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Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 O JOGO DE AREIA: UM ESTUDO SOBRE INDICADORES DE RESISTÊNCIA AO INSTRUMENTO Melissa Migliori Machado Rodrigo Manoel Giovanetti Simone Correa Silva Paulo Afranio Sant’anna (O) RESUMO: O jogo de areia é um instrumento utilizado em processos psicoterápicos ou psicodiagnóstico fundamentado na teoria da psicologia analítica. O presente trabalho visou verificar a possibilidade de uso do jogo de areia na clínica escola, observando-se diferentes indicadores de resistência ao ato de brincar. Constatou-se, por meio da realização de 18 cenas em encontros únicos com alunos de diferentes cursos de graduação, a existência de alguns indicadores de resistência, que variaram conforme a formação dos colaboradores. Porém, nenhum desses indicadores constituiu obstáculo para a aplicação da técnica. Concluiu-se que os indicadores de resistência observados parecem estar associados à situação de avaliação e à falta de vínculo com o terapeuta e não ao instrumento. Neste sentido, os dados sugerem que o jogo de areia pode ser introduzido sem dificuldade nos procedimentos da clínica escola. Palavras-chave: jogo de areia, resistência, técnicas projetivas, psicologia analítica. SANDPLAY: STUDY ON RESISTENCE INDICATORS TO THE INSTRUMENT ABSTRACT: Sandplay is an instrument used in psychotherapeutic or psychodiagnostic processes based on analytical psychology’s theory. This research discussed the possibility of handling Sandplay in a clinic-school, searching for resistance’s indicators that might be Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 93 appeared in the application of this instrument on the researched population. The population was 18 subjects from three different graduation courses and which one of them has realized the Sandplay’s scene in one meeting. The results has shown some resistance indicators which were variable according to people’s academic formation. But none of this indicators constituted drawbacks to apply the technique. The discussion of the results and its analysis made possible to conclude that the resistance’s indicators seem to be more associated to the inquiry’s situation and the absence of linking with the psychotherapist. Then, Sandplay can be introduced in the procedures of the clinic - school with some facility. Keywords: sandplay, resistance, projective techniques, analytical psychology Introdução O jogo de areia é um instrumento psicológico de caráter não verbal utilizado em processos psicoterápicos e psicodiagnóstico. Foi desenvolvido por Dora Kalff em 1957, tendo como base a técnica de Margareth Lowenfeld, psicanalista inglesa que utilizava bandejas de zinco com areia no tratamento de seus pacientes (Bradway et al., 1981). Kalff cria um método próprio, aliando alguns aspectos dessa técnica à teoria de C. G. Jung, e percebe que seus pacientes ao construir cenas com miniaturas dentro de uma caixa com areia podiam expressar conteúdos ainda inconscientes em uma linguagem pré-verbal. O contato com a dimensão simbólica profunda do inconsciente — concretizada através do jogo — redireciona a energia psíquica, neuróticamente estagnada, no sentido do desenvolvimento pleno das potencialidades do indivíduo (Weinrib, 1993). Existem duas correntes de autores que se diferenciam pelo modo como utilizam o jogo de areia. A corrente européia sugere que o jogo deva ser aplicado exatamente como Kalff inicialmente propôs, estimulando no indivíduo a regressão criativa e apoiando o processo O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 94 terapêutico na capacidade de auto-cura do self. A corrente norte- americana diferencia-se desta, principalmente no modo de aplicação: amplia o setting e a forma de interpretá-lo (Pietro et al., 1999). Além da Europa e EUA, o jogo de areia é bem difundido em vários países. No Brasil, o jogo começa a despertar o interesse de psicólogos, professores e universitários, porém sua aplicação ainda é restrita a poucos consultórios particulares. A clínica escola da Universidade P. Mackenzie, por intermédio de um grupo de pesquisa, desenvolve um trabalho pioneiro no país investigando a utilização do jogo de areia em atendimentos clínicos institucionais. Tem procurado identificar e delimitar as possibilidades de uso desse instrumento em clínica-escola. A primeira questão que se apresentou ao grupo foi o grau de validade e aceitação do jogo de areia em um contexto clínico e sociocultural diverso daquele em que foi criado. Nesse sentido, tem-se observado que certas adaptações na forma de aplicação do mesmo são necessárias, sem que estas impliquem em desfiguração da técnica. Verifica-se na literatura sobre o jogo de areia várias referências à baixa resistência em relação ao instrumento, o que em si é um fator a favor da utilização deste método em procedimentos clínicos de uma clínica escola. Porém, nenhum estudo sistematizado que procurasse averiguar possíveis indicadores de resistência à utilização do jogo de areia foi encontrado. Deste modo, buscou-se com esta pesquisa averiguar a ocorrência de resistência ao jogo e seus indicadores. Freud (1980) inicialmente chamou de resistência uma quantidade de energia egóica gasta para manter os impulsos do Id fora do campo da consciência. A psicologia analítica entretanto, entende a resistência como um mecanismo que impede o sujeito de apreender a subjetividade de suas atitudes e de integrar o movimento compensatório de origem inconsciente à sua consciência; Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 95 o que poderia promover um enriquecimento do ego e o conseqüente desenvolvimento da personalidade (Fierz, 1988). O jogo de areia é constituído por uma caixa de madeira revestida internamente com fundo azul, medindo 72 x 50 x 7,5 cm e preenchida até a metade com areia seca ou molhada. E por um armário contendo várias miniaturas que representam diversas categorias: elementos da natureza, figuras humanas e fantásticas, construções, animais, meios de transporte, etc. (Weinrib, 1993). Na aplicação do jogo de areia, em seu modo tradicional, o indivíduo é convidado a construir uma cena dentro da caixa, podendo utilizar-se ou não das miniaturas disponíveis. Nenhuma verbalização é estimulada e a interpretação da cena é postergada para o momento em que seja possível fazer uma conexão com a consciência. Nesse caso, o jogo de areia é visto como um processo que se realiza no contexto psicoterápico. Para Kalff, a eficácia do jogo está em proporcionar o que denominou de um “espaço livre e protegido” (1980). Livre na medida que o paciente tem liberdade para jogar e criar sem regras fixas, utilizando-se das miniaturas e da areia para sua expressão. E protegido na medida que a caixa oferece um limite que de certa forma contém o fluxo expressivo dentro de um enquadre e também, pela participação empática do terapeuta que promove confiança, cumplicidade e segurança ao paciente. Ao expressar seus conteúdos por meio do jogo, o indivíduo entra em contato com uma dimensão profunda da psique de maneira lúdica, dramatizando seus conflitos inconscientes no mundo exterior. Para Kalff (1980), este jogo de fantasia influencia a dinâmica psíquica do inconsciente,podendo ativar o processo autônomo de cura da psique. Por isso, importa menos o significado do que o indivíduo está fazendo com a caixa e as miniaturas, do que o fato dele brincar acessando uma dimensão simbólica. O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 96 Tendo em vista que esse instrumento proporciona ao terapeuta acesso aos aspectos do mundo interior do paciente, pode também ser utilizado como um instrumento projetivo. Segundo Trinca (1997), Van Kolk (1984) e Cabral et al. (1989), foi Lawrence Frank, em 1939, quem utilizou a expressão "instrumentos projetivos" pela primeira vez. Definiu como característica desses instrumentos evocar no sujeito a expressão de seu mundo psíquico e aspectos de sua personalidade. Existem instrumentos projetivos verbais, nos quais o sujeito expressa aspectos de sua personalidade por meio de verbalizações, e instrumentos projetivos não verbais, nos quais o sujeito se expressa mediante ações ou construções, sem ter necessariamente que usar a expressão verbal. Neste caso o instrumento torna-se mais abrangente uma vez que oferece mais possibilidades de resposta. O jogo de areia, em seu aspecto projetivo, pode aliar a expressão não verbal à verbal. A ação lúdica e a cena confeccionada fogem da sintaxe do discurso racional, oferecendo imagens que possibilitam o acesso aos conteúdos inconscientes. Esses podem ser conectados à consciência por intermédio do diálogo ativo promovido pela atividade associativa. No presente estudo o jogo de areia foi utilizado como técnica projetiva. Objetivo O objetivo geral do presente estudo é verificar a possibilidade de inserção do jogo de areia nos procedimentos clínicos utilizados na clínica escola da Faculdade de Psicologia da Universidade P. Mackenzie. O objetivo específico é identificar os indicadores de resistência ao jogo entre estudantes de psicologia, direito e engenharia e discutir as suas implicações para os procedimentos clínicos realizados nesta instituição. Método Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 97 Sujeitos: Contribuíram para esta pesquisa alunos de três cursos da Universidade P. Mackenzie: engenharia, direito e psicologia. Ao todo selecionou-se dezoito estudantes cursando entre o terceiro e o décimo semestre de seus respectivos cursos, respeitando-se a proporcionalidade entre homens e mulheres. A natureza da amostra partiu do pressuposto de que alunos de diferentes áreas profissionais têm características específicas de personalidade, o que permitiu comparar as variações do grau de resistência entre grupos e suas peculiaridades. A formação do engenheiro privilegia a técnica, a razão e a sua aplicação prática na solução de problemas. No direto, desenvolve-se uma atitude argumentativa, um raciocínio pautado em interpretações e no conhecimento de códigos de conduta social. Na psicologia, desenvolve-se um raciocínio mais dinâmico, enfatizando a integração entre os aspectos emocionais e racionais, técnicos e compreensivos. Instrumento: Utilizou-se a técnica de observação direta em sessões experimentais com a utilização do jogo de areia. Convidou-se os colaboradores a participar de uma sessão única, na qual solicitou- se que em um primeiro momento, entrassem em contato com a areia e na seqüência, construíssem uma cena sem tema preestabelecido. No final, estimulou-se o relato de uma história sobre a cena e solicitou-se um título para a mesma. Foram observados e registrados comportamentos verbais – verbalizações ao longo da construção da cena, associações realizadas com a cena e história relatada –, e não verbais – imagens expressas na cenas, atitudes ao longo da confecção e do relato da história – buscando identificar possíveis reações de resistência ao jogo de areia. As cenas e os comportamentos foram registrados em gráficos durante a sua execução e no término da mesma foi feita uma foto instantânea. A partir destes registros, foi possível identificar indicadores de resistência configurados na própria cena e no comportamento do colaborador.Análise: O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 98 Parte-se da hipótese que durante a atividade do jogar conteúdos inconscientes com tonalidades emocionais são ativados e podem desencadear uma resposta de defesa do ego, denominada de resistência. De acordo com o tipo de estruturação que esta apresenta pode-se verificar diferentes indicadores de resistência. Referências sobre esses indicadores em situações clínicas nas quais trabalha-se com as fantasias e imagens do paciente encontram-se em vários autores junguianos (Carey, 1999; Fierz, 1988; Jacoby, 1984; Jung, 1998; Von Franz, 1998; Weinrib, 1993). O presente estudo apoia-se na descrição desses autores sobre a ocorrência de indicadores de resistência no trabalho com as fantasias e imagens e busca verificá-las no jogo de areia. Considerou-se, além do conteúdo expresso nas cenas, as expressões comportamentais — incluindo verbalizações — durante o ato de jogar. Classificou-se esses indicadores em dois grupos: indicadores expressos no comportamento e expressos na representação da cena. Verificou-se como indicadores expressos no comportamento: a. o excesso de verbalização, b. a descrição da cena ao invés do relato de uma história, c. a falta de manuseio da areia e, d. o tempo total do jogo reduzido. Como indicadores expressos na representação da cena: a. a construção de barreiras, b. invasão desorganizada de conteúdos, c. preocupação estética e, d. desorganização da cena. Em relação aos indicadores comportamentais, a descrição da cena sugere a dificuldade do indivíduo em deixar a fantasia fluir e de estabelecer contato emocional, permanecendo como um observador distanciado da mesma. Não manusear a areia sugere certa dificuldade em se deixar envolver pelo jogo permitindo que o ato lúdico ocorra espontaneamente. Segundo Carey (1999), o contato com a areia facilita a emergência e a expressão de conteúdos inconscientes e para Weinrib (1993), tocar na areia é um fator estimulante das fantasias do sujeito. Devido a sua fluidez, a areia pode também desencadear sensações de perda de controle assim Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 99 como, de repulsa ou medo, por representar para muitas pessoas, um elemento “sujo”. O excesso de verbalização sugere a resistência do sujeito em reconhecer e integrar o fluxo de imagens emergente na cena, procurando reduzi-lo, controlá-lo ou paralisá-lo por meio do discurso. Jacoby (1984) afirma que o fato dos pacientes saturarem o terapeuta com o relato de muitos sonhos é uma forma de não entrar em contato com o sentido dos mesmos e de controlar inconsciente o terapeuta. O tempo total de confecção da cena muito reduzido, além de indicar a dificuldade do indivíduo em permanecer jogando, pode também indicar a dificuldade de entrar em contato e de estimular sua fantasia. Weinrib (1993) assinala que o ato de jogar desperta ansiedade por ter um caráter não interpretativo. Portanto a resistência parece estar relacionada à dificuldade do indivíduo em permanecer jogando e atuando com sua ansiedade. Nesse estudo os colaboradores foram informadosque a sessão duraria 50 minutos e considerou-se que tempos de realização abaixo de 17 minutos – média dos tempos – como tempo total reduzido. Os indicadores expressos na cena foram: criação de barreiras, preocupação estética, invasão de conteúdos e desorganização. A criação de barreira foi verificada na forma de miniaturas formando um cercado em volta de outras miniaturas, situação na qual os pesquisadores ficaram impossibilitados de observar a confecção da cena em sua totalidade. As barreiras abriam-se em direção aos colaboradores fechando-se em direção aos pesquisadores. Pode-se levantar a hipótese que criação de barreiras entre o pesquisador e o colaborador seja uma expressão da necessidade inconsciente de proteção dos conteúdos projetados. Simbolicamente, a barreia apresenta-se como uma reserva sagrada, local intransponível proibido a todos, exceto ao iniciado (Chevalier, 1999). O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 100 A preocupação estética foi configurada pela tentativa do colaborador em expressar suas fantasias por meio de um padrão estético muito evidenciado. Ao organizar a cena para que ela fique “apresentável” ou “bonita” para o outro ver, ocorre um controle da expressão. Fierz (1988) afirma que a dificuldade do paciente em relatar seus sonhos ou fantasias de maneira natural, prendendo-se ao aspecto estético da imagem, pode dificultar a intervenção do psicoterapeuta. A invasão de conteúdos na cena pode ser comparada ao excesso de verbalização durante uma sessão. Ao preencher a caixa de miniaturas como se fosse necessário preencher todos os espaços livres, o colaborador sobrecarrega a percepção do terapeuta que pode ficar paralisado frente ao excesso de informações. Em decorrência da invasão de conteúdo, a constituição da cena também parece ser dificultada prevalecendo a desorganização da mesma. Considerou-se cenas com pouca organização as que foram construídas com muitas miniaturas sem a presença de uma estrutura e integração entre as mesmas que permitisse a configuração de uma história. Observou-se que tanto nos colaboradores do sexo feminino como do masculino os indicadores comportamentais foram mais freqüentes do que os expressos na representação na cena. TABELA DE FREQÜÊNCIA DOS INDICADORES Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 101 Psicologi a Engenha ria Direito Total indic. Indicadores Fem . Mas c. Fem . Mas c. Fem . Mas c. Fem . Mas c. Descrição da cena 2 2 2 3 1 3 5 8 Não tocar na areia 1 1 2 3 3 0 6 4 Excesso de verbalização 2 0 1 3 1 1 4 4 Tempo total reduzido 0 1 0 2 2 1 2 4 Criação de barreira 2 2 1 3 1 0 4 5 Invasão de conteúdos 2 0 0 1 0 0 2 1 Preocupação estética 0 0 2 1 0 0 2 1 Desorganização 1 0 0 0 0 0 1 0 Total 10 6 8 16 8 5 26 27 Indicadores expressos no comportamento Indicadores expressos na representação da cena Considerações finais: Apesar da ocorrência de indicadores de resistência nenhum colaborador deixou de fazer a cena como solicitada, oferecendo material para que o pesquisador verificasse dados sobre a dinâmica psíquica dos mesmos. Esse resultado sugere que tanto as resistências como as características do instrumento não constituíram fatores impeditivos para a aplicação do jogo de areia, o que contribui com a hipótese de que este pode ser utilizado com êxito nos procedimentos da clínica escola. Em função desse resultado levanta-se outra hipótese: que a resistência observada esteja mais relacionada à situação de avaliação O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 102 e a falta de vínculo entre o pesquisador e colaboradores do que ao instrumento em si. Em relação à situação de avaliação, o fato dos estudantes de psicologia terem familiaridade com instrumentos de avaliação psicológia, pode ter contribuído para a elevada frequência de indicadores nesse grupo. A falta de vínculo terapêutico também deve ser considerada com uma possível variável presente em todos os grupos. O grupo que apresentou maior índice de resistência foi o de estudantes de engenharia, o que sugere que o perfil racional e prático do engenheiro seja um fator de interferência no uso de técnicas clínicas, cuja modalidade de expressão e reflexão ocorre predominantemente no plano não-verbal e emocional. Em termos de frequência não foi observada uma diferença significativa entre homens e mulheres, quando considerados os dados na totalidade da amostra. Porém se comparados entre si, destaca-se a ocorrência de maior resistência entre mulheres no grupo de psicólogos, o que difere dos outros grupos. Levanta-se a hipótese que por ser seu campo de estudo, os estudantes homens tenham mantido um distanciamento técnico em relação ao exercício proposto o que favoreceu uma aproximação menos ansiosa do jogo. Jung (apud Withmont, 1969) afirma que a psique do homem está mais orientada para a objetividade dos fatos e para a razão em detrimento do envolvimento afetivo emocional, mais característico da orientação psíquica das mulheres. Nesse caso o fato das mulheres se envolverem mais afetivamente com suas atividades, aumentaria a tendência da constelação de conteúdos emocionais no jogo de areia, o que parcialmente poderia justificar a maior frequência de indicadores de resistência. Já os homens, por terem uma orientação mais racional e objetiva, tenderiam a permanecer distanciados emocionalmente realizando a atividade solicitada com uma visão mais técnica. Porém essa diferença não pode ser generalizada para toda amostra estudada. Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 103 Dos indicadores observados os mais freqüentes foram descrever a cena, não tocar a areia e a construção de barreiras, respectivamente. A atitude descritiva sugere o predomínio de uma reflexão racional sem a expressão direta do afeto e da fantasia. Esse tipo de pensamento é altamente estimulado no meio acadêmico, o que portanto pode ser um outro fator de interferência nessa amostra. Referências Bibliográficas AMMANN, R. (1991). Healing and transformation in sandplay. Chicago & La Salle, Illinois: Open Court.BRADWAY, K. et al. (1981). Sandplay studies. San Francisco, CA: C. 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[Texto adquirido durante curso ministrado pelas autoras]. O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 104 Trinca, W. (1997). Formas de investigação clínica em psicologia. São Paulo, Brasil: Vetor. VAN KOLCK, O. L. (1984) Testes projetivos gráficos no diagnóstico psicológico. São Paulo, Brasil: EPU. VON FRANZ, M. L. (1999). Psicoterapia. São Paulo, Brasil: Paulus. Von Franz, M. L. (1988). Reflexos da alma. São Paulo, Brasil: Cultrix. WEINRIB, E. L. (1993). Imagens do self. São Paulo, Brasil: Summus. WHITMONT, E. C. (1989). A busca do símbolo. São Paulo, Brasil: Cultrix. E.mail: jogodeareia@mackenzie.com.br Endereço para contato: Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Psicologia R. da Consolação, 896 São Paulo, SP CEP: 01302-907 Contatos: Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Psicologia Coordenação de TGI, Iniciação Científica e Grupos de Pesquisa Rua da Consolação, nº 896 – Prédio 38 – térreo Consolação – São Paulo – S.P. Cep: 01302-907 E-mail: icpsico@mackenzie.com.br Tramitação: Recebido em: 07/2001 Aceito em: 09/2001
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