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1 ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS QUE OCORREM DUARANTE A GRAVIDEZ Autora: Ana Azevedo Ano: 2017 Alterações do Sistema Endócrino As glândulas endócrinas são responsáveis por uma grande parte das alterações fisiológicas que ocorrem durante a gravidez. Estas são essenciais à manutenção da gravidez, ao crescimento fetal normal e à recuperação no pós-parto. A maioria das hormonas é produzida, essencialmente, no corpo lúteo e, mais tarde, na placenta. A produção aumentada de hormonas afeta todos os sistemas importantes do corpo. Algumas das mais importantes alterações endócrinas na gravidez são provocadas pelo desenvolvimento da placenta. A placenta serve como órgão endócrino. Placenta Gonadotrofina Coriónica Humana (HCG) A gonadotrofina coriónica humana (HCG) é produzida pelas células trofoblásticas desde a fase do blastocisto (aparece muito cedo). Uma das principais funções fisiológicas da HCG é a manutenção do corpo lúteo durante o início da gravidez. Mantendo o corpo lúteo e protegendo-o da degeneração, assegura a produção de progesterona e a manutenção do endométrio para a implementação e início do desenvolvimento do zigoto. Esta hormona atua até a placenta produzir progesterona suficiente (8/11 semanas). Lactogénio Placentário Humano (LPH) ou Somatotrofina Coriónica Humana (HCS) É produzida pela placenta, e sintetizada pelos trofoblastos placentários. A HCS apresenta quantidades mínimas a partir de uma a duas semanas depois da implantação do óvulo. Os níveis séricos desta hormona elevam-se uniformemente, acompanhando o crescimento placentário, atingindo uma maior concentração no final da gravidez. Esta hormona tem propriedade lactogénica, semelhante à hormona hipofisária de crescimento. Age como hormona de crescimento e desenvolvimento das mamas. A HCS é uma importante hormona metabólica, interferindo no metabolismo dos carbohidratos e da gordura de modo a assegurar um bom suprimento de nutrientes para o feto. A HCS induz a mobilização dos ácidos gordos livres. Esta ação favorece o crescimento do feto pelo fornecimento à mãe de uma fonte de energia que diminui a utilização de carbohidratos e aumenta a disponibilidade de glicose ao feto. Tem efeito diabetogénico na mãe, menor metabolismo materno da glicose. 2 Progesterona Tem efeitos profundos no corpo da mulher durante a gravidez (principal hormona na manutenção/ preservação da gravidez). A sua origem é a placenta, aumentando continuamente durante a gravidez. Contudo, uma pequena produção de progesterona provém do ovário depois das primeiras semanas de gestação. A progesterona proporciona o desenvolvimento do endométrio, diminui a contractilidade do músculo (devido à redução do tónus muscular uterino). Com a redução do tónus muscular e a diminuição da contratilidade do músculo, o blastocisto pode implantar-se e desenvolver-se, e é protegido contra a expulsão causada pela contração uterina. Além disso, auxilia o desenvolvimento da mama para a lactação (ductos da mama). Também, reduz o tónus dos músculos lisos, reduzindo a motilidade gástrica e relaxando os esfíncteres. Essa ação ocasiona alterações gástricas: pirose, regurgitação, lentidão no esvaziamento gástrico e relaxamento e dilatação dos ureteres, etc. Pensa-se que a progesterona possa ter influência no sistema nervoso central (SNC), resultando em sonolência que é muito comum na gravidez. Pode também influenciar o sistema respiratório induzindo a hiperventilação na gravidez, o que reduz a PCO2 alveolar e arterial, o que provoca cansaço na mulher. As grandes quantidades de progesterona podem também, ter grande número de efeitos durante a gravidez. Sugere-se que o elevado armazenamento de gordura durante a gravidez está relacionado com a progesterona. Esta hormona pode também influenciar a taxa de catabolismo metabólico e a baixa de aminoácidos no plasma. Estimula também a maior excreção de sódio e cloreto, mecanismo compensado pela maior produção de aldosterona (ver supra-renais). Outro efeito metabólico é a elevação da temperatura corporal basal, sobretudo na segunda metade da gravidez, que posteriormente voltará ao normal. A ação da progesterona frequentemente está associada à do estrogénio, ou pode ser modificada por ele, tendo uma influência oposta e assim equilibrando a sua ação. Ex: ambas as hormonas influenciam o desenvolvimento da mama (ação associada); progesterona estimula o relaxamento do miomério, em oposição à estimulação da atividade muscular pelo estrogénio (influência hormonal antagónica). Estrogénios 3 A principal fonte na gravidez para o nível crescente de estrogénios é a placenta (a mulher quando está grávida produz estrogénios ao nível do ovário). O estrogénio provoca hiperplasia e hipertrofia do músculo uterino o que permite o seu crescimento proporcionando um ambiente apropriado para o feto. Os estrogénios estimulam a atividade do endométrio, ação antagónica à da progesterona. Provocam também, a vasodilatação no miomério, o que é importante para um bom fluxo sanguíneo. Estas hormonas podem ter um efeito amolecedor sobre a substância situada entre as fibras do colo, permitindo o seu fácil estriamento ao final da gravidez. Podem acarretar alterações no tecido conjuntivo, podendo provocar maior sensibilidade dos mamilos e permitem o desenvolvimento de estrias na pele. Têm influência sobre o centro respiratório, elevando a sua sensibilidade, ação antagónica da progesterona. Além destes efeitos, pode também produzir alterações metabólicas. Pode também ser responsável por algumas alterações sanguíneas, tais como: a baixa de proteínas plasmáticas totais, nomeadamente de albumina sérica; a elevação de uma série de proteínas fixadas ao soro que se ligam com maiores quantidades de hormonas de outras glândulas; a elevação da concentração de fibrinogénio; e a leucocitose característica da gravidez. Supra-renais Os níveis de cortisol e aldosterona ficam consideravelmente elevados durante a gravidez. Cortisol O cortisol em níveis elevados influencia o metabolismo dos hidratos de carbono tornando-o mais lento. Este aumento de cortisol induz a mobilização da proteína e da gordura quando não há hidratos de carbono na ingesta. Além disso, o cortisol aumenta a síntese de glicose pelo fígado, podendo contribuir para um possível aparecimento de hiperglicemia na gravidez. A hiperatividade do adenocortisol é considerada um dos fatores predisponentes para o aparecimento de estrias na pele, as marcas de distensão da gravidez (curiosidade). Aldosterona É mais abundante durante a gravidez. Esta hormona estimula os glomérulos do rim a reabsorver sódio e água. O aumento da aldosterona e progesterona contrabalançam- se durante a gestação. Os níveis altos de progesterona provocam uma perda de sódio pelos 4 glomérulos renais. Ou seja, é secretada em resposta à ameaça da perda de sódio, repondo o equilíbrio eletrolítico. Quando a aldosterona e progesterona estão em desequilíbrio, pode haver hipertensão. Hormonas Hipofisárias Prolactina hipofisária (PRL) É produzida pela hipófise anterior começando a elevar-se no inicio do primeiro trimestre e aumenta progressivamente até ao termo da gravidez (nível máximo final da gravidez). A função desta hormona é a preparação da mama para a lactação. Além disso, associa-se com o lactogénio placentário humano (HPL) influenciando o crescimento mamário e o sistema alveolar. O efeito da progesterona bloqueia a ação da prolactina durante a gravidez. “...altos níveis de estrogénio e progesterona inibem a lactação, bloqueando a ligação da prolactina ao tecido mamário,até após os partos.” Hormona melanócito estimulante Causa escurecimento na pigmentação da pele em determinadas áreas do corpo da mulher (mamilos, aréola, linha negra no meio do abdómen, cloasma (manchas castanhas na face), etc.). Estas alterações ocorrem a meio da gestação e geralmente desaparecem depois do parto. Glândula da tiroide e paratiroide Tiroide Durante a gravidez ocorre um ligeiro aumento da glândula tiroideia causado pela hiperplasia do tecido glandular e por aumento da vascularização. Geralmente a gestante não desenvolve hipertiroidismo. Paratiroide Durante a gravidez ocorre hiperplasia da paratiroide, o que provoca um aumento na produção desta hormona. Tem uma função no metabolismo do cálcio e magnésio (controla o metabolismo do cálcio e do magnésio). Esta elevação ocorre como resposta fisiológica às exigências do feto. Os níveis mais elevados ocorrem entre a 15ª e 35ª semana, quando as necessidades de crescimento do esqueleto fetal estão mais evidentes. Pâncreas O feto exige grandes quantidades de glicose para crescer e desenvolver-se. Assim, para suprir esta necessidade o feto vai abastecer-se das reservas da mãe de glicose. E, além disso o feto diminui a capacidade de sintetizar glicose absorvendo os seus 5 aminoácidos, provocando a diminuição dos níveis glicémicos, e consequentemente o pâncreas produz uma menor quantidade de insulina (insulina não atravessa a placenta). À medida que a gravidez avança, a placenta vai crescer e produzir maiores quantidades de hormonas (HPL, estrogénios e progesterona), assim como a produção de cortisol pelas supra-renais também aumenta. O aumento destas hormonas vai provocar uma menor capacidade da mãe usar insulina. O cortisol em simultâneo estimula o aumento da produção de insulina e aumenta a resistência periférica materna à insulina (isto é, os tecidos não podem usá-la). A insulinase é uma enzima produzida pela placenta para inactivar a insulina materna. A diminuição da capacidade da mãe em utilizar a sua própria insulina é um mecanismo protetor que assegura o aporte de glicose à unidade fetoplacentária. Em consequência deste processo, o corpo da grávida necessita de mais insulina. As células beta dos Ilhéus de Langerhans do pâncreas podem responder a esta necessidade de insulina, que vai sempre aumentando de forma progressiva até ao termo da gravidez. Prostaglandinas (PGs) As prostaglandinas são produzidas pelo endométrio e miomério e possivelmente, pela placenta. As PGs têm um potente efeito estimulante sobre a contratilidade do miomério em qualquer estádio da gravidez (provoca as contrações uterinas). Antes do início do trabalho de parto encontra-se uma quantidade de PGs maior que a usual no liquido amniótico da mulher e no sangue e depois começa o trabalho de parto. Facto que sugere uma relação desses agentes com o aborto espontâneo e o trabalho de parto espontâneo. Estas substâncias podem ser utilizadas para interromper a gravidez no segundo trimestre e, em menor grau, para induzir o trabalho de parto. Alterações dos órgãos reprodutores. Corpo uterino/útero O peso do útero aumenta durante a gestação, passando de 60 gramas, para cerca de 1000g a 1500g no termo da gestação. No final da gravidez o útero tem cerca de 32 a 35cm de comprimento, de 20 a 25cm de largura e cerca de 22cm de profundidade. A sua capacidade aumenta de 10ml para cerca de 3000ml a 5000ml. O útero antes da gestação apresenta a forma de pera invertida, e depois, passa para uma forma ovoide elevando-se para a cavidade abdominal. 6 Durante gravidez, o útero tem um maior espessamento devido: hipertrofia (aumento das fibras musculares e tecido fibroelástico) e hiperplasia (produção de novas fibras musculares e tecido). O útero gravídico aumenta a sua contractilidade. As contrações do músculo uterino ocorrem durante toda a gravidez. Inicialmente são muito mais leves, mas aumentam de intensidade, de modo que numa fase mais avançada da gravidez pode perceber-se a contração uterina ao colocar-se uma das mãos sobre o ventre. Estas contrações uterinas irregulares, indolores, denominadas contrações de Braxton-Hicks, tornam-se mais regulares para o fim da gravidez e às vezes tornam-se dolorosas. Durante a gestação, o suprimento sanguíneo uterino aumenta 20 a 40 vezes. As artérias uterinas, que são a principal fonte de suprimento uterino, são ramos das ilíacas internas, passam para dentro e ao longo dos ligamentos largos, penetram o útero ao nível do orifício interno do colo. Sobem por cada lado do útero e formam uma rede de arteríolas espirais que fornecem um amplo suprimento de sangue. 1/6 do volume total de sangue materno encontra-se no sistema vascular uterino. Ligamentos largos e redondos aumentam a tensão pelo aumento do útero. Cérvix/ colo uterino A cérvix do útero torna-se mais curta e amolecida, durante a gestação. Estes ajustes preparam-na para a dilatação da cérvix necessário para permitir a passagem do feto. Apresenta uma cor roxa azulado (Sinal de Hégar/Chedwick) provocada pelo aumento da vascularização e hiperplasia e hipertrofia das glândulas cervicais. O amolecimento da cérvix é devido a uma influência hormonal que causa um aumento do suprimento de sangue e um aumento na secreção das glândulas cervicais. As secreções das glândulas cervicais formam o tampão mucoso no canal cervical que age como uma barreira para evitar que os microrganismos penetrem o útero. Este tampão é expelido durante o trabalho de parto. Existe uma maior friabilidade devido à maior vascularização, e, assim, possível aparecimento de pequeno sangramento após o coito ou exame vaginal. Trompas e ovários Nas trompas de Falópio e nos ovários ocorrem mudanças de posição durante a gravidez. Estes órgãos são levados para cima pelo útero em crescimento, saindo da pelve para a cavidade abdominal. Como o aumento do útero é mais acentuado no fundo, as trompas e os ligamentos ovarianos estão ligados mais próximos da metade do útero do que no estado não gravídico. Existe um grande aumento da vascularização destes órgãos. 7 Vagina As alterações da vagina são devidas principalmente ao aumento da vascularização. Este aumento da vascularização produz o aparecimento de uma coloração azul-violeta na mucosa vaginal e no útero. A intensificação da coloração – Sinal de Chadwick, sinal de probabilidade de gravidez pode ser evidente por volta das 6 semanas, mas é facilmente identificável às 8 semanas de gestação. As hormonas da gravidez preparam a vagina para a distensão que ocorre durante o trabalho de parto, condicionando um aumento da espessura da mucosa vaginal, tecido conjuntivo laxo, hipertrofia do músculo liso e um aumento do comprimento da abóbada vaginal. A descamação das células vaginais ricas em glicogénio ocorre sob estimulação dos estrogénios. Estas células expulsas contribuem para o aparecimento do corrimento vaginal espesso e esbranquiçado, denominada leucorreia. Durante a gravidez o pH das secreções vaginais torna-se menos ácido, passando de 4 para 6.5. O aumento do pH torna a grávida mais vulnerável às infeções vaginais sobretudo fúngicas. Vulva e períneo As alterações na vulva e no períneo incluem edema e vascularização aumentada. São comuns as varizes vulvares na gravidez. Os tecidos perineais exibem alterações semelhantes às da vagina, maior vascularização, hipertrofia da pele e músculos e afrouxamento dos tecidos conjuntivos. Alterações da mama Nas primeiras semanas de gestação as mamas aumentam de tamanho e firmeza, e ficam nodulares, por causa da hipertrofia dos alvéolos. Frequentemente aparecem estriasna pele. Há também um aumento na vascularização das mamas, e as veias superficiais ficam mais proeminentes. Estas alterações são normalmente acompanhadas por uma sensação de dor, formigueiro e peso nas mamas no início da gravidez, e são considerados sinais prováveis de gestação. Os mamilos e aréolas ficam maiores e mais proeminentes, e a sua cor fica mais escura na gravidez. Os mamilos ficam mais móveis e erécteis. As glândulas de Montegomery ficam maiores. Dentro do próprio tecido mamário podem ocorrer alterações: proliferação do tecido glandular (primeiro trimestre) e as células alveolares diferenciam-se, tornando-se secretoras – colostro. 8 Alterações do abdómen O abdómen modifica à medida que o útero em crescimento se estende para dentro da cavidade abdominal ocupando-a cada vez mais, até que o feto contido pelo útero fica completamente dentro dela. Os músculos abdominais, que suportam grande parte do peso feto sofrem um estriamento, podendo resultar em aparecimento de estrias gravíticas. Pelo final da gravidez, o fundo uterino terá subido de modo a exercer pressão contra o diafragma. Os órgãos abdominais superiores ficam comprimidos na parte superior da cavidade abdominal e os intestinos ficam acima, por trás e dos lados do útero. A distensão abdominal da gravidez por vezes provoca a separação dos músculos retos. Essa separação, conhecida como diástase, por vezes é discreta, outras pode ser mais acentuada. A profundidade do umbigo aumenta bastante nos três primeiros meses, ficando depois cada vez mais raso, nivelando-se com a superfície ou fazendo protusão. Alterações do Sistema Tegumentar As alterações gravídicas da pele consistem em fluxo sanguíneo aumentado, aparecimento de “aranhas” vasculares, intensificação da cor das áreas pigmentadas, aparecimento de estrias e, possivelmente, elevação da atividade das glândulas sebáceas e sudoríparas e dos folículos pilosos. A hiperpigmentação é estimulada pela hormona melanotropina da hipófise anterior, que aumenta durante a gestação. Na gestação há um escurecimento dos mamilos, das aréolas, das axilas e da vulva. Também, na gravidez aparecem umas manchas acastanhadas de contorno irregular às vezes na face, como uma mascara ao redor dos olhos e sobre o nariz e as bochechas, denominadas de cloasma. O cloasma causado pela gestação normal geralmente desaparece após o parto. A línea alba, uma linha esbranquiçada que divide o abdómen longitudinalmente, do esterno à sínfise púbica, fica mais escura e passa a ser chamada de línea alba. Essa linha fica progressivamente mais pálida após o parto. 9 As estrias desenvolvem-se em áreas de distensão máxima: o abdómen, as mamas e as coxas. A gordura subcutânea aumenta na gravidez e distende a pele subjacente. O aumento considerável de peso na gravidez, a obesidade desde o seu início, o estriamento incomum da pele abdominal e a retenção de líquido e edema generalizado podem aumentar a distensão da pele. Os angiomas ou telangiectasias são denominadas normalmente, aranhas vasculares. Consistem em arteríolas terminais pulsáteis, levemente proeminentes, pequenas, dispersas ou ramificadas. Situam-se frequentemente, devido aos níveis elevados de estrogénios circulantes, no pescoço, tórax, face e braços. São também descritas como redes localizadas de arteríolas dilatadas que irradiam de um núcleo central. O granuloma gengival gravídico consiste num nódulo avermelhado da gengiva, que sangra com facilidade. O crescimento das unhas é mais acelerado durante a gravidez. Durante a gravidez a pele torna-se oleosa podendo ocorrer acne vulgar. O hirsutismo, aumento no crescimento dos pelos é referido muitas vezes. Este facto quando acontece não desaparece após a gravidez. Algumas mulheres referem que o seu cabelo fica mais espesso e abundante durante a gravidez. Alterações do peso corporal O ganho de peso total de uma grávida bem nutrida após 40 semanas de gestação fica mais ou menos entre os 10-12,5 Kg, sendo que a média é de 11 Kg. O ganho de peso durante a gravidez incluiu o peso do feto, de aproximadamente 3000 a 3400g; da placenta cerca de 650gr; e de líquido amniótico cerca de 800 a 1000gr. O crescimento dos músculos uterinos é responsável por aproximadamente 900gr; e o tecido glandular mamário adiciona 400 a 500gr. O maior volume de sangue durante a gravidez adiciona um peso de aproximadamente 1300 a 1500gr, e o aumento do líquido extracelular pelo fim da gestação adiciona mais de 1500gr ou mais do ganho de peso total. O crescimento dos produtos de conceção dos órgãos reprodutores maternos e o aumento de volume sanguíneo materno e do líquido amniótico são responsáveis por aproximadamente 900gr. Fica assim evidente pelos componentes da elevação do peso acima relacionados que um ganho de 9Kg é o mínimo que se deve esperar no termo da gravidez. O ganho de peso não explicado pelos elementos supracitados parece depender principalmente das reservas maternas de tecido adiposo. 10 A gordura depositada serve como suprimento energético para a gravidez avançada e para a lactação. Para um aumento médio de 11Kg, a mulher poderá ganhar cerca de 1kg a 1,5Kg durante o primeiro trimestre, 5 a 6 Kg durante o segundo e de 4 a 5 Kg durante o terceiro. Um ganho de peso de 1Kg/mês é insuficiente, e um ganho de mais de 3Kg/ mês poderá ser excessivo. Alterações do sistema cardiovascular As adaptações maternas à gravidez englobam extensas alterações no sistema cardiovascular, estas protegem o funcionamento fisiológico normal da mulher, respondem às necessidades metabólicas impostas pela gravidez e garantem o crescimento e desenvolvimento do feto. Volume Sanguíneo O volume sanguíneo aumenta cerca de 30 a 40% durante a gestação, porém a variação é grande podendo ir em pessoas diferentes, desde uma pequena subida até quase o dobro do volume. Há um acréscimo de 1L a 1,5L de quantidade de sangue. O aumento da quantidade de sangue, hipervolémia, tem por objetivo: preencher o sistema vascular grandemente aumentado do útero e a capacidade venosa expandida das pernas; responder às necessidades do útero gravídico; ajudar a proteger a mãe e o feto do retorno venoso deficiente das extremidades inferiores, o que é comum na gravidez. O alto volume de sangue durante a gestação resulta do aumento do volume de plasma e de eritrócitos, no entanto, o aumento é mais acentuado no primeiro. Embora haja uma elevação considerável na produção de eritrócitos durante a gestação, a expansão desproporcionada do volume de plasma leva à diminuição das concentrações de hemoglobina e de eritrócitos e, portanto, a diminuição do hematócrito durante a gestação. Este acontecimento é denominado de “anemia fisiológica da gravidez”. Existe também, um aumento dos leucócitos, que caso seja superior a 15.000mm3 pode ser sinal de infeção. Débito/ capacidade cardíaca O débito cardíaco aumenta de maneira notável na gravidez (aumenta cerca de 30% a 50% cima do normal). Esta elevação é importante para responder Às necessidades do feto e útero e placenta em crescimento; como resposta à elevação das necessidades metabólicas; e serve de reserva no caso de perda sanguínea no parto. 11 O débito cardíaco elevado resulta, em grande parte do aumento de batimentos cardíacos (15batimentos/minuto) e também em resposta às maiores necessidades de oxigénio pelos tecidos. O débito cardíaco, no final da gestação é consideravelmente mais alto quando a mulher se encontra em posição lateral recumbente do que em decúbito dorsal. O decúbito dorsal impede, muitas vezes, devido ao tamanhodo útero, o retorno venoso ao coração. O débito cardíaco aumenta com qualquer esforço, como aquele que ocorre durante o trabalho de parto. Fatores de coagulação Durante a gravidez, verifica-se uma tendência para a coagulação, devido ao aumento de vários fatores de coagulação (fatores VII, VIII, IX, X e o fibrinogénio). Isto, combinado com o facto da atividade fibrinolítica (a dissolução de um coágulo) estar deprimida durante a gestação e o período pós-parto, proporciona uma função protetora, diminuindo a possibilidade de sangramento, porém, torna a mulher mais vulnerável à trombose, nomeadamente após cesariana. Devido a este risco de trombose é necessário que a paciente inicie a deambulação o mais precoce possível. Pressão sanguínea A pressão sanguínea arterial é afetada pela idade, nível de atividade e presença de problemas de saúde. Durante a gestação existem também outros fatores que irão influenciar a pressão sanguínea tais como: ansiedade materna, posição materna e tamanho e tipo de aparelho de pressão. Os valores da pressão sanguínea arterial (TA) pouco alteram. No primeiro trimestre normalmente mantém-se a mesma do nível pré-gestacional. Durante o segundo trimestre, há uma diminuição de 5 a 10 mmHg (na sistólica e na diastólica). Esta diminuição deve-se provavelmente à vasodilatação periférica causada pelas mudanças hormonais que ocorrem durante a gestação. No terceiro trimestre retoma os níveis do primeiro trimestre. Um outro aspeto a ter em conta é a compressão da veia cava inferior na posição de decúbito lateral direito e dorsal, que irá provocar uma maior compressão da aorta, denominada de Síndrome de Hipotensão Supina, daí que se deva colocar a grávida em decúbito lateral esquerdo. A compressão das veias ilíacas e da cava inferior pelo aumento do útero causa aumento da pressão venosa e diminuição do fluxo venoso femoral (atenção estar muito tempo sentado ou de pé). Estas alterações contribuem para o edema, para as veias 12 varicosas nos membros inferiores (associado ao relaxamento da musculatura) e na vulva e para as hemorroides. Durante a gravidez existe uma ligeira mudança de posição do coração, dos ruídos cardíacos, um discreto aumento do volume de enchimento cardíaco e, possivelmente, uma discreta hipertrofia ou dilatação do coração, ou ambas, resultantes do volume aumentado. À medida que o diafragma se levanta progressivamente durante a gestação devido ao aumento do útero, o coração desloca-se gradualmente para cima e roda para a frente e para a esquerda. As mudanças no tamanho e na posição, mais o aumento do volume de sangue e débito cardíaco vão provocar alterações na auscultação (comuns na gravidez). Pode ocorrer uma hipotensão ortostática ou postural devido à diminuição do retorno venoso e declínio da capacidade cardíaca, podendo ocorrer quando a grávida sai da posição reclinada para a posição de pé. Existe ainda, uma hipertrofia do miocárdio devido ao aumento do volume sanguíneo e do débito cardíaco. Alterações do sistema respiratório Durante a gestação há um aumento de O2 de cerca de 15% isto porque, as exigências de oxigénio materno aumentam em resposta à aceleração do metabolismo e à hipertrofia dos tecidos uterinos e mamários. Além disso, o feto exige oxigénio e uma forma de eliminar o dióxido de carbono. Alterações funcionais As alterações da função pulmonar melhoram a troca gasosa nos alvéolos e facilitam a oxigenação do sangue que circula pelos pulmões. Volume corrente e volume por minuto: o volume corrente (quantidade de ar inalado e exalado) aumenta durante a gravidez, em consequência dos níveis aumentados da progesterona e da ampliação das excursões diafragmáticas. As diferenças entre o volume corrente e o volume por minuto resultam de uma hiperventilação ligeira, que reduz pressão de dióxido de carbono nos alvéolos. A redução resultante da PCO2 no sangue materno aumenta a diferença de pressão arterial do dióxido de carbono entre o sangue fetal e materno, facilitando a difusão desse gás produzido pelo feto. Capacidade pulmonar: a elevação do diafragma reduz a capacidade residual funcional (volume de ar que fica nos pulmões após expiração), e a redução desse parâmetro respiratório contribui para a hiperventilação. A capacidade vital (maior 13 volume de ar que pode ser expirado voluntariamente, após uma inspiração máxima) aumenta ligeiramente na gravidez. Somadas aos aumentos do débito cardíaco e volume sanguíneo para a placenta. Equilíbrio ácido-base: durante o terceiro mês de gestação, o aumento de progesterona sensibiliza os recetores respiratórios e facilita a ventilação, resultando numa redução dos níveis de dióxido de carbono. Isto eleva o pH, que poderia causar alcalose respiratória branda, caso a redução do nível de bicarbonato não compensasse parcial ou totalmente essa tendência. Dispneia é uma queixa de 60% a 70% das mulheres, ligada a: Diminuição do PCO2 alveolar. Hiperventilação Pressão do útero no diafragma Hidramnios (excesso de liquido amniótico) Anemia Alterações do sistema renal (urinário) Os rins são responsáveis pela manutenção do equilíbrio eletrolítico e ácido-base, pela regulação do volume de fluido extracelular, pela excreção dos produtos residuais e pela conservação dos nutrientes essenciais. Na gravidez a função renal é excessivamente alterada, isto porque os rins da mãe têm de responder às maiores necessidades metabólicas e circulatórias do seu corpo e, também à excreção de produtos de desintegração do feto. Os mecanismos que mantêm a homeostasia são modificados, e a função renal e a distribuição de água e eletrólitos são consideravelmente alterados. Na gravidez há um aumento da taxa de filtração glomerular de cerca de 50%. As mudanças na estrutura do rim durante a gestação devem-se à atividade hormonal (estrogénio e progesterona), da pressão do útero aumentada e do aumento do volume de sangue. Na gestação há uma dilatação dos ureteres e pelve renal, esta dilatação vai ser acompanhada por hipertrofia e hiperplasia dos músculos liso uretral (efeito hormonal). Esta dilatação provoca alterações que resultam na estagnação de urina. A estase urinária pode interferir com a exatidão dos exames de urina e é um fator na tendência às infeções do trato urinário nesta fase. Por este motivo a gestante é orientada a tomar oito copos de água por dia. 14 Glicosúria Num indivíduo normal, quase toda a glicose filtrada pelos glomérulos é reabsorvida pelos túbulos, e apenas diminutas quantidades podem ser encontradas na urina. A gravidez normal está associada a glicosúria. A glicosúria na gravidez parece ser devida, em parte, a um aumento na filtração de glicose provocado pelo aumento da TFG na gestação e a uma incapacidade dos túbulos renais para aumentar a reabsorção tanto quanto a filtração glomerular. Embora seja comum a glicosúria na gravidez normal, não deve ser ignorada. A possibilidade de diabetes mellitus precisa ser considerada, daí ser importante a sua vigilância. Proteinúria A proteinúria é um sinal importante de doença renal e está comummente presente na pré-eclâmpsia (proteinúria, mais hipertensão, mais edema, é sinal de pré-eclâmpsia). Assim, é necessário a realização da dosagem da excreção urinária de proteína para a descoberta de doença renal e/ou para deteção da pré-eclâmpsia. A urina das grávidas é portanto examinada em cada visita anterior ao parto. Alterações do sistema gastrointestinal As modificações do trato intestinal durante a gravidez são indicadas por náuseas e, possivelmente, por vómitos no inícioda gestação; por pirose e eructação, flatulência e obstipação. As gengivas durante a gravidez tornam-se hiperémicas, esponjosas e edemaciadas. As gengivas têm tendência a sangrara facilmente, dado que os níveis elevados de estrogénios condicionam um aumento seletivo da vascularização e da proliferação do tecido conjuntivo (uma gengivite inespecífica). Não se verifica aumento da secreção da saliva. Contudo, muitas mulheres queixam-se de ptialismo (salivação excessiva). As gestantes devem ser orientadas no sentido de usar escovas de dentes macias e fazer uma boa higiene oral. Náuseas e vómitos são distúrbios muito comuns no inicio da gravidez, parecendo ser devido ao crescente nível de estrogénios no sangue. Os sintomas podem variar de discreta sensação de náusea quando a mulher eleva a cabeça ao acordar, a vómitos frequentes e persistentes, que então assumem uma condição grave. Náuseas e vómitos podem aparecer em qualquer parte do dia, mas são mais comuns pela manhã, ao levantar. Geralmente desaparecem ao fim do primeiro trimestre. 15 Durante a gestação, o movimento peristáltico do trato intestinal diminui. Este facto deve-se ao aumento da progesterona. O relaxamento da cárdia e do estômago, assim como, a mudança de posição faz com que haja regurgitações frequentes do conteúdo gástrico para o esófago, causando azia (pirose), que é um desconforto comum na gestação. A perda de tónus muscular provoca uma demora no esvaziamento dos intestinos, permitindo maior absorção de água das fezes. Esta mudança pode causar obstipação, outra queixa comum na gestação. No entanto, a obstipação pode também ser consequência da diminuição da ingestão de líquidos, da distensão abdominal provocada pelo útero grávido e descolamento dos intestinos sujeitos a compressão. Alterações do sistema músculo-esquelético As alterações dos esqueletos das mulheres são caracterizadas pelo amolecimento das cartilagens pélvicas e pelo aumento da mobilidade das articulações sacrococcígea e sacroilíaca e da sínfise púbica. As grandes alterações que vão operando no corpo, acrescida do aumento do peso que se verifica, condicionam na grávida, alterações marcadas na postura e andar da grávida. A grande distensão abdominal que empurra a grávida para a frente, a diminuição do tónus muscular abdominal e o aumento do peso que se verifica na fase mais avançada da gravidez, exigem um realinhamento da coluna vertebral. O centro da gravidade da grávida transfere-se para a frente. Ocorre aumento na curvatura lombar (lordose) e uma curvatura compensatória na região cervical e dorsal (flexão anterior da cabeça exagerada) desenvolvesse para ajudar à manutenção do equilíbrio. As modificações posturais podem causar dor, dormência e fraqueza das extremidades superiores. Além disso, o facto de as mamas estarem grandes e também, a posição encolhida dos ombros acentuará ainda mais as curvas lombar e dorsal. A deambulação fica mais difícil, e o caminhar “gingando” da gestante, denominado de Shakespeare, “o caminho orgulhoso da grávida”. É importante referir que as mulheres mais jovens podem tolerar sem queixas estas mudanças. Contudo, as mulheres com mais idade ou as que apresentam distúrbios da coluna ou falta de equilíbrio podem exibir uma considerável quantidade de dor lombar durante e logo após a gestação. Durante a gestação é normal existir um leve relaxamento e uma maior mobilidade das articulações. A relaxina, uma hormona ovariana, auxilia no relaxamento e amolecimento. Tais adaptações permitem o aumento das dimensões pélvicas para facilitar o trabalho de parto e parto. 16 Alterações do sistema neurológico Pouco se conhece acerca do funcionamento do sistema neurológico durante a gestação, além das modificações neuro-hormonais hipotalâmicas-hipofisárias. As alterações fisiológicas específicas, resultantes da gestação, podem causar os seguintes sintomas neurológicos ou neuromusculares: A compressão dos nervos pélvicos ou estase vascular causada pelo aumento do útero pode alterar a sensibilidade das pernas. Lordose dor lombar pode causar dor devido à tração sobre os nervos ou compressão das raízes nervosas. Edema envolvendo os nervos periféricos pode resultar em síndrome do canal cárpico durante o terceiro trimestre. O edema comprime o nervo mediano abaixo do ligamento cárpico do pulso. A síndrome caracteriza-se pela parestesia (sensação anormal como ardência ou formigueiro) e dor na mão, irradia para o cotovelo. A mão dominante é geralmente a mais afetada. A cortesia (dormência ou formigueiro das mãos) provocada pela posição dos ombros, levando a tração sobre segmentos do plexo braquial. Tonturas e desmaios – por hipoglicemia, hipotensão postural, instabilidade vasomotora. Cãibras musculares. Referencias Bibliográficas Burroughs, A. (1995). Uma introdução à enfermagem materna, 6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas. Campos, Diogo Ayres, et al. (2008). Protocolos de Medicina Materno-Fetal. 2ª ed. Lisboa: Lidel. Graça, L. M. da. (2010). Medicina Materno-Fetal, 4ª ed. Lisboa: Lidel Lowdermilk, D. L., Perry, S. E. (2008). Enfermagem na maternidade, 7ª ed. Loures: Lusoditacta. Resende, J. (2002). Obstetrícia, 9ª ed. Rio de Janeiro: Edições Guanabara.
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