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PORTO, Outubro de 2017 LICENCIATURA EM TERAPIA OCUPACIONAL 1ºANO UC1 – Introdução a Ciência Ocupacional Ciências Sociais e Humanas Crítica ao filme: “Amigos improváveis” Mafalda Lage, 10170540 ____ Escola Superior De Saúde ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 1 Índice • Introdução ……………………………………………………………………………….2 • Análise ……………………………………………………………………………………..3 • Conclusão ……………………………………………………………………………….. 7 • Referencias Bibliográficas ………………………………………………………. 8 ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 2 Introdução O presente relatório constitui uma crítica ao filme “Amigos Improváveis”, de Olivier Nakache e Éric Toledano, visualizado na aula teórico-prática de ciências sociais e humanas, na medida em que nos permite articular conceitos sociológicos e ocupacionais, relacionando- se entre si e bem explícitos neste filme. A película aborda a relação de um multimilionário tetraplégico e do seu especial auxiliar de enfermagem, baseado no livro autobiográfico de Phillippe Pozzo di Borgo, “Le second soufflé”. Passado em França, e após um grave acidente de parapente, ficando o milionário tetraplégico, este sentiu necessidade de contratar alguém para cuidar dele. Apesar de aparecerem imensos candidatos qualificados para aquele tipo de trabalho, Phillipe interessa-se por Driss, talvez pelo simples facto de todos os outros tentarem bajulá-lo e Driss tratá-lo como uma pessoa sem qualquer limitação, sendo insensível ao seu problema motor. O jovem acaba por aceitar a proposta feita pelo Phillipe, pois este soube levá-lo a aceitar, desafiando de que Driss não era capaz de aguentar a trabalhar nem 2 semanas. E assim começa uma amizade improvável entre duas pessoas de culturas completamente diferentes, tendo valores e visões do mundo completamente diferentes. Sendo este momento cinematográfico, concilia-nos um momento de reflexão ao nível da cultura, a sociedade e estereótipos nela contida, sendo relacionada com uma adaptação ocupacional de ambos as personagens e com contextos pessoais em que cada um está inserido socialmente. ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 3 Análise O filme inicia na apresentação de um jovem negro, de origem nigeriana, e circunstancias em que este vive, acabado de sair da prisão, após seis meses de encarceramento por um comportamento desviante, nomeadamente furto. Situações de prisão podem levar ao isolamento e privação ocupacional, não podendo estar com as pessoas que mais tem valor para si, neste caso a família, não conseguia ter liberdade de escolha nas suas atividades, e não podendo fazer atividades que não tinham significado para si. Para além da injustiça ocupacional sofrida por parte deste personagem, esta prisão também pode levar á exclusão social, ao preconceito e á discriminação por parte da sociedade em geral. No seio de uma família bastante alargada, num apartamento que não mostrava ter condições básicas para o bem-estar de todos os que lá viviam, revelando que Driss estava inserido num ambiente social em que predominam classes sociais mais baixas, em que os valores e ideais não são muito ricos, uma vez que durante o seu processo de socialização nunca saiu desse ambiente. Sendo discriminado face á sociedade, onde aparenta não possuir papel de relevo, o que contribui para um estereotipo e exclusão social da classe a que pertence. O ex- presidiário revela assim na estratificação social, a classe social mais baixa, onde estão inseridas as minorias étnicas na França. Após ter saído da prisão, Driss procura “emprego” no jornal, apenas com o objetivo de comparecer a entrevistas e conseguir que a entidade patronal assine um documento em como não estão interessados no candidato de modo a que este recebesse subsidio de desemprego. Termina esta caça as entrevistas, ao apresentar-se numa entrevista de emprego para ser o cuidador de Phillipe, sendo este tetraplégico, necessita que o auxiliem para realizar as demais ocupações, tais como atividades da vida diária, atividades instrumentais da vida diária, de lazer, entre outras. Com a introdução desta personagem podemos observar outro espectro das classes sociais, inserindo-se na classe social de nível mais elevado. Assinalando-se que este faz parte de uma minoria no seio da sociedade, sendo população predominada por indivíduos de classes mais baixas. No começo da entrevista, Driss mostra uma atitude de indiferença face ao emprego em si, insistindo que apenas está presente devido á sua assinatura do documento pretendido. Após o milionário rejeitar, Driss sente-se revoltado e aflito com a situação e questiona o ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 4 motivo. Então Phillipe mostra que é tetraplégico e que não consegue naquele momento assinar o documento, pedindo a Driss que passa-se na manhã seguinte. Deste momento nasce um pouco de humor negro e ao mesmo tempo inocente por parte de Driss, sendo que este refere que Phillipe ficasse sentado para não ter o trabalho de o acompanhar á porta, mostrando a indiferença de Driss para com a situação de saúde de Phillipe, salientando que esta condição não o torna diferente dos outros. Aqui começa um sentimento de afeição por parte do milionário para com o Driss. Após a entrevista, Driss, volta a casa, situado nos subúrbios de Paris, inserido num bairro social onde a maioria dos indivíduos estão desempregados e outros tem emprego com uma renumeração muito baixa e uma carga horária muito grande. Todos estes fatores influenciam negativamente o equilíbrio ocupacional e justiça ocupacional, assim como para o bem-estar e saúde de todos. Este regresso a casa, provocou mal-estar na sua relação com a tia, quando esta o questiona o porquê de tantos meses sem um único telefonema, este alega que esteve de férias. Podemos observar desequilíbrio ocupacional, também na sua tia que apesar de chegar cansada depois de muitas horas de trabalho para alimentar os seus filhos e pagar as contas, não consegue exercitar o seu papel de mãe, passando esse testemunho aos irmãos mais velhos da família, cuidando estas dos mais novos e das suas rotinas, dando esta muito significado aos filhos e á sua família, onde não consegue gerir o seu tempo de modo a dedicar-se a ocupações com significado para ela. Na manhã seguinte, este é confrontado com uma apresentação da casa e de seu “futuro” quarto, caso este aceitasse o emprego, estando ainda reticente e decidido a “pegar” apenas no seu papel e ir- se embora. Até que o tetraplégico decide desafia-lo dizendo que ele não aguentaria uma ou duas semanas, naquele trabalho. Driss, sem onde habitar, achou que não seria má ideia. O jovem vai aprender novas competências e por adquirir novas rotinas e hábitos, mostrando aqui uma adaptação ocupacional de encontro ao seu equilíbrio ocupacional, devido á sua falta de volição para realizar atividades que lhe causasse bem-estar, como económico. No inicio da sua experiencia, Driss demonstra um concepção preconceituosa em relação ás mulheres, afirmando que colocar meias de compressão em Phillipe seria um trabalho de Marcelle, que por ser mulher, executaria melhor essa tarefa. Os preconceitos e xenofobia, bem como racismo e discriminação podem ser observado em alguns momentos da película por parte da classe social de Phillipe,onde ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 5 demonstra uma conversa com um amigo em que este é alertado que “os da periferia não mostrarem compaixão”, mostrando documentos em como o jovem acaba de sair da prisão por furto, sendo considerado perigoso e muito instável. Ainda neste inicio, Driss é confrontado com a carrinha em que Phillipe tem de se deslocar, mostrando-se chocado, dizendo que este não é nenhum doente. Com a sua força física, considerando assim uma das suas competências de desempenho que precisa para executar o seu trabalho, acaba por sentar o Phillipe no Maserati Quattroporte e coloca a cadeira na mala, causando uma sensação de bem-estar ao seu “patrão”, pois uma das atividades que dava valor ao realizá-las, era precisamente sentir aquele ronco, e que apesar de não ser ele a conduzi-lo sentiu-se igualmente bem. Por outro lado, o aristocrata, sendo vitima de um acidente de parapente que o tornou paraplégico, onde a sua vida mudou drasticamente, passou a ser dependente de outros para realizar as suas ocupações, teve de passar por um enorme processo de adaptação ocupacional, uma vez que de um momento para o outro deixou de fazer tudo para ter de depender da ajuda de terceiros para realizar as mesmas. Estados físicos como o de Phillipe podem levar, também a atitudes de discriminação e á sua desvalorização de capacidades, dado que se encontra numa situação de saúde que o torna incapaz de s«er independente. Porém, neste caso não existe discriminação, pois as suas condições socioeconómicas deste permite-lhe viver numa “redoma de vidro”, na medida em que este praticamente não precisa de lidar com a sociedade fora do seu circulo, e podendo obter tudo o que precisa a nível de ambiente físico, como se pode comprovar na conversa com Driss, onde Phillipe afirma em tom descontraído: “Com os avanços médicos, através de massagens e medicação, poderão manter-me vivo até aos setenta anos. É caro, mas eu sou um tetraplégico rico”. Ao longo do seu processo de aprendizagem, Driss é conduzido a conhecer música clássica e ópera e arte contemporânea, onde este não consegue compreender o fascínio do milionário neste tipo de atividades, considerando-as aborrecidas, transpondo incompreensão onde se deteta uma educação onde adquiriu apenas conhecimentos básicos, devido á sua cultura ser tão diferente. Ainda durante este processo de condução de atividades de lazer, Driss descobre que até gosta de pintura, fazendo um quadro em que aristocrata no seu aniversário consegue vendê-lo ao seu melhor amigo por onze mil euros, deixando jovem fica muito contente pois para ele este dinheiro já é muito. Ainda durante o seu processo de descoberta da arte da pintura, Driss é confrontado pela filha adotiva de Phillipe, sendo a sua atitude racista e discriminatória, quando o vê pintar no seu quarto. ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 6 Sendo que desperta um sentimento de revolta onde este vai de encontro com Phillipe para fazer queixa da filha, e lhe diz que não é por estar numa cadeira de rodas que o seu papel de pai deixa de fazer sentido ou valor, assim como não deixava de ter autoridade sobre ela. Após uma breve espiagem ao seu irmão, e de volta a casa do milionário, Driss confronta o dono da casa sobre como é que é a sua atividade sexual, onde Phillipe demonstra que o seu ponto de prazer não está ligado necessariamente ao sseu órgão sexual, mas sim ás suas orelhas. Enquanto que Phillipe expressa os sentimentos e emoções nas cartas que escreve através da escrita, Driss não perde muito tempo em debruçar-se sobre assuntos ligadas aos contato físico, mesmo mais intimo. Apesar de o jovem, este demonstra consciência clara da necessidade que Phillipe apresenta em reconectar-se aos seus padrões de vida, trazendo de volta sensações de adrenalina á sua vida, através de simples passeios pela cidade ás tantas da madrugada, as atividade de parapente, e dando mesmo conselhos a nível amoroso e mesmo o seu “retorno” da sua estimulação a nível sexual. Mais tarde, devido a problemas pessoais, Driss tem de ir resolver assuntos da família, e tem de se despedir. Embora Phillipe fica-se imensamente triste, teve de deixar ir o amigo, tomando a iniciativa de o despedir. Na tentativa de o substituir, sentiu um enorme vazio apesar de a pessoa em questão ter qualificações para o cargo, este novo cuidador não consegue estabelecer uma relação de empatia, e é tratado apenas como um paciente. Esta situação causou frustração e tristeza, e consequentemente o isolamento de Phillipe, prejudicando o seu bem-estar psicológico e também o seu desempenho ocupacional. A sua governanta ao deparar-se com essa situação decide contactar Driss de modo a que este consiga dar um jeito á situação, restabelecendo assim uma relação de harmonia e amizade, sendo esta relação um grande pilar para Phillipe. Sendo que este não poderia voltar a ser seu cuidador, o nigeriano organiza um encontro surpresa, pois este nunca quis mostrar a sua condição de saúde devido ao seu medo de rejeição, tal como aconteceu com a sua ex-mulher, com a sua parceira de “cartas”, a pertendente acaba por reagir bem e a tarefa de cuidar de Phillipe fica ao cuidado deste. ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 7 Conclusão A história retratada no filme acaba por nos provar que durante a relação terapeuta-cliente ambos podem beneficiar e aprender novos conhecimentos, tal como acontece com Phillipe em que este assume um papel de terapeuta ao dar novas motivações e ocupações a Driss, pois este foi adquirindo novos valores e conhecimentos. Em termos ocupacionais, Driss renova o interesse do aristocrata pela vida, tratando como uma pessoa sem cuidados básicos de saúde, sem que estes olhassem á sua incapacidade. Para além desta perspetiva mais ligada com a empatia, o filme prova que devemos ultrapassar estigmas independentemente da sua classe social e cultura diferente, aplicando-se também a pessoas que mostram alguma incapacidade. Mesmo tendo realidades opostas, as personagens principais deste filme, conseguem relacionar-se de forma tão harmoniosa e interdependente demonstra que a igualdade de oportunidades e o valor da amizade devem prevalecer sobre a cultura ou classe social. Se a incapacidade pode ser permanente, o progresso de competências pode constituir um maior desafio para um desempenho ocupacional positivo. Casos como o do Phillipe e de Driss, em que o cliente é afectado por uma incapacidade severa, e por um “bloqueio de pensamentos”, respetivamente, exigem um pensamento criativo e determinação de objetivos específicos e atingíveis, para uma boa manutenção das suas volições. Verifica-se que a forma como a sociedade estabelece opiniões e preconceitos negativos, podem levar á discriminação de determinados grupos sociais levando a injustiça social a relevo. Se o aristocrata de meia-idade não desse oportunidade a Driss, possivelmente este continuaria numa situação de desemprego por um longo período de tempo, contribuindo para um, ciclo vicioso de exclusão social. Verifica- se ainda a existência de um benefício reciproco entre eles, expandindo os seus horizontes e adquirirem novas perspetivas sobre cada uma das realidades. Na minha opinião, concluo que o câmbio de valores e ideias, onde preconceitos e juízos de valor não são refletidos, podem nascer e fortalecerem-se amizades e ligações baseadas na honestidade, valorização, consideração, e a compreensão. ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE | POLITÉCNICO DO PORTO 8Referências Bibliográficas "Amigos Improváveis". Direção: Oliver Nakache, Éric Toledano, Produção: Nicolas Duval-Adassovsky, Yann Zenou. França: Gaumont, 2011, 1 DVD. AOTA. Occupational therapy practice framework: Domain and process. American Journal of Occupational Therapy. 2014 Costa R. Exposição de Narrativa através da Direção Artística. EA - Dissertações de Mestrado / Master Dissertations Dissertações de Mestrado / Master Dissertations Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa; 2013. Kbjörnsdóttir, K., & L’orange, K. (2014). “No hands, no chocolate”: Gender, race, disability and class in the film Intouchables. Netla – Veftímarit um uppeldi og menntun. Menntavísindasvið Háskóla Íslands. Kielhofner, G. (2002). Model of Human Occupation: Theory and Application (3ª ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins. Maia, R.L. (2002). Dicionário de Sociologia. Porto: Porto Editora. Marinovic, A. (2012, Agosto). Nova oportunidade à vida no filme "Os amigos Improváveis". Retirado de http://palavrofilacuriosa.blogspot.pt/2012/08/novaoportunidade- vida-no-filme-os.html
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