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DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS COMPEMPORÂNEAS Flávia Piovesan Em se tratando de direitos e perspectivas contemporâneas dos direitos humanos, necessário ponderar-se a respeito de como compreender a concepção contemporânea dos direitos humanos e quais são os principais desafios e perspectivas para sua implementação. Quanto a compreensão contemporânea a respeito dos direitos humanos, deve-se entender enquanto reivindicações morais advindas pela Declaração Universal de 1948, que contrapunha-se as barbáries e aos regimes totalitaristas presentes até a o final da 2º Guerra Mundial. Assim, os direitos humanos, nas palavras da autora, nascem quando devem e quando podem nascer. Hannah Arendt, por sua vez, afirma que os direitos humanos são uma invenção humana em constante processo de construção e reconstrução. Por fim, Joaquín Herrera Flores afirma que os direitos humanos compõe nossa racionalidade e resistência, traduzindo esses processos que abrem e consolidam espaço de luta pela dignidade humana. A partir dessa concepção trazida por Joaquín Herrera Flores, começa-se a responder o questionamento relativo aos principais desafios e perspectivas para implementação dos direitos humanos. Afinal, os direitos humanos servem para afirmar a dignidade humana e prevenir o sofrimento humano. Exemplifica com a Constituição Federal, que versa desde o combate ao trabalho escravo aos desafios da utilização de células tronco para fins de pesquisa. É o visualizar no outro um ser merecedor de consideração e respeito, dotado de direito de desenvolver suas potencialidades de forma livre e plena. Assim, a concepção contemporânea de direito humanos deve responder a três perguntas: quem tem direitos, por que direitos e quais direitos? Quem tem direitos? Pois bem, a extensão dos direitos humanos é universal e a única condição para ter esses direitos é ser pessoa. Sendo que o ser humano é essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade como valor intrínseco a condição humana. Quais direitos? A declaração afirma a indivisibilidade dos direitos (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais). Afirma também que um depende do outro em uma relação de interdependência, inter-relação e indivisibilidade. Sendo que os direitos civis e políticos (a liberdade de expressão) são tão importante quanto o acesso à saúde, à educação e ao trabalho (paridade entre o eixo liberdade e o eixo igualdade). – tão grave quanto morrer sob tortura é morrer de fome. Hoje, os direitos humanos contemporâneos se inspiram na declaração. Por exemplo, a declaração dos direitos humanos de Viena, de 1993, na voz de 171 Estados reitera a concepção de 1948, quando em seu parágrafo 5º afirma: todos direitos humanos são universais, independentes e inter-relacionados. A comunidade deve trata-los globalmente de forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Viena afirma, ainda, a interdependência entre os valores humanos, democracia e desenvolvimento. Não há direitos humanos sem democracia, tampouco há democracia sem direitos humanos. O regime mais compatível com a proteção dos direitos humanos é o regime democrático. Atualmente, dos 200 estados que integram a ordem internacional, 140 realizam eleições periódicas, porém apenas 82 Estados (57% da população mundial) são considerados plenamente democráticos perante a ONU. O direito ao desenvolvimento corresponde a uma globalização ética e solidária, fundada no direito da solidariedade. Reflete uma demanda crucial do nosso tempo, na medida em que 4/5 da população mundial não mais aceita o fato de 1/5 da população continuar a construir sua riqueza com base na miséria e na pobreza dos demais 4/5 Feitas essas considerações, a autora passa à segunda reflexão fazendo dois questionamentos: “Quais os principais desafios e perspectivas para implementação dos direitos humanos?” e “Quais são as grandes inquietudes e as grandes tensões afetas à proteção desses direitos?”. Para resposta, a autora destaca sete desafios. A primeira inquietude é a tensão entre o universalismo e o relativismo cultural onde a autora questiona: Qual é o fundamento dos direitos humanos? Por que nós temos direitos? • Para os universalistas porque há o mínimo ético irredutível havendo a idéia de dignidade como valor intrínseco a condição humana. • Para os relativistas a cultura é a fonte dos direitos humanos, não havendo como sustentar uma ética universal. • O pluralismo universal impediria uma formação moral universal por haver no mundo uma pluralidade de culturas produzindo seus próprios valores. A segunda inquietude é a laicidade estatal X fundamentalismos religiosos. A autora defende aqui a separação do Estado e da religião para que exista a liberdade religiosa e moral, onde um Estado laico seria fundamental para o exercício dos direitos humanos porque ao não fazer essa separação implicaria adotar oficialmente dogmas incontestáveis, a imposição de uma moral única a inviabilizar qualquer projeto de sociedade pluralista aberta e democrática. A terceira inquietude é a tensão entre o direito ao desenvolvimento e as assimetrias globais. O direito ao desenvolvimento demanda três dimensões: • Componente democrático – a importância da participação na formulação de políticas publicas com transparência, responsabilidade e democratização. • Proteção às necessidades básicas de justiça social. • Adoção de programas e políticas nacionais como também da cooperação internacional. Nas assimetrias globais a autora refere, por exemplo, que os 15% mais ricos do mundo concentram 85% da renda mundial. A pobreza apontada pela Organização Mundial de Saúde é a principal causa mortis do mundo acima de qualquer guerra. Por dia há 50 mil vidas desperdiçadas no mundo, sendo 34 mil crianças menores de 5 anos. O quarto desafio concentra-se na proteção dos direitos sociais e nos dilemas da globalização econômica. Por volta dos anos 90 as políticas neoliberais fundaram-se livremente no mercado, permitindo que hoje os estados acreditem estarem incorporados a estes. Essa globalização vem agravando cada vez mais desigualdades sociais. A autora traz como exemplo a fala de um diretor que se refere à pobreza de forma que esta é uma ameaça sistêmica fundamental a estabilidade em um mundo em processo de globalização, contudo a importância de redefinição do papel do estado, ressaltando sua responsabilidade, de promoção de igualdade e compensação quanto aos desequilíbrios criados pelos mercados. O quinto desafio vai consistir na diversidade versus intolerâncias, pois o processo de violação dos direitos humanos tange grupos sociais como mulheres, população afro-descendentes. Desta forma a primeira fase da proteção foi marcada pela proteção geral, genérica e abstrata, contudo tratar o indivíduo assim é insuficiente, estes casos de mulheres, população afro-descendentes demandam visibilidade, há o direito a diversidade e a diferença. Há três concepções quanto a igualdade, a formal, iguais perante a lei, igualdade material, ao ideal de justiça social e distributiva, pelo critério sócio econômico. A igualdade material vai atravessar critérios de gênero, reconhecimento, e demais. Necessidade de que se reconheçam as diferenças e não se reproduza desigualdades, bem como combater toda forma de racismo, homofobia, entre outras formas de intolerância. O sexto desafio é o combate ao terrorismo X a preservação das liberdades públicas. Neste ponto a autora enfatiza o pós- 11 de setembro como risco aos direitos, liberdades e garantias na busca pela segurança máxima adotada unilateralmente pelos EUA na luta contra o terrorismo e os casos de Abu Ghraib e Guantánamo. Como conseqüência países passam a afrontar o devido processo legal, o direito a um julgamento público e justo, que restringem direitos como a liberdade de expressão e de reuniãosendo fundamental não tolerar o terrorismo de Estado fazendo com que sejam respeitados os direitos humanos. O sétimo desafio é o unilateralismo X o multilateralismo que seria a exigência ética de fortalecer o estado de direito e a construção da paz nas esferas global, regional e local mediante uma cultura de direitos humanos. Só haveria um efetivo Estado de direito com o primado da legalidade e a legitimidade em consenso. Já em relação ao multilateralismo pensa que a sociedade civil internacional são as únicas forças capazes de deter o amplo grau de discricionariedade do poder do império e fazer com que a força do direito prevaleça em detrimento do direito da força. A autora conclui crendo na implementação dos direitos humanos como a racionalidade e resistência, como única forma emancipatória do nosso tempo. Inicia-se acentuando que os direitos humanos não são um dado, mas construído, enfatizando que a violação a estes direitos também o são, ou seja, as violações, exclusões, discriminações, intolerâncias são um construído histórico a ser urgentemente desconstruído e que ao assumir o risco de romper com essa cultura de naturalização e banalização e trivialização das desigualdades e exclusões que, enquanto construídos históricos, não compõe de forma inexorável o destino da nossa humanidade. Seminário 4: Andressa, Diego Braga, Guilherme Pacheco, Guilherme Volpato e Marcela Moreira.
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