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CONTESTAÇÃO SEÇÃO III

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE CONTAGEM, ESTADO DE MINAS GERAIS
Processo Número.
Reclamante: Joana das Graças
Reclamada: Posto Tigrão
	POSTO TIGRÃO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ 25.255.555/0001-00, com endereço na Avenida Rebouças, Número 1000, Bairro Pinheiros, CEP, estabelecida na cidade de São Paulo/SP, por intermédio da sua advogada devidamente constituída, inscrita na OAB/UF sob n, com escritório profissional na Rua , Número, Bairro, Cep, Cidade/Estado vem permissa data venia à presença de Vossa Excelência com fundamento no artigo 847 da CLT, c.c com o artigo 341 do CPC, apresentar:
CONTESTAÇÃO 
À Reclamação Trabalhista, movida por JOANA DAS GRAÇAS, brasileira, solteira, inscrita no CPF 123.456.789-00, RG, residente e domiciliada na Avenida do Trabalhador, Número 50, Bairro das Indústrias, CEP, na cidade de Contagem/MG. Pelas seguintes razões de fato e de direito a seguir:
I – SÍNTESE FÁTICA
	Alega a reclamante ter sido admitida pela empresa reclamada, conforme o contrato de trabalho assinado em dia 03/04/2015, na modalidade de experiência, com vigência até 30/05/2015, cuja função exercida era a de frentista, tendo por atribuição abastecer e realizar troca de óleo dos automóveis.
	A jornada de trabalho, anotada corretamente nos cartões ponto, correspondia de segunda a sexta-feira, das 09:00 horas às 18:00 horas, com uma hora de intervalo para refeição e descanso. Além de laborar em sábados alternados, no mesmo horário realizado semanalmente.
	O salário percebido pela reclamante era de R$ 2.000,00 (dois mil reais) além do adicional de periculosidade no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais).
	Uma semana após o término do contrato descobriu que estava grávida. Nesse contexto postula pelo pagamento de verbas trabalhistas e adicional de insalubridade pelo período de gestação.
	Não obstante os argumentos levantados pela reclamante, a ação não merece ser acolhida conforme restará demonstrado a seguir.
	
II – PRELIMINARMENTE
	A reclamante, em inicial declarou ser pobre nos termos da lei. No entanto, para a concessão do benefício, necessário o preenchimento dos requisitos legais, quais sejam a comprovação de insuficiência financeira, esta não realizada pela autora.
	Nesse sentido, o art. 14 da Lei 5.584/70 dispõe que: 
Art. 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer ao trabalhador.
§ 1º A assistência é devida a todo aquele que perceber salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica não lhe permite demandar, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.
§ 2º A situação econômica do trabalhador será comprovada em atestado fornecido pela autoridade local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, mediante diligência sumária, que não poderá exceder de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 3º Não havendo no local a autoridade referida no parágrafo anterior, o atestado deverá ser expedido pelo Delegado de Polícia da circunscrição onde resida o empregado.
	
Destarte, tanto pela remuneração superior ao valor disciplinado no §1º, quanto a falta de comprovação de pobreza da reclamante, pugnamos desde já pelo indeferimento da concessão do benefício da justiça gratuita. 
III – MERITUM CAUSAE
ESTABILIDADE NO EMPREGO – INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA
A reclamante, firmado contrato de experiência, laborou no Posto Tigrão no período de 03/04/2015 à 30/05/2015. Afirmou que uma semana após o término do contrato soube, por meio de exames médicos realizados que estava grávida, já contando com 6 (seis) semanas de gestação, e o parto ocorrendo em 15/02/2016.
	Ocorre que, sabendo fazer jus ao direito, a reclamante manteve-se inerte durante todo o período que gozaria da estabilidade, requerendo, apenas após findo o referido período, buscar o judiciário pleiteando indenização substitutiva, demonstrando assim a quebra da boa-fé no contrato de trabalho. Sobre a boa-fé inclusive, o Código Civil em seu art. 422 traz a seguinte redação:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
	
	Além disso, no mesmo diploma legal o art. 187 dispõe que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Resta evidente tal conduta de abuso de direito ao verificar que a reclamante quebrou com o princípio da boa-fé, pois, podendo pleitear em tempo o direito de estabilidade, e existindo a possibilidade de reintegração no emprego, preferiu esperar vencer o referido período para então requerer a indenização substitutiva, e dessa forma, mais parece imperar não a vontade da reclamante de requerer o que é licito, antes, a desta enriquecer ilicitamente na forma do art. 884 da lei civil.
	Em nenhum momento a reclamante procurou informar a empresa dos fatos, do contrário, mudou-se de cidade e estado, tendo a reclamada recebendo notícias da autora apenas quando esta ajuizou, de má-fé a presente reclamação trabalhista. 	
Cabe ressaltar que tais normas levantadas em questão são válidas e aplicáveis ao direito do trabalho conforme estabelece a CLT em seu art. 8º parágrafo único.
	Não é justo, pois, que a empresa que sempre esteve de portas abertas e pronta a resolver e cumprir com suas obrigações, seja condenada à indenização substitutiva, sem ao menos ter tido a chance de, sendo viável, oferecer a reintegração no trabalho. Pelo contrário, justo é reconhecer que de má-fé a reclamante mudou de domicílio e quedou-se inerte, mesmo sabendo do direito que possuía, para só depois de transcorrido o prazo que poderia ser reintegrada ao emprego, pleitear indenização substitutiva. Justo ainda é reconhecer a intenção de a reclamada enriquecer-se ilicitamente.
	Cediço que a legislação trabalhista tem por escopo a proteção do trabalhador, porém, não pode o operador do direito, sobretudo aquele a quem cumpre a função de decidir, abster-se de vislumbrar a má-fé de muitos trabalhadores. Estes, ressalvados seus direitos inquestionáveis, devem ser punidos pela má-fé que praticam, não podendo o direito coadunar com tais condutas, antes reprimi-las. É o que desde já se pugna. Pelo não acolhimento da indenização substitutiva pelos argumentos apresentados.
	
JORNADA DE TRABALHO – REGIME DE COMPENSAÇÃO – HORAS EXTRAORDINÁRIAS
	Aduziu a reclamante que trabalhou na empresa de segunda a sexta-feira, das 09:00 horas às 18:00 horas, com uma hora de intervalo para refeição e descanso. No mesmo período, trabalhou em sábados alternados, caracterizando a chamada “semana espanhola”, nesta modalidade em uma semana são trabalhadas 48hrs e em outra apenas 40, descansando 8hrs.
	Nesse sentido o art. 59, § 2º da CLT dispõe:
Art. 59 - A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.
(....)
§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias.
	
No mesmo sentido, a OJ 323 do TST, nos remete que:
OJ-SDI1-323 ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. “SEMANA ESPANHOLA”. VALIDADE (DJ 09.12.2003).
É válido o sistema de compensação de horário quando a jornada adotada é a denominada "semana espanhola", que alterna a prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em outra, não violando os arts. 59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, da CF/1988 oseu ajuste mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
A Constituição em seu art. 7º, XIII reforça dizendo:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(....)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
	
.Destarte, está claro que a forma acordada livremente entre reclamante e reclamado quando do contrato de trabalho é válida e legal, não desrespeitando a legislação trabalhista, antes visa beneficiar o trabalhador que fica com dois sábados livres no mês para melhor organizar suas atividades.
	
	Confirmando o exposto está a Súmula 85, I do TST, que traz:
SUM-85 COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item VI) - Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016
I. A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva.
		
Ora Excelência, a referida modalidade de compensação denominada semana espanhola foi livremente aceita pela reclamante, que ao tempo do contrato além de aceitar, elogiou o sistema, pois assim teria mais tempo com a família. No entanto, imbuída de má-fé, a autora vem pleitear algo que não lhe é devido, pois não existem horas extras a serem pagas, em virtude da compensação. 
Cabe novamente a este Juízo observar o que é justo, e não aceitar alegações falsas de quem hipoteticamente seria a parte mais frágil em uma relação de emprego.
MINUTOS RESIDUAIS – HORAS EXTRAS
	Alega a reclamante que além do horário de trabalho ser das 09:00 horas às 18:00 horas, de segunda a sexta-feira e em sábados alternados, com uma hora de intervalo para refeição e descanso, a mesma tinha que chegar com 15 (quinze) minutos de antecedência, ou seja, em torno de 08:45 horas, e que ao fim da jornada registrava o horário de saída, mas ainda gastava cerca de 15 (quinze) minutos com o banho e a retirada do uniforme.
	No entanto a empresa reclamada assinou uma Convenção Coletiva de Trabalho que dispõe que os 15 (quinze minutos) antes e os 15 (quinze minutos) depois da jornada de trabalho integram o tempo de trabalho. Assim, os 15 minutos antecedentes e posteriores faz parte da jornada de trabalho e sendo devidas horas extras apenas quando ultrapassar tal limite.
	Nesse sentido o art. 7º, XXVI da CF, nos traz que:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(....)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho.
	O RE nº 895.759 de Pernambuco, confirma:
RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 11.496/2007. HORAS IN ITINERE. SUPRESSÃO. NORMA COLETIVA. INVALIDADE. 1. O princípio do reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, consagrado no artigo 7º, XXVI, da Constituição da República, apenas guarda pertinência com aquelas hipóteses em que o conteúdo das normas pactuadas não se revela contrário a preceitos legais de caráter cogente. 2. O pagamento das horas in itinere está assegurado pelo artigo 58, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho, norma que se reveste do caráter de ordem pública. Sua supressão, mediante norma coletiva, ainda que mediante a concessão de outras vantagens aos empregados, afronta diretamente a referida disposição de lei, além de atentar contra os preceitos constitucionais assecuratórios de condições mínimas de proteção ao trabalho. Resulta evidente, daí, que tal avença não encontra respaldo no artigo 7º, XXVI, da Constituição da República. Precedentes da SBDI-I. 3. Recurso de embargos conhecido e não provido.
Destarte, não destoa a empresa de agir com probidade e legalidade na relação de emprego, diferentemente da reclamante que pleiteia manifestadamente de má-fé, visto que quando de sua contratação e pagamento de salário foi cientificada de todas as informações atinentes à remuneração bem como da Convenção coletiva atinente à jornada de trabalho.
	A empresa reclamada preza pela eficiência e qualidade em seu serviço bem como com o atendimento das necessidades e respeito pelos direitos de seus colaboradores, no entanto, não admite que pessoas que buscam enriquecer-se ilicitamente e de má-fé maculem a imagem da empresa que com muito trabalho chegou ao patamar atual.
		
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
	A reclamante postula o pagamento do adicional de insalubridade, embora confesse que já recebia o adicional de periculosidade. A afirmação é de que a trabalhadora mantinha contato com óleo, agente considerado insalubre. Assim, requer o pagamento cumulado de ambos os adicionais.
	Todavia Excelência, como a própria autora afirmou em peça inaugural, todo dia quando chegava a primeira coisa era vestir o uniforme e o equipamento de proteção. O artigo 191 da CLT dispõe que:
Art. 191 - A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá:  
I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; 
 II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. 
(...)
	Assim, sendo regular e corretamente fornecido os EPI’s, resta neutralizada a insalubridade.
	Importante ressaltar que a reclamante já recebia adicional de periculosidade no valor de 30% nos moldes do art. 193 § 1º da CLT, suprindo a insalubridade, esta que poderia ser optada em tempo pela reclamante conforme postulo o mesmo artigo em seu parágrafo 2º. No entanto, a autora nada mencionou, aceitando a disposição quanto o percentual significativo de 30% sobre o salário-base.
No mesmo sentido, o Acórdão do TST – E-ARR – 630-18.2012.5.03.0102, nos confirma:
ADICIONAIS. PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE. PERCEPÇÃO CUMULATIVA. ART. 193, § 2º, DA CLT. ALCANCE
1. No Direito brasileiro, as normas de proteção ao empregado pelo labor prestado em condições mais gravosas à saúde e à segurança deverão pautar-se sempre nos preceitos insculpidos no art. 7º, incisos XXII e XXIII, da Constituição Federal: de um lado, a partir do estabelecimento de um meio ambiente do trabalho equilibrado; de outro, mediante retribuição pecuniária com vistas a "compensar" os efeitos nocivos decorrentes da incontornável necessidade de exposição do empregado, em determinadas atividades, a agentes nocivos à sua saúde e segurança.
2. No plano infraconstitucional, o art. 193 da CLT, ao dispor sobre o direito à percepção de adicional de periculosidade, assegura ao empregado a opção pelo adicional de insalubridade porventura devido (§ 2º do art. 193 da CLT).
3. A opção a que alude o art. 193, § 2º, da CLT não conflita com a norma do art. 7º, XXII, da Constituição Federal. Os preceitos da CLT e da Constituição, neste ponto, disciplinam aspectos distintos do labor prestado em condições mais gravosas: enquanto o art. 193, § 2º, da CLT regula o adicional de salário devido ao empregado em decorrência de exposição a agente nocivo, o inciso XXII do art. 7º impõe ao empregador a redução dos agentes nocivos no meio ambiente de trabalho. O inciso XXIII, a seu turno, cinge-se a enunciar o direito a adicional "de remuneração" para as atividades penosas, insalubres e perigosas e atribui ao legislador ordinário a competência para fixar os requisitos que geram direito ao respectivo adicional.
4. Igualmente não se divisa descompasso entre a legislação brasileira e as normas internacionais de proteção ao trabalho. As Convenções nos 148 e 155 da OIT, em especial, não contêm qualquer norma explícita em que se assegure a percepção cumulativa dos adicionais de periculosidade e de insalubridade em decorrência da exposição do empregado a uma pluralidade de agentes de risco distintos. Não há, pois, em tais normas internacionais, preceito em contraposição ao § 2º do art. 193 da CLT.
5. No que toca precisamente ao alcance da norma insculpida no artigo 193, § 2º, da CLT, a SbDI-1 do TST firmou entendimento segundoo qual o preceito legal em questão veda, em toda e qualquer circunstância, a percepção cumulativa dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, independentemente de o pedido de cumulação de adicionais derivar de uma única causa de pedir ou de causas de pedir distintas (Precedente: ERR-1072-72.2011.5.02.0384, Relator Ministro Renato de Lacerda Paiva, julgado em 13/10/2016). Ressalva de entendimento pessoal do Relator em sentido contrário.
6. Embargos do Reclamante de que se conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se nega provimento.
	
Desta forma, constata-se que não é devido os dois tipos de adicionais ao trabalhador, mas sim o que for mais benéfico ao mesmo. 
	Neste contexto, a reclamante age de má-fé ao requer a cumulação de adicionais. Uma vez que a própria legislação e jurisprudência, de forma sólida presa pelo adicional mais benéfico ao funcionário, não havendo nenhum tipo de cumulação dos benefícios.
IV – PEDIDOS
	Por tudo que foi exposto a Vossa Excelência, e mais o que o seu conhecimento suprirá, requer-se:
O acolhimento das preliminares arguidas;
O recebimento da presente Contestação, bem como sua apreciação para julgar Improcedente a presente demanda, com extinção do feito com resolução de mérito;
A citação da reclamante para que responda os termos da presente ação, sob pena de revelia e confissão;
Protesta por todos os meios de provas em direito admitidos, sejam provas documentais, testemunhal, pericial e todas as que forem necessárias.
Nestes Termos, Pede deferimento.
Cidade/Estado (data)
___________________________________
ADVOGADA
OAB

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