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Aula 3 e 4 ABORDAGEM SÓCIO INTERACIONISTA

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ABORDAGEM SÓCIO-INTERACIONISTA
Por Itamar Rodrigues Paulino, pedagogo e filósofo/2007
PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS / FILOSÓFICOS
A abordagem sócio-interacionista fundamenta seu processo de ensino e aprendizagem com base nas contribuições e teorias do Interacionismo. Ela concebe que o sujeito aprende a partir de um processo de construção do conhecimento no qual a interação é o cerne das práticas pedagógicas, em detrimento da transmissão e fixação de conteúdos. Ou seja, o centro das atividades pedagógicas não é o professor em si ou o alunado em si, mas o processo interativo entre ambos. Assim, o conhecimento não é estabelecido a partir de uma lógica empírica (John Locke) em que o educando seja apenas uma tábula rasa, um espaço “oco” a ser preenchido pelo professor; ou a partir da lógica racionalista (Emmanuel Kant) em que o educando já nasce com certo conhecimento a priori (apriorismo) que necessita apenas de estruturação cognitiva para tornar compreensível esse conhecimento. Nesta tendência, o conhecimento é uma construção que só pode ir adiante se educandos e educadores aprenderem primeiro como se aprende (Vygostky e Alicia Fernández). Processo esse que ocorre na interação entre ambos os sujeitos do processo ensino-aprendizagem.
O teórico Lev Vygotsky foi o primeiro a falar de sócio-interacionismo, como conceito pedagógico. Ele acreditava que o ser humano é o resultado da interação com o meio em que vive. Portanto, para potencializar o desenvolvimento de uma criança, é preciso que ela se relacione com outras. É dele o conceito de zona de desenvolvimento proximal, a distância entre o que um indivíduo já sabe fazer sozinho e o que é capaz de realizar com a ajuda do outro. Assim, pode-se afirmar que os educandos precisam se relacionar não apenas com seus pares. Os mais velhos fazem coisas que os menores ainda não conseguem realizar sozinhos e isso é um convite ao aprendizado. Muito mais importante é o papel do professor, que se situa na sala sob o papel de ensinante e aprendente.
	Tudo no comportamento parte da ação. Ensinar significa provocar o desequilíbrio no sujeito para que ele, procurando o reequilíbrio, reestruture-se cognitivamente e aprenda. O processo de aprender é a capacidade de reestruturar-se mentalmente buscando um novo equilíbrio. O ensino deve, portanto, ativar este processo constantemente.
	A maneira como cada um aprende é particular e individual, porém, o homem não é apenas passivo ou ativo em seu processo de desenvolvimento, ele é um sujeito interativo, pois é na troca com outros sujeitos que vão se internalizando seus conhecimentos, ou seja, o processo vai do plano social para o plano individual.
PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS
	A escola é uma instituição que sempre ocupou lugar importante na sociedade. No passado, a humanidade convivia com uma realidade estável, sem grandes mudanças, o que permitia certa continuidade no dinamismo social, possibilitando a repetição das práticas e dos costumes.
	No século XXI, ela enfrenta realidade totalmente diferente. As mudanças são tão rápidas que é preciso redefinir o seu papel, tornar-se ágil e dinâmica para resgatar sua importância. A escola não pode mais continuar com as mesmas práticas de ensino utilizadas no passado, pois elas não correspondem mais às exigências e aos desafios dos tempos atuais.
	O desafio de fazer a passagem do modelo de escola centrado nas informações, para o novo, em que o aluno e a produção do conhecimento passam a ocupar o centro do processo. Uma escola que assume esta tendência deve nortear a sua prática pedagógica procurando compreender e aplicar embasamentos teóricos propostos por autores comprometidos com a inovação pedagógica e a mudança de paradigmas na educação. A prática pedagógica desta linha visa o crescimento integral do aluno no processo de construção da aprendizagem, nos aspectos afetivo, social e cognitivo.
	No processo de ensino e aprendizagem, uma das questões vitais para que os objetivos educacionais sejam alcançados é a relação professor-aluno, que deve ser sadia, equilibrada, afetiva e profissional. O professor não pode exercer com êxito a sua função sem a interação adequada com o aluno, e vice-versa. A relação entre professor e aluno deve ser de parceria, na qual o aluno envolve-se de forma consciente, contribuindo com o sucesso do professor e o professor faz o mesmo em relação ao crescimento dos alunos. Esta relação é indispensável para termos uma aprendizagem significativa.
	O ser humano é um ser aprendente-ensinante, portanto, sujeito e autor de sua história. Nesta ótica, no processo de ensino e aprendizagem, o objetivo principal não é o conteúdo ensinado, aprendido ou não aprendido, mas o posicionamento do aprendente e ensinante e a intersecção problemática, que é desarmônica, mas necessária para o sucesso da construção da aprendizagem.
	Em decorrência disto, ocorre uma mudança radical na identidade do professor e do aluno no âmbito escolar. Tanto o professor quanto o aluno assumem um novo papel, ora de ensinante, ora de aprendente num processo dialético, enfatizando ainda mais a função de ensinar do professor. Segundo Alicia Fernandes, “até poderia dizer que, para realizar uma boa aprendizagem, é necessário conectar-se mais com o posicionamento ensinante do que com o aprendente. E, sem dúvida, ensina-se a partir do posicionamento aprendente”. Cabe ao professor orientar o processo emancipatório dos seus alunos, ou seja, investi-los do caráter pensantes capazes de aprender por meio da pesquisa, método que suscita postura de questionamento criativo, desafio de inventar soluções próprias e descobertas de soluções alternativas (pedagogia de projetos)
	O professor é o articulador do ambiente de aprendizagem e tem a função de propiciar as interações do aluno com o meio e problematizar situações que o levem a construir o seu conhecimento sobre o tema que está sendo abordado. Tendo com fio condutor do processo de ensino o método científico, a aprendizagem se dá por meio da definição do tema, da problematização, do levantamento de hipóteses, da coleta de dados, da análise dos dados e da conclusão. Ao professor cabe orientar e mediar este processo, possibilitando ao aluno a constituição do universo significante e empreendedor baseado em elaborações próprias e independentes.
	Desta forma, ultrapassa-se o espaço informativo, que são instruções e informações necessárias do professor para que o aluno possa dialogar e questionar a realidade com o objetivo de atingir o conteúdo formativo. Assim sendo, o estudante deve ser considerado o autor da sua aprendizagem, pois são de sua autoria as conclusões parciais ou finais do processo de pesquisa e de investigação, fontes intermináveis e fascinantes de descobertas.
MÉTODO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
	Opondo-se a métodos que privilegiem apenas a transferência de conteúdos, memorização, fixação e repetição acrítica de informações, a opção desta tendência é a investigação, a pesquisa e a resolução de problemas, baseando-se no método científico:
PROBLEMATIZAÇÃO
LEVANTAMENTO DE HIPÓTESES
COLETA DE DADOS 
ANÁLISE DOS DADOS 
CONCLUSÃO 
[APRESENTAÇÃO > AVALIAÇÃO]
	É importante esclarecer que método e metodologias não se referem exatamente às mesmas realidades. Metodologia é a ciência que estuda os métodos. A palavra “método” é de origem grega (methodus), sendo que MÉTODO é um conjunto ordenado de procedimentos para atingir um fim ou um resultado que se deseja. Método de ensino é uma sucessão de ações sistêmicas e devidamente planejadas, organizadas e executadas com a finalidade de alcançar os objetivos estabelecidos.
PROCESSO DE AVALIAÇÃO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM
	A palavra “avaliação” tem um sentido amplo, fato este que possibilita diferentes significados e interpretações. Podemos aplicá-la no sentido de verificar, medir, classificar, diagnosticar, atribuir juízo, ou seja, emitir julgamento de alguém ou de alguma coisa, partindo de critérios definidos.Por outro lado, os dados da avaliação nada mais são do que subsídio para orientar tomada de decisão ou ainda para elaborar e apresentar diagnóstico. Partindo dessas constatações, podemos afirmar que avaliar significa diagnosticar o grau de adequação entre os conhecimentos desenvolvidos e os critérios em relação aos objetivos previamente estabelecidos. Assim sendo, podemos concluir que a não definição de critérios e de objetivos anula qualquer prática de avaliação.
	Para que esta tendência alcance seus objetivos, a avaliação não pode ser realizada somente após o aprendizado, mas é preciso que seja parte integrante do processo de ensino. Temos definido que o grande objetivo desta tendência é aprender a aprender. Assim sendo, a avaliação deve ser contínua, sistêmica e abrangente, de tal forma que se possa permear todo o processo de ensino e aprendizagem.
	A avaliação tem ainda a finalidade de identificar o estágio de desenvolvimento de cada aluno para que o professor tenha tempo hábil de refazer seu planejamento, retomando o processo. Por esta forma, todos poderão construir aprendizagens significativas, e de acordo com as suas condições elas serão valorizadas.
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS CORRELACIONADAS A ESTA TENDÊNCIA
PEDAGOGIA DE PROJETOS
	A discussão acerca da Pedagogia de Projetos não é nova. Surgiu no início do século com John Dewey e outros representantes da Pedagogia Ativa. Mas foi William Kilpatrick, nos Estados Unidos que lançou a idéia de projetos como uma atitude didática. Essa linha ganha força ao final do século XX quando a Espanha em sua renovação das leis que fundamentam o ensino assume posturas condizentes com a Pedagogia de Projetos. O projeto é uma atitude intencional, um plano de trabalho, um conjunto de tarefas que tendem a um progressivo envolvimento individual e social do aluno nas atividades empreendidas, voluntariamente, por ele e pelo grupo, sob a coordenação do professor. 
Ela possui os seguintes passos:
Intenção: o professor deve pensar os seus objetivos educacionais e as necessidades de aprendizagem da turma. Com isso, o educador se instrumentaliza para canalizar a curiosidade e os interesses dos alunos para a montagem do projeto, uma situação concreta a resolver. Depois disso, as atividades serão socializadas: a) escolha do tema; b) identificação do nível de conhecimento atual dos alunos – conhecimentos prévios – que possibilita a problematização do conteúdo, o levantamento das hipóteses, a listagem do que os alunos querem saber e a identificação de possíveis estratégias para o desenvolvimento do trabalho. 
Preparação: a) coleta e seleção de materiais (revistas, jornais, livros, filmes, discos, slides, fantoches...); b) organização dos grupos ou duplas e suas tarefas; c) montagem dos textos para as atividades de pesquisa; d) busca de outros meios necessários para a busca de soluções.
Execução: desenvolvimento, confronto e apresentação dos resultados. 
Apreciação: avaliação do trabalho realizado em relação aos objetivos.
INTERDISCIPLINARIDADE
	O processo de interdisciplinaridade tem sido objeto de discussão pedagógica desde os anos 70. Pensou-se que bastariam aos técnicos da educação apontar Projetos Temáticos e fazê-los acontecer através dos professores, que por sua vez “empurravam” goela abaixo aos alunos. Como não havia troca em nenhum momento, integração ou complementação dos envolvidos uns com os outros, os objetivos da interdisciplinaridade não eram cumpridos. A interdisciplinaridade exige postura de abertura a todos e por todos, abertura aos saberes e aos não-saberes. Para uma interdisciplinaridade funcionar é preciso que professores se reúnam na preparação do projeto a ser trabalhado em conjunto e que haja, preferencialmente, a presença de representantes das turmas para ocorrer o acompanhamento do processo, e então, basta que se coloque em prática o projeto que contemplará os projetos dos alunos.
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
	Temática desenvolvida na França pelo suíço Philippe Perrenoud, habilidades são os processos de aquisição de conhecimento e o próprio conhecimento em aquisição. Uma vez adquiridas, as habilidades são qualificadas de competências. Estando estáticas, permanecem competências. No entanto, como há um contínuo processo de construção-reconstrução do conhecimento. O educando, ao colocar a competência em prática, esta volta a ser uma habilidade que se transformará em nova competência, que se transformará em habilidades para novas competências, e assim por diante, no processo de aprendizagem-conhecimento-aprendizagem sem fim.

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