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POLÍTICAS PÚBLICAS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA AULA 1 – A CRISE DO ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social Estado de bem-estar Social (welfare State) é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como principal agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica dos país, em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes O Estado do Bem-Estar Social Foi uma política do capitalismo no pós-guerra, ela teve como objetivo recuperar a Europa devastada pela segunda guerra mundial. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de industrialização e aos problemas sociais gerados a partir dele. A construção do Estado de bem-estar social teve seu início marcado com a aprovação, em 1942, de uma série de providências nas áreas da saúde e escolarização. Ocorreu também uma ampliação dos serviços assistenciais públicos, abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras. Paralelamente à prestação de serviços sociais, o Estado de bem-estar social passou a intervir fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as atividades produtivas com a proposta de geração de riquezas materiais para atender ao lucro capitalista e também a diminuição das desigualdades sociais com o objetivo de desmobilizar a classe trabalhadora. Ocorreu a partir da mudança de modelo foi um desequilíbrio nas relações entre Estados, entre mercado e Estado e, consequentemente, entre Estado e indivíduo Embora a produção industrial tenha reduzido em 10% nos países centrais do capitalismo, o crescimento econômico, mesmo que, em menor proporção, permaneceu. Inclusive, o comércio internacional de produtos industrializados, apresentou um crescimento nos anos de 1980. No fim do século XX, os países do mundo capitalista desenvolvido se achavam, tomados como um todo, mais ricos e mais produtivos do que no início da década de 1970, e a economia global (da qual ainda formavam o elemento central) estava imensamente mais dinâmica. Esse não era o caso da África, da Ásia Ocidental e da América Latina, que se viram às voltas com o aumento da pobreza e da queda da produção. Da mesma forma, os países socialistas da Europa, apesar de apresentarem um pequeno crescimento econômico nos anos de 1980, não resistiam ao processo de “desindustrialização”, caracterizado pelas “novas formas de produção, pelo desenvolvimento da economia de serviços e pelas novas formas de gerenciamento empresarial”. Por isso, os países periféricos desmoronaram completamente após 1989, como foi o caso da Rússia. Tudo isso proporcionou pobreza, desemprego e miséria. Mesmo nos países mais ricos do mundo capitalista, as diferenças sociais se aprofundaram. Dessa forma, o desemprego não é ocasional, temporário, pelo contrário, ele é a expressão da nova organização econômica. Com isso, a presença de milhares de pessoas pelas ruas, sem ter onde morar, compõe o cenário dos maiores centros empresarias do mundo. A Ascensão do Neoliberalismo Finalmente na década de 1990, não dava mais para esconder que o modelo de desenvolvimento capitalista da época estava em crise. Crise essa, que já se anunciava em grande parte do mundo, desde meados dos anos de 1970. Isso favoreceu a crítica dos economistas conservadores, neoliberais, que há tempos vinham combatendo o Estado de Bem-estar social. Os neoliberais afirmavam que a economia e a política do Estado Keynesiano, baseada no pleno emprego, altos salários e nos direitos sociais, impediam o controle da inflação e o corte de custos, tanto no governo quanto nas empresas privadas. Para eles, só o livre mercado seria capaz de fomentar a distribuição da riqueza e da renda. Ao se contrapor ao Estado de bem-estar social, segundo os preceitos do Consenso de Washington, o neoliberalismo defendia a privatização dos serviços públicos, como educação, saúde e previdência, de forma a aliviar o Estado e tornar esses serviços competitivos no mercado. Desta forma, direitos conquistados transformaram-se em mercadorias adquiríveis no mercado. Ao longo das duas últimas décadas, a intensificação do processo de internacionalização das economias capitalistas, com ênfase nos mercados financeiros mundiais e a formação de grandes blocos econômicos, têm aumentado a pobreza e aprofundado as desigualdades no mundo capitalista globalizado. Sendo assim, a crise do Estado de bem-estar social está relacionada à construção de um novo modelo de capitalismo que, no afã de recuperar a lucratividade, contrapõe direito a investimentos e acumulação de capitais, e é responsável pela condução da reforma do Estado que tem provocado cortes substanciais no orçamento das políticas sociais dos países periféricos em benefício dos países centrais. AULA 2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍTICA EDUCACIONAL E SEUS REFLEXOS A Constituição é a lei que estabelece as principais regras e normas jurídicas, políticas, econômicas e sociais de um país, dentre elas as da educação. Através do estudo dos textos constitucionais que o Brasil já viveu, podemos perceber a importância que a educação ocupou em diferentes momentos da história. A necessidade da Constituição nasceu no momento em que o Brasil tornou-se independente de Portugal. Após a disputa entre a elite brasileira e os interesses portugueses, a primeira Carta Magna brasileira foi outorgada pelo Imperador D. Pedro I. 1891 – A Primeira Constituição Republicana A República proclamada em 1889 mudou o regime político no país, e como decorrência exigiu a elaboração de outro texto constitucional que correspondesse aos novos tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre a Carta Magna de 1891. A República, debatida durante muitos anos por um setor significativo da sociedade, não trouxe melhoria de condições para a maioria da população, que se manteve em condições de miséria, e em grande parte distante do processo de escolarização. Essa situação reflete-se no texto constitucional, que se referia ao poder público unicamente como um incentivador da instrução no país. A Constituição de 1934 Longos debates entre educadores e um movimento social crescente começava a invadir a sociedade brasileira, exigindo reformas no país, sobretudo no campo educacional, a partir dos anos de 1920. A criação do Ministério da Educação é um exemplo das mudanças resultantes da pressão do movimento conhecido como Escola Nova. O capítulo II do texto legal abordou a questão educacional incorporando sugestões e idéias levantadas por intelectuais e professores da época, já apresentadas no Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932. Dentre várias outras questões, ela estabeleceu o direito de todos à educação, e, a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, além de vincular os recursos a serem aplicados para o desenvolvimento do ensino público. A Carta de 1934 tratou, ainda, sobre a elaboração de um plano nacional para a educação que objetivaria a solução dos principais problemas acerca do tema. Pode-se dizer que, em termos de educação, o texto constitucional de 1934, respondia, grande parte, aos anseios da época. 1937 – A Constituição do Estado Novo Estado Novo foi o nome dado por Getúlio Vargas à ditadura que instalou no Brasil apartir de 1937, que correspondeu a um longo período de autoritarismo e repressão. Em todas as áreas sociais, particularmente na educação, houve um enorme retrocesso. As conquistas apresentadas na Carta Constitucional anterior (1934), que nem chegaram a ser colocadas em prática, foram totalmente abandonadas na nova lei. A educação deixa de ser considerada um direito de todos, como pode-se observar no primeiro artigo que tratava da questão (Art. 129). Manteve-se a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário, entretanto sem criar mecanismos para que fossem cumpridas, além de instituir a cobrança de uma taxa, chamada de caixa escolar, para aqueles que não pudessem comprovar a pobreza, que daria direito à gratuidade. A Constituição de 1946 Em 1945, a longa Era Vargas chega ao fim. Uma nova Carta Constitucional foi redigida para acompanhar os novos tempos. Tempos democráticos que se instalavam na vida brasileira, e que traziam alguns direitos sociais. Quanto à educação, o antigo debate dos Pioneiros de 1932 é recuperado em relação a alguns temas. O texto constitucional, em seu artigo 166, restabelece o ensino como um direito de todos os brasileiros, livre à iniciativa particular. Estabeleceu, ainda, o ensino primário como obrigatório e gratuito, além de ter reservado recursos do orçamento para a sua manutenção. São retomadas as discussões que nas décadas de 1920 e 1930 foram levantadas pelos adeptos do movimento da Escola Nova, e que repercutiu no Brasil através do Manifesto de 1932. A Constituição de 1946 também determinou que fosse elaborada uma legislação específica que aprofundasse o tema, através do seu artigo 5º, e estabelecesse as diretrizes e as bases da educação brasileira. AULA 3 – O SENTIDO DA LEI Nº 4024/61: A ELABORAÇÃO DA PRIMEIRA LEI DE DIRETRIZES E BASES O Fim do governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1930 e 1945 (caracterizado em seus últimos sete anos pela ditadura do Estado Novo), instalou-se, em decorrência, um processo de democratização da sociedade, com novos partidos se organizando e a elaboração de uma constituição que representasse essa nova fase política. A retomada de práticas democráticas, sobretudo as parlamentares, permitiu um alongado debate sobre a legislação educacional do país. Nesse texto constitucional ficara determinado, entre outras questões, que a educação era entendida como um direito de todos. A elaboração da primeira LDB que o Brasil conheceu demorou muitos anos. Na verdade, esse processo pode ser dividido em dois períodos, que corresponderam a discussões e polêmicas bem distintas. Uma primeira fase caracterizou-se pelo conflito partidário entre dois políticos, cujas trajetórias sempre estiveram vinculadas à educação. De um lado encontrava-se o Ministro do governo ora no poder, o Sr. Clemente Mariani. Mariani era filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido ligado a setores conservadores, articulado às classes média e alta do país e à burguesia internacional, e de oposição às forças de Vargas. E do outro lado o ex-Ministro da Educação do Estado Novo, Deputado Gustavo Capanema, filiado ao PSD (Partido Social Democrático), apoiado pelas forças getulistas. O Ministro Mariani, representando os interesses do governo, apresentou um projeto que possuía características descentralizadoras, que se chocou com os argumentos do deputado Gustavo Capanema, que propunha um sistema de ensino centralizador. O deputado redigiu um parecer que acabou por levar o projeto ao arquivamento. Essa disputa político-partidária adiou por alguns anos a discussão, que foi retomada efetivamente em 1957, quando da apresentação em plenário do projeto de lei conhecido como “Substitutivo Lacerda”. Segundo Período Outra fase dessa longa trajetória de elaboração da LDB se iniciou. O debate, naquele momento, girou em torno da questão das verbas públicas. Carlos Laceda: encampou a proposta dos representantes das escolas particulares, sobretudo os colégios confessionais, que sob o lema da liberdade do ensino, defendiam os interesses privatistas, reivindicando a aplicação de recursos públicos para a manutenção tanto de escolas públicas quanto de particulares Anísio Teixeira: de outro lado, em torno da defesa de verbas públicas exclusivamente para escolas públicas, se colocaram educadores e intelectuais, com Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, entre outros. Eles chegaram a articular e publicar um outro Manifesto de Educadores, em 1959, intitulado “mais uma vez convocados”. O famoso documento recuperou em parte as idéias presentes no movimento de 1932, defendendo, destacadamente, a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário. A Primeira Lei de Diretrizes e Bases O texto final, aprovado pelo Congresso Nacional, em 1961, representou em parte a vitória dos setores privatistas, pois a lei (através de alguns mecanismos) permitia a transferência para as escolas particulares de recursos públicos, contrariando a proposta da “Campanha em defesa da Escola Pública”. A lei instituía a educação como um direito de todos e estruturava o ensino em: Pré-Escola Ensino Primário Ensino Médio (subdividia em ginásio e colegial) A estrutura do ensino instituída pela Lei nº 4024/61 preservou a organização tradicional da educação brasileira: Ensino Pré-Primário – formado por escolas maternais e jardins de infância. Ensino Primário – de freqüência obrigatória, curso de 4 anos, podendo chegar a 6 anos. Ensino Médio – compunha-se de duas fases: o ginásio em 4 anos, e o colegial em 3 anos, que correspondiam ao ensino secundário e o técnico (agrícola, comercial, industrial e normal). A LDB tinha como seus principais títulos os seguintes: Dos fins da educação – o desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma perspectiva democrática de acordo com o momento histórico. Do direito à educação – estabeleceu-a como um direito de todo cidadão cabendo à família a escolha do tipo de educação a ser oferecida. Da liberdade de ensino – todos tinham direito a transmitir seus conhecimentos. Da administração do ensino – afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e atribuiu competências ao Conselho Federal. Dos sistemas de ensino – criou os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais. Dos recursos para a educação – instituiu que os recursos seriam aplicados preferencialmente nas escolas públicas, abrindo espaço para o setor privado. AULA 4 – AS REFORMAS EDUCACIONAIS NA DITADURA MILITAR Logo após a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases, o Brasil mergulhou em um novo momento político quando se instalou, em 1º de abril de 1964, através de um Golpe de Estado, outro governo autoritário, fase conhecida como Ditadura Militar. Foram anos marcados por uma intensa repressão que perseguia opositores, cassando e torturando políticos; e impedia os movimentos sociais, inclusive a organização de estudantes que lutavam contra a ditadura. Uma nova Constituição vai ser redigida e outorgada à sociedade pelo governo militar. Esta foi a sexta Carta Constitucional do Brasil. Nela, os direitos dos cidadãos são restringidos, o Executivo Federal concentrava poderes, além de ser eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional. No capítulo sobre educação, o direito de todos a ela é reafirmado, apesar de também ficar expresso que o ensino é livre à ação da iniciativa privada, que continua a ter acesso a incentivos e facilidades financeiras dos cofres públicos, como disposto na Constituição anterior. Esse momento histórico exigiu alterações na legislação educacional. Não foi elaborada nova Lei de Diretrizes e Bases,mas sim duas leis que reformaram alguns aspectos da LDB vigente. Uma tratou de modificar os ensinos primário e secundário enquanto outra abordou o superior. As diretrizes básicas, estabelecidas pela lei 4024/61 (os 5 primeiros títulos), não são alteradas, demonstrando a continuidade da ordem socioeconômica mantida pelo golpe. A reforma do ensino superior tinha por finalidade a desmobilização dos estudantes universitários. Para tanto, instituiu o sistema de créditos que obrigava os alunos a realizarem a matrícula por disciplinas, o que impedia a formação de grupos nas mesmas turmas, como no tradicional curso seriado, dificultando a organização de grupos de pressão. A lei 5540/68 também determinou que as disciplinas passassem a ser agrupadas por departamentos, deixando de se organizar por cursos, reforçando o caráter da fragmentação. Por fim, estabeleceu o vestibular unificado, desarmando as crescentes demandas, sobretudo dos estudantes secundaristas, por mais vagas nas universidades públicas. A lei 5692/71 Esta legislação é frequentemente chamada de lei de diretrizes e bases de forma errônea. Contudo, ela não pode ser confundida, pois se refere exclusivamente a dois segmentos da educação, que correspondem ao que nos dias atuais chamamos de educação básica. A lei 5692 não tratava, também, dos objetivos gerais e finalidades da educação para o país. Ela era específica para dois segmentos do ensino. A referida lei foi criada por um grupo de trabalho instituído pelo Presidente Médici, que tinha por objetivo adequar o ensino ao momento político instaurado pelo Golpe de 1964, e às necessidades sociais e econômicas que o governo militar se empenhava em garantir. Em linhas gerais, a lei criou a estrutura de ensino que se organizava em 1º e 2º graus. O primeiro grau passou a abranger os antigos ensino primário e ginásio, atendendo às crianças dos 7 aos 14 anos. Ampliou, então, a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos O ensino profissionalizante tinha o objetivo de atender à formação de mão-de-obra no sentido de garantir o suporte para a ampliação do parque industrial brasileiro, em reposta aos preceitos liberais de divisão internacional do trabalho. Para isso, foi a primeira legislação educacional que criou um capítulo para tratar do ensino supletivo. A Lei 5692/71 também introduziu algumas propostas, que contribuíram para o debate pedagógico: Integração Horizontal: buscava eliminar a diferença entre os antigos ramos de ensino: agrícola, comercial, industrial e normal, articulando as várias áreas do conhecimento, no interior de cada série. Integração Vertical: entre os dois graus, entre os níveis (o primeiro e o segundo segmento do 1º grau) e entre todas as séries de ensino das atividades, áreas de estudo e disciplinas, com o propósito de garantir um trabalho de continuidade desde a 1ª série do 1º grau até a última série do 2º grau. Valorização do Magistério: é uma outra questão presente na lei. Foi citada especialmente buscando a crescente profissionalização dos professores, o aperfeiçoamento daqueles já formado, e adequando os vencimentos salariais segundo os critérios do nível de formação, ao contrário do nível que ministrava. AULA 5 – A POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA NA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA: A CARTA DE 1988 O texto constitucional, que vigora nos dias de hoje, foi aprovado em 5 de outubro de 1988, e está organizado em nove Títulos, subdivididos em capítulos, que por sua vez se desdobram em seções e em subseções, quando se faz necessário. Os artigos têm numeração seqüencial. Foi elaborada em um momento política bem característico, pois correspondia a uma grande mobilização popular que, diante do fim de um longo período ditatorial, exigia efetivas transformações na sociedade. Em seu conteúdo apresentou alguns avanços nas áreas sociais e políticas, como a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o voto do analfabeto, o voto aos 16 anos, o racismo tratado como crime, além de por fim à censura. O texto constitucional estabeleceu, ainda, alguns dispositivos que defendem o cidadão quando seus direitos são negados, especialmente os dispositivos contra a arbitrariedade do Estado. Vem daí o fato de ela ser conhecida por muitos políticos, e festejada pela imprensa, como a Constituição Cidadã. Direitos Conquistados Habeas-corpus: assegura a reparação ou prevenção do direito de ir e vir, constrangido por ilegalidade ou por abuso de poder (as ditaduras, assim que instaladas, haviam suspendido esse instrumento com o propósito de realizar prisões ilegais.) Habeas-data: garante ao cidadão o acesso às informações a seu respeito constantes no registro de banco de dados de qualquer entidade governamental. Mandado de segurança: protege o cidadão quando seus direitos estão prestes a ser desrespeitados por uma instituição. Agora, existe também o mandado de segurança coletivo, isto é, impetrado por sindicatos e associações da sociedade civil. Mandado de injunção: assegura o exercício de um direito garantido pela Constituição. Ação popular: tem como objetivo anular ato lesivo ao patrimônio público e punir seus responsáveis. A Educação no Texto Constitucional O tema educacional na Constituição é apresentado no Título VIII, que trata Da Ordem Social, em seu Capítulo III, intitulado: Da Educação, da Cultura e do Desporto, especificação na Seção I, chamada Da Educação, que se dispõe em dez artigos, entre o 205 e o 214. No primeiro artigo (205), a Carta Constitucional estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado e da família. É interessante notar como o dever do Estado precede o da família, o que realmente demonstra a importância do poder público em garantir ensino para a população. O Papel de Cada Esfera A União, estados, distrito federal e municípios devem proporcionar o acesso à cultura, à educação e à ciência, e que todas as esferas têm competência para legislar sobre educação, desde que respeitadas as diretrizes e bases fixadas em seu texto. Apresenta, ainda, como dos municípios, a prioridade quanto à responsabilidade de manter programas para os níveis pré- escolar e ensino fundamental (cabendo à União complementar recursos, em casos de dificuldades dos municípios). A Constituição de 1988 assegura ainda o direito à educação dos povos indígenas, garantindo que o ensino se realize em língua materna e na língua portuguesa. Permite, dessa maneira, a integração dos povos à sociedade brasileira, preservando sua cultura. Quanto à aplicação das verbas públicas, a Constituição estabelece que cabe à União aplicar no mínimo 18%, enquanto que os municípios e estados devem investir no mínimo 25% cada. Podemos considerar essa vinculação dos recursos como um avanço, pois predetermina uma parcela do orçamento que deve ser aplicada em educação. AULA 6 – O SIGNIFICADO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi o resultado de um longo debate travado na sociedade brasileira, que se iniciou em 1979 com a elaboração do Código de Menores, e que ganhou um novo impulso com a promulgação da atual constituição brasileira (CF/1988). Esse debate envolveu diferentes setores da sociedade, sob a forma de movimentos populares, incluindo-se as Organizações Não Governamentais (ONGs) e representantes dos Três Poderes da República. No plano internacional, a assinatura da Convenção Internacional dos Direitos da Criança das Organizações das Nações Unidas (1989) acelerou decisivamente a transformação das políticas públicas voltadas para crianças e jovens. Lugar de Criança é na Escola O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) é o dispositivo legal que estabelece os direitose deveres de crianças e adolescentes no Brasil. Apresenta os direitos relacionados à educação, à saúde, à vida familiar e à vida em sociedade, além de também dispor sobre os deveres. Estrutura: o texto do estatuto compõe-se de 267 artigos, e está organizado em duas partes: a Geral e a Especial, que por sua vez se dividem em Títulos, subdivididos em capítulos, e esses em seções. Títulos: Direitos Fundamentais, Prevenção, Política de Atendimento, Medidas de Proteção, Prática da Ato Infracional, Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável, Conselho Tutelar, Acesso à Justiça e Crimes e as Infrações Administrativas. Art. 3º: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 5º: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punida na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. O Estatuto e a Educação O tema da Educação é tratado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito de todos e um dever do Estado. Apresenta-se sob a forma de sete artigos (do artigo 53 ao 59), em que estão estabelecidos os objetivos da educação, além de estarem especificados os papéis do Estado quanto aos deveres, a responsabilidade da família, as competências dos gestores escolares, o respeito aos valores culturais, artísticos e históricos da comunidade a qual o estudante pertence. Abaixo foram destacados os artigos do estatuto em que estão explicitados os direitos e os deveres: Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º - Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola. O Estatuto e a Constituição O texto do estatuto está em consonância ao que prevê o texto constitucional, que afirma: Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. As crianças e os jovens adolescentes devem ser vistos como pessoas que estão em processo de desenvolvimento, sujeitos de direitos e passíveis de proteção integral. Crianças: pessoas até 12 anos. Adolescentes: pessoas entre 12 e 18 anos. Casos excepcionais, previstos na lei, esse entendimento se estende até os 21 anos. Mundo Ideal Versus Mundo Real A questão principal, contudo, é a de implementar o conteúdo que o Estatuto apresenta. Não basta que os textos legais se mostrem avançados em suas formulações, o fundamental é que os avanços se apresentem em conquistas sociais. Infelizmente ainda vivemos diante de uma realidade que em nada favorece uma grande parcela de crianças e adolescentes que ainda vivem sem as mínimas condições de dignidade Começando a Terminar... É fundamental, portanto, que todo professor conheça o texto do Estatuto da Criança e do Adolescente para que possa contribuir no cumprimento de suas determinações, além de acompanhar a sua aplicação. Ferreira (2008:109) entende que educação e cidadania são indissociáveis, pois somente a educação assegura o exercício pleno da cidadania. Pela educação, os alunos serão capazes de exigir direitos e de cumprir deveres. Fazer cumprir significa criar condições de manter todas as crianças nas escolas. Além disso, interessa também ao educador conhecer o Conselho Tutelar , seu funcionamento e atuação. Este é o órgão que recebe as denúncias e assegura o cumprimento dos termos do estatuto. É composto por conselheiros eleitos na comunidade, que tem como objetivo acompanhar os casos de violações. AULA 7 – A POLÍTICA EDUCACIONAL DOS ANOS 90 Quem é o Banco Mundial? Origem: A fundação do Banco Mundial (BIRD) está vinculada à fundação do FMI (Fundo Monetário Internacional), no ano de 1944, na Conferência de Bretton Woods, como resultado da preocupação dos países centrais com o estabelecimento de uma nova ordem internacional pós-guerra. No início, o papel de destaque cabia ao FMI; a atuação do Banco Mundial estava apenas voltada para a reconstrução do Continente europeu, de forma a assegurar a hegemonia do sistema capitalista e os interesses da economia americana sobre mercado desse continente. Organograma: O Grupo Banco Mundial compreende: a) O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD); b) A Corporação Financeira Internacional (IFC); c) O Organismo Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA); d) A Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA); e) O Centro Internacional para Resolução de Disputas sobre Investimentos (ICSID); Em 1992, o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) passou para a coordenação do Banco, tornando-se o maior gestor de recursos para o meio ambiente no âmbito global. Política de Atuação: Como podemos observar, tanto na Europa, como nos países periféricos, a política de financiamento do FMI e do Banco Mundial está intimamente associada à defesa dos interesses econômicos dos EUA que, após a Segunda Guerra Mundial, assume a liderança política e econômica do Bloco Capitalista. Portanto, cabe destacar que os Organismos Internacionais estão fortemente vinculados aos Estados Nacionais, sobretudo aos EUA. Política de Funcionamento:O poder de decisão dos países no Banco Mundial e no FMI não se dá através do voto individual de cada país, mas sim em função do capital depositado por cada um deles no Fundo. Sendo assim, desde a fundação até hoje existe uma divisão entre a Europa e EUA, de modo que sempre o presidente do Banco Mundial é um americana, e o do FMI indicado pela União Europeia. O financiamento, não é o único, nem o mais importante papel desempenhado pela Banco no setor social, mas sim o caráter estratégico que vem desempenhando no processo de reestruturação neoliberal dos países dependentes O Banco Mundial e a América Latina A crise do endividamento, vivida pelos países da América Latina a partir dos anos 80, possibilitou uma maior interferência do Banco na política interna dessas nações. Sob essa perspectiva, o Banco Mundial, no final dos anos 80, formulou um conjunto de reformas a serem aplicadas nos países endividados para atender às necessidades de expansão do capital internacional. Essas reformas, que ficaram conhecidas como “Consenso de Washington”, defendiam principalmente: a) o equilíbrio orçamentário mediante a redução dos gastos públicos; b) a abertura comercial; c) a liberalização financeira; d) a desregulamentação dos mercados internos; e) a privatização das empresas e dos serviços públicos. Embora esses países pudessem enfrentar recessão e aumento da pobreza num primeiro momento de implantação das reformas, só assim, afirmava o Banco, seria possível retomar o crescimento econômico. Enfim, retomar o desenvolvimento sustentável. Economia e Política Social O princípio de política social focalizada na pobreza, expressa nos documentos do Banco Mundial, reflete uma concepção de atendimento mínimo para aqueles que não podem adquirir esses serviços no mercado. Entretanto, tal posicionamento rompe com o princípio da igualdade de direitos, luta histórica do movimento popular. Nesse sentido a educação, como política social focalizada, tem lugar de destaque nas propostas do Banco Mundial para a América Latina. A Reforma da Educação instituída para priorizar a educação inicial em detrimento dos demais níveis de ensino é um bom exemplo do papel que desempenhamos nessa nova ordem mundial. Política Educacional: Lógica Neoliberal O Banco, que nesse momento tem a tarefa de implementar a política de ajuste econômico nos países periféricos, apresenta para a Educação um conjunto de mudanças caracterizadas como Reformas Educacionais da década de 90. A educação, na nova proposta do Banco, está vinculada ao mercado de trabalho segmentado. Mercado Segmentado: Mercado moderno: urbano, consolidado, protegido por lei. Mercado tradicional: informal, sem proteção trabalhista. Maior parte da população economicamente ativa. Sendo assim, não há lugar para o desenvolvimento autônomo de todos os países nem para a inclusão de todos os indivíduos. É a isso que o Banco chama equidade; na verdade, uma distribuição desigual. “Outros” ensinos ÓTICA DE PRIORIDADE DO BANCO: DESVINCULAR OS NÍVEIS DE ENSINO Ensino Fundamental Atinge a maioria da população Alimenta o mercado de trabalho tradicional Essa camada não ascenderá ao mercado de trabalho “modernos”. Funcionamento da Reforma Educacional Nesse sentido, as Reformas Educacionais indicadas pelo Banco Mundial apresentaram basicamente dois eixos. O primeiro voltado para uma educação racional e eficiente, capaz de reduzir os custos, o que implica na divisão de responsabilidades entre o Estado e a sociedade. O segundo, centrado na qualidade do ensino em função do diagnóstico apresentado pelo Banco acerca dos principais problemas da educação. Tais problemas estão relacionados ao acesso e permanência dos alunos na escola, crescimento acelerado da demanda de educação secundária e superior, alfabetização de adultos e aprofundamento da distância entre países da OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e da América Latina e Caribe. Política Neoliberal Para a Educação A concepção neoliberal que passou a orientar essa política educacional tratou a educação não mais como um direito do cidadão, mas sim como uma mercadoria. Não seria por outro motivo que, Paulo Renato Souza, um economista que foi ministro da educação nos dois governos de Fernando Henrique, tenha ocupado uma vice-presidência no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A educação ocupou um papel relevante na reforma do Estado brasileiro. Para tanto, o primeiro governo de Fernando Henrique (1995-1998) sofreu uma profunda reformulação, tomando como base o conceito de equidade social da forma que aparece nos estudos produzidos pelos Organismos Internacionais ligados à ONU e promotores da Conferência de Jomtien. Descentralização do Ensino ou da Responsabilidade? A “Conferência de Educação para Todos” (Março de 1990, em Jomtien) estabeleceu como orientação priorizar o ensino fundamental em detrimento dos demais níveis de ensino. Ainda, defendeu que a tarefa de assegurar a educação é de todos os setores da sociedade. De acordo com essa postura, o dever do Estado foi relativizado. Municipalização da Educação Primária: desresponsabiliza o Estado com esse nível de ensino; sugere-se (induz-se) uma privatização do ensino não contemplado na “cartilha”. A Teoria na Prática O eixo descentralização/racionalização tem, na municipalização do ensino e na criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), a principal articulação do governo federal para ampliar o atendimento ao ensino fundamental, sem aumentar os recursos destinados a esse nível de ensino. O governo federal repassa aos municípios, muitas vezes as unidades mais pobres da Federação, a responsabilidade com esse nível de ensino. AULA 8 – A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL: ELABORAÇÃO, CARACTERÍSTICAS, AVANÇOS E RETROCESSOS Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN 9394/96 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é considerada a lei maior da educação no país, e está subordinada à Constituição Federal e situa-se logo abaixo dela, definindo de uma maneira geral a nossa educação. Por ter um caráter abrangente, necessita de regulamentação, ou seja, de legislação específica para vários de seus dispositivos. Segundo Demerval Saviani, fixar as diretrizes da educação nacional: “(...) não é outra coisa senão estabelecer os parâmetros, os princípios, os rumos que se deve imprimir à educação no país. E ao se fazer isso estará sendo explicitada a concepção de homem, sociedade e educação através do enunciado, dos primeiros títulos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional relativos aos fins da educação, ao direito, ao dever, à liberdade de educar e ao sistema de educação bem como à sua normatização e gestão”. (Saviani, 1998, p.189) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) sancionada sem vetos pelo Presidente da República em 20 de dezembro de 1996, é resultado de oito anos de tramitação no Congresso Nacional e muita mobilização da sociedade. 1987/1988: Como resultado da mobilização de educadores organizados que, em 1987 buscaram interferir no processo Constituinte apresentando propostas para o capítulo da Constituição referido à educação, iniciou-se, nesse mesmo ano, o movimento em torno da elaboração das novas diretrizes e bases da educação nacional. Dessa forma, em 1988, promulgada a Constituição Nacional, o deputado Otávio Elísio (PSDB) apresentou na Câmara Federal um projeto de lei que representava o debate inicial dos educadores. Origem do Texto: Esse projeto, na sua primeira versão, praticamente colocou, em forma delei, o texto “Contribuição à elaboração da nova LDB: Um início de conversa” de Demerval Saviani, apresentado na Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa de Educação (ANPED), realizada em Porto Alegre, no período de 25 a 29 de abril de 1988, acrescido de um texto de financiamento do professor Jaques Veloso. A Visão de Dentro: A participação de instituições científicas e sindicais reunidas desde o processo da Constituinte deu origem ao Fórum em Defesa da Escola Pública, que desempenhou um importante papel ao acompanhar e subsidiar a formulação da nova LDB. Esse Fórum se constituiu em grande articulador junto à Comissão de Cultura, Educação e Desporto, contrapondo-se aos interesses empresariais e privatistas. As Discussões: Ao projeto inicial da LDB, do deputado Otávio Elísio, seguiram-se outros, como o substitutivo Jorge Hage, ao qual deu início a uma série de discussões públicas com os grupos organizados de educadores de várias tendências. Após ser aprovado pelas diversas Comissões da Câmara, o substitutivo foi enviado para apreciação e votação no plenário dessa Casa. A Aprovação: Em maio de 1993, o projeto da LDB foi aprovado na Câmara, depois de muitos embates, 1263 emendas, algumas incorporadas pela nova relatora, deputada Ângela Amin, do PDS, depois do PPR e atualmente do PPB. Seu relatório incorporou várias emendas que correspondiam aos interesses dos grupos privados. “Com isso, o caráter social-democrata e progressista dos Substitutivo Jorge Hage foi atenuado pela incorporação de aspectos correspondentes a uma concepção conservadora de LDB” As Mudanças no Caminho Entretanto, ainda em 1992, depois do projeto da Câmara já completar três anos de debate e de intensa negociação, repentinamente surge no Senado um novo projeto de autoria do senador Darcy Ribeiro. Esse projeto, oriundo de um intelectual que historicamente esteve ao lado das forças progressistas da sociedade brasileira, além de desrespeitar todo um processo democrático voltado para a elaboração da LDB, colocou-se a serviço do novo governo eleito, na defesa dos interesses das forças conservadoras. Segundo Saviani (1997), o senador omitiu, no seu projeto enviado ao Senado, qualquer referência ao Sistema Nacional de Educação e ao Conselho Nacional de Educação, por coincidência pontos combatidos pelos conservadores ligados ao governo Collor. Também propôs a redução do ensino fundamental obrigatório e a restauração dos exames da madureza. Porém, o seu projeto foi arquivado para dar lugar à tramitação do projeto da Câmara. Mesmo diante desse ato apressado e autoritário do senador Darcy Ribeiro, e das mudanças no conteúdo do projeto da Câmara em função da nova composição do legislativo, mais conservador, o processo de elaboração da atual LDB até a apresentação do segundo projeto Darcy Ribeiro, já no governo de Fernando Henrique Cardoso, pode ser considerado inovador, ao passo que constitui um espaço aberto de elaboração e debate com a participação de diferentes forças que compõem a sociedade. Por fim, todo esse quadro se modifica, no início do governo de Fernando Henrique, quando mais uma vez o senador Darcy Ribeiro, atendendo aos interesses mais conservadores da sociedade, apresentou o segundo projeto, em março de 1996, que se transformou no texto final da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Esse projeto rompe não só com o processo democrático ocorrido até então, mas, sobretudo com as concepções de educação explicitada no projeto anterior e do papel do Estado quanto às políticas educacionais. A estratégia utilizada pelo Ministério da Educação, que atropelou todo um processo construído pela sociedade, produziu um texto que Saviani (1997) considerou “inócuo e genérico”, bem de acordo com os interesses da política dominante na época, que no ligar de formular uma política global para a educação, inscrita na LDB, preferiu fazer a Reforma do Setor Educacional de maneira fragmentada, procurando, dessa forma, quebrar a resistência do movimento organizado. A Nova LDB – Texto Final O texto final da atual LDB deve ser compreendido no processo de disputa de projeto político pelo qual passa o país no período final de seu longo trajeto na Câmara e no Senado. A vitória do projeto conservador, no final de 1994, liderado por Fernando Henrique Cardoso, significou para o país o avanço da política neoliberal, na qual o mercado se sobrepõe aos interesses da maioria da população. O resultado desse processo poderia ser assim enumerado: Redução: Redução do dever do Estado com a universalização da educação básica – ao responsabilizar o poder público somente pela oferta obrigatória e gratuita do ensino fundamental e ao diminuir o compromisso da União para com a educação pública através da transferência de encargos para as esferas administrativas de nível estadual e municipal, a nova LDB acaba rompendo com o conceito de obrigatoriedade da educação básica, consolidando o disposto na emenda constitucional n° 14, que diz caber à União uma ação meramente suplementar no financiamento da educação. Fragmentação: Fragmentação da concepção de Sistema Nacional de Educação – o que estabelece a nova LDB é uma mera justaposição dos poderes municipal, estadual e federal, tendo sido os respectivos conselhos descaracterizados e destituídos de autonomia política, de representatividade social e de responsabilidade de conduzir e acompanhar a implementação das políticas educacionais. Recursos: Descaracterização do profissional da educação – ao não estabelecer um piso salarial profissional nacional, a nova lei descaracteriza a figura do professor, descrevendo-a a partir de suas responsabilidades, ou a partir de sua formação. Descaracterização: Recursos financeiros – alguns aspectos importantes que constam na nova LDB acerca do financiamento da Educação têm origem no projeto da Câmara de Deputados debatido exaustivamente com a sociedade. Sendo assim, vamos destacar em primeiro lugar, a fixação de prazos para o repasse dos valores do caixa da União, dos estados e dos municípios ao órgão responsável pela educação. Outro ponto positivo é a delimitação do que pode e do que não pode ser considerado como despesa de manutenção e desenvolvimento do ensino. Essa medida estava presente no projeto original, e sua permanência representou uma importante conquista para o controle dos recursos públicos pela sociedade. No entanto, a lei aprovada não garantiu que os recursos públicos fossem destinados apenas para a educação pública, o que significou, mais uma vez, a vitória do setor privado ao manter o financiamento público para esse setor. Artigos: Finalmente, os artigos 74 e 75 que tratam, respectivamente, do custo mínimo por aluno e da ação supletiva e redistributiva da União e dos estados, conjugados à emenda constitucional de n°14 e a Lei 9.424/96 que criou o Fundo, expressam a política educacional do governo federal, que propõe ao país uma educação mínima com obrigatoriedade apenas para o ensino fundamental, abrindo o terreno para a ação da iniciativa privada nos outros níveis da educação nacional. AULA 9 – A NOVA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) E O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Da prevenção, dos produtos e dos serviços Nova LDB A atual LDB (Lei 9394/96) foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo então ministro da educação Paulo Renato em 20 de dezembro de 1996. Baseada no princípio do direito universal à educação para todos, a LDB de 1996 trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, como a inclusão da educação infantil (creches e pré-escolas) como primeira etapa daeducação básica. Principais Características: Formação de docentes para atuar na educação básica em curso de nível superior, sendo aceito para a educação infantil e as quatro primeiras séries do fundamental formação em curso Normal do ensino médio. Formação dos especialistas da educação em curso superior de pedagogia ou pós- graduação. A União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público. Dinheiro público pode financiar escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas. Prevê a criação do Plano Nacional de Educação. Art. 53 a 59, Art. 60 a 69 O Plano Nacional de Educação (PNE) Diretrizes: o PNE é um plano de governo que estabelece diretrizes, metas e prioridades para o setor educacional brasileiro, com o objetivo de melhorar a qualidade de ensino em todo o país. Entre as principais diretrizes estão a universalização do ensino em todo o Brasil e a criação de incentivos para que todos os alunos concluam a educação básica. Origem: o PNE foi elaborado pelo Ministério da Educação, fundamentado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O MEC contou com a participação de mais de 60 entidades, entre sindicatos, associações, conselhos e secretarias de Educação. O plano foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional em dezembro de 1997. Parlamentares apresentaram um projeto substitutivo e, após muitos debates e a criação de emendas, o plano foi aprovado no final de 2000 e sancionado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em 9 de janeiro de 2001. Ação: agora o PNE virou lei e, por isso, suas metas deverão obrigatoriamente ser cumpridas até o final desta década. O coordenador do plano é o Ministério da Educação. Já os governos federal, estaduais e municipais são os responsáveis por colocá-lo em prática. A estratégia adotada foi a criação de políticas públicas de educação e de desenvolvimento social. Como recurso financeiro, o governo utilizará 5% do PIB (o equivalente a aproximadamente 52 bilhões de reais). O Embate que Resultou na Criação do PNE “O Plano Nacional de Educação (PNE), criado pelo MEC, traça as diretrizes e metas para a Educação Brasileira, que devem ser cumpridas até o final desta década.” A demora do Governo Federal para elaborar uma proposta de plano não fez com que a sociedade ficasse parada. Liderada pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, a sociedade organizada formulou e aprovou, no 1º e no 2º Congresso Nacional de Educação (Coned), uma proposta de PNE da sociedade brasileira.A proposta de plano que surgiu dessa mobilização foi apresentada ao Congresso Nacional antes da do governo pelo deputado Ivan Valente, que reuniu assinaturas de “mais de setenta parlamentares e de todos os líderes dos partidos de oposição” (Valente: 2002 97). Proposta do Governo X Proposta da Sociedade As conseqüências do PNE do governo para a sociedade Seguindo suas lógicas características, para os liberais o Estado deve agir com neutralidade frente às distintas concepções de bem que aparecem dentro de uma determinada comunidade, devendo, assim permitir que a vida pública seja um resultado espontâneo dos livres acordos celebrados pelos particulares. O que o projeto da sociedade defendia? Já os comunitaristas, ao contrário, o Estado deve ser um Estado ativista, comprometido com certos planos de vida e, também, com certa organização da vida pública. Este compromisso estatal pode chegar a implicar – segundo alguns comunitaristas – na promoção de um ambiente cultural rico que melhore a qualidade das opções dos indivíduos, a proteção de certas práticas ou tradições consideradas essenciais para a comunidade, criação de fóruns para discussão coletiva acerca de temas de interesse da comunidade, entre outros. Entenda as Diferenças Entre o PNE Defendido Pela Sociedade Brasileira e o PNE Aprovado. Entre o Plano Nacional de Educação defendido pela sociedade organizada e o PNE aprovado pelo governo existem diferenças substanciais. Veja agora essas diferenças e perceba como o poder do governo influenciou o rumo dado às diretrizes da educação no país. Veja aqui as propostas da PNE defendida pela sociedade: Consolidar um Sistema Nacional de Educação. Assegurar os recursos públicos necessários à superação do atraso educacional e ao pagamento da dívida social. Assegurar a manutenção da dívida social e o desenvolvimento da educação escolar em todos os níveis, modalidades e sistemas de educação. Assegurar a autonomia das escolas e universidades na elaboração de projetos político- pedagógicos de acordo com as características e necessidades da comunidade, com financiamento público e gestão democrática, na perspectiva do Sistema Nacional de Educação. Universalizar a educação básica (nos diversos níveis e modalidades) e democratizar o ensino superior, ampliando as redes de instituições educacionais, os recursos humanos devidamente qualificados e o número de vagas e fortalecendo o caráter público, gratuito e de qualidade da educação brasileira, em todos os sistemas de educação. Garantir a Gestão democrática nos sistemas de educação nas instituições de ensino. Definir a erradicação do analfabetismo como política permanente – e não como conjunto de ações pontuais, esporádicas, de dês caráter compensatório – utilizando, para tanto, todos os recursos disponíveis do poder público, das universidades, das entidades e organizações da sociedade civil. Garantir a organização de currículos que assegurem a identidade do povo brasileiro, o desenvolvimento da cidadania, as diversidades regionais, étnicas, culturais, articuladas pelo Sistema Nacional de Educação. Incluindo, nos currículos, temas específicos da história, da cultura, das manifestações artísticas, científicas, religiosas, e de resistência da raça negra, dos povos indígenas, e dos trabalhadores rurais, e suas influências e contribuições para a sociedade e educação brasileiras. Instituir mecanismos de avaliação interna e externa, em todos os segmentos do Sistema Nacional de Educação, com a participação de todos os envolvidos no processo educacional, com uma dinâmica democrática, legítima e transparente, que parta das condições básicas para o desenvolvimento do trabalho educativo até chegar a resultados socialmente significativos. Veja ágoras as propostas da PNE aprovada: Não trata deste tema (em verdade opõe-se a esse instrumento). Redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública. Garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e permanência na escola e a conclusão desse ensino (...) Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino – educação infantil, o ensino médio e a educação superior (...) Democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios de participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Garantia de ensino fundamental a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram. A erradicação do analfabetismo faz parte dessa prioridade, considerando-se a alfabetização de jovens e adultos como ponto de partida e parte intrínseca desse nível de ensino Não trata do tema em nível de prioridade. Desenvolvimentos de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino, inclusive educação profissional, contemplando tambémo aperfeiçoamento dos processos de coleta e difusão dos dados, como instrumentos indispensáveis para a gestão do sistema educacional e melhoria do ensino. AULA 10 – FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO E SUAS VERTENTES – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 14, FUNDEF, FUNDEB Emenda Constitucional Nº 14 Em 1995, ano em que Fernando Henrique Cardoso assumiu o governo, quando os movimentos organizados da sociedade civil lutavam junto ao Congresso Nacional para aprovar o Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o governo apresenta um Projeto de Emenda Constitucional (PEC 233/95), que resultou na aprovação e promulgação, em 12 de setembro de 1996, da Emenda Constitucional nº 14 (EC 14). O texto da emenda era o seguinte: “dentre outras disposições, obriga Estados e municípios a aplicarem, até 1006, pelo menos 60% do percentual obrigatório mínimo de 25% (ou seja, 15%) da receita de impostos no ensino fundamental” (Davies: 1998,7). Essa Emenda criou, no âmbito de cada Estado, por dez anos, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), regulamentando logo a seguir pela Lei 9424, de 24 de dezembro de 1996. FUNDEF O Fundo é composto de 15% do Fundo de Participação dos Estados (FPE), do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Imposto sobre Produtos Industrializados Exportados (IPI - Exportação), que representam recursos de impostos e transferências destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e são distribuídos para as redes estaduais e municipais segundo suas respectivas matrículas. Ao criar o fundo, o Governo Federal determinou que estados e municípios passassem a redistribuir parte de seu orçamento de acordo com o número de alunos matriculados no ensino fundamental regular, o que forçava municípios, que atendiam prioritariamente à educação infantil, a reduzir esse atendimento e abrir vagas no ensino fundamental para não perder o repasse feito ao fundo estadual. Ao compararmos os censos de 1997 e 1998, percebemos que o número de matrículas no Ensino Fundamental aumentou em 6%, enquanto foram eliminadas 147.296 vagas na educação infantil. De posse desses dados, podemos demonstrar que o Governo Federal, ao criar a Emenda Constitucional nº 14 e o FUNDEF, não pretendia ampliar o investimento no Ensino Fundamental, mas apenas redistribuir as verbas já existentes nos Estados e municípios. Um outro fator que merece destaque é o valor estipulado pelo poder central para o custo- aluno/ano, desde 1998, ao não obedecer à fórmula de cálculo do valor mínimo a ser gasto por aluno, como determina a Lei nº 9.424/96 (FUNDEF), esse valor tem sido, ano após ano, rebaixado para que a complementação da União seja a menor possível. “Com isso, calcula-se que o ensino fundamental deixou de receber cerca de 10 bilhões de reais de recursos federais desde 98” (Pinto: 2002, 116). Por outro lado, as declaração do Ministro da Educação, afirmando que os recursos do FUNDEF destinam-se prioritariamente à melhoria dos níveis de remuneração e de qualificação dos professores, podem ser questionadas a partir do balanço do MEC ao mostrar que, na média nacional, considerando-se todos os níveis de formação e todas as jornadas de trabalho, a remuneração do magistério aumentou 12,9% no período entre dezembro de 1997 e agosto de 1998. O estudo indica que o impacto sobre os salários foi maior nas regiões norte e nordeste, em especial nesta última, onde o aumento médio nas redes municipais alcançou 49,6%. Aumentar os salário de professores que ganhavam R$ 50,00 por mês para R$ 200,00 ou R$ 300,0 é importante. No entanto, essa não é a realidade de todo o território nacional. Em São Paulo, por exemplo, onde a rede estadual recebeu, no ano de 1998, R$ 410 milhões transferidos pelos municípios, o salário de um professor com formação de magistério (nível médio), no mesmo ano era de R$ 650,00 por trinta horas de trabalho, e um professor com licenciatura plena, com a mesma carga horária, recebia R$ 802,50. Quem afirmaria que esta é uma remuneração digna para um professor? A Lei 9424/96, diferente do que defendia o movimento organizado dos professores, não estipulou um pios salarial nacional, o que permitiu que muitos governantes, apesar do Artigo 7º da Lei destinar 60% dos recursos do Fundo para remuneração dos profissionais do Magistério em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público, apenas substituíssem nas folhas de pagamento recursos do tesouro pelos recursos do Fundo. A Sociedade e o FUNDEF Podemos dizer que o FUNDEF é a resposta do governo FHC ao Acordo Nacional de Valorização do Magistério da Educação Básica - assinado em julho de 1994, no governo de Itamar Franco que, entre outras medidas, estabelecia o compromisso de se fixar um Piso Salarial Nacional de R$ 300,00. A criação dos conselhos para o acompanhamento e fiscalização dos recursos do fundo pela sociedade poderia ter iniciado uma nova cultura de participação e fiscalização da população no orçamento dos recursos públicos, mas, na prática, esbarrou na relação de poder estabelecida na nossa organização social. Em muitos estados e municípios, a composição desses conselhos tem sido complementada por lei específica, de forma a reduzir a participação relativa da sociedade civil, o que, aliado à incapacidade técnica da representação social para análise da documentação contábil relativa à receita do Fundo e aplicação dos recursos no ensino fundamental, não possibilitou, ainda, um maior controle por parte da sociedade. Isso contribuiu para o surgimento de uma série de irregularidades na utilização dos recursos do fundo, de forma que o mecanismo de controle social representou muito pouco para o avanço da participação popular na história do financiamento da educação pública. FUNDEB O FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) foi criado em dezembro de 2006, através da Emenda Constitucional nº 53, para atender toda a educação básica (creche, pré-escola, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos). Esse fundo substituiu o FUNDEF, que só previa recursos para o ensino fundamental. Ele é um fundo de natureza contábil, regulamentado pela Medida Provisória nº 339, posteriormente convertida na Lei nº 11.494/2007. Sua implantação foi iniciada em 1º de janeiro de 2007, de forma gradual, com previsão de ser concluída em 2009, quando estará funcionando com todo o universo de alunos da educação básica pública presencial e os percentuais de receitas que o compõe terão alcançado o patamar de 20% de contribuição. Sua vigência está prevista para o ano de 2020, atendendo, a partir do terceiro ano de funcionamento, 47 milhões de alunos. Para que isto ocorra, o aporte do governo federal ao fundo, de R$ 2 bilhões em 2007, aumentará para R$ 3 bilhões em 2008, R$ 4,5 bilhões em 2009 e 10% do montante resultante da contribuição de estados e municípios a partir de 2010.
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