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O BEHAVIORISMO EM DISCUSSÃO[1] 
Márcia Terra 
Doutoranda em Lingüística Aplicada/ IEL/UNICAMP 
APRESENTAÇÃO 
O propósito deste trabalho é tecer algumas considerações sobre o behaviorismo. Para tanto, 
desenvolvemos o assunto, procurando, em um primeiro momento, reconstituir as condições de 
emergência do behaviorismo que se verifica em um quadro de crise da Psicologia em busca de 
sua definição enquanto ciência. Em um segundo momento, buscamos apresentar a linha de 
evolução do behaviorismo, focalizando as suas principais abordagens quer sejam: (i) behaviorismo 
Metodológico (Watson); (ii) behaviorismo radical (Skinner); e (iii) behaviorismo Social (Staats). 
1. O CONTEXTO DE EMERGÊNCIA DO BEHAVIORISMO: A CRISE NA PSICOLOGIA 
Para situar os modos de produção da representação de mundo que deram origem aos modelos de 
concepção e atuação do Behaviorismo, um termo inaugurado por J.B. Watson em seu artigo 
publicado em 1913 com o título "Psicologia: como os behavioristas a vêem" (FURTADO, 1999), 
torna-se importante uma reflexão epistemológica relacionada ao percurso percorrido pela 
Psicologia em busca da sua definição como ciência. Recuperar tal trajetória, que sempre esteve 
ligada às visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade, é 
condição essencial à compreensão do contexto de emergência do behaviorismo e dos tipos de 
demanda que a Psicologia procurou superar até chegar ao estágio de evolução em que se 
encontra na atualidade. 
Em uma perspectiva histórica, as ciências humanas são marcadas por três concepções de mundo 
e de homem que apresentam características distintas: a cosmocêntrica, a teocêntrica e a 
antropocêntrica (FREITAS, 2000). Na primeira concepção, a cosmocêntrica, os homens eram 
meros expectadores assujeitados aos imperativos do Cosmo que tudo regia. Trata-se de uma visão 
de homem abstrato, a-histórico e subjugado a uma moral de caráter metafísico. Na segunda 
concepção, a teocêntrica, os fundamentos que explicam todas as coisas, incluindo a produção do 
conhecimento, permaneciam situados externamente ao homem, entretanto, deslocando-se dos 
imperativos do Cosmo foram incorporados pelos desígnios de uma ordem divina, de um Deus 
criador, que a tudo regia. 
A terceira concepção, a antropocêntrica, emerge no Renascimento, época em que se verificam 
transformações radicais no mundo europeu decorrentes do mercantilismo, movimento que levou à 
descoberta de novas terras e à acumulação de riquezas pelas nações em formação (França, Itália, 
Espanha e Inglaterra), caracterizando uma transição para o capitalismo e para a formação de uma 
nova organização econômica e social. A burguesia que emergia como uma nova classe social, 
visando a alcançar a sua própria emancipação, reivindica a libertação do homem da sua condição 
de assujeitado à imutabilidade das leis do universo e defende a possibilidade de desvendar a 
Natureza. 
A descoberta de Copérnico, em 1543, ao rejeitar a síntese aristotélica, descentralizando a posição 
da Terra no universo, altera a posição do homem no mundo bem como de suas relações com ele, 
consigo mesmo e com Deus, estabelecendo um rompimento epistemológico com a visão de mundo 
antigo e medieval paradigmado pelo determinismo físico e ontológico da esfera celeste e introduz, 
assim, uma nova maneira de perceber o homem. (FREITAS, 2000:44). 
Com a revolução científica do século XVI, conforme assevera Santos (1997), instaura-se um 
modelo geral de racionalidade que viria a ser desenvolvido nos séculos vindouros, embora que 
timidamente no século XVIII, mas que alcança o âmbito das ciências sociais emergentes, no século 
XIX, 
Um modelo totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as 
formas de conhecimento que não se pautarem pelos seus princípios 
epistemológicos e pelas suas regras metodológicas, sendo esta a sua 
característica fundamental e que melhor simboliza a ruptura do novo paradigma 
científico com os que o precedem (ibid, p.11) 
Em meados do século XVIII, a ciência moderna, saída da revolução científica do século XVI, 
caracteriza-se pelo crescimento da nova ordem econômica - o capitalismo - que, no século XIX, 
desencadeia o processo de industrialização e, com ele, a necessidade de respostas e soluções 
práticas no campo da técnica, um movimento que acarretou transformações sem precedentes na 
história da humanidade. 
A Psicologia que até meados do século XIX constituía um ramo da Filosofia encontrava-se 
marcada por duas vertentes teóricas antagônicas e inconciliáveis, sendo uma de tendência 
objetivista e a outra de tendência subjetivista. Ambas herdadas das proposições de dois grandes 
filósofos: Bacon (1214-1292), fundador do materialismo inglês, cujas idéias valorizam o papel da 
experiência da ciência (FREITAS, op.cit.) e Descartes (1596-1659). 
Descartes, um dos filósofos mais expressivos para o avanço da ciência, postula a separação 
radical entre o corpo e a alma, ou seja, entre o físico e o psíquico, argumentando que o estudo 
científico do homem deveria restringir-se ao seu corpo físico, enquanto que à Filosofia estaria 
designado o estudo da sua alma (DESCARTES, 2000). O dualismo corpo-mente proposto por 
Descartes dá origem às duas grandes vertentes da Filosofia no século XIX - o idealismo, de 
tendência subjetivista e o materialismo-mecanicista, de tendência objetivista - que permeiam a 
Psicologia em geral (FREITAS, 2000; LURIA, 2001; COLE&SCRIBNER, 2000, entre outros). 
Conforme pontua Freitas (2000, com base em Japiassu e Marcondes, 1990:68), Descartes foi 
quem introduziu os conceitos de reflexo e de consciência (muito embora ele não tenha usado o 
termo consciência mas o cogito que é "a descoberta do espírito por si mesmo, que se percebe que 
existe como sujeito"). Com Descartes, portanto, de acordo com Freitas (2000:49), surge "o 
princípio da introspecção, da auto-reflexão da consciência, que teve influência sobre as tendências 
idealistas, enquanto a interpretação mecanicista ou naturalista da conduta humana representou a 
sua influência sobre as tendências materialistas". 
Emmanuel Kant, filósofo alemão cujas idéias filosófico-racionais derivam da incorporação de 
elementos como liberdade, individualismo e igualdade que constituíram a concepção de mundo da 
burguesia européia entre os séculos XII e XVIII, exerceu grande influência rumo ao subjetivismo 
"ao situar o mundo das idéias na consciência individual" (FREITAS, op.cit.). No continente europeu, 
seus seguidores afirmavam que "idéias de espaço e tempo e conceitos de quantidade, qualidade e 
relação originavam-se na mente humana e não poderiam ser decompostas em elementos mais 
simples” (COLE&SCRIBNER, 2000). 
A tendência materialista-mecanicista de Descartes foi refletida nos materialistas franceses do 
século XVIII e no materialismo sensualista de John Locke (1632-1704), na Inglaterra. Os 
seguidores de Locke desenvolveram sua visão empirista de mente dando conta de que as idéias 
eram constituídas a partir de sensações produzidas por estimulação ambiental. Comte (1798-1857) 
introduz a era da positividade, e a noção de introspecção, sendo as suas idéias seguidas por 
psicólogos empiristas que partiram para o estudo positivo. 
Com Wundt (1832-1920) foi dado o passo definitivo para a constituição da Psicologia Experimental 
e, portanto, da Psicologia como ciência. Para Wundt importava uma Psicologia que só admitisse 
fatos e, dessa forma, o seu programa de estudos voltou-se à experimentação e à mensuração a 
fim de controlar os dados fornecidos pela introspecção. A trajetória de consolidação da Psicologia 
como ciência inclui, ainda, a influência da Biologia Evolucionista de Darwin (1809-1882), da 
Psicologia Experimental dos animais de Thorndike (1874-1949) e da Reflexologia russa de Pavlov 
(1849-1936). 
Em síntese, a linha evolutiva da Psicologia é marcada por um constante oscilar entreas duas 
vertentes teóricas antagônicas, ora o pêndulo aponta para os princípios de uma tendência 
objetivista que prioriza o dado externo, e ora aponta para uma tendência subjetivsta calcada na 
consciência, ambas, por sua vez, objetivando atender às demandas configuradas em cada 
momento histórico que as originam. 
2. O BEHAVIORISMO: O ESTUDO DO COMPORTAMENTO 
Conforme pontua Baum (1999) "a idéia do behaviorismo é simples de ser formulada: é possível 
uma ciência do comportamento". Tal argumento, explica ele, fundamenta-se no fato de que - 
apesar das controvérsias sobre o sentido de "ciência" ou de "comportamento", incluindo questões 
sobre "se a ciência do comportamento dever ser a psicologia" ou "se a psicologia é uma ciência" - 
"todos os behavioristas concordam que pode haver uma ciência do comportamento" (id.ibid.). 
Assim, segundo o autor, o behaviorismo pode ser referido como 
um conjunto de idéias sobre essa ciência chamada de análise do comportamento, 
e não a ciência ela própria, o behaviorismo não é propriamente uma ciência, mas 
uma filosofia da ciência. Como filosofia do comportamento, entretanto, aborda 
tópicos que muito prezamos e que nos tocam de perto: por que fazemos o que 
fazemos e o que devemos e não devemos fazer. 
Visando à melhor compreensão desse conjunto de idéias, abordamos, a seguir, as características 
relacionadas aos três principais modelos de Behaviorismo já que, desde a sua primeira geração, o 
sentido de "comportamento" sofreu transformações importantes. 
2.1. A PRIMEIRA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO METODOLÓGICO 
John B. Watson, com a publicação do seu artigo intitulado "Psicologia: como os behavioristas a 
vêem", inaugura, em 1913, o termo que passa a denominar uma das mais expressivas tendências 
teóricas ainda vigentes: o Behaviorismo. O termo inglês "behavior" significa "comportamento", 
razão pela qual usamos, no Brasil, Behaviorismo como também Comportamentalismo, Análise 
Experimental do Comportamento, entre outros, para nos referirmos à visão teórica em pauta 
(FURTADO, op.cit.). Ao postular o comportamento como objeto de estudos da Psicologia, Watson 
estabelece um objeto de estudos "observável e mensurável, cujos experimentos poderiam 
reproduzir diferentes condições e sujeitos” (ibid. p.45). 
As concepções de Watson, guiadas pela psicologia objetiva de Comte, representam uma grande 
oposição à introspecção, movimento que vigorava na época, assim como rejeitavam também a 
analogia como métodos. As proposições de Watson, portanto, trouxeram respostas essenciais aos 
objetivos que os psicólogos buscavam na época e contribuíram para o rompimento definitivo da 
psicologia com a sua tradição filosófica. Como lembra Staats (1980), 
(...) antes do aparecimento do behaviorismo, o método fundamental para a 
Psicologia era o da introspecção. Por algum tempo os psicólogos pensaram que a 
tarefa da psicologia era investigar os conteúdos, a estrutura e o funcionamento da 
mente, realizando o sujeito um auto-exame e relatando a sua experiência (...) o 
comportamento animal era igualmente interpretado adotando-se o conceito de 
consciência humana. 
O behaviorismo metodológico toma como base o realismo. O realismo defende a idéia de que há 
um mundo real, que ocorre no mundo real, sendo que é a partir desse mundo real externo - 
objetivo - que constituímos o nosso mundo interno - subjetivo. Paradoxalmente, temos contato 
apenas com a nossa experiência interna que nos é dada pelos nossos sentidos. Isso porque o 
mundo externo, objetivo, não nos é accessível diretamente. Assim, os nosso sentidos nos 
fornecem apenas dados sensoriais sobre aquele comportamento real que nunca conhecemos 
diretamente (BAUM, op.cit). 
Como behaviorista metodológico, portanto, o interesse de Watson concentra-se na busca de uma 
psicologia livre de conceitos mentalistas e de métodos subjetivos e que possa reunir condições de 
prever e de controlar. Para tanto, torna-se importante, em compasso com o realismo, estabelecer 
uma dicotomia entre o mundo objetivo-mundo subjetivo. À ciência, constituída de métodos próprios 
ao estudo do mundo objetivo, caberia lidar apenas com o mundo que está 'fora' do sujeito, o 
mundo que é compartilhado, accessível a outras pessoas e com o qual, por conseguinte, todos 
poderiam, potencialmente, concordar. 
Entendendo que o homem possui um aparato orgânico que se ajusta ao ambiente em que vive por 
meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos, Watson defende a idéia de que o 
comportamento deve ser estudado como função de certas variáveis do meio, sob o argumento de 
que certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas. Nessa linha de raciocínio, 
ele procura descrever os eventos comportamentais atribuindo-lhes um caráter mecânico e o mais 
próximo possível da fisiologia, uma vez que as razões que estariam subjacentes ao 'levar' o 
homem a desempenhar o comportamento deveriam ser tratadas isoladamente. 
O behaviorismo de Watson fundamenta-se em uma das leis mais famosas do behaviorismo 
metodológico que é a de Pavlov: o condicionamento clássico, ou o reflexo incondicionado que 
consiste, tomando as palavras de Furtado (op.cit.:47), "em respostas que são eliciadas 
(produzidas) por estímulos antecedentes do ambiente (ex. contração das pupilas quando há luz 
forte sobre os olhos)”. Aprofundando e ampliando tais noções, Watson chega ao conceito de 
"reflexo condicionado" que consiste em interações estímulo-resposta (ambiente-sujeito) nas quais 
o organismo é levado a responder a estímulos que antes não respondia. Isso se dá em função de 
um pareamento de estímulos, como por exemplo: imergir a mão na água gelada e ouvir o som de 
uma campainha repetidas vezes. Depois de um certo tempo, a mudança de temperatura nas mãos 
poderá ser eliciada apenas pelo som da campainha, isto é, sem a necessidade de imersão das 
mãos (FURTADO, op.cit.). A formulação do behaviorismo de Watson é representada pela relação 
S-R, onde S é o estímulo do ambiente e R a resposta do organismo. 
2.2 A SEGUNDA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO RADICAL 
B.F. Skinner, em 1945, introduz o Behaviorismo radical, defendendo a análise experimental do 
comportamento. Contrapondo-se ao Behaviorismo metodológico de Watson, de cunho realista, o 
programa de Skinner adota os princípios do pragmatismo, cuja base é a de que a força da 
investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a maneira como o 
universo objetivo funciona, mas no que ela nos permite fazer, ou seja, a grande realização da 
ciência é que ela permite dar significado a nossa experiência. Isso implica entender que o 
pragmatismo se preocupa com a funcionalidade do objeto real observável, mensurável, e não com 
a existência de um objeto real por detrás desses efeitos (BAUM, op.cit.; FURTADO, op.cit.). 
Os behavioristas radicais, nessa linha, tentam romper com o dualismo mundo objetivo-mundo 
subjetivo.Ou seja, em vez de se pautarem em métodos, eles adotam conceitos e termos "os termos 
que usamos para falar do comportamento não apenas nos permitem compreendê-lo, mas também 
o definem: comportamento inclui todos os eventos sobre os quais podemos falar sobre eles com os 
nossos termos inventados", conforme citação de Skinner, em Baum (op.cit.). Nessa esteira, os 
beharioristas radicais equiparam a noção de verdade com poder explicativo e, então, buscam 
termos descritivos que sejam "úteis à compreensão e econômicos à discussão" - se a pergunta 
sobre a existência do universo real fora do sujeito é fútil, então também é fútil perguntar sobre a 
existência de uma verdade final, absoluta (idem). 
Dessa perspectiva, os behavioristas radicais admitem todos os eventos naturais - passíveis de 
serem acessados - incluindo eventos públicos e privados e excluem os eventos fictícios - que não 
podem ser acessados. A mente e todas as suas partes e processos, como causas mentais docomportamento, são considerados fictícios e, portanto, constituem termos que devem ser evitados. 
O mentalismo é, portanto, insatisfatório, na medida em que é anti-econômico. Os behavioristas 
radicais assumem, dessa forma, que as causas do comportamento encontram-se na 
hereditariedade e no ambiente passado e presente. 
À luz do que precede, o behaviorismo radical de Skinner está na formulação do "comportamento 
operante" que pode ser representado pela relação: R à S , em que R é a resposta e S (do inglês 
'Stimuli') é o estímulo reforçador que tanto interessa ao organismo, e a flecha significa 'levar a'. A 
esse respeito, segundo Keller (1973 apud Figueiredo op.cit.) o comportamento operante inclui 
todos os movimentos de um organismo dos quais se possa dizer que em algum momento têm 
efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O comportamento operante opera sobre o mundo, 
por assim dizer, quer direta, quer indiretamente. 
Ou seja, no caso do comportamento operante a aprendizagem deixa de ser um mero 
condicionamento de hábitos e passa a considerar a interação sujeito-ambiente. Difere-se da 
relação R-S do comportamento respondente ou reflexo (Watson) na medida em que o estímulo 
reforçador que é chamado de REFORÇO assume a responsabilidade pela ação, apesar de ela 
ocorrer após a manifestação do comportamento. Neste caso, o que vai propiciar a aprendizagem 
dos comportamentos é a relação fundamental - a relação entre a ação do sujeito (emissão da 
resposta) e as conseqüências. Quer dizer, a aprendizagem está na relação entre uma ação e o seu 
efeito, significando entender com isso que as conseqüências das respostas às ações que 
praticamos são as variáveis de controle mais relevantes na determinação de nossos 
comportamentos subseqüentes. 
Em resumo, estudar o comportamento é fazer uma análise funcional do comportamento - (F) S à 
(F)R - é descrever as funções que determinam uma dada resposta, ou seja, analisar as 
contingências (conjunto hipotético de relações funcionais) que determinam o comportamento.que 
envolve três dimensões: (a) eventos antecedentes; (b) respostas; (c) eventos conseqüentes. Muito 
embora só se possa definir a função reforçadora de um evento ambiental a partir da função que ele 
exerce sobre o comportamento do indivíduo, tem-se como definição que o 'reforço positivo' 
representa um evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o produz, tanto quanto 
um 'reforço negativo' representa um evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o 
remove ou atenua (FURTADO, op.cit.). 
3. A TERCEIRA GERAÇÃO: BEHAVIORISMO SOCIAL 
Concordando com a idéia de que "as revoluções são feitas, geralmente, contra os grupos que 
estão no poder" mas discordando, contudo, de revolucionários extremistas que "demolem a velha 
ordem e não se preocupam em separar o que existe de certo e errado na mesma", Staats (1980) 
reivindica a sua posição de representante da 3
a
. geração de behavioristas, objetivando ultrapassar 
as duas gerações de behavioristas precedentes. Conforme diz ele, os dois movimentos anteriores 
caracterizam-se, justamente, pelo caráter extremista de seus programas. 
Staats (1980) assevera que embora o programa de Watson tenha sido uma correção para os 
abusos da época, ele foi radical e por isso mesmo rejeitou importantes áreas de estudos, 
estendendo esta rejeição aos termos e métodos da introspecção. Da mesma forma, enfatiza o 
autor, a abordagem de Skinner 
Manteve o extremismo da revolução original de Watson. Esta abordagem rejeita, 
sem maiores exames, os métodos, conceitos, princípios e observações das 
ciências sociais. Ele não elabora princípios que considerem a forma pela qual os 
seres humanos diferem dos animais. Não existe evidência de que o conhecimento 
social de qualquer outra espécie tenha sido sistematicamente formulado e tenha 
valor (...) significa, na prática, que qualquer outra coisa que não seja o 
condicionamento operante ou que não possa ser explicado como tal, incluindo 
muito do próprio behaviorismo, é rejeitado (ibid, p. 100-101) 
Para Staats, uma característica fundamental da abordagem de Skinner e de seus seguidores é a 
de ser um sistema fechado. Trata-se, argumenta o autor, de um sistema restritivo e improdutivo, na 
medida em que a freqüência da resposta é o dado básico de Skinner e ele considera ser o único 
válido. E nesse sentido, enfatiza Staats (1980), Skinner "radicalizou o conflito entre o behaviorismo 
e as ciências humanísticas no que se refere à concepção de homem" (ibid p.102). Igualmente, o 
behaviorismo de Watson, prossegue o autor, "fracassou porque não considerou as pesquisas do 
comportamento humano que seguiam outras orientações" (id.ibid). 
Assim, Staats (1980) reivindica para a evolução do behaviorismo a integração e união de áreas do 
conhecimento, enfatizando a necessidade de "um paradigma que conduza à unidade todo esse 
esforço científico no estudo do homem", ou como diz ele "o que precisamos é de uma terceira 
geração de behaviorismo, o behaviorismo social" (ibid p.103). Em linhas gerais, os 
desenvolvimentos mais significativos do quadro conceitual da Teoria da Aprendizagem Social, que 
surgem a partir de Staats, englobam, dentre outros, os seguintes aspectos que passamos a 
discutir. 
A primeira grande modificação introduzida foi o reconhecimento de que a análise do 
comportamento deve considerar os processos simbólicos, uma vez que a capacidade de utilizar a 
linguagem instrumentaliza a possibilidade de representação de eventos e de situar o presente com 
base em experiências passadas. Em decorrência, ao contrário das duas abordagens anteriores do 
behaviorismo, o interesse concentra-se na análise cuidadosa do pensamento e dos mecanismos 
que este utiliza para controlar a ação. 
Uma Segunda inovação importante diz respeito "à concepção de comportamento como uma 
interação contínua e recíproca entre fatores ambientais, comportamentais e cognitivos" (DAVIS, 
s/d: 77). Uma nova visão que se contrapõe à de Skinner que concebe o comportamento como uma 
via de mão única, ou seja, assujeitando o homem à ação do ambiente. Em contraste aos 
pressupostos deterministas das abordagens anteriores que tratam os homens como organismos 
meramente passivos a um constante bombardeio de estímulos ambientais, o behaviorismo social 
coloca em pauta a ênfase nos processos auto-regulatórios. Passa a vigorar um determinismo 
recíproco entre homem-ambiente. O homem é capaz de direcionar o curso da sua ação, isto é, 
transforma-se em um organismo ativo que é capaz de selecionar e organizar dentre os estímulos 
que determinam as suas respostas, aqueles que considera relevantes. 
Uma terceira modificação é a noção de "aprendizagem através de modelação" que se refere à 
aquisição de conhecimentos e comportamentos novos por meio de observação. A característica 
fundamental dessa abordagem é a de que "grande parte da aprendizagem humana depende de 
processos perceptuais e cognitivos". Quer dizer, "o reforço direto da própria ação é apenas uma 
das variáveis que atuam o processo de aquisição de novos padrões de respostas" (ibid. p.79). 
Assim, as expectativas individuais independem de resultados produzidos pelas próprias ações, ou 
seja, as respostas às ações de outros são importantes para guiar o próprio comportamento. 
Enfim, a noção de behaviorismo social caminha em direção a uma explicação do comportamento 
que leva em conta a interação homem-ambiente de uma forma mais ampla do que os programas 
das duas gerações do behaviorismo anteriores tentaram propor. 
CONSIDEAÇÕES FINAIS 
Neste trabalho, a nossa intenção consistiu em focalizar o Behaviorismo, procurando traçar as suas 
condições de emergência e transformações dentro da linha evolutiva da Psicologia. Em linhas 
gerais, abordamos as características dos três principais modelos de Behaviorismo: behaviorismo 
metodológico - que toma comobase o realismo e cuja expressão máxima é Watson; behariorismo 
radical - que toma como base os princípios do pragmatismo e que tem como expressão máxima 
Skinner; e o behaviorismo social - que nasce com Staats, em oposição aos dois programas 
anteriores por considerá-los sistemas fechados e, portanto, reducionistas. Dessa forma, o 
behaviorismo é direcionado a uma concepção mais humanística do comportamento. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BAUM, W. Compreender o Behaviorismo. Artes Médicas, 1999. 
DAVIS, C. Modelo da aprendizagem Social. In: RAPPAPOR, FIORI E DAVIS. Teorias do 
Desenvolvimento: conceitos fundamentais. V. 1. EPUD (?) 
COLE, M.; SCRIBNER, S. introdução. In: VYGOTSKY, L.S. A formação Social da Mente. São 
Paulo: Martins Fontes, 2000. 
DESCARTES, R. Discurso do Método: regras para a direção do espírito. São Paulo: Martin Claret, 
2000. 
FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T.; BOCK, A.M.B. Psicologias: uma introdução ao estudo da 
Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999 
FREITAS, M.T.A. de. Vygotsky e Bakhtin: Psicologia e Educação: um intertexto. 4.ed. São Paulo: 
Ática, 2000 
GABBI JR, O.F.. Leis, Regras e a Psicologização do Cotidiano. Departamento de Psicologia 
Experimental da USP; Depto. de Filosofia da UNICAMP - 1884 
GUILHARDI, H.J. Palestra sobre o behaviorismo - proferida em 30/08/1988 
KAHHALE, E.M.S.P; PEIXOTO, M.G.; GONÇALVES, M. da G.M. A produção do conhecimento nas 
revoluções burguesas: aspectos relacionados à questão metodológica. In, KAHAALE, E.M.S.P. 
(ORG) A diversidade da psicologia: uma construção teórica. São Paulo: Cortez, 2002 
LURIA, A.R. Vigotskii. In: VIGOTSKII, L.S.; LURIA, A.R. LEONTIEV. Linguagem, desenvolvimento 
e aprendizagem. 7.ed. São Paulo: Icone, 2001 p. 21-37 
MATOS, M.A. Com que o behaviorismo radical trabalha? (USP) 
SANTOS, BOAVENTURA DE SOUZA. Um discurso sobre as ciências. 9.ed. Ed. Afrontamento, 
1997 
SKINNER, B.F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Ed. Cultrix, 1974 
STAATS, A.W. Behaviorismo social: uma ciência do homem com liberdade e dignidade. In: 
Arquivos brasileiros de psicologia 32(4): 97-116, 1980 
 
[1] Trabalho apresentado em 2003, para a disciplina "Desenvolvimento e Aprendizagem", 
ministrada pelo Prof. Dr. Sérgio Leite, na Faculdade de Educação da Unicamp.

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