra grandes dificuldades para realizar suas atividades investigativas, não teria a infraestrutura e o contingente necessário para levar a cabo essa nova incumbência, o que, a longo prazo, resultaria na impunidade do agressor e numa consequente vulnerabilidade da mulher em situação de violência.
A mulher encontraria uma imensa dificuldade para ter acesso ao Judiciário e ver a sua demanda amparada judicialmente, o que a faria dependente da autoridade policial e suscetível à revitimização; no meio de tanta burocracia e automatização das demandas judiciais, o Judiciário passaria apenas a confirmar a decisão policial sem avaliar as peculiaridades do caso concreto.
Além de todos esses problemas, a redação do artigo ainda deixa margem para interpretações perigosas: se a autoridade policial entender que não é caso de aplicação de medidas protetivas de urgência, teria a mulher a capacidade de chegar sozinha à autoridade judicial? Qual seria o nível de autonomia da mulher em tais situações?
Sabemos que a nossa Polícia e o nosso Poder Judiciário são ambientes hostis que reproduzem, ainda hoje, práticas machistas e de desestímulo às mulheres, ridicularizando-as e colocando-as em situações aviltantes quando as mesmas procuram resguardar seus direitos e sua integridade. Ora, por que, então, vamos permitir que nos tirem a autonomia de acesso à Justiça e nos tornem cada vez mais dependentes de uma instituição com princípios retrógrados que, no geral, ainda não possui o preparo necessário para lidar com um tipo de violência tão gritante na nossa sociedade?
Se a Lei Maria da Penha se fez com a mobilização popular de mulheres, é com esta que ela vai se guiar, se validar e se efetivar – e não com a discricionariedade de órgãos que, muitas vezes, se afastam da função de proteger e orientar as mulheres.
Maria da Penha defende que a aplicabilidade da lei seja aprimorada, não o texto. “Até hoje, tem tanta coisa para ser feita e eles estão pegando em um item que pode fragilizar a lei. Vamos dizer o seguinte: por que todos os municípios brasileiros não colocam políticas públicas para atender a mulher? Hoje, em dia, todas as capitais brasileiras têm seu centro de referência, a casa abrigo, a delegacia da mulher e o juizado, que são os alicerces de aplicação da lei. Mas os municípios próximos das capitais não têm ao menos o centro de referência da mulher”, exemplifica.
Ela, que esperou 19 anos e seis meses para ver seu agressor punido, quer investigações mais completas e rápidas e celeridade da Justiça.
“A gente quer é que a segurança pública consiga fazer os relatórios e boletins de ocorrência commais rapidez para quando chegar ao juiz ele já esteja bem embasado. A polícia conseguiu enviar o relatório sobre o caso. Tempo para se dedicar à investigação. A polícia acata a denúncia, mas o inquérito policial não acompanha essa rapidez. É necessário que isso aconteça para dar condições que todas as etapas da Lei da Maria da Penha sejam cumpridas”, afirma.
“Se houver necessidade de mudança, que seja feita através das ONGs que criaram a lei. Junto com o poder judiciário, junto com juizado, com um consenso em geral, para que a lei não enfraqueça e nem seja considerada inconstitucional. Quando a lei foi sancionada, sugeriu-se a hipótese de que era inconstitucional dizendo que homem e mulher eram iguais perante a lei. Até hoje, sabemos que quando a mulher é recebida por homens, as mulheres são debochadas, são aconselhadas a não denunciar porque existe o machismo interferindo nessa situação”, completa.
A matéria aguarda sanção presidencial, mas entidades ligadas aos Direitos Humanos e associações de promotores e defensores públicos pedem que Michel Temer (PMDB) vete a proposta!!!