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HEPATOLOGIA Nathália Aparecida Hoelzle Lousada Silva – FASEH As hepatites virais são doenças inflamatórias que não causam grande repercussão para o fígado porque este regenera. Os principais tipos de vírus são A, B, C, D e E. A resposta imunológica contra os vírus é traduzida como uma lesão contra o hepatócito. Logo, o grau de ataque dos Ac contra as próprias células determina a resposta inflamatória. • As fases clínicas correspondem à história natural. História natural: fases clínicas • Período de incubação: do contágio ao início dos sintomas, variando de dias a semanas. - Contágio desencadeia resposta imune, que não é imediata • Fase prodrômica: o sistema imune reconhece o vírus e ataca os hepatócitos, havendo elevação dos títulos de Ac, o que caracteriza o início da doença, mas com características leves. Semelhante a uma gripe (febre, mal-estar). Dias a semanas. • Fase ictérica: após a fase prodrômica, ocorre início das características da hepatite devido à lesão dos hepatócitos, que se manifestam como icterícia. Dias a semanas. • Fase de convalescência: após a icterícia, ocorre melhora gradual do quadro. Dias a semanas. Hepatite viral aguda • Duração das fases: até 6 meses Hepatite viral crônica • Duração das fases > 6 meses • Manutenção da inflamação pode provocar cirrose, pois geralmente é assintomática ou tem manifestações inespecíficas, tais como fadiga e aumento de transaminases. Logo, uma manifestação comum às hepatopatias crônicas é fadiga persistente. Hepatites virais agudas Laboratório • Leucopenia com linfocitose (ou leucocitose às custas de linfócitos): padrão viral • ↑ transaminases: AST/TGO e ALT/TGP > 10x (>1000U), geralmente TGP > TGO - Agressão hepática, lesão de hepatócitos, libera enzimas do interior das células. MAS, o grau de elevação das transaminases não é proporcional à gravidade. • ↑ Bilirrubinas, com predomínio de BD - O hepatócito tem 3 funções associadas à bilirrubina, a qual é proveniente do metabolismo da hemoglobina devido à hemocaterese: a BI é insolúvel, sendo captada pelo hepatócito, conjugada em BD, que é solúvel, e excretada no canalículo biliar, que é eliminada nas fezes. Quando BI entra em contato com O2, sofre estresse oxidativo, muda de cor, tornando-se amarronzada. - Agressão do hepatócito prejudica a captação, conjugação e excreção da bilirrubina, mas a excreção é mais prejudicada porque demanda mais energia. Assim, há menos BD eliminada pelas fezes, tornando-as claras (acolia fecal). A BD em excesso retorna à circulação, sendo filtrada pelos glomérulos renais, pois é solúvel. Em contato com o O2, a BD sofre estresse oxidativo, tornando-se escurecida, o que caracteriza a colúria. Ao retornar à circulação, a BD torna a pele amarelada, causando icterícia. • FA e GGT > 2-3X (aumento menor que TGO e TGP) - FA e GGT são enzimas canaliculares, estando no polo oposto à agressão do hepatócito, alterando-se pouco. - Também não são prognósticas. Lembrete: na síndrome colestática, com obstrução da via biliar, há icterícia com grande elevação de FA e GGT e aumento menor de transaminases. Já na hepatite viral, há elevação de transaminases e FA e GGT são apenas “tocadas”. Logo, aumento de BD pode ser hepatite ou obstrução da via biliar. Nesse caso, avalie FA e GGT. • Albumina e TAP normais: alteram-se apenas com a perda da função hepática, indicando hepatite fulminante ou cirrose (lesão crônica). - Fígado produz todas as proteínas do corpo, exceto as Ig (produzida pelos plasmócitos), inclusive fatores da coagulação vitamina K- dependentes e albumina. Com isso, há alargamento do TAP e redução da albumina na presença de perda da função hepática. - Albumina e TAP são marcadores de gravidade: pior prognóstico se TAP alargado e ↓ albumina, sendo que o primeiro se altera inicialmente. 1. Hepatite A Transmissão • Oral-fecal Logo, as condições sanitárias não são adequadas. História natural da doença • Período de incubação: 2 a 6 semanas (média de 4 semanas). Indica a viremia (ainda não há formação de Ac). • Produção de anti-HAV IgM, marcador de doença aguda, indica início dos sintomas, da fase prodrômica. Dura de 4 a 6 meses. • No decorrer fase prodrômica, inicia-se a produção de anti-HAV IgG, com duração indefinida. - IgM + / IgG-: hepatite aguda. - IgM + / IgG +: hepatite aguda, pois também surge IgG nesta fase. - IgM - / IgG+: não tem vírus A. Logo, para haver hepatite A, tem que haver anti-HAV IgM+. • Fase ictérica: início da doença. Isolamento do doente por 1 a 2 semanas porque ainda transmite o vírus. Formas clínicas • Assintomática (maioria) ou sintomática (10%) • Fulminante (0,35%): TAP alargado, ↓ albumina • Colestática: lesão próxima ao local de enzimas colestáticas é possível, confundindo com obstrução de via biliar. • Recorrente: quadro ictérico seguido convalescença, mas ausência de negativação viral, com retorno da icterícia, que será seguida de melhora. Logo, pode flutuar sua apresentação em torno de 6 meses, mas NUNCA CRONIFICA. Profilaxia • Vacina: HA já está disponível no Calendário Vacinal de 2015 como dose única aos 12 meses, com taxa de proteção de 90%. - A vacina entra quando a condição sanitária / social melhora, sendo que a hepatite A é uma doença da pobreza, porque a maioria da população atual nunca teve contato com o vírus, ou seja, não está protegida, o que permitiria a ocorrência de surtos. - Se tomar duas doses (18 meses), a taxa de proteção será de 100%, mas o Ministério de Saúde só disponibiliza duas doses. Para os não-imunizados (anti-HAV negativo) • Pré-exposição: viajante - Abaixo de 1 ano → IMUNOGLOBULINA (protege em torno de 3 meses) • Pós-exposição: contactante íntimo até 14 dias (período mínimo de incubação é de 2 semanas) - Acima de 1 ano → VACINA (período de incubação da hepatite A é mais longo que a resposta sorológica da vacina, então a vacina protege não só no caso atual, como também indefinidamente) 2. Hepatite E • Quase tudo igual a A, mas não existe no Brasil • Fulmina em grávidas (20%) • Cronifica: forma autóctone → vírus E em carne suína (ingestão de carne de porco crua) 3. Hepatite D • Endêmica na região Amazônica Presença do vírus B é essencial • Tem que ser HBsAg+ • Co-infecção ou super-infecção Co-infecção • Adquire hepatite D e B agudas • Não aumenta o risco de cronificação Super-infecção • Tem hepatite B crônica e adquire hepatite D aguda • ↑ risco de hepatite fulminante (20%) • ↑ chance de transformação futura em cirrose Logo, pior prognóstico. Obs.: não adianta ter vírus D isolado. Transmissão = acompanha vírus B • Parenteral 4. Hepatite B Transmissão • Sexual: mais comum. É considerada DST (PROVA – relação sexual promíscua). • Vertical: HBeAg+ com 90% de chance de transmissão; HBeAg- com15%. - HBeAg é marcador de carga viral. Quanto maior a carga viral, maior a chance de transmissão. - Apesar de ser um vírus que cronifica, a chance de cronificação é baixa. Porém, o RN não tem sistema imune bem desenvolvido, havendo maior chance de cronificação ao adquirir HB. • Percutânea (piercing, tatuagem, agulhas) • Transplante de órgãos Hepatite B vertical • Não é indicação de cesárea • Aleitamento materno é permitido (não há transmissão fecal-oral) • Dentrode 12h de vida, o RN deve ser vacinado e receber Ig (HBIG) em sítios diferentes (PROVA) Antígenos virais • O vírus da HB é um vírus de DNA, ao contrário dos demais vírus da hepatite, sendo mais complexo, ou seja, transmitindo mais Ag • Core: parte central, como se fosse o núcleo, que envolve o DNA, sendo capaz de fornecer 2 Ag virais – HBcAg e HBeAg. - HBeAg consegue ser secretado e atingir a corrente sanguínea. - HBcAg nunca sai do hepatócito, embora causa reação imune. Diretamente proporcional à quantidade de DNA, demonstrando, em termos práticos, a quantidade de vírus existente. • Envelope viral fornece o HBsAg Marcadores sorológicos • Antígeno s (HBsAg) → Anti-HBs • Antígeno c (HBcAg, não é dosado no sangue) → Anti-HBc • Antígeno e (HBeAg) → Anti-HBe História natural • Período de incubação: 1 a 6 meses (média de 4 a 6 semanas, semelhante ao vírus A). Elevada viremia, mas sem Ac, com surgimento do HBsAg (soroconversão – surgimento de marcador, sendo Ag ou Ac). Também há replicação viral, representada pelo HBeAg. Logo, o HBsAg indica o vírus, enquanto HBeAg indica replicação viral. • Fase prodrômica: marcada pelo início dos sintomas. Produção do primeiro Ac, o anti-HBc-IgM (Ac contra o core do vírus, não contra o próprio vírus), marca o início da doença. Com o avançar da doença, surge o anti-HBc-IgG. • Fase ictérica (apenas 30% dos casos): ainda há vírus e Ac, ou seja, HBsAg, Anti-HBc-IgM e Anti-HBc-IgG, no início da fase. Com o tempo, ocorre surgimento do anti-HBs, caracterizando o desaparecimento do vírus, ou seja, redução do HBsAg e surgimento do anti-HBe. Logo, HBeAg e anti-HBe apenas indicam presença ou ausência de replicação viral, não sendo tão importantes como marcadores sorológicos. • Fase de convalescência: ocorre a cura da doença, com marcador de imunidade, o anti-HBs. Também há anti-HBc-IgG. • Janela imunológica: momento em que não há vírus (HBsAg) nem cura (anti-HBs ainda não apareceu) detectável. Determinada pelo anti-HBc- IgM (quadro agudo) ou anti-HBc-IgG (quadro crônico). Hepatite B aguda (95% curam) ↓ • 1% fulminante OU • 1-5% desenvolvem hepatite B crônica → 20-50% desenvolvem cirrose → 5-15% desenvolvem hepatocarcinoma → carcinoma hepatocelular Obs.: 2 condições podem causar CHC sem provocar cirrose = hepatite B ou adenoma hepático. RESUMINDO Marcador Significado HBsAg Hepatite B (presença de vírus) Anti-HBc (IgM/IgG) Contato com vírus agudo (IgM) ou crônico (IgG) Anti-HBs Cura ou vacinação prévia HBeAg Replicação viral Anti-HBe Fase não replicativa TREINAMENTO • HBsAg+, Anti-HBc IgM+ / IgG-, anti-HBs-, HBeAg+, anti-HBe- → hepatite B aguda (fase inicial não replicativa) • HBsAg+, Anti-HBc IgM +/ IgG+, anti-HBs-, HBeAg-, anti-HBe+ → hepatite B aguda em fase tardia (não replicativa) • HBsAg+, Anti-HBc IgM- / IgG+, anti-HBs-, HBeAg-, anti-HBe+ → hepatite B crônica não replicativa • HBsAg+, Anti-HBc IgM- / IgG+, anti-HBs-, HBeAg+, anti-HBe- → hepatite aguda crônica na fase replicativa • HBsAg-, Anti-HBc IgM- / IgG+, anti-HBs+, HBeAg-, anti-HBe+ → hepatite B curada ou cicatriz imunológica • HBsAg-, Anti-HBc IgM- / IgG-, anti-HBs+, HBeAg-, anti-HBe- → vacinação prévia • HBsAg-, Anti-HBc IgM+ / IgG-, anti-HBs-, HBeAg-, anti-HBe+ → hepatite B aguda na fase de janela imunológica ATENÇÃO • HBeAg-, HBsAg+, HBV-DNA alto → mutante pré-core (falha na síntese de HBeAg, que deveria estar positivo) ↑ risco de cirrose, hepatocarcinoma, hepatite fulminante. - Mas, consegue desenvolver anti-HBe, pois a resposta imune é desencadeada, o HBe apenas não é secretado. • HBsAg+ e Anti-HBs+ → mutante por escape ou do envelope (altera o envelope viral, com produção de anti-HBs, mas sem permitir a cura) seleção produzida pela vacinação? Condições associadas • PAN • GN membranosa • Giannotti-Crosti: acrodermatite papular (lesão maculopapular, eritematosa e não pruriginosa) Tratamento • Se grave ou crônica, trate com lamivudina. 5. Hepatite C O vírus • Vírus RNA • Mutante (semelhante ao HIV): não há vacina • Com 06 genótipos - No Brasil: 1 (mais comum e de pior prognóstico), 2, 3 Transmissão • Em 40% dos casos, não se sabe a forma de contágio. • Percutânea: uso de drogas ilícitas é a principal causa. História natural • É a forma que mais evolui para cronicidade (C de crônica) e cirrose • É quase sempre assintomática até que exista cirrose • Manifestação extra-hepática é comum, sendo a crioglobulinemia mista a mais comum, que cursa com GN membranoproliferativa. Logo, HB e HC associam-se a vasculites = HB / PAN, HC / crioglobulinemia mista. • Período de incubação: 7 semanas (15 a 160 dias) • Fase prodrômica: no início da doença, não há IgM, sim anti-HCV ELISA, que surge 1 semana após a inflamação. Hepatite C aguda ↓ • Quase 0% fulminante • 80% cronificam → 30% evoluem para cirrose → 10% CHC Logo, a HB pode evoluir para CHC através da cirrose ou diretamente, enquanto a HC só evolui para CHC após desenvolver cirrose. Diagnóstico • Para o diagnóstico, deve ter anti-HCV positivo e HCV-DNA PCR positivo. Anti-HCV positivo: motivos • Cicatriz sorológica (cura) • Hepatite C em atividade (aguda ou crônica) • Falso-positivo: alcoólatra e doença autoimune HCV-DNA PCR quantitativo • Deve ser solicitado na presença de anti-HCV positivo • Identifica a carga viral, afastando falso-positivo Tratamento • O melhor prognóstico ocorre ao negativar o vírus na fase aguda: observar por 12 semanas, que é o tempo natural em que o organismo elimina o vírus • Se não resolver após 12 semanas, inicie interferon +/- ribavirina. 1. Generalidades Fisiopatologia • O sangue libera toxinas, que são captadas pelos hepatócitos • O capilar hepático, um sinusoide, contém fenestras e reveste os hepatócitos. As toxinas entram nos sinusoides para serem captadas pelos hepatócitos. • Espaço de Disse: entre o muro de hepatócitos e sinusoides no teto. Nele mora a célula estrelada ou de Ito, que produz vitamina A e outros retinoides a fim de manter os hepatócitos. - Em situações de agressão crônica (hepatite autoimune, álcool, depósito de metais, cirrose), a célula de Ito se transforma, estica-se, passando a produzir colágeno, que tem dificuldade em ser nutrido. A toxina precisa passar pela fenestra, célula de Ito e pelo colágeno. Como a célula de Ito não funciona corretamente, o hepatócito deixa de captar a toxina. Se a agressão for suspensa, haverá regeneração. Se continuar, haverá mais colágeno, que sofrerá isquemia, tornando-se fibrose. Esta cerca os hepatócitos, formando nódulos. O fígado tenta regenerar. Logo, a cirrose é a desorganização da arquitetura, no espaço de Disse, não apenas um problema relacionado à fibrose. Há deposição de colágeno no espaço porta. • Funções do fígado: detoxificação, receber o sangue da digestão pela v. porta, produção (albumina, todos os fatores de coagulação). Causas 98% dos casos • Álcool = cirrose de Laënne • Hepatite C crônica (após 10-15 anos de evolução) Outros • NASH (esteato-hepatite não-alcóolica) • Hepatite B crônica • Doença autoimune ou hereditária em criança Manifestações clínicas Exame físico • Lobo direito < 7 cm, não palpável • Loboesquerdo palpável, com aumento da consistência, superfície nodular PATOGNOMÔNICO Logo, na cirrose o fígado pode ser palpável! ↓ detoxificação • Eritema palmar • Aranhas vasculares • Rarefação de pelos, ginecomastia, atrofia testicular (para de degradar o estrogênio) Síndrome de hipertensão porta • Ascite - MAS, hipertensão porta não é sinônimo de ascite. Além disso, várias causas de hipertensão porta não provocam ascite. • Varizes • Esplenomegalia • Circulação colateral • Encefalopatia porto-sistêmica Falência hepática = Perda da função de produção • Hipoalbuminemia • Coagulopatia • Encefalopatia De acordo com a doença • Xantelasma = cirrose biliar primária Laboratório • Sorologia para hepatites • AST:ALT > 1 (sempre TGO > TGP) • Se AST:ALT > 1000, faça DD - hepatite viral aguda - hepatite medicamentosa (paracetamol causa hepatotoxicidade dose- dependente, >10g, não idiossincrásica; antídoto é N-acetilcisteína por 72h) - hepatite isquêmica Logo, qualquer cirrose provoca TGO>TGP. Quando a causa é alcóolica, TGO é o dobro de TGP, ou seja, a relação é mais elevada. • Fosfatase alcalina e GGT - ↑ fosfatase → pensar em doença primária biliar, autoimune, que causa cirrose (acomete mais as mulheres), cirrose biliar primária. • Bilirrubinas totais e frações • Plaquetopenia < 150000 juntamente com o quadro clínico sugestivo é patognomônico de cirrose. • Função hepática: albumina e RNI (primeiro fator que cai é o fator VII) hipoalbuminemia e alargamento do TAP / RNI • Hipergamaglobulinemia: célula de Ito ou estrelada é estimulada todo o tempo, então há uma inflamação crônica, sendo que o corpo responde com a produção de Ig, visível na eletroforese de proteínas. Logo, há inversão do padrão albumina/globulina porque a albumina cai devido à falta de produção, enquanto a globulina aumenta. - IgA: cirrose por álcool - IgM: cirrose biliar primária (M de mulher) - IgG: hepatite autoimune • Autoanticorpos - FAN, anti-músculo liso, anti-LKM1: hepatite autoimune - Anti-mitocondrial (AMA): cirrose biliar primária (M de mulher) Diagnóstico por imagem • Rastreamento do CHC a cada 6 meses: qualquer cirrose, independentemente da causa, tem risco de evoluir para CHC (6x). Por isso, todo paciente com cirrose deve ser rastreado para CHC com US com doppler e alfafetoproteína. US com doppler • Para avaliar o calibre da v. porta (normal = 12mm) e da v. esplênica (normal = 9 mm) - Porta > 12 mm e esplênica > 9 mm são indicativos de cirrose. TC e RM Biópsia hepática • Padrão-ouro, mas nem sempre é necessária • Só pode ser realizada se PLQ > 50-60000 e RNI<1,3. Caso contrário, transfunda antes. Achados sugestivos • Fibrose: - Periportal → hepatite viral, NASH - Centrolobular → alcóolica • Corpúsculos de Mallory → alcóolica, NASH • Esteatose microvesicular → síndrome de Reye (AAS) Gravidade da cirrose Child-Turcotte-Pugh • Avalia a sobrevida média do paciente em 1-2 anos • Variáveis analisadas: bilirrubinas (mg/dl), encefalopatia, ascite, TP, albumina (g/dl) = BEATA Pontuação 1 2 3 Bilirrubina <2 2-3 >3 Encefalopatia Ausente Grau I-II Grau III-IV Ascite Ausente Leve Moderada a grave TAP (RNI) <1,7 1,7-2,3 >2,3 Albumina >3,5 2,8-3,5 <2,8 • Interpretação - Child A: escore ≤ 6 pontos → 100% e 85% - Child B: escore 7-9 pontos → 80% e 60% - Child C: escore ≥ 10 pontos → 45% e 35% • Apenas pacientes Child B e C podem receber transplante hepático. Porém, a sobrevida não se modifica muito se o paciente cessar o etilismo. Escore de MELD • Variáveis analisadas: bilirrubina, INR, creatinina = BIC • É uma equação • Demonstra a mortalidade em 3 meses de acordo com a pontuação. Deve ser realizado de 3/3 ou 6/6 meses. • Atualmente é realizado para colocar na fila de transplante: MELD < 10; MELD ≥ 10 ainda não serve no Brasil. 2. As doenças 2.1 DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO-ALCOÓLICA • Engloba duas doenças: esteatose hepática não-alcoólica e esteato-hepatite não-alcoólica ou NASH Esteatose hepática não-alcoólica Fatores de risco • Obesidade central • DM2 • Dislipidemia • Síndrome metabólica Diagnóstico • Geralmente assintomática e diagnosticada apenas na rotina • ↑ AST:ALT < 1 Logo, acontece aumento das transaminases, mas não é cirrose, então a relação é menor que 1, com aumento da TGP maior que da TGO. • ↑ ferritina: reagente da fase aguda do fígado. • Esteatose hepática em imagem ou biópsia • Excluir consumo significativo de álcool • Ausência de outras causas: hepatite A, hepatite B, hemocromatose, autoimune Complicação • Pode evoluir para a 2ª fase, a NASH, a qual evolui para cirrose Tratamento • Perda de peso GRADUAL: é o mais importante. Deve ser gradual porque a perda de peso muito rápida causa esteatose e litíase biliar. • Tratamento das comorbidades • Evitar álcool • Vitamina E 800U/dia: controverso. Esteato-hepatite não-alcoólica ou NASH • Geralmente é evolução da esteatose hepática não-alcóolica • Evolui para cirrose, exigindo rastreamento para CHC Clínica • Pode ser assintomática Logo, é indistinguível da estatose hepática não-alcóolica, exigindo biópsia. Diagnóstico Biópsia • Indicações - Idade > 45 anos com obesidade ou diabetes - Ferritina > 4,5x ou citopenia - Clínica de cirrose Tratamento • Mesmo da esteatose: perda de peso gradual, evitar álcool, tratar comorbidades, vitamina E 2.2 HEPATITE AUTOIMUNE Manifestações clínicas • Mulher jovem Hepatite aguda fulminante • 40% evoluem dessa maneira Outras (60%) • Fadiga, artrite, serosite: DD de LES • Icterícia: hemólise • Hepatomegalia, amenorreia, acne Diagnóstico • Autoanticorpos: FAN+, anti-músculo liso, anti-LKM • TGO e TGP flutuam • ↑ IgG Tratamento • Indicação: se for grave - AST ≥ 10X - AST ≥ 5x e gamaglobulina ≥ 2x - Necrose em ponte ou multilobular - Hepatite crônica ou encefalopatia • Prednisona + azatioprina (poupador de corticoide, que deve ser mantida após suspensão do corticoide por 1 ano): remissão em 80% 2.3 CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA Características • Mulher (10:1) • 40 a 60 anos Clínica • Assintomáticas • Prurido + fadiga (sempre acompanhados) Indicadores de pior prognóstico • Icterícia • Xantelasma • Hepatomegalia • Deficiência de vitaminas lipossolúveis: principalmente falta de vitamina D, com evolução para osteopenia Diagnóstico • ↑↑ fosfatase alcalina (FA) • Anticorpo anti-mitocondrial (AMA) Tratamento específico • Ácido ursodesoxicólico (ursacol®): se usado no início da doença, terá boa resposta. • Transplante: se indícios de mau prognóstico ou ausência de resposta ao ácido ursodesoxicólico. 2.4 HEMOCROMATOSE Fisiopatologia • ↑ absorção intestinal de ferro → deposição no fígado, pâncreas e pele, além de outras estruturas (articulação, testículo, ovário) • Aumenta em até 100x o risco de CHC Clínica • Tríade clássica: - Hepatomegalia - DM - Hiperpigmentação cutânea (“diabético bronzeado”) • Artrite, fadiga, emagrecimento • Perda da libido e disfunção erétil • Amenorreia Exames complementares • ↑ AST, ALT • ↑ ferro sérico, IST e ferritina Diagnóstico • Teste genético: mutação C 282Y (caro e pouco realizado) • Biópsia hepática Tratamento• Rastreamento de CHC: US e alfafetoproteína a cada 6 meses • ↓ ingestão de ferro e vitamina C (↑ absorção do ferro) • Flebotomias (retirada de sangue, “sangria”) até ferritina < 50 2.5 DOENÇA DE WILSON Fisiopatologia • Herança autossômica recessiva • Dificuldade em eliminar o cobre (ostra, chocolate, nozes, castanhas, frutos do mar) • ↓ ceruloplasmina (estrutura que impede que o cobre exerça seu efeito tóxico) - MAS, 10-20% podem ter ceruloplasmina normal com excesso de cobre. Então, ceruloplasmina normal não afasta o diagnóstico. Clínica Manifestações neurológicas • Tremores, ataxia, espasmos Manifestações psiquiátricas • Esquizofrenia, bipolar Logo, simula Parkinson, mas acontece em pacientes jovens e tem alterações psiquiátricas. Manifestações hepáticas • Hepatite crônica ativa • Hepatite fulminante • Cirrose Manifestações renais • Síndrome de Fanconi: perda de bicarbonato, aminoácidos, entre outros pelo túbulo renal Logo, quadro neuropsiquiátrico que acarreta lesão hepática e, posteriormente, lesão renal. Outras manifestações • Azure lúnula: unha azul • Anéis de Kayser-Fleischer: depósito de cobre na membrana de Dessemet (olhos). Patognomônico. • RM com imagem do panda: depósito de cobre no tálamo. Diagnóstico Suspeita • Anéis de Kayser Fleischer • Ceruloplasmina < 20mg/dl • Cobre urinário > 100mcg/dia Padrão ouro: biópsia • Excesso de cobre em cada grama de tecido biopsiado: cobre hepático > 200mg/g Tratamento • Eficácia maior se tratada precocemente • D-penicilamina + piridoxina: D-penicilamina é um quelante de qualquer metal, podendo piorar o quadro neurológico e causar coma em pacientes com quadro neurológico grave, exigindo tratamento em CTI. • Trientina: menos efeitos colaterais. • Zinco: durante as refeições para impedir a reabsorção de cobre. Melhor para jovens e gestantes (não podem usar quelantes). 2.6 DOENÇA HEPÁTICA ALCOÓLICA Fisiopatologia • 90-100% das pessoas que bebem por 2 semanas apresentam esteatose. Se houver abstinência, a esteatose desaparecerá. Se mantiver o estímulo, a esteatose evoluirá para inflamação, ou seja, esteato-hepatite em 10-35% dos casos. Há estímulo à célula de Ito, que forma fibrose, desorganização a arquitetura hepática, o que provoca cirrose em 8-20% das vezes. Logo, esteatose (90-100%) → esteato-hepatite (10-35%) → cirrose (8-20%). Esteatose é a mais comum e manifesta-se com hepatomegalia. Dose e duração da ingestão hídrica • 80g de álcool/dia por 10-12 anos = 60ml/dia de destilado, 600ml/dia de vinho, 2000ml/dia de cevada. • Mulheres: metade disso (com pouca desidrogenase alcoólica, restando álcool, que exerce efeito tóxico agudo, ficando bêbada mais rápido e lesando o fígado precocemente). Clínica Cirrose por álcool • Aumento de parótidas • Contratura de Dupuytren: palmar (ângulo do polegar alterado, menor que 90º) - MAS, não é patognomônica, podendo estar presente em diabéticos e pneumopatas. • Neuropatia por ↓ Mg • Pancreatite crônica Abordagem Marcadores laboratoriais de ingesta alcoólica • ↑ AST:ALT > 2 (TGO fica o dobro de TGP) Logo, na cirrose a TGO é maior que TGP, mas na cirrose alcóolica a TGO é o dobro da TGP. • ↑ GGT • Macrocitose: VCM normaliza rapidamente após cessão do etilismo • ↑ ácido úrico • ↑ transferrina deficiente em carboidrato (TDC) Tratamento • Cessar etilismo • Suporte nutricional: - valor calórico total (VCT) 25-30kcal/kg/dia para pessoas normais. Paciente com doença hepática alcóolica tem catabolismo, necessitando de ingesta supranormal, de 40kcal/kg/dia. - ↑ proteínas para 1,5-2g/kg/dia Logo, dieta hipercalórica e hiperproteica. • Tratar as complicações. 2.7 HEPATITE ALCOÓLICA • Não é esteato-hepatite crônica por álcool, sim hepatite aguda por álcool, que se assemelha às hepatites virais. Fisiopatologia • Ingestão alcóolica aumentada por período curto de tempo Quadro agudo de hepatite por álcool • Febre baixa • Dor abdominal • Hepatomegalia • Icterícia • Ascite • Leucocitose: reação leucemoide • ↑ AST:ALT > 2 em torno de 400-500 (não ultrapassa 1000, ao contrário da hepatite viral) Tratamento • Indicação: paciente grave - IFD (calcular o índice de função discriminante – IFD- Maddrey) ≥ 32 𝐼𝐹𝐷 = 4,6 𝑥 (𝑇𝑃 𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 − 𝑇𝑃 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒) + 𝑏𝑖𝑙𝑖𝑟𝑟𝑢𝑏𝑖𝑛𝑎 - MELD ≥ 21 - Encefalopatia hepática • Tratar com Prednisolona OU pentoxifilina: não usa Prednisona porque esta precisa passar pelo fígado para transformar-se em prednisolona, corticoide ativo, então é melhor já prescrever a forma ativa. Se não puder usar prednisolona, use pentoxifilina. Logo, tanto hepatite autoimune quanto alcóolica são tratadas com corticoide quando o paciente é grave. 2.8 ALCOOLISMO Problemas relacionados ao uso de álcool: CAGE C: Alguma vez já sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber? (Cut down) A: As pessoas o aborrecem por que criticam o seu modo de beber? (Annoyed) G: sente-se culpado pela maneira como costuma beber? (Guilty) E: costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou a ressaca? (Eye opener) • Acima de duas respostas = problemas relacionados ao álcool. Hipertensão porta Anatomia • 70% do O2 utilizado pelo fígado provêm da v. porta, que é formada pela união da v. mesentérica inferior com v. esplênica. • A v. porta recebe o sangue de todo o TGI, que é levado para o fígado, o qual metaboliza as toxinas da digestão. - vv. gástricas drenam pequena curvatura e recebem sangue da v. esofágica, drenando para v. porta - v. gastroepiploica também drena para v. porta Logo, problema portal = esôfago, pequena e grande curvatura, baço. - Plexo hemorroidário é dividido em 3 andares: superior, médio e inferior. Superior e médio drenam para v. mesentérica, enquanto inferior drena para v. ilíaca → v. cava. • 30% restantes são levados pela a. hepática. • Na hipertensão porta, o sangue tem dificuldade em ascender e ser metabolizado pelo fígado, tendendo a desviar o fluxo para atingir o pulmão através da v. cava, que corre por trás da v. porta: sangue atinge v. cava pelas circulações colaterais Achados • Varizes esôfago-gástricas: v. ázigos é o plexo venoso superior que se liga à veia cava (v. esofagogástrica, tributárias da v. gástrica esquerda + v. esofágica do sistema ázigo) • Esplenomegalia • Hemorroidas (varizes retais): vv. retais • Cabeça de medusa ou circulação colateral: tentativa de recanalização da v. umbilical, que atinge a v. cava superficialmente pela pele (v. periumbilical + v. da parede abdominal anterior) • Síndrome de Cruveilhier-Baumgarten: frêmito na circulação colateral • Encefalopatia: sangue com amônia que passaria pelo fígado atinge a v. cava • Não é toda hipertensão porta que cursa com ascite, apenas na presença de hipertensão no capilar hepático, ou seja, hipertensão sinusoidal: ↑ pressão no capilar hepático → ↑ pressão hidrostática → libera líquido em excesso como ascite 1. Classificação • Permite identificar a presença ou ausência da ascite - Lesão antes do sinusoide (pré-sinusoidal) e do fígado (pré-hepática) em princípio não causa ascite, enquanto hipertensão sinusoidal, pós-sinusoidal ou pós-hepática cursa com ascite. • Pré-hepática, intra-hepática (pré, sinusoidal ou pós) e pós-hepática Pré-hepática • Função hepática:boa (não há alteração do fígado) • Ascite NÃO é esperada (antes do sinusoide), exceto na presença de outras causas de ascite Trombose na v. porta • Mais comum das pré-hepáticas • Crianças: cateterização umbilical • Hipercoagulabilidade Trombose de veia esplênica (hipertensão porta segmentar) • Pancreatite crônica: varizes isoladas de fundo gástrico • Conduta: esplenectomia Intra-hepática • Classificação de acordo com a localização em relação ao sinusoide: pode ser pré-sinusoidal, sinusoidal ou pós-sinusoidal Pré-sinusoidal • Esquistossomose: depósito de ovos no espaço porta. Logo, a ascite causada pela esquistossomose não se relaciona à hipertensão porta, sim a dois fatores: infestação, que provoca reação granulomatosa intensa ao redor da deposição de ovos, atingindo os sinusoides; redução do suprimento de O2 para o fígado, com morte de hepatócitos, causando desorganização do parênquima hepático (cirrotização da esquistossomose). - Principal complicação da HP pela esquistossomose é a formação de varizes esôfago-gástricas, pois não há perda da função hepática e é pré-sinusoidal Sinusoidal • Cirrose: mais comum de todas as causas de hipertensão porta. Há depósito de colágeno no espaço de Disse. Pós-sinusoidal • Doença veno-oclusiva: 1) Doença enxerto-hospedeiro 2) Chá da Jamaica (“Bush Tea Disease”) ou de Maria Mole Pós-hepática • Doenças cardíacas (mais comum da pós-hepática): ICC, pericardite constritiva • Síndrome de Budd-Chiari: trombose da v. hepática. Comum em crianças com hipercoagulabilidade e policitemia vera. • Trombose da VCI: trombose, neoplasia (rim, fígado) 2. Diagnóstico de hipertensão portal EDA • Varizes esôfago-gástricas US com doppler • Avalia o calibre da v. porta (normal = 12) e da v. esplênica (normal = 9), além do fluxo na v. porta - Fluxo hepatofugal (foge do fígado) Cateterização hepática • Padrão-ouro, mas menos realizada por ser difícil • Exige cateterização hepática para mensurar a pressão na v. porta através da manometria isolada ou do gradiente pressórico • Manometria isolada da porta: pressão > 10mmHg → HP • Gradiente pressórico: vantajoso porque se relaciona com a clínica. - ≥ 6 mmHg → HP. - ≥ 10 mmHg → HP clínica - ≥ 12 mmHg → ↑ risco de ascite e ruptura de varizes 3. Varizes esofagianas Classificação Quanto ao calibre F1 (pequeno calibre) < 5 mm de diâmetro F2 (médio calibre) 5-20mm de diâmetro F3 (grosso calibre) > 20mm de diâmetro • Conduta varia se < 5mm ou ≥ 5 mm Quanto à presença de manchas vermelho-cereja • Cherry-red spots Cenário 1: nunca sangrou 1) Rastrear varizes com EDA 2) Tem varizes de alto risco? • Calibres médio (F2) e grosso (F3): ≥ 5 mm • Com Cherry-red spots • Child B e C Profilaxia primária • Pacientes com varizes que nunca sangraram. Objetiva evitar primeiro sangramento. Com betabloqueador não-seletivo OU ligadura elástica. • Betabloqueador não-seletivo: propranolol, carvedilol (mais usado porque muitos pacientes têm ICC) ou nadolol na maior dose tolerada. Logo, varizes de pequeno calibre → rastrear a cada 2 anos. ≥ 5mm → profilaxia com betabloqueador. • Endoscópica (EDA) por ligadura elástica (escolha) ou escleroterapia: na presença de contraindicações ao betabloqueador (asma, BAV), sendo alternativa. Cenário 2: está sangrando 1) Estabilizar a hemodinâmica • Cristaloides, hemácias • Plaquetas se < 50.000 • Plasma fresco congelado se RNI > 1,7 • IBP (pode ser HDA por úlcera) • Iniciar terlipressina (mais usada) ou octreotide: inibidores da circulação esplâncnica 2) Descobrir a fonte e tratar • Endoscopia em até 12h - Ligadura ou escleroterapia de acordo com a experiência do endoscopista, mas na prática a ligadura é escolha por ser mais simples. - Varizes gástricas: cianoacrilato (gelatinoso, permitindo oclusão das varizes) • Drogas: terlipressina (↓ mortalidade) ou octreotide Obs.: drogas + ligadura elástica resolvem o sangramento em 95% dos casos. • Balão Sengstaken-Blakemore: se sangramento INCONTROLÁVEL pela endoscopia e drogas. Balão esofágico funciona por pressão, enquanto o gástrico funciona por volume. Pode ser usado por no máximo 48h. • TIPS (shunt protossistêmico intra-hepático transjugular): se hemorragia refratária ou no lugar da cirurgia de desvascularização (destruição da vasculatura), sendo cada vez mais usado. Reduz a pressão portal, diminuindo a pressão nas varizes, através do desvio do sangue da v. porta para v. cava por dentro do fígado (v. hepática). - Como não destrói a vascularização hepática, serve como PONTE para o transplante. - Pode complicar com ENCEFALOPATIA (aproximadamente 30% dos casos) porque recebe o sangue do andar inferior. - Contraindicações: IVD grave, doença cística hepática • Cirurgia de urgência: shunt não seletivo (término-lateral, látero- lateral, parcial). Menos usada, sendo substituída pelo TIPS. 3- Prevenção de complicações • Profilaxia para peritonite bacteriana espontânea (PBE): ceftriaxona (cefalosporina de 3ª geração) ou norfloxacina por 7 dias Logo, está sangrando = estabilização hemodinâmica + EDA + droga + atb! Cenário 3: já sangrou Profilaxia secundária • Contra ressangramento (70% de ressangramento em 1 ano nos não submetidos a TIPS/cirurgia de urgência) • Betabloqueador + ligadura elástica Logo, na primária = uma medida, o betabloqueador (ligadura como alternativa). Secundária = duas medidas, o betabloqueador e a ligadura. • TIPS ou CIRURGIA ELETIVA (shunt seletivo ou desconexão): se não der certo, deverão ser programados. - Shunt seletivo: esplenorrenal distal = secciona v. esplênica, que é ligada a v. renal. Acaba com varizes, mas não melhora ascite, podendo piorá-la. 4. Ascite • Paracentese: linha da cicatriz umbilical à espinha ilíaca anterossuperior E para evitar lesar o ceco (lactulona promove distensão do ceco). • Avaliar se a ascite é devido a HP ou doença peritoneal. Para diferenciar: GASA GASA ≥ 1,1 HP: cirrose hepática e ICC • Proteína ≤ 2,5g/dl → cirrose • Proteína > 2,5g/dl → ICC ou doenças vaso-oclusivas GASA < 1,1 Não é HP: neoplasia, TBC, pâncreas, nefrótica • Proteína ≤ 2,5g/dl → síndrome nefrótica • Proteína > 2,5g/dl → neoplasia, TBC (na presença de ascite com GASA < 1,1 sem hipoproteinemia, investigue TBC através do ADA), pâncreas Pedir também na análise do líquido Aspecto macroscópico • Seroso: mais comum da cirrose • Hemorrágico: pense em neoplasia, embora possa ser acidente de punção • Turvo: pense em infecção Citometria • PMN ≥ 250 → Peritonite bacteriana espontânea ou secundária Logo, avalie os PMN. Bioquímica • Proteínas totais, Glicose e LDH: diferenciam PBE de PBS • Pedir também: cultura e Gram 4.1 TRATAMENTO Paracentese terapêutica • Ascite tensa (abdome tenso) • Líquido ascítico importante (abdome tenso) ao ponto de causar desconforto respiratório Tratamento clínico • Realizado na maioria das vezes • Avalie o peso sempre no mesmo horário e na mesma balança, antes da alimentação. Alvos: - ↓ 0,5kg/dia ou ↓ 1kg/dia com edema Restrição de sódio • Máximo 2g/dia de Na = 4 a 6 g de sal por dia • Passo fundamental para o tratamento • Restrição hídrica de 1 a 1,5L/dia se Na < 125 (hiponatremia importante) Diuréticos (VO) • Espironolactona : Furosemida = 100 : 40 mg. Aumentardoses a cada 3-5 dias (máximo 400 : 160 mg). Logo, inicie o tratamento com 100mg de espironolactona e 40mg de furosemida. • Espironolactona: iniciar com 100mg/dia, máximo de 400mg/dia • Furosemida: iniciar com 40mg/dia, máximo de 160mg/dia. Tratamento da ascite refratária • 10% dos casos • Causas: - Falência terapêutica (atinge dose máxima do diurético sem resposta) - Recorrência precoce (melhorou, mas não consegue reduzir a dose de diurético) - Não consegue usar o diurético: azotemia, Na < 120, K > 6 Avaliar a retirada de betabloqueador Mitodrile (?) • Não é autorizada pela ANVISA no Brasil Paracenteses terapêuticas a cada 2 semanas • Se realizar paracentese de grande volume (> 5L), faça prevenção de síndrome hepatorrenal com albumina: repor 6 a 10g de albumina por litro ascítico retirado. Alternativas • TIPS: serve como tratamento da ascite refratária ou como ponte para o transplante, sem ter impacto na sobrevida. • Transplante hepático • Shunt peritônio-venoso: válvula na cavidade peritoneal, correndo pelo subcutâneo, eliminando o líquido na v. jugular. Utilizado em último caso. 4.2 PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) Etiologia • Monobacteriana: Gram-negativo entérico, principalmente E. coli (>90%), podendo ser Klebsiella ou pneumococo. Clínica • Assintomática: maioria das vezes. • Tríade: compatível com infecção abdominal em hepatopata = febre (70%) + dor abdominal (60%) + encefalopatia (55%) Diagnóstico • Líquido ascítico com PMN ≥ 250/mm³ • Não é abdome cirúrgico: líquido ascítico comprime a parede do intestino, causando infecção bacteriana Tratamento • Retirar o betabloqueador: sua presença aumenta a mortalidade em 60% • Excluir PBS • Iniciar Cefotaxima 2g de 8/8h por 5 dias • Profilaxia da síndrome hepatorrenal: albumina (1,5g/kg no 1º dia e 1g/kg no 3º dia) se Cr > 1 ou BT > 4. Profilaxia da PBE Primária • No sangramento varicoso: Ceftriaxona OU norfloxacin por 7 dias • PBE Crônica: proteína ascítica < 1,5g + Cr > 1,2 ou Na ≤ 130 OU BT ≥ 3 OU CHILD ≥ 9 → norfloxacina 400mg/dia Secundária • Até acabar a ascite • Norfloxacin 400mg/dia 4.3 PERITONITE BACTERIANA SECUNDÁRIA (PBS) • < 5% dos casos • É polimicrobiana Diagnóstico • Líquido ascítico com PMN ≥ 250/mm³ e é abdome cirúrgico • 2 ou mais dos seguintes: - Proteína > 1 g/dl (↑ Ac) - Glicose < 50 mg/dl (consumo de energia) - LDH elevado (morte de células de defesa e de bactérias) • S e E > 98% com fosfatase alcalina (FA) de líquido ascítico acima de 240U/L e CEA > 5 ng/ml Tratamento • Cefalosporina de 3ª geração + Metronidazol • TC para identificar a causa + cirurgia ou drenagem 4.4 OUTRAS INFECÇÕES Ascite neutrofílica • PMN ≥ 250/mm³ • Cultura negativa • Tratamento: igual PBE. Bacterascite • PMN < 250mm³ • Cultura positiva • Tratamento: se sintomático. Repetir paracentese em 48-72h. 5. Encefalopatia hepática Fisiopatologia • ↑ amônia e outras toxinas Precipitada por • Hemorragia digestiva • Infecção • PBE • Constipação: fezes permanecem no intestino → bactérias produzem amônia → encefalopatia • ↓ K • Alcalose • Diurético Clínica • Sonolência: alteração do ciclo sono-vigília é uma das manifestações iniciais da encefalopatia • Flapping • Desorientação Tratamento • Tratar a causa • Reduzir a produção da amônia: - Lactulona: laxativo; pH intestinal torna-se ácido (transforma amônia em amônio, que não causa encefalopatia) - ATB: neomicina, metronidazol, rifaximina (não tem no Brasil). Erradica a bactéria que produz amônia nas fezes. 6. Síndrome hepatorrenal Fisiopatologia • Vasodilatação periférica + Vasoconstrição renal: ↓ pressão de perfusão renal devido à vasodilatação periférica graças à lesão hepática, mas em excesso, causando injúria renal aguda em rim normal. • Pode ocorrer em qualquer hepatopatia grave Diagnóstico • De exclusão! • Hepatopatia grave com HP + IRA ou Cr > 1,5 que - Não melhora com retirada do diurético nem uso de albumina - Sem choque, sem droga nefrotóxica - US sem nefropatia parenquimatosa ou obstrutiva (rim mais brancacento) - EAS com < 50 HM / proteinúria < 500mg/24h Tipos Tipo 1 • Rápida progressão para IRA: Cr duplica e fica > 2,5 em menos de 2 semanas Tipo 2 • Insidiosa, melhor prognóstico, com tratamento questionável Tratamento • Albumina + Droga vasoconstritora: terlipressina (enfermaria), noradrenalina (CTI) - Droga vasoconstritora → ↑ pressão hidrostática, provocando retirada do líquido → adicione albumina. • Hemodiálise • Se não der certo: transplante hepático Anatomia das vias biliares • Hepatócito produz bile, que atinge o canalículo biliar. A união de canalículos biliares no interior do fígado forma a via biliar intra-hepática, tanto à direita quanto à esquerda. • À direita, drenando a bile da direita, há o ducto hepático direito. Da mesma forma, à esquerda, drenando a bile da esquerda, há o ducto hepático esquerdo. • Ao sair do fígado, os ductos hepáticos direito e esquerdo se unem, formando o ducto hepático comum. • A vesícula biliar (inferior ao fígado, armazenando a bile) comunica-se com a via biliar extra-hepática pelo ducto cístico. A junção do ducto cístico com o ducto hepático comum forma o ducto colédoco, o qual percorre um longo caminho na via extra-hepática (relação com cabeça do pâncreas) até atingir a 2ª porção do duodeno (papila maior), levando a bile produzida pelo fígado ao TGI. Antes de desembocar na papila duodenal maior, o ducto colédoco se une com o ducto pancreático principal (Wirsung), formando a ampola de Vater (esfíncter de Oddi), que desemboca na papila maior do duodeno. • Ao redor da ampola de Vater há o esfíncter de Oddi, que permanece contraído, controlando a saída de bile, principalmente o refluxo do conteúdo do TGI para o interior do colédoco. - A vesícula biliar enche-se por retroalimentação: bile represada devido à contração do esfíncter de Oddi reflui para a vesícula biliar. • Triângulo de Calot (PROVA – importância cirúrgica): borda hepática (face visceral da parte hepática direita) + ducto hepático comum + ducto cístico. Toda colecistectomia exige a identificação do triângulo de Calot, dentro do qual passa a artéria cística (ramo da a. hepática direita), responsável pela vascularização da vesícula, que deve ser ligada cirurgicamente. Doença calculosa biliar Definições • Doença calculosa biliar: presença de cálculo no interior da via biliar extra-hepática • Colelitíase: cálculo no interior da vesícula biliar. • Colecisite aguda: cálculo impacta o ducto cístico, obstruindo a saída da vesícula biliar • Coledocolitíase: cálculo impactado no colédoco • Colangite aguda: bile represada provoca infecção. Geralmente se associa a uma coledocolitíase. • Pancretaite aguda biliar: obstrução do ducto pancreático principal pelo cálculo Tipos de cálculo • Amarelo, preto ou marrom Amarelo Preto Marrom Tipo (pigmentado ou não pigmentado) Não pigmentado Pigmentado Pigmentado Frequência 80% 15% 5% Composição Colesterol MUITO bilirrubinato de cálcio Bilirrubinato de cálcio (camada ENTREMEADA com colesterol) Local Vesícula biliar Vesícula biliar Colédoco Fator de risco Vários (relacionados ao excesso de colesterolna bile) Hemólise crônica (anemia hemolítica, prótese valvar metálica) Obstrução (principalmente do colédoco, seja por corpo estranho, parasita ou tumor, causando estase biliar, que favorece a proliferação bacteriana, com produção de betaglucuronidase, a qual transforma a BD em BI, que é insolúvel, formando cálculo) Obs.: pode haver coledocolitíase primária (cálculo formado no interior do colédoco, sendo marrom/castanho) ou secundária (cálculo – amarelo ou preto - migra da vesícula e impacta no colédoco; mais comum). Fatores de risco para cálculo amarelo (de colesterol) • Sexo feminino • Estrogenioterapia: estrogênio estimula liberação de colesterol na bile • Idade avançada: vesícula perde a capacidade de contrair, causando represamento da bile e precipitação de colesterol, formando cálculo • Obesidade: elimina mais colesterol pela bile • Emagrecimento rápido: aumenta a liberação de colesterol na bile • Drogas: clofibrato (reduz o índice de colesterol no sangue por meio do estímulo à liberação de colesterol através da bile) • ↓ recirculação êntero-hepática: doença ileal (ressecção dos 10cm finais do intestino delgado, Crohn) Obs.: sal biliar solubiliza a bile, evitando a formação de cálculo biliar. Como há gasto energético na produção do sal biliar, ocorre reabsorção do mesmo através da recirculação êntero-hepática, no íleo terminal (10cm finais do intestino delgado). Logo, problema no intestino delgado dificulta a reabsorção. 1. Colelitíase Clínica • Assintomático (85%), descoberta em exames de rotina ou por outras queixas • Cólica biliar (15%) + nada: cálculo impactado no infundíbulo, obstruindo a vesícula transitoriamente (até 6h) → contração intensa da vesícula para vencer a obstrução → dor (duração máxima de 6h) → após 6h, o cálculo sai do infundíbulo e retorna ao local de origem. - Geralmente a dor piora após refeições copiosas (ricas em gordura) Logo, acima de 6h de impactação haverá inflamação, não sendo colelitíase, sim colecistite. Diagnóstico • Cálculo de colesterol não é visível ao RX de abdome • US abdominal: imagem hiperecóica (branca) no interior da vesícula com sombra acústica (região enegrecida abaixo da imagem branca) Tratamento Colecistectomia videolaparoscópica (CVL) • Não deve ser realizada em indivíduos assintomáticos, apenas na presença de cólica biliar. Logo, se houve sintomas, opere. Se não houver, não opere, com exceções. • Operar assintomáticos se: - Vesícula em porcelana - Associação com pólipo (> 1 cm, paciente > 60 anos, crescimento do pólipo) - Cálculo > 3 cm (para evitar câncer de vesícula – múltiplos cálculos não consistem em fator de risco para essa comorbidade) • Não operar sintomáticos se: - Risco cirúrgico alto - Recusa do paciente Obs.: cirurgia abdominal prévia é contraindicação relativa de cirurgia videolaparoscópica. Tratar a doença sintomática clinicamente? • Dissolução farmacológica (ursodesoxicólico) se cálculo de colesterol < 15 mm (principalmente < 5 mm) 2. Colecistite aguda Fisiopatologia • Cálculo impacta no ducto cístico, sendo uma obstrução permanente, superior a 6h → distensão da vesícula biliar → cólica biliar • Bile contém enzimas, as quais irritam a mucosa da vesícula biliar, inflamando-a Logo, é a inflamação da mucosa da vesícula biliar devido à presença de um cálculo obstruindo-a por mais de 6h. Quadro clínico • Dor abdominal > 6h + Febre (inflamação) + Murphy positivo - Murphy: palpar o ponto cístico (HCD direito) enquanto o paciente realiza inspiração profunda (enche o peito de ar através do abaixamento do diafragma, abaixando o fígado e, consequentemente, a vesícula), com a vesícula encostando na ponta do dedo, o que causa dor, a qual provoca interrupção abrupta da inspiração. Logo, Murphy positivo é a interrupção abrupta da inspiração durante a palpação do ponto cístico. • Sem icterícia: não há obstrução da via biliar principal Laboratório • Leucocitose + Bilirrubinas “normais” (se houver alteração das bilirrubinas, não afastará o dx) Diagnóstico • US de abdome: 1º exame realizado, mas não é o padrão-ouro. Sinais ultrassonográficos: - Cálculo impactado - Parede espessada (> 3mm) - Murphy sonográfico • Cintilografia biliar: padrão-ouro. Ao ingerir tecnécio, que é eliminado pela bile, há coloração enegrecida, que é visível no fígado e na vesícula biliar em indivíduos sadios. Na colecistite aguda, o contraste não entra, pois não há retroalimentação negativa, ou seja, a vesícula biliar não é visível. Complicações • Pode haver perfuração (livre, localizada, fístula) ou colecistite enfisematosa Perfuração • Livre: isquemia da vesícula, com necrose da parede, que se abre na cavidade, causando PERITONITE (↑ febre, ↑↑ leucocitose). Tratamento: cirurgia de urgência. • Localizada: bloqueada, formando ABSCESSO. Tratamento: avaliar colecistostomia (drenar). • Fístula: formação de ÍLEO BILIAR (paciente com colecistite aguda tem a vesícula grudada no duodeno, com formação de fístula intestinal, causando passagem do cálculo, que estava impactado, atingindo o colédoco e o íleo distal, onde o cálculo fica impactado). Colecistite enfisematosa • Quadro mais grave, ocorrendo em idosos e diabéticos. • É a presença de ar na parede da vesícula: Clostridium welchii (anaeróbico que produz gás) Tratamento Medidas gerais + Antibiótico “terapia” • Medidas gerais: hidratação • ATB: a bile é estéril, mas a presença de obstrução provoca estase biliar, que favorece a proliferação de bactérias. Cubra E. coli, Klebsiella e enterococo. CVL precoce • Idealmente deve ser feita em até 72h Logo, não espere o processo “esfriar”. Mesmo se houver mais de 72h de doença, opere o paciente. Colecistostomia percutânea • Indicada em casos graves, sem condição de cirurgia • Técnica: drenar a bile. Tratamento das complicações • Perfuração livre: cirurgia de urgência • Perfuração localizada: colecistostomia Algo a mais Síndrome de Mirizzi • Fisiopatologia: obstrução do DUCTO HEPÁTICO COMUM por cálculo no infundíbulo (extrínseca) = cálculo obstrui o INFUNDÍBULO da vesícula, pende e obstrui o ducto hepático comum (obstrução extrínseca) • Quadro clínico: colecistite + icterícia Classificação • I: sem fístula • II, III, IV: com fístula biliobilar - II: até 1/3 do ducto - III: até 2/3 do ducto - IV: toda a circunferência Colecistite alitiásica • Colecistite acalculosa: pacientes graves em CTI • Quadro clínico: seria idêntico ao da colecistite aguda calculosa, mas, como acomete pacientes graves (IOT, sedado, NPT, grande queimado), geralmente não há queixa de dor. - Febre + leucocitose no CTI = US abdominal • Conduta: colecistectomia de emergência ou colecistostomia (se estiver muito grave e não suportar a cirurgia) 3. Coledocolitíase Etiopatogenia • Cálculo no colédoco: primário (10%) ou secundário (90%) - Primário: marrom - Secundário: cálculo migra da vesícula e impacta no colédoco. Quadro clínico • Icterícia intermitente: obstrução do colédoco provoca estase de bile e icterícia, mas às vezes o cálculo consegue se movimentar, permitindo escoamento da bile, que causa melhora da icterícia. • Vesícula não palpável: por dois motivos. - Vesícula biliar é distendida por retroalimentação, mas o cálculo pode se movimentar, permitindo o escoamentoda bile, aliviando a pressão. - Além disso, em 90% dos casos há coledocolitíase secundária e a vesícula com cálculo torna-se escleroatrófica (não se distende). • Dor no HCD direito que irradia para o dorso Diagnóstico • US de abdome: o colédoco pode não ser visualizado adequadamente. Assim, cálculo no colédoco sela o diagnóstico, mas uma US abdominal normal não afasta o risco de coledocolitíase, exigindo CPRE ou colangioRM. • Confirmado por CPRE (contraste ascendente em toda a via biliar) ou colangioRM (menos invasiva): falha de enchimento da via biliar • Em todo paciente com colelitíase, avalie o risco de coledocolitíase antes da cirurgia (conduta pré-operatória) através de US, hepatograma e bilirrubina. - Risco elevado → melhor exame (dx e tto) - Risco intermediário → colangioRM (CPRE com risco de pancreatite, sangramento, perfuração) → se positiva, faça CPRE - Risco baixo → colangiografia per-operatória Risco Conduta Alto: - Icterícia flutuante - US com cálculo no colédoco - Bilirrubina > 4mg/dl CPRE Intermediário: - Colédoco > 6mm - Bilirrubina entre 1,8-4mg/dl - Outro laboratório anormal ColangioRM Baixo: - Colédoco < 5mm + Alteração laboratorial Colangiografia per-operatória Muito baixo - Tudo negativo Colecistectomia Tratamento CPRE: papilotomia endoscópica • Se descoberto no pré-operatório Exploração cirúrgica (vídeo ou aberta) • Se descoberto no per-operatório • Videolaparoscópica: abertura do colédoco, passagem de cateter com balão para dilatá-lo, ampliação da incisão, retirada do cálculo. • Sutura na via biliar exige colocação de dreno de Kehr (em T) para garantir o escoamento da bile até cicatrização e colangiografia evidenciando escoamento correto, evitando fístula e estenose. Derivação bileo-digestiva • Indicações: cálculos intra-hepáticos, múltiplos cálculos • Técnica: ampliação da comunicação do colédoco com o TGI 4. Colangite aguda Etiopatogenia • Obstrução + infecção das vias biliares - Obstrução impede escoamento da bile, causando estase biliar, o que favorece a proliferação bacteriana. Tipos • Não-grave (não-supurativa) ou grave (supurativa) Não-grave (não-supurativa) • É grave, mas o paciente responde bem à Antibioticoterapia. • Tríade de Charcot: febre com calafrio + icterícia + dor abdominal. Grave (supurativa) • Paciente não responde à Antibioticoterapia • Pêntade de Reynolds: tríade de Charcot + hipotensão + rebaixamento do nível de consciência Tratamento • Da obstrução e da infecção: drenagem biliar + atb Drenagem biliar • Não-grave: drenagem ELETIVA • Grave: drenagem IMEDIATA • Obstrução baixa → CPRE • Obstrução alta → drenagem transhepática percutânea (anestesia local; guiado por método de imagem) ATB • Cobrir enterococo Neoplasias das vias biliares 1. Tumores periampulares Definição • Tumores que se desenvolvem ao redor da ampola de Vater: - cabeça de pâncreas (principal) - câncer da papila de Vater - colangiocarcinoma - duodeno Quadro clínico • Icterícia progressiva: tumor cresce, comprime e obstrui • Vesícula de Courvoisier-Terrier: vesícula palpável e indolor ao exame físico Logo, desconfie de tumor periampular na presença de icterícia progressiva e sinal de Courvoisier. Já na colecodolitíase a icterícia é flutuante e a vesícula não é palpável. • Emagrecimento • Câncer de papila de Vater: pode haver períodos de atenuação da icterícia + melena = papila é uma estrutura terminal e a vascularização não acompanha a o crescimento tumoral, havendo necrose do tumor, manifestada como períodos de atenuação da icterícia e sangramento. 2. Tumor de Klatskin Definição • Colangiocarcinoma peri-hilar: tumor ao redor da junção dos ductos hepáticos direito e esquerdo, formando o ducto hepático comum. Quadro clínico • Icterícia progressiva • Vesícula impalpável: obstrução alta impede a passagem de bile para a vesícula biliar. Logo, no tumor periampular há sinal de Courvoisier, enquanto no tumor de Klatskin a vesícula é impalpável • Emagrecimento Diagnóstico • US de abdome: vesícula murcha / contraída + dilatação de via biliar intra-hepática Classificação de Bismuth • Tipo I: somente hepático comum • Tipo II: junção dos hepáticos • Tipo IIIa: hepático comum + hepático direito • Tipo IIIb: hepático comum + hepático esquerdo • Tipo IV: ambos os hepáticos Logo, a classificação de Bismuth evidencia a progressão da doença.
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