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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE NACIONAL DE DIREITOFACULDADE NACIONAL DE DIREITO Andre Luiz de Souza Menezes Danielle Cabral Machado Jean Martins Ribeiro Matheus Fraga Nunes Natália Freitas Santos Rodrigo Leituga de Carvalho Cavalcante APLICAÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO NO BRASILAPLICAÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO NO BRASIL uma abordagem geraluma abordagem geral RIO DE JANEIRO 2017.1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Andre Luiz de Souza Menezes Danielle Cabral Machado Jean Martins Ribeiro Matheus Fraga Nunes Natália Freitas Santos Rodrigo Leituga de Carvalho Cavalcante APLICAÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO NO BRASIL uma abordagem geral Trabalho de avaliação complementar para a disciplina Direito Internacional Privado I, da Faculdade Nacional de Direito (UFRJ), como requisito para aprovação na disciplina. Professor: Felipe Gomes de Almeida Albuquerque RIO DE JANEIRO 2017.1 “Se a vida fosse caminho sabido, eu não hesitaria em perguntar para onde ir; mas como a vida é o sabido caminho, eu não me canso de insistir.” Paulo de Tarso SUMÁRIO 1) INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1 2) USO DO DIREITO ESTRANGEIRO EM OUTROS PAÍSES .................................. 2 2.1) ESTADOS UNIDOS ........................................................................................ 3 2.2) EUROPA...........................................................................................................4 2.2.1) INGLATERRA ........................................................................................ 4 2.2.2) ITÁLIA .................................................................................................... 5 3) USO DO DIREITO ESTRANGEIRO NO BRASIL .................................................. 6 3.1) DOUTRINA ..................................................................................................... 6 3.2) JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................ 7 4) CONCLUSÃO ......................................................................................................... 9 5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 10 1 1 - INTRODUÇÃO Diante dos primeiros contatos com o tema da aplicação de lei estrangeira no território nacional, é comum um rápido estranhamento à ideia de se admitir que legislação estranha ao direito pátrio ― às vezes, expressamente contrária até ―, possa ser aplicada e ter os seus efeitos operados no nosso ordenamento jurídico. Associa-se, logo de imediato, o princípio da soberania como característica essencial da existência dos Estados de Direito. De fato, é da soberania que são extraídos os conceitos de independência nacional, igualdade entre os Estados, autodeterminação dos povos e não intervenção (TIBURCIO, 2014). Por esse princípio, cada Estado tem autonomia para elaborar a sua própria ordem jurídica. Contudo, é exatamente o conflito de leis no espaço que se funda o objeto central do Direito Internacional Privado (DIPr), imerso em um espaço em que coexistem diversos ordenamentos jurídicos. E diante desses conflitos, a busca do ideal de justiça por cada Estado (fundados em uma perspectiva de solução pacífica de conflitos) acaba por justificar as razões de se aplicar o direito estrangeiro, exatamente nos casos em que a relação jurídica tiver maior conexão com outro sistema jurídico do que com o do foro. É como nos ensina o professor DOLINGER (2017), no sentido de que: “ a compreensão de que em determinadas circunstâncias faz-se mister aplicar lei emanada de outra soberania, porque assim se poderá fazer melhor justiça, e o reconhecimento de que em nada ofendemos a nossa soberania, nosso sistema jurídico, pela aplicação de norma legal de outro sistema [...]” (p. 373) Importante ressaltar, de igual forma, que o DIPr se volta a determinar não somente qual norma é aplicável a um conflito de leis que possua conexão internacional, como também a questões relativas à nacionalidade, à condição jurídica do estrangeiro e aos limites de sua aplicação. Na prática, essa necessidade decorre dos intensos fluxos verificados nas últimas décadas de pessoas de diferentes países, firmando negócios, unindo-se afetivamente (por meio do casamento, por exemplo) etc, o que tem gerado o surgimento de tais litígios, exigindo que o DIPr indique em que local tal conflito 2 deverá ser acionado, qual a lei será aplicada e, em determinadas situações, como serão executados atos e decisões estrangeiras. É neste sentido que tentou-se desenvolver este trabalho, abordando de forma geral, tópicos atinentes à aplicação de norma estrangeira no Brasil, nos EUA e em alguns países da Europa (Inglaterra e Itália). 2 - USO DO DIREITO ESTRANGEIRO EM OUTROS PAÍSES A aplicação das normas estrangeiras na ordem jurídica interna de cada país é um assunto que depende da faculdade disposta em cada sistema jurídico, por meio de tratados internacionais ou mandamento legal da legislação interna, que possibilita ao juiz resolver um caso concreto com base no direito estrangeiro. As normas de direito internacional privado, em sua essência, designam o direito aplicável a relações jurídicas de direito privado com conexão internacional. Neste caso, a aplicação será sempre do direito interno ou um de direito estrangeiro. Na maioria dos países, o magistrado pode aplicar o direito estrangeiro ex officio. É o caso dos países signatários Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito Internacional Privado, de 1979, assinada em Montevidéu (Argentina, Brasil, Cuba, Honduras, Venezuela e Uruguai, por exemplo). Se nenhuma das partes postular a aplicação de norma que possa resultar em solução, segundo o direito alienígena, ao autor compete o ônus da prova, entendimento adotado por diversos países. Neste sentido, o Código Civil espanhol dispõe no art. 12, § 6º: “Os tribunais e as autoridades aplicam as regras de conflito do direito espanhol. A pessoa que invoca o direto estrangeiro apresentará a prova do conteúdo e da vigência, por todos os meios de prova admitidos na lei espanhola. Porém, para sua aplicação, o juiz poderá valer-se de quantos instrumentos de averiguação considerar necessários, adotando as medidas oportunas.” Além da Espanha, Portugal também adota a mesma posição no art. 348, §1º, in verbis: 3 “(Direito consuetudinário, local, ou estrangeiro). 1. Àquele que invocar direito consuetudinário, local, ou estrangeiro compete fazer a prova da sua existência e conteúdo; mas o tribunal deve procurar, oficiosamente, obter o respectivo conhecimento.". Algumas regras para a aplicação do direito estrangeiro são a recepção formal, a recepção material e a aplicação sem incorporação (aplicação da norma jurídica não possui qualquer incorporação ou integração com regime jurídico do lex fori). Assim como existem regras para aplicação em tela, também existem limites, que devem ser observados como o princípio de ordem pública, no caso brasileiro, onde o direito estrangeiro que fere a ordem pública pode até ser válido, mas é ineficaz, exemplo é o divórcio islâmico. 2.1 - ESTADOS UNIDOS (EUA) Apesar dos Estados Unidos da América (EUA) se distanciarem do direito inglês, ainda é regido pelo sistema da common law, onde o direito estrangeiro não é considerado norma jurídica,mas sim um fato, devendo ser suscitado e comprovado a vigência e o conteúdo pelas partes nos processos, sob pena de improcedência da pretensão das partes. Tal entendimento está firmado no julgamento do caso Leo WALTON, Plaintiff v. Arabian American Oil. Company, na seguinte regra: “A regra geral federal é que a "lei" de um país estrangeiro é um fato que deve ser provado”. Sendo assim, caso não haja legislação que permita aplicação de ofício, o magistrado norte-americano não poderá solucionar o caso sem que antes as partes suscitem o direito estrangeiro, considerado fato no ordenamento jurídico americano. No mais, em geral, a aplicação de direito estrangeiro não pode violar o bem público, que seja prejudicial à segurança pública ou à administração da justiça. No caso do casamento, a regra geral é que a validade é determinada pela regra do local da celebração; entretanto, casamentos poligâmicos ou que violem políticas públicas do estado de residência do casal, no caso de casamentos incestuosos e realizados sob a Lei da Sharia (lei islâmica), por exemplo, não são reconhecidos. Ainda no tocante à aplicação do direito estrangeiro no país norte-americano, cabe ressaltar que dez estados proíbem a aplicação de qualquer lei estrangeira nos 4 tribunais estaduais (Alabama, p. ex.) e outros, mais moderados, permitem a aplicação de direito estrangeiro, prevalecendo o disposto na legislação local e na Constituição norte-americana. É interessante notar que há um aumento na introdução de legislações que limitam ou até mesmo rejeitam a aplicação de precedentes, jurisprudência, legislação internacional ou estrangeira nos EUA no período compreendido a partir de 2013 (case Awad v. Ziriax , State Supreme of Court of Oklahoma), inclusive nos direitos relativos a contratos, família, arbitragem e responsabilidade civil que envolvam transações internacionais. 2.2 - EUROPA 2.2.1 - INGLATERRA Ao contrário do Brasil, para o direito inglês, o direito estrangeiro é um fato, e não lei, e o juiz pode aplicá-lo apenas se for suscitado e aprovado pelas partes processuais. Desse modo, prevalece o princípio da necessidade da prova, que diz que o que não está nos autos, não está no mundo. Assim, tudo aquilo que diz respeito ao Direito estrangeiro, que tenha sido utilizado com argumento para que o mesmo seja aplicado pelo juiz na causa em questão, deve ser provada a sua existência e vigência no ordenamento jurídico do país que teve sua legislação mencionada nos autos. Além disso, ao contrário das questões comuns de fato, em que a decisão sobre eles só tem efeitos entre as partes de um litígio específico, para o Direito inglês, a decisão sobre um fato em Direito estrangeiro pode surtir efeitos para demais situações semelhantes, podendo ser usado como prova do mesmo fato. Porém, será excluída como inadmissível se não for considerada relevante para o novo caso de nenhuma forma, e a pessoa mais apropriada para julgar se a prova do Direito estrangeiro, por meio de decisão em outros casos deve ser admitida, é o próprio juiz do julgamento. Entretanto, pelo fato de o Brasil considerar o Direito estrangeiro lei, e não um fato, tal princípio não se aplica aqui. Então, mesmo que não reste demonstrado nos autos do processo a existência e a vigência da norma jurídica estrangeira em seu 5 país de origem, isso não impede a aplicação da mesma pelo juiz do processo, se dela ele tiver ciência do teor e da vigência. Ademais, aqui não é necessária a provocação de nenhuma das partes para que uma norma jurídica estrangeira se aplique; o juiz pode o fazer de ofício. No entanto, há uma exceção a essa regra brasileira, prevista em nosso Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 376, que diz que: “A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar”. Sendo assim, em situações excepcionalíssimas, o juiz pode exigir prova do direito estrangeiro, semelhantemente ao direito inglês. Porém, se o teor e a vigência de uma determinada norma jurídica estrangeira não restarem comprovados nos autos, a doutrina majoritária entende que, por conta do art. 140 do CPC/2015, que afirma que “o juiz não se exime de decidir sob alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”, o juiz deve aplicar o direito que seria provavelmente vigente naquele país de onde se extraiu a norma, mas somente se essa probabilidade fosse muito forte, senão seria melhor dar preferência para uma norma brasileira. 2.2.2. ITÁLIA Diferentemente do Direito inglês, na Itália, o Direito estrangeiro é considerado norma jurídica, e não um fato, por isso, pode ser aplicado de ofício pelo juiz, mesmo que não suscitado pelas partes nos autos do processo, se assemelhando ao Brasil. Faz parte das competências do julgador identificar o Direito aplicável ao caso específico (iura novit curia). Além disso, o Direito italiano não permite a aplicação de norma jurídica estrangeira contrária à ordem jurídica internacional e à segurança, e não permite que as leis italianas sejam derrogadas por uma norma de direito estrangeiro, se esse fato decorrer do objeto e da finalidade das normas da legislação nacional italiana. Quanto à prova da vigência e do conteúdo do Direito estrangeiro, ao contrário do Brasil, a mesma é exigida, e pode ser realizada de ofício pelo Tribunal e também com o auxílio das partes processuais. Se não for possível a demonstração, aplica-se a lei italiana. 6 3 - USO DO DIREITO ESTRANGEIRO NO BRASIL 3.1 - DOUTRINA No Brasil, o direito estrangeiro é considerado questão de direito e não um fato. Essa constatação pode ser inferida do artigo 14 Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB): “Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.” O Código de Processo Civil brasileiro, em seu artigo 346, equipara o direito estrangeiro ao direito estadual e municipal, colocando-os no mesmo patamar: “Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar.” Com essas constatações, podemos verificar que o direito estrangeiro pode ser aplicado de ofício pelo juiz no Brasil. Não há necessidade de invocação e nem de qualquer comprovação pela parte interessada no processo. O Direito Internacional Privado, no Brasil, considera que se a norma estrangeira for caracterizada como lei ela deverá ser aplicada no Brasil. Essa aplicação poderá ser invocada em qualquer fase do processo, além do uso em ação rescisória e como objeto de recurso especial quando admitido. O direito estrangeiro deve ser aplicado no Brasil toda vez que uma de suas regras de conexão assim exigir. Isso é expressamente exigido na LINDB, como visto nos exemplos abaixo: “Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995); 7 § 2º A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.” A Convenção sobre Regras Gerais de Direito Internacional Privado preconiza a aplicação do direito estrangeiro por juízes e autoridades da mesma forma que seria feito no Estado onde a lei é aplicada. Tambémconsta na Convenção que todos os recursos previstos na lei do foro serão admitidos nos casos em que o direito de qualquer um dos outros Estado seja aplicável. Isso demonstra que o direito estrangeiro e o local podem ser considerados equivalentes. 3.2 - JURISPRUDÊNCIA Sobre a jurisprudência pertinente à questão da aplicação do direito estrangeiro no Brasil, far-se-á a partir de uma análise dos acórdãos do Recurso Especial nº 254.544-MINAS GERAIS (2000/0033853-2) e do Recurso Ordinário-RO, TRT/SP nº 000061554201250202271 - 14ª TURMA. A questão contida no Recurso Ordinário supramencionado trata do assunto de aplicação do direito estrangeiro no Brasil na parte que dispõe sobre o reconhecimento e eficácia de vínculo trabalhista formado em um país e exercida a atividade laboral em outro. O recorrente alega que não foi formado vínculo empregatício, suscitando até mesmo uma Súmula do nº 207/TST, que já havia sido revogada. Por esta súmula, a questão do conflito de leis no espaço era solucionada a partir do entendimento de que a lei que regia o contrato de trabalho era a do local de prestação do serviço e não a do local da contratação, princípio da lex loci execucionis. Com esta revogação reforça-se a ideia de que deve valer a lei onde o vínculo foi formado. Voltando à decisão contida no acórdão, além de ser rechaçada a fundamentação do recurso a partir da Súmula ora mencionada, é dito pelo juízo que o ônus de provar direito estrangeiro, no caso uma da Lei da Angola, é de quem alega, da recorrente. Isto está disposto no art. 376 do NCPC (no acórdão o ainda art. 337 CPC/73), no qual a parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário deve provar o teor e a vigência caso o juiz assim determine, e no art. 14 do CC, no qual o juiz, não conhecendo a lei estrangeira, pode exigir de quem 8 a invoca a sua prova e vigência. Nada disso, no caso em questão, foi feito pela recorrente, que não acostou qualquer legislação possivelmente pertinente. No caso em questão, ainda foi suscitado, e ratificado pelo juízo, a ideia de que deve-se observar, para esse caso, o princípio da lei mais benéfica ao trabalhador que presta o serviço no exterior, que levaria por terra, ainda assim, qualquer possibilidade de aplicação da lei angolana no caso, já que a brasileira, a partir da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) seria mais protetiva, benéfica ao trabalhador. Tal trecho da decisão contida no acórdão pode aqui ser destacado: “EMPREGADO CONTRATADO PARA PRESTAR SERVIÇOS NO EXTERIOR. ÔNUS DE PROVAR DIREITO ESTRANGEIRO. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE E PRINCÍPIO DA LEI MAIS BENÉFICA. O ônus de provar direito estrangeiro é da parte que o alegar, nos termos do art. 14 da Lei de Introdução ao código Civil c/c art. 337 do CPC. Na análise do caso concreto e das leis trabalhistas (tanto do país de contratação quanto do país de prestação do serviço) o juiz deve utilizar a legislação mais benéfica ao trabalhador, sendo inaplicável a Súmula 207 do TST, cancelada em abril de 2012. […] Com relação à aplicação da Súmula nº 207 do TST, não restam dúvidas quanto à sua inaplicabilidade, uma vez que a mesma foi cancelada, conforme Res. 181/2012, DEJT divulgado em 19, 20 e 23.04.2012. Além disso, o ônus de provar direito estrangeiro, no caso a Lei Angolana, é da recorrente. Assim dispõe o art. 337 do CPC: "A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz". E o art. 14 da LICC, por sua vez, prevê que "Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência". A recorrente, entretanto, não trouxe a legislação que entende aplicável. Por outro lado, como muito bem fundamentado em sentença, o princípio da lei mais favorável exige que seja aplicada a legislação mais benéfica ao trabalhador que presta serviço no exterior, no caso, a lei brasileira. Nada a reparar.” (TRT-2 - RO: 00006155420125020271 SP 00006155420125020271 A28, Relator: MANOEL ARIANO, Data de Julgamento: 12/03/2015, 14ª TURMA, Data de Publicação: 20/03/2015) 9 Agora, entrando em questão tratada pelo REsp que será aqui apresentado, há, na doutrina, diversas formas de resolução da problemática contida na situação em que não é possível provar o conteúdo do direito estrangeiro de qualquer forma (como por exemplo, a partir do contido no art. 409 do Código de Bustamante - interpretação dominante do assunto por 2 juristas habilitados no Estado do direito que se quer provar). Uma delas é procurar a forma de prova do conteúdo do direito estrangeiro no ordenamento jurídico de um país com tradição jurídica similar. Outra maneira é solucionar a questão a partir de princípios gerais de direito. Uma ultima alternativa aqui apresentada seria considerar que não houve elemento de conexão, devendo-se utilizar um elemento subsidiário. Apesar de não haver qualquer regra expressa, no ordenamento brasileiro, sobre o assunto, a decisão contida no REsp em questão, acabou por formar jurisprudência no sentido de que, nesse caso, deve ser aplicado o direito brasileiro, como segue no trecho pertinente: “DIREITO ESTRANGEIRO. PROVA. […] Não sendo viável produzir-se essa prova, como não pode o litígio ficar sem solução, o Juiz aplicará o direito nacional” (grifo nosso) […] (STJ - REsp: 254544 MG 2000/0033853-2, Relator: Ministro EDUARDO RIBEIRO, Data de Julgamento: 18/05/2000, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 14.08.2000 p. 170 LEXSTJ vol. 135 p. 239 RSTJ vol. 137 p. 380) 4 - CONCLUSÃO O contínuo e crescente processo de globalização sob a qual a sociedade contemporânea foi emanada acarretou o surgimento de inúmeros conflitos acerca da aplicação da lei no espaço, onde concorrem diversos ordenamentos jurídicos. Por conta disso, é imprescindível para um jurista, inserido em tal contexto, conhecer as hipóteses e procedimentos em que determinada norma será aplicada em decorrência de um conflito ou ausência de leis que versem sobre determinado caso concreto de direito internacional. Assim sendo, foram apresentadas as aplicações de normas estrangeiras na ordem jurídica interna de diversos países e suas variadas peculiaridades, para, 10 posteriormente, compará-las com o adotado no Brasil, explicitando suas diferenças e semelhanças. Diante de todo exposto, o presente trabalho possibilitou conhecer diversas formas de aplicação da lei estrangeira ao redor do mundo e sua correlação com o uso da lei estrangeira no Brasil, questão fundamental para o Direito Internacional Privado. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>. Acesso em: 25 de jun. 2017. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 254.544-MINAS GERAIS (2000/0033853-2). Relator: Ministro EDUARDO RIBEIRO. Brasília, 18 de maio de 2000. Lex: Revista do STJ, v. 137, n. 103, p. 380, ago. 2000. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/webstj/Processo/justica/jurisprudencia.asp? valor=200000338532> Acesso em: 24 jun. 2017. BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP). Recurso Ordinário nº 00006155420125020271. Relator: MANOEL ARIANO. São Paulo, 12 de março de 2015, 14ª Turma. Disponível em <https://goo.gl/3Fzt4M> Acesso em 24 jun. 2017. CAMPOLINA, Flávio de Paula. Aplicação e prova do direito estrangeiro na jurisdição brasileira. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 12, no752. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=2105> Acesso em: 24 jun. 2017. DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Forense, 2010. 11 DOLINGER, Jacob; TIBURCIO, Carmem. Direito Internacional Privado. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. DOLINGER, Jacob. Parecer “Aplicação do direito estrangeiro - ônus da prova - sentença - escolha da lei aplicável pelas partes - papel do magistrado - apreciação pelo tribunal". Publicado em 15 de dezembro de 1997. BB Leasing Company Ltda. Disponível em: <http://xoomer.virgilio.it/leonildoc/curso/dolinger6.htm>. Acesso em: 25 de jun. 2017. ENGLAND AND WALES HIGH COURT (CHANCERY DIVISION) DECISIONS. [2017] WLR(D) 93, [2017] EWHC 150 (Ch). Disponível em: <http://www.bailii.org/ew/cases/EWHC/Ch/2017/150.html> Acesso em 24 jun. 2017. ESPANHA. Código Civil, 1889. Disponível em: < http://civil.udg.es/normacivil/estatal/CC/tprel.htm>. Acesso em: 25 de jun. 2017. NATIONAL CONFERENCE OF STATE LEGISLATURE. “Legislation Recarding the application of foreign law by State Courts.”. Publicado em 16 de Junho de 2017. Disponível em : <http://www.ncsl.org/research/civil-and-criminal-justice/2017- legislation-regarding-the-application-of-foreign-law-by-state-courts.aspx>. Acesso em: 23 de jun. 2017. PORTUGAL. Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de novembro de 1966. Aprova o Código Civil e regula a sua aplicação e revoga, a partir da data da entrada em vigor do novo Código Civil, toda a legislação civil relativa às matérias que o mesmo abrange. Disponível em: <http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php? ficha=301&artigo_id=&nid=775&pagina=4&tabela=leis&nversao=&so_miolo> Acesso em: 24 de jun. 2017. REDE JUDICIÁRIA EUROPEIA EM MATÉRIA CIVIL E COMERCIAL. Direito aplicável na Itália. Disponível em : <http://ec.europa.eu/civiljustice/applicable_law/applicable_law_ita_pt.htm> Acesso em 24 jun. 2017. 12 TIBURCIO, Carmem. Constituição e relações internacionais. Universitas JUS, Centro Universitário de Brasília, v. 25, n. 1, p. 1-24, 2014. Disponível em: <https://www.publicacoes.uniceub.br/jus/article/view/2889/2313> Acesso em: 24 jun. 2017. VOLOKH, Eugene. “The Volokh Conspiracy - Laws that try to restrict state courts’ application of foreign law.”. The Washington Post. Publicado em 29 de janeiro de 2014. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/news/volokh- conspiracy/wp/2014/01/29/laws-that-try-to-restrict-state-courts-application-of-foreign- law/?utm_term=.5adf0a00b775>. Acesso em: 25 de jun. 2017.
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