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trabalho bioetica dignidade humana

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Ao remeter o tema dignidade da pessoa humana, é de suma importância relembrarmos de momentos históricos pelo qual a sociedade passou, sendo fragmentos que representam não somente idéias, mas sim, resultados de grandes lutas travadas pelos povos para se libertarem das correntes de opressão, da exploração, do preconceito e violência, sendo, portanto, pequenos testemunhos documentais de lutas colossais pela libertação.
Logo, o que se entende por dignidade? Palavra esta que nesses últimos dois séculos passaram a fazer parte do vocabulário sócio-político, podendo-se abstrair inúmeros significados, como a dignidade do preso encarcerado, a dignidade da mulher, a dignidade da criança e etc. Mas, afinal, será que é possível conceitualizar essa frase tão simples, mas ao mesmo tempo cheia de sentimentos, moral e direitos? 
Diante disso, o legislador ao transcrever a Carta Magna preocupou-se em garantir a dignidade da pessoa humana, logo no inicio do texto, através do caput do art. 1º, onde em sua interpretação abstraímos as características do Estado Democrático de direito, no qual consagra os princípios materiais estruturantes, constituindo assim as diretrizes fundamentais para toda a ordem constitucional.
Quanto ao Estado democrático de Direito observa-se que este é mais do que a conceitualização de Estado, pois representa a existência de uma ordem legal que prima pela democracia, pelo respeito, pelos direitos fundamentais e a busca pelo Bem Comum.
Ao ler o posicionamento do Supremo, diante do presente artigo em comento, observa-se que está estritamente ligada com a proteção dos direitos humanos, sendo possível ver o Estado como uma organização centrada no ser humano. 
Assim, através o inciso III, nos trás a dignidade humana como um valor que visa proteger o ser humano de tudo o lhe cause indignidade, ou seja, é a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, alem de propiciar e promover sua participação ativa co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos seres humanos.
Assim, tem como finalidade assegurar ao homem o mínimo de direitos que devem ser respeitados pela sociedade e pelo poder público, de forma a preservar a valorização do ser humano, preservando a liberdade individual e a personalidade, portanto, é um principio fundamental alicerce de todo ordenamento jurídico, não tendo como ser reduzido ou relativizado.
O Supremo tem como objetivo garantir a todo o momento que o ser humano tenha seus direitos assegurados, que não haja abusos, humilhações ou desigualdade, resguardando suas garantias individuais.
	Diante disso, cabível fazer menção as sabias palavras transcritas pela Ministra Rosa Weber em seu julgamento: 
“A "escravidão moderna" é mais sutil do que a do século XIX e o cerceamento à liberdade pode decorrer de diversos constrangimentos econômicos e não necessariamente físicos. Priva-se alguém de sua liberdade e de sua dignidade tratando-o como coisa, e não como pessoa humana, o que pode ser feito não só mediante coação, mas também pela violação intensa e persistente de seus direitos básicos, inclusive do direito ao trabalho digno. A violação do direito ao trabalho digno impacta a capacidade da vítima de realizar escolhas segundo a sua livre determinação. Isso também significa "reduzir alguém a condição análoga à de escravo".[Inq 3.412, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, j. 29-3-2012, P, DJE de 12-11-2012.]”(grifei)
Palavras fortes, mas de cunho realista, pois o ser humano é tão egoísta que necessita de uma norma jurídica para obrigá-lo a tratar o próximo com o mínimo de dignidade possível, e mesmo assim, não o faz. Tendo como exemplo as sabias palavras da Ministra, onde trás uma dura realidade vivida até os dias atuais pelos trabalhadores, em que necessitam subordinar-se a condições “análogas de escravo” para trazer o mínimo de dignidade para si e sua família, tendo como figura opressora no presente caso o empregador, onde de forma egoísta visa os lucros acima de tudo.
Fato este, comprovado através de decisões recentes da Câmara do Senado, onde aprovou recentemente a Terceirização, acabando com os direitos Trabalhistas, trazendo o trabalhador mais próximo a condições de escravos, pois, possuem como objetivo a lucratividade das empresas, esquecendo que acima de tudo somos seres humanos, que NECESSITAMOS do mínimo de DIGNIDADE, palavra esta que atualmente se afasta do atual quadro do Poder Executivo vigente em nossa nação.
Pois, conforme observamos, é necessário travarmos novas lutas para não perdemos direitos que antes havíamos lutado, estamos vivendo atualmente um verdadeiro retrocesso histórico de direitos.
Um preso encarcerado não possui voz, não possui estabelecimentos dignos, enfrentam as superlotações nos presídios, sendo punidos através do ser humano que são e não através de suas atitudes, pois este recluso nunca mais será vista pela sociedade ou Estado como um ser humano, e sim como um simples delinqüente que merece as condições deploráveis em que vivem, conforme expõe o Ministro Gilmar Mendes em seu julgado:
“A legislação sobre execução penal atende aos direitos fundamentais dos sentenciados. No entanto, o plano legislativo está tão distante da realidade que sua concretização é absolutamente inviável. Apelo ao legislador para que avalie a possibilidade de reformular a execução penal e a legislação correlata, para: (i) reformular a legislação de execução penal, adequando-a à realidade, sem abrir mão de parâmetros rígidos de respeito aos direitos fundamentais; (ii) compatibilizar os estabelecimentos penais à atual realidade; (iii) impedir o contingenciamento do FUNPEN; (iv) facilitar a construção de unidades funcionalmente adequadas – pequenas, capilarizadas; (v) permitir o aproveitamento da mão de obra dos presos nas obras de civis em estabelecimentos penais; (vi) limitar o número máximo de presos por habitante, em cada unidade da federação, e revisar a escala penal, especialmente para o tráfico de pequenas quantidades de droga, para permitir o planejamento da gestão da massa carcerária e a destinação dos recursos necessários e suficientes para tanto, sob pena de responsabilidade dos administradores públicos; (vii) fomentar o trabalho e estudo do preso, mediante envolvimento de entidades que recebem recursos públicos, notadamente os serviços sociais autônomos; (viii) destinar as verbas decorrentes da prestação pecuniária para criação de postos de trabalho e estudo no sistema prisional. Decisão de caráter aditivo. Determinação que o Conselho Nacional de Justiça apresente: (i) projeto de estruturação do Cadastro Nacional de Presos, com etapas e prazos de implementação, devendo o banco de dados conter informações suficientes para identificar os mais próximos da progressão ou extinção da pena; (ii) relatório sobre a implantação das centrais de monitoração e penas alternativas, acompanhado, se for o caso, de projeto de medidas ulteriores para desenvolvimento dessas estruturas; (iii) projeto para reduzir ou eliminar o tempo de análise de progressões de regime ou outros benefícios que possam levar à liberdade; (iv) relatório deverá avaliar (a) a adoção de estabelecimentos penais alternativos; (b) o fomento à oferta de trabalho e o estudo para os sentenciados; (c) a facilitação da tarefa das unidades da Federação na obtenção e acompanhamento dos financiamentos com recursos do FUNPEN; (d) a adoção de melhorias da administração judiciária ligada à execução penal.
[RE 641.320, rel. min. Gilmar Mendes, j. 11-5-2016, P, DJE de 1º-8-2016, com repercussão geral.]”(grifei)
O Estado possui como OBRIGAÇÃO prover o mínimo de dignidade, mas esta não é vista no quadro atual da sociedade, não há respeitos mútuos, venda-se osolhos para o todo, e observam somente aquilo que lhe convém, diminuindo o valor do ser humano, delimitando seus valores, tratando o ser humano como simples marionetes, conforme aduz o Ministro Eros Grau:
“(...) a dignidade da pessoa humana precede a Constituição de 1988 e esta não poderia ter sido contrariada, em seu art. 1º, III, anteriormente a sua vigência. A argüente desqualifica fatos históricos que antecederam a aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei 6.683/1979. (...) A inicial ignora o momento talvez mais importante da luta pela redemocratização do País, o da batalha da anistia, autêntica batalha. Toda a gente que conhece nossa História sabe que esse acordo político existiu, resultando no texto da Lei 6.683/1979. (...) Tem razão a argüente ao afirmar que a dignidade não tem preço. As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. A dignidade não tem preço, vale para todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo quando alguém se arroga o direito de tomar o que pertence à dignidade da pessoa humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que, então, o valor do humano assume forma na substância e medida de quem o afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure. Então o valor da dignidade da pessoa humana já não será mais valor do humano, de todos quantos pertencem à humanidade, porém de quem o proclame conforme o seu critério particular. Estamos então em perigo, submissos à tirania dos valores. (...) Sem de qualquer modo negar o que diz a argüente ao proclamar que a dignidade não tem preço (o que subscrevo), tenho que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa não pode ser retribuída com a proclamação de que o instituto da anistia viola a dignidade humana. (...) O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, esse argumento não prospera.[ADPF 153, voto do rel. min. Eros Grau, j. 29-4-2010, P, DJE de 6-8-2010.]”
Ante todo o exposto podemos identificar a grande dificuldade na sociedade brasileira, com as contradições existentes, para indicação dos direitos que merecerão o rotulo de fundamentais. Logo, a dignidade pode ser entendida de diversas maneiras, onde cada uma dessas concepções representa momentos da historia do pensamento e das sociedades humanas, construindo um conjunto de argumentos de caráter filosófico que passa a justificar a escolha de um elenco de direitos, em detrimento de outros.
Assim, o processo de proteção dos direitos tem sido marcado não apenas pelo seu reconhecimento formal, mas principalmente pelas lutas dos povos contra a opressão, contra a exploração econômica e contra a miséria, o que passou a exigir a efetivação dos direitos enunciados pela Carta Magna.
 Para a efetivação dos direitos elencados pela Constituição é fundamental a instauração de uma nova ordem para que venha a romper com os atuais laços de dependência e expropriação do Estado para com a sociedade brasileira.

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