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Unidade I ARTE E ESTÉTICA Prof. Martins Ferreira Filosofia da Arte Origem e conceito epistemológico Filosofia remete ao saber mais abrangente sobre algo. Na Grécia antiga, onde nasceu a Filosofia, era definida como Φιλοσοφία (philos + sophia), isto é, algo como “amor pelo saber”, ou “amante da sabedoria”. Filósofo seria, portanto, aquele que ama o saber. Com o passar do tempo, esse termo foi perdendo tal significado inicial, passando a designar não apenas o amor ou a procura pela sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação racional, em busca do conhecimento. Filosofia da Arte Atualmente, entendemos Filosofia como o estudo de questões relacionadas com o saber, o conhecimento, a existência, a verdade, a linguagem, a mente e os valores morais e estéticos. Desse modo, quando aprendemos sobre Arte e Estética, estamos enveredando por caminhos que envolvem a Filosofia e as manifestações expressivas da humanidade. Algumas questões pertinentes, nesse sentido, seria cogitarmos sobre o que é arte, como nos expressamos artisticamente, como avaliamos o que é e o que não é belo, ou como funciona a sensibilidade humana, por exemplo. Filosofia da Arte Desde a Antiguidade, as pessoas se preocuparam em estudar e refletir sobre as expressões humanas, procurando analisá- las, classificá-las, julgá-las e, a partir daí, procuraram conceber um termo que definisse tais ações. Assim, surgiu palavra estética, oriunda da expressão grega aisthesis, que originalmente significava sentir, sentimento, sensação. Tal termo significaria algo como “nossa percepção do mundo sensível”. Hoje, independentemente de doutrinas, ou escolas, podemos dizer que qualquer análise, investigação ou especulação que tenha por objeto a arte e o belo é denominada Estética. Filosofia da Arte Os filósofos gregos da Antiguidade foram os primeiros a se preocuparem com definições acerca da arte e do belo. Entre eles, cabe destacar figuras como Platão e Aristóteles, filósofos bastante influentes no modo de pensar das pessoas durante séculos, contribuindo principalmente para culturas de países ocidentais. É substancial perceber que o conhecimento filosófico se diferencia do conhecimento científico pelo objeto de investigação e pelo método. O campo da Ciência parte de dados racionais característicos da matéria e da física, sendo mais apto à experimentação, enquanto o campo da Filosofia, não. Filosofia da Arte O conhecimento filosófico tem como objeto de estudo a realidade no seu contexto universal, ou, ainda, a busca do sentido dessa realidade. Nessa perspectiva, o tema estética foi primeiramente discutido, de forma indireta, por filósofos gregos, porém, após muitos séculos, passou a ser tratado como disciplina acadêmica filosófica. O responsável por tal mudança foi o alemão Alexander Baumgarten que, por volta de 1750, retomou reflexões sobre o tema em alguns dos textos que publicou. Filosofia da Arte A posição acadêmica alcançada pela Estética nos últimos séculos revela sua importância para nossa compreensão da humanidade e do mundo em que vivemos. Desde o fim da Idade Média, as transformações sociais e culturais no mundo foram tão intensas, velozes e complexas que atualmente, além de estudarmos o modo de avaliar e julgar aquilo que o ser humano produz artisticamente, nos valemos dessa disciplina também para estudar, por exemplo, assuntos ligados a questões sensoriais e emocionais. Torna-se pertinente levantarmos questões como as do tipo: “qual seria a razão que leva uma pessoa a julgar uma expressão artística de alguém como bela, ou não?”, ou “como ocorre a atribuição de um valor a algo que foi expresso?” Filosofia da Arte Tomemos, como exemplo, a obra “O Grito”, de Munch, para uma breve análise. Então, nos perguntamos: onde se encontra o belo nessa obra do pintor norueguês? Será que há algum valor positivo a ser considerado pelas pessoas que contemplam tal obra? Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito Filosofia da Arte “O Grito” expressa o momento de agonia pelo qual passava o pintor, transmitindo angústia e desespero. São vários os aspectos que reforçam esse sentimento: a sensação de agito e conturbação se deve ao isolamento da personagem principal, solitária em meio a uma série de linhas sinuosas da água e do céu. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito Filosofia da Arte A sequência de linhas fortes e retorcidas da face promove a sensação de que a qualquer momento a personagem pode se atirar da ponte, por exemplo. A perspectiva da ponte, em diagonais, conduz nosso olhar para o centro esquerdo do quadro, mostrando ainda mais o isolamento da personagem com relação às outras pessoas presentes na imagem. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito Filosofia da Arte Concluímos que há, sim, valores positivos nessa expressão artística. Aliás, são tantos e tão mais relevantes do que aqueles que apontamos aqui superficialmente, que “O Grito” é considerado por especialistas um marco da pintura expressionista dentro da História da Arte. Notamos também que nossa percepção depende do que sentimos, seja pelas influências externas, como a intensidade, o contraste e o movimento, por exemplo, ou influências internas, como a motivação, a experiência e a cultura, sendo que tais influências são individualizadas e organizadas por nós. Filosofia da Arte A cognição humana, por sua condição subjetiva, seria um dos motivos para tantos questionamentos que fazemos sobre as expressões humanas. Essa é uma das razões pela qual diversos autores se dedicam na busca de sofisticadas teorias no campo da Estética que orientem melhor tal disciplina. De certo modo, retomando o eixo das reflexões dos filósofos gregos da Antiguidade sobre o tema, podemos entender estética como o conhecimento sensorial, diante de qualquer experiência externa, que provoca, influencia, ou altera nossa percepção cognitiva. Interatividade Indique a alternativa correta. Qual das frases abaixo declara algo que não é coerente no que diz respeito à estética? a) A estética promove estudos sobre a arte e o belo. b) Expressividades humanas são tratadas pela estética. c) Filósofos gregos antigos refletiram sobre a estética. d) O estudo da estética envolve o conhecimento sensorial. e) O conhecimento científico do belo é denominado estética. Filosofia da Arte Quando aprendemos sobre Arte e Estética estamos enveredando por caminhos que envolvem a Filosofia e as manifestações expressivas da humanidade. Entre os registros mais antigos que a História nos oferece, verificamos que desde antes de Cristo alguns filósofos gregos já se preocupavam em refletir sobre as expressões humanas, nossos sentimentos e nossas percepções, definindo tal estudo como estética. Atualmente, pode-se afirmar que qualquer análise, investigação ou especulação que tenha por objeto a arte e o belo é denominada estética. Filosofia da Arte Agora, iremos estudar mais sobre dois grandes filósofos da Grécia antiga, Platão e Aristóteles, observando suas concepções no que diz respeito à Filosofia com relação à Arte.Fonte: imagem com o professor Martins Ferreira na Academia de Ciências, Humanidades e Belas Artes de Atenas, na Grécia. Filosofia da Arte Platão O filósofo grego Platão (427?-347? a.C.) se ocupou, entre outros temas, do sentimento estético. A partir de padrões de beleza, ele distinguiu o prazer peculiar do prazer comum, a fim de superar a ilusão da aparência. Desse modo, advertiu sobre os poderes ilusórios da aparência, assim como dos sentidos, para se chegar ao conhecimento da realidade. Escultura de Platão em Atenas, Grécia Fonte: fotografia de Martins Ferreira Filosofia da Arte Platão foi discípulo do filósofo Sócrates e, seguindo princípios de seu mestre, também acreditava que a alma seria algo que já existia antes de se incorporar a forma humana, trazendo consigo conhecimentos que são relembrados, porém de maneira imperfeita. Tais conhecimentos seriam inatos e não haveria necessidade de ensinamentos, mas sim de estímulos à lembrança. Escultura de Sócrates em Atenas, Grécia Fonte: fotografia de Martins Ferreira Filosofia da Arte Para Platão, o discurso ideal do filósofo tem um compromisso com a verdade e, portanto, a arte seria prejudicial e perigosa a tal discurso, já que ela imita a realidade das formas e das ideias primordiais. Para essa imitação de um mundo de formas puras, que é apenas verossímil e não tem como objetivo a essência das coisas, o filósofo propôs um princípio teórico básico da criação artística, ao qual denominou mímesis, mimésis, mimese ou mímese. Tal princípio define a imitação da natureza em um sentido representativo e não como mera cópia. Assim, os artistas distorceriam a verdade por meio da capacidade de abstração. Filosofia da Arte Ele foi o primeiro pensador ocidental a expor e fundamentar claramente afirmações que surgiam em sua época sobre teorias do belo. Para Platão, o belo não dependeria do plano material, era a própria ideia da perfeição, como unidade absoluta e imutável. Só pela razão seria possível exprimir um juízo estético, capaz de levar o homem à perfeição pela união eterna entre o belo, a beleza, o amor e o saber. Desse modo, seria a ideia que determinaria o padrão do que é belo ou não. Filosofia da Arte Ruínas da antiga cidade de Atenas, na Grécia: neste local Platão criou sua academia e ensinou discípulos como Aristóteles. Fonte: fotografia de Martins Ferreira Filosofia da Arte Aristóteles O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) foi aluno de Platão, porém concebia o processo da criação artística de um outro modo. Enquanto Platão depreciava a mímese, considerando a criação mera imitação da natureza, Aristóteles viu nesse processo imitativo exatamente o valor maior da arte, já que ele propicia a autonomia humana frente à verdade preestabelecida. Escultura de Aristóteles acervo do Museu Nacional Romano, Palazzo Altemps, em Roma, Itália. Fonte: fotografia de Martins Ferreira Filosofia da Arte Em “Poética”, sua obra mais conhecida, Aristóteles apresenta um tratado do fenômeno poético e questiona o mundo das ideias, valorizando a arte como forma representativa do mundo. Ele conceitua a arte poética reduzindo sua essência à imitação, que crê ser inata ao homem. Sua concepção é de que a mímese fornece ao homem os elementos essenciais da humanidade: o conhecimento e o prazer, sendo que o prazer estético está intimamente ligado ao conhecimento que auferimos na contemplação de obras estéticas. A mímese seria, assim, algo útil, por ser geradora de coisas novas, principalmente desses dois elementos essenciais. Filosofia da Arte Aristóteles explorou o sentimento de felicidade pelo aprendizado do conhecimento. A satisfação do saber seria o objetivo do homem e o levaria à sua plenitude. Transferindo o belo para a esfera mundana, Aristóteles dá o primeiro passo para a ruptura do belo coligado ao conceito de perfeição, mantendo a criação artística intrínseca ao homem, e não separada a ele, e abre, a partir daí, perspectivas diante de critérios de avaliação como composição, simetria, equilíbrio, ordenação e proposição, favorecendo a individualização do artista. Para o filósofo, a beleza não tem conotação estática, não é eterna, mas está dentro de um processo evolutivo. Filosofia da Arte O filósofo estuda as obras de arte como fabricação de seres e de gestos artificiais, isto é, produzidos por nós, humanos. Para a filosofia aristotélica, o prazer em contemplar provoca algo profundo, pois pode ultrapassar o simples reconhecimento de certos detalhes. O prazer estético teria como fundamento um certo conhecimento, o qual seria também responsável pelo prazer que sentimos ao contemplar aquilo que é belo para nós. Aristóteles buscava a compreensão da estética na exposição de nossas paixões e sentimentos de natureza universal, a maneira como ordenamos nossas próprias emoções. Filosofia da Arte Pintura de Rafael Sanzio, feita no interior dos palácios papais, no Vaticano, representando a Escola de Atenas, com os filósofos Platão e Aristóteles ao centro. Fonte: fotografia de Martins Ferreira Filosofia da Arte Para se definir os traços da face de Platão nesta pintura, o renascentista italiano Rafael Sanzio inspirou-se no rosto de seu conteporâneo Leonardo da Vinci. Perceba também que o gesto desse filósofo retratado é semelhante a um gesto que Leonardo costumava apresentar em suas obras. Fonte: fotografia de Martins Ferreira Interatividade Indique a alternativa correta. Segundo as reflexões do filósofo grego Platão: a) É preciso ter conhecimento para contemplar o belo. b) A mímese é a imitação de um mundo de formas puras. c) A arte tem valor como forma representativa do mundo. d) A mímese fornece o prazer e o conhecimento ao homem. e) A ideia não determinaria o padrão do que é belo. Filosofia estética A Estética como disciplina filosófica Como vimos anteriormente, as discussões sobre a arte e suas implicações estéticas já ocupavam as ideias dos pensadores gregos na Antiguidade, porém eles pouco especularam sobre a arte em si, voltando-se mais para o aspecto didático nesse campo. Os diversos tratados escritos pelos antigos mestres fundamentaram quase toda didática até a atualidade, mas a Filosofia da Arte, propriamente dita, carecia de condições propícias entre os intelectuais para manifestar seus princípios e progredir. Filosofia estética Nesse aspecto, um dos elementos limitadores na filosofia antiga foi o caráter, geralmente, objetivista e naturalista que ela manifestava. Isso só começou a mudar com o crescimento do Cristianismo, que colocou os problemas da alma no centro das considerações, porém a arte continuou abafada, submetida às alegorias moral e religiosa. Após o século XVI, alguns teóricos começaram a avançar nesse campo, sendo Vico um dos mais significativos. Mas a fundamentação e proposição da Estética como uma disciplina ocorreu somente a partir do século XVIII. Filosofia estética Baumgarten O filósofo alemão Alexander G. Baumgarten (1714-1762) foi o primeiro a constituir a Estética como disciplina dentro do campo investigativo da Filosofia, principalmente a partir das bases conceituais de Platão e Aristóteles. Ele considerava que o belo estabelecia-se na região dos sentidos, dominada por percepçõesconfusas. Assim, o critério de beleza não poderia ser natural, mas transcendental. O conhecimento das artes foi denominado pelo filósofo como uma faculdade inferior, possível de ascender à abstração metafísica. A partir daí introduziu os princípios da Estética, definindo-a como “ciência do conhecimento sensível”. Filosofia estética A Estética passou, então, a ser compreendida como um conjunto de conhecimentos apropriados ao plano da percepção humana, indo além da expressão consciente do homem. Baumgarten reuniu a percepção, a obra de arte e o belo no mesmo âmbito filosófico, compreendendo tais termos como diferentes faces de um elemento que chamou de fenômeno estético. Tomando a questão da Estética, o filósofo a desvencilhou da Metafísica, da Lógica e da Ética; marcando definitivamente o nascimento do conceito e criando novas abordagens de conhecimento da Arte. Filosofia estética Ele definiu tal ciência a partir do aisthesis, principalmente com relação ao que os gregos discutiram a respeito do papel da percepção do conhecimento. A questão das faculdades inferiores tem sido considerada ambígua pelos pesquisadores, pois, no entender desse filósofo alemão, tal argumento parte do princípio da capacidade cognitiva humana de compreender a beleza gerada pelo efeito das obras de arte, mas também admite compreendê-la como uma estrutura cognitiva dos sentidos. Filosofia estética Ele regride o valor cognitivo à aparência, distinguindo radicalmente Filosofia da Arte de Estética, posto que esta vai além da análise das artes, sejam elas plásticas, arquitetônicas, musicais, cênicas, literárias ou outras. A partir daí, podemos observar que, de modo geral, a diferença entre a Filosofia da Arte, aquela praticada pelos filósofos gregos, e a Estética, instituída no século XVIII, é que o objeto de estudos da Estética é o juízo de gosto, a intuição referente ao belo, ao sentimento atribuído à obra, porém independente da obra. Assim, a disciplina Estética nasce no âmbito de tradições, tendências ou campos filosóficos que se juntam, já que antes eram tratados como objetos distintos pela Filosofia. Filosofia estética A discussão do belo no campo da Filosofia da Arte implicava ao homem uma instância superior, encoberta pelas forças vitais da natureza. A Estética, por sua vez, conferiu autonomia ao homem, dando-lhe liberdade de expressão. Tal filósofo, além de desvincular o belo de qualquer categoria sensitiva, postulou a beleza pelo viés do conhecimento preciso, ou seja, a Estética compreendida como uma ciência. A constituição da Estética como disciplina estimulou que novos filósofos refletissem sobre o assunto. Alguns privilegiaram uma ou outra tradição utilizada por Baumgarten, recuperando por vezes elementos descartados por ele. Vejamos, então, as considerações de Kant e de Schiller. Filosofia estética Kant O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724- 1804) reformulou a proposta estética de Baumgarten e, em parte, negou a possibilidade de união entre cognição e juízo estético. Ele é considerado fundador da filosofia crítica. Suas obras “Crítica da Razão Pura” e “Crítica da Razão Prática” sintetizam seu pensamento renovador e a essência de sua filosofia. O ponto de partida de Kant são questões ligadas ao conhecimento e à ciência. Para ele há um arranjo de juízos, que podem ser classificados entre analíticos e sintéticos. Fonte: http://global.britannica.com/b iography/Immanuel-Kant Filosofia estética Assim, há juízos a priori e a posteriori. Os primeiros são universais e necessários e os juízos sintéticos são os que resultam da experiência, são aqueles em que não se pode chegar à verdade por pura análise de suas proposições, pois seria necessário ampliar o conhecimento, ou seja, precisamos experimentar para saber se são verdadeiros. Para ele, estética refere-se à intuição dos fenômenos oriundos da sensibilidade. Ainda que o juízo de gosto seja contemplativo e independente da existência de objetos, ou das impressões sensoriais, é impossível estabelecer uma ciência precisa sobre o juízo estético (ou juízo de gosto), já que não existem certezas nesse plano das faculdades humanas. Filosofia estética Com as proposições de Kant, apontando o belo como juízo estético (de gosto, ou subjetivo), a obra de arte e a beleza passaram a ser elementos essenciais na investigação estética. Esse juízo estético diz respeito ao prazer ou desprazer que o objeto analisado nos imprime. Kant declara que o belo “é o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito”. Na filosofia kantiana, a beleza seria simplesmente um estado mental, sem finalidade, ou necessidade de demonstrações, conceitos, ou inferências. Seu valor é medido pela obra de arte, surgindo daí o conceito de juízo de gosto, ou seja, a habilidade de pronunciar um julgamento universal, aludindo- se, porém, a algo particular, como é o objeto artístico. Filosofia estética Schiller O alemão Friedrich Schiller (1759-1805) foi poeta, filósofo e historiador. Foi um dos primeiros a colocar a disciplina Estética sistematicamente sob a aura metafísica em que se encontrava antes o conceito do belo – e, em parte, já também o conceito da arte – nos sistemas platônicos. Para ele, a obra de arte será o objeto estético ideal para se chegar ao Supremo, já que ela é, ao mesmo tempo, realidade absoluta e formalidade absoluta. Fonte: http://global.britannica.com/b iography/Friedrich-Schiller Interatividade Indique a alternativa correta. Segundo as reflexões do filósofo prussiano Immanuel Kant: a) O belo deve ser a aura metafísica definida por Baumgarten. b) É possível se estabelecer uma ciência exata sobre o belo. c) O belo não tem relação com qualquer conceito. d) Chega-se ao belo verdadeiro pela vivência de experiências. e) As percepções confusas são definidoras do belo. Filosofia estética Anteriormente, estudamos sobre como os pensadores antigos observavam a expressão artística, definindo que os objetos artísticos apresentavam características específicas, sendo representações naturalistas da realidade por meio da mímese. Depois vimos como, a partir do século XVIII, a Estética alcançou uma posição relevante entre os estudos dos pensamentos e das expressões humanas. Desde então, a arte passou a ser entendida como um conhecimento autônomo de validade universal e, entre os processos de desenvolvimento de novos campos de estudo, como os da Psicologia, da Sociologia, da Antropologia, da Comunicação e da Semiótica, por exemplo, surgiram diversas teorias relacionadas com as manifestações artísticas. Filosofia estética Estética e teorias da arte O que há em comum entre afrescos de Michelangelo e obras de Warhol, por exemplo? Se não houver semelhanças entre as obras, como podemos estabelecer algum conceito definidor, ou mesmo garantir que ambas são obras artísticas? Como encontrar elementos comuns, a fim de conceituar a arte? Fonte: “Brillo Boxes”, Warhol Fonte: “A Criação de Adão”, Michelangelo Filosofia estética As teorias da arte têm por finalidade responder a questionamentos como esses. Uma das respostas, no caso, poderia ser a de que não há uma mesma essência para ambas, mas sim algumas semelhanças entre as duas obras. Uma teoria pode partir da delimitação de semelhanças e, assim, estabelecer paradigmas que versam uma série de características para a aplicação de um conceito. Seguindo esse método, supondo que dois objetos apresentem pontos em comum, haverá a possibilidade de que sejam definidos conceitos que atendam a ambos. Filosofia estética Há, ainda, outros modos de conceituar a arte, como pela aplicação de subconceitos, por exemplo. Mesmo que não encontremos, no âmbito geral, essência comum entre as aplicações da arte, podemos identificar significações pertinentes em cada caso, por meio de análises minuciosas. Dentro dessas perspectivas, uma teoria da arte tem a possibilidade de elucidar elementos representativos da arte, tornando-se bem mais proveitosa do que se estabelecesse regras que restringissem a definição de “arte”, por exemplo. Vejamos, então, algumas teorias que estão entre as mais influentes dedicadas à busca da natureza artística. Filosofia estética Representacionalismo Essa teoria remete à concepção mais antiga que encontramos sobre a natureza artística, proposta por Platão e Aristóteles e fundamentada na mímese. Ela aponta para a imitação da natureza na pintura, assim como da ação humana no drama. Mas é preciso alertar sobre os perigos dessa generalização, posto que a maioria das criações na pintura, na literatura, ou na música, por exemplo, não são cópias fidedignas de algo. O neorrepresentacionalismo posterior procurou preencher certas lacunas teóricas, afirmando que caso apresente um significado, algum valor semântico, uma obra artística poderá ser aceita como tal. Filosofia estética Formalismo A teoria formalista, ou teoria da forma, caracteriza uma obra de arte menos por seu aspecto representativo e mais por sua forma significante. Uma das saídas para a objeção da arte como representação, ou cópia, é aquela que diz que a obra de arte deve perseguir formas. Enquanto o representacionalismo coloca a obra de arte sob o jugo do real e da natureza, o formalismo coloca que a arte é a busca do melhor balanço entre os elementos da obra de arte e a conquista mais harmoniosa da presença de uniformidade com variedade. Essas seriam características da forma. Filosofia estética As características da “forma significante” resultam de como particularmente se combinam os elementos componentes de uma obra e das relações entre eles, de modo que venham a despertar as emoções estéticas em quem a contempla. Assim, nessa teoria há uma qualidade comum, uma emoção particular que surge da observação das obras artísticas: a emoção estética. Percebe-se que a obra de arte, nesse caso, não exprime emoção, mas provoca emoção. A representação e o contexto não seriam relevantes nessa teoria, porém no universo artístico pode ser difícil encontrar obras nas quais tais elementos não sejam importantes. Filosofia estética Perceba que, no caso daquele que contempla, nem sempre ele sente algum tipo de emoção diante certas obras. Isso invalidaria uma obra como arte? Fonte: “Composição com Vermelho, Amarelo e Azul”, Piet Mondrian Filosofia estética Teoria Institucional Na década de 1960, George Dickie, filósofo estadunidense, sustentou a teoria institucional da arte. Ela propõe uma instituição de conjuntos preliminares que conferiria à obra uma classificação como obra artística, a partir da análise feita por uma comunidade capacitada do mundo das artes. Desse modo, para o institucionalismo, uma obra de arte é qualquer manifestação que alguns especialistas tenham assim designado. Tal teoria sofreu diversas críticas quanto aos critérios utilizados para suas classificações. Filosofia estética Teoria Expressivista O filósofo inglês Collingwood (1889-1943), partindo de apontamentos aristotélicos, propôs, de modo original, reflexões sobre um pacto especial entre a obra de arte e o artista. Observou que uma pessoa cria uma obra de arte quando expressa suas emoções de modo suficiente para transmiti-las às outras pessoas. Assim, surgiu a teoria expressivista, ou teoria da arte como expressão, que atribui ao artista o papel de compreensão da arte, posto que a arte é expressão de emoções e sentimentos. Filosofia estética Diferente de teorias que apontam a arte apenas para o lado exterior, Collingwood coloca o artista como ponto central da valorização da arte e da questão do que é e do que não é arte. Distingue também a “arte em si”, ou “arte própria”, a verdadeira arte, da má arte e, ainda, da falsa arte, ou seja, aquela que é conceituada como obra de arte sem sê-la e que se encontra a serviço da corrupção da consciência. Aquilo que chamam de arte, sem que o seja de fato, poderia ser de dois tipos: a arte mágica e a arte entretenimento. Para diferenciar arte de outras tantas manifestações, como o artesanato, por exemplo, é preciso ter em consideração a finalidade para a qual foi concebida a obra, sua funcionalidade material, ou sua dedicação à contemplação artística. Filosofia estética A arte, para esse filósofo, é também uma prática contemplativa e altruísta que está intrinsecamente ligada à atitude estética. O artista não possui a emoção estética antes de produzir, apenas sente uma espécie de excitação inicial e inexplicável, a qual será reconhecida, definida e refinada conforme sua imaginação e produção forem sendo colocadas em prática. A partir daí, conforme vão se clarificando as emoções, o público as reconhece e será capaz de apreciar a arte. A obra “Guernica”, de Pablo Picasso, é um exemplo de como as emoções estéticas sofrem mudanças. Motivado pelo bombardeio de Guernica pelos nazistas em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, Picasso expressou suas emoções e revolta nesse famoso painel. Filosofia estética Contudo, essas emoções brutas advindas, por exemplo, da leitura de um jornal sobre o bombardeio, foram sendo transformadas no público e no próprio artista em emoções estéticas, muito mais elevadas, ampliando as consciências. Fonte: “Guernica”, Pablo Picasso Filosofia estética Nas emoções estéticas há um componente de universalidade, que se eleva além das emoções comuns. Essa transcendência visa a atingir objetos aos quais supostamente não representa, mas que podem ser associados. Nesse sentido, se tomarmos novamente a obra “Guernica”, observamos que as emoções que transcendem da obra de Picasso se associam a vários outros sentimentos, como os que surgem após chacinas de inocentes, por exemplo. Segundo Collingwood, o trabalho do artista, assim como a arte, eleva espiritualmente a sociedade. Nas palavras desse filósofo: “a arte é a medicina comunitária para a pior doença de mente, que é a corrupção da consciência”. Interatividade Indique a alternativa correta. Entre as teorias da arte, qual é aquela que, voltando-se para o interior da concepção artística, atribui ao artista o papel de compreensão da arte, colocando-o como ponto central da valorização artística e da questão do que é e do que não é arte? a) Teoria Expressivista. b) Teoria Representacionalista. c) Teoria Formalista. d) Teoria Neorrepresentacionalista. e) Teoria Institucional. ATÉ A PRÓXIMA!
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