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www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 1 RECURSO DE REVISTA 1. NATUREZA Os recursos classificam-se em recurso de natureza ordinária ou extraordinária, segundo tabela a seguir: Súmula 126, TST. Incabível o recurso de revista ou de embargos (CLT, artigos 896 e 894, “b”, CLT) para reexame de fatos e provas. Súmula 279, STF. Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. Importante saber que o recurso de revista é cabível apenas em dissídios individuais, o que significa dizer que não é cabível em dissídios coletivos, sendo pos- sível nas ações coletivas, como é o caso da ação civil pública. 2. HIPÓTESES DE CABIMENTO Cabe recurso de revista em duas hipóteses: 1) de decisão do TRT em recurso ordinário; e 2) de decisão do TRT em agravo de petição. Não é cabível recurso de revista em face de decisão do TRT em agravo de instrumento (súmula 218 do TST). O recurso de revista somente será cabível quando: a) a questão for exclusivamente de direito; b) se o recorrente estiver diante de uma das hipóteses espe- cíficas de cabimento de recurso de revista c) se a ma- téria estiver prequestionada. 2.1 Hipóteses Específicas de Cabimento do Re- curso de Revista A hipóteses específicas de cabimento do recurso de revista variam de acordo com o procedimento. Esclarece-se, desde logo, que os dissídios de alçada, sujeitos ao procedimento sumário são de única ins- tância. Da sentença proferida neste procedimento é cabível recurso apenas se houver violação à Consti- tuição Federal (art. 2º, § 4º, Lei nº 5.584/70). No procedimento sumaríssimo, o recurso de revista é oportuno quando o acórdão do TRT contrariar a Constituição Federal, súmula do TST, ou súmula vin- culante do STF (art. 896, § 9º, CLT). Não é hipótese de cabimento de recurso de revista neste procedi- mento a contrariedade à orientação jurisprudencial (Súmula nº 442, TST). Recurso de revista na execução é cabível apenas quando houver ofensa literal e direta à Constituição da República (art. 896, § 2°, CLT e Súmula nº 266, TST). Entretanto, nas execuções fiscais e nas con- trovérsias da fase de execução que envolvam a Cer- tidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNDT) cabe recurso de revista por violação à lei federal, diver- gência jurisprudencial e ofensa à Constituição Fede- ral (art. 896, § 10º, CLT). No procedimento ordinário, nos termos do art. 896 "a" e "c", da CLT, o recurso de revista é cabível nos se- guintes casos: a) violação literal e direta à Constituição Federal; b) violação literal à lei federal; c) contrariedade à súmula do TST; d) contrariedade à orientação jurisprudencial do TST (OJ 219, SDI-1, do TST); e) contrariedade à súmula vinculante do STF; f) quando, na interpretação de lei federal, a decisão recorrida contrariar outro TRT (Pleno ou Turma); e g) quando o acórdão recorrido divergir, na interpreta- ção de lei federal, de decisão da Seção de Dissídios Individuais I ou II do TST Divergência jurisprudencial ocorre, por exemplo, quando: o TRT da 9ª região julga um caso hipotético, estabelecendo que não basta que as verbas resci- sórias tenham sido depositadas no prazo previsto no art. 477, § 6º, da CLT, para afastar a incidência da www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 2 multa do art. 477, § 8º, da CLT, devendo a homolo- gação da rescisão ocorrer também no prazo. Por ou- tro lado, o TRT 4ª região julga que basta que o depó- sito das verbas rescisórias seja realizado no prazo para que a multa do 477, §8º, da CLT não tenha ca- bimento. Há, neste caso, uma divergência, uma vez que os tribunais interpretam o art. 477, §8º, da CLT de forma diversa. Caberá recurso de revista por divergência jurispru- dencial entre TRTs, observadas as seguintes particu- laridades: a) quando o acórdão do TRT recorrido contrariar sú- mula de outro TRT ou tese jurídica prevalecente no âmbito deste tribunal, que não contrarie súmula, ori- entação jurisprudencial do TST ou súmula do STF. b) se não houver súmula de outro TRT ou tese jurí- dica prevalecente no âmbito deste tribunal, caberá recurso de revista quando o acórdão recorrido con- trariar acórdão de outro TRT, desde que esta não es- teja ultrapassada por súmula, orientação jurispruden- cial do TST ou súmula do STF. Observe que havendo divergência no âmbito de um mesmo TRT, este deverá obrigatoriamente uniformi- zar seu entendimento, criando as súmulas regionais ou fixando a tese jurídica prevalecente no âmbito da- quele tribunal a respeito do tema objeto da discus- são, através dos incidentes de uniformização de ju- risprudência (CLT, art. 896, § 4º). O quorum para o julgamento do referido incidente é definido pelo regimento interno do tribunal. Caso o incidente seja julgado por voto da maioria absoluta dos seus membros, será editada súmula a respeito da matéria objeto da votação (art. 479, CPC). Caso, entretanto, a votação ocorra por maioria simples será fixada a tese jurídica prevalecente para o caso con- creto, mas esta não será objeto de súmula. É importante conhecer o trâmite do recurso de revista para compreender quem poderá determinar ao Tribu- nal Regional do Trabalho de origem que proceda a uniformização de sua jurisprudência, quando já inter- posto este recurso. Portanto, passa-se ao procedi- mento deste recurso. Em síntese, uma vez interposto o recurso de revista, o mesmo é dirigido ao Presidente do TRT recorrido, que fará o primeiro juízo de admissibilidade. Caso to- dos os pressupostos estejam presentes, o recurso será recebido e a parte ex-adversa será intimada para apresentar contrarrazões ao recurso de revista e, então, os autos serão remetidos ao TST. Neste Tri- bunal, o recurso será encaminhado ao relator, que fará o segundo juízo de admissibilidade. Constatando que todos os pressupostos de admissibilidade estão presentes, o recurso será conhecido e encaminhado à turma para julgamento. Ao receber o recurso de revista para o primeiro juízo de admissibilidade, se o Presidente do Tribunal Re- gional constatar a divergência de entendimento no âmbito do mesmo TRT, determinará que se proceda a uniformização de sua jurisprudência, através do in- cidente de unformização de jurisprudência, mediante decisão irrecorrível, para que este TRT crie uma sú- mula regional a respeito da matéria objeto do recurso de revista ou fixe tese jurídica prevalecente a respeito da referida martéria (art. 896, §§ 4º e 5º, CLT). Depois de interposto o recurso de revista, se o presi- dente do TRT não determinar ao Tribunal a uniformi- zação da jurisprudência, o relator, no TST, poderá fazê-lo se constatar a divergência interna no âmbito do TRT recorrido (art. 896, §§ 4º e 5º, CLT). Caso o relator não verifique a divergência (ou seja, a existência de decisões atuais e conflitantes no âmbito do mesmo Tribunal Regional do Trabalho sobre o tema objeto de recurso de revista) e, assim, não de- termine a uniformização de jurisprudência, a turma do TST poderá fazê-lo, determinando o retorno dos autos à Corte de origem, a fim de que proceda à uni- formização da jurisprudência (art. 896, § 4º, CLT). O incidente poderá ser provocado também pelo juiz, pelas partes ou Ministério Público do Trabalho sem- pre que verificarem a existência de decisões atuais e conflitantes no âmbito do mesmo Tribunal Regional do Trabalho sobre o tema objeto de recurso de re- vista. Em síntese,o procedimento para o incidente de uni- formização de jurisprudência observa, em regra, o seguinte trâmite: www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 3 a) requerida a instauração do incidente de uniformi- zação de jurisprudência, o primeiro passo é o reco- nhecimento da divergência por acórdão. b) caso a divergência seja arguida pelo presidente do TRT, relator ou turma do TST, será lavrado o acórdão e designada a sessão de julgamento. Não é dado ao plenário não reconhecer a divergência nestes casos, uma vez que o art. 896, § 5º, da CLT determina que a uniformização será determinada por eles mediante decisão irrecorrível, ou seja, deverá ser processado o incidente de uniformização de jurisprudência. Re- conhecida a divergência os trâmites a seguir cami- nham para o julgamento. c) a secretaria distribuirá a todos os juízes cópia do acórdão. d) cada juiz emitirá seu voto em exposição funda- mentada. e) o chefe do Ministério Público que funciona perante o tribunal será ouvido. f) o julgamento tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal Regional do Trabalho será objeto de súmula. Já se realizado pela maioria sim- ples, consistirá na tese jurídica prevalecente no âm- bito do tribunal a respeito da matéria debatida. Dada a relevância da matéria, por iniciativa de um dos membros da Seção Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, apro- vada pela maioria dos integrantes da Seção, o julga- mento do incidente de uniformização de jurisprudên- cia poderá ser afeto ao Tribunal Pleno do TST (art. 896, § 13, CLT). Ressalte-se, entretanto, que afeta- ção de julgamento ao Tribunal Pleno somente poderá ocorrer em processos em tramitação na Seção de Dissídios Individuais do TST (art. 7º, Ato 491, da Pre- sidencia do TST). A grande questão é: e depois de julgado o incidente de uniformização de jurisprudência, o que ocorrerá com o recurso ordinário já julgado se a decisão con- flitar com súmula regional ou com a tese jurídica pre- valecente no Tribunal Regional do Trabalho? Ob- serve que o art. 896, § 4º, da CLT determina, no caso de divergência, o retorno dos autos à Corte de ori- gem. Assim, após o julgamento do incidente a causa volta ao órgão julgador originário para novo julga- mento do recurso ordinário. O TRT fica vinculado à decisão do incidente. A solução incorpora-se no jul- gamento do recurso ou da causa, como premissa inafastável". No mesmo sentido é o art. 3º, do Ato 491 /SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, da Presi- dência do TST, referendado pelo Órgão Especial do TST, que fixa os parâmetros procedimentais para dar efetividade à lei 13.015/14, que institui nova sistemá- tica recursal no âmbito da JT. Observe-se: Art. 3º Para efeito de aplicação dos §§ 4º e 5º do ar- tigo 896 da CLT, persistindo decisão conflitante com a jurisprudência já uniformizada do Tribunal Regional do Trabalho de origem, deverão os autos retornar à instância a quo para sua adequação à súmula regio- nal ou à tese jurídica prevalecente no Tribunal Regi- onal do Trabalho, desde que não conflitante com sú- mula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Supe- rior do Trabalho (grifos nossos). Caberá recurso de revista caso a nova decisão (agora em conformidade com a solução do conflito de competência): a) permaneça contrária à súmula de outro TRT ou, se não houver, seja contrária à tese jurídica prevale- cente no âmbito deste outro tribunal ou, caso inexis- tentes qualquer das anteriores, seja divergente de acórdão de outro TRT b) se contrariar súmula do TST; c) se contrariar súmula vinculante do STF; c) se contrariar orientação jurisprudencial do TST; ou d) se divergir de acórdão da Seção de Dissídios Indi- viduais I ou II do TST. Caberá, neste casos, portanto, novo recurso de re- vista . Como exemplo, podemos citar o caso em que ao jul- gar o recurso ordinário, o TRT reconheceu que basta que o pagamento das verbas rescisórias tenha sido realizado dentro do prazo previsto no art. 477, § 6º, da CLT, para que a multa do art. 477, § 8º, do mesmo www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 4 diploma legal, seja incabível, mesmo que a homolo- gação tenha ocorrido a destempo. Desta decisão foi interposto o recurso de revista pelo reclamante e na sequência suscitado o incidente de uniformização de jurisprudencia que resultou em uma súmula regional em sentido contrário, entendendo que a multa é de- vida também quando a homologação não ocorre no prazo. O acórdão do TRT, em recurso ordinário, foi reformulado para adequa-se a súmula e condenar o reclamado ao pagamento da multa do art. 477, § 8º, da CLT. Com a nova decisão, surge para o recla- mado (parte ex-adversa) o interesse em interpor novo recurso de revista, o qual será admissível se esta decisão contrariar, por exemplo, súmula de ou- tro tribunal regional do trabalho. No procedimento ordinário cabe, ainda, re- curso de revista por divergência jurisprudencial na hi- pótese do art. 896, "b", da CLT, ou seja, quando o acórdão recorrido der ao mesmo dispositivo de lei es- tadual, convenção coletiva de trabalho, acordo cole- tivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância obrigatória em área territorial que ex- ceda a jurisdição do Tribunal Regional prolator da de- cisão recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea "a" do art. 896 da CLT. Como exemplo, podemos citar um caso hipo- tético em que o TRT da 9ª região, ao julgar o recurso ordinário, interprete cláusula de acordo coletivo de trabalho de aplicação na área de jurisdição de mais de um TRT (TRT 9ª região e da 12ª região, por exem- plo) de forma diversa da adotada pelo TRT da 12ª região. Da mesma forma o regulamento de uma em- presa de âmbito nacional pode ser interpretado de forma diversa por mais de um TRT. Ressalte-se quanto à divergência jurisprudencial os seguintes dispositivos: a) Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte (art. 896, § 1º-A, CLT): I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubs- tancia o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista; II - indicar, de forma explícita e fundamentada, con- trariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho que conflite com a decisão regional; III - expor as razões do pedido de reforma, impug- nando todos os fundamentos jurídicos da decisão re- corrida, inclusive mediante demonstração analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contra- riedade aponte. b) A divergência apta a ensejar o recurso de revista deve ser atual, não se considerando como tal a ultra- passada por súmula do Tribunal Superior do Traba- lho ou do Supremo Tribunal Federal, ou superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (art. 896, § 7º, CLT). c) súmulas e orientações jurisprudenciais aplicadas por analogia são autorizam o conhecimento ou provi- mento do recurso de revista. d) Quando o recurso fundar-se em dissenso de julga- dos, incumbe ao recorrente o ônus de produzir prova da divergência jurisprudencial, mediante certidão, có- pia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial (TRT ou TST) ou credenciado (no site do TST há a relação de repositórios credenciados), inclusive em mídia eletrônica, em que houver sidopublicada a de- cisão divergente, ou ainda pela reprodução de jul- gado disponível na internet, com indicação da res- pectiva fonte, mencionando, em qualquer caso, as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados (art. 896, § 8º, CLT). Ressalte-se que os Tribunais Regionais deverão manter e dar publicidade as suas súmulas e teses ju- rídicas prevalecentes mediante banco de dados, or- ganizando-as por questão jurídica decidida e divul- gando-as, preferencialmente, na rede mundial de computadores (art. 6º, Ato 491,da Presidência do TST, referendado pelo Pleno do TST). O intuito é o de facilitar aos jurisdicionados a pesquisa sobre o en- tendimento predominante no Tribunal. e) detalhes sobre a demonstração da divergência constam na súmula 337, do TST. Observe: Súmula 337, TST. www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 5 I - Para comprovação da divergência justificadora do recurso, é necessário que o recorrente. a) Junte certidão ou cópia autenticada do acórdão paradigma ou cite a fonte ofcial ou o repositório auto- rizado em que foi publicado; e b) Transcreva, nas razões recursais, as ementas e/ou trechos dos acórdãos trazidos à configuração do dissídio, demonstrando o conflito de teses que justifi- que o conhecimento do recurso, ainda que os acórdãos já se encontrem nos autos ou venham a ser juntados com o recurso. II - A concessão de registro de publicação como re- positório autorizado de jurisprudência do TST torna válidas todas as suas edições anteriores. III – A mera indicação da data de publicação, em fonte oficial, de aresto paradigma é inválida para comprovação de divergência jurisprudencial, nos ter- mos do item I, “a”, desta súmula, quando a parte pre- tende demonstrar o conflito de teses mediante a transcrição de trechos que integram a fundamen- tação do acórdão divergente, uma vez que só se pu- blicam o dispositivo e a ementa dos acórdãos. IV – É válida para a comprovação da divergência ju- risprudencial justificadora do recurso a indicação de aresto extraído de repositório oficial na internet, desde que o recorrente: a) transcreva o trecho divergente; b) aponte o sítio de onde foi extraído; e c) decline o número do processo, o órgão prolator do acórdão e a data da respectiva publicação no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho. Da decisão denegatória do recurso de revista caberá agravo, no prazo de 8 (oito) dias (art. 896, § 12, CLT). 2.3. PREQUESTIONAMENTO O prequestionamento é pressuposto do recurso de revista, assim como dos demais recursos de natu- reza extraordinária. A matéria estará prequestionada quando houver sido tratada no acórdão impugnado (Súmula nº 297, I, TST), ou seja, o TST só conhecerá o recurso se houver manifestação explícita do TRT no acórdão sobre a discussão abordada no recurso de revista, inclusive quanto à matéria de ordem pú- blica (OJ 62, SDI-I, TST). Contanto que o TRT não se pronuncie quanto à ma- téria impugnada, deverão ser opostos embargos de declaração com o objetivo de que se manifeste a res- peito de tal matéria, sob pena de preclusão (Súmulas nº 297, II, e 184, TST). Entretanto, se apesar de opostos embargos de de- claração, o Tribunal não se manifestar em relação à matéria impugnada, será considerada prequestio- nada (Súmula nº 297, TST). Registre-se que a palavra “explicitamente” presente no inciso I da Súmula nº 297 do TST não faz alusão ao dispositivo legal, exigindo-se apenas que seja evi- denciada a tese sustentada na decisão, sendo indife- rente a referência expressa da norma legal (OJ 118, SDI-1, TST). 2.4. TRANSCENDÊNCIA Embora prevista no artigo 896-A da CLT, atualmente a transcendência não é um pressuposto de admissi- bilidade do recurso de revista, posto que ainda não está regulamentada. O recurso de revista é dirigido ao Presidente do TRT (art. 896, § 1°, CLT), o qual poderá delegar o exame dos pressupostos de admissibilidade ao vice-presi- dente, de acordo com a previsão do Regimento In- terno. 2.5. RECURSOS REPETITIVOS A Lei 13.015/2014 determinou a aplicação das regras do CPC ao processo trabalhista em relação aos re- cursos repetitivos. A matéria também foi regulamen- tada pelo Ato 491/SEGJUD.GP, de 23 de setembro de 2014, da Presidência do TST, referendada pelo Órgão Especial. Consoante a nova lei e o referido Ato 491, se o TST, ao receber um recurso de revista, considerar que a matéria é repetitiva, quer dizer, se houver multiplici- dade de recursos de revista fundados em idênticas questões de direito, todos os recursos que estiverem www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 6 nos TRTs sobre o mesmo tema ficarão sobrestados aguardando a decisão do primeiro caso. Segundo o TST, uma vez julgado o recurso paradigma – ou lea- ding case –, todos os demais que estavam sobresta- dos deverão ser julgados no mesmo sentido, salvo se a matéria fática for distinta ou questão jurídica não examinada exigirem solução jurídica diversa. No caso de multiplicidade de recursos de revista fun- dados em idêntica questão de direito, a questão po- derá ser afetada à Seção Especializada em Dissídios Individuais ou ao Tribunal Pleno. 1. Proposta de afetação A Turma do TST poderá afetar o recurso para a SDI e apenas esta poderá afetar a questão para julga- mento pelo Pleno do TST sob o rito dos recursos re- petitivos (art. 9.º, Ato 491/SEGJUD.GP, de 23 de se- tembro de 2014, Presidência do TST). Verifique o procedimento: a) Quando a Turma do TST entender necessária a adoção do procedimento de julgamento de recursos de revista repetitivos, seu presidente deverá subme- ter ao presidente da SDI-1 a proposta de afetação do recurso de revista. O Presidente da Turma ou da Seção Especializada, por indicação dos relatores, afetará um ou mais re- cursos representativos da controvérsia para julga- mento pela Seção Especializada em Dissídios Indivi- duais ou pelo Tribunal Pleno, sob o rito dos recursos repetitivos (art. 896-C, § 1.º, da CLT). O Presidente da Turma ou da Seção Especializada que afetar processo para julgamento sob o rito dos recursos repetitivos deverá expedir comunicação aos demais Presidentes de Turma ou de Seção Especia- lizada, que poderão afetar outros processos sobre a questão para julgamento conjunto, a fim de conferir ao órgão julgador visão global da questão (art. 896- C, § 2.º, da CLT). b) O presidente da SDI-1 submeterá a proposta ao colegiado no prazo máximo de 30 dias de seu rece- bimento. c) Acolhida a proposta, por maioria simples, a SDI também decidirá se ela própria julgará a questão ou se será analisada pelo Pleno. d) Acolhida a proposta, o recurso repetitivo será dis- tribuído a um dos Ministros membros da Seção Es- pecializada ou do Tribunal Pleno e a um Ministro re- visor (art. 896-C, § 6.º, da CLT). e) Rejeitada a proposta, os autos serão remetidos para a turma para que o julgamento do recurso de revista prossiga normalmente. 2. Processamento Uma vez acolhida a proposta de afetação, o relator na SDI ou no Pleno proferirá a decisão de afetação na qual identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento; O relator no Tribunal Superior do Trabalho poderá determinar a suspensão dos recursos de revista ou de embargos que tenham como objeto controvérsia idêntica à dorecurso afetado como repetitivo (art. 896-C, § 5.º, da CLT). O Presidente do Tribunal Superior do Trabalho ofici- ará os Presidentes dos Tribunais Regionais do Tra- balho para que suspendam os recursos interpostos em casos idênticos aos afetados como recursos re- petitivos, até o pronunciamento definitivo do Tribunal Superior do Trabalho (art. 896-C, § 3.º, da CLT). O relator requisitará ao Presidente ou Vice-Presi- dente do Tribunal de origem que admitam até dois recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Tribunal Superior do Traba- lho, ficando suspensos os demais recursos de revista até o pronunciamento definitivo do Tribunal Superior do Trabalho (art. 896-C, § 4.º, da CLT e art. 11, III, do Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST). Se após receber os recursos de revistas encaminha- dos não se proceder a sua afetação, o relator no Tri- bunal Superior do Trabalho comunicará o fato ao pre- sidente ou vice-presidente que os houver enviado para que seja revogada a decisão de suspensão (art. 12 do Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST). www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 7 Os recursos afetados serão julgados em no máximo um ano e terão preferência sobre os demais, caso contrário cessa automaticamente a afetação e a sus- pensão dos processos. Neste caso, é permitido a ou- tro relator afetar dois ou mais recursos, à luz do art. 896-C da CLT, representativos da controvérsia (art. 14, Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST). Quando os recursos requisitados do TRT contiverem outras questões além daquela que é objeto de afeta- ção, caberá ao órgão jurisdicional competente decidir esta em primeiro lugar e depois as demais, em acór- dão específico para cada processo (art. 15, Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST). As partes deverão ser intimadas da decisão de sus- pensão de seus processos, a ser proferida pelo res- pectivo relator (art. 18, Ato 491/ SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST). As partes, entretanto, poderão requerer o prosseguimento de seu processo demons- trando a distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada no recurso afetado. A outra parte deverá ser ouvida sobre o requerimento no prazo de cinco dias. Da decisão caberá agravo, com base no regimento interno dos respectivos tribu- nais (art. 19, Ato 491/ SEGJUD.GP/2014 – Presidên- cia do TST). O relator poderá solicitar aos Tribunais Regionais do Trabalho informações a respeito da controvérsia, a serem prestadas no prazo de 15 (quinze) dias (art. 896-C, § 7.º, da CLT). O relator poderá admitir manifestação de pessoa, ór- gão ou entidade com interesse na controvérsia, inclu- sive como assistente simples (art. 896, § 8.º, da CLT e art. 543-C, § 4.º, do CPC) (art. 1.036, I, do NCPC). Permite-se, portanto, a intervenção do amicus curiae neste julgamento. O relator poderá fixar data para, em audiência pú- blica, ouvir depoimento de pessoas com experiência e conhecimento da matéria (art. 16, Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST). Após o recebimento das manifestações de pessoa, órgão ou entidade com interesse na controvérsia e, se for o caso, também dos TRTs (art. 896, § 7.º, da CLT), terá vista o Ministério Público pelo prazo de 15 (quinze) dias. Transcorrido o prazo para o Ministério Público e re- metida cópia do relatório aos demais Ministros, o pro- cesso será incluído em pauta na Seção Especiali- zada ou no Tribunal Pleno, devendo ser julgado com preferência sobre os demais feitos (art. 896-C, § 10, da CLT). 3. Julgamento O acórdão paradigma abrangerá análise de todos os fundamentos suscitados à tese jurídica discutida, fa- voráveis ou contrários. Publicado o acórdão paradigma, os recursos de re- vista sobrestados na origem (art. 896-C, § 11, da CLT): I – terão seguimento denegado na hipótese se o acórdão recorrido coincidir com a orientação a res- peito da matéria no Tribunal Superior do Trabalho; ou II – na hipótese de o acórdão recorrido divergir da ori- entação do Tribunal Superior do Trabalho a respeito da matéria, os autos retornarão ao órgão prolator do acórdão recorrido para novo reexame e aplicação da tese firmada pelo Tribunal Superior, segundo o art. 21, III, Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST: “Art. 21, III, Ato 491. Os Processos suspensos em pri- meiro e segundo graus de jurisdição retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo Tribunal Superior.” O TRT poderá manter decisão divergente da firmada pelo TST apenas se demonstrar fundamentada- mente a existência de distinção, por se tratar de caso particularizado por hipótese fática distinta ou questão jurídica não examinada a impor solução jurídica di- versa, segundo o parágrafo primeiro do art. 21 do Ato 491/SEGJUD.GP/2014 – Presidência do TST: “Art. 21, § 1.º, Ato 491. Para fundamentar a decisão de manutenção do entendimento, o órgão que profe- riu o acórdão recorrido demonstrará, fundamentada- mente, a existência de distinção, por se tratar de caso particularizado de hipótese fática distinta ou questão www.cers.com.br COMEÇANDO DO ZERO 2016 Direito Processual do Trabalho – Aula 07 Aryanna Manfredini 8 jurídica não examinada a impor solução jurídica di- versa.” Neste caso, se mantida a decisão divergente pelo Tri- bunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do recurso de revista (art. 896-C, § 12, da CLT, art. 21, § 2.º, Ato 491/SEGJUD.GP/2014). Realizado o juízo de retratação, com alteração do acórdão divergente, o tribunal de origem, se for o caso, decidirá as demais questões ainda não decidi- das, cujo enfrentamento se tornou necessário em de- corrência da alteração. Frise-se, entretanto, que a Lei 13.015/2014 não im- pôs ao TRT que ajuste seu julgamento à decisão do TST, como fez o art. Ato 491/SEGJUD.GP/2014 da Presidência do TST. O art. 896-C, § 11, II, da CLT apenas determina que “os recursos ordinários so- brestados serão novamente examinados pelo Tribu- nal de origem na hipótese de o acórdão recorrido di- vergir da orientação do Tribunal Superior do Trabalho a respeito da matéria”. Desse modo, o tribunal de ori- gem poderia manter a sua decisão, considerando que o posicionamento adotado pelo Tribunal não é vinculante. Alguns doutrinadores entendem que basta que o acórdão mantenha a prévia decisão pe- los seus próprios fundamentos. Outros, entretanto, entendem que o tribunal deverá fundamentar a sua decisão rechaçando todos os fundamentos utilizados pelo TST no julgamento dos recursos repetitivos, sob pena de violação ao princípio da fundamentação (art. 93, IX, da CF). Mantida a decisão, se analisará a ad- missibilidade recursal e, sendo positiva, remeterá o recurso de revista será remetido ao TST. Caberá revisão da decisão firmada em julgamento de recursos repetitivos quando se alterar a situação eco- nômica, social ou jurídica, caso em que será respei- tada a segurança jurídica das relações firmadas sob a égide da decisão anterior, podendo o Tribunal Su- perior do Trabalho modular os efeitos da decisão que a tenha alterado (art. 896-C, § 17, da CLT).
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