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Direito de Família 14 Filiação

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14. FILIAÇÃO
Conceito. Presunção de filiação. Posse do estado de filho. Prova da filiação
1. Conceito
Filiação é a relação de parentesco em linha reta de 1º grau, que liga uma pessoa àquelas que a geraram, ou a receberam como se a tivessem gerado (Silvio Rodrigues). Para Venosa, a filiação exprime a relação entre o filho e seus pais, aqueles que o geraram ou o adotaram.
Paulo Lôbo ensina que filiação é conceito relacional; é a relação de parentesco que se estabelece entre duas pessoas, uma nascida da outra ou adotada, ou vinculada mediante posse do estado de filiação ou por concepção derivada de inseminação artificial heteróloga.
Para Fábio Tartuce, a filiação, em síntese, trata-se da relação jurídica existente entre pais e filhos. 
 Em sentido estrito, filiação é a geração jurídica que liga o filho a seus pais. É considerada filiação propriamente dita quando visualizada pelo lado do filho. 
Observado em relação aos genitores para com seu filho, o vínculo denomina-se paternidade ou maternidade, embora, em sentido amplo, a expressão paternidade seja usada, na linguagem jurídica, referindo-se tanto à paternidade quanto à maternidade. Ex. art. 226, parágrafo 7º da CF, ao referir-se a “paternidade responsável”.
A mais importante das relações de parentesco é aquela estabelecida entre pais e filhos, exatamente por ser a mais próxima. Por este motivo, todas as regras sobre parentesco consangüíneo são organizadas tomando-se a noção de filiação como ponto de partida.
2. Igualdade da filiação
Atualmente não mais se admite qualquer tipo de diferenciação no que se refere à filiação. Filhos são todos filhos, apenas, sem qualquer qualificação, e independentemente de terem sido havidos ou não do casamento, ou por adoção, consoante o princípio da igualdade decorrente da CF e presente no art. 1596 do Código. Nos termos do art. 227, parágrafo 6º da CF “os filhos havidos ou não da relação de casamento, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. Fica assim estabelecida a igualdade substancial entre os filhos, eliminando-se toda conduta discriminatória.
Anteriormente, na vigência do Código de 1916, havia o entendimento de que somente eram legítimos os filhos havidos durante o casamento. A discriminação era tal que não se admitia que um homem casado reconhecesse um filho nascido de relacionamento extraconjugal. Tal reconhecimento só foi possível em 1949, com a edição da Lei no. 883/49. Os filhos adotados também eram discriminados, negando-se direitos sucessórios.
A Constituição de 1988 é que assegurou em definitivo a igualdade entre filhos, a exemplo do que preconizava a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica, que já prescrevia ser dever de todo ordenamento reconhecer direitos aos filhos nascidos fora do casamento tanto quanto aos nascidos dentro de uma relação matrimonial.
Segundo Maria Berenice Dias, a partir da Constituição de 1988, a nova ordem jurídica transformou crianças e adolescentes em sujeitos de direito, levando à identificação de novos conceitos e de uma nova linguagem que representam a filiação atual. Assim é que hoje se fala em filiação socioafetiva, posse do estado de filho, desbiologização da paternidade, tudo isso tentando deixar claro que a relação de paternidade não depende mais da exclusiva relação biológica entre pai e filho. Considerando, ainda, os métodos de reprodução assistida, e a disciplina jurídica da adoção, além do norteador princípio da afetividade, as relações de paternidade e maternidade extrapolam os aspectos meramente biológicos, decorrentes de um ato físico, passando a ser uma opção de afeto.
Concepção doutrinária atual entende que, se os filhos biológicos ou adotados são juridicamente iguais, a origem genética não pode ser determinante para a filiação. A relação de afeto que se constrói na convivência entre pais e filhos –sejam eles biológicos ou não – é o que deve importar para o direito. 
Desaparecidas as funções tradicionais da família, esta veio se reencontrar no fundamento da afetividade, na comunhão de afeto, pouco importando o modelo que adote. A afetividade, inicialmente estudada pelos cientistas sociais, educadores, psicólogos, entrou na seara dos juristas que buscam explicar as relações familiares contemporâneas.
Desta perspectiva, pai é aquele que cria; genitor, aquele que gera, segundo ensinamento de Paulo Lôbo. Estes conceitos estiveram reunidos quando existia a primazia da função biológica da família. 
3. Princípio do maior interesse da criança
No que se refere à criança deve-se ter presente o princípio do ‘maior interesse da criança’ estabelecido pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança realizada pela ONU em 1989, referendada pelo Brasil. A legislação brasileira incorporou este princípio, estendendo-o ao adolescente.
O princípio consiste em diretriz determinante das relações entre crianças e adolescentes e seus pais, sua família, a sociedade, o Estado. A aplicação da lei vai se pautar pela tutela dos filhos como seres prioritários.
4. Presunção de filiação
Em épocas passadas, não se podendo provar a paternidade diretamente, buscava-se, através de presunções, uma forma de estabelecer a filiação. O direito sempre recorreu a presunções em razão da antiga dificuldade de se atribuir a maternidade ou a paternidade a alguém. Estas presunções têm por finalidade definir a filiação e certificar a paternidade. As presunções consistem em deduções que se retiram de um fato certo para provar um fato incerto ou desconhecido. 
Desta perspectiva a lei presume que a maternidade é sempre certa e o marido da mãe é o pai de seus filhos. Neste sentido, os filhos de pais casados têm a paternidade e a maternidade estabelecidas por uma ficção jurídica que define a filiação matrimonial.
4.1. Presunção pater is est – Deriva do adágio romano pater is est quem justae nuptiae demonstrant, presumindo-se a paternidade do marido em se tratando de filho gerado por mulher casada. Na base desta presunção está a idéia da certeza da maternidade e o marido da mãe é o pai dos filhos nascidos durante a coabitação do casal. Mostra-se falha quando não existe coabitação e por outro lado, presume a fidelidade da mulher.
 4.2. Presunções disciplinadas no Código Civil
O art. 1597 enuncia as hipóteses em que se presume terem sido os filhos concebidos na constância do casamento. Nos termos do art. 1597 do Código Civil, “Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: 
a) Inciso I – nascidos 180 dias após o estabelecimento da convivência conjugal. O dispositivo toma por base o período mínimo de gestação. O prazo tem início a partir da convivência do casal, e não da data da celebração do casamento, caso estas não sejam coincidentes. A presunção se funda na fidelidade da mulher.
Atualmente é possível determinar, cientificamente, a data em que ocorreu a concepção. Ademais, o exame de DNA permite identificar a paternidade com a certeza necessária. A utilização deste exame destituiu a validade deste inciso I.
A Constituição Federal prestigia a filiação socioafetiva, relativizando a origem biológica, e por isso a referida presunção não é mais considerada como determinante da paternidade ou da filiação. Desta perspectiva, pai é o marido da mãe, ou o seu companheiro, que aceita a paternidade do filho, independentemente de prazo de convivência ou de questionamento da origem genética. Na verdade, esta presunção, em épocas passadas, tinha por finalidade a atribuição de legitimidade ou não à filiação, situações estas totalmente descabidas atualmente.
b) Inciso II – nascidos 300 dias após a dissolução da sociedade conjugal. O prazo deve ser contado a partir da ‘separação de fato’ devidamente comprovada. Busca-se impedir a “turbatio sanguinis”, conforme foi analisado no que se refere às causas suspensivas do casamento. Se a viúva casar neste lapso temporal, deve-se recorreraos meios regulares de prova, notadamente o exame de DNA, prevalecendo a verdade biológica.
O Código Civil trata do casamento, porém o Superior Tribunal de Justiça admitiu a presunção em relação à união estável, desde que seja possível a identificação dos requisitos previstos em lei para a existência da união estável, além da possibilidade de comprovar o seu término (STJ. REsp 1.194.059/SP). 
Considerando tal entendimento, torna-se possível estender esta conclusão para o inciso I, desde que seja comprovado o início da união estável, o que pode ser feito por escritura pública ou por prova testemunhal, ou ainda por outro documento celebrado entre as partes.
Todavia, conforme antes mencionado, estes dois dispositivos têm pouca relevância prática na atualidade, considerando-se o exame de DNA.
c) Procriação assistida
Além das hipóteses mencionadas nos incisos I e II, o artigo 1.597 enumera mais três hipóteses de presunção de filhos nascidos na constância do casamento, em seus incisos III, IV e V.
Em linhas gerais, as expressões fecundação artificial, concepção artificial, inseminação artificial, todas dizem respeito às técnicas de reprodução medicamente assistida, utilizadas em substituição da concepção natural, quando houver dificuldade ou impossibilidade da concepção natural por parte de um ou de ambos os pais.
A Reprodução Assistida é disciplinada pelo Conselho Federal de Medicina através de Resoluções que tratam das questões éticas sobre o tema e orientações sobre os atos que podem ou não ser praticados. Em 1992 foi editada a Resolução 1.358, substituída em 2010 pela Resolução 1 957. Em 2013 esta Resolução foi revogada pela Resolução de número 2 013 e recentemente, em 2015, foi editada a Resolução 2 121, revogando a anterior.
Segundo a Resolução, em linhas gerais:
 - é obrigatório o consentimento livre e esclarecido dos pacientes,
 - as técnicas não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo ou qualquer característica biológica, 
 - o número máximo de embriões transferidos é de quatro,
 - a idade máxima da candidata á gestação é de 50 anos, 
 - e as técnicas não podem ser utilizadas para outra finalidade que não seja a procriação humana.
Continuando com as presunções previstas no art. 1597 do Código Civil, os incisos seguintes estabelecem que “presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:” 
 - Inciso III – havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido.
A fecundação artificial homóloga é a que manipula gametas da mulher e do marido (óvulo e sêmen do próprio casal).
O termo fecundação se refere à fertilização do óvulo pelo espermatozóide durante o processo de reprodução. A fecundação homóloga é feita com sêmen do marido e óvulo da mulher, pressupondo-se o consentimento de ambos.
Técnicas especiais de conservação (criopreservação) permitem a fecundação mesmo depois de falecido o marido. Neste caso, a mulher deve estar viúva por ocasião da utilização do material genético do marido, exigindo-se autorização escrita dele para que a inseminação possa ser realizada após sua morte, conforme estabelece a Resolução 2.121 do Conselho Federal de Medicina. A esse respeito o Código Civil não traz nenhuma especificação.
Por outro lado, alguns doutrinadores sugerem a alteração do texto no Código Civil, retirando-se esta parte final que permite a utilização do material após a morte do marido. Outra parte da doutrina sugere acrescentar ao texto original a condição de que a implantação do material genético tenha ocorrido antes da morte do marido. 
Para alguns autores a exigência de viuvez por parte da mulher se mostra preconceituosa e desnecessária, tendo em vista a possibilidade de posterior exame de DNA que apresentaria segurança de resultado.
Questão polêmica diz respeito ao direito sucessório do filho nascido mediante esta modalidade. Segundo o art. 1.784 do Código, a herança se transmite aos herdeiros legítimos e testamentários. E o art. 1798 define que são legitimadas a suceder as “pessoas nascidas ou concebidas no momento da abertura da sucessão”, abertura esta que ocorre no momento do falecimento da pessoa de cuja herança se trata.
Resta pendente, assim, a questão dos direitos sucessórios de quem foi concebido por fecundação artificial post mortem, cabendo à doutrina e à jurisprudência propor solução. Todavia, havendo por parte do pai a indicação deste filho como herdeiro testamentário, haveria a possibilidade de sucessão mediante testamento elaborado pelo pai ainda em vida em favor de prole eventual, disciplinada nos arts. 1799 e 1800 do Código Civil. 
 - Inciso IV – havidos a qualquer tempo, tratando-se de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga.
Embrião é o “ser oriundo da junção de gametas humanos, segundo a fertilização in vitro, realizada em proveta, e, portanto, fora do corpo da mulher, ou pela introdução do gameta masculino no corpo da mulher, ocorrendo a fecundação no seu interior”.
Embrião excedentário é aquele fecundado in vitro e não utilizado de imediato, sendo armazenado por técnicas especiais.
O Código não menciona o momento a partir do qual se considera embrião, o que é feito pela Resolução 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina, que fixa em 14 dias o momento a partir do qual existe embrião propriamente, ou a vida humana. O destino destes embriões excedentários vem causando algumas polêmicas. Discute-se a autonomia dos cônjuges para decidir, no caso de pré-embriões, ou seja, antes dos 14 dias em que se considera haver vida humana. 
Segundo o Projeto de Lei 90/90, do Senado Federal, não se aplicam a estes embriões os direitos atribuídos ao nascituro, uma vez que não foram ainda transferidos para o útero materno.
Apenas se admite a fecundação homóloga para o uso de embriões excedentários se os pais são casados ou companheiros de união estável. Ocorrendo o término da sociedade conjugal, a regra do inciso IV somente poderá ser aplicada se houver autorização prévia, e por escrito, dos ex-cônjuges, conforme entendimento decorrente do Enunciado n. 107 da I Jornada de Direito Civil. 
Maternidade de substituição : técnica utilizada pela Ciência Médica com o objetivo de permitir que uma mulher que não tenha condições de gestar, ou de levar uma gravidez até o fim, possa ter um filho gestado em útero de outra pessoa.
Na fecundação homóloga, havendo a concepção no útero de mulher que não seja a mãe genética, (a chamada maternidade de substituição ou gestação de substituição, ou gestação em útero alheio) juridicamente o filho é da mãe genética, na medida em que a fecundação foi realizada em seu óvulo. 
No Brasil, por muito tempo, não existia prescrição quanto ao procedimento popularmente conhecido como “barriga de aluguel”, por conta da presunção pater is est, todavia, o Conselho Federal de Medicina disciplinou a matéria em Resoluções que fixaram os limites e os requisitos essenciais para a aplicação do procedimento.
 A Resolução do Conselho Federal de Medicina, de número 2013, de 16 de abril de 2013, referendada pela Resolução 2.121 de 2015, define que a gestação de substituição (também denominada de doação temporária de útero) poderá ocorrer quando a doadora de útero pertencer à família de um dos parceiros, sendo o parentesco admitido até o quarto grau colateral, respeitada a idade limite de 50 anos.
Excepcionalmente poderá uma mulher com mais de 50 anos participar do procedimento, desde que fundamentos técnicos e científicos sejam apresentados pelos médicos responsáveis, além de serem esclarecidos os possíveis riscos.
A mesma Resolução 2.121 de 2015, estabelece que a doação temporária de útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial. Além disso, deverá haver contato entre os pais genéticos e a doadora do útero para deixar claro o estabelecimento da filiação da criança. Neste sentido haveria a garantia do registro da criança pelos pais genéticos, devendo a documentação ser providenciada durante a gravidez.
Nos termosda Resolução acima citada, o número máximo de embriões a serem transferidos não deve passar de quatro. E em caso de gravidez múltipla, fica proibida a utilização de procedimentos voltados para a redução embrionária.
A Resolução 2.121 de 2015 permite a gestação de substituição em caso de união homoafetiva. Neste sentido, enunciado aprovado na VII Jornada de Direito Civil realizada em 2015, “é possível o registro dos filhos de pessoas do mesmo sexo originários de reprodução assistida, diretamente no Cartório de Registro Civil, sendo dispensável a propositura de ação judicial”.
A Lei n. 8 974 /95 proíbe a produção, armazenamento e manipulação de embriões humanos para servir como material biológico disponível. A Resolução do Conselho Federal de Medicina, de número 2013, define que os embriões criopreservados com mais de 5 anos poderão ser descartados, se esta for a vontade dos pacientes. Tal descarte não será, necessariamente, para pesquisa de células-tronco, conforme previsto na Lei de Biossegurança.
- Inciso V – havidos por inseminação artificial heteróloga, com prévia autorização do marido.
Inseminação heteróloga é aquela em que se utiliza o sêmen de outro homem, normalmente doador anônimo, desde que haja a prévia autorização do marido. A lei não exige que o marido seja estéril ou que não possa procriar por qualquer motivo. A única exigência é a sua autorização.
O filho nascido mediante este procedimento é filho do marido que autorizou a inseminação, não podendo voltar atrás. Só pode haver desistência até o momento da inseminação, entendendo-se que após a implantação do óvulo já existe uma gestação em andamento e por este motivo não se admite a retratação do consentimento. Este tipo de paternidade é percebido como socioafetiva, na medida em que comprova o desejo de ser pai.
5. Posse do estado de filho
Consiste na filiação identificada na situação fática de uma pessoa desfrutar do status de filho em relação a outra pessoa, independentemente da realidade biológica. Compreende um conjunto de circunstâncias que indicam a presunção da existência de relação entre o pai e o filho, ou a mãe e o filho. Nas palavras de Paulo Lobo, “trata-se de uma situação de parentesco, uma presunção legal”.
Nas palavras de Cristiano Farias, o filho, embora não registrado pelo pai, convive com ele, com todos os elementos característicos de um vínculo de filiação. Sendo tratado pelo pai, pública e notoriamente como filho, poderá obter as consequências jurídicas pertinentes.
No ensinamento de Guilherme Calmon da Gama, consiste na aplicação da teoria da aparência ao Direito de Família. A aparência é revelada pela convivência familiar, verificada na afetividade, no cumprimento dos deveres de guarda, sustento e educação dos filhos. Busca-se, a partir do estado de filiação, conferir à aparência, os efeitos da verossimilhança.
Para o convencimento do juiz, são válidos os meios de prova admitidos em direito, notadamente a convivência familiar efetiva, além de documentos que possam revelar filiação, como cartas, autorizações escritas para atos que possam beneficiar o filho, declaração para fins de imposto de renda, previdência social, etc. Tais documentos podem ser considerados como indícios de prova da filiação.
Nas palavras de Maria Berenice Dias: “A filiação que resulta da posse do estado de filho constitui modalidade de parentesco civil “de outra origem”, isto é, origem afetiva. A filiação socioafetiva corresponde à verdade aparente e decorre do direito à filiação”.
Significa dizer que a relação entre pai e filho caracteriza uma paternidade e uma filiação que decorrem da convivência e não necessariamente existe em razão do parentesco biológico. É o afeto presente no dia a dia que constitui o vínculo da parentalidade.
Na mesma linha de pensamento, Paulo Lôbo ensina que a posse do estado de filho “oferece os necessários parâmetros para o reconhecimento da relação de filiação, fazendo ressaltar a verdade socioafetiva”.
6. Contestação da Paternidade
A presunção de paternidade do art. 1597 é, em regra, juris tantum, admitindo prova em contrário, podendo ser eliminada por ação negatória de paternidade – elegendo-se o critério biológico, prevalecendo a verdade real. Esta ação é imprescritível (ver art. 1601).
Nos termos do art. 1599, a presunção é relativa, podendo ser refutada mediante prova de impotência do cônjugNão se podendo provar a paternidade diretamente, busca-se, através de presunções, uma forma de estabelecer a filiação.
Vale destacar, todavia, que todas essas presunções perdem importância diante do exame de DNA.
Por outro lado, a paternidade não pode ser excluída apenas pelo adultério confessado da mãe (arts. 1.600 e 1.602). Compete ao marido propor a ação de contestação da paternidade, sendo ele o legitimado ativo (art. 1 601). Porém, uma vez iniciada, se ele vier a falecer, os herdeiros promoverão a continuidade.
O legitimado passivo é o filho, porém a mãe deve integrar a lide na posição de ré, pelo fato de ter realizado o registro do filho com o nome do pai que agora contesta a paternidade. Se o filho for menor, a mãe deve assisti-lo.
Permite-se ao filho impugnar a paternidade com base no artigo 1.604, provando erro ou falsidade do registro.
Vale destacar que tais dispositivos estão sendo alvo de críticas por alguns doutrinadores considerando que estaria sendo desvalorizada a paternidade socioafetiva. 
7. Prova da filiação
Segundo o art. 1603, a filiação é provada pela certidão registrada, segundo os requisitos dispostos no art. 54 da Lei 6015/73 – Lei dos Registros Públicos.
O registro torna público o nascimento e a filiação, presumindo-se verdadeiras as declarações. O registro deve conter o nome do pai ou da mãe, mesmo que não sejam casados, quando qualquer um deles for o declarante.
A presunção da filiação derivada do registro do nascimento é quase absoluta, só podendo ser afastada em caso de erro ou falsidade. (art. 1604) 
Se os pais não registraram o filho, por morte de ambos ou por outro motivo, ou ainda se desapareceu o livro de registro, pode ser feita a prova da filiação segundo define o art. 1605 .
As provas podem ser documentais, testemunhais, periciais.
Mais uma vez, o exame de DNA torna este dispositivo em mera fonte subsidiária.
A posse do estado de filho, o nome, a fama, tratamento como tal (nomen, fama, tractatus) podem ser analisados da mesma forma que ocorre em relação ao casamento. A presença destes elementos leva a crer a filiação conforme indicada.
Nos termos da moderna doutrina, para benefício dos próprios envolvidos, deve prevalecer a paternidade socioafetiva, desvinculada do fenômeno biológico e científico, fazendo prevalecer o afeto, o amor, o desapego material.
Desta perspectiva, resta obsoleto o art. 1 605. No contexto da revisão do Código que está sendo proposta mediante o projeto 6 980/ 2002 foi sugerida uma nova redação para esse artigo: “Na falta, defeito ou falsidade do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por qualquer modo admissível em direito”. 
Segundo o art. 1606 o filho pode buscar seu estado de filiação negado pelos pais. A legitimidade ativa é do filho, resultante de direito personalíssimo. Não obstante, se vier a falecer no curso do processo, a ação poderá ser continuada por seus herdeiros.
8. Parto anônimo
O termo parto anônimo é usado atualmente para designar uma situação anteriormente conhecida como “roda dos enjeitados”, ou roda dos expostos, frequente na Idade Média, sobretudo na Itália e na França, e posteriormente trazida para o Brasil pelos portugueses.
Fabíola Albuquerque ensina que havia o costume de fixar um artefato de madeira na parte externa de uma janela, ou no muro das Santas Casas de Misericórdia, hospitais, conventos, para que as mães que não quisessem seus filhos pudessem colocá-los nesta caixa de madeira, conhecida como roda, para que as religiosas das instituições pudessem criá-los, sem haver a indicação da pessoa que rejeitava a criança. 
Ao ser colocadaa criança, um sino era tocado, indicando que havia uma criança na “roda,” que então era girada para o interior, permitindo a retirada da criança, mantendo o anonimato da mãe.
Naquela ocasião havia um rígido controle moral de conduta para com as mulheres e neste sentido, engravidar e ter um filho sem ser casada significava desonra e repúdio da comunidade. Além do mais, havendo conhecimento do ato, a criança também era alvo de discriminação, sendo tratada como filho ilegítimo.
Na realidade atual ainda se observa o abandono de recém-nascidos, embora nem sempre por questões morais. Considerando a disciplina do planejamento familiar, previsto na Lei 9263/ 96, caberia ao Estado propor políticas públicas voltadas para a informação de métodos anticoncepcionais e fornecimento dos materiais adequados. Todavia, o Estado ainda não implementou tal política a contento, motivo pelo qual o abandono de incapazes continua a acontecer, muitos dos quais não sobrevivem.
O ECA, em seu art. 8º, parágrafo 5º ( a partir da Lei 12 010 de 2009) reconhece o direito da gestante ao parto anônimo para aquelas que têm interesse em entregar o filho para adoção.
9.Questões indefinidas
Parte significativa da doutrina entende que, em todas estas questões de filiação, inseminação, presunção, o Código foi omisso em esclarecer situações que se afiguram como cruciais, na atual realidade brasileira. O rigor da lei seria importante para que a sociedade não viesse a enfrentar problemas de difícil solução ética e jurídica.
No que se refere à reprodução assistida, no entendimento de alguns doutrinadores, deveria haver orientação para somente ser permitida com expresso consentimento dos cônjuges e mediante a comprovação da necessidade, oportunidade e conveniência.
Outra questão a ser pensada é a produção de embriões excedentes na fecundação in vitro, com repercussões de ordem científica, moral e religiosa.
O Código não apresenta nenhuma disposição sobre o destino dos embriões excedentários, ou seja, aqueles que não são utilizados na fecundação artificial, e o casal não tem interesse na concepção de outros filhos.
Existem recomendações éticas emanadas das Resoluções do Conselho Federal de Medicina, bem como da Lei de Biossegurança, preconizando que os cônjuges ou companheiros devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino dos embriões criopreservados, notadamente nas situações de divórcio, doença ou falecimento de um deles ou de ambos, e se desejam doá-los.
Na legislação civil brasileira não existe uma proteção específica para os embriões. O projeto de Lei n. 6960/2002 propõe a alteração do art. 2º do Código Civil para estender a proteção do nascituro ao embrião. Esta proposta também apresenta um aspecto polêmico, visto que o embrião pode não vir a ser nunca implantado, ficando difícil assegurar direitos a um embrião que permanece congelado.

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