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O JOGO DE AREIA UM ESTUDO SOBRE INDICADORES DE

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Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 
 
O JOGO DE AREIA: UM ESTUDO SOBRE INDICADORES DE 
RESISTÊNCIA AO INSTRUMENTO 
 
Melissa Migliori Machado 
Rodrigo Manoel Giovanetti 
Simone Correa Silva 
Paulo Afranio Sant’anna (O) 
 
RESUMO: O jogo de areia é um instrumento utilizado em processos 
psicoterápicos ou psicodiagnóstico fundamentado na teoria da 
psicologia analítica. O presente trabalho visou verificar a possibilidade 
de uso do jogo de areia na clínica escola, observando-se diferentes 
indicadores de resistência ao ato de brincar. Constatou-se, por meio 
da realização de 18 cenas em encontros únicos com alunos de 
diferentes cursos de graduação, a existência de alguns indicadores de 
resistência, que variaram conforme a formação dos colaboradores. 
Porém, nenhum desses indicadores constituiu obstáculo para a 
aplicação da técnica. Concluiu-se que os indicadores de resistência 
observados parecem estar associados à situação de avaliação e à 
falta de vínculo com o terapeuta e não ao instrumento. Neste sentido, 
os dados sugerem que o jogo de areia pode ser introduzido sem 
dificuldade nos procedimentos da clínica escola. 
Palavras-chave: jogo de areia, resistência, técnicas projetivas, 
psicologia analítica. 
 
SANDPLAY: STUDY ON RESISTENCE INDICATORS TO THE 
INSTRUMENT 
 
ABSTRACT: Sandplay is an instrument used in psychotherapeutic or 
psychodiagnostic processes based on analytical psychology’s theory. 
This research discussed the possibility of handling Sandplay in a 
clinic-school, searching for resistance’s indicators that might be 
Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio 
Sant’anna 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 93 
appeared in the application of this instrument on the researched 
population. The population was 18 subjects from three different 
graduation courses and which one of them has realized the 
Sandplay’s scene in one meeting. The results has shown some 
resistance indicators which were variable according to people’s 
academic formation. But none of this indicators constituted 
drawbacks to apply the technique. The discussion of the results and 
its analysis made possible to conclude that the resistance’s indicators 
seem to be more associated to the inquiry’s situation and the absence 
of linking with the psychotherapist. Then, Sandplay can be introduced 
in the procedures of the clinic - school with some facility. 
Keywords: sandplay, resistance, projective techniques, analytical 
psychology 
 
Introdução 
O jogo de areia é um instrumento psicológico de caráter não 
verbal utilizado em processos psicoterápicos e psicodiagnóstico. Foi 
desenvolvido por Dora Kalff em 1957, tendo como base a técnica de 
Margareth Lowenfeld, psicanalista inglesa que utilizava bandejas de 
zinco com areia no tratamento de seus pacientes (Bradway et al., 
1981). Kalff cria um método próprio, aliando alguns aspectos dessa 
técnica à teoria de C. G. Jung, e percebe que seus pacientes ao 
construir cenas com miniaturas dentro de uma caixa com areia 
podiam expressar conteúdos ainda inconscientes em uma linguagem 
pré-verbal. O contato com a dimensão simbólica profunda do 
inconsciente — concretizada através do jogo — redireciona a energia 
psíquica, neuróticamente estagnada, no sentido do desenvolvimento 
pleno das potencialidades do indivíduo (Weinrib, 1993). 
Existem duas correntes de autores que se diferenciam pelo 
modo como utilizam o jogo de areia. A corrente européia sugere que 
o jogo deva ser aplicado exatamente como Kalff inicialmente propôs, 
estimulando no indivíduo a regressão criativa e apoiando o processo 
O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento 
 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 94 
terapêutico na capacidade de auto-cura do self. A corrente norte-
americana diferencia-se desta, principalmente no modo de aplicação: 
amplia o setting e a forma de interpretá-lo (Pietro et al., 1999). Além 
da Europa e EUA, o jogo de areia é bem difundido em vários países. 
No Brasil, o jogo começa a despertar o interesse de psicólogos, 
professores e universitários, porém sua aplicação ainda é restrita a 
poucos consultórios particulares. 
A clínica escola da Universidade P. Mackenzie, por intermédio 
de um grupo de pesquisa, desenvolve um trabalho pioneiro no país 
investigando a utilização do jogo de areia em atendimentos clínicos 
institucionais. Tem procurado identificar e delimitar as possibilidades 
de uso desse instrumento em clínica-escola. A primeira questão que 
se apresentou ao grupo foi o grau de validade e aceitação do jogo de 
areia em um contexto clínico e sociocultural diverso daquele em que 
foi criado. Nesse sentido, tem-se observado que certas adaptações na 
forma de aplicação do mesmo são necessárias, sem que estas 
impliquem em desfiguração da técnica. 
Verifica-se na literatura sobre o jogo de areia várias referências 
à baixa resistência em relação ao instrumento, o que em si é um 
fator a favor da utilização deste método em procedimentos clínicos de 
uma clínica escola. Porém, nenhum estudo sistematizado que 
procurasse averiguar possíveis indicadores de resistência à utilização 
do jogo de areia foi encontrado. Deste modo, buscou-se com esta 
pesquisa averiguar a ocorrência de resistência ao jogo e seus 
indicadores. 
Freud (1980) inicialmente chamou de resistência uma 
quantidade de energia egóica gasta para manter os impulsos do Id 
fora do campo da consciência. A psicologia analítica entretanto, 
entende a resistência como um mecanismo que impede o sujeito de 
apreender a subjetividade de suas atitudes e de integrar o 
movimento compensatório de origem inconsciente à sua consciência; 
Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio 
Sant’anna 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 95 
o que poderia promover um enriquecimento do ego e o conseqüente 
desenvolvimento da personalidade (Fierz, 1988). 
O jogo de areia é constituído por uma caixa de madeira revestida 
internamente com fundo azul, medindo 72 x 50 x 7,5 cm e 
preenchida até a metade com areia seca ou molhada. E por um 
armário contendo várias miniaturas que representam diversas 
categorias: elementos da natureza, figuras humanas e fantásticas, 
construções, animais, meios de transporte, etc. (Weinrib, 1993). 
Na aplicação do jogo de areia, em seu modo tradicional, o 
indivíduo é convidado a construir uma cena dentro da caixa, podendo 
utilizar-se ou não das miniaturas disponíveis. Nenhuma verbalização 
é estimulada e a interpretação da cena é postergada para o momento 
em que seja possível fazer uma conexão com a consciência. Nesse 
caso, o jogo de areia é visto como um processo que se realiza no 
contexto psicoterápico. 
Para Kalff, a eficácia do jogo está em proporcionar o que 
denominou de um “espaço livre e protegido” (1980). Livre na medida 
que o paciente tem liberdade para jogar e criar sem regras fixas, 
utilizando-se das miniaturas e da areia para sua expressão. E 
protegido na medida que a caixa oferece um limite que de certa 
forma contém o fluxo expressivo dentro de um enquadre e também, 
pela participação empática do terapeuta que promove confiança, 
cumplicidade e segurança ao paciente. Ao expressar seus conteúdos 
por meio do jogo, o indivíduo entra em contato com uma dimensão 
profunda da psique de maneira lúdica, dramatizando seus conflitos 
inconscientes no mundo exterior. Para Kalff (1980), este jogo de 
fantasia influencia a dinâmica psíquica do inconsciente,podendo 
ativar o processo autônomo de cura da psique. Por isso, importa 
menos o significado do que o indivíduo está fazendo com a caixa e as 
miniaturas, do que o fato dele brincar acessando uma dimensão 
simbólica. 
O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento 
 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 96 
Tendo em vista que esse instrumento proporciona ao terapeuta 
acesso aos aspectos do mundo interior do paciente, pode também ser 
utilizado como um instrumento projetivo. Segundo Trinca (1997), 
Van Kolk (1984) e Cabral et al. (1989), foi Lawrence Frank, em 1939, 
quem utilizou a expressão "instrumentos projetivos" pela primeira 
vez. Definiu como característica desses instrumentos evocar no 
sujeito a expressão de seu mundo psíquico e aspectos de sua 
personalidade. 
Existem instrumentos projetivos verbais, nos quais o sujeito 
expressa aspectos de sua personalidade por meio de verbalizações, e 
instrumentos projetivos não verbais, nos quais o sujeito se expressa 
mediante ações ou construções, sem ter necessariamente que usar a 
expressão verbal. Neste caso o instrumento torna-se mais 
abrangente uma vez que oferece mais possibilidades de resposta. 
O jogo de areia, em seu aspecto projetivo, pode aliar a 
expressão não verbal à verbal. A ação lúdica e a cena confeccionada 
fogem da sintaxe do discurso racional, oferecendo imagens que 
possibilitam o acesso aos conteúdos inconscientes. Esses podem ser 
conectados à consciência por intermédio do diálogo ativo promovido 
pela atividade associativa. 
No presente estudo o jogo de areia foi utilizado como técnica 
projetiva. 
Objetivo 
O objetivo geral do presente estudo é verificar a possibilidade 
de inserção do jogo de areia nos procedimentos clínicos utilizados na 
clínica escola da Faculdade de Psicologia da Universidade P. 
Mackenzie. 
O objetivo específico é identificar os indicadores de resistência 
ao jogo entre estudantes de psicologia, direito e engenharia e discutir 
as suas implicações para os procedimentos clínicos realizados nesta 
instituição. 
Método 
Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio 
Sant’anna 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 97 
Sujeitos: Contribuíram para esta pesquisa alunos de três cursos 
da Universidade P. Mackenzie: engenharia, direito e psicologia. Ao 
todo selecionou-se dezoito estudantes cursando entre o terceiro e o 
décimo semestre de seus respectivos cursos, respeitando-se a 
proporcionalidade entre homens e mulheres. 
A natureza da amostra partiu do pressuposto de que alunos de 
diferentes áreas profissionais têm características específicas de 
personalidade, o que permitiu comparar as variações do grau de 
resistência entre grupos e suas peculiaridades. 
A formação do engenheiro privilegia a técnica, a razão e a sua 
aplicação prática na solução de problemas. No direto, desenvolve-se 
uma atitude argumentativa, um raciocínio pautado em interpretações 
e no conhecimento de códigos de conduta social. Na psicologia, 
desenvolve-se um raciocínio mais dinâmico, enfatizando a integração 
entre os aspectos emocionais e racionais, técnicos e compreensivos. 
Instrumento: Utilizou-se a técnica de observação direta em 
sessões experimentais com a utilização do jogo de areia. Convidou-se 
os colaboradores a participar de uma sessão única, na qual solicitou-
se que em um primeiro momento, entrassem em contato com a areia 
e na seqüência, construíssem uma cena sem tema preestabelecido. 
No final, estimulou-se o relato de uma história sobre a cena e 
solicitou-se um título para a mesma. 
Foram observados e registrados comportamentos verbais – 
verbalizações ao longo da construção da cena, associações realizadas 
com a cena e história relatada –, e não verbais – imagens expressas 
na cenas, atitudes ao longo da confecção e do relato da história – 
buscando identificar possíveis reações de resistência ao jogo de areia. 
As cenas e os comportamentos foram registrados em gráficos 
durante a sua execução e no término da mesma foi feita uma foto 
instantânea. A partir destes registros, foi possível identificar 
indicadores de resistência configurados na própria cena e no 
comportamento do colaborador.Análise: 
O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento 
 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 98 
Parte-se da hipótese que durante a atividade do jogar 
conteúdos inconscientes com tonalidades emocionais são ativados e 
podem desencadear uma resposta de defesa do ego, denominada de 
resistência. De acordo com o tipo de estruturação que esta apresenta 
pode-se verificar diferentes indicadores de resistência. Referências 
sobre esses indicadores em situações clínicas nas quais trabalha-se 
com as fantasias e imagens do paciente encontram-se em vários 
autores junguianos (Carey, 1999; Fierz, 1988; Jacoby, 1984; Jung, 
1998; Von Franz, 1998; Weinrib, 1993). 
O presente estudo apoia-se na descrição desses autores sobre a 
ocorrência de indicadores de resistência no trabalho com as fantasias 
e imagens e busca verificá-las no jogo de areia. Considerou-se, além 
do conteúdo expresso nas cenas, as expressões comportamentais — 
incluindo verbalizações — durante o ato de jogar. Classificou-se esses 
indicadores em dois grupos: indicadores expressos no 
comportamento e expressos na representação da cena. 
Verificou-se como indicadores expressos no comportamento: a. 
o excesso de verbalização, b. a descrição da cena ao invés do relato 
de uma história, c. a falta de manuseio da areia e, d. o tempo total 
do jogo reduzido. Como indicadores expressos na representação da 
cena: a. a construção de barreiras, b. invasão desorganizada de 
conteúdos, c. preocupação estética e, d. desorganização da cena. 
 Em relação aos indicadores comportamentais, a descrição da 
cena sugere a dificuldade do indivíduo em deixar a fantasia fluir e de 
estabelecer contato emocional, permanecendo como um observador 
distanciado da mesma. Não manusear a areia sugere certa 
dificuldade em se deixar envolver pelo jogo permitindo que o ato 
lúdico ocorra espontaneamente. Segundo Carey (1999), o contato 
com a areia facilita a emergência e a expressão de conteúdos 
inconscientes e para Weinrib (1993), tocar na areia é um fator 
estimulante das fantasias do sujeito. Devido a sua fluidez, a areia 
pode também desencadear sensações de perda de controle assim 
Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio 
Sant’anna 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 99 
como, de repulsa ou medo, por representar para muitas pessoas, um 
elemento “sujo”. 
O excesso de verbalização sugere a resistência do sujeito em 
reconhecer e integrar o fluxo de imagens emergente na cena, 
procurando reduzi-lo, controlá-lo ou paralisá-lo por meio do discurso. 
Jacoby (1984) afirma que o fato dos pacientes saturarem o terapeuta 
com o relato de muitos sonhos é uma forma de não entrar em 
contato com o sentido dos mesmos e de controlar inconsciente o 
terapeuta. 
O tempo total de confecção da cena muito reduzido, além de 
indicar a dificuldade do indivíduo em permanecer jogando, pode 
também indicar a dificuldade de entrar em contato e de estimular sua 
fantasia. Weinrib (1993) assinala que o ato de jogar desperta 
ansiedade por ter um caráter não interpretativo. Portanto a 
resistência parece estar relacionada à dificuldade do indivíduo em 
permanecer jogando e atuando com sua ansiedade. Nesse estudo os 
colaboradores foram informadosque a sessão duraria 50 minutos e 
considerou-se que tempos de realização abaixo de 17 minutos – 
média dos tempos – como tempo total reduzido. 
Os indicadores expressos na cena foram: criação de barreiras, 
preocupação estética, invasão de conteúdos e desorganização. A 
criação de barreira foi verificada na forma de miniaturas formando 
um cercado em volta de outras miniaturas, situação na qual os 
pesquisadores ficaram impossibilitados de observar a confecção da 
cena em sua totalidade. As barreiras abriam-se em direção aos 
colaboradores fechando-se em direção aos pesquisadores. Pode-se 
levantar a hipótese que criação de barreiras entre o pesquisador e o 
colaborador seja uma expressão da necessidade inconsciente de 
proteção dos conteúdos projetados. Simbolicamente, a barreia 
apresenta-se como uma reserva sagrada, local intransponível 
proibido a todos, exceto ao iniciado (Chevalier, 1999). 
O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento 
 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 100 
A preocupação estética foi configurada pela tentativa do 
colaborador em expressar suas fantasias por meio de um padrão 
estético muito evidenciado. Ao organizar a cena para que ela fique 
“apresentável” ou “bonita” para o outro ver, ocorre um controle da 
expressão. Fierz (1988) afirma que a dificuldade do paciente em 
relatar seus sonhos ou fantasias de maneira natural, prendendo-se 
ao aspecto estético da imagem, pode dificultar a intervenção do 
psicoterapeuta. 
A invasão de conteúdos na cena pode ser comparada ao 
excesso de verbalização durante uma sessão. Ao preencher a caixa 
de miniaturas como se fosse necessário preencher todos os espaços 
livres, o colaborador sobrecarrega a percepção do terapeuta que pode 
ficar paralisado frente ao excesso de informações. 
Em decorrência da invasão de conteúdo, a constituição da cena 
também parece ser dificultada prevalecendo a desorganização da 
mesma. Considerou-se cenas com pouca organização as que foram 
construídas com muitas miniaturas sem a presença de uma estrutura 
e integração entre as mesmas que permitisse a configuração de uma 
história. 
Observou-se que tanto nos colaboradores do sexo feminino 
como do masculino os indicadores comportamentais foram mais 
freqüentes do que os expressos na representação na cena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
TABELA DE FREQÜÊNCIA DOS INDICADORES 
Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio 
Sant’anna 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 101 
Psicologi
a 
Engenha
ria 
Direito 
Total 
indic. 
Indicadores 
Fem
. 
Mas
c. 
Fem
. 
Mas
c. 
Fem
. 
Mas
c. 
Fem
. 
Mas
c. 
Descrição da cena 2 2 2 3 1 3 5 8 
Não tocar na areia 1 1 2 3 3 0 6 4 
Excesso de 
verbalização 
2 0 1 3 1 1 4 4 
Tempo total 
reduzido 
0 1 0 2 2 1 2 4 
Criação de barreira 2 2 1 3 1 0 4 5 
Invasão de 
conteúdos 
2 0 0 1 0 0 2 1 
Preocupação 
estética 
0 0 2 1 0 0 2 1 
Desorganização 1 0 0 0 0 0 1 0 
Total 10 6 8 16 8 5 26 27 
 
 Indicadores expressos no comportamento 
 Indicadores expressos na representação da cena 
 
Considerações finais: 
Apesar da ocorrência de indicadores de resistência nenhum 
colaborador deixou de fazer a cena como solicitada, oferecendo 
material para que o pesquisador verificasse dados sobre a dinâmica 
psíquica dos mesmos. Esse resultado sugere que tanto as resistências 
como as características do instrumento não constituíram fatores 
impeditivos para a aplicação do jogo de areia, o que contribui com a 
hipótese de que este pode ser utilizado com êxito nos procedimentos 
da clínica escola. 
Em função desse resultado levanta-se outra hipótese: que a 
resistência observada esteja mais relacionada à situação de avaliação 
O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento 
 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 102 
e a falta de vínculo entre o pesquisador e colaboradores do que ao 
instrumento em si. Em relação à situação de avaliação, o fato dos 
estudantes de psicologia terem familiaridade com instrumentos de 
avaliação psicológia, pode ter contribuído para a elevada frequência 
de indicadores nesse grupo. A falta de vínculo terapêutico também 
deve ser considerada com uma possível variável presente em todos 
os grupos. 
O grupo que apresentou maior índice de resistência foi o de 
estudantes de engenharia, o que sugere que o perfil racional e prático 
do engenheiro seja um fator de interferência no uso de técnicas 
clínicas, cuja modalidade de expressão e reflexão ocorre 
predominantemente no plano não-verbal e emocional. 
Em termos de frequência não foi observada uma diferença 
significativa entre homens e mulheres, quando considerados os dados 
na totalidade da amostra. Porém se comparados entre si, destaca-se 
a ocorrência de maior resistência entre mulheres no grupo de 
psicólogos, o que difere dos outros grupos. Levanta-se a hipótese que 
por ser seu campo de estudo, os estudantes homens tenham mantido 
um distanciamento técnico em relação ao exercício proposto o que 
favoreceu uma aproximação menos ansiosa do jogo. 
Jung (apud Withmont, 1969) afirma que a psique do homem 
está mais orientada para a objetividade dos fatos e para a razão em 
detrimento do envolvimento afetivo emocional, mais característico da 
orientação psíquica das mulheres. Nesse caso o fato das mulheres se 
envolverem mais afetivamente com suas atividades, aumentaria a 
tendência da constelação de conteúdos emocionais no jogo de areia, 
o que parcialmente poderia justificar a maior frequência de 
indicadores de resistência. Já os homens, por terem uma orientação 
mais racional e objetiva, tenderiam a permanecer distanciados 
emocionalmente realizando a atividade solicitada com uma visão mais 
técnica. Porém essa diferença não pode ser generalizada para toda 
amostra estudada. 
Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio 
Sant’anna 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 103 
Dos indicadores observados os mais freqüentes foram 
descrever a cena, não tocar a areia e a construção de barreiras, 
respectivamente. A atitude descritiva sugere o predomínio de uma 
reflexão racional sem a expressão direta do afeto e da fantasia. Esse 
tipo de pensamento é altamente estimulado no meio acadêmico, o 
que portanto pode ser um outro fator de interferência nessa amostra. 
 
Referências Bibliográficas 
 
AMMANN, R. (1991). Healing and transformation in sandplay. 
Chicago & La Salle, Illinois: Open Court.BRADWAY, K. et al. (1981). 
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Paulo, Brasil: Cultrix. 
CAREY, L. J. (1999). Sandplay therapy with children and family. 
Northvale: Jason Aronson. 
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Rio de Janeiro, Brasil: José Olympio. 
FIERZ, H. K. (1988). Psiquiatria junguiana. São Paulo, Brasil: Paulus. 
FREUD, S. (1980). Resistência e anticatexia. [CD–ROM]. In: Edição 
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Janeiro, Brasil: Imago. 
JACOBY, M. (1984). O encontro analítico. São Paulo, Brasil: Cultrix. 
JUNG, C. G. (1998A). A vida simbólica. Petrópolis, Brasil: Vozes. 
JUNG, C. G. (1998B). A natureza da psique. Petrópolis, Brasil: Vozes. 
KALFF, D. M. (1980). Sandplay. Massachusetts: Sigo Press.OCAMPO, 
M. L. S.; et al. (1981).O processo psicodiagnóstico e as técnicas 
projetivas. São Paulo, Brasil: Martins Fontes. 
PIETRO, A. C. M.; HADILCH, P. A. (1999) Histórico do sandplay. 
[Texto adquirido durante curso ministrado pelas autoras]. 
O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento 
 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 104 
Trinca, W. (1997). Formas de investigação clínica em psicologia. São 
Paulo, Brasil: Vetor. 
VAN KOLCK, O. L. (1984) Testes projetivos gráficos no diagnóstico 
psicológico. São Paulo, Brasil: EPU. 
VON FRANZ, M. L. (1999). Psicoterapia. São Paulo, Brasil: Paulus. 
Von Franz, M. L. (1988). Reflexos da alma. São Paulo, Brasil: Cultrix. 
WEINRIB, E. L. (1993). Imagens do self. São Paulo, Brasil: Summus. 
WHITMONT, E. C. (1989). A busca do símbolo. São Paulo, Brasil: 
Cultrix. 
 
E.mail: jogodeareia@mackenzie.com.br 
Endereço para contato: 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
Faculdade de Psicologia 
R. da Consolação, 896 
São Paulo, SP 
CEP: 01302-907 
Contatos: 
Universidade Presbiteriana Mackenzie 
Faculdade de Psicologia 
Coordenação de TGI, Iniciação Científica e Grupos de Pesquisa 
Rua da Consolação, nº 896 – Prédio 38 – térreo 
Consolação – São Paulo – S.P. 
Cep: 01302-907 
E-mail: icpsico@mackenzie.com.br 
 
Tramitação: 
Recebido em: 07/2001 
Aceito em: 09/2001

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