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ENGENHARIA AGRONÓMICA Disciplina de: ENOLOGIA Textos de apoio às aulas: ANÁLISE SENSORIAL EM ENOLOGIA. Compilado por: Jorge L. Queiroz 2007/2008 ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 2 “ Le but d’une saine oenologie est, en définitive, d’aider le producteur à obtenir d’une vendange donnée le meilleur vin possible, possédant toutes les qualités qui étaient inscrites dans le raisin d’où il est issue. L’homme intervient nécessairement dans la préparation du vin. Il existe un problème technique de la qualité qui sera d’autant mieux résolu que l’on connaître mieux le vin, ses constituants, les transformations qu’ils subissent.” J. RIBÉREAU-GAYON ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 3 1 - O PORQUÊ DE UMA ANÁLISE SENSORIAL? Insuficiência das análises químicas para determinar as características organolépticas: mesmos valores analíticos, diferentes qualidades. limiar de sensibilidade dos sentidos é mais baixo que o de muitas determinações analíticas. incapacidade de avaliar por análise química a interacção de numerosas substâncias que intervêm na formação do sabor e aroma. 4 – O que faz um BOM PROVADOR? “Não sei nada de vinhos mas sei se gosto ou não”. Se conseguimos provar comida conseguimos provar vinhos. Não existe nada de mágico em ser um bom provador: O melhor crítico musical nem sempre é o mais dotado do ponto de vista do ouvido. 4.1 – Competências de um BOM PROVADOR: a) Uma acuidade sensorial média, com um bom sentido do cheiro e do gosto. b) Uma boa memória. Praticar a memória recordando os bons vinhos de que gostamos e aquilo que neles gostamos. c) A oportunidade de provar muitos vinhos. Preferencialmente na presença de outros provadores experientes. d) A capacidade de concentração. As distracções são a principal fonte de dificuldade na análise de vinhos. e) Honestidade, humildade e não ter preconceitos. Todos cometemos erros, mas que sejam honestos. Todos temos os nossos dias não. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 4 f) Sensibilidade em relação a tudo o que nos rodeia, à arte, música, comida. Na análise de vinhos lidamos frequentemente com ligeiríssimas diferenças e precisamos de ser perspicazes. g) Conhecimento: das reacções individuais, do produto, da técnica de prova. 5 – Como ganhar EXPERIÊNCIA com o Vinho? A melhor maneira é PROVAR tantos vinhos quanto possível, em companhia de provadores já experimentados. Algumas SUGESTÕES: 5.1 – Prove tantos vinhos de alta qualidade quanto for possível, em vez de um elevado número de vinhos baratos, de qualidade média ou baixa. Prove alguns clássicos. 5.2 – Prove vinhos de uma gama alargada. Não se confine a provar um ou poucos tipos e estilos de vinho que lhe interessam. 5.3 – Tome notas sobre os vinhos que provar, de preferência num registo permanente que possa ser consultado mais tarde (DIÁRIO DOS VINHOS). 5.4 – Leia sobre vinhos do Mundo, tipos e estilos, assim como a sua história e desenvolvimento. 5.5 – Seja crítico de modo construtivo de todos os vinhos que provar assim como da apreciação sensorial que realizou. Faça a si próprio a pergunta “Porque é que gosto/não gosto deste vinho?”. 5.6 – Prove com alguém com mais experiência, mas faça o seu próprio juízo sobre cada vinho e escreva-a. Discuta em seguida o vinho e se necessário torne a prová-lo. 5.7 – Prove os vinhos de tipos similares em conjunto. Cada vinho realçará diferenças em relação aos outros, e fornecerá pontos de referência com que realizar comparações, ainda que a mudança de estilo diminua o cansaço e a adaptação dos sentidos. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 5 Outras sugestões: Combine provar com amigos de modo a ter um maior número de vinhos para provarem juntos. A uma refeição abra todos os vinhos similares (p. ex. todos os tintos) e prove-os em conjunto para comparação, em vez de um a seguir ao outro. 7 – PROCEDIMENTOS a seguir durante a PROVA: Tente ser tão minucioso quanto possível na avaliação. Leve o tempo que achar necessário e escreva os comentários, que lhe pareçam pertinentes. A prova pode parecer uma operação simples, porém para ser realizada de forma adequada requer: - cuidado. - tempo. - meditação. - condições apropriadas. 8 - Quando se prova um vinho é importante definir os OBJECTIVOS a atingir nessa prova: - apreciar a qualidade do vinho. - determinar o tipo de vinho. - estimar o preço. - detectar a origem e as possibilidades de utilizar o vinho num lote. - comparar com outros vinhos. - classificar o estilo do vinho. - seguir a sua evolução. - avaliar o efeito de tratamentos realizados. - verificar a manutenção de um padrão uniforme. - POR PRAZER. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 6 9 – Preparação dos vinhos a provar, horas do dia, tipo de copo. 9.1 – Preparação das amostras: - Homogeneidade. - Ordem de apresentação. - Número de amostras por sessão. - Tipo de vinho: a) Secos antes dos doces. b) Novos antes dos velhos. Vinhos brancos secos. Espumantes. Vinhos brancos doces. Rosés. Vinhos tintos secos. Espumantes de vinho tinto. Xerez. Vinhos generosos brancos. Vinhos generosos tintos. Vintages. 9.2 – Temperatura a que devem ser servidos os vinhos: Brancos e rosados. 10-12 º C. Tintos. 15-18 º C. Espumantes. 7- 9 º C. Generosos tintos. 15-18 º C. Tawny’s 10-12 º C. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 7 9.3 – HORA do dia: Quando sentimos fome, antes das refeições, e não após as mesmas: Manhã: 10-12 horas. Tarde: 16-18 horas. 9.4 – Tipo de COPO: Copo normalizado (ISO 3591 – 1977 (F)). Cuidados a ter com os copos: Aromas estranhos: armário pano detergente caixa de papel ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 8 10 – ANÁLISE SENSORIAL DO VINHO: Sentidos usados na ANÁLISE SENSORIAL DE VINHOS: ÓRGÃO SENTIDO/ SENSAÇÃO CARACTERÍSTICAS PERCEBIDAS OLHOS Sensações visuais Cor, limpidez, aparência, viscosidade,efervescência. NARIZ Sensações olfactivas Aroma, bouquet (cheiro). BOCA Sensações olfactivas Sabor Química Tacto Térmica Aroma de boca. Sabores básicos. Adstringência, fenóis, efervescência. Viscosidade. Temperatura. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 9 10.1 – VISÃO: É o primeiro sentido que intervém numa degustação. Para apreciar a cor de um vinho deve-se pegar no copo pela haste, ou pela base, inclinando-o, sem no entanto derramar o vinho, contra uma superfície branca. Examinamos: o aspecto do vinho, a sua limpidez, em seguida a sua cor no centro, que nos dá uma indicação da intensidade corante e a cor nas orlas, local onde é mais fácil reparar nas nuances da tonalidade de cor. Este primeiro exame transmite-nos uma quantidade muito grande de informação sobre o vinho: Ter uma ideia do seu corpo ou extracto, idade aproximada, estado de oxidação, ... . A VISÃO joga um importante papel na prova, na sua preparação, influenciando significativamente as sensações seguintes: O PROVADOR tenderá a julgar mais severamente um vinho turvo ou de cor anormal, comparativamente com um vinho cristalino, de cor normal. Encher o copo até não mais de um terço (60-70 cm3), e observar a sua COR contra um fundo branco. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 10 A cor normalmente dá uma indicação sobre a idade do vinho. A cor dos VINHOS TINTOS novos é vermelha violácea passando a vermelho alaranjado/acastanhado à medida que envelhecem. A cor dos VINHOS BRANCOS desejavelmente será próxima do esverdeado, enquanto uma cor âmbar ou acastanhada poderá ser uma indicação de oxidação e perda de qualidade. A cor dos vinhos brancos torna-se mais intensa com a idade, passando de uma cor “pálida” a “palha” e mais tarde a dourado. A cor é importante e a cor desejável varia com o tipo de vinho. A cor dos VINHOS BRANCOS: Nos vinhos brancos, a cor poderá variar entre o incolor/citrino esverdeado até ao âmbar: Exemplos de descritores da cor dos vinhos brancos: Citrino esverdeado – citrino – palha – amarelo canário – dourado – âmbar. A cor de um vinho depende da casta que lhe deu origem. Factores que influenciam a cor dos vinhos brancos (excepto a casta) (Amaral, s/d): Cor Vinhos Brancos Factor + clara + escura Idade Novo Velho Rendimento/ha Alto Baixo Vinificação Bica aberta Maceração pelicular SO2 Elevado Baixo Envelhecimento Em garrafa Em madeira ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 11 A cor dos VINHOS TINTOS: A cor de um vinho tinto é de análise mais complexa do que a de um vinho branco, no entanto, os resultados obtidos da sua avaliação são também mais concludentes do que num vinho branco. A cor dos vinhos tintos jovens depende essencialmente dos factores: Vinificação. Casta. Maturação das uvas. Rendimento: Factores que influenciam a cor dos vinhos tintos jovens (excepto a casta) (Amaral, s/d): Cor Vinhos Tintos Factor + clara + escura Clima Fresco Quente Rendimento/ha Alto Baixo Maturação (uva) Pouca Muita pH Alto Baixo Vinificação Pouca extracção Muita extracção Nos vinhos tintos as antocianas vão-se polimerizando entre si e com os taninos e o vinho vai perdendo a sua cor. Passa de tonalidades vermelhas, para um tom mais alaranjado, podendo com o passar do tempo chegar a uma tonalidade alourada, chegando mesmo num vinho tinto muito velho a surgirem laivos esverdeados. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 12 A evolução da cor dos vinhos tintos é no sentido inverso da dos vinhos brancos, evoluindo ambas para uma cor acastanhada, sendo por isso possível confundir as cores de um vinho tinto e um vinho branco muito velho. Exemplos de descritores da cor dos vinhos tintos: Púrpura – Vermelho violeta –vermelho cereja –vermelho granada – vermelho acastanhado – tijolo - alourado Uma maior concentração de matéria corante, ou de intensidade de cor, indicia um maior potencial de envelhecimento. Esta concentração de matéria corante é acompanhada pela presença de uma maior quantidade de tons violáceos. Como factores que aceleram o envelhecimento da cor do vinho refira-se o oxigénio ou temperaturas elevadas (envelhecimento em casco e a “estufagem” (aquecimento) do Vinho da Madeira). Examine também o vinho em relação à LIMPIDEZ, e classifique-o usando termos do tipo: brilhante, límpido, velado, turvo, com depósito. DESPRENDIMENTO GASOSO: poderá ser desejado, como é o caso dos vinhos espumantes, mas também poderá ser um indicador de que ocorreu uma fermentação indesejada depois do vinho ter sido engarrafado, sendo neste caso considerado um defeito. Na avaliação visual de um vinho considera-se ainda a LÁGRIMA e a sua VISCOSIDADE. A LÁGRIMA é o fluído que fica aderente nas paredes do copo, depois de se agitar, e que vai escorre lentamente através delas. Deve-se essencialmente ao álcool, que é mais volátil e tem uma maior tensão superficial do que a água. A partir da lágrima é possível inferir acerca do teor alcoólico de um vinho, qual a sua proveniência, pois ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 13 quanto mais quente for a região de origem, maior é a probabilidade do vinho apresentar um teor alcoólico elevado. A existência de açúcar residual num vinho aumenta a sua viscosidade pelo que também contribui para a formação de uma lágrima mais persistente. 10.2 – OLFACTO: OLFACTO OU CHEIRO: É o segundo sentido a ser utilizado na prova. Esta é a razão por que é necessário, quando se “prova” vinho, colocar o nariz bem dentro do copo e inalar fortemente. De qualquer modo o OLFACTO é cerca de 10 000 vezes mais sensível que o GOSTO. Para além da capacidade inata de se detectar um aroma, existe outro factor determinante: o reconhecimento dessas substâncias, ou seja, a memória olfactiva. Para facilitar a recordação dos aromas durante uma prova, Anne Noble criou a Roda dos Aromas (em anexo), onde se encontram os termos mais utilizados na descrição olfactiva de um vinho. A roda dos aromas divide-se em três níveis, devendo começar a identificação do cheiro pelo nível mais interior da roda, que contém os termos mais genéricos, passando-se depois para o nível seguinte, e daí para o mais exterior. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências daU.P. – Engenharia Agronómica. 14 O objectivo deste instrumento não é o de limitar o vocabulário utilizado na prova, mas sim auxiliar a recordarmo-nos dos aromas. SUBSTÂNCIAS AROMÁTICAS: Álcoois. Esteres. Aldeídos. Terpenos. Cetonas. Compostos sulfurados. Compostos fenólicos. ORIGEM DOS AROMAS DOS VINHOS: VARIETAL ou PRIMÁRIOS: Castas, solo, clima. PRÉ-FERMENTATIVO: Prensagem, Intervenções sobre as uvas e o Mosto: desengace, maceração pelicular outras decisões. FERMENTATIVO ou: Fermentação alcoólica: SECUNDÁRIOS temperatura leveduras pH. PÓS-FERMENTATIVO ou: “Envelhecimento”. TERCIÁRIOS ou “Bouquet” ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 15 OLFACTO: DUAS VIAS: VIA NASAL DIRECTA. VIA RETRONASAL. Rode o copo e CHEIRE o vinho com inspirações rápidas, e não tenha receio de meter o nariz no copo. O vinho deve ter um AROMA característico do tipo de vinho e da casta utilizada (caso seja o caso). ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 16 Aromas como mofo, acidez volátil, excessiva madeirização e provenientes de contaminações são os DEFEITOS mais frequentes. Alguns provadores tendem a MENOSPREZAR o nariz de um vinho aquando da sua apreciação. Aromas mais característicos em função da maturação da uva, rendimento da vinha, clima e maceração (Amaral, s/d) Maturação da uva, Menor rendimento da vinha, Clima mais quente, Maceração mais prolongada(2) Vinho Branco Vinho Tinto Vegetal, citrino (limão, lima), floral Vegetal, cereja, morango, framboesa, floral Frutos de árvore (maçã, pêssego, alperce) Amora, mirtilo Frutos tropicais (banana, ananás), melão Compota de frutos silvestres, uva passa, figo seco, ameixa seca (2) Relativamente ao tempo de maceração, este faz aumentar o aroma vegetal tendo, por isso, para este aroma, uma influência contrária à dos outros factores referidos. A casta a partir da qual o vinho é feito é, muitas vezes, o factor que mais marca o aroma de um vinho, principalmente em vinhos varietais. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 17 Ex: Moscatel - aromas de uva fresca e florais originários de compostos terpénicos, Sauvignon Blanc - chichi de gato e espargos originários de uma mercaptopentanona Cabernet Sauvignon - pimentos verdes quando não está bem maduro devido à presença da metoxipirazina. Alvarinho - frutos tropicais e menta Touriga Nacional - frutos silvestres muito maduros com nuance vegetal/balsâmica/floral, muitas vezes traduzida como esteva, flor de laranjeira ou ainda bergamota. EVOLUÇÃO DOS AROMAS: Evolução genérica dos aromas frutados dos vinhos no período inicial de envelhecimento: VINHOS BRANCOS 5 – os aromas frescos como os de limão, maçã ou pêssego, dão lugar a aromas um pouco mais pesados e adocicados como os do melão, ananás e banana. Os aromas florais evoluem para flores secas, acabando depois por desaparecer. Numa segunda fase surgem aromas de mel, compota de maçã ou laranja6, marmelada, fruta cristalizada (laranja) e notas tostadas. VINHOS TINTOS – a evolução da fruta é semelhante à dos brancos, passando de uma fase inicial de uma fruta fresca mais (amora, mirtilho) ou menos (cereja, morango) madura para aromas de compotas dessa mesma fruta. Vão ganhando também um aroma a couro que será mais ou menos intenso consoante do tipo de envelhecimento que sofreu. 4 Alguns destes aromas aqui descritos aparecem com intensidade diferente consoante o envelhecimento seja em casco ou garrafa. 5 Nem todos os vinhos atravessam todas as fases, um vinho branco pode na sua fase inicial ter logo um aroma a frutos tropicais. 6 Se o aroma inicial for fresco evoluirá para a compota de maçã, se for mais adocicado evolui para a compota de laranja. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 18 Envelhecimento em madeira: Madeira velha - os aromas frutados do vinho jovem tenderão a evoluir para frutos secos (avelã, amêndoa, noz), torrefacção, madeiras exóticas, especiarias (caril 7) podendo também surgir o “vinagrinho” (que num vinho velho é característico e contribui para a sua complexidade). Madeira nova – existindo transferência de compostos aromáticos da madeira para o vinho contribui para o aumento da complexidade do mesmo. Estes componentes têm aromas que lembram a amêndoa torrada, o pão torrado, o coco, a baunilha, o cravinho, aparas de lápis, ou aromas resinosos 8. A intensidade e o tipo de aromas que surgem dependem do tipo de madeira utilizada, tosta, proveniência e modo de secagem. Além do aumento de componentes aromáticos há a evolução dos aromas frutados da forma descrita acima. 7 Em vinhos muito velhos 8 A amêndoa e pão torrado, característicos em vinhos brancos; o cravinho, as aparas de lápis e os aromas resinosos, característicos nos vinhos tintos. Os restantes, em ambos. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 19 10.3 – BOCA: GOSTO: 4 GOSTOS ELEMENTARES (1 agradável e 3 desagradáveis): DOCE. ÁCIDO. SALGADO. AMARGO. IMPORTÂNCIA DA SALIVA: A saliva assegura o transporte das moléculas sápidas até às células neuro-sensíveis dos “botões do gosto”. As células sensíveis ao gosto estão localizadas maioritariamente na língua. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 20 SABORES: DOCE, ÁCIDO, SALGADO E AMARGO. Apesar de não existirem botões específicos para cada sabor, há uma imagem de activação com predominância de zonas específicas da língua. GOSTOS ELEMENTARES E TEMPOS DE REACÇÃO: ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 21 INGIRA um bom gole de vinho (cerca de 10 cm3), faça-o rodar com a língua, aspire ar através do mesmo, o que será particularmente útil para detectar defeitos, engula um pouco e cuspa o restante. Reflicta sobre o GOSTO apreendido, o tipo de vinho, o equilíbrio parte ácida / açúcares bem como outros aspectos que considere importantes. O EQUILÍBRIO deve existir em todos os tipos de vinho. O gosto deve PERSISTIR e não ser transitório. Procure sabores ESTRANHOS e procure obter uma ideia firme acerca do tipo de vinho que se pretendeu apresentar. 10.4 – Estilos de vinhos menos conhecidos/ menos apreciados. Quando tiver feito a sua APRECIAÇÃO de um vinho, MANTENHA-A até ter uma boa razão para mudá-la, mas não CONDENE um vinho se não gosta ou não conhece bem o tipo representado. Pode tratar-se de um bom vinho na sua classe. Normalmente temos PREFERÊNCIAS por certos tipos de vinhos, mas deveremos ser capazes de provar e analisar TODOS os tipos de vinho. 10.5 - Objectividade. Recorde que está a avaliar o vinho no copo e não o rótulo ou garrafa. Sendo uma atitude individual não fale e não permita que os outros o façam durante a prova. 10.6 – Preço/qualidade. Recorde o preço do vinho. A relação preço/qualidade é importante. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 22 11 – Influência das CONDIÇÕES FÍSICAS na prova de vinho: Sendo um exercício subjectivo, levado a cabo por seres humanos, os RESULTADOS são influenciados por variações biológicas, saúde, experiência e capacidade sensorial do provador. Para minimizar estas variações definem-se as CONDIÇÕES mínimas requeridas para a realização de um trabalho sério: O provador deve estar confortável, despreocupado e sem outras obrigações, sem interrupções e discussões. O local deve ser propício à concentração. A cor das paredes, mesas e cadeiras deve ser branca. A temperatura ambiente deve ser de 21 a 24 º C. A iluminação deve ser o mais possível directa e a artificial deve ser com lâmpadas fluorescentes de cor branca (6500º K). Os copos ... . Finalmente, é importante que os copos sejam cheios com o mesmo volume. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 23 CURVA DE PERSISTÊNCIA AROMÁTICO - GUSTATIVA. A prova não termina com a deglutição ou rejeição do vinho: após esta o provador deverá analisar as sensações finais que se desenvolvem: os sentidos do GOSTO e do OLFACTO continuam a ser impressionados: FIM DE BOCA. PERSISTÊNCIA: Chamamos persistência às sensações perceptíveis, mesmo após a expulsão do vinho. Podem ser de ordem: Gustativa. Olfactiva. Química. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 24 PERSISTÊNCIA AROMÁTICA INTENSA: Uma observação atenta das sensações aromáticas, mostra que após a expulsão do vinho e a seguir a um período em que se apresenta uma certa e constante intensidade, se verifica um decréscimo brusco. Convencionou-se chamar “PERSISTÊNCIA AROMÁTICA INTENSA” a este período que decorre entre a expulsão e o decréscimo, e o Provador pode medi-lo: A unidade de medida é a CAUDÁLIA, que corresponde a um segundo de persistência. Assim poderemos ter um vinho: CAUDÁLIAS: Fraca (até 3 s). Média (7 a 9 s). Elevada (mais de 12s). ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 25 Adaptado de: Ficha de Provas da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. ____________________________________________________________________________________ Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz – Faculdade de Ciências da U.P. – Engenharia Agronómica. 26 Bibliografia: Amaral, B. (s/d). Avaliação Sensorial. Apontamentos da Pós-graduação em Enologia da ESB – UCP. Moura, F. (1996). Curso de iniciação à prova organoléptica. Edição do C.A.P.F.T.. Portmann, M. (1999). Anatomie des organes des sens. “La degustation” Journal International des Sciences de la Vigne & du Vin. Nº. Hors-Série: 7-13. Surgy, O. N. (1999). Une affaire de goût. Sciences et Avenir. Nº. Hors- Série: 62-69. Thorngate, J. H: (1997). The Physiology of Human Sensory Response to Wine: A Review. Am. J. Enol. Vitic., Vol. 48, Nº. 3: 271:279.
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