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Ideias das quatro operações fundamentais Problemas que envolvem as experiências das crianças devem ser o cami- nho para iniciar o trabalho com as operações. Situações como contar pontos em um jogo, colecionar materiais, brincadeiras e outras atividades podem estar en- volvidas no dia a dia das crianças em sala de aula ou em casa, sendo exemplos de contextos que venham a favorecer o envolvimento e a compreensão das crianças com as operações trabalhadas nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O trabalho com as quatro operações fundamentais, nos anos iniciais, deve privilegiar os diferentes significados de cada uma delas e as relações entre as mes- mas. Há, ainda, um importante ponto sobre o qual os professores hão de refletir: as várias ideias envolvidas nas quatro operações fundamentais. A relevância do conhecimento dessas ideias pelo professor dos anos iniciais está na possibilidade da escolha de problemas que possam envolver as várias ideias presentes, propi- ciando ao aluno o enfrentamento de situações diversas que o prepararão para resolver tipos diferentes de problemas. Ideias da adição As ideias presentes na operação de adição são as de “juntar” e “acrescentar”. Alguns autores não diferenciam as duas ideias. Já outros, como Cardoso (1998), diferenciam as ideias mencionadas. Vejamos dois problemas que podem justificar essa diferenciação: 1. Marcos tem 13 figurinhas e seu irmão José tem 7. Quantas figurinhas possuem os dois juntos? 2. Marcos tem 13 figurinhas e vai jogar com seu irmão. Se ele ganhar 7 nesse jogo, com quantas figurinhas ficará? Os dois problemas podem ser resolvidos com a operação 13 + 7. No primei- ro caso, a ideia presente é juntar as quantidades; no segundo, é acrescentar uma quantidade a outra já colocada. Concordamos com Cardoso (1998) quando diz que a diferença entre as duas ideias é muito sutil e dificilmente leva o aluno ao erro. Acreditamos que essa diferença dificilmente é observada e não representa preocupações por parte do professor quanto à escolha de problemas. No entanto, há de se ressaltar que es- sas ideias se diferem muito quando observamos os procedimentos que as crian- ças pequenas realizam para efetuarem adições. Para adicionar duas quantidades como 3 e 4, por exemplo, é comum observarmos crianças agindo de maneiras di- ferentes. Vejamos: • Algumas crianças representam a primeira quantidade com os dedos de uma das mãos e, a segunda, com os dedos da outra mão. Então, contam sequen- cialmente as duas quantidades. • Outras crianças representam apenas uma das quantidades em uma das mãos e realizam a contagem partindo da outra quantidade, prosseguindo com a indicação dos dedos que, inicialmente, representaram uma das quantidades. Nessas duas situações é possível identificar mais claramente a diferença en- tre a ideia de juntar e a ideia de acrescentar. No primeiro exemplo, o aluno “junta” duas quantidades e, no segundo, acrescenta uma quantidade a outra já conside- rada. Ideias da substração Sabe-se que a operação de subtração é, para a criança, uma operação mais complexa do que a operação de adição. Segundo pesquisas realizadas por Piaget, o raciocínio das crianças direciona-se primeiro para os aspectos positivos da ação, da percepção e da cognição. Posteriormente, elas se voltam para os aspectos negativos. Outra questão importante a se considerar é que a operação de subtração envolve ideias bastante diferentes: • ideia de tirar; • ideia de comparar; • ideia de completar. Vejamos os três problemas que seguem: 1. Em uma festa estavam 45 pessoas e 23 destas foram embora. Quantas pessoas ainda restam nessa festa? 2. Meu irmão tem 32 reais e eu tenho 15. Quantos reais meu irmão tem a mais do que eu? 3. Para preencher seu álbum, Tales precisa de 50 figurinhas. Ele já tem 17. Quantas figurinhas faltam para que seu álbum fique preenchido? O primeiro problema envolve a ideia de “tirar”, conhecida também como ideia subtrativa. Retira-se uma quantidade de objetos de mesma espécie de outra quantidade. Essa é a ideia mais trabalhada nos anos iniciais. A maioria das pessoas recorre a ela quando se refere à operação de subtração. Um esquema que pode- ria representá-la é: 6 – 2 = 4 Temos seis objetos; retiramos dois deles, restam quatro. O segundo problema compara duas quantidades de objetos de mesma es- pécie, ou seja, quantos reais uma pessoa tem a mais que outra. A ideia presente nesse problema é a de “comparar”. Não se deve deixar de trabalhar problemas que envolvam essa ideia. É importante que o aluno seja colocado em situações envolvendo ideias diferentes e, nesse caso, usa-se muito a expressão “mais que”, podendo confundir o raciocínio do aluno e encaminhá-lo para uma operação de adição. Um esquema que se poderia apresentar com essa ideia é: 6 – 2 = 4 Temos um grupo de seis objetos e outro grupo de dois. Qual é a quantidade de objetos que um grupo possui a mais que o outro? Pode-se concluir de duas maneiras diferentes: • seis tem quatro a mais que dois; • dois tem quatro a menos que seis. O terceiro problema apresenta a ideia de “completar”. Tales tem 17 figurinhas e quer chegar a 50. Quantas faltam? Essa ideia aparece em duas situações de algoritmos, um na própria subtração e outro no algoritmo do processo curto da divisão. Vejamos: Método da compensação na subtração Nesse método, a subtração desenvolve-se da seguinte forma: 50 – 17 = Iniciando pela ordem das unidades: 7 para chegar a 10 faltam 3; como consi- derou 10 o zero da ordem das unidades no minuendo, compensa-se acrescentan- do uma dezena no subtraendo. Tínhamos uma dezena no subtraendo, e, somada com outra da compensa- ção, temos 2; 2 para chegar a 5 faltam 3. Processo curto da divisão Nesse método encaminhamos a divisão da seguinte forma: 50 – 1,7 3 50 – 1,7 3 3 74 : 2 = Sete dezenas divididas por dois é igual a três dezenas. Três dezenas vezes dois é igual a seis dezenas. Seis dezenas para chegar a sete dezenas, falta uma dezena. Juntam-se quatro unidades a uma dezena que sobrou da divisão anterior, tendo, assim, 14 unidades. Quatorze unidades divididas por dois é igual a sete unidades. Sete unidades vezes dois é igual a 14 unidades. 14 para chegar a 14 falta zero. Para representar a ideia de “completar” na subtração, podemos apresentar o seguinte esquema: 6 – 2 = 4 Temos dois; para completar seis, faltam quatro. É importante que o professor contemple em suas atividades problemas que envolvam todas as ideias. 74 2 3 74 2 31 74 2 314 74 2 3714 74 2 3714 0 Ideias da multiplicação A operação de multiplicação envolve duas ideias básicas: a soma de parce- las iguais e a ideia de combinatória. Vejamos os seguintes problemas: 1. Um carro possui quatro rodas. Quantas rodas possuem três carros semelhan- tes ao primeiro? 2. Tânia possui três saias e quatro blusas. De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? O primeiro problema envolve a ideia de soma de parcelas iguais. Vejamos um esquema para sua solução: • 4 + 4 + 4 = 12, o que equivale a 3 . 4 = 12 O segundo problema envolve a ideia de “combinatória”. Cada saia combina- rá com uma blusa. Assim, as possíveis maneiras de Tânia se vestir serão: Considerando três saias, S1 S2 e S3, e quatro blusas, B1, B2, B3 e B4, Tânia poderá se vestir com: S1 e B1 ou S1 e B2 ou S1 e B3 ou S1 e B4 S2 e B1 ou S2 e B2 ou S2 e B3 ou S2 e B4 S3 e B1 ou S3 e B2 ou S3 e B3 ou S3 e B4 ou simplesmente: 3. 4 = 12 maneiras diferentes. É de fundamental importância que o professor não se esqueça que a multi- plicação oferece à criança um contato com a proporcionalidade, uma das ideias mais importantes da Matemática. Ideias da divisão A operação de divisão envolve duasideias distintas: a de repartir e a de medir. Vejamos os problemas seguintes. 1. Maria tem 20 reais e quer repartir essa quantia entre seus cinco sobrinhos. Quantos reais receberá cada sobrinho? 2. A professora Nair quer formar grupos de cinco alunos com os seus 20 alunos. Quantos grupos ela conseguirá formar? O primeiro problema envolve a ideia de repartir igualmente e o segundo de medir: quantas vezes a quantidade 5 cabe em 20? O procedimento para desenvolver a ideia presente em cada um dos proble- mas é bem diferente. Analisemos cada caso. Problema 1: Para resolver essa questão, a criança pode distribuir aos sobrinhos de Maria, um a um, cada real da quantidade total. A resposta da questão será a quantidade que cada um dos sobrinhos receber. Problema 2: Nesse caso, a resolução pode ser encaminhada formando grupos de cinco alunos. Quando todos os alunos forem reagrupados, conta-se o número de grupos formados. Essas duas ideias estão presentes em dois dos métodos de divisão. O méto- do menos usado em nossas escolas é o método conhecido como “método ameri- cano”, que consiste em fazermos sucessivas estimativas. Vejamos como a ideia de medida se apresenta nesse método: 20 20 2– 10 10 5 5 1 5 0 – 1 4 o 5 cabe duas vezes em 20 e ainda sobram 10 o 5 cabe uma vez em 10 e ainda sobram 5 o 5 cabe uma vez em 5 e não resta nada. O processo mais usado para efetuar divisões envolve a ideia de divisão em partes iguais. Vejamos: A compreensão dessas ideias pela criança é de fundamental importância para que ela possa resolver problemas das mais variadas categorias e, além disso, possibilita a compreensão das diversas técnicas utilizadas nas quatro operações fundamentais. Texto complementar Processo de recurso à ordem superior (TOLEDO; TOLEDO, 1997, p. 116-117, 119) A concretização da ideia de subtrair por meio de uma situação fazendo uso do dinheiro é a que tem conduzido aos melhores resultados. Considerando uma moeda criada pelos alunos (o tut), pode-se colocar a seguinte situação: você tem 5 notas de T$10 e 4 notas de T$1 e precisa pagar T$38 a uma pessoa que não tem troco nenhum. Como fazer? Os alunos logo percebem que devem trocar uma nota de T$10 por 10 no- tas de T$1, ficando com 14 notas de T$1. Assim, entregam 8 notas de T$1 e ainda ficam com 6 notas de T$1. Como 1 nota de T$10 já foi trocada, o aluno tem ainda 4 notas; entrega 3 e fica com 1. O resultado é, então, T$16. Fazendo a representação no algoritmo, temos: 20 5 4– 20 0 2 dezenas divididas em 5 partes iguais resultam em 4 unidades em cada parte. O mesmo pode ser realizado com o material dourado. Emprestar: controvérsias O termo “emprestar” é considerado bastante inadequado, pois pede-se em- prestado, mas não se paga o empréstimo feito. Além disso, o aluno que não compre- ende bem o processo de agrupamentos e trocas e só faz contas com lápis e papel, sem agir sobre materiais de contagem, não entende por que pede 1 emprestado e recebe 10. Quando se usa o termo “trocar”, no entanto, fica claro que sempre se troca uma nota de dinheiro por outras que, somadas, representam o mesmo valor da primeira. Assim, no problema que acabamos de ver, trocou-se uma nota de T$10 por dez notas de T$1, ou seja, trocou-se 1 dezena por 10 unidades. A subtração no século IX Por volta do ano 820, foi fundada, em Bagdá, a Casa da Sabedoria, onde se reunia um grande número de sábios vindos do mundo todo. Entre eles encontrava- se o grande matemático e astrônomo Mohammed ibu Musa al-Khowarizmi, um dos responsáveis pela divulgação, na Europa, do sistema de numeração indo-arábico (de seu nome derivam os termos algarismos e algoritmo). Eis o algoritmo que al-Khowarizmi utilizava para fazer subtrações: • inicia-se o processo da esquerda para a direita; • os algarismos utilizados em cada subtração parcial são riscados, colocando- se o resultado acima deles; • são usados, no minuendo, os algarismos necessários para formar um número maior que o do subtraendo. Veja os exemplos a seguir: a) 7 582 – 1 936 = 5 646 subtrações parciais: 7 – 1 = 6; 65 – 9 = 56; 8 – 3 = 5; 52 – 6 = 46. b) 28 347 – 9 186 = 19 161 subtrações parciais: 28 – 9 = 19; 3 – 1 = 2; 24 – 8 =16; 7 – 6 = 1 Trechos do livro Fundamentos da Educação Matemática das Profs. ª Magna Natália Marin Pires e Marilda Trecenti Gomes Para você que ficou interessado neste tema, saiba que pode se tornar um especialista nele cursando nossas pós-graduações abaixo: • METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA • METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA E DA FÍSICA Confira em www.saoluisead.com.br Dicas de estudo Ler o livro: Materiais Didáticos para as Quatro Operações. Autora: Virginia C. Cardoso. Editora: USP. A obra explora o trabalho com vários materiais manipuláveis e aborda as ideias das quatro operações fundamentais.
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