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Aula 2 - A posição Esquizoparanoide

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M e l a n i e K l e i n
D a F a n t a s i a à R e a l i d a d e
Módulo III – Melanie Klein
Aula 2 (A Posição Esquizoparanoide)
A P o s i ç ã o
 
E s q u i z o p a r a n o i d e
Embora ao desenvolver a sua teoria o conceito de posição possa ser compreendido como idêntico ao de fase / etapa do desenvolvimento, Klein utiliza o termo posição, pois sua compreensão é de que o conceito ultrapasse um simples período do crescimento
Esta “camada” do nosso funcionamento mental nunca é totalmente superada, embora venha a perder com o tempo, se os processos psíquicos e as interações com o ambiente se dão de forma saudável, a sua predominância (CINTRA e FIGUEIREDO, 2010, p. 102).
Posição, é a posição em que o indivíduo se coloca em relação aos seus objetos (externos e internos)
cada posição abrange um certo tipo de angústia, bem como as diversas defesas mobilizadas para lidar com essa angústia
envolve as relações de objeto que são características da posição
Posição
Posição Esquizoparanoide
fantasia
realidade
Pulsão 
de vida
Pulsão 
de morte
EGO
Frustra, priva
ameaça
Gratifica,
Satisfaz, protege
Desde o início o ego é exposto à ansiedade provocada pela polaridade inata das pulsões e ao impacto da realidade externa
Sob o impacto da pulsão de morte e de uma ansiedade intolerável o ego reage realizando uma desintegração defensiva que envolve defletir (expulsar) parte das pulsões para o exterior
a relação com os objetos da realidade externa e a percepção de que existem dois ambientes (interno e externo) auxilia o ego a lidar com estas angústias
o seio (objeto externo) é o primeiro objeto no qual o ego estabelece contato, estas experiências o levam a introjetar as relações que com ele estabelece, criando um objeto interno
além da introjeção, outros dois mecanismos primitivos são utilizados pelo ego ainda imaturo:
a cisão ou excisão ou dissociação (divisão) e a projeção
Posição Esquizoparanoide
Para manter a pequena integridade o ego cinde e:
projeta o mau (senso de medo, ansiedade, frustração)
transforma o temor de aniquilamento (interno) em um temor de perseguição (externo)  ansiedade ganha um nome ou objeto
parte da ansiedade da pulsão de morte é retida como fonte de agressividade que é utilizada para se defender dos medos persecutórios dos objetos externos (distorcidos)
projeta o bom (satisfação, senso de prazer corporal, segurança)
a pulsão de vida através da libido é projetada para criar um objeto que irá satisfazer o instinto de preservação da vida
parte da libido é retida para poder estabelecer uma relação libidinal com o objeto (idealizado)
Cria-se o complexo paradoxo do seio bom e do seio mau
Posição Esquizoparanoide
O ego estabelece um relacionamento com dois objetos parciais que são internalizados (introjetados):
Seio idealizado		x	Seio persecutório
Nesta posição a relação do ego com os objetos é parcial, pois os objetos não são percebidos de forma integrada (completa)
em sentido anatômico e fisiológico a mãe ainda não é percebida como figura completa, o bebê se relaciona com partes dela: o seio
em sentido dinâmico a angústia divide os objetos em bom e mau, mas como os mecanismos de defesa são onipotentes e intensos transformam-no em: persecutório e idealizado
A angústia da ambivalência interna sentida originalmente (dualidade das pulsões) é exteriorizada e sentida de forma divalente em relação aos objetos externos
Posição Esquizoparanoide
Mundo interno
Posição Esquizoparanoide
Pulsão 
de vida
Pulsão 
de morte
Projeção
Cisão
Seio
Self
bom
Self
mau
Objeto
bom
Objeto
mau
Introjeção
Seio
persecutório
Seio
idealizado
O mais comum, ou regular nos estágios mais primitivos é que esta dinâmica opere frente à ansiedade sentida pelo ego
No entanto, Segal (1975, p. 38) adverte:
Há situações em que o bom é projetado, a fim de mantê-lo a salvo do que é sentido como uma esmagadora maldade interna; bem como situações em que perseguidores são introjetados e mesmo identificados, numa tentativa de obter controle sobre eles. A situação permanente é que em situações de ansiedade a divisão (split) é ampliada e a projeção e a introjeção são usadas a fim de manter os objetos perseguidores e ideais afastados o máximo possível um dos outros, mantendo-os também sob controle.
A situação pode flutuar rapidamente e os perseguidores podem ser sentidos fora, produzindo um sentimento de ameaça externa (paranoia), ou dentro, produzindo temores de natureza hipocondríaca
Ansiedade Paranoide e Hipocondríaca
As fantasias do seio ideal são reafirmadas pelas experiências satisfatórias e gratificantes, enquanto ...
... as fantasias do seio persecutório são mantidas pelas experiências de frustração, dor, fome
o recém-nascido vive um mundo de extremos, povoado por objetos bons e maus num embate permanente
A integração do ego depende de sua capacidade de poder experimentar a força do seio ideal 
(sensação de proteção, segurança e de que a parte persecutória está sob controle)
Nesse período (posição) a ansiedade é que o seio persecutório supere a parte idealizada - sensação de aniquilamento
Posição esquizoparanoide
Posição Esquizoparanoide
Se a hostilidade for grande demais ou se o bebê não experimentar o alívio de seus ataques ao seio → a bondade do seio idealizado é fantasiada como insatisfatória e a integração do ego ficará prejudicada → “Spider”
O conflito entre as pulsões de vida e de morte se dá entre:
amar x invejar	/ tê-lo x destruí-lo
O contato imediato com a realidade é alterado pela fantasia inconsciente e a realidade age sobre a fantasia
O cuidado e a paciência da mãe contribuem para o senso de bem-estar do bebê
as fantasias podem ser temperadas pelo relacionamento com a mãe (ambiente – Winnicott)
A mãe / terapeuta tem de sustentar ou conter emoções que são penosas demais para o bebê / paciente suportar
Posição Esquizoparanoide
A predominância do objeto bom ou mau depende:
do relacionamento mãe-bebê
da força inata da inveja (pulsão de morte)
da capacidade de tolerar frustração
 O bebê necessita receber de volta da mãe, as suas experiências por uma maneira que lhe assegure que seus sentimentos e ele próprio foram tolerados e aceitos
é a aceitação dele próprio por outro que o conduz à tolerância de si próprio
A experiência de uma maternagem suficientemente boa assegura que o mau não pesará mais que o bom
Com a maior segurança de que os objetos internos são bons, o bebê demonstra um desejo de estender-se mais além
Função do Terapeuta
Formas de defesa do
ego na posição 
esquizoparanoide
Cisão → mantém uma distância suficientemente segura entre os objetos persecutórios e os ideais
Projeção → transforma, troca o perigo sentido internamente, por um perigo externo
Introjeção → busca incorporar o bom enquanto o mau é projetado
Negação onipotente → nega totalmente a perseguição a fim de controlá-la.
a superidealização do seio cria a ilusão temporária de proteção completa dos ataques perseguidores internos
Identificação Projetiva → partes do ego e os objetos internos são cindidos e projetados para dentro do objeto externo, que é então possuído e controlado pelo sujeito que se identifica com a parte projetada
Mecanismos de Defesa
O paciente é um jovem universitário que procurou a análise durante uma crise de depressão. Esta se manifestava por grande desânimo, ideias de suicídio, não encontrando sentido nos valores que acreditava até então e nos objetivos pelos quais lutara. Praticava esportes perigosos (alpinismo, karatê, corrida de automóveis), sendo comuns os acidentes decorrentes destes. Dificilmente reconhecia sua responsabilidade, se reconhecia era por pouco tempo, para logo em seguida negar. Era habitual transformar suas derrotas – onde sua autodestrutividade tinha um papel importante - em triunfos.
Uma ocasião contou-me, se vangloriando, que no fim de semana durante uma luta, perdera um dente incisivo,
gabando-se de sua iniciativa em ter ido ao dentista sem ter avisado os pais para não preocupá-los. Acreditava que suas capacidades intelectuais eram muito maiores que na realidade. Mas também era habitual que as frustrações que sofria servissem de estímulo para ataques autodestrutivos. Eram frequentes as alternâncias de estados de excessiva valorização com estados de desvalia e descrença pessoal. 
Era muito requisitado pelas jovens, mas não demonstrava interesse especial por nenhuma. As pessoas eram vistas como meio para realizar seus desejos e ficava muito indignado quando se sentia contrariado por elas, como se tivessem obrigação de lhe servirem. 
Caso Clínico
Em relação a mim havia ocasiões em que demonstrava excessiva admiração - quase sempre ligada a intenções de conseguir algo de mim - e outras uma grande indiferença. Esperava resoluções mágicas e rápidas, reclamando por se ver frustrado nessa expectativa. Quando eu mostrava alguma coisa real e benéfica que havíamos conseguido na análise não reconhecia isso como resultado de nossos esforços. Numa dessas ocasiões disse com indiferença: "Não vejo como a análise pode ter me ajudado. Se eu melhorei nesse ponto era porque tinha que melhorar. O tempo que se encarregou de resolver o problema”.
A sessão que vou relatar é a terceira de uma semana em que ele estava muito deprimido pois não fora aprovado na seleção de um emprego que almejava. Nas sessões que antecederam os exames falara bastante do emprego e com muito entusiasmo, acreditando que a sua vitória seria certa. Nesta sessão ele rememorava a sua reprovação, alternando queixas sofridas e arrogância. A expressão deste sentimento era feita com irritação, dizendo-se injustiçado e revoltado, que isso não poderia ter acontecido com ele. Também voltava contra si, dizendo que não valia mais a pena viver, sentindo-se um incapaz, que iria sempre fracassar na vida. 
Caso Clínico
Apesar de me parecer claro seu narcisismo ferido, tinha a impressão que interpretar nessa linha não iria ser bem recebido por ele. Eu estava preocupado naquele momento com o grande potencial agressivo do paciente e de como me dirigir a ele para evitar um incremento desnecessário de agressão. Por outro lado me sensibilizava com a grande dor que ele manifestava. Com muito tato comecei a falar algo da mágoa que ele sentia, visando mais, por intermédio da fala, que ele pudesse sentir minha presença, meu interesse por ele, e isso pudesse lhe trazer conforto. Mas ele me interrompeu logo de início dizendo agressivamente em voz alta: "Pare com isso!“
Eu o atendi impactado pela agressão. Ele falou gaguejando, tentando com dificuldade, controlar a sua agressividade: "Não fale nada. Tudo o que você fala são como facas que me penetram. É verdade. Sinto facas entrando em mim." O intenso clima emocional não dava lugar para as palavras. No silêncio eu alternava entre o sentimento de permanecer afastado, conforme o desejo do paciente, e o desejo de querer me aproximar. Via-o muito solitário, fechado em si mesmo. Quando percebi que a nossa relação caminhava para a esterilização tentei novamente: "Quando você se mostra sofrido, com muita dor por não conseguir o que queria, quer minha ajuda, mas quando me percebe perto de você acha que sou perigoso e teme que eu possa machucá-lo ainda mais. Então se irrita, se fecha e me quer longe”. 
Caso Clínico
Ele emite um som de assentimento e diz: “Lembra o meu cachorro. Outro dia ele estava ganindo de dor com a orelha machucada, cheia de vermes. Dava pena. Fui cuidar dele e ele tentou me morder“. Penso que está claro no material o uso que o paciente faz do mecanismo de identificação projetiva: a expulsão de sua agressividade e partes de seu self mau – um superego cruel e agressivo – para dentro de mim, passando a me ver dessa forma e temendo-me. Esse superego é decorrência do fracasso em se identificar com uma imagem idealizada. Na medida em que eu passo a ser esse superego agressivo tenta me controlar, tentando me calar e deixar-me distante dele. 
Devido ao fracasso na identificação com um objeto idealizado (que ao ver do paciente se daria quando conseguisse a colocação profissional) a única alternativa que conhece é um auto arrasamento total, e no dizer dele, não mais valendo a pena viver. Entrega-se à pulsão de morte, identificando-se com os objetos destrutivos. Estes sentimentos destrutivos tornando-se intoleráveis são cindidos e projetados em mim, tentando se aliviar da ameaça de morte. Outra tentativa fracassada, porque agora passa a sentir-se ameaçado pelo perigo que acredita que vem de mim. Há nesse movimento um caráter de concretude física que imprime às minhas palavras, esvaziando o sentido original delas de simpatia e ajuda. Ele as transforma em facas que lhe penetram.
Caso Clínico
As defesas esquizoparanoides se estruturam para o self lidar com os impulsos destrutivos pelos quais se sente ameaçado, temendo por eles ser aniquilado. A idealização é uma das formas de se proteger desta ameaça, e quanto mais intensos estes impulsos maior a cisão do ego para afastá-los e atingir um estado onde se sente seguro. Penso que a identificação projetiva, com seus processos de cisão e projeção, além de ser um meio para a idealização está intimamente ligada em sua origem a esta defesa.
Caso extraído do artigo “Identificação Projetiva: algumas reflexões” – Paschoal Di Ciero Filho. Associação de psicoterapia psicanalítica
Caso Clínico

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