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Caderno Família Prof. Luciano Figueiredo

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1 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Direito de Família 
 
 Professor: Luciano Figueiredo 
 
 Bibliografia: 
 
 Carlos Roberto Gonçalves – Livro 
 Cristiano Chaves 
 Maria Berenice Dias 
 Rolf Madaleno (bom na parte de alimentos) 
 Paulo Lobo (mais tradicional) 
 Coleção sinopses para concursos públicos – livro do professor 
 
 
 
Aula: 01/08/2017 
 
Introdução ao direito das famílias 
 
1. Breve evolução histórica 
Na antiguidade a noção de agrupamento familiar decorria da necessidade de 
sobrevivência (enquanto o homem saía para caçar a mulher ficava a confeccionar 
utensílios, que eram trocados pelo excedente da caça), isso gerava os primeiros 
agrupamentos familiares da antiguidade, ideia de subsistência, sobrevivência. 
Em Roma a unidade familiar era um núcleo religioso, político e até mesmo militar, a 
família romana era a principal forma de organização social dentro do contexto romano, 
as pessoas vivenciavam grandes famílias/ núcleos familiares nas quais haviam a 
preponderância da figura masculina que eram denominadas de pater famílias (dirigia 
não apenas os filhos mas também a esposa que era reduzida a condução análoga de 
filhos), o pater famílias tinha o gerenciamento patrimonial e até mesmo o poder de vida 
e morte sobre seus filhos e a sua esposa, era uma figura soberana naquele núcleo 
familiar. 
A estrutura familiar romana é tão importante que nos lembra um historiador chamado 
Fustel de Coulanges que a família romana é responsável pela criação da propriedade 
privada em Roma. As propriedades inicialmente eram coletivas, os deuses adorados 
eram os antepassados familiares, cada família tinha os seus deuses particulares e para 
adoração desses deuses tinham rituais que eram secretos/privados, para manter a 
 2 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
privacidade desse ritual de adoração foi necessário cercar a propriedade (enterros na 
propriedade por exemplo). 
O cristianismo e o legado do imperador Constantino, ele influenciou por demais as 
questões familiares principalmente em nosso país, um exemplo disso é o direito 
canônico, passamos a enxergar na época que para ter família era necessário um 
casamento, filiação fora do casamento era considerada ilegítima, pessoas que tinham 
filhos sem se casar ficavam a margem das sociedades familiares. 
No código civil vigente o instituto que tem o maior número de artigos por exemplo é o 
casamento, um legado deixado pelo direito canônico já que foi o instituto mais regrado. 
No século XX nos narra o autor português chamado Guilherme de Oliveira que as 
famílias passam a sofrer progressivas modificações por conta de alguns fatores como a 
ascensão feminina (a mulher que em Roma era dependente do homem passa a 
conquistar mais espaço e a atuar como atriz principal, na época o Estatuto da Mulher 
Casada foi o divisor de águas que passou a dar direitos a mulher como o direito de voto, 
alcance de outras posições profissionais). 
Outra modificação foi a instituição do divórcio (até o final da década de 70 o casamento 
era indissolúvel por previsão constitucional, foi necessária emenda a CF para instituir o 
divórcio, o divórcio quando foi instituído exigia pelo menos 5 anos de separação de fato 
e só se poderia divorciar uma vez, quem não podia se separar e queria o divórcio era 
desquitado (aquele que não tem quitação), o tratamento do divórcio evoluiu reduzindo 
os prazos e depois admitindo o divórcio plural de maneira que hoje não há limite para 
divórcio nem prazo mínimo), inclusive hoje a facilitação do divórcio é tão grande que é 
possível até de forma extrajudicial (consensual, na presença de advogado, num 
tabelionato e sem incapaz). 
O terceiro item importante é o surgimento de nova entidades familiares, surgiu a união 
estável, família monoparental (um ascendente e sua prole, produção independente), 
família homoafetiva. 
As mudanças científicas também impactaram o direito das famílias como o exame de 
DNA (antigamente usavam o método posopográfico (comparação de fotos/tipo físico do 
suposto pai e filho)), inseminações e fertilizações. 
Diz o Guilherme de Oliveira que o século XX passou a enxergar as famílias 
recombinadas que também são chamadas de recompostas/esambladas que são as 
famílias de 2ºs, 3ºs e 4ºs relacionamentos (famílias recombinadas com filhos de outros 
casamentos). Soma-se a tudo isso o tal do amor líquido de Balder, ideia de que as 
pessoas estão reproduzindo nos seus modelos familiares hábitos de consumo capitalista, 
os relacionamentos são cada vez em maior número, as trocas afetivas estão cada vez 
mais rápidas e a cultura do concerto foi esquecida, nós reproduzimos o modelo de 
aquisições de mercadoria nas relações afetivas. As pessoas fazem mais análises 
quantitativas do que qualitativas. 
A pós modernidade mudou por demais as relações e isso toca o direito das famílias 
profundamente. 
 
 3 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
2. Conceitos de famílias 
A doutrina ao trabalhar com o conceito de família informa que a depender do local de 
análise você poderá verificar o conceito amplíssimo, o conceito amplo ou o conceito 
restrito. 
O conceito amplíssimo são as pessoas unidas por parentesco bem como aqueles que 
habitam o lar (agregados), o artigo 241 da lei 8112/90 (estatuto do servidor) afirma que 
no conceito da família do servidor incluísse aqueles que vivem em sua casa e as suas 
expensas. 
A família em sentido amplo são aqueles unidos por relação de parentesco em linha reta 
(indissolúvel, quando descende da outra pessoa) e por afinidade (cônjuge que se torna 
parente dos do outro cônjuge ou companheiro, exemplo: sogro, sogra, cunhado), 
encontrada no artigo 1591 e 1592 do CC. Trabalhado no nosso CC em regra geral. 
O sentido restrito diz respeito apenas aos ascendentes e a sua prole. 
3. Constitucionalização do direito das famílias 
Falar de constitucionalização do direito das famílias é antes recordar sobre a 
constitucionalização do direito civil que segundo Orlando Gomes é a constatação de que 
normas de direito privado migraram para dentro da CF. Nos idos na década de 90 o 
Brasil assim como boa parte do mundo começou a passar por um largo processo de 
descodificação, o código civil a época vigente ( CC 16) havia se tornado anacrônico e já 
não tratava de vários temas importantes e o legislador criava microssistemas (exemplo: 
ECA, Estatuto do Torcedor, CDC) o que gerou uma descodificação que tornou o 
sistema fragmentado, desintegrado, se precisava dar unidade ao sistema, por isso veio a 
constitucionalização que foi uma unificação de todo o sistema infra. O Brasil na verdade 
imitou a Itália nesse quesito. 
Ao se realizar a constitucionalização do direito civil acabamos também por realizar a 
sua publicização, as normas ao migrar para a CF passaram a ter força pública, isso 
quebrou de uma vez por todas com a ultrapassada ideia da summa divisio (que a CF 
regulava o direito público e o CC regulava o direito privado), passa a se ter uma 
simbiose, quebra da summa divisio. Marcos Ludwig nos diz que se passa a ter 
progressivas simbioses entre o público e o privado, passando a se ter a publicização do 
direito privado e a privatização do direito público. 
O artigo 226 da CF/88 acabou por se dedicar por inteiro ao direito das famílias. 
Observação: Gustavo Tepedino defende a necessidade de todo direito civil 
invariavelmente ser interpretado de acordo com o método civil constitucional, segundo 
ele por conta da legalidade constitucional também chamada de filtragem constitucional 
(ideia de que todo direito infra tem que ser interpretado a luz da CF) o método civil 
constitucional sempre deve ser utilizado,de outro lado Francisco Cahali defende a tese 
de que a constitucionalização do direito civil foi importante para a reunificação na 
época do CC/16. 
 
 
 4 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
3.1 Princípios Constitucionais de famílias 
A depender do doutrinador que você consulte iremos encontrar uma variação sobre esse 
tema. O recorte será feito no artigo 226 da CF que é o artigo que efetivamente trata dos 
princípios familiares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O primeiro Princípio é o da Pluralidade Familiar, até a CF/88 só havia família dentro 
do casamento, qualquer relacionamento fora do casamento não era considerado 
instituição familiar, com a CF/88 e o artigo 226 passamos a verificar a presença de dois 
outros núcleos familiares típicos, passamos a ter como famílias tipificadas o casamento, 
a união estável e a família monoparental. A dúvida que se surgiu é se essa numeração 
típica pelo artigo 226 é de rol taxativo ou exemplificativo? A primeira pessoa a escrever 
sobre isso foi o autor Paulo Lobo que em um artigo científico diz que além dos núcleos 
típicos se têm os núcleos atípicos, sendo um rol exemplificativo e não taxativo, essa 
visão é majoritária, quase que unânime, não dá para a lei aprisionar o fenômeno familiar 
em regras de subsunção. Não cabe ao direito trazer modelos fechados familiares, cabe 
ao direito reconhecer os modelos familiares existentes, dá-lhe dignidade. 
O que entra nos núcleos atípicos? União homoafetiva (ADPF 132-RJ) que é entidade 
familiar que se aplica as mesmas regras da união estável (inclusive a resolução 175 do 
CNJ permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil), Família Ana 
Parental (aquela que não tem pais, dois irmãos que moram juntos por exemplo, há quem 
progrida na ideia e defenda até mesmo que essa família ana parental poderá ser formada 
entre pessoas que não são parentes, exemplo: amigos que moram juntos, essa 
construção é doutrinária de um autor chamado Sérgio Rezende de Barros/ver artigo), a 
Família Unipessoal (família formada por um único sujeito, súmula 364 do STJ, tem 
proteção para fins de bens de família/ caso do padre e bem de família). Esses são 
núcleos atípicos já reconhecidos. 
Observação: Apesar de larga tese doutrinária o STJ e o STF ainda não reconhecem o 
concubinato como família, são tratados como relacionamentos meramente 
obrigacionais. 
Observação: A doutrina avançou muito no reconhecimento de núcleos atípicos, 
entretanto não avançou muito em relação as consequências jurídicas desse 
 
Princípios Constitucionais de Família: 
 Pluralidade Familiar (formas típicas e atípicas) 
 Igualdade entre os Consortes 
 Igualdade entre os filhos (material e afetiva) 
 Facilitação da dissolução do casamento 
 Facilitação da conversão da união estável em casamento 
 Paternidade responsável e planejamento familiar 
 
 5 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
reconhecimento, exemplo: A família unipessoal é família apenas para fins de bens de 
família o que na verdade é uma desnecessidade porque o artigo 6º da CF já dá garantia a 
moradia, exemplo 2: A Família ana parental para grande parte da doutrina não gera 
consequência a não ser no bem de família, o que também não tem lógica porque já se 
tem o direto a moradia. De modo que as famílias unipessoais e ana parental perdem a 
razão de ser pela desnecessidade de se criar um novo núcleo familiar para tratar algo 
que já está garantido em teoria. 
Observação: O mesmo STJ e o mesmo STF afirmam que apenas há uma entidade 
familiar legítima, sendo as demais em paralelo eventualmente existentes ilegítimas, isso 
serve para refutar várias teses como por exemplo a do poliamorismo. Há uma voz 
doutrinária muito grande, mas o STJ e o STF ainda não reconhecem. 
O segundo Princípio é o da Igualdade entre os consortes, acabamos com a 
prevalência da figura masculina sobre a feminina, os consortes irão direcionar a 
sociedade conjugal em igualdade de condições, o mesmo vale na união estável, vão 
escolher domicílio conjuntamente, direcionar a prole e assim por diante. Deixamos para 
trás a vencida expressão pátrio poder que existia desde Roma, hoje utilizamos a 
expressão poder familiar, ambos os genitores direcionando a formação, criação, 
orientação dos seus filhos e da sociedade conjugal. Por conta da igualdade entre os 
consortes o próprio CPC acabou com o foro privilegiado da mulher nas ações de 
divórcio e invalidação do casamento, a ação será ajuizada no domicílio do réu ou se 
tiver menor no domicílio daquele que tiver a guarda do menor. Apesar da igualdade dos 
consortes nós temos ainda alguns resquícios previstos na nossa legislação, exemplo: 
Súmula 383 do STJ Artigo 1736 inciso 1: “a mulher casada pode se escusar da tutela” 
se for nomeada tutora pode arguir impossibilidade por ser uma mulher casada, um 
segundo resquício: A lei Maria da Penha, pensamento restritivo por ser tipo penal (não 
abarca relações homoafetivas por exemplo). 
O terceiro Princípio é o da Igualdade entre os filhos, atualmente vale a isonomia 
filial, pouco importa a origem da filiação, filhos invariavelmente terão direitos iguais. Já 
houve um período histórico em que filhos adotivos por exemplo eram discriminados em 
herança. Pouco importa também se é uma filiação biológica, civil, socioafetiva, uma vez 
reconhecido o vínculo haverá a igualdade entre os filhos. 
Há a igualdade material e a afetiva. A igualdade material é facilmente solucionada 
através do instituto dos alimentos, se tiver uma desigualdade afetiva o STJ defende a 
possibilidade de responsabilidade civil por abandono afetivo. 
O STJ negou em um primeiro momento a indenização por abandono afetivo, com base 
no argumento de Gustavo Tepedino segundo o qual seria um dano não indenizável (não 
dá para obrigar alguém a amar outra pessoa). Em um segundo momento seguindo a tese 
da Giselda Hironaka passou a permitir o STJ a indenização por abandono afetivo, com 
base na ideia de que haveria a violação de um dever de cuidado que decorre da 
paternidade. Essa é a tese hoje prevalente. O dano vai ser arbitrado no caso concreto, 
sobre o prazo prescricional lembrar que não corre prescrição entre ascendente e 
descendente durante o poder familiar (art. 197, inciso 2) ou seja, o prazo se iniciará aos 
18 anos ou quando houver emancipação prévia e o prazo prescricional é o de 3 anos que 
é o prazo da reparação civil (art. 206, parágrafo 3º inciso 5). Salvo situação não 
 6 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
peculiar como casos de reconhecimento da paternidade após 18 anos, passará a contar o 
prazo a partir do reconhecimento. Última tese é a prevalente. 
Aula 08/08/2017 
O quarto princípio é o da facilitação da dissolução do casamento, historicamente é 
cada vez mais fácil dissolvermos o casamento, que no início dos tempos era 
indissolúvel, progressivamente teve facilitada a sua dissolução. 
Em um primeiro momento por força de uma emenda constitucional (emenda número 09 
de 77) passamos a permitir a dissolução do casamento desde que houvesse comprovada 
a separação de fato por prazo igual ou superior a 5 anos, nesse período apenas era 
possível o divórcio em uma única oportunidade (se tem apenas uma segunda chance), 
avançamos e passamos a permitir o divórcio plural, o cidadão ou cidadã a partir de 
então poderia se casar e divorciar em várias oportunidades, posteriormente reduzimos o 
prazo de 5 para 2 anos e hoje por força do 226 parágrafo 6º da CF/88 não há mais prazo 
de separação de fato nem limite de divórcio. 
Hoje em dia é possível até mesmo o divórcio extrajudicial em um tabelionato se todos 
forem maiores e capazes, houver consenso e presença de um advogado,pelo novo CPC 
também não pode estar a mulher gestante (nascituro). Os liberais entendem que essa 
mudança foi excelente pois não prende mais alguém a um casamento (ex: Cristiano 
Chaves) já os tradicionalistas ponderam que haveria uma banalização do patrimônio 
(ex: Camilo Colani). É possível até mesmo se casar mais de uma vez com a mesma 
pessoa. 
O CPC já prevê câmara de mediação e conciliação privada para tratar de divórcio, mas 
isso ainda não está regulamentado. 
O quinto princípio é o da facilitação da conversão da união estável em casamento, 
a CF busca facilitar a conversão da união estável em casamento porque o casamento é 
uma relação formal e pública pois a certidão de casamento é levada até o registro de 
pessoas naturais e ela substitui a sua certidão de nascimento. 
 A união estável é ato informal porque não exige contrato e se houver contrato pode ser 
por instrumento particular e se for um contrato público (estrutura pública) não tem regra 
de competência de tabelionato. Esse motivo faz com que o direito preze pela conversão 
em casamento já que traz uma maior estabilidade. 
Apesar do comando constitucional (art. 226) e do código civil replicar a regra (art. 
1726) ainda somos carentes de um efetivo procedimento legal de facilitação, nós 
precisaríamos de uma mudança na lei de registros públicos (lei 6515/73). Os tribunais 
de justiça têm resoluções tentando facilitar, mas ainda carecemos de um processo legal 
para que essa facilitação seja vista de forma mais clara. 
Esse princípio acaba levando a uma hierarquia de entidades familiares? A doutrina diz 
que não há hierarquias entre modelos familiares, o que nós temos são modelos 
familiares diversos, obviamente o legislador tem uma preferência em relação ao 
casamento por conta da formalidade e publicidade. Atualmente as casas judiciais 
nacionais progressivamente igualam os efeitos da união estável ao casamento, reduzem 
essas diferenças de efeitos, um grande exemplo diz respeito ao regime sucessório que 
 7 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
com a declaração e inconstitucionalidade do artigo 1790 foi igualado, isso é ruim 
porque igualando os efeitos acaba perdendo a razão de se ter duas entidades. Argumento 
de Barroso e Faccin no sentido de que enquanto o casamento é uma conjugalidade 
formal a união estável é uma conjugalidade de fato. 
 
O sexto princípio é o da paternidade responsável e planejamento familiar, o estado 
deve promover programas que gerem a nossa paternidade responsável e fomentem o 
planejamento familiar ex: Programas de distribuição de camisinhas, lei da guarda 
compartilhada, lei da alienação parental. 
 
4. A Família do CC 16 + CC 22 
Os manuais de direito das famílias costumam após a principiologia familiar estabelecer 
uma espécie de paralelo entre a família do código de 16 e de 2002. As características 
são diferentes, sendo produtos e respostas sociais e culturais diferentes, não sendo um 
modelo melhor ou pior do que o outro. 
A família do CC 16 era uma família matrimonial porque só tinha família no casamento, 
já a família do CC 2002 é uma família plural porque temos família não só no 
casamento. A família de 16 era uma família hierarquizada pois fundada no pátrio poder, 
já a família do de 2002 é uma família democrática porque é fundada no poder familiar, 
da igualdade entre os consortes, por conta disso a família de 16 era uma família desigual 
enquanto a de 2002 é uma família igualitária. A família do código de 16 era chamada de 
família instituição (um fim em si mesmo) enquanto a família do de 2002 é chamada de 
família instrumento (meio de proteção entre os seus integrantes). 
 
Código de 16 Código de 2002 
Matrimonial Plural 
Hierarquizada Democrática 
Pátrio poder Poder Familiar 
Desigual Igualitária 
Instituição Instrumento 
 
5. Conceito atual de famílias e sua natureza jurídica 
 
 Afinal o que então é a família hoje? 
Segundo a Maria Berenice Dias (progressista) o conceito de família é pautado em dois 
valores: O primeiro é a socioafetividade, o segundo valor é o caráter eudemonista (visão 
da família como instrumento na busca do projeto de felicidade dos seus integrantes). 
Mais utilizado. 
Esse conceito amplamente difundido encontra algumas críticas, principalmente nas 
famílias formadas por laços consanguíneos (exemplo: irmãos que não se falam entre si), 
há núcleos familiares ligados por laços sanguíneos em que não se enxerga afeto, por 
 8 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
isso alguns outros autores como Maria Helena Diniz preferem o conceito familiar 
pautado em parentesco, casamento e união estável, conceito mais legalista. 
 
 
Casamento 
1. Histórico e conceito 
Originariamente tanto no Brasil quanto em Portugal só se permitia casamento entre 
católicos, era a sobreposição da igreja sobre o Estado, apenas em 1861 é que passamos a 
permitir o casamento entre não católicos, mas ainda assim o casamento persistia 
religioso, foi, porém, o decreto 181 de 1890 que passou a permitir no Brasil o chamado 
casamento civil. 
O casamento civil em um primeiro momento não caiu nas graças do povo porque todos 
estavam acostumados apenas ao casamento religioso, para contornar a resistência 
popular veio a lei 379 de 1937 e passou a regular o casamento religioso com efeitos 
civis. No Brasil durante largo período, portanto o regramento do casamento era feito por 
regras do direito canônico as quais tinham como base normativa as disposições do 
concílio tridentino e da constituição do arcebispado da Bahia, obviamente que nos dias 
de hoje a figura do casamento civil se distanciou do casamento católico e hoje o 
casamento é um instituto em tese laico. 
O Professor Washington de Barros fazendo um estudo do direito comparado acerca do 
casamento divide 4 grupos de tratamento legislativo, o primeiro grupo para ele é o dos 
países nos quais o casamento é civil permitindo-se porém o religioso com efeitos civis 
(exemplos: Brasil, Argentina, Suíça, quase toda América Latina), o segundo grupo é o 
de países nos quais vale tanto o casamento civil quanto o puramente religioso 
(exemplos: EUA e Inglaterra), o terceiro grupo são os dos países em que há religião 
oficial sendo o casamento religioso e apenas sendo aceito o casamento cível para 
pessoas que não sigam a religião oficial (exemplo: Escandinávia), o quarto e último 
grupo são de países em que apenas se aceita o casamento religioso (exemplo: Líbano). 
O Brasil se filia ao primeiro grupo de forma que analisando o CC percebe-se no artigo 
1512 que o casamento é civil e será gratuita a sua celebração. O que é gratuito é a 
celebração, a pessoa terá custas, taxas e emolumentos para a primeira certidão e 
despesas cartorárias. Quem for pobre poderá pedir gratuidade na forma da lei. 
Além do casamento civil você pode ter o casamento religioso com efeitos civis (artigo 
1515 CC), no casamento religioso, religioso mesmo só é a celebração, você vai ter que 
fazer todo o procedimento cível prévio (habilitação) e no momento que você estiver 
habilitado para casar você informa que o seu casamento será feito em cerimônia 
religiosa. Caso você venha a se casar no religioso e não tenha realizado toda essa 
formalidade preliminar (papelada), civilmente você não estará casado, possivelmente 
você se encontrará em união estável. 
 9 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
O casamento religioso com efeitos civis poderá ser celebrado em qualquer religião. Há 
algumas discussões a respeito do casamento espírita que para alguns é doutrina e não 
religião mas há um precedente de um mandado de segurança que o permitiu. 
A formalidade preliminar diz respeito a um procedimento prévio, obrigatórioatravés do 
qual o Estado verificará se aquelas duas pessoas efetivamente poderão se casar entre si. 
Para tanto haverá um procedimento denominado de processo de habilitação para o 
casamento. O artigo 1525 CC nos traz um rol de documentos que deverão ser 
apresentados juntamente com o requerimento de habilitação, requerimento este que 
deverá ser assinado por ambos os nubentes de próprio punho ou por seu procurador. 
Documentos para comprovar que não há nenhum impedimento material para o 
casamento. 
Essas formalidades preliminares iniciam o processo da habilitação, processo esse que 
diz a doutrina que é um processo “judicialiforme” (processo administrativo, não exige a 
presença do advogado mas contará com o parecer do MP e homologação do juiz). 
Depois das formalidades preliminares se tem o parecer do MP dizendo se a 
documentação está correta e se está tudo ok, se estiver ok se terá a homologação do juiz, 
se não estiver ok a pessoa vai ser intimada para trazer mais documentos por exemplo. 
Depois da homologação do juiz se terá a publicação dos proclamas (edital que será 
afixado durante 15 dias na circunscrição do registro civil de ambos os nubentes (levar 
em consideração domicílio deles) e será ainda divulgado na imprensa local (diário). Os 
proclamas irão conferir o prazo de 15 dias (artigos 1526 e 1527 CC) para que querendo 
qualquer pessoa argua impedimento ou causa suspensiva relacionada aquele casamento. 
Se tiver impugnação o juiz vai ter que decidir a impugnação, se não tiver a impugnação 
vai se ter então a habilitação para o casamento. 
 
 
 
 
 
 
 
A habilitação do casamento permite que você se case em até 90 dias (artigos 1531 e 
1532 CC). O prazo é decadencial, se perder o prazo tem que se fazer tudo novamente. 
O casamento deve ser realizado de portas abertas, pois deve ser de forma pública e 
perante duas testemunhas (é o exigido, pode ter mais, mas nem todo juiz aceita). Você 
terá 4 testemunhas se algum dos contratantes não souber ou não puder escrever (art. 
1534). Casamento de analfabeto por exemplo se coloca a digital. As testemunhas podem 
ser parentes. 
FORMALIDADES 
PRELIMINARES 
PROCESSO DE 
HABILITAÇÃO 
 
PARECER DO MP HOMOLOGAÇÃO 
DO JUIZ 
PUBLICAÇÃO DOS 
PROCLAMAS 
HABILITAÇÃO 
PARA O 
CASAMENTO 
 10 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Casamento nuncupativo (casamento do sujeito que está em iminente risco de vida), nele 
não tem autoridade celebrante e são exigidas 6 testemunhas que não podem ser parentes 
dos nubentes (art. 1539). 
Celebrado o casamento logo após a celebração deve ser levado ao registro civil (art. 
1536) e aí vai ser expedida a certidão de casamento. O registro retroage e a lei não dá 
um prazo máximo a quem for levar. 
A pessoa é casada efetivamente após a leitura a fórmula sacramental (art. 1535) “eu vos 
declaro...”. 
A sua certidão de casamento é a prova pré-constituída e principal da prática do ato 
(“rainha das provas” segundo Carlos Roberto Gonçalves) mas por vezes a certidão de 
casamento se perde (exemplo: cartório que pega fogo), se a pessoa não tem acesso a 
certidão de casamento que é o mecanismo de prova direta você vai se valer da chamada 
prova indireta. A prova indireta diz respeito a comprovação da chamada posse de estado 
de casados. Você apenas vai utilizar a prova indireta se não tiver acesso à prova direta. 
O conceito está no artigo 1511 do código civil e diz que o casamento é a comunhão 
plena de vida pautada na igualdade de direitos e deveres entre os consortes. Casamento 
no dia de hoje é pautado na igualdade, não há mais a prevalência de uma figura 
masculina sobre a feminina. Chama atenção ainda que conceitualmente hoje no Brasil 
não se exige mais o caráter heterossexual para o casamento, resolução 175 do conselho 
nacional de justiça que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, vai ser uma 
habilitação normal, igual à do a do casamento heterossexual. 
 
2. Natureza Jurídica 
Historicamente temos algumas teses doutrinarias derredor da natureza jurídica do 
casamento. 
A primeira tese é uma tese publicista que defende que o casamento é um ato de direito 
público. Essa tese é citada apenas a título histórico, é uma tese ultrapassada, vencida. 
Tese do momento em que se havia a confusão entre o Estado e a Igreja. 
Hoje se tem a prevalência da tese privatista (segunda tese) que defende a ideia de que o 
casamento é um ato de direito privado. Dentro dessa tese se tem subteses. A primeira é a 
subtese não contratualista (institucionalistas para alguns), ela defende a noção de que o 
casamento é uma instituição, seria uma espécie de regime jurídico estatutário cabendo 
aos nubentes aderir ou não aquela instituição. 
A segunda subtese são os contratualistas, os contratualistas defendem a tese de que o 
casamento é um contrato, decorre da manifestação de vontade dos nubentes. Orlando 
Gomes é um contratualista e para ele o casamento é um ato muito formal, mas que ainda 
assim é um contrato, você só se casa se tiver manifestação de vontade originária e a 
declaração do juiz de paz por exemplo é só uma manifestação do ato formal. 
A terceira subtese é a tese mista ou eclética que defende que o casamento é um contrato 
instituição, é uma junção das duas teses anteriores, tem-se um contrato porque é uma 
manifestação de vontade, mas também é uma instituição porque apesar da manifestação 
 11 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
de vontade você tem vários barramentos legais/várias questões de ordem pública. Quem 
defende essa tese é o Silvio Rodrigues. 
Temos ainda as chamadas outras teses, a igreja por exemplo defende que o casamento é 
um sacramento, segundo a igreja o casamento é um dos 7 sacramentos. Segundo Ripert 
o casamento é um ato complexo. São variações minoritárias que não encontram grande 
adesão. 
Prevalece no Brasil a ideia de que o casamento é um ato privado. Mas a maioria da 
doutrina e da jurisprudência caminham com a tese contratualista dentro da privatista, 
enxergam o casamento como um contrato e se é contrato é negócio jurídico e se é 
negócio jurídico tem plano da existência, da validade e da eficácia. 
É justamente pelo fato de enxergamos o casamento como um contrato que existe 
progressivamente a facilitação do casamento 
3. Formas de casamento 
A primeira forma de casamento que é a regra geral no Brasil é o casamento civil (art. 
1512) e terá a sua celebração gratuita, a gratuidade é da celebração apenas, terão custas, 
taxas emolumentos em relação ao processo de habilitação e primeira certidão que se dá 
com o casamento. A pessoa que não tem condição de arcar com os valores solicitará 
gratuidade da justiça. 
A segunda forma de se casar é o casamento religioso com efeitos civis (art. 1515 do 
CC), para o casamento religioso ter efeitos civis você precisará fazer toda a habilitação 
natural do casamento, após finda toda essa habilitação você informará ao juiz que fará a 
celebração no religioso. Religiosa na verdade é apenas a celebração. Poderá se dar em 
qualquer religião, inclusive na questão do espiritismo. 
Têm-se ainda as chamadas formas especiais de casamento, são formas mais raras. A 
primeira delas é o chamado casamento por procuração (artigo 1542 do CC), é 
plenamente possível que no ato da celebração do seu casamento você se faça representar 
por um procurador. A lei exige que a procuração seja pública, além de pública essa 
procuração haverá de ter poderes especiais (expresso na sua procuração), deve ter 
validade de 90 dias (mesmo prazo da habilitação). 
A doutrina discute se a hipótese seria de procurador ou núncio (mero transmissor da 
vontade), ele difere do procurador porque o procuradorpossui o espaço decisório 
agindo no melhor interesse do mandante, enquanto o núncio não tem espaço decisório. 
Boa parte da doutrina entende que a hipótese é de núncio, mas o código civil chama de 
procuração. 
E se o transmissor da vontade transmiti-la de forma equivocada? Se houver uma 
transmissão equivocada de vontade vai se aplicar o artigo de parte geral, artigo 141 do 
CC o qual nos informa que o ato será anulável. Dentro de erro. 
É possível que o mandante desista do matrimônio, ele vai desistir revogando a 
procuração, ele terá até o último instante para desistir, mas essa revogação vai ter que 
ser por escritura pública. Se o procurador se casar representando alguém sem saber que 
essa procuração já está revogada, nessa situação o casamento será anulável. 
 12 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Anulação do casamento por procuração: Transmissão equivocada de vontade e 
revogação de procuração. Nas duas situações de anulabilidade o casamento pode ser 
convalidado desde que haja coabitação entre o mandante e a nubente ou nubente. 
A segunda forma especial é o casamento por moléstia grave, está regulado no código 
civil no artigo 1539. A moléstia grave é uma patologia, uma doença grave, mas que 
ainda não levou o sujeito ao iminente risco de vida. Por conta da moléstia grave o 
legislador civilista flexibiliza um pouco o procedimento do casamento, o artigo 1539 diz 
que o presidente do ato (o juiz) ou na sua ausência o seu substituto legal (juiz de paz por 
exemplo) ou até mesmo o oficial do registro civil nomeado ad hoc (para a prática de um 
só ato) irá até o doente celebrar o casamento ainda que a noite, lá chegando celebrará o 
casamento perante duas testemunhas que saibam ler e escrever, pegará o termo avulso 
(folha de papel) e o registrará no prazo de 5 dias. Dificuldade de operacionalização. Não 
precisa de habilitação. 
A terceira forma é a pôr iminente risco de vida (nuncupativo), está no código civil artigo 
1540. Aqui um dos nubentes ao menos está em iminente risco de vida. É a única 
hipótese de casamento sem a autoridade celebrante, não é precisa. Como a norma não 
exige autoridade celebrante ela exige um número grande de testemunhas, são seis 
testemunhas que não sejam parentes dos nubentes em linha reta ou na colateral até 
segundo grau. Não há formalidade de celebração e até 10 dias após a celebração do 
casamento será requisitado o seu registro. Se o sujeito que estava em iminente risco de 
vida não morrer ele deverá proceder ordinariamente a sua habilitação para o casamento 
o ratificando perante autoridade competente. Também não é necessária habilitação para 
ser feita mas se a pessoa não morrer precisa depois. 
Observação: No casamento nuncupativo e no casamento por moléstia grave flexibiliza-
se o processo de habilitação. 
4. Existência do casamento 
A doutrina tradicional trazia três requisitos para a existência do casamento, são eles: 
Diversidade de sexo, manifestação de vontade dos nubentes e autoridade materialmente 
competente. 
O primeiro requisito, o da diversidade de sexos hoje está ultrapassado, vencido 
(resolução 175 do CNJ). A crítica que se faz é que o permissivo para permitir o 
casamento do mesmo sexo se dá de forma de resolução enquanto alguns países 
modificaram por constituição ou leis infraconstitucionais enquanto só o Brasil faz isso 
por resolução. 
O primeiro requisito que persiste hoje é a manifestação de vontade dos nubentes. Se a 
autoridade celebrante verificar que o sujeito ou a cidadã não está em pleno gozo de suas 
faculdades mentais deverá suspender o ato segundo a lei de registros públicos. 
O segundo requisito que ficou é a celebração por autoridade materialmente competente. 
Segundo a doutrina acaso a autoridade tenha incompetência territorial relativa, exemplo: 
Juiz baiano que sem autorização celebra casamento em São Paulo, nesse caso o 
casamento será anulável (artigo 1550, inciso 6). Essa diferenciação entre incompetência 
material absoluta e territorial relativa quem faz é a doutrina, quem diferencia o tipo de 
 13 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
incompetência é a doutrina. A incompetência relativa estará no plano da validade e a 
material estará no plano da existência. 
Observação: O casamento de fato também chamado de casamento aparente (artigo 
1504 do CC) é aquele celebrado por autoridade incompetente, mas que publicamente 
exerce a função a de juiz de casamento e nessa condição levou o ato a registro. 
5. Validade do casamento 
Juízo de adequação, pertinência, vamos analisar o que o casamento precisa para que ele 
seja recebido pelo direito, efetivamente pertença ao direito. 
5.1 Capacidade núbil 
É a primeira coisa que vamos verificar dentro da validade. Com quantos anos você no 
Brasil poderá se casar? A época do código civil de 16 a capacidade núbil era de 18 anos 
para os homens e 16 anos para as mulheres. Hoje a capacidade núbil está unificada nos 
16 anos para homem e mulher. Se você entre 16 e 18 anos apesar de você ter a 
capacidade núbil para que você venha se casar precisará de uma autorização dos pais ou 
responsáveis. 
Esta autorização poderá ser revogada até o momento da celebração do casamento. 
E se o menor estiver sob a guarda unilateral de um dos pais? Bastará a autorização do 
guardião ou ambos haverão de autorizar? Ainda que o menor esteja sob a guarda 
unilateral de um dos genitores ambos haverão de autorizar o casamento pois a guarda 
não põe fim ao poder familiar. 
Se os pais divergirem entre si (artigo 1631 do CC) a autorização haverá de ser 
verificada pelo juiz de acordo com a proteção integral do menor. Ação de suprimento, o 
juiz decidirá de acordo com a proteção do menor. 
Além disso se a negativa dos pais for injusta também será viável o pedido de 
suprimento judicial pelo menor. Em ambos os casos de suprimento judicial se o menor 
vier a se casar ele se casará em regime de separação obrigatória de bens. É como se a lei 
trouxesse uma proteção a negativa de um dos pais ou de ambos. 
Quando há conflito na representação ou assistência haverá de ser nomeado um curador 
especial apenas para representar o menor nesse processo. No Brasil a regra geral é que o 
curador especial é a defensoria pública. 
O padrasto ou a madrasta precisam autorizar? Não porque o novo casamento/ a nova 
união estável não interfere no poder familiar anterior (art. 1636 CC). 
Se um dos genitores já faleceu o poder familiar automaticamente se concentrará nas 
mãos do outro. O outro poderá autorizar sozinho. 
Seria viável no Brasil ao menor de 16 anos de idade contrair matrimônio? Sim, em duas 
situações (art. 1520 CC). A primeira situação é a gravidez, a segunda hipótese é para 
livrar da imposição ou do cumprimento de pena criminal (antigamente o código penal 
no seu artigo 107 trazia como causa de extinção da punibilidade nos crimes contra os 
costumes o casamento com o ofensor ou eventualmente até mesmo o casamento com 
terceiro). Entretanto essa causa extintiva caiu através da lei 11.106 de 2005. O código 
 14 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
civil permitia o casamento do menor de 16 anos justamente para contemplar a essa 
hipótese penal. Pôr o código civil tratar da esfera penal que não mais é viável, sendo 
revogada leva alguns autores a sustentar a ideia de que no particular o código civil 
sofreu uma revogação tácita. Pessoas que tivessem praticado o ato antes da reforma e se 
casassem após ainda se valeriam dessa hipótese, hoje isso deixa de ser aplicado porque 
não tem como se aplicar mais. 
Apesar da capacidade núbil há de se recordar que para que haja o casamento o código 
civil exige uma legitimação pois há pessoas que são impedidas de se casarentre si. 
Exemplo: Mãe com o filho. 
 
5.2 Impedimentos 
São situações em que as pessoas não podem se casar entre si. Os impedimentos 
decorrem de parentesco e de questões éticas. Os impedimentos decorrentes de 
parentesco objetivam evitar o que chama a doutrina de turbação sanguínea (mistura de 
sangues). Filiação entre parentes tem um risco maior de defeitos genéticos. E as 
questões de ética são decorrente de boa-fé, confiança, etc. 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio 
contra o seu consorte. 
 
Inciso 1: Ascendentes com descendentes seja o parentesco natural ou civil 
Proíbe o casamento de avôs e netos, pais e filhos, ainda que seja adoção. 
Inciso 2: Afins em linha reta 
O parentesco por afinidade é aquele estabelecido entre o cônjuge ou companheiro e os 
parentes do outro. Cônjuges e companheiros não são parentes entre si, mas cônjuges e 
companheiros são parentes dos parentes do outro. Exemplo: Sogro, sogra, cunhada, 
cunhado. Chama-se por afinidade porque foi por escolha. O parente por afinidade em 
linha reta é sogro e sogra, esse parentesco é indissolúvel. Cunhada e cunhado é 
dissolúvel, ou seja, pode se casar. 
 15 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Inciso 3: 
A terceira hipótese é sobre sogra fazendo um inciso específico para adoção. É na 
verdade uma réplica do inciso 2. 
Inciso 4: Irmãos unilaterais ou bilaterais 
Irmão unilateral é o irmão só por parte de pai ou só por parte de mãe. Irmão bilateral 
também é chamado de irmão germano, do mesmo pai e mãe. A doação de sémen a 
médio prazo tende a gerar casamento entre irmãos unilaterais. Além dos irmãos 
unilaterais e bilaterais também não podem se casar colaterais de 3º grau (tios e 
sobrinhos). Existe um decreto lei 3200 de 41 no Brasil que autoriza o casamento entre 
tios e sobrinhos desde que haja laudo de dois médicos informando que não há risco a 
prole. A doutrina no enunciado 98 do CJF com base no artigo 2º parágrafo 2º da lei de 
introdução afirma que o decreto continua valendo em face do novo código civil de 2002 
porque lei nova que traga disposições gerais ou especiais a par (ao lado) de norma já 
existente não revoga nem modifica a lei anterior. Primos podem se casar porque primo é 
colateral de 4º grau. 
Inciso 5: Adotado com o filho do adotante 
Mais um inciso desnecessário, repete o que já diz antes. 
Inciso 6: Pessoas casadas 
Bigamia é crime, além de ser ilícito civil é também ilícito penal. 
Inciso 7: O cônjuge sobrevivente com o condenado de homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte 
 
O impedimento é uma questão de ordem pública por isso poderá ser arguido até o 
momento da celebração do casamento por qualquer pessoa capaz. Como é uma questão 
de ordem pública poderá até mesmo ser conhecido de ofício pelo juiz ou pelo oficial do 
registro. 
A consequência se casar e ninguém vir o impedimento será a nulidade absoluta do 
casamento, artigo 1548. É a única hipótese de nulidade absoluta do casamento. 
 
Aula: 22/08/2017 
5.3 Causas suspensivas 
São situações em que o legislador lhe aconselha a não casar. Art. 1523 do CC, o caput 
diz “não devem casar”. Esse aconselhamento existe porque há um receio de indevida 
mistura patrimonial, um medo de que o seu patrimônio do casamento anterior acabe por 
se misturar com o patrimônio do novo casamento. Causa suspensiva é uma questão de 
ordem privada, receio privado, particular. Receio de uma confusão patrimonial. 
Hipóteses no artigo 1523: 
 16 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Art. 1.523. Não devem casar: 
I - O viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer 
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II - A viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido 
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade 
conjugal; 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha 
dos bens do casal; 
IV - O tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, 
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a 
tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam 
aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, 
provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-
cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente 
deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 
Essas causas apenas aconselham, a pessoa pode seguir ou não. A consequência desse 
casamento é que você se casará no regime da separação obrigatória de bens, artigo 1641 
do CC. 
Quem tem legitimidade para arguir a causa suspensiva? Está no CC, artigo 1524. Tem 
essa legitimidade parentes em linha reta dos nubentes, consanguíneos ou afins e 
colaterais em segundo grau. 
É diferente do impedimento pois este é questão de ordem pública, trazendo a nulidade 
absoluta do casamento, aqui nas causas suspensivas a questão é de ordem privada e por 
isso o rol de quem pode arguir é mais restrito e sua consequência é o regime de 
separação obrigatória (menos gravosa que a nulidade do casamento). 
Observação: Caso os nubentes consigam demonstrar ao juiz ausência de prejuízo na 
liberação da escolha do regime de bens é possível que o juiz libere a causa suspensiva e 
libere a escolha. O juiz vai analisar e liberar a escolha na habilitação do casamento. 
5.4 Anulabilidades 
Impedimento Nulidade Absoluta 
Causa suspensiva Separação Obrigatória de bens 
Anulabilidades 
Anulabilidade vai ser tratada no artigo 1550 do CC, trazendo o rol de situações em que 
o casamento será anulável. Lembrando que a única hipótese de nulidade absoluta do 
casamento diz respeito ao impedimento. 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
 17 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da 
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
VI - por incompetência da autoridade celebrante. 
§ 1o. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. 
§ 2o A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair 
matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou 
curador. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
 
 Inciso 1: – Idade mínima para casar 
 Inciso 2: Menor em idade núbil não autorizado pelo representante legal 
Cuidado para não confundir a teoria das nulidades do casamento com as nulidades da 
parte geral do código civil, na parte geral do código civil aprendemos que a capacidade 
civil plena é atingida aos 18 anos, aqui em casamento nós aprendemos que a capacidade 
núbil se dá aos 16 anos. Temos no casamento um regramento especial,específico, por 
conta disso o casamento daquele que não completou a idade mínima para se casar ou 
ainda não teve autorização para tanto invariavelmente é anulável pouco importando a 
idade do sujeito. 
Entretanto se deste casamento resultar gravidez o artigo 1551 do CC nos informa que 
não será possível a sua anulação por motivo de idade (porque a gravidez é uma das 
hipóteses que mesmo o menor de 16 anos pode casar). 
Em relação a esta anulação do casamento por motivo de idade quem vai ter legitimidade 
ativa? Artigo 1552 do CC dá a resposta. Primeiramente é o próprio cônjuge, segundo da 
lista são os representantes legais e por último o ascendente. 
 Inciso 3: Por vício de vontade 
Os vícios de vontade podem ser dois, coação ou erro essencial quanto a pessoa. A 
coação é rigorosamente igual a coação da parte geral. O que tem um tratamento 
especifico aqui no casamento é o erro essencial quanto a pessoa, ele invariavelmente se 
dará por um fato anterior ao casamento cujo a descoberta se dá depois do casamento e 
torna insuportável a continuidade da vida conjugal. As hipóteses estão no artigo 1557 
do CC. 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
 18 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal 
que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge 
enganado; 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne 
insuportável a vida conjugal; 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não 
caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por 
herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua 
descendência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
 
Exemplo: Transgenitalização, cirurgia de redesignação sexual. Erro em relação a 
identidade da pessoa. 
STJ tem dois posicionamentos importantes acerca da cirurgia de transgenitalização. O 
primeiro posicionamento é que entende o STJ que uma vez realizada a cirurgia é 
possível alteração do registro civil, tanto do nome como do gênero sem nenhum tipo de 
prenotação. O segundo posicionamento é que recentemente o STJ através de decisão 
ainda isolada entendeu pela possibilidade da alteração da certidão de nascimento 
independentemente da cirurgia (hoje tem que se provar a inviabilidade cirúrgica). 
A segunda hipótese do artigo 1557 é a ignorância de crime anterior ao casamento que 
torne insuportável a vida conjugal. 
Inciso 3: Ignorância anterior ao casamento de defeito físico...... 
Sobre o defeito físico irremediável há a questão da impotência, a doutrina tradicionalista 
difere duas espécies de impotência, a impotência “generandi” e a impotência “coeundi”, 
a impotência “generandi” é a chamada infertilidade, a incapacidade de gerar filhos, 
todavia entende a doutrina que não é hipótese de anulação do casamento, já a 
impotência “coeundi” é a impossibilidade de praticar o ato sexual, para gerar a possível 
anulação do casamento tem de ser uma impotência “coeundi” anterior ao casamento que 
só foi descoberta posterior ao casamento. Neste caso, entende a doutrina tradicional que 
será viável a anulação do casamento. 
Observação: A deficiência não caracterizará erro essencial quanto a pessoa e nem será 
causa de anulação do casamento, artigo 1550 parágrafo 2º. Atualmente o casamento do 
deficiente é válido e ele poderá manifestar a sua vontade pessoalmente ou através do seu 
responsável ou curador. Mudança que veio do Estatuto da pessoa com deficiência. 
Observação: Fato superveniente, posterior ao casamento não gera anulação do 
casamento pois para gerar anulação quanto ao erro essencial quanto a pessoa o fato tem 
que ser anterior ao casamento e o seu conhecimento posterior. Se o fato é anterior e o 
conhecimento também é anterior não cabe anulação também. Nesses casos cabem ação 
de divórcio. 
Inciso 4: Incapaz de consentir ou manifestar de modo inequívoco o consentimento 
Caso de se casar embriagado. 
 19 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Inciso 5: Realizado pelo mandatário sem que ele ou …. 
Caso do procurador que não sabia da mudança de ideia. 
Inciso 6: Incompetência da autoridade celebrante 
 
Prazo de anulação: Vai variar de 180 dias a 4 anos, prazo decadencial e previsto no 
artigo 1560 CC. Para anular com erro essencial contra a pessoa: 3 anos, incompetência 
da autoridade: 2 anos. 
Observações: O casamento anulável pode ser convalidado (se você sabe do erro 
essencial por exemplo ou deixa passar o prazo você convalida). 
Observação: O casamento putativo, também chamado de aparente ou imaginário. Está 
regulado no artigo 1561 CC. É um casamento inválido, mas cujos os efeitos serão 
preservados para aquele que estiver de boa-fé. Se o casal estiver de boa-fé serão 
preservados para o casal, se apenas um dos cônjuges estiver de boa-fé para apenas um 
deles e se apenas a prole estiver de boa-fé apenas para os filhos. Esses efeitos (todos) 
serão preservados até a data da sentença anulatória do casamento. A putatividade dos 
efeitos para boa-fé vale também para os casamentos absolutamente nulos (exemplo: 
irmão que casam sem saber). 
6. Eficácia do casamento 
Quando falamos da eficácia do casamento falamos dos efeitos do casamento. O 
casamento é um contrato e sendo um contrato ele tem existência, validade e eficácia. 
6.1 Eficácia social 
O primeiro é alterar o seu estado civil, você de solteiro passará a casado. O segundo 
efeito social é que você pode adquirir o sobrenome do outro, é uma faculdade. O 
terceiro efeito social é a emancipação, o casamento emancipa. 
6.2 Eficácia pessoal (deveres) 
Tratados no artigo 1566 CC. 
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: 
I - fidelidade recíproca; 
II - vida em comum, no domicílio conjugal; 
III - mútua assistência; 
IV - sustento, guarda e educação dos filhos; 
V - respeito e consideração mútuos. 
 
 20 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
 O primeiro dever pessoal do casamento é a fidelidade recíproca, será que a 
quebra vai demandar conjunção carnal? Segundo a doutrina tradicionalista a 
quebra da fidelidade recíproca demandaria conjunção carnal, ela apoia o seu 
posicionamento no antigo tipo penal do adultério. A doutrina, todavia, moderna 
abraça a ideia de que a quebra da fidelidade recíproca não exigirá conjunção 
carnal, havendo a chamada infidelidade virtual (amplamente aceita pela doutrina 
majoritária, ainda que não quebre a fidelidade recíproca você quebra o respeito e 
consideração mútuos), a prova dessa traição tem que ser lícita. 
 O segundo dever do casamento é a vida em comum no domicílio conjugal, que 
pode se chamar de coabitação. A coabitação de acordo com a doutrina 
tradicional se divide em um aspecto objetivo e um subjetivo, o aspecto objetivo 
é a chamada “more oxorio” que é morar sob o mesmo teto, esse aspecto objetivo 
é cada vez relativizado, são vários os casais que não moram sob o mesmo teto. O 
aspecto subjetivo se chama de débito conjugal, a ideia é que o casamento gera 
aos cônjuges direito de relação sexual habitual, uma ideia que hoje já é 
ultrapassada. 
 O terceiro dever é a mútuo assistência que se divide num aspecto material 
(dinheiro) e se divide também num aspecto imaterial que é uma assistência 
moral. 
 O quarto dever é o sustento, guarda e educação dos filhos. 
 O quinto é o respeito e consideração mútuos. 
Observação: O STJ entende que a quebra da fidelidade recíproca por si só não é capaz 
de gerar dano moral, ou seja, você não estaria diante do dano moral puro ou in reipsa 
(decorre da própria conduta, a própria conduta já gera o dano). Além de comprovar a 
traição tem de ser comprovado o dano, a ação é uma ação complexa e a indenização não 
é muita. O mesmo STJ entende que o dever de fidelidade recíproca decorre do 
casamento, de maneira que o terceiro (amante) não poderá ser civilmente 
responsabilizado. 
 
Aula: 05/09/2017 
6.3 Eficácia patrimonial (regime de bens) 
O regime de bens é o estatuto jurídico patrimonial do casamento, ele é o responsável por 
regular o que será patrimônio exclusivo (incomunicável) bem como o que será 
patrimônio em comum (comunicável). Esse regime de bens é guiado por princípios. 
6.3.1 Princípios do regime de bens 
Na doutrina há uma discussão se seriam dois ou três os princípios do regime de bens. 
Carlos Roberto Gonçalves por exemplo, defende que são três: Liberdade, variedade e 
mutabilidade. Outros autores a exemplo do Flávio Tartucci defendem que são dois: 
Liberdade e mutabilidade. Luciano defende que são dois. 
 Liberdade ou liberdade de escolha: 
A regra geral é que os nubentes são livres para a escolha do regime de bens, é regra 
geral porque há situações previstas no artigo 1641 do CC em que não há liberdade de 
 21 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
escolha, em que a lei impõe o regime da separação obrigatória. São 3 situações: Maior 
de 70 anos (norma de proteção ao vulnerável, não é incapaz), a segunda hipótese diz 
respeito a causa suspensiva, a terceira hipótese é sobre quem se casar por suprimento 
judicial (autorização do juiz, estudado em capacidade núbil). Fora dessas exceções se 
tem a liberdade de escolha. O mecanismo jurídico que os nubentes vão utilizar para 
fazer a sua liberdade de escolha de regime de bens é o pacto antinupcial. O instrumento 
jurídico para que se escolha o regime de bens é chamado de pacto antinupcial. 
Mecanismo jurídico para exercício da liberdade de escolha. 
O pacto antinupcial também é chamado de pacto pré-nupcial ou convenção total. Esse 
pacto é um contrato que tem forma vinculada (escritura pública) e apenas produzirá os 
seus efeitos no momento do casamento (fica sob condição suspensiva). Código Civil 
artigo 1653. 
Pacto antinupcial realizado verbalmente ou por instrumento particular tem como 
consequência a nulidade absoluta. Se o pacto antinupcial for realizado por escritura 
pública e não acontecer o casamento a consequência jurídica é que esse pacto será 
ineficaz (artigo 125 do CC) já que a condição suspensiva não foi implementada (o 
casamento). O menor de 18 anos pode se casar e pode fazer pacto desde que seja com a 
presença do representante ou assistente. O código civil artigo 1654 dispensa a presença 
do representante ou assistente acaso o pacto eleja o regime de separação obrigatória de 
bens. 
Uma vez realizado o pacto é necessário que ele seja levado a registro no registro de 
imóveis do domicílio dos cônjuges. Acaso não levado ao registro não terá eficácia erga 
omnes (contra todos), vai conservar uma eficácia meramente inter partes (artigo 1657 
do CC). 
O pacto nada mais é como um contrato e como um contrato que o é ele tem que 
respeitar questões de ordem pública, se ele desrespeitar uma questão de ordem pública 
vamos invalidar apenas a cláusula desrespeitosa a questão de ordem pública. Isso é o 
que se chama de redução do negócio jurídico (artigos 184 e 1655 do CC). 
O pacto antinupcial a priori serve para a escolha do regime de bens. Caso não se realize 
o pacto ou o pacto for nulo, inválido, o seu regime de bens será o da comunhão parcial, 
artigo 1640 do CC. A comunhão parcial é o que chamamos de regime supletivo (a lei 
lhe dá a oportunidade de ao se casar se escolher o regime de bens, caso a pessoa não 
escolha o legislador acaba escolhendo e o regime será o da comunhão parcial). 
Estatisticamente a maior parte das pessoas que se casam no Brasil não fazem pacto e 
consequentemente tem como seu regime de bens a comunhão parcial. Há uma crítica 
porque os novos códigos civis de outros países já trazem a regra geral de regime como o 
de separação de bens por conta da quantidade de divórcios que se tem atualmente. 
Até 1977 o regime de bens era o da comunhão universal, por isso deve-se ficar atento na 
prática a data da certidão de casamento pois só se refere a comunhão de bens, mas se for 
antes de 1977 a comunhão será universal. 
O código civil traz uma espécie de cardápio de regime de bens, regimes típicos: 
Comunhão parcial, comunhão universal, separação obrigatória, separação convencional 
 22 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
e participação final dos aquestos. É possível que através do seu pacto antinupcial você 
crie um regime novo, híbrido, atípico, que misture as regras dos regimes existentes. A 
essa possibilidade de criação de um novo regime de bens a doutrina chama de variedade 
ou variabilidade, tem quem diga que isso é um novo princípio (Carlos Roberto 
Gonçalves por exemplo), para o professor isso é uma mera decorrência da liberdade. 
Uma discussão da ordem do dia é saber sobre a viabilidade do pacto antinupcial também 
regular questões/deveres pessoais. Gustavo Tepedino defende que é possível tendo em 
vista que o artigo 1639 ao regular a possibilidade do pacto antinupcial não restringe a 
questões meramente patrimoniais. Este posicionamento ganha cada vez mais adeptos 
como Cristiano Chaves e Maria Berenice Dias, sendo que o debate, porém se 
verticaliza/se aprofunda nos limites públicos deste regramento de deveres pessoais. 
A primeira cláusula de deveres pessoais: Afazeres domésticos (exemplo: fazer mercado, 
descer com o cachorro), a doutrina majoritária entende que é possível. 
A segunda cláusula: Direcionamento de formas reprodutivas (exemplo: só é possível 
filiação por método natural), a maioria da doutrina entende como viável, mas é uma 
cláusula desnecessária já que qualquer método artificial de criação exige consentimento 
atual e expresso. 
Terceira cláusula: Direcionamento do modelo educacional dos filhos (escolher a escola 
dos filhos por exemplo), a doutrina entende que não é viável porque por mais que os 
pais direcionem a escolha educacional dos filhos a partir de determinada idade a escolha 
acaba sendo em parte pessoal da criança. 
A quarta cláusula: Cláusula de infidelidade (não aplicar a finalidade recíproca por 
exemplo no casamento), a maioria esmagadora da doutrina defende que a questão fere 
norma de ordem pública, atingindo o princípio da monogamia, cláusula nula de pleno 
direito, segundo Maria Berenice Dias a monogamia não é um princípio expresso pois 
não se encontra nem no CC nem na CF artigo expresso que regule a monogamia. Maria 
Berenice dias diz que a monogamia tem uma função familiar organizacional, entretanto 
constata-se ainda na legislação infraconstitucional que implicitamente o legislador adota 
o valor da monogamia, exemplos: tipo penal de bigamia (artigo 235 do CP), 
anulabilidade da doação feita ao amante (artigo 550 CC), impossibilidade do concubino 
ser nomeado herdeiro (artigo 1801 CC), impossibilidade do concubino ser nomeado 
beneficiário de seguro, dever de fidelidade recíproca (1566 CC). Ainda assim parece 
que a monogamia não deveria ser enxergada como questão de ordem pública pois não 
há nada mais privado do que com quem eu me relaciono ou como eu me relaciono, não 
há moral pública mencionada ou prejuízo público. O fato de se ter uma escritura pública 
feita por tabelionato regulando divisão de bens entre trisais (casos do Rio de Janeiro) 
não significa que ela tem de ser reconhecida pelo poder judiciário. 
Quinta cláusula: Cláusula penal por traição, muito utilizada nos EUA por muitos anos. 
A maioria esmagadora da doutrina entende quea cláusula é nula por ferir questão de 
ordem pública. Já se encontra vários pactos antinupciais no Brasil com essa cláusula, o 
artigo 403 do código diz que quando a cláusula é abusiva o juiz pode fazer a redução 
equitativa, para evitar valores abusivos. 
 23 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
Sexta cláusula: Cláusula penal por término imotivado, há quem queira colocar essa 
cláusula no Brasil como uma espécie de alimento compensatório. É possível no Brasil. 
O professor é contra porque para ele essa cláusula fere a liberdade de sair do casamento, 
o casamento se torna uma espécie de prisão civil. Chamado também de divórcio 
falência. 
Sétima cláusula: Cláusula regulando as regras processuais do futuro divórcio, o código 
de processo civil no artigo 190 regula os chamados negócios jurídicos processuais, uma 
das aplicações dos negócios jurídicos processuais é o regramento pré-processual através 
do pacto antinupcial acerca das regras procedimentais do futuro divórcio. Enunciado 
número 18 da jornada de processo civil afirma que o pacto antinupcial pode se servir 
para regular as regras processuais do divórcio. A primeira cláusula diz respeito a 
possibilidade de imposição de mediação privada inclusive com dispensa da audiência de 
conciliação obrigatória do processo judicial. Uma segunda cláusula é a da dispensa de 
assistente técnico da hipótese de perícia. Terceira cláusula é a da limitação do processo 
até o tribunal de justiça (garante o duplo grau de jurisdição), há uma dificuldade de 
recurso e um maior atraso no processo. Quarta cláusula, pacto de apresentação de 
documentos (colocar no pacto antinupcial que a inicial já deve vir por exemplo com a 
declaração do IR de pelo menos 5 anos e a contestação também. Quinta cláusula, pacto 
ou cláusula regulando majoração do tempo para sustentações orais. Esses são alguns 
exemplos de cláusulas que se pode dispor para regular as regras processuais do divórcio 
e os negócios jurídicos processuais haverão de ser especializados segundo a 
complexidade da causa. 
Ainda nas questões do pacto antinupcial há cláusulas regulando questões mortuárias, 
como por exemplo ser cremado. Professor Zeno Veloso defende que é possível. 
 Princípio da Mutabilidade ou alterabilidade do regime de bens 
No Brasil historicamente o regime de bens de casamento era imutável, depois de 
escolhido não poderia se alterar a não ser por uma única situação em que era possível a 
mudança do regime de bens no curso do casamento (INDB, artigo 7º parágrafo 5º) que 
era a hipótese do estrangeiro casado ao adquirir a nacionalidade brasileira poderia 
requisitar ao juízo a adoção do regime de bens de regra geral do Brasil. Essa hipótese 
está no Brasil desde 1977, com o código civil de 2002 através das mãos do Professor 
Orlando Gomes, inspirado no direito comparado (Alemanha, Suíça, Itália, França e 
Espanha) passamos a permitir a mudança do regime de bens no curso do casamento. 
Para tanto é necessário que haja um processo chamado de ação de mudança de regime 
de bens (regulada pelo CPC no artigo 734). 
 Quais são os requisitos necessários para que eu altere o regime de bens no curso 
do casamento? 
O primeiro requisito é o pedido conjunto de ambos os cônjuges, a jurisdição é 
voluntária e o advogado poderá ser único. 
O segundo é o pedido motivado, deve haver motivo, não se pode trocar de regime de 
bens aleatoriamente já que a escolha do regime de bens atinge terceiros. Tipos de 
motivos: CC, artigo 977 diz que pessoas casadas entre si no regime de comunhão 
universal não podem ser sócias, receio que haja mistura indevida entre patrimônio social 
 24 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
e pessoal, nesses casos em que se quer ser sócio do cônjuge deve se entrar com uma 
ação para alteração do regime de bens que deve ser a escolha do casal. Outro exemplo 
de motivo clássico é a cessação da causa suspensiva (situações em que o legislador fica 
com receio de que haja uma confusão entre o patrimônio do casamento anterior e o 
atual). Após a partilha de bens do processo anterior acaba-se a causa suspensiva, sendo 
motivo para o cônjuge e sua esposa por exemplo entrarem com ação para mudança do 
regime. Outro exemplo são os motivos pessoais, um casamento com alguém que é 
empresário em um ramo arriscado por exemplo, a pessoa pode suscitar isso para querer 
mudar o regime de bens para separação total por exemplo. Há decisão de que não cabe 
ao juiz perquirir as razões do motivo, respeitando os requisitos pode-se fazer a 
separação. 
O terceiro requisito é a ausência de prejuízo a terceiros, justamente por isso o CPC 
exige a publicação de edital apenas podendo o juiz julgar 30 dias após a publicação do 
edital e justo por isso também que a doutrina defende que a mudança tem efeitos não 
retroativos, ex nunc. Ainda por conta da ausência de prejuízo a terceiros os respectivos 
tribunais de justiça tem resoluções exigindo a apresentação conjuntamente com a inicial 
de uma série de certidões para evitar fraude contra credores e fraude à execução. 
Observações: O novo CPC permite que ao invés de publicação por edital a parte indique 
meio alternativo (site, jornal de grande circulação, etc...). Observação 2: O novo CPC 
exige a participação do MP na ação de alteração de regime de bens, o MP tem que 
participar porque vai mudar o registro do casamento, se o MP participa para habilitar 
certidão de casamento ele também tem de estar presente na alteração. Observação 3: No 
particular o CPC merece algumas críticas, pecou o novo CPC em não permitir a 
alteração do regime de bens extrajudicial se todos forem maiores e capazes. Há um 
projeto de reforma que dentre as mudanças haja essa. Pecou também o CPC a não 
regular a necessidade de apresentação de plano de partilha e ouvida da Fazenda Pública 
para aquelas hipóteses em que você está modificando um regime mais ampliativo para 
um mais restritivo (exemplo: sair da comunhão universal para a separação total), na 
prática as pessoas já fazem essa partilha e ouvem a Fazenda Pública, mas o regramento 
não trata disso. 
Observação: A possibilidade de mudança de regime de bens começou com o CC de 
2002 e quem se casou antes de 2002 e está casado até hoje pode fazer essa alteração? 
É possível, o STJ de forma pacífica admite a alteração do regime de bens mesmo 
naqueles casamentos anteriores a 2002. Exige o STJ o respeito aos requisitos já 
estudados anteriormente. 
 Os fundamentos que o STJ se utiliza para permitir essa alteração são: 
 Isonomia (não seria lógico que quem se casou depois de 2002 pudesse alterar o 
regime e quem se casou antes não) 
 
 Para a doutrina majoritária a natureza jurídica do casamento é de contrato, o 
casamento é um negócio jurídico então a pergunta seria “qual a lei que vai reger 
o contrato celebrado antes da vigência do CC de 2002 e cujos efeitos continuam 
sendo produzidos após a vigência do CC 2002? ” O CC no art. 2035 ele regula 
uma regra de transição, uma regra de transição para contratos celebrados antes 
 25 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
da vigência do CC 2002 e cujos efeitos adentram a vigência do CC 2002, o CC 
diz que em relação a validade e a doutrina põe aqui também existência aplicar-
se-á a lei da época da confecção do contrato. Em relação a validade e existência 
em casamentos antes de 2002 vai se aplicar o CC de 16, em relação aos efeitos 
que é a chamada eficácia você vai aplicar a lei do respectivo período, ou seja, de 
95 a 2002 a lei que regula a eficácia é a do CC de 16, de 2003 para frente a lei 
que regula já é o CC de 2002. CC 2002 teve vigência em 2003. Podendo então 
para esse fundamento aplicar a alteração do regime de bens. Ao fazer a leitura do art. 2039 do CC de forma equivocada você pode ser levado 
a conclusão diversa e errada. Essa conclusão é equivocada porque o art. 2039 
apenas terá aplicação segundo o STJ nas hipóteses de regime supletivo (regime 
supletivo é aquele que a lei aplica na hipótese de silêncio dos nubentes). Até 
1977, no período anterior à lei 6515/77 o regime da regra geral no Brasil era o 
do regime universal de comunhão de bens, na época chamado apenas de 
comunhão de bens, a partir de 77 se você se casa e não escolhe regime esse será 
da comunhão parcial. A lei que regula o regime supletivo é o da época do 
casamento. 
Observação 2: O CC 2002 criou um novo regime de bens que é a participação final nos 
aquestos. Quem se casou antes de 2002 e que hoje altera o seu regime de bens pode 
alterar para participação final nos aquestos? Claro que pode porque a eficácia do 
casamento é regulada pela lei atual, vigente e a lei atual traz esse regime. 
Aula: 12/09/2017 
6.3.2 Espécies de regime de bens 
O CC trabalha com 5 espécies de regime de bens: 
Comunhão parcial de bens 
Comunhão universal de bens 
Separação convencional de bens (separação voluntária, absoluta ou total) 
Separação legal de bens (separação obrigatória, necessária ou cogente) 
Participação final nos aquestos 
Esse rol não é taxativo, é possível criar regime de bens atípico. 
 Comunhão Parcial: 
É a regra geral no Brasil, está no art. 1640 do CC, por isso é chamado de regime supletivo e é o 
que mais se vê na prática. A comunhão parcial é um produto da junção de dois regimes, da 
separação de bens e comunhão universal. A comunhão parcial tem uma regra geral, art. 1658 e 
1660 do CC, a regra geral é separação para o passado e comunhão para o futuro. A comunhão 
para o futuro terá como objeto principal os bens onerosamente adquiridos na constância do 
casamento. É por isso que alguns autores afirmam que na comunhão parcial haveriam três 
massas de bens, a primeira massa é patrimônio exclusivo do primeiro cônjuge, a segunda massa 
é patrimônio exclusivo do segundo cônjuge e a terceira massa de bens é o patrimônio comum. 
 26 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
O CC passa então a trazer hipóteses específicas de bens incomunicáveis (exclusivos) e hipóteses 
exclusivas de bens comunicáveis (bens comuns). 
O rol de bens incomunicáveis está no art. 1659 do CC. 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do 
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; 
O inciso 1 deixa claro que doações e heranças recebidos por apenas um dos cônjuges 
não comunica. O problema desse inciso é o da conta conjunta, se for recebido em conta 
conjunta gera solidariedade legal. 
O que significa bem sub-rogado? Sub-rogado para o direito significa substituído, 
exemplo: Recebi R$200.000,00 de herança, se com esse dinheiro você comprar um 
apartamento e divorciar o apartamento não se comunica pois ele é bem sub-rogado, 
substituído. Em casos que se compra algum bem com dinheiro recebido de doação + 
outro dinheiro já guardado a incomunicabilidade será apenas da parte percentual da 
herança. Como provar que o bem é sub-rogado? O mundo ideal seria que no contrato de 
aquisição do bem deveria descrever a origem do valor, já que não é o mundo ideal você 
vai ter que se valer das provas possíveis como por exemplo extratos bancários, 
comprovar que o valor dado no bem é exatamente aquele recebido, declaração de 
imposto de renda, existe uma dificuldade de se obter essas provas. 
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares; 
Exemplo: Ter um imóvel antes de se casar e após o casamento se vende esse imóvel e 
compra outro. Inciso muito utilizado para partilha de carros, lanchas, etc. 
III - as obrigações anteriores ao casamento; 
Obrigação anterior ao casamento cada um arca com a sua. 
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; 
Obrigação proveniente de ato ilícito salvo reversão em proveito do casal. Se ambos os 
cônjuges utilizarem o bem proveniente do ato ilícito se comunica. 
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
Um computador por exemplo como instrumento de profissão. 
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
Provento do trabalho pessoal de cada cônjuge, salário. 
 
 27 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
Pensões de uma maneira geral não comunicam. 
 
Art. 1660 – O que se comunica 
Art. 1.660. Entram na comunhão: 
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome 
de um dos cônjuges; 
Ainda que em nome de um só cônjuge. Se não conseguir encaixar nas exceções como 
doação ou herança se comunica. 
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa 
anterior; 
Fato eventual, bingo, jogo de azar, megasena por exemplo. Esse fato eventual é com ou 
sem despesa anterior e fato eventual com ou sem trabalho anterior. 
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; 
Doação ou herança em favor de ambos os cônjuges. 
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; 
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância 
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. 
São as benfeitorias e os frutos ainda que de bens particulares. 
Exemplo: Imagine que A é casado com B em regime de comunhão parcial de bens, se 
antes do casamento A tinha um imóvel, o imóvel é só de A, mas esse imóvel está em 
locação e durante o casamento esse imóvel gerou aluguéis. Os aluguéis se comunicam 
porque são frutos. 
Do mesmo jeito se comunicam as benfeitorias como por exemplo uma reforma. Outro 
exemplo de frutos são as safras geradas em fazendas. 
E a valorização imobiliária do patrimônio exclusivo? Há duas teses sobre isso, a 
primeira tese adotada pelo STJ é que valorização imobiliária é alea de mercado (fator de 
sorte) em relação ao qual não há nenhum esforço em comum, por conta disso não 
comunica, é a tese prevalente. A segunda tese que é a não prevalente é que seria um 
fruto do bem exclusivo e como tal comunicaria. 
Observação: O art. 1662 afirma que em relação aos bens móveis há uma presunção 
relativa (juristantum) de comunicabilidade. A presunção é relativa porque admite prova 
em contrário, se você conseguir provar que o patrimônio é próprio não se comunicam, 
se não conseguir irão comunicar. Esse artigo é muito utilizado a respeito dos bens que 
decoram o lar. Presente de casamento juridicamente é entendido como doação ao casal, 
vai ter que dividir meio a meio. 
 28 Caderno de Direito de Família – Letícia Maynard 
 Comunhão Universal: 
O patrimônio do casal torna-se uma espécie de condomínio relacionado a todos os bens. 
Comunicando os bens pretéritos e os bens presentes. Gera uma comunicação bem 
ampla, mas mesmo dentro da comunhão universal nós temos exclusões. 
As exclusões estão no art. 1668 do CC. 
Art. 1.668. São excluídos da comunhão: 
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em 
seu lugar; 
A doação ou herança na comunhão universal presume-se comunicável, só não vai se 
comunicar se tiver uma cláusula de incomunicabilidade nessa doação ou herança. 
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de 
realizada a condição suspensiva; 
Fideicomisso? É o instituto de direito sucessório que trabalha com

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