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2017 - 07 - 18 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016 QUARTA PARTE - PROVAS CAPÍTULO 14. DEPOIMENTO PESSOAL E CONFISSÃO Capítulo 14. DEPOIMENTO PESSOAL E CONFISSÃO 14.1. Depoimento pessoal: 14.1.1. Conceito Em geral, quem melhor conhece os fatos da causa são aqueles que nela estão envolvidos, vale dizer, as partes. Depoimento pessoal é o meio de prova pelo qual o juiz reconstrói os fatos litigiosos ouvindo-os diretamente das partes. É importante meio de prova, que pode ser requerida pela parte ou determinada de ofício pelo juiz. Muitas vezes a comunicação escrita não é suficiente para mostrar o que realmente ocorreu, até porque quem redige as peças técnicas (por exemplo, petição inicial, contestação) não é a própria parte, mas seu advogado. Ou seja, os fatos chegam ao juiz já filtrados pelo advogado, que os ouviu da parte. Nessa transmissão de conhecimentos pode ocorrer omissão de detalhes relevantes, às vezes fundamentais. Pode ainda haver o emprego de artifícios retóricos que eliminam a clareza da descrição dos fatos. Assim, o depoimento pessoal dá oportunidade ao juiz para colher a informação "diretamente da fonte", inquirindo a parte sobre todos os pormenores que interessem para a solução da lide. Por muito tempo, vinculou-se em termos absolutos o depoimento pessoal à confissão. Aquele existiria em função dessa. O papel do depoimento pessoal seria o de se conseguir uma confissão do depoente. Essa concepção não merece mais prevalecer. Obviamente, a confissão é o mais relevante resultado probatório que talvez se possa atingir com o depoimento pessoal. Mas não é o único: mesmo sem haver confissão, o juiz pode extrair elementos instrutórios relevantes do depoimento da parte. Por outro lado, nem toda confissão advém de um depoimento pessoal. Esses aspectos serão retomados adiante. 14.1.2. Sujeitos Presta depoimento quem tiver a condição jurídica de parte, ou seja, além do autor e do réu, todos aqueles terceiros intervenientes que assumem a posição de parte, como, por exemplo, o litisdenunciado, o chamado ao processo ou o assistente litisconsorcial. Disso resulta que, por exclusão, todas as demais pessoas que venham a depor em juízo não prestam propriamente depoimento pessoal. Aquilo que elas afirmarem ao depor - ainda que lhes seja algo desfavorável ou desabonador - jamais terá, naquele processo em que elas são terceiros, o caráter de uma confissão. A testemunha, o perito, os assistentes técnicos, conquanto compareçam em audiência e respondam às perguntas formuladas (daí esse ato também ser denominado "depoimento"), não prestam depoimento pessoal. O mesmo ocorre com o assistente simples e o amicus curiae, terceiros intervenientes que não assumem a condição de parte (v. vol. 1, cap. 19). 14.1.3. Características: pessoalidade e indelegabilidade Apenas a parte pode depor, não se admitindo, em regra, que o advogado ou outro procurador preste o depoimento em seu lugar, mesmo com poderes expressos, porque o escopo é trazer à luz os fatos vivenciados pela parte, e não por outrem. Trata-se de atividade pessoal e indelegável. Parte significativa da importância do depoimento pessoal deriva de que, durante a narrativa, a parte pode vir a reconhecer fatos contrários ao seu interesse (confissão espontânea), o que não aconteceria se se tratasse de prova cuja produção não fosse pessoal e indelegável. Mas, exatamente porque se destina a demonstrar fatos vivenciados, a pessoalidade e indelegabilidade do depoimento pessoal comportam exceções. Assim, se o procurador com poderes expressos tem conhecimento direto dos fatos, pode depor em nome da parte. A prestação de depoimento pessoal não é ato técnico no processo, mas ato da parte. Assim, pode ser constituído como procurador para pratica tal do processo não apenas o advogado da parte, mas qualquer pessoa investida de capacidade para exercício de direitos - mas, sempre, com poderes expressos para tanto. Outra possível exceção é a do preposto. Quando a parte for pessoa jurídica, em determinadas situações é usual que a pessoa que tem conhecimento dos fatos conflituosos não seja aquela cujo contrato social (ou estatutos) apontam para representá-la em juízo. Seria inócua a produção desse meio de prova, caso fosse ouvido alguém que nada soubesse da realidade fática subjacente à demanda, porque se encontra distante dos fatos. Assim, em casos especiais, interessa que deponha não o representante da pessoa jurídica, mas sim o preposto que vivenciou os fatos. É inclusive ônus da própria pessoa jurídica que é parte no processo, quando determinado seu depoimento pessoal, providenciar para que compareça para prestar tal depoimento um agente seu (seja ele representante ou simples preposto) com efetivo conhecimento dos fatos da causa. Sendo o preposto, é necessário que ele esteja expressamente autorizado pela pessoa jurídica a prestar o depoimento, inclusive com poderes para confessar. 14.1.4. Possíveis consequências do depoimento pessoal A finalidade do depoimento pessoal é propiciar ao juiz o conhecimento dos fatos, obtendo-o diretamente dos sujeitos da relação jurídica conflituosa. Porém, da sua produção podem redundar duas especiais consequências. A primeira delas é a obtenção da confissão real, ou seja, a expressa afirmação pelo depoente de fatos que lhe são desfavoráveis (ver abaixo, n. 14.2.8). Quando a parte confessa, em princípio estará dispensada a produção de outra prova sobre o fato já confessado (art. 374, II, do CPC/2015). A segunda consequência que merece destaque é a possível confissão ficta, que consiste em se considerarem confessados os fatos controvertidos quando a parte, intimada, não comparece ou, comparecendo, recusa-se a responder (art. 385, § 1.º, do CPC/2015 - v. n. 14.2.8, adiante). Nesses casos, estabelece-se uma presunção de veracidade dos fatos desfavoráveis à parte. Essas consequências apenas ocorrem porque os sujeitos desse meio de prova são as próprias partes (ou seus representantes, nos limites indicados no item anterior). Há consequências diferenciadas para as outras pessoas que depõem (testemunhas, perito), mas que não ocupam nenhum dos polos da ação. As manifestações desses outros sujeitos também servem de prova, fornecendo subsídios para a formação do convencimento do juiz sobre os fatos da causa. Contudo, não têm a mesma intensidade, o mesmo peso probatório, que a confissão. Além disso, outros resultados probatórios relevantes, que não constituem confissão, podem derivar do depoimento pessoal: fatos afirmados pelo depoente que lhe são favoráveis; fatos afirmados pelo depoente, relativamente a direitos indisponíveis; fatos afirmados pelo procurador da parte e que estão fora dos limites da procuração outorgada para o depoimento pessoal; fatos afirmados pelo depoente que são desfavoráveis (também ou apenas) aos seus litisconsortes etc. Nada disso constitui confissão, mas pode vir a funcionar como prova, a depender de circunstâncias concretas (a idoneidade do depoimento, sua consonância com outros elementos instrutórios reunidos no processo, a impossibilidade de obtenção de prova por outro meio etc.). Não há como se excluir essa possibilidade de antemão - especialmente em vista da garantia de liberdade probatória e do poder judicial de livre convencimento motivado. O tema será retomado em diversos tópicos adiante. 14.1.5. Diferenças dos outros meios de prova 14.1.5.1. Em relação ao meio testemunhal Tanto o depoimento pessoal da parte quanto o depoimento testemunhal são meios de prova orais. Em ambos os casos, o juiz ouve uma manifestação verbal do depoente sobre fatos da causa. Mas esses meios de prova diferenciam-se sob dois aspectos. O primeiro, mais óbvio e já destacado, concerne ao sujeito depoente: a própria parte (ou seu representante, nos limites acima indicados), no depoimento pessoal; um terceiro, na prova testemunhal. O depoimento pessoal tambémse diferencia da prova testemunhal sob o aspecto objetivo. A testemunha não deve emitir juízos de valor, opiniões, mas limitar-se a relatar os fatos que presenciou. Já o depoimento pessoal pode também abranger, em alguma medida, manifestação do depoente sobre juízos, impressões, sentimentos que ele teve por ocasião dos fatos da causa. Por exemplo, pode-se indagar à parte se ela tomou as medianas precauções antes de realizar o negócio jurídico, ou se entendeu o risco que poderia correr, numa ação em que se discuta anulação de ato jurídico por erro. Tais informações podem ser significativas para avaliar a boa-fé ou para compreender as razões que conduziram ao comportamento da parte. 14.1.5.2. Em relação ao meio pericial A perícia caracteriza-se essencialmente por seu objeto: identificação, compreensão ou esclarecimento de fatos mediante o emprego de conhecimentos técnicos especializados (v. cap. 17, adiante). Na prova pericial, além de ser cabível a apresentação de laudo escrito, o perito também pode prestar depoimento em audiência. Nesse sentido, ela também pode ter a forma oral. Mas ainda que a parte tenha formação científica na área de conhecimento que envolve os fatos litigiosos, seu depoimento pessoal jamais poderá ser identificado com - nem equivaler a - prova pericial. O juiz não tem como simplesmente acatar, como se elas proviessem do perito, as informações técnicas e científicas apresentadas pela parte - as quais, precisamente por exigirem conhecimento especializado, não podem ser por ele, juiz, verificadas quanto ao seu acerto. A parte tem interesse direto na solução da causa. O perito deve ser imparcial (arts. 148, III, e 157, § 1.º, do CPC/2015). Se, ao depor sobre os fatos, a parte formular também afirmações de caráter técnico especializado, por ter formação científica naquela matéria, o juiz, parecendo-lhe pertinentes tais informações, deverá submetê-las ao perito. 14.1.6. Depoimento pessoal e interrogatório Tanto o interrogatório, disposto no art. 139, VIII, quanto o depoimento pessoal, previsto no art. 385 e ss., ambos do CPC/2015, são meios em que a prova é produzida diretamente pela parte. Em ambos os casos, devem ser observadas todas as garantias processuais, especialmente o contraditório e, não sendo hipótese de "segredo de justiça", a publicidade. Mas no interrogatório, corolário do poder instrutório do juiz (art. 370 do CPC/2015) e da oralidade: (a) o juiz sempre age de ofício; (b) ele pode fazê-lo em qualquer momento procedimental; (c) o objetivo da prova é o esclarecimento de questões para o juiz (caráter subsidiário); e (d) não há a imposição da confissão ficta, na hipótese de não comparecimento ou de negativa de depoimento (parte final do art. 139, VIII, do CPC/2015) - sem prejuízo de essa conduta poder constituir elemento indiciário relevante para a formação do convencimento do juiz. Discute-se ainda se o não comparecimento da parte ao interrogatório poderia configurar litigância de má-fé. O caso não se enquadra com perfeição nas hipóteses dos arts. 77 e 80 do CPC/2015. Mas essa conduta é incompatível com o dever de cooperação (art. 6.º do CPC/2015). Sem justa causa, não há porque a parte deixar de atender à convocação do juiz. Se deverá responder a todas as perguntas que ele lhe faça, é outra questão, que se examina adiante (n. 14.1.10). Já o depoimento pessoal: (a) pode ser determinado de ofício ou a requerimento da parte; (b) normalmente ocorre na audiência de instrução e julgamento; (c) tem por objetivo a prova dos fatos da causa e, em especial, a obtenção de confissão; e (d) pode implicar a confissão ficta, se a parte, intimada, não comparecer à audiência ou nela recusar-se a depor. Em suma, o interrogatório é expressão do poder que detém o juiz de, a todo tempo, chamar a parte a sua presença, para ouvir diretamente dela esclarecimentos que julgue pertinentes - em outras palavras, para poder diretamente conversar com ela. Nada impede que, no interrogatório, venha a ocorrer uma confissão espontânea da parte, pois essa pode dar-se em qualquer sede e momento, até mesmo extrajudicialmente. Mas não é esse propriamente o foco do interrogatório. O depoimento pessoal, por sua vez, constitui o meio típico de, no momento da instrução probatória, ouvir-se a parte, tendo-se em vista especialmente (ainda que não exclusivamente) a confissão. Tanto são distintos os institutos que, ainda que o juiz tenha realizado o interrogatório anteriormente à audiência, não está obstado o requerimento ou a determinação ex officio da colheita do depoimento pessoal. 14.1.7. Legitimidade para requerer o depoimento pessoal - O requerimento de depoimento próprio Como indicado, o juiz pode determinar de ofício o depoimento pessoal das partes. Não bastasse a regra geral que confere poder de iniciativa probatória ao juiz (art. 370 do CPC/2015), o art. 385, caput, parte final, do CPC/2015, explicita essa possibilidade. Qualquer das partes pode também requerer o depoimento pessoal da parte adversária (art. 385, caput. Mas a parte poderia requerer o seu próprio depoimento pessoal em juízo? De acordo com uma concepção tradicional, refletida na própria letra do 385, caput, isso não seria possível. Para essa corrente, a única finalidade do depoimento pessoal seria a de obter-se a confissão do depoente. Nessa ordem de ideias, a parte não teria interesse processual em pedir o próprio depoimento para provocar a própria confissão. Todavia, na medida em que se reconheça no depoimento pessoal um meio de prova, equiparável a qualquer outro, esse limite perde a razão de ser. Como indicado antes (n. 14.1.4), o juiz pode extrair subsídios instrutórios relevantes mesmo das afirmações fáticas feitas pela parte que a ela sejam indiferentes (mas eventualmente relevantes para outros litisconsortes) ou mesmo favoráveis. Ou seja, a confissão não é o único escopo do depoimento pessoal da parte. Não se ignora que a parte tem direto interesse na solução da causa - e que isso pode afetar a idoneidade de seu depoimento. Mas cabe ao juiz, tomando em conta esse aspecto, atribuir às afirmações da parte o valor que elas possam merecer, à luz do contexto probatório. Ou seja, a parcialidade da parte é fator a ser sopesado na valoração da prova, mas não impede a consideração do depoimento para fins probatórios outros que não a confissão. É o que se extrai inclusive do art. 447, § 2.º, II, c/c §§ 4.º e 5.º, do CPC/2015: a parte na causa é impedida de testemunhar, mas pode mesmo assim ser ouvida, independentemente de compromisso, devendo o juiz atribuir a seu depoimento o valor que possa merecer, motivadamente. Firmada essa premissa, não fica afastado que a parte requeira seu próprio depoimento. O direito à prova e o livre convencimento motivado dão respaldo a que a parte pleiteie seu próprio depoimento em juízo. Não se ignora que o Código alude expressamente a "requerer o depoimento pessoal da outra parte" (art. 385, caput, do CPC/2015). Mas a questão torna-se, então, terminológica: se essa hipótese não for qualificada como "depoimento pessoal", por (discutível) apego à letra do art. 385, caput, será um caso de depoimento "testemunhal" da própria parte, sem prestação de compromisso, nos termos das regras acima citadas. Aliás, no processo penal (inclusive o brasileiro) e em outras tradições jurídicas do processo civil (p. ex., a da common law), é comum reconhecer-se como uma garantia em favor da parte a possibilidade de estar perante o juiz, falar com ele, dar sua versão dos fatos (enfim, "ter o seu dia na corte"). Convém acolher essa diretriz, que é uma importante expressão do devido processo legal e do acesso à justiça - uma vez compreendidos esses princípios constitucionais como mandados de otimização (i.e., que vigoram por si sós, para melhorar o sistema jurídico, mesmo quando não há regra infraconstitucional que preveja explicitamente tal detalhamento). 14.1.8. Modo de produção 14.1.8.1.A formulação de perguntas Tanto o interrogatório como o depoimento pessoal são, em certa medida, produzidos da mesma forma como se colhe a prova testemunhal. Se houver sido determinado o depoimento de ambas as partes, o juiz as ouvirá sucessiva e separadamente (primeiro o autor, depois o réu), não podendo presenciar o depoimento da parte contrária àquele que ainda não depôs (art. 385, § 2.º, do CPC/2015). No depoimento pessoal, o procurador da parte adversa pode formular perguntas diretamente ao depoente, como acontece com o meio testemunhal (art. 459 do CPC/2015). Para uma antiga vertente doutrinária - aquela mesma que sustenta que a parte não pode requerer, como meio de prova, o seu próprio depoimento pessoal - o próprio procurador da parte depoente não poderia formular perguntas à parte. Essa concepção, reitere-se, funda-se na premissa de que o objetivo único do depoimento pessoal seria obter a confissão do depoente. Nessa ordem de ideias, faltaria interesse processual para a parte, por seu procurador, formular perguntas a si mesma. Mas essa concepção, como também já se indicou, está superada. O depoimento pessoal é meio de prova como qualquer outro, não se destinando apenas a provocar uma confissão. O juiz poderá considerar como prova, motivadamente e à luz dos demais elementos instrutórios do processo, todas as afirmações fáticas do depoente, sejam elas favoráveis ou contrárias a esse. Sendo assim, justifica-se que o procurador do próprio depoente lhe formule perguntas. O juiz, por sua vez, pode formular perguntas ao depoente antes ou depois dos procuradores das partes (art. 459, § 1.º, do CPC/2015). No interrogatório - que é exercício direto do poder do juiz de pôr-se em contato com parte -, em princípio, não são permitidas perguntas dos advogados das partes ou do Ministério Público. Os advogados podem presenciar o ato, até para fiscalizarem a produção da prova, mas normalmente nele não intervirão. Mais uma vez: essa é a concepção doutrinária tradicional. Mas, mesmo no interrogatório, é concebível a intervenção dos advogados das partes ou do Ministério Público, quando algum esclarecimento relevante precisar ser feito (por uma "questão de ordem", conforme o jargão usado na prática forense - ou seja, apenas para solicitar alguma providência que organize o ato que está em andamento). A garantia constitucional do contraditório (art. 5.º, LV, da CF/1988), uma vez reconhecida em sua plenitude (de modo a abranger o dever de diálogo do juiz com os demais sujeitos do processo, que é normalmente associado ao dever de cooperação do art. 6.º do CPC/2015), impõe essa solução. 14.1.8.2. O modo de resposta O depoimento pessoal é ato em que a parte, perante o juiz, verbaliza espontaneamente aquilo que sabe a respeito de tudo o quanto lhe seja perguntado pelo magistrado. Por isso não é autorizada a simples leitura de escritos previamente elaborados. Quando muito, admite-se a consulta a breves apontamentos, ou a algum documento que porventura a parte tenha consigo, mas sempre com o fito de melhor esclarecer o juiz, e nunca para tornar o meio de prova um ato mecânico, de repetição de textos, talvez por outrem escritos (art. 387 do CPC/2015). Uma larga faixa de liberdade se apresenta ao juiz quando as respostas são evasivas. Cabe a ele, destinatário que é da prova, verificar se a parte deixa de responder por que efetivamente desconhece o fato determinado ou pretende frustrar a instrução da causa. O tema é retomado adiante. 14.1.8.3. Depoimento pessoal de parte residente fora da comarca (carta e videoconferência) Assim como ocorre com a prova testemunhal, é possível a produção do depoimento pessoal por carta precatória (ou rogatória, ou de ordem), quando a parte não residir na comarca em que tramita o processo. Se a expedição de tal carta houver sido requerida antes do saneamento do processo e a prova objeto da carta for imprescindível, haverá de aguardar seu cumprimento e devolução, para apenas depois sentenciar (art. 377 c/c 313, V, b, do CPC/2015). Aliás, mesmo tendo sido a carta requerida pela parte depois do saneamento do processo, haverá casos em que o juiz aguardará seu retorno, para só depois decidir, por ser a prova por meio dela solicitada essencial para a resolução do litígio. De qualquer modo, é aconselhável que, quando já souber previamente da necessidade da carta precatória (ou rogatória, ou de ordem) para a produção da prova, a parte sempre a requeira antes do saneamento do processo. É possível ainda colher-se o depoimento pessoal da parte que não reside na comarca por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de imagens e sons em tempo real. Essa disposição possibilita a ouvida pelo juiz, na mesma audiência, de partes e (ou) testemunhas presentes fisicamente e partes e (ou) testemunhas que se encontrem distantes - prestigiando-se a celeridade e a efetividade do processo. Economiza-se tempo, diminuem-se os custos e dificuldades burocráticas da expedição e cumprimento da carta e se permite o contato do próprio juiz da causa com o depoente. 14.1.9. Consequência do não comparecimento e da recusa em responder Denomina-se confissão ficta ou presumida a consequência extraível da conduta da parte que, devidamente intimada a prestar depoimento, não comparece à audiência ou, comparecendo, nega-se a depor. Consiste no estabelecimento de presunção de veracidade dos fatos desfavoráveis a essa parte. Como já indicado, aplica-se apenas ao depoimento pessoal e não ao interrogatório. Mas, mesmo no interrogatório, essa conduta negativa da parte pode vir a servir de importante indício para o juiz, a depender do contexto concreto em que ocorra (v. n 13.13, acima). Assim, quando intimada a prestar depoimento pessoal, a parte tem o ônus de comparecer e depor. Se a parte for pessoa jurídica, ela tem o ônus de prestar seu depoimento por meio de preposto ou representante legal com efetivo conhecimento dos fatos da causa, pois reiteradas respostas dessa pessoa no sentido de que não conhece os fatos em questão equivalerão à recusa em responder. A mesma advertência é aplicável à pessoa natural que constituir procurador para prestar depoimento pessoal em seu nome. Enfim, comparecer ao depoimento e responder abertamente às questões (ressalvados os casos excepcionais em que é justa a recusa em responder - adiante examinados) são as condutas que impedirão que se configure uma consequência processual que é desfavorável à parte: a presunção de veracidade dos fatos narrados pelo adversário e que seriam objeto do depoimento. Tal presunção é relativa. Comporta prova em contrário. Se a despeito do não comparecimento da parte ou de sua negativa em depor, os fatos que seriam presumidos verdadeiros são desmentidos por outras provas produzidas nos autos, prevalecem essas outras provas. Somente poderá haver confissão ficta se o depoente tiver sido regularmente intimado para comparecer em audiência e depor, constando do mandado a advertência de que a confissão ficta será a consequência de seu não comparecimento. Trata-se de requisito essencial - faltando a advertência no mandado, não incide a confissão ficta. Embora o § 1.º do art. 385 estabeleça que "o juiz aplicar-lhe-á [i.e., à parte] a pena" de confesso, tal disposição precisa ser interpretada em harmonia com a do art. 386. Não se trata de "pena". Tampouco há aplicação imediata. Não é pena porque não constitui uma sanção à parte, mas sim consequência desfavorável no contexto do processo (lembre-se que o ônus distingue-se do dever precisamente por que seu descumprimento não acarreta propriamente sanção - v. vol. 1, cap. 2). Não é tampouco imediata essa consequência porque, ante a ausência da parte ou de sua recusa à resposta, direta ou mediante evasivas, compete ao juiz analisar os outros elementos de prova existentes para verificar se deve ou não considerar ter havido confissão ficta. Pode ocorrer de a parte não respondera determinada pergunta, mas o fato estar provado por outro meio, sendo inadmissível supor que seu silêncio tenha maior valor probatório que, por exemplo, um documento, uma prova pericial ou provas orais consistentes. Em suma, pelo princípio do livre convencimento motivado (art. 93, IX, da CF/1988; arts. 11, 371 e 489, II e § 1.º, do CPC/2015), cabe ao juiz analisar todas as provas reunidas e, fundamentadamente, julgar em conformidade com os elementos probatórios mais consistentes. De resto, a confissão ficta não alcança o litisconsorte. O Código afirma que nem mesmo a confissão real pode prejudicá-lo (art. 391, caput, do CPC/2015) - regra cujo exato sentido será adiante examinado. Seja como for, certamente a confissão ficta não atinge o litisconsorte. Trata-se de aplicar a regra geral do art. 117. 14.1.10. Justa recusa de responder Por razões de ordem ética, o legislador estabeleceu que a parte não é obrigada a responder sobre fatos que possam lhe trazer consequências mais sérias do que a sucumbência (art. 388 do CPC/2015). Assim, é justa a recusa à resposta sobre fatos criminosos ou torpes que lhe tenham sido imputados. Idêntica situação ocorre quando o conhecimento dos fatos resulta de estado ou profissão, que imponha à pessoa o dever de sigilo, como acontece com o médico ou o religioso. Nas questões de estado, por exemplo, seria indigno obrigar os filhos a deporem contra os pais. Também se considera justa a recusa à resposta sobre fatos que possam acarretar desonra própria, de seu cônjuge, companheiro ou parente em grau sucessível ou sobre aqueles que possam colocar em perigo a vida dessas mesmas pessoas ou a do próprio depoente. O parágrafo único do art. 388 estabelece que essas exceções ao ônus de depor não se aplicam às ações de estado e de família. Essa disposição precisa ser interpretada e aplicada com cautela. Se a consequência natural da recusa à resposta é a presunção de veracidade do fato, não se concebe que a parte tenha de responder sobre, por exemplo, um crime a ela imputado, ainda que as causas sobre estado da pessoa e (ou) de direito de família tenham normalmente muita relevância jurídica e axiológica. Se o parágrafo único fosse imposto sem qualquer ressalva, estar-se-ia impondo uma consequência externa ao processo civil que o legislador não quis em outra seara (inclusive na ordem constitucional). Se no processo penal não se pode impor ao acusado que confesse um crime, não se pode chegar ao mesmo resultado por via indireta nas ações relativas a filiação ou casamento. 14.2. Confissão: 14.2.1. Conceito, natureza e valor A confissão, conceituada no art. 389 do CPC/2015 ("há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário"), é um resultado probatório, pois revela ao juiz a veracidade de um fato relevante para a causa que, embora contrariando o interesse de uma das partes do processo, é por ela mesma admitido como verdadeiro. Costuma-se dizer que a confissão é a afirmação ou admissão de um fato desfavorável à parte que confessa, mas pode também ser a afirmação ou admissão da inocorrência de um fato que lhe seria favorável (p. ex.: ao depor, no processo em que se busca a cobrança de uma dívida, o autor acaba por afirmar que não deu dinheiro emprestado ao réu). Como indicado, a confissão é resultado probatório. Vale dizer, é o que se extrai do emprego de um meio de prova (normalmente, o depoimento pessoal; mas pode ser também o interrogatório do art. 139, VIII, do CPC/2015, ou um documento, na confissão extrajudicial etc.). A parte que confessa recebe o nome de confitente. Não se trata de ato de disposição de vontade, pois não implica necessariamente julgamento de mérito desfavorável ao confitente. É meio de prova, alcançando apenas o fato afirmado, e não as possíveis consequências jurídicas que do fato possam resultar. Ninguém confessa um direito, mas, sempre, fato. Em outros termos, a confissão insere-se no capítulo relativo às provas porque não significa expressar a vontade de favorecer o polo oposto, mas tão somente admitir como veraz um fato ocorrido. Por significar o reconhecimento de um fato contrário ao interesse da parte, esse meio de prova tem sido supervalorizado. Já foi chamada de "a rainha das provas", como se, uma vez ocorrida, se sobrepujasse a todas as demais. Não é verdade. Não há, em princípio, hierarquia entre os meios de prova. Um fato confessado pode vir a ser demonstrado como não sendo verdadeiro, ou mesmo pode o juiz desconsiderar a confissão, se entender inverossímil o fato confessado (de que adiante alguém confessar que trafegava com seu veículo, às 18h40, numa sexta-feira, dia útil, a 140 km/h na Avenida Paulista, em São Paulo? Isso é infactível...). Ademais, pelo princípio do livre convencimento motivado, nada obsta que o julgador afaste, na sentença, a confissão, porque, por exemplo, teria havido o intuito de acobertar terceiro, e dê à causa solução fundada em outros elementos probatórios existentes no processo. Não se pode entender a confissão além de sua limitação probatória porque, caso contrário, se abriria perigosa brecha para a colusão, permitindo que processos fraudulentos fossem iniciados com o único intuito de, através da confissão, obstar ao julgador a possibilidade de amplamente perquirir os elementos da causa. Seria absurdo imaginar que, confessado o fato, estivesse o juiz obrigado a proferir sentença contra o confitente, ainda que isso significasse favorecê-lo fora do processo, como ocorreria, por exemplo, se a parte confessasse fato constitutivo de dívida inexistente apenas para ser derrotado e assim, na execução judicial, transferir seus bens a outrem, em prejuízo a seus verdadeiros credores. Mas não é só esse aspecto - impedir o conluio - que desautoriza erigir a confissão em prova absoluta, suprema. Acima de tudo, há a preocupação com a reconstituição possível e razoável dos fatos pretéritos. Mesmo quando não há má-fé, a admissão ou afirmação pela parte de um fato contrário a si mesmo pode derivar de falha ou equívoco. Da falibilidade humana na identificação da verdade, inerente a toda reconstrução probatória do passado, não está isento o próprio confitente. Portanto, a confissão deverá ser considerada em conjunto com outras provas e elementos indiciários reunidos no processo. Caberá ao juiz, nesse contexto, conferir-lhe, motivadamente, o valor que possa merecer. 14.2.2. Diferenças de outras figuras Tanto o reconhecimento da procedência do pedido, previsto no art. 487, III, a, do CPC/2015, como a renúncia à pretensão em que se funda a ação, mencionado no art. 487, III, c, do CPC/2015, diferem da confissão porque: a) são atos que só podem ser praticados de acordo com a posição processual (o reconhecimento só pode ser praticado pelo réu e a renúncia à pretensão, pelo autor), enquanto qualquer das partes pode confessar, independentemente do polo processual que assuma; b) são atos de disposição de vontade quanto ao próprio objeto do litígio, e por isso, respeitados seus pressupostos específicos, vinculam o juiz. Vale dizer, se o réu reconhece a procedência do pedido ou o autor renuncia à sua pretensão, não cabe ao magistrado desconhecer o ato, pois, representando disposição de direitos, a natural consequência é a homologação pelo juiz. Já a confissão não é ato de disposição, mas afirmação da ocorrência de um fato (ou da inexistência de um fato que seria favorável ao confitente), e, por isso, não tem efeito vinculante. Como meio de prova, o resultado será sopesado com os demais elementos instrutórios do processo; c) alcançam as consequências jurídicas do fato, enquanto na confissão há a admissão apenas da veracidade do fato, cabendo ao juiz determinar as consequências que do fato resultam, podendo, aliás, e ainda assim, julgar favoravelmente ao confitente - seja porque, no contexto probatório, não seconvenceu da veracidade do fato confessado, seja porque, ainda que se tomando por verdadeiro aquele fato, o resultado jurídico é favorável ao confitente (ex.: houve confissão do empréstimo do pagamento do valor, mas o juiz conclui haver prescrição ou pagamento ou compensação etc.). 14.2.3. Pressupostos de validade e eficácia A confissão exige, para sua validade, a disponibilidade do direito a que se refere o fato confessado (art. 392, caput, do CPC/2015). Já como pressuposto de eficácia exige-se a capacidade do confitente (art. 392, § 1.º, do CPC/2015). Se for feita por procurador, a confissão só é eficaz nos limites da procuração outorgada (art. 392, § 2.º, do CPC/2015). Tais requisitos de validade e eficácia não deixam de gerar alguma dúvida no intérprete - e explicam porque tão abalizados doutrinadores, por tanto tempo, controverteram acerca da natureza jurídica do instituto. Na antiga doutrina, era muito frequente identificar-se a confissão aos atos de disposição de vontade. Mas mesmo modernos processualistas afirmaram, e ainda afirmam, sua natureza de ato dispositivo ou, ao menos, de ato também dispositivo. Afinal, se a confissão é elemento puramente probatório, não implicando disposição do direito material, pergunta-se: por que a disponibilidade do direito material, a capacidade do sujeito para dispor sobre eles ou a prática do ato por meio de procurador, nos limites da procuração, seriam aspectos juridicamente relevantes? A explicação que se pode dar é a de que, embora se refira a fatos e não a direitos, a possível consequência da confissão atingirá o direito da parte, pois a partir dos fatos é que se chega ao direito. Ainda que se ressalte a necessidade de tal resultado probatório (fato confessado) ser ponderado com todas as outras provas reunidas no processo, não há como se negar a força que uma confissão tem. Sua ocorrência, em termos concretos, tende a ser, muitas vezes, decisiva. O legislador não pode se prender a categorias meramente formais e abstratas (do tipo: a confissão é meio de prova, não diz respeito à disposição do próprio direito material). Ele tem de tomar em conta a concretitude da vida. Se, em termos concretos, a confissão pode selar o destino da parte quanto ao seu direito material, é relevante tomar em conta a disponibilidade desse direito material. Assim o é até para se evitar que indiretamente se atinja o resultado não pretendido pelo ordenamento (qual seja, o de o sujeito que não pode dispor a respeito do direito material produzir essa consequência de modo indireto, mediante uma confissão). É assim que se explica por que a confissão só é admissível acerca de fatos referentes a direitos disponíveis. É assim também que se justifica a razão pela qual somente quem tem capacidade (isto é, somente quem pode dispor) poderá confessar. Afasta-se, pois, a confissão do incapaz, mesmo que praticada pelo representante legal. Isso porque, apesar de não se tratar de ato de disposição de direitos, é prova importante e pode levar à sucumbência. Em certa medida, a disciplina jurídica da confissão - com as dúvidas acima suscitadas - apenas põe em realce um aspecto inerente a todo o direito probatório. Ainda que o instituto da prova concirna ao direito processual, são muito fortes seus reflexos sobre o direito material. Lembremos que a divisão direito material x direito processual deriva de razões didáticas, científicas. O ordenamento jurídico, como um todo, é uno. Em outras tradições jurídicas (como a da common law), nem é tão marcante tal distinção - ao menos não o é em termos tão peremptórios. Então, há temas que se situam em uma zona de fronteira (Dinamarco já falou de "pontos de estrangulamento" entre o direito processual e o direito material). Agora, é necessário também fazer um contraponto a esse discurso. Se há na confissão um caráter probatório - e esse é um dado assente - e se vigoram o princípio do livre convencimento motivado e a garantia de liberdade probatória, não há como se excluir peremptoriamente, como elemento da formação do convencimento judicial, uma declaração sobre fatos feita mesmo na hipótese em que formalmente se nega eficácia ou validade à confissão. Por exemplo, embora disponível o direito, a parte produz pessoalmente um relato detalhado e convincente sobre os fatos da causa - e inclui nesse relato a afirmação taxativa, coerente e persuasiva de fatos que lhe são desfavoráveis. Como negar todo e qualquer valor instrutório a tal relato? Do mesmo modo, como simplesmente ignorar um depoimento idôneo, preciso e concatenado de um procurador da parte, que acaba por abranger fatos desfavoráveis ao seu representado, mas que estão alheios aos limites da procuração outorgada? A solução está em considerar essas manifestações como prova oral, com o valor que ela possa receber (mediante demonstração fundamentada), sem que constitua propriamente confissão. Ter-se-á, nesse caso, o equivalente à prova testemunhal sem a prestação de compromisso (art. 447, §§ 4.º e 5.º, do CPC/2015 - v. cap. 16, adiante). 14.2.4. Outros limites à eficácia da confissão Há ainda outros limites objetivos e subjetivos à eficácia da confissão. Como visto no cap. 13, há casos em que determinada forma ou solenidade é imposta pelo ordenamento, como sendo essencial para a própria existência jurídica, eficácia ou validade do ato. As normas a esse respeito não são propriamente probatórias, processuais. São de direito material: regulam a própria existência, validade e eficácia do ato jurídico. Tome-se como exemplo a exigência de escritura pública para a validade da transferência de imóveis (art. 108 do CC/2002) ou as exigências formais para a eficácia perante terceiros da transmissão de crédito (art. 288 do CC/2002). Essas exigências formais, reitere-se, estão no plano do direito material. Não se trata de prova para a reconstituição histórica do fato pretérito. Daí a regra do art. 406 do CPC/2015: "Quando a lei exigir instrumento público como da substância do ato, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir- lhe a falta". Nessa hipótese, a confissão é objetivamente irrelevante, inócua. Por exemplo, se não há escritura pública de compra e venda de um imóvel, de nada adianta uma das partes confessar que "vendeu" à outra o imóvel: o ato entre elas praticado não tem esse valor jurídico, de compra e venda. Quando muito, tal confissão servirá para comprovar o fato de que uma parte comprometeu-se a vender o imóvel à outra - ou algo similar. Sob o aspecto subjetivo, a confissão da parte não se estende ao(s) litisconsorte(s) dela (art. 391 do CPC/2015). Essa regra constitui especificação daquela contida no art. 117 do CPC/2015. Disso resulta que a confissão, ainda que validamente obtida, pode deixar simplesmente de ter valor probatório. É que se o fato desfavorável concerne apenas ao confitente (o que é possível quando o litisconsórcio é simples), a confissão produzirá seus efeitos. Mas, se um dos litisconsortes confessa um fato que, pela posição processual que ocupa em relação aos demais, for a todos prejudicial, essa confissão, sozinha, não pode ser admitida como tal. O fato será considerado provado apenas se outros elementos vierem a corroborá-lo, pois a confissão feita isoladamente não pode alcançar os litisconsortes que não confessaram. Portanto, também nesse caso, e a exemplo de outros antes examinados, o relato feito pela parte poderá não ter, propriamente, valor de confissão - ainda que, nem por isso, deixe de funcionar como elemento probatório, subsídio para a formação do convencimento do juiz. Uma hipótese especial de limitação subjetiva que acaba por inviabilizar a confissão como um todo, tal como acima destacado, está expressa no parágrafo único do art. 391 do CPC/2015. Nas ações que versarem sobre bens imóveis, a confissão de um cônjuge ou companheiro, se desacompanhada da do outro, não terá eficácia, exceto quando o regime de casamento for o deseparação total de bens. Vale aqui a mesma ressalva antes feita: o conteúdo desse depoimento terá, de todo modo, valor probatório - ainda que não se lhe possa atribuir todo o peso que se imputaria a uma confissão. 14.2.5. Classificação A confissão classifica-se em: I) judicial: quando realizada, como meio de prova, dentro do próprio processo para os quais são relevantes os fatos que sobre ela recai. Subdivide-se em: I.1) espontânea: quando emana de um ato de declaração da parte, sem ser instada a tal, seja por escrito, em petição, seja oralmente, em audiência ou em comparecimento da parte em juízo para o tão-só fim de confessar. Quando oral, deve ser tomada por termo e assinada pelo confitente e pelo juiz. Nas causas em que é necessária a atuação técnica de advogado - o que é a regra geral - é preciso que o advogado da parte também acompanhe o ato, quando a confissão espontânea oral não se der em audiência; I.2) provocada: quando produzida por ocasião do depoimento pessoal da parte. Nessa hipótese, deverá constar do respectivo termo (art. 390, § 2.º, do CPC/2015). A qualificação de tal modalidade de confissão como "provocada" não significa que o seu conteúdo seja, propriamente, provocado. Afinal, a manifestação da parte sempre tem de ser livre, sem coação ou indução em erro. Ninguém pode ser obrigado a confessar. A provocação concerne apenas ao momento: intima-se a parte a comparecer em juízo e depor sobre os fatos da causa, criando-se, assim, oportunidade propícia à confissão. Aliás, todas as garantias da audiência e do depoimento pessoal nela realizado prestam-se a assegurar a liberdade da manifestação da parte e de sua eventual confissão; II) extrajudicial: quando ocorre fora do processo. Pode subdividir-se em: II.1) extrajudicial escrita: dá-se por manifestação escrita da parte, seja ela dirigida à parte adversa ou seu representante, seja ainda dirigida ao público em geral ou, desde que não protegida por confidencialidade, a específicos terceiros. Sendo autêntico o documento em que retratada, tem ela o mesmo valor probante que a judicial; II.2) extrajudicial verbal: ocorre mediante manifestação verbal da parte perante terceiros. Nessa hipótese, a rigor, o que se tem primordialmente é a produção de uma prova testemunhal tendo por objeto o fato confissão. Ou seja, um terceiro será chamado a depor perante o juiz, como testemunha, e ele eventualmente afirmará que ouviu de uma das partes a confissão de fatos da causa. Precisamente por isso, por depender do testemunho de um terceiro, o art. 394 do CPC/2015 prevê que a confissão extrajudicial verbal apenas será admissível relativamente a fatos para os quais não se exija comprovação documental escrita (i.e., "literal"). 14.2.6. Características 14.2.6.1. Indivisibilidade Em regra, toda prova é indivisível, no sentido de que não se pode, caprichosamente, considerar uma parte das conclusões dela extraíveis, ignorando-se outras tantas. Mas o art. 395 foi expresso, no tocante à confissão. Ela pode conter parte favorável e parte desfavorável ao interesse do litigante. Para ter valor probatório, deve a confissão ser reconhecida como um todo, não cindível, ou seja, não apenas na parcela que favorece o interesse da parte contrária ao confitente. Quando o Código alude a "invocar" a confissão, certamente não se está referindo à disponibilidade, pois a prova não pertence à parte. Uma vez produzida, passa a integrar o processo e o juiz a valorará para formar seu convencimento. O que a norma quer dizer é que, ao fundamentar suas alegações, não pode a parte requerer ao juiz que desconsidere a parcela que não atende a seu interesse e julgue com base apenas na parte que lhe tenha sido favorável. 14.2.6.2. Vedação ao conteúdo inovativo Essa característica é normalmente apresentada como "exceção à indivisibilidade". Nos termos da segunda parte do art. 395 do CPC/2015, a confissão "cindir-se-á quando o confitente a ela aduzir fatos novos, capazes de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção". Isso significa que a parte não pode, por ocasião de sua confissão, aproveitar para trazer para o processo defesas que poderiam ter feitas antes e não o fez. Imagine-se que, na ação de cobrança, o réu havia se limitado a afirmar que jamais recebera dinheiro emprestado do autor. Não aduziu, nem por eventualidade, nenhum fato modificativo, extintivo ou impeditivo do direito do autor. Ao prestar depoimento pessoal, o réu reconhece que recebeu o empréstimo que até então negara, mas afirma também que já o pagou - algo que nunca havia dito antes no processo. Se desde a contestação o réu tivesse alegado pagamento, o conteúdo do depoimento pessoal não poderia ser cindido - de modo a se considerar como confessado o fato constitutivo da dívida e se desprezar a afirmação de que já a pagou. Essa é a característica da indivisibilidade da confissão, destacada no tópico anterior. No entanto, como o réu jamais alegou pagamento antes, a veiculação dessa defesa apenas no ato que contém sua confissão não é aceita: cabe ao juiz apenas tomar em conta a confissão do fato constitutivo da dívida, sem dar necessariamente igual valor á afirmação de que ela já foi paga. Sob esse aspecto, note-se que a vedação ao conteúdo inovador da confissão atinge tanto exceções materiais (fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor que precisam necessariamente ser alegados pelo réu na contestação, sob pena de preclusão) quanto as objeções materiais (fatos extintivos, modificativos ou impeditivos que podem ser conhecidos de ofício pelo juiz e cuja alegação, portanto, não fica preclusa se não for veiculada na contestação - v., sobre tal classificação, vol. 1, cap. 12). A objeção material até poderá ser conhecida tardiamente pelo juiz, que poderá reputá-la fundada, mas sua apresentação simultânea à confissão do fato constitutivo do direito do adversário não merece, por si só, nenhuma especial consideração. 14.2.6.3. Irrevogabilidade A irrevogabilidade consiste na impossibilidade de a parte, por mero ato de vontade, retirar a confissão que já fez (art. 393, primeira parte). Tal característica é da essência da confissão, precisamente por não se tratar de mero ato de disposição de vontade, mas, sim, de elemento probatório. Seria ilógico alguém reconhecer como verdadeiro um fato que lhe é desfavorável e, posteriormente, pretender que esse reconhecimento fosse simplesmente desconsiderado, apenas e tão somente porque "não quer" mais confessá-lo... 14.2.6.4. Anulabilidade A confissão deve ser ato livre e consciente da parte, pelo qual ela afirma a existência (ou inexistência) de determinado(s) fato(s). Por isso, jamais se admite seja ela obtida com vício de vontade. Nos termos do art. 393 do CPC/2015, a confissão assim obtida pode ser anulada. Mas para tanto, é preciso ação específica. Como em regra se dá relativamente aos vícios de vontade nos atos jurídicos em geral (art. 177 do CC/2002), a legitimidade para a ação anulatória é detida apenas pelo confitente (art. 393, parágrafo único, do CPC/2015) - até porque, também em regra, apenas sobre ele recaem as consequências da confissão. A ação anulatória da confissão é transmissível aos herdeiros do confitente apenas se já houver sido ajuizado antes do falecimento desse (art. 393, parágrafo único, do CPC/2015). O art. 485, VIII, do CPC/1973 permitia o ajuizamento de ação rescisória para anular a confissão após o trânsito em julgado da sentença que a tomou como razão para decidir. Essa disposição não foi repetida no CPC/2015. Daí se poderiam extrair duas possíveis interpretações: (a) caberá sempre mera ação anulatória, mesmo depois do trânsito em julgado; (b) caberá, depois da formação da coisa julgada material, ação rescisória com fundamento, a depender das circunstâncias concretas, em dolo da parte vencedora ou falsidade da prova (incs. III e VI, respectivamente, do art. 966 doCPC/2015). Essa segunda solução é a única compatível com a natureza jurídica da confissão (meio de prova) e com a autoridade da coisa julgada material, essencial à própria garantia constitucional da segurança jurídica. Se há um defeito na prova em que se baseou a sentença de mérito, e se essa já transitou em julgado, devem ser utilizados os mecanismos típicos de rescisão da coisa julgada. 14.2.7. Confissão por representante O sistema processual admite apenas a confissão espontânea por representante com poder especial, pois, como se viu, o depoimento pessoal (em que se obtém a confissão provocada) em regra não pode ser prestado por terceiro. A exceção do preposto também vale para a confissão, ou seja, se pode depor, é de se aceitar a confissão por ele praticada. Em qualquer caso, exigem-se poderes específicos. O art. 105 do CPC/2015, ao tratar da procuração geral para o foro, expressamente ressalva que os poderes para confessar não estão nela inseridos. Da mesma forma, a confissão enquadra-se entre os atos que exorbitam a administração ordinária (a que alude o art. 661, § 1.º, do CC/2002), havendo, por isso, a necessidade de poderes expressos. A confirmar essa diretriz, o § 2.º do art. 392 do CPC/2015, estabelece que, na confissão feita por representante, a sua eficácia está vinculada aos limites da representação. Como já indicado antes, o relato fático realizado pelo representante que ultrapasse os limites da representação, poderá até revestir-se de valor probatório, mas não constitui confissão (v. n. 14.2.3, acima). Por outro lado, tal como se dá no depoimento e confissão realizados pela própria parte, o representante também precisa deter capacidade para exercício de direitos para praticar tais atos. 14.2.8. Confissão real e ficta Cabe ainda distinguir a confissão propriamente dita (confissão "real") e a confissão ficta. Real é a confissão surgida por expressa manifestação do confitente. Ela é a verdadeira e própria confissão. A confissão ficta, como já se viu (n. 14.1.9, acima), consiste em consequência jurídica de ônus processual não cumprido. Se a parte, regularmente intimada ao depoimento pessoal, deixa de comparecer ou se furta de responder às perguntas, a ela é aplicada a consequência da presunção de confissão, admitindo-se como verdadeiros os fatos a respeito dos quais deveria depor. É um simples processo presuntivo, previsto em lei - ou seja, presunção legal. Mas é também relativa essa presunção. Admite-se contraprova. A rigor, a confissão ficta pouco ou nada tem de confissão propriamente dita. Os liames em comum entre as duas figuras são: (a) sua produção por ocasião do depoimento pessoal e (b) a circunstância de se tratar de um resultado probatório extraído de comportamento da parte. Mas são comportamentos claramente distintos: expressa afirmação fática num caso; inércia no outro - ainda que seja inegável que, normalmente, quem cala, quando indagado na tomada de depoimento, ou nem sequer comparece para depor, está fugindo de dar respostas que lhe seriam desfavoráveis e implicariam confissão real. É com base nessa máxima da experiência que o próprio legislador estabelece a presunção legal da confissão ficta. A rigor, a confissão ficta tem maior parentesco com o efeito principal da revelia e com a admissão de fatos no curso do processo, derivada de sua não impugnação específica. A exemplo de todos esses institutos, a confissão ficta constitui razoável indício de veracidade dos fatos desfavoráveis à parte que se omite. Mas não passa disso, uma presunção que pode ser desmentida pela realidade. Conceito Sujeitos Condição jurídica de parte Características Pessoalidade Indelegabilidade Possíveis consequências Confissão (espontânea ou provocada) Confissão ficta Outros resultados probatórios relevantes Diferenças para outros meios de prova Para o meio testemunhal Para o meio pericial Depoimento pessoal - art. 385 e seguintes Ex officio ou a requerimento da parte contrária Audiência de instrução e julgamento Objetivo: provar fatos da causa Admite a confissão real e ficta Interrogatório - art. 139, VIII Ex officio Em qualquer momento procedimental Objetivo: esclarecimento Não admite a confissão ficta Legitimidade para requerer Determinação de ofício Parte contrária Requerimento de depoimento próprio Modo de produção Formulação de perguntas Modo de resposta Parte residente fora da comarca (carta e videoconferência) Consequência do não comparecimento e da recusa em responder Justa recusa de responder Fatos criminosos ou torpes Sigilosos (estado ou profissão) Exceção Ações de estado Ações de família Conceito, natureza e valor Diferenças de outras figuras afins Reconhecimento jurídico do pedido Renúncia ao direito em que se funda a ação Confissão só o réu só o autor tanto o autorquanto o réu ato de disposição ato dedisposição meio de prova vincula consequências vincula consequências não vincula fato Pressupostos de validade e eficácia Disponibilidade do direito e capacidade do confitente Outros limites à eficácia da confissão Classificação Judicial Espontânea Provocada Extrajudicial Escrita Verbal Características Indivisibilidade Vedação ao conteúdo inovativo Irrevogabilidade Anulabilidade Confissão por representante Confissão real e ficta Real: verdadeira e própria confissão Ficta: consequência jurídica do descumprimento de um ônus Complementar Depoimento pessoal · Arruda Alvim (Manual..., 16. ed., p. 1054): "É a oitiva da parte, solicitada pela outra parte (art. 343), perante o juiz da causa (art. 343), devendo, para tanto, intimá-la, e, para que se lhe aplique a pena de confesso, deverá do mandado de intimação constar a advertência do § 1.º, do art. 343". · Araken de Assis (Processo..., vol. 3, p. 500): "À luz da diferença quanto à iniciativa, e bem de acordo com o espírito do processo liberal, o destino do depoimento da parte atrelou-se à finalidade de provocar a confissão, o que era impossível no interrogatório. Tal não significa que duas espécies de depoimento não exibam função probatória própria e independente da confissão. As declarações das partes provam contra e a favor, trazem conhecimento que o juiz necessita para reconstituir mentalmente o evento e a conduta alegada, influenciam a sua convicção. Dizer o contrário nega a realidade. Assim, a função probatória do depoimento consiste em obter declarações da parte. E a confissão não é a declaração da parte em si. A ela não se aplicam as regras sobre declarações de vontade. É prova que chega ao juiz através de duas fontes distintas - a parte e o documento". · Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira (Curso..., v. 2, p. 158) ressaltam que "no inciso III do art. 388 do CPC, o legislador, considerando a proteção da honra do depoente, ou de pessoas que lhe são próximas, permite a escusa de depor. Perceba que o inciso I permite a recusa de depor em relação a fatos torpes imputados ao depoente; o inciso III é mais abrangente por referir-se a 'desonra' que tem sentido mais amplo do que 'torpe', que pode ser própria ou de terceiros (cônjuge/companheiro ou parente sucessível). (...) O inciso IV do art. 388 permite a recusa de depor sobre fatos que coloquem em perigo a vida do depoente ou do cônjuge/companheiro ou parente sucessível. Se o inciso I visa proteger o direito de não incriminar-se, o inciso IV visa à tutela de direito ainda mais relevante: o direito à vida". · Gisele Fernandes Goés (Breves..., p. 1.053) afirma que "o depoimento possui como tônica a pessoalidade, em sendo assim, a parte não pode ser representada por procurador, visto que será inquirida sobre os fatos que envolvem os pedidos da demanda. O queresta ao procurador é tão somente apresentar a confissão espontânea e, desde que, com poderes especiais para esse ato". · Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 927) conceitua depoimento pessoal como "o meio de prova destinado a realizar o interrogatório da parte, no curso do processo". No tocante ao objeto, afirma que "são os fatos alegados pela parte contrária, como fundamento de seu direito. Pode, no entanto, para aclarar a situação da lide, haver depoimento pessoal, também, sobre fatos alegados pelo próprio depoente". · José Carlos Barbosa Moreira (O novo processo..., 29. ed., p. 57) entende que "cada uma das partes tem o dever de comparecer a juízo e responder ao que lhe for perguntado (art. 340, I), sempre que o seu depoimento pessoal for ordenado ex officio pelo juiz ou deferido por este a requerimento da outra parte (art. 343)". Quanto à pena de confesso, afirma que, "com relação ao depoimento requerido (não ao determinado de ofício!), comina a lei sanção para o descumprimento do dever de comparecer e depor. A sanção consiste na aplicação à parte, pelo juiz, da pena de confissão (art. 343, § 2.º); isto é, presumem-se (rectius: fingem-se) confessados, nos termos do art. 343, § 1.º, os fatos contra ela alegados. Sob pena de nulidade (art. 247), deve a respectiva cominação, ainda que não requerida, constar do mandado através do qual se intima pessoalmente a parte a comparecer para prestar depoimento (art. 343, § 1.º)". Sobre o procedimento, explica que "compete ao juiz, direta e pessoalmente, tomar o depoimento das partes (arts. 446, II; 452, II; e 334, combinado com o art. 416, princípio). Após formular ao depoente as perguntas que entender necessárias, permitirá o juiz que as formule, sempre por seu intermédio, o procurador da parte que houve requerido o depoimento; nenhuma pergunta será formulada diretamente ao depoente pelo procurador, e o juiz indeferirá as que lhe pareçam impertinentes ou irrelevantes, isto é, inúteis para esclarecer ou completar o depoimento (art. 344, combinado com o art. 416). Serão transcritas no termo da audiência as perguntas indeferidas, se o requerer, por meio do procurador, a parte que pediu o depoimento (art. 344, combinado com o art. 416, § 2.º). Não comparecendo à audiência o procurador desta, pode o juiz dispensar o depoimento da parte contrária (art. 453, § 2.º), ou restringir-se às perguntas por ele próprio formuladas". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 1.017) entendem que "o interrogatório, conquanto também possa servir como meio de prova, é mecanismo de que se vale o juiz para aclarar pontos do processo que ele repute importantes para a decisão da causa. Durante o interrogatório, pode sobrevir a confissão da parte, mas não é da essência do interrogatório, como o é do depoimento pessoal, a obtenção da confissão. Por causa disso, nada obsta que as partes, indistintamente, façam reperguntas aos interrogandos. (...) Nos termos do CPC 370, pode o juiz determinar a realização das provas que repute necessárias à instrução do processo. O interrogatório da parte pode ser ordenado com base neste poder cautelar geral do juiz. O juiz deve procurar não quebrar o princípio da igualdade das partes, determinando a ouvida de todas as partes e não de apenas uma ou algumas, a não ser que, pelas circunstâncias do processo, a ouvida das duas partes não se mostre conveniente ou necessária. Apenas para ilustrar o que foi dito, o juiz pode, v.g., determinar a ouvida apenas do réu, em ação de paternidade promovida por menor". Conceituando depoimento pessoal, afirmam que é o "meio de prova que tem como principal finalidade fazer com que a parte que o requereu obtenha a confissão, espontânea ou provocada, da parte contrária sobre fatos relevantes à solução da causa. (...) O depoimento da parte pode ser prestado por procurador com poderes especiais para depor e para confessar (CC 661 § 1.º). Uma das finalidades do depoimento pessoal é possibilitar que o juiz provoque a confissão da parte. Se seu mandatário não tiver poderes para confessar, seu depoimento não deve ser aceito e seu comparecimento não exime o depoente faltoso de suportar o ônus da confissão ficta dos fatos alegados pelo autor". Confissão · Arruda Alvim (Manual..., 16. ed., p. 1.066) ensina: "Consiste a confissão na declaração, com efeito probatório, de ciência de fatos, tidos como verídicos pelo confitente, e contrários ao seu interesse, sendo favoráveis à outra parte". · Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira (Curso..., v. 2, p. 173) afirmam que "somente se justifica a invalidação da confissão por erro de fato (que é o objeto da declaração de ciência) ou por coação, que 'provoca uma declaração não querida pelo agente, já que aconteceu em razão da grave e injusta ameaça do coator'. A circunstância de o confitente declarar o fato por dolo de outrem somente tem relevância jurídica, para fins de invalidação, se o dolo tiver sido apto a gerar erro. Se houve dolo, mas não houve erro, não se pode invalidar a confissão. Eis a razão pela qual se preferiu a expressão 'erro de fato', como síntese da hipótese de invalidade: o que importa é a falsa percepção da realidade; se o erro foi espontâneo ou provocado, pouco importa". · Humberto Theodoro Júnior (Curso..., 56. ed., vol. 1, p. 931) conceitua confissão como "a declaração, judicial ou extrajudicial, provocada ou espontânea, em que um dos litigantes, capaz e com ânimo de se obrigar, faz da verdade, integral ou parcial, dos fatos alegados pela parte contrária, como fundamentais da ação ou da defesa". Afirma, ainda, que, "a confissão tem valor de prova legal que obriga o juiz a submeter-se a seus termos para o julgamento da causa. Seus efeitos são análogos aos da revelia e do ônus da impugnação especificada dos fatos, isto é, as alegações da parte contrária passam a ser havidas, em razão dela, como verídicas". Sobre os efeitos, explica que "a confissão costuma ser chamada de rainha das provas, pela maior força de convicção que gera no espírito do juiz. Seus principais efeitos, segundo clássica doutrina, são: a) fazer prova plena contra o confitente; e b) suprir, em regra, eventuais defeitos formais do processo". · José Carlos Barbosa Moreira (O novo processo..., 29. ed., p. 59) explica que "chama-se confissão à admissão, pela parte, da verdade de um fato contrário ao seu interesse e favorável ao adversário". Para Barbosa Moreira, é ficta a confissão "que resulta, como sanção, da recusa da parte, cujo depoimento foi requerido, a comparecer ou a depor. Equiparam-se à confissão ficta, em certa medida, a omissão do réu em contestar (revelia) e a omissão em impugnar, na contestação, algum ou alguns dos fatos narrados na inicial, sem embargo de diferenças na disciplina dada pelo Código a cada uma das três figuras". · Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo Curso..., v. 2, p. 338) argumentam que "como hoje prevê expressamente o art. 213 do CC, não se admite a confissão praticada por sujeito incapaz (ainda que relativamente). Também fundado na mesma restrição é que o Código de Processo Civil estabelece situação diferenciada para a confissão relativa a bens imóveis ou a direitos sobre imóveis alheios (art. 391, parágrafo único), estabelecendo que a confissão de um dos cônjuges ou companheiro não é válida sem a do outro". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 1.022) afirmam que "é meio de prova (CC 212 I; CPC 389) que tem natureza de negócio jurídico unilateral (...) processual ou não, conforme seja realizada fora do processo ou não. Seus elementos essenciais são a capacidade da parte, a declaração de vontade e o objeto possível (...) Confissão é meio de prova, capaz de levar o julgadora formar opinião sobre o que está para seu julgamento. É diferente do reconhecimento jurídico do pedido, este sim, muito mais amplo e também de evidente natureza negocial, cuja consequência é a extinção do processo com julgamento do mérito (CPC 487 III), não se caracterizando como meio de prova. O objeto da confissão são os fatos capazes, eventualmente, de dar procedência ao pedido da parte contrária. Ao confessar um fato, a parte pode pretender simplesmente que o reconhecimento de sua veracidade favoreça também o seu interesse. O objeto do reconhecimento é o próprio direito pleiteado pelo autor. A confissão de um fato nem sempre produz, contra o confitente, a perda da demanda, ao passo que o reconhecimento jurídico do pedido, verificados todos os pressupostos para sua validade e eficácia, conduz sempre à procedência do pedido em favor do autor (CPC 487 III). A confissão pode ser efetuada por qualquer das partes, ao passo que o reconhecimento é ato privativo do réu". · Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello (Primeiros..., p. 678) explicam que "embora o NCPC não contenha mais regra, como a do art. 485, VIII do CPC/73, que prevê o cabimento de ação rescisória quando houver fundamento para invalidar confissão, é de se reputar cabível ação rescisória com base no art. 966, V do novo diploma (= violação manifesta à norma jurídica), para desconstituir sentença que se baseou exclusivamente em confissão realizada por agente incapaz; ou por mandatário sem poderes para tanto; ou que diga respeito a fatos relacionados a direitos indisponíveis. O mesmo se diga no caso de se proferir sentença com base exclusivamente em confissão feita por apenas um dos cônjuges, em ações que versem sobre bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis alheios". 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