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MICROECONOMIA 1 Departamento de Economia, Universidade de Bras´ılia Notas de Aula 9 - Graduac¸a˜o Prof. Jose´ Guilherme de Lara Resende 1 Prefereˆncia Revelada As prefereˆncias das pessoas na˜o sa˜o observa´veis. O que podemos observar sa˜o as escolhas que as pessoas fazem. O objetivo da ideia de prefereˆncia revelada e´ verificar se as escolhas observadas sa˜o coerentes com o princ´ıpio de maximizac¸a˜o da utilidade. A hipo´tese fundamental para essa ana´lise e´ de prefereˆncias esta´veis. Se as prefereˆncias mudarem no per´ıodo em que estamos conduzindo nossa investigac¸a˜o, enta˜o na˜o podemos tirar nenhuma con- clusa˜o observando as escolhas do consumidor. No caso de prefereˆncias insta´veis, qualquer compor- tamento pode ser justificado. Vamos supor tambe´m que as prefereˆncias sa˜o estritamente convexas. Como vimos anteriormente, essa hipo´tese garante que a soluc¸a˜o do problema do consumidor seja u´nica (essa hipo´tese pode ser relaxada). Qual e´ a ide´ia que motiva o conceito de prefereˆncia revelada? O indiv´ıduo, ao fazer sua escolha de consumo, esta´ revelando sua prefereˆncia. Portanto, para o caso de dois bens, se ele escolhe a cesta E = (x∗1, x ∗ 2), enta˜o ele prefere essa cesta a todas outras cestas que ele tambe´m poderia comprar. O gra´fico abaixo ilustra essa relac¸a˜o. 6 - x2 x1 Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q QQ Todas as cestas dentro da a´rea delimitada pela restric¸a˜o orc¸amenta´ria sa˜o reveladas inferiores a` cesta de equil´ıbrio E = (x∗1, x∗2) E = (x∗1, x∗2)s x∗1 sx∗2 1 Vamos supor que existem apenas dois bens para simplificar a notac¸a˜o e facilitar a visualizac¸a˜o gra´fica. O caso geral e´ a extensa˜o natural do caso de dois bens. Na figura acima, o consumidor escolheu a cesta (x∗1, x ∗ 2), quando os prec¸os sa˜o p1 e p2, e a renda m. Enta˜o essa cesta satisfaz a reta orc¸amenta´ria: p1x ∗ 1 + p2x ∗ 2 = m Qualquer outra cesta (x1, x2) fact´ıvel de ser comprada aos prec¸os p1 e p2 e renda m e´ revelada inferior a` cesta o´tima. A cesta (x1, x2) e´ fact´ıvel se: p1x1 + p2x2 ≤ m Portanto, se a desigualdade acima e´ satisfeita (e a cesta (x1, x2) e´ diferente da cesta (x ∗ 1, x ∗ 2)), isso significa que a cesta (x1, x2) foi preterida em relac¸a˜o a` cesta (x ∗ 1, x ∗ 2), e, portanto, a cesta (x∗1, x ∗ 2) e´ diretamente revelada preferida a` cesta (x1, x2). Podemos enta˜o definir esse conceito do seguinte modo: Definic¸a˜o: Dizemos que a cesta x = (x1, x2) e´ diretamente revelada preferida a` cesta y = (y1, y2) (e escrevemos x �RD y) se o consumidor escolheu a cesta x e se a cesta y custa no ma´ximo o mesmo que a cesta x, isto e´, p1y1 + p2y2 ≤ p1x1 + p2x2 Se o consumidor maximiza a utilidade, dada a sua restric¸a˜o orc¸amenta´ria, enta˜o podemos afirmar o seguinte: Princ´ıpio da Prefereˆncia Revelada. Seja (x1, x2) a cesta escolhida quando os prec¸os sa˜o p1, p2. Se o consumidor maximiza a sua utilidade dada sua restric¸a˜o orc¸amenta´ria, enta˜o para qualquer outra cesta (y1, y2) tal que p1y1 + p2y2 ≤ p1x1 + p2x2, temos que (x1, x2) �RD (y1, y2). O princ´ıpio da prefereˆncia revelada parece circular, pore´m ele e´ um teste da teoria do consum- idor. Se o consumidor esta´ agindo de modo coerente com a maximizac¸a˜o do seu bem-estar, o seu comportamento vai satisfazer o princ´ıpio da prefereˆncia revelada e tambe´m o axioma abaixo. 2 1.1 O Axioma Fraco da Prefereˆncia Revelada Se a cesta x = (x1, x2) foi escolhida quando a cesta y = (y1, y2) estava tambe´m dispon´ıvel ao consumidor (ou seja, custava o mesmo ou menos do que a cesta escolhida), enta˜o a cesta escolhida deve ser a cesta preferida do consumidor. Axioma Fraco da Prefereˆncia Revelada (AFrPR). Seja (x1, x2) uma cesta revelada preferida a` cesta (y1, y2), com (x1, x2) 6= (y1, y2). Enta˜o (y1, y2) na˜o pode ser revelada preferida a` (x1, x2). O AFrPR diz que se a cesta (x1, x2) e´ revelada preferida a` cesta (y1, y2) quando os prec¸os sa˜o p1 e p2 e a cesta (y1, y2) e´ escolhida quando os prec¸os sa˜o p˜1 e p˜2 (com (x1, x2) 6= (y1, y2)), enta˜o na˜o pode ocorrer que: p˜1x1 + p˜2x2 ≤ p˜1y1 + p˜2y2, qualquer que seja o outro sistema de prec¸os p˜1, p˜2 Se a cesta (x1, x2) foi revelada preferida a` cesta (y1, y2), e a cesta (y1, y2) passa a ser a cesta escolhida em uma nova relac¸a˜o de prec¸os, enta˜o a cesta (x1, x2) na˜o pode mais ser comprada - ela necessariamente deve custar mais caro do que a cesta (y1, y2). Ou seja, se a cesta (x1, x2) foi revelada preferida a` cesta (y1, y2), enta˜o a cesta (y1, y2) na˜o pode ser revelada preferida a` cesta (x1, x2). A figura abaixo ilustra duas cestas que na˜o podem ser cestas o´timas, para o problema do consumidor onde a reta orc¸amenta´ria relevante e´ a reta onde a cesta se encontra localizada. Na˜o e´ poss´ıvel desenhar na figura abaixo duas curvas de indiferenc¸a convexas, tangentes a` restric¸a˜o orc¸amenta´ria pertinente, nos dois pontos ilustrados abaixo, sem que elas se toquem. 6 - x2 x1 J J J J J J J J J J J J J J J J J J JJ HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH As duas cestas (x∗1, x∗2) e (y∗1, y∗2) na˜o podem ser ambas reveladas cestas preferidas s y∗1 y∗2 s x∗1 x∗2 3 O AFrPR e´ uma consequeˆncia natural do comportamento otimizador: se o consumidor escolheu (x1, x2) e na˜o (y1, y2) quando ele podia comprar essas duas cestas, enta˜o o consumidor podera´ vir a escolher a cesta (y1, y2) em qualquer outra situac¸a˜o (qualquer outro n´ıvel de prec¸os) somente se ele na˜o puder mais adquirir a cesta (x1, x2). Se esse na˜o for o caso, enta˜o esse consumidor esta´ violando a sua escolha anterior. Por isso a hipo´tese de prefereˆncias esta´veis e´ fundamental: se as prefereˆncias mudam, o AFrPR na˜o tem mais porque ser va´lido. O AFrPR na˜o esgota todas as implicac¸o˜es testa´veis do comportamento maximizador. Um axioma ba´sico sobre prefereˆncias e´ a transitividade. Se as prefereˆncias satisfazem o axioma de transitividade, enta˜o a prefereˆncia revelada tambe´m deve satisfazer esse axioma. 1.2 O Axioma Forte da Prefereˆncia Revelada Suponha que a cesta x = (x1, x2) foi diretamente revelada preferida a` cesta y = (y1, y2), aos prec¸os p1 e p2, e a cesta y = (y1, y2) foi diretamente revelada preferida a` cesta z = (z1, z2), aos prec¸os p˜1 e p˜2. Se as prefereˆncias sa˜o transitivas, enta˜o e´ va´lido dizer que a cesta (x1, x2) e´ indiretamente revelada preferida a` cesta (z1, z2) (e escrevemos x �RI z). Dizemos indiretamente preferida porque na˜o observamos essa relac¸a˜o diretamente: observamos diretamente apenas a relac¸a˜o de escolhas entre as cestas (x1, x2) e (y1, y2) e entre as cestas (y1, y2) e (z1, z2). Usando essas duas relac¸o˜es de escolhas e supondo que as prefereˆncias sa˜o transitivas, podemos indiretamente afirmar que a cesta (x1, x2) e´ preferida a` cesta (z1, z2). Portanto, levando em conta a transitividade das prefereˆncias, podemos extender o AFrPr do seguinte modo: Axioma Forte da Prefereˆncia Revelada (AFoPR). Seja (x1, x2) uma cesta revelada preferida direta ou indiretamente a` cesta (y1, y2), (x1, x2) 6= (y1, y2). Enta˜o (y1, y2) na˜o pode ser revelada preferida nem direta nem indiretamente a` (x1, x2). O AFoPR extende o AFrPR ao incluir a relac¸a˜o indireta de prefereˆncia revelada. E´ fa´cil notar que se o consumidor maximiza a utilidade, enta˜o suas escolhas devem satisfar o AFoPR. Um resultado mais surpreendente (e mais dif´ıcil de provar) e´ que o AFoPR esgota todas as implicac¸o˜es do comportamento maximizador do consumidor: se as escolhas de consumo do in- div´ıduo satisfazem o AFoPR, enta˜o podemos encontrar um sistema de prefereˆncias ou utilidade que representa as escolhas desse indiv´ıduo. 4 1.3 Usando os doisAxiomas Suponha que observamos as seguintes treˆs observac¸o˜es, contendo as escolhas do consumidor e os prec¸os cobrados quando essas escolhas foram feitas: observac¸a˜o x1 x2 p1 p2 1 1 2 1 2 2 2 1 2 1 3 2 2 1 1 Essas escolhas satisfazem o AFrPR? O primeiro passo para verificar esse axioma e´ calcular quanto foi gasto em cada observac¸a˜o, e quanto o consumidor gastaria para obter as outras cestas a`queles prec¸os. Na tabela abaixo, temos os custos de cada cesta, em que as linhas reportam esse custo calculado para os prec¸os de cada observac¸a˜o, e as colunas representam as quantidades escolhidas em cada observac¸a˜o. Cesta Obs 1 Cesta Obs 2 Cesta Obs 3 Prec¸os Obs 1 5 4 6 Prec¸os Obs 2 4 5 6 Prec¸os Obs 3 3 3 4 A diagonal da matriz acima e´ o valor que o consumidor pagou pelas cestas compradas. Cada linha diz o quanto ele pagaria pelas outras cestas, aos prec¸os da cesta escolhida. Como podemos verificar se o AFrPR e´ satisfeito ou na˜o? A diagonal representa o valor das cestas escolhidas. A primeira linha diz o prec¸o da cesta escolhida e o valor das outras cestas, calculados com os mesmos prec¸os da cesta escolhida. Como para a cesta 2 o valor e´ menor, a cesta 1 foi revelada preferida a` cesta 2. A cesta 3 custava mais caro do que a cesta escolhida nessa observac¸a˜o, enta˜o na˜o podemos inferir nenhuma relac¸a˜o entre a cesta 1 e a cesta 3 usando a primeira linha. Na segunda linha, a cesta 2 foi escolhida. A cesta 3 custava mais caro do que a cesta escolhida nessa observac¸a˜o, enta˜o na˜o podemos inferir nenhuma relac¸a˜o entre a cesta 2 e a cesta 3 usando a segunda linha. Pore´m, a cesta 1 poderia ter sido comprada aos prec¸os vigentes quando a cesta 2 foi escolhida. Portanto, a cesta 2 e´ revelada preferida a` cesta 1. Mas como a cesta 1 foi revelada preferida a` cesta 2 na primeira observac¸a˜o, enta˜o o AFrPR e´ violado. Na terceira linha, a cesta 3 foi a escolhida e e´ revelada preferida a`s cestas 1 e 2, ja´ que essas cestas custavam mais barato do que a cesta 3 quando essa cesta foi comprada. Como nas observac¸o˜es anteriores, as cestas escolhidas custavam menos do que a cesta 3, essa observac¸a˜o na˜o viola o AFrPR. 5 Um modo simples de verificar o AFrPR e´ marcar com um asterisco em cada linha as cestas dominadas pela cesta escolhida, ou seja, entre as quais a cesta escolhida e´ revelada preferida. Procedendo deste modo, obtemos: Cesta Obs 1 Cesta Obs 2 Cesta Obs 3 Prec¸os Obs 1 5 4(*) 6 Prec¸os Obs 2 4(*) 5 6 Prec¸os Obs 3 3(*) 3(*) 4 Teremos uma violac¸a˜o do AFrPR quando ambas as entradas mij e mji, com i 6= j, forem marcadas com um asterisco. Nesse caso, a cesta i foi revelada preferida a` cesta j (a entrada mij diz exatamente isso ao ser marcada com asterisco), e a cesta j foi revelada preferida a` cesta i (a entrada mji diz exatamente isso ao ser marcada com asterisco). Portanto, como m12 e m21 esta˜o marcados com astericos na tabela acima, o AFrPR e´ violado nesse exemplo. O AFoPR e´ mais restritivo do que o AFrPR. Se as observac¸o˜es acima na˜o satisfazem o AFrPR, enta˜o tambe´m na˜o satisfazem o AFoPR. Pore´m, pode ser o caso em que as cestas observadas sat- isfac¸am o AFrPR mas na˜o satisfac¸am o AFoPR. O procedimento acima so´ verificou prefereˆncias reveladas diretamente. Pore´m temos que verificar a relac¸a˜o indireta de prefereˆncia revelada. Suponha que a matriz com o valor das cestas, para todos os prec¸os observados, e´ dada por: Cesta Obs 1 Cesta Obs 2 Cesta Obs 3 Prec¸os Obs 1 5 4(*) 6 Prec¸os Obs 2 8 7 5(*) Prec¸os Obs 3 3(*) 5 4 Nesse caso, na˜o temos nenhuma violac¸a˜o do AFrPR. Pore´m, temos uma violac¸a˜o do AFoPR: a cesta 1 foi revelada preferida a` cesta 2, a cesta 2 foi revelada preferida a` cesta 3, e a cesta 3 foi revelada preferida a` cesta 1. Mas a cesta 1 foi revelada indiretamente preferida a` cesta 3, ja´ que a cesta 1 foi revelada preferida a` cesta 2 e a cesta 2 foi revelada preferida a` cesta 3. Isso constitui uma violac¸a˜o do AFoPR. Finalmente, observamos que e´ imposs´ıvel encontrar uma tabela de custos como a de cima, onde ocorre uma violac¸a˜o do AFoPr mas na˜o do AFrPR, se considerarmos apenas cestas com dois bens. Logo, uma tabela como esta so´ pode ser calculada se considerarmos cestas com treˆs ou mais bens. Esse resultado e´ consequeˆncia de que no caso de dois bens, o AFrPR esgota todas as implicac¸o˜es testa´veis da teoria do consumidor. 6 2 Recuperac¸a˜o de Prefereˆncias Se observamos va´rias escolhas diferentes do consumidor, podemos obter uma estimativa de suas prefereˆncias. Recuperando as prefereˆncias do consumidor, podemos avaliar o impacto de uma pol´ıtica econoˆmica. Suponha que temos a seguinte colec¸a˜o de observac¸o˜es de consumo de dois bens acompanhada dos prec¸os na e´poca que a escolha foi feita: v = (v1, v2) e p v = (pv1 , p v 2 ), x = (x1, x2) e p x = (px1 , p x 2 ), y = (y1, y2) e p y = (py1 , p y 2 ), z = (z1, z2) e p z = (pz1, p z 2). Essas escolhas esta˜o ilustradas na figura abaixo. 6 - x2 x1 Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q Q QQ sz b b b b b b b b b b b b b b b b b b b b b b b bb s y @ @ @ @ @ @ @ @ @ @ @ @ @ sx PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP s v �� �� �� �* Poss´ıvel Curva de Indiferenc¸a Cestas piores que x Cestas melhores que x (fora da fronteira pontilhada) Para a escolha x, as outras escolhas delimitam o espac¸o que a curva de indiferenc¸a pode ocupar. Por exemplo, como z e y foram reveladas preferidas a` x, enta˜o a curva de indiferenc¸a que passa por x na˜o pode passar nem por z e nem por y. Mais ainda, ela na˜o pode passar dentro do espac¸o delimitado por essas treˆs escolhas. Finalmente, a curva de indiferenc¸a de x tem que tangenciar a reta orc¸amenta´ria de x em x. A figura acima ilustra uma poss´ıvel curva de indiferenc¸a que na˜o contradiz as escolhas feitas pelo consumidor. Uma vez calculada a curva de indiferenc¸a em x, podemos extrapolar essa curva para todo espac¸o de escolhas supondo mais estrutura sobre a utilidade do consumidor. Por exemplo, se supusermos que a utilidade e´ homote´tica, enta˜o todas as curvas de indiferenc¸a sera˜o deslocamentos da curva de indiferenc¸a em x. 7 3 Nu´meros I´ndices Para compararmos a variac¸a˜o de consumo de um determinado bem entre dois per´ıodos, o seguinte ca´lculo e´ o modo o´bvio de procedermos: se nesse meˆs um indiv´ıduo consumiu seis quilos de arroz e no meˆs seguinte sete quilos, enta˜o o seu consumo aumentou em 16,67%. Pore´m como podemos comparar a variac¸a˜o no seu consumo de arroz e feija˜o conjuntamente? Nu´meros ı´ndices proveˆm um meio de responder essa questa˜o. Vamos supor apenas dois bens (o caso geral e´ extensa˜o natural desse caso). Suponha que as observac¸o˜es para os dois bens sa˜o: Per´ıodo base: xb = (xb1, x b 2) Per´ıodo t: xt = (xt1, x t 2) Medimos a variac¸a˜o no consumo total (∆V CT ) como uma me´dia das variac¸o˜es nos consumos dos dois bens, ponderada pelo sistema de pesos w = (w1, w2): ∆V CT = w1x t 1 + w2x t 2 w1xb1 + w2x b 2 A questa˜o enta˜o se resume a escolher o sistema de pesos w = (w1, w2). Existem duas escolhas o´bvias: os prec¸os do per´ıodo base e os prec¸os do per´ıodo t. No primeiro caso, obtemos o ı´ndice de quantidade de Laspeyres (QL) e no segundo caso obtemos o ı´ndice de quantidade de Paasche (QP ): QL = pb1x t 1 + p b 2x t 2 pb1x b 1 + p b 2x b 2 e QP = pt1x t 1 + p t 2x t 2 pt1x b 1 + p t 2x b 2 Usualmente, esses ı´ndices sa˜o calculados para uma se´rie longa de per´ıodos. Nesse caso, os ı´ndices sa˜o multiplicados por 100 e, portanto, o ı´ndice calculado para o ano base e´ igual a 100(na˜o ha´ variac¸a˜o de consumo do ano base em relac¸a˜o ao ano base). As seguintes proposic¸o˜es sa˜o va´lidas: 1. Se QL < 1, enta˜o o consumidor esta´ melhor no per´ıodo base, 2. Se QP > 1, enta˜o o consumidor esta´ melhor no per´ıodo t. A proposic¸a˜o 1 e´ va´lida porque se QL < 1, enta˜o p b 1x t 1 + p b 2x t 2 < p b 1x b 1 + p b 2x b 2. Ou seja, a cesta xb = (xb1, x b 2) foi revelada preferida a` cesta x t = (xt1, x t 2). Como a cesta x t = (xt1, x t 2) foi escolhida no per´ıodo t, enta˜o o consumidor na˜o pode mais comprar a cesta xb = (xb1, x b 2) e sua utilidade e´ menor no per´ıodo t do que no per´ıodo base. 8 Similarmente, a proposic¸a˜o 2 e´ va´lida porque se QP > 1, enta˜o p t 1x t 1 + p t 2x t 2 > p t 1x b 1 + p t 2x b 2. Ou seja, a cesta xt = (xt1, x t 2) foi revelada preferida a` cesta x b = (xb1, x b 2). Como a cesta x b = (xb1, x b 2) foi escolhida no per´ıodo base, enta˜o o consumidor na˜o poˆde comprar a cesta xt = (x t 1, x t 2) no per´ıodo base e sua utilidade e´ menor no per´ıodo base do que no per´ıodo t. Note que para os casos QL > 1 e QP < 1 na˜o podemos inferir nada sobre como se modificou o bem-estar do consumidor. Se QL > 1, enta˜o p b 1x t 1+p b 2x t 2 > p b 1x b 1+p b 2x b 2, o que diz apenas que a cesta xt na˜o era “compra´vel” no per´ıodo base. Similarmente, se QP < 1, enta˜o p t 1x t 1+p t 2x t 2 < p t 1x b 1+p t 2x b 2, o que diz apenas que a cesta xb na˜o era “compra´vel” no per´ıodo t. Ou seja, nos dois casos na˜o podemos tirar nenhuma conclusa˜o sobre o bem-estar do consumidor (se esse bem-estar aumentou ou diminuiu). Os ı´ndices que calculamos acima medem a variac¸a˜o na quantidade consumida. Podemos adapta´-los facilmente para medir variac¸o˜es nos prec¸os. Como pesos, usamos as quantidades con- sumidas no per´ıodo base ou no per´ıodo t. No primeiro caso, obtemos o ı´ndice de prec¸os de Laspeyres (PL) e no segundo caso obtemos o ı´ndice de prec¸os de Paasche (PP ): PL = pt1x b 1 + p t 2x b 2 pb1x b 1 + p b 2x b 2 e PP = pt1x t 1 + p t 2x t 2 pb1x t 1 + p b 2x t 2 Esses ı´ndices tambe´m podem dizer algo sobre o bem-estar do consumidor. Se calcularmos a variac¸a˜o do gasto total (∆GT ) do per´ıodo base para o per´ıodo t, ∆GT = gasto total no per´ıodo t gasto total no per´ıodo base = pt1x t 1 + p t 2x t 2 pb1x b 1 + p b 2x b 2 , enta˜o obtemos as seguintes relac¸o˜es: 1. Se PL < ∆GT , enta˜o o consumidor esta´ melhor no per´ıodo t, 2. Se PP > ∆GT , enta˜o o consumidor esta´ melhor no per´ıodo base. A proposic¸a˜o 1 e´ va´lida porque se PL < ∆GT , enta˜o p t 1x b 1 + p t 2x b 2 < p t 1x t 1 + p t 2x t 2. Ou seja, a cesta xt = (xt1, x t 2) foi revelada preferida a` cesta x b = (xb1, x b 2). Como a cesta x b = (xb1, x b 2) foi escolhida no per´ıodo base, enta˜o o consumidor na˜o poˆde comprar a cesta xt = (xt1, x t 2) no per´ıodo base e sua utilidade e´ menor no per´ıodo base do que no per´ıodo t. Similarmente, a proposic¸a˜o 2 e´ va´lida porque se PP > ∆GT , enta˜o p b 1x b 1 + p b 2x b 2 > p b 1x t 1 + p b 2x t 2. Ou seja, a cesta xb = (xb1, x b 2) foi revelada preferida a` cesta x t = (xt1, x t 2). Como a cesta x t = (xt1, x t 2) foi escolhida no per´ıodo t, enta˜o o consumidor na˜o pode mais comprar a cesta xb = (xb1, x b 2) e sua utilidade e´ menor no per´ıodo t do que no per´ıodo base. 9 Note que para os casos PL > ∆GT e PP < ∆GT na˜o podemos inferir nada sobre como se modificou o bem-estar do consumidor. Se PL > ∆GT , enta˜o p t 1x b 1 + p t 2x b 2 > p t 1x t 1 + p t 2x t 2, o que diz apenas que a cesta xb na˜o era “compra´vel” no per´ıodo t. Similarmente, se PP < ∆GT , enta˜o pb1x b 1 + p b 2x b 2 < p b 1x t 1 + p b 2x t 2, o que diz apenas que a cesta x t na˜o era “compra´vel” no per´ıodo base. Ou seja, nos dois casos na˜o podemos tirar nenhuma conclusa˜o sobre o bem-estar do consumidor (se esse bem-estar aumentou ou diminuiu). Leitura Recomendada • Varian, cap. 7 - “Prefereˆncia Revelada”. • Nicholson e Snyder, cap. 5 “Income and Substitution Effects”. 10