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Aula 14 – Enzimas industriais: Enzimas pectinolíticas Universidade Federal de São João del-Rei Campus Alto Paraopeba (CAP) Engenharia de Bioprocessos Bioquímica Tecnológica Profa. Isabel Cristina Braga Rodrigues isabelcbraga@ufsj.edu.br Sala 218 – Bloco2 Prof. Juliano Lemos Bicas SUBSTÂNCIAS PÉCTICAS • Características - Macromoléculas glicosídicas (poliméricas) - Compõem parede celular de células vegetais Principais componentes da lamela média (“adesivo” celular entre paredes de células adjacentes) - Contribuem com textura de frutas e vegetais - Fibras dietéticas solúveis • Características - No suco: palatabilidade (“mouth feel”), “corpo” (↑viscosidade) - Contribuem p/ adesão entre células e resistência mecânica da parede celular Influencia na firmeza de suas estruturas SUBSTÂNCIAS PÉCTICAS • Características químicas - Polissacarídeos ácidos - Ácidos D-galacturônicos unidos por ligações α-1,4 Parcialmente esterificados a grupos metil (éster metílico no carbono 6). COOH CH HC OH HC OH HO CHHO C OH –COOCH3 SUBSTÂNCIAS PÉCTICAS • Protopectina • Ácido pectínico • Ácido péctico • Pectina Presente em tecidos intactos (Ex.: frutos ainda verdes) Associada a outros componentes da parede celular (celulose, hemicelulose) Insolúvel em H2O Responsável pela textura (dureza) de frutas e vegetais ~Sem metilação dos grupos carboxílicos dos ácidos galacturônicos Hidrólise = pectina ou ácidos pectínicos (amolecimento) Baixo grau de metoxilação dos grupos carboxílicos dos ácidos galacturônicos Ácidos pectínicos solúveis em H2O c/ grau variável de metoxilação SUBSTÂNCIAS PÉCTICAS • Pectina - Origem - Propriedades Vegetais e frutas, mais abundantemente nas frutas cítricas Capacidade de formar e estabilizar emulsões. - Uso semelhante ao de outros hidrocolóides Espessantes e estabilizantes em alguns produtos alimentícios Opacidade em sucos é atribuída à pectina, que estabiliza uma suspensão coloidal dos constituintes do suco. SUBSTÂNCIAS PÉCTICAS • Pectina Estrutura: polímero ácido α-1,4-D-galacturônico + moléculas de L-ramnose, arabinose, galactose e xilose como correntes laterais SUBSTÂNCIAS PÉCTICAS GELIFICAÇÃO • Pectina ATM (alto teor de metoxilação) >50% dos grupos carboxílicos esterificados (grupo metil) – 55-75% Δ, açúcares 60-70% peso Ácido (H+) pH = 2,8-3,5 –– – – – – Pontes H, interações hidrofóbicas, diminuição da repulsão eletrostática • Pectina BTM (baixo teor de metoxilação) <50% dos grupos carboxílicos esterificados (grupo metil) – 15-45% – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – ––– –– – – – –– – – ––– – – – –– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – repulsão Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ – – – – – – GELIFICAÇÃO • Pectina BTM (baixo teor de metoxilação) - Adição de 0,1-0,5% Ca para formar gel - Não requer adição de açúcar Adição de pequena quantidade (10-15%) melhora textura - Utilizada em produtos dietéticos Adição de ácidos (hidrólise), álcalis (amonólise) ou enzima pectinesterase - Obtenção: GELIFICAÇÃO ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Três tipos básicos - Enzimas desesterificantes - Enzimas despolimerizantes - Protopectinases (PPase) Pectinosidase Protopectina (insolúvel) + H2O pectina (solúvel) PPase Ex: B. subtilis, Kluyveromyces fragilis • Enzimas desesterificantes - Polimetilgalacturonato esterase (PMGE) Pectinesterase, pectina metilesterase, pectina (de)metoxilase pectina + n H2O = n metanol + pectato E.C. 3.1.1.11 Pode ser usada para produzir pectina BTM n + n H2O Especificidade variada: ponta não redutora (plantas) ou aleatória (fungos) Atividade mais elevada em pectina c/ 65-75% metoxilação: preferência por grupo metiléster proximo a grupo carboxil livre (não esterificado) Ex: Aspergillus sp., Penicillium sp., Erwinia sp., S. cerevisiae etc pHótimo: 4-8 (fungos = pHótimo mais baixo que bactérias); Tótima: 40-50°C Pouco efeito na viscosidade, exceto na presença de íons divalentes ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 1. Poligalacturonase (PG) Atua sobre ácido péctico ~Sem metilação dos grupos carboxílicos dos ácidos galacturônicos Hidrólise da ligação α-1,4 entre ácidos galacturônicos H2O n m X X = n+m+2 + ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 1. Poligalacturonase (PG) E.C. 3.2.1.15 1.1. Endo-PG Hidrólise aleatória da ligação α-1,4 entre ácidos galacturônicos Amplamente distribuídas entre os micro-organismos Ex: Aspergillus sp, Neurospora crassa, Fusarium sp., Kluyveromyces marxianus, etc Maioria: pHótimo de 3,5 a 5,5 e Tótima entre 30 a 50°C Redução da viscosidade ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 1. Poligalacturonase (PG) 1.2. Exo-PG Hidrólise terminal da ligação α-1,4 entre ácidos galacturônicos (ponta não redutora) Liberação de um ácido galacturônico (E.C. 3.2.1.67) ou digalacturonato (E.C. 3.2.1.82) Ocorrem em menor frequência Ex: Bacillus sp., Fusarium sp., Penicillium sp. E.C. 3.2.1.67 E.C. 3.2.1.82 ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 2. Polimetilgalacturonase (PMG) Pectina hidrolase Semelhante à poligalacturonase, mas substrato é pectina ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 2. Polimetilgalacturonase (PMG) Pectina hidrolase Presumivelmente hidrolisa polimetil-galacturonatos a oligometilgalacturonatos por clivagem de ligações α-1,4 Pode atuar aleatoriamente no interior da cadeia (endo-PMG) ou a partir das extremidades (exo-PMG, ainda não relatada) Caracterização bioquímica insuficiente – sua existência é questionada: - Enzima ainda não foi purificada e caracterizada - Atividade não foi demonstrada na ausência de outras enzimas pectinolíticas e na presença de pectina 100% metoxilada Ex: Aspergillus, Penicillium, Botrytis pHótimo de 4 a 7 ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 3. Poligalacturonato liase (PGL) Requerem Ca2+ Clivam ligações glicosídicas por eliminação X X = n+m+2 Sem entrada de H2O n m + Poligalacturonato Galacturonato insaturado (Δ4:5) ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 3. Poligalacturonato liase (PGL) 3.1. Endo-PGL E.C. 4.2.2.2 Produzida por muitas bactérias e alguns fungos (não descrita em plantas) Ex: Bacillus sp., Erwinia carotovora Muitas: pHótimo na faixa alcalina (7,5-10) e Tótima entre 40 a 50°C Ataque aleatório no interior da cadeia (preferência por cadeias longas) Redução da viscosidade ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 3. Poligalacturonato liase (PGL) 3.2. Exo-PGL E.C. 4.2.2.9 Atua sobre penúltimas ligações do terminal redutor Bem menos abundantes que a endo-PGL Cadeias curtas: oligogalacturonato liases (E.C. 4.2.2.6) remoção de monômeros terminais insaturados de oligômeros de D-galacturonato ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Enzimas despolimerizantes 4. Polimetilgalacturonato liase (PMGL) 4.1. Endo-PMGL Pectina liase (PL) Exo-PMGL não foram identificadas até o momento E.C. 4.2.2.10 Rompem ligações glicosídicas da pectina resultando ligação insaturada entre C4 e C5 do final não redutor formado Ex: Aspergillus sp., Penicillium sp. Não requerem Ca2+, mas são estimuladas por cátions Maioria: pHótimo de 5 a 8 e Tótima ao redor de 40°C ENZIMAS PECTINOLÍTICAS Uenojo & Pastore, 2007 - Polimetilgalacturonato esterase (PMGE) - Polimetilgalacturonase (PMG) - Poligalacturonase(PG) - Polimetilgalacturonato liase (PMGL) - Poligalacturonato liase (PGL) • Resumo APLICAÇÃO INDUSTRIAL DE ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Dois tipos básicos de pectinases industriais - Pectinases ácidas Ex: sucos - Pectinases alcalinas Ex: Papel e fibras vegetais Polaina & McCabe (2007) Cap. 7, p. 110. • Indústria de sucos e frutas - Substâncias pécticas nos sucos: Viscosidade, consistência ↑ quantidade = dificulta filtração e subsequente concentração - Enzimas pectinolíticas (normalmente em conjunto c/ outras enzimas): ↓ viscosidade, ↑ rendimento, ↓ tempo de filtração (até 50% menor) Utilização em diversos produtos: sucos, concentrados, polpas, purês etc Aparência translúcida (clarificação) Aparência, turbidez: suspendem partículas insolúveis Floculação (após eliminação da estabilidade das suspensões) APLICAÇÃO INDUSTRIAL DE ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Indústria de sucos e frutas - Clarificação de suco de maçã 1. Tratamento com pectina liase (PMGL) 2. Tratamento com pectinesterase (PMGE) Sem efeitos visíveis, mas ↓viscosidade em 50% Reduz grau de metoxilação 3. Tratamento com poligalacturonase (PG) Atua somente em grau de metoxilação <50-60% Propicia ação da poligalacturonase, ↓ação da PMGL Desestabilização da turvação 4. Floculação Degradação da pectina agregação eletrostática de partículas com cargas opostas (proteínas + / taninos e pectina –) APLICAÇÃO INDUSTRIAL DE ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Indústria de vinhos - ↑extração de pigmentos melhoramento das características visuais (cor e turbidez)- Facilita clarificação e filtração do mosto - Promove estabilidade do vinho • Óleos vegetais - ↑extração de óleos vegetais (ex: óleo oliva) - ↑recuperação de óleos essenciais (ex: frutas cítricas) ↓emulsificação • Café e chá - Aceleram a fermentação de chá - Removem envoltório mucilaginoso do café APLICAÇÃO INDUSTRIAL DE ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Indústria têxtil - Uso em conjunto c/ amilases, lipases, proteases, celulases, hemicelulases, etc.... durante a purga • Outras - Vide Jayani et al (2005) para exemplos • Ração animal - Em conjunto com outras enzimas, ↓viscosidade da ração ↑absorção e liberação de nutrientes retido pelas fibras - Substitui lavagem alcalina para remoção de materiais não celulósicos que recobrem a fibra de algodão (ceras, graxas, pectina, proteína, corantes...) APLICAÇÃO INDUSTRIAL DE ENZIMAS PECTINOLÍTICAS • Pectina - Substância péctica de frutas e vegetais - Capacidade de gelificação, ↑viscosidade, estabilização - Pectina ATM: gelificação após adição de açúcar e acidificação - Pectina ABM: gelificação não necessita açúcar (adição de Ca2+) RESUMINDO.... • Enzimas pectinolíticas - Desesterificantes • Aplicações - Principal: clarificação de sucos - Despolimerizantes Remoção do grupo metil éster da pectina Hidrolases ou liases que atuam na ligação α-1,4 Endo ou exo Preferência por pectato ou pectina DÚVIDAS???? 1. Jayani, R. S.; Saxena, S.; Gupta R. Microbial pectinolytic enzymes: a review. Process Biochemistry. 40:2931–2944, 2005. 2. Polaina, J.; MacCabe, A. P. Industrial enzymes: Structure, function and application. Springer. 2007. Cap 7. 3. Uenojo, M.; Pastore, G.M. Pectinases: aplicações industriais e perspectivas. Química Nova. 30(2):388-394, 2007. 4. Aehle, W. Enzymes in industry. 3rd ed. Wiley. 2007. Cap.5.1.2. 5. Alkorta, I.; Garbisu, C.; Llama, M. J.; Serra, J. L. Industrial applications of pectic enzymes: a review. Process Biochemistry. 33(1):21-28, 1998. BIBLIOGRAFIA
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