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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE MONITORIZAÇÃO DAS DOENÇAS DIARRÉICAS AGUDAS Diarréias - EpidemiolDiarréias - EpidemiolDiarréias - EpidemiolDiarréias - Epidemioloooogiagiagiagia CENTRO NACIONAL DE EPIDEMIOLOGIA - CENEPI COORDENAÇÃO NACIONAL DE DOENÇAS ENTÉRICAS Manual reproduzido pelo CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA "PROF. DR. ALEXANDRE VRANJAC" SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO São Paulo, Setembro de 1999 2 DIARRÉIA DADOS EPIDEMIOLÓGICOS Texto Produzido Por Juarez Pereira Dias Assessor da CNDE/CENEPI/FNS/MS SITUAÇÃO DAS DOENÇAS DIARRÉICAS AGUDAS 1. INTRODUÇÃO 3 Um indivíduo adulto ingere durante o dia em torno de 2.000 ml de líquidos, e secreta cerca de 7 a 8.000 ml. Destes, 98% são reabsorvidos ao longo do tubo digestivo e apenas 100 a 200 ml são eliminados pelas fezes. Qualquer mecanismo que interfira nesta relação secreção x ab- sorção, quer seja no aumento da secreção, diminuição da absorção, ou am- bos, vai alterar a quantidade de líquidos presente nas fezes, e isso pode ca- racterizar a diarréia, que vem a ser uma síndrome clínica determinada princi- palmente pela diminuição da consistência das fezes e/ou aumento no número de dejeções, trazendo como conseqüência básica, se não tratada, distúrbio hidro-eletrolítico. Com freqüência é acompanhada de vômitos, febre e dor ab- dominal. As Doenças Diarréicas Agudas são geralmente auto-limitadas, com duração de 2 a 14 dias, tendendo à cura espontânea, quando estabeleci- 4 das medidas que garantam a hidratação. As formas clínicas podem variar, e sua gravidade depende da presença e intensidade da desidratação. A doença diarréica pode ser classificada segundo a sua fisiopa- tologia em: diarréia osmótica, quando há concentração de substâncias na luz intestinal com osmolaridade maior do que a sangüínea, ou diarréia secretora ativa e passiva, quando há agressão direta ao enterócito, embora sem lesões, provocando aumento na secreção de líquidos. 5 As diarréias quanto à sua etiologia podem ser classificadas como infecciosas e não infecciosas. Dentre as infecciosas, os principais agentes pa- togênicos são os vírus, seguidos das bactérias e parasitas (ver Quadros I, II e III). QUADRO I - PARASITAS AGENTE GRUPO ETÁRIO CLÍNICA PERÍODO DURAÇÃO MODO DE TRANSMISSÃO E DOS CASOS DIARRÉIA FEBRE ABDOMEN INCUBAÇÃO DA DOENÇA PRINCIPAIS FONTES Balantidium coli Ignorado Eventual com muco ou sangue Rara Dor Ignorado Ignorado Fecal-oral, alimentos, água Cryptosporidium Crianças e adul- tos com AIDS Abundante e aquosa Even- tual Caimbra eventual 1 a 2 semanas 4 dias a 3 semanas Fecal-oral, alimentos, água, pes- soa a pessoa, animais domésticos Entamoeba histolítica Todos, principal- mente adultos Eventual com muco ou sangue Variá- vel Cólica 2 a 4 semanas semanas e meses Fecal-oral, alimentos, água Giardia lamblia Todos, principal- mente crianças Incoercível fezes cla- ras e gordurosas Rara Caimbras Distensão 5 a 25 dias semanas e anos Fecal-oral, alimentos, água Isopora belli Adultos com AIDS Incoercível Igno- rado Ignorado 2 a 15 dias 2 a 3 semanas Fecal-oral FONTE: MMWR - Vol. 39, rr. 14 - 1990 QUADRO II - BACTÉRIAS AGENTE GRUPO ETÁRIO CLÍNICA PERÍODO DURAÇÃO MODO DE TRANSMISSÃO E DOS CASOS DIARRÉIA FEBRE VÔMITO INCUBAÇÃO DA DOENÇA PRINCIPAIS FONTES Bacillus cereus e S. aureus Todos Geralmente pouco importante Rara Comum 1 a 6 horas 24 horas Alimentos Campylobacter Todos Pode ser disentérica Variável Variável 1 a 7 dias 1 a 4 dias Fecal-oral, alimento, água, animais domésticos E. coli enterotoxigênica Todos Aquosa pode ser profusa Variável Eventual 12 horas a 3 dias 3 a 5 dias Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa E. coli enteropatogênica Crianças Aquosa pode ser profusa Variável Variável 2 a 7 dias 1 a 3 semanas Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa E. coli enteroinvasiva Adultos Pode ser disentérica Comum Eventual 2 a 3 dias 1 a 2 semanas Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa E. coli enterohemorragic Todos Inicia aquosa com sangue a seguir Rara Comum 3 a 5 dias 1 a 12 dias Fecal-oral, alimento, pessoa a pessoa Salmonella não tifóide Todos principal- mente crianças Pastosa, aquosa, as vezes com sangue Comum Eventual 8 horas a 2 dias 5 a 7 dias Fecal-oral, alimento, água Shigella Todos principal- mente crianças Pode ser disentérica Comum Eventual 1 a 7 dias 4 a 7 dias Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa Yersínia enterocolítica Todos Mucosa, as vezes sangue Comum Eventual 2 a 7 dias 1 dia a 3 semanas Fecal-oral, alimento, água, pessoa a pessoa, animais domésticos Vibrio cholerae Todos principal- mente adultos Pode ser profusa e aquosa Geral- mente afebril Comum 7 horas a 5 dias 3 a 5 dias Fecal-oral, alimento, água FONTE: MMWR - Vol. 39, rr. 14 - 1990 6 QUADRO III - VÍRUS AGENTE GRUPO ETÁRIO CLÍNICA PERÍODO DE DURAÇÃO MODO DE TRANSMISSÃO E DOS CASOS FEBRE VÔMITO INCUBAÇÃO DA DOENÇA PRINCIPAIS FONTES DE INFECÇÃO Astrovírus Crianças pequenas e idosos Eventual Eventual 1 a 14 dias 1 a 14 dias Fecal-oral, alimento, água Calicivírus Crianças e adultos Eventual Comum em crianças 1 a 3 dias 1 a 3 dias Fecal-oral, alimento, água nosocomial Adenovírus enteric Crianças pequenas Comum Comum 7 a 8 dias 8 a 12 dias Fecal-oral, nosocomial Norwalk Crianças maiores e adultos Rara Comum 18 horas a 2 dias 12 horas a 2 dias Fecal-oral, alimento, água pessoa a pessoa Rotavírus grupo A Crianças pequenas Comum Comum 1 a 3 dias 5 a 7 dias Fecal-oral, nosocomial, alimento, água, pessoa a pessoa Rotavírus grupo B Crianças e adultos Rara Variável 2 a 3 dias 3 a 7 dias Fecal-oral, água pessoa a pessoa Rotavírus grupo C Crianças e adultos Ignorado Ignorado 1 a 2 dias 3 a 7 dias Fecal-oral FONTE: MMWR - Vol. 39, rr. 14 - 1990 Vale salientar que o homem, os animais e os alimentos são re- servatórios de agentes infecciosos, ocorrendo a sua transmissão pela via fecal- oral de forma direta (mãos contaminadas) ou indireta (alimentos, água, utensí- lios contaminados). Alguns fatores relacionados ao agente, como dose infectante, e ao hospedeiro como acidez gástrica, sistema imunológico, estado nutricional e leite materno, têm papel fundamental na instalação e patogênese da doença. Fatores relacionados com as infecções intestinais Hospedeiro Bactéria Ambiente Acidez gástrica Dose infectante Higiene alimentar Peristalse Adesão Saneamento Proteólise pancreática Colonização Abastecimento de água Muco Toxinas Higiene individual Microflora Invasão Educação Sistema imunológico Ig, linfócitos, anticorpos (humorais e celulares) Estado nutricional Leite materno Nos países em desenvolvimento, onde as condições higiênico- sanitárias são deficientes, a doença apresenta-se sob forma endêmica, com freqüentes episódios de surtos. As crianças menores de 5 anos são as mais comumente atingidas, e nas quais se verifica a maior letalidade, principalmente quando existe a associação com desnutrição ou outras patologias infecciosas, como o sarampo. A complicação mais freqüente e imediata das diarréias, tratadas incorretamente ou não tratadas, é o desequilíbrio hidro-eletrolítico, que geral- mente é a causa básica do óbito, e a desnutrição, principalmente em episódios repetidos o que acarreta retardo no desenvolvimento físico e mental. A toxi-infecção alimentar é um quadro que acomete pessoas que fizeram uso de alimentos e/ou água contaminada com agentes etiológicos em quantidade suficiente para comprometer sua saúde. Geralmente ocasiona 7 surtos que se manisfestam de forma explosiva, devido à fonte comum de ali- mentação.Pode ser causada pela ingestão de bactérias, fungos, vírus, para- sitas, ingestão de toxinas formadas em tecidos de animais e plantas, de pro- dutos metabólicos de microorganismos nos alimentos ou pela ingestão de substâncias químicas que se incorporam à eles, como praguicidas, metais pe- sados, hormônios, antibióticos, aditivos alimentares e outros. Características da Intoxicação Alimentar Agente Veículos Média de In- cubação (h) Clínica Média de Du- ração (dias) Salmonela Ovos, carne 24 Febre, diarréia, cólicas, vômitos, às vezes sangue nas fezes, cefaléia 3 Shiguella sp. Leite, salada, peru, atum 24 Cólicas, febre, diarréia com sangue, vômitos, cefaléia 3 B. cereus Arroz frito, carne, galinha, molhos, creme de bauni- lha 2 - 9 Vômitos, cólicas, diarréia em alguns 1 - 4 V. parahaemo- lyticus Mariscos, legumes 12 Diarréia, cólicas, vômitos, cefaléia, febre, às vezes sangue nas fezes 1 C. perfringens Carne, peru, galinha 12 Diarréia, cólicas, raramente vômitos e febre 1 S. aureus Presunto, porco, conser- vas, cremes 3 Vômitos, cólicas, diarréia, raramente febre 1 Y. enterocolítica Chocolate, leite cru, porco 72 Febre, cólicas, diarréia, vômitos, artri- te, faringite, adenite mesentérica, exantema 7 C.fetus C. jejuni Leite, galinha. Animais de estimação 72 Diarréia, febre, cólicas, sangue nas fezes, cefaléia, vômitos 7 E. coli Saladas 24 Diarréia, cólicas, náuseas, cefaléia, febre 3 Adaptado de David Snyderman - Bacterial food Poisoning in S.Gorbach - Infectious Diarrhea,1986. In: Diarréia Aguda na Criança. Rodrigues, L et cols. 2. CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS Faixa etária - as diarréias incidem principalmente nas crianças, que além de estarem mais expostas ao risco, apresentam maior massa relativa de tecido adiposo que não fixa água, o que as torna mais susceptíveis à doen- ça. 8 0 a 5 6 a 11 12 a 23 24 a 35 36 a 47 48 a 59 22% 25% 22% 14% 12% 10% 0 5 10 15 20 25 30 % Crianças 0 a 5 6 a 11 12 a 23 24 a 35 36 a 47 48 a 59 IDADE EM MESES Fonte: F. Barros e C.Victora - 1983/93 INCIDÊNCIA DE DIARRÉIA CONFORME A IDADE. REGIÃO NORDESTE, 1991. Zona de residência - observa-se no trabalho "Perfil Estatístico de Crianças e Mães - Brasil UNICEF - 1992", que na zona urbana a faixa mais acometida são crianças de 12 a 24 meses, e na rural de 6 a 12 meses, obser- vando-se freqüências praticamente iguais nas faixas de 0 a 6 e 12 a 24 meses. FREQÜÊNCIA DE CRIANÇAS COM DIARRÉIA NOS QUINZE DIAS ANTERIORES À ENTREVISTA SEGUNDO FAIXA ETÁRIA E RESIDÊNCIA EM ZONA URBANA, BRASIL - 1989. 0 - 6 6 - 12 12 - 24 24 - 36 36 - 48 48 - 60 MACROREGIÕES Fonte: IBGE - 1989 9 FREQÜÊNCIA DE CRIANÇAS COM DIARRÉIA NOS QUINZE DIAS ANTERIORES À ENTREVISTA SEGUNDO FAIXA ETÁRIA E RESIDÊNCIA EM ZONA RURAL, BRASIL, 1989. 0 - 6 6 - 12 12-24 24-36 36-48 48-60 IDADE (meses) Fonte: IBGE - 1989 Localização geográfica - a região nordeste apresenta a maior freqüência de crianças com diarréia em todas as faixas etárias, exceto na de menores de 6 meses, onde a região norte a suplanta. No trabalho "Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição", a freqüên- cia anual de diarréia encontrada foi de 1,4 episódios na região sul, freqüência igual à dos países desenvolvidos. Na região sudeste e centro-oeste, 2 episódi- os, e na região nordeste 4 episódios, igual à dos países da África e Ásia. FREQÜÊNCIA DE CRIANÇAS COM DIARRÉIA NOS QUINZE DIAS ANTERIORES À ENTREVISTA SEGUNDO FAIXA ETÁRIA E RESIDÊNCIA EM ZONA URBANA DAS REGIÕES NORTE, NORDESTE E CENTRO-OESTE, BRASIL, 1989. Fonte: IBGE - 1989 FREQÜÊNCIA DE CRIANÇAS COM DIARRÉIA NOS QUINZE DIAS ANTERIORES À 10 ENTREVISTA SEGUNDO FAIXA ETÁRIA E RESIDÊNCIA EM ZONA URBANA DAS REGIÕES SUDESTE E SUL, BRASIL, 1989. Fonte: IBGE - 1989 Sexo - na pesquisa "Epidemiologia da Diarréia em Menores de 5 Anos na Região Nordeste", de Cesar Victora e Fernando C. Barros, encontrou- se uma freqüência de 16,5% em meninos e 15,3% em meninas, uma diferença que apesar de pequena foi estatisticamente significativa. Sazonalidade - observa-se elevações na incidência da diarréia em determinadas épocas do ano, fato este vinculado principalmente ao regime das chuvas e aumento da temperatura. Um estudo longitudinal realizado no Ceará, mostrou um aumento de casos de diarréia nos meses de janeiro e feve- reiro; já o sistema de informação da Pastoral da Criança, demonstra uma maior incidência nos meses de janeiro a março. Mortalidade - apesar do elevado número de casos de doença diarréica, a sua letalidade tem diminuído ao longo dos anos. Observando-se a mortalidade proporcional em menores de 1 ano, segundo principais causas, verifica-se uma redução no percentual de óbitos por doenças infecciosas intes- tinais de 25,8% em 1979 para 16,4% em 1988. Tabela 1 - Mortalidade Proporcional* (%) em Menores de 1 Ano segundo Prin- cipais Causas. Brasil, 1979-1988. Causas de Óbito Ano 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 D.Inf.e Parasitárias 25,8 24,3 21,9 20,5 20,7 20,6 17,3 17,9 16,8 16,4 D.Imunopreveníveis 2,0 2,0 1,8 1,4 1,3 1,4 1,1 1,2 0,8 0,5 Septicemia 2,4 2,4 2,5 2,8 2,5 3,2 2,8 2,9 2,9 3,0 Def. Nutricionais 5,9 5,8 5,4 5,2 5,2 6,3 5,8 6,1 4,9 4,6 Pneumonia 13,1 12,8 13,0 13,1 11,7 12,1 11,7 12,0 10,8 11,4 Anomal.Congênitas 5,1 5,3 5,8 6,1 6,3 6,9 7,0 6,9 7,4 7,6 Causas Perinatais 36,4 38,3 41,3 42,2 44,2 42,2 46,8 46,3 48,0 47,1 Outras Causas 9,3 9,1 8,5 8,7 8,1 8,3 8,6 8,7 8,4 9,4 * Excluídos os óbitos sem definição da causa básica Fonte: CENEPI/FNS 11 Os coeficientes de mortalidade infantil, segundo principais causas de óbitos - Brasil - 1979 - 1988, mostra uma redução nos seus índices de 284/10.000 nascidos vivos em 1979, para 144/10.000 em 1988, o que significa uma redução de quase 50% sobre o valor inicial. Tabela 2 - Coeficientes de Mortalidade Infantil * (por 10.000 nascidos vivos) segundo Principais Causas de Óbitos. Brasil, 1979 - 1988. Causas de Óbito Ano 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 D.Inf.e Parasitárias 264 252 214 194 196 201 145 157 144 144 D.Imunopreveníveis 18 17 13 10 11 11 8 9 6 4 Septicemia 19 17 15 20 16 25 18 21 21 21 Def. Nutricionais 40 41 35 32 32 45 37 34 34 30 Pneumonia 102 92 86 85 77 83 72 77 64 65 Anomal.Congênitas 36 37 37 38 37 37 37 37 38 36 Causas Perinatais 280 298 297 315 316 313 299 299 299 284 * Calculados entre os óbitos com causa definida FONTE: CENEPI/FNS TENDÊNCIAS DA MORTALIDADE INFANTIL POR PRINCIPAIS CAUSAS, BRASIL, 1979-88. 0 50 100 150 200 250 300 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 CMI (/10.000NV) PNEUM DEF.NUT IMUNOP DII Fonte: CENEPI/FNS 12 COEF. DE MORTALIDADE INFANTIL SEGUNDO CAUSAS SELECIONADAS, BRASIL, 1979-88. 0 50 100 150 200 250 300 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 CMI (/10.000NV) AN.CONG. PNEUM DII FONTE: CENEPI/FNS Na comparação entre o comportamento dos coeficientes da mortalidade infantil e das doenças diarréicas agudas entre 1979 e 1989, ob- serva-se uma redução de 30,6% na mortalidade infantil e 49,3% nas doenças diarréicas agudas. Podemos observar que a redução se faz mais evidente após 1984, época da implantação da TRO no país. 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 85 28.4 82 25.2 75 21.4 75 19.4 74 19.6 77 20.1 67 14.5 69 15.7 66 14.4 64 14.4 59 0 20 40 60 80 100 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 COEFICIENTE DE MORTALIDADEINFANTIL E POR DOENÇAS DIARRÉICAS, BRASIL - 1979-89. Mortalidade Infantil Mortalidade por Diarréia Fonte: CSMI/MS - 1994 13 Quando verifica-se os mesmos indicadores para a região nord- este, nota-se que os valores absolutos são superiores ao do país. Todavia, observa-se também um declínio tanto na mortalidade infantil como nas doen- ças diarréicas agudas. 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 117 51.4 116 46.1 111 44.1 110 36.8 110 37.1 115 38.5 103 27.4 108 29.8 107 28.6 102 29.2 92 0 20 40 60 80 100 120 140 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 COEFICIENTE DE MORTALIDADE INFANTIL E POR DOENÇAS DIARRÉICAS (1.000 N.V.) REGIÃO NORDESTE DO BRASIL - 1979-1989 Coef. Mort. Infantil Doenças Diarréicas FONTE: CENEPI/FNS. 1991. Os coeficientes de mortalidade infantil por doenças infecciosas intestinais, segundo região Brasil 1979-1988, demonstram claramente a redu- ção de seus índices, sendo mais evidentes nas regiões sul e sudeste. Tabela 3 - Coeficientes de Mortalidade Infantil (/10000 nascidos vivos) por Doenças Infecciosas Intestinais segundo Região.Brasil 1979-1988. Região Ano 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 NORTE 390 346 273 220 315 284 231 275 221 207 NORDESTE 514 461 410 368 371 385 274 298 286 292 SUDESTE 129 111 87 89 70 75 61 50 40 30 SUL 125 109 76 64 66 82 58 58 46 46 CENTRO-OESTE 147 125 94 87 88 61 58 60 58 43 BRASIL 284 252 214 194 196 201 145 157 144 144 FONTE: CENEPI/FNS 14 Paralelamente à redução da mortalidade infantil por doenças diar- réicas agudas, há evidência de que as hospitalizações estejam também dimi- nuindo. Através da coleta de dados sobre as causas de hospitalizações em menores de 1 ano junto a hospitais pediátricos dos estados do nordeste, no período de 1980 a 1990, observa-se que o percentual médio de internações reduziu-se de 57% em 1980 para 30% em 1990, enquanto que as infecções respiratórias agudas aumentaram de 16% para 25% nos referidos anos. EVOLUÇÃO DO PERCENTUAL DE INTERNAÇÕES DE MENORES DE UM ANO DEVIDAS À DIARRÉIA, CAPITAIS DA REGIÃO NORDESTE, 1980-90. Já as internações por doenças diarréicas no Brasil em todas as idades demonstram uma tendência francamente crescente, passando de 681.000 em 1984 para 982.000 em 1992, o que representa um incremento de 44,2%. 84 85 86 87 88 89 90 91 92 681 556 590 683 762 746 764 891 982 0 200 400 600 800 1000 1200 Mil 84 85 86 87 88 89 90 91 92 NÚMERO DE PACIENTES INTERNADOS POR DOENÇAS DIARRÉICAS NO BRASIL, NOS SERVIÇOS DE SAÚDE DO INAMPS E CONVENIADOS, 1984-92. (TODAS AS IDADES) FONTE: DATASUS/FNS 15 3 - FATORES CONDICIONANTES Nível sócio-econômico - a pobreza é o principal determinante da morbi-mortalidade por diarréia. Entre as famílias nordestinas com renda inferior a 1 salário mínimo, 9,8% das crianças apresentavam diarréia, contra apenas 5,3% naquelas pertencentes a famílias com renda de 5 ou mais salários míni- mos. Escolaridade da Mãe - dentre as crianças cujas mães nunca ha- viam freqüentado a escola, 10,2% apresentavam diarréia, contra 4,4% daque- las cujas mães haviam estudado por 12 anos ou mais. PREVALÊNCIA DE DIARRÉIA CONFORME A RENDA E A ESCOLARIDADE MATERNA, REGIÃO NORDESTE, 1991. Fonte: F.Barros e C.Victora - 1983/93 Estado Nutricional - considerando as crianças com quadro de desnutrição, quanto maior o desvio - padrão, tanto para altura/idade, que re- flete uma desnutrição crônica, ou para peso/idade, que corresponde a desnu- trição aguda, quanto mais apresentavam episódios de diarréia. Em um estudo sobre prevalência de diarréia, demonstrou-se que crianças eutróficas apre- sentavam freqüência de diarréia de 7,8%, enquanto em crianças desnutridas foi encontrado o dobro, ou seja 14,8%. Vale ressaltar que a diarréia favorece a desnutrição, tanto pela inapetência, má absorção dos alimentos ingeridos e jejum prolongado, quanto pelo gasto energético do episódio. Esta por sua vez favorece a diarréia, criando assim um círculo vicioso, favorecendo a ocorrên- cia do óbito, pois o desnutrido tem episódios com maior duração, maior risco de desidratação e maior necessidade de internação. 16 PREVALÊNCIA DE DIARRÉIA CONFORME ESTADO NUTRICIONAL, REGIÃO NORDESTE, 1991. Fonte: F.Barros e C. Victora - 1983/93 Água e saneamento - a disponibilidade de água limpa, em grande quan- tidade, está associada com a redução de 20 a 30% na morbi-mortalidade por diarréia. Na região nordeste a prevalência de diarréia era de 6,3% nas crianças pertencentes a famílias com água encanada dentro de casa, de 7,5% nas com água no quintal, e 9,6% naquelas sem água encanada. Nas famílias com dis- ponibilidade de instalações sanitárias, a prevalência foi de 5,6% nos domicílios com sanitário com descarga e 9,6% naqueles sem qualquer instalação. PREVALÊNCIA DE DIARRÉIA CONFORME ÁGUA E SANEAMENTO, REGIÃO NORDESTE, 1991. Fonte: F. Barros e C. Victora - 1983/93 17 Tipo de leite consumido - num estudo de caso-controle, realizado no sul do Brasil, foi confirmado o efeito marcante da amamentação sobre a mortalidade infantil por diarréia. Crianças desmamadas apresentaram um risco de morrer, 14,2 vezes maior do que as amamentadas, enquanto que as parci- almente amamentadas apresentaram um risco 4,2 vezes mais elevado. Peso ao Nascer - estudos brasileiros recentes demonstraram a influência do peso ao nascer sobre a morbidade por diarréia. Crianças com baixo peso no nascer mostraram um risco 2 vezes maior de apresentar episó- dios repetidos de diarréia, elevando a hospitalização e a mortalidade. Espaçamento Inter-Gestacional - em estudo de caso controle no Rio Grande do Sul, verificou-se que crianças nascidas após um intervalo inferi- or a 36 meses, apresentavam mortalidade por diarréia cerca de 2,7 vezes su- perior à dos primogênitos, enquanto que crianças nascidas após um intervalo superior a 35 meses apresentavam metade do risco dos primogênitos. 4 - MEDIDAS DE CONTROLE Medidas consideradas como promissoras em termos, de efetividade: - A promoção do aleitamento materno com a melhoria da prática do desmame através da educação alimentar. - A vacinação contra o sarampo e rotavírus (quando disponível). - Melhoria do Saneamento Básico (melhoria da qualidade e aumento da oferta de água tratada, coleta adequada do lixo, canalização de esgotos domésti- cos, combate aos vetores e drenagem pluvial) promoção da higiene pessoal e doméstica. - Suplementação com vitamina A. - Disponibilidade e facilidade de acesso ao serviços de saúde com TRO im- plantado. - Vontade política para fazer acontecer. 18 BIBLIOGRAFIA 1. SILVA, LUCIANA RODRIGUES - Diarréia Aguda na Criança, Medsi, editora médica e científica Ltda. - Ed. 1988. 2. BARROS, FERNANDO C., VICTORA CÉSAR G., - Manejo da Diarréia em Menores de Cinco Anos nos Serviços de Saúde no Nordeste do Brasil - 1983/1993. 3. BARROS, FERNANDO C., VICTORA CÉSAR G., - Avaliação do Manejo Domiciliar da Diarréia em Menores de Cinco Anos no Nordeste do Brasil - 1989/1991. 4. BARROS, FERNANDO C., VICTORA CÉSAR G., et al - Epidemiologia da Diarréia em Menores de Cinco Anos na Região Nordeste do Brasil 1993. 5. MINISTÉRIO DA SAÚDE, COORDENAÇÃO DE SAÚDE MATERNO INFANTIL - Avaliação de Casos de Diarréia e Cólera em Serviço de Saúde da Região Nordeste. Brasília: Ministério da Saúde - 1993. 6. INFORME EPIDEMIOLÓGICO DO SUS. CENEPI/M.S. - julho de1992. 7. MARANHÃO, A.G.K. - Situação das Doenças Diarréicas no Brasil, Coorde- nação de Saúde Materno-Infantil do Ministério da Saúde 1994. 8. PERFIL ESTATÍSTICO DE CRIANÇAS E MÃES NO BRASIL - IBGE 1989.
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