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1 Nathalia Immisch Hepatites virais agudas Sintomatologia comum ➢ Fase prodrômica: sintomas gerais inespecíficos e gastrintestinais o Mal-estar, astenia, anorexia, náuseas e diarreia ➢ Fase ictérica: sinais da síndrome colestática (icterícia, colúria e hipocolia fecal) ➢ Fase de Convalescência: fim do quadro agudo de hepatite o Paciente percebe a melhora dos sintomas o Paciente ou se cura ou evolui para cronicidade A duração dos sinais e sintomas clínicos que compõem as 3 fases da hepatite aguda, por definição, não pode ultrapassar 6 meses. Após esse período, deve- se investigar o desenvolvimento de hepatite crônica. Hemograma: • Leucopenia por queda de neutrófilos • Linfocitose Hepatograma: síndrome hepatorrenal (compromete mais a excreção da bilirrubina, que sua conjugação, portanto, é mais comum o aumento da fração direta) • AST e ALT aumentadas em até 10x (mas a magnitude da elevação não guarda relação com prognostico) – ALT aumenta mais porque é mais específica • Bilirrubina total pode chegar a níveis superiores a 20mg/dl o Predomínio costuma ser da bilirrubina direta (conjugada) • Enzimas canaliculares podem estar aumentadas quando há colestase associada: o Aumento moderado de gama GT e fosfatase alcalina – comum na forma colestática da hepatite A • Albumina e tempo + atividade de protrombina – quando alterados são os principais parâmetros de mau prognóstico Hepatite viral A ➢ Contaminação via fecal-oral: seja de forma interpessoal ou através de água ou alimentos contaminados. o Outras formas de contaminação: sexo anal, transmissão parenteral (rara) ➢ Os adultos são infectados geralmente a partir de crianças. ➢ Aglomerados humanos como creches são particularmente suscetíveis. Patogenia: o HAV resiste ao pH ácido do TGI alto e, assim, quando ingerido, ganha a corrente sanguínea a partir do TGI, chegando ao fígado. As partículas virais se alojam nos citoplasmas de hepatócitos, replicando e sendo excretadas na bile, o que explica os altos títulos desses vírus nas fezes e, por conseguinte, a via de contágio fecal-oral. Sabe-se que o HAV não é diretamente citopático, acredita-se que a lesão hepatocelular ocorra em função da resposta imune mediada por LTCD8+. 2 Nathalia Immisch A hepatite A é a hepatite viral mais relacionada à síndrome colestática intra- hepática, cursando com prurido intenso, colúria e acolia fecal, bem como elevação moderada da fosfatase alcalina, gama GT e bilirrubina direta. Assintomática Mais comum em crianças Sintomática Clássica – autolimitada (8 semanas) Colestática Icterícia com padrão laboratorial colestático podendo durar mais de 3 meses Recidivante Presente em 10% dos casos e caracterizada por 2 ou mais ataque de hepatite aguda, ocorrendo num período de 6 a 10 semanas. Fulminante Rara. Mais suscetíveis: idosos e portadores de doença hepática crônica. Diagnóstico: ➢ Anticorpos anti-HAV o Classe IgM: infecção aguda ▪ Somente o achado de IgM anti-HAV dá o diagnóstico ▪ Fator reumatoide pode causar falsa positividade o Classe IgG: classicamente encontrados na fase de convalescença ▪ Fica no sangue por um longo e indefinido período ▪ Se tiver só o IgG: deve ter tido hepatite A aguda no passado e já se curado A infecção por HAV ocorre logo cedo na maioria da população e muitas vezes é assintomática, então geralmente nem se dá esse diagnóstico. Tratamento: • Repouso relativo • Aumento da ingesta calórica • Medicamentos sintomáticos (anti-térmicos, antieméticos) • Não ingerir álcool por no mínimo 6 meses e evitar drogas hepatotóxicas Prognóstico: excelente. Hepatite A não cronifica. Vacina com o vírus inativado faz parte do calendário vacinal básico (12m/18m) Hepatite viral B Estruturalmente, o HBV possui um envoltório lipídico e um núcleo central denso (core). • O envoltório lipídico expressa um antígeno de superfície – HbsAg o Esse antígeno é produzido em grandes quantidades durante uma infecção pelo HBV. Há cerca de 1000x mais HbsAg que a própria concentração do vírus completo no corpo. o Determina a produção de um anticorpo: anti-HBs o HbsAg positivo – presença do vírus B no organismo 3 Nathalia Immisch o Anti-HBs positivo – geralmente quando o HbsAg desaparece do sangue e indica na maioria das vezes, a cura da hepatite B (pela sua ação neutralizante). • O core possui outro antígeno – HbcAg o Como esse antígeno é secretado na região central do vírus (core) e não é secretado para o plasma, ele não está presente no sangue circulante. o Entretanto, também determina a formação de anticorpo: anti-HBc o O anti-HBc é o principal anticorpo marcador da infecção pelo vírus B (ativa ou curada). Não é um anticorpo neutralizante, então, não indica cura. • Outro antígeno é secretado na corrente circulatória pelos hepatócitos infectados – HbeAg o HbeAg está localizado também no core, no entanto, diferentemente do HbcAg, é fartamente secretado durante a fase de replicação viral. o HbeAg positivo: significa alta infectividade (replicação viral) o Determina a formação de anticorpo: anti-HBe o Anti-HBe positivo: aparece quando o HbeAg já está negativo, correspondendo à fase de baixa infectividade. Vias de transmissão: O HBV está presente em grandes concentrações nos fluidos corpóreos (ex.: esperma, saliva) e no sangue. • Perinatal (vertical) o Sangue, líquido amniótico o Transplacentária Obs.: a amamentação NÃO é contraindicada • Horizontal – entre crianças • Relação sexual, contato íntimo • Percutânea – compartilhar escova de dentes, lâminas de barbear, agulhas (drogas IV, instrumentação para tatuagem, piercing) • Hemotransfusão (rara) • Transplante de órgãos Há uma maior chance de cronificação quando a transmissão é vertical pois a exposição intraútero ao antígeno e (altos níveis – porque consegue atravessar a barreira placentária) induz uma tolerância do sistema imune fetal em formação aos antígenos do core. Portanto, ao adquirir a infecção durante o parto, o sistema imune não reconhece os antígenos virais como estranhos e o vírus consegue se replicar sem impedimento. Patogênese: o HBV não é diretamente citopático. Acredita-se que a hepatite B se inicia por uma resposta imune celular dirigida contra antígenos virais específicos, expressos pelos hepatócitos, que causam dano a estas células. Estão relacionados a essa resposta LTCD8+ e citocinas como TNF alfa. • Resposta imune exacerbada – forma mais grave, fulminante • Resposta imune insuficiente – cronificação 4 Nathalia Immisch História Natural e os marcadores: Quando se iniciam os primeiros sinais e sintomas da hepatite: • Aparecimento do HBsAg: poucas semanas, sintomas inespecíficos (fase prodrômica) • Período de incubação (4 a 6 semanas) • Aumento das transaminases • Aparecimento do anti-HBc (HBcAg não aparece no soro porque não é secretado no plasma) – aparece logo após o HBsAg • Os dois marcadores mais importantes da doença aguda: HBsAg e Anti- HBC IgM • O anti-HBC IgG aparece pouco tempo depois do IgM, permanecendo positivo indefinidamente, mesmo que ocorra cura ou cronificação. Durante a fase sintomática da doença, em que o vírus se replica intensamente, o HBeAg é positivo, significando uma alta infectividade. Com o passar do tempo, o organismo tende a suprimir a replicação viral, e passa a ser detectado no soro o anti-HBe. Se houver cura, o anti-HBe permanece no soro evidenciando um passado de replicação viral. Com o surgimento do anti-HBs inicia-se a fase de convalescença: o Queda das transaminases o Redução da icterícia e sintomas sistêmicos o Ele surge logo depois ou algumas semanas depois da negativação do HBsAg (janelaimunológica) • Após o desaparecimento do HBsAg do sangue, o paciente não consegue mais transmitir a doença • Se não houver produção do anti-HBs dentro de 6 meses, o paciente se torna portador assintomático ou desenvolve a forma crônica. • HBsAg positivo por mais de 6 meses: cronificação. Se o paciente cronificar, sempre que houver piora do quadro por retomada da replicação viral, aparecerá novamente no sangue o HBeAg. Manifestações clínicas: Os sintomas costumam ser mais intensos quando comparados com a hepatite A ou C. Tendem a surgir na fase de replicação viral e desaparecer na fase não replicativa. • Infecção perinatal: oligo ou assintomático mas com alto risco de cronicidade. 70% dos pacientes não desenvolvem a fase ictérica. Ou seja, apenas 30% dos pacientes terão a icterícia, que denuncia o diagnóstico de qualquer hepatite. As formas anictéricas têm maior chance de se tornarem crônicas do que as ictéricas. Podem ocorrer sintomas extra-hepáticos devido a circulação de imunocomplexos contendo o HBsAg, como a poliarterite nodosa, a glomerulonefrite, a crioglobulinemia mista essencial, acrodermatite papular, etc. 5 Nathalia Immisch Formas de evolução aguda da hepatite B Evolução aguda benigna Assintomática Anictérica Ictérica Recorrente Colestática (acolia fecal + prurido + elevação da bilirrubina direta) Evolução aguda grave Fulminante – 1% dos casos (evolui para encefalopatia hepática por insuficiência hepática em 8 semanas) Subaguda Diagnóstico: interpretação dos marcadores: O diagnóstico depende apenas do HBsAg e do anti-HBc IgM. o HBsAg + o Hepatite B aguda o Hepatite B crônica o Portador assintomático do vírus o HBsAg – o Não exclui a possibilidade de hepatite B: podem ser pacientes na janela imunológica (falso negativo) o Presença do antígeno em níveis indetectáveis no exame sorológico o Infecção por um mutante de escape o HBsAg + ou - / Anti- HBc IgM + o Os dois positivos fecham o diagnóstico o Mesmo se o HBsAg negativo – paciente na janela imunológica o O encontro de IgM Anti-HBC fecha o diagnóstico de hepatite B aguda quaisquer que sejam os resultados dos outros marcadores. o HBsAg + / Anti- HBc IgM - / IgG + o Hepatite B crônica o HBsAg - / Anti- HBc IgM - / IgG + o Olhar para o anti-HBs: se positivo, o paciente teve hepatite e se curou, se negativo, hepatite curada há muito tempo e eventualmente o anti-HBs desapareceu. o Para tirar a dúvida – solicita pesquisa do DNA viral o HBsAg - / Anti- HBc IgM - / IgG - / Anti-HBs + o Imunização prévia vacinal 6 Nathalia Immisch DNA viral (PCR): é importante na hepatite fulminante, quando o HBsAg pode estar indetectável devido à intensa resposta imune contra o HBV. Importante notar que no quadro fulminante pode ter leucocitose com neutrofilia (contrário do esperado – leucopenia). Mutantes: ➢ Mutantes na região pré-core: falha na expressão do antígeno e. Associados a hepatites fulminantes e exacerbações de hepatites crônicas. o A replicação viral não deflagra a elevação no soro do HBeAg e pode ocorrer na presença do anti-HBe. o Suspeita quanto HBsAg positivo por mais de 6 meses (crônica), HBeAg negativo, anti-HBe positivo e transaminases elevadas. ➢ Mutantes por escape: vírus que sofreram alterações no HBsAg impedindo a ação neutralizante do anti-HBs. o Vacina e imunoglobulina em larga escala o Pode não positivar o HBsAg o Pode ter altos níveis de anti-HBs simultaneamente ao HBsAg. Vacina: feita com HBsAg recombinante para haver a soroconversão em anti-HBs • Ao nascer – monovalente • Mais 3 doses (2 em 2 meses) – vacina pentavalente Tratamento: • Sintomático, espera-se a recuperação espontânea na maioria dos casos • Antivirais são mais usados na forma crônica • Hepatite B aguda fulminante – lamivudina Hepatite viral C Já foram descritos 6 genótipos, diversos subtipos e mais de 100 cepas. O genótipo mais agressivo e que apresenta menor resposta ao tratamento é o genótipo 1 (1a e 1b) que, é o mais frequente em nosso meio. É um vírus extremamente mutagênico. Vias de transmissão: principalmente através do contato com sangue contaminado. As concentrações do vírus em outros fluidos corpóreos são baixas, e as infecções perinatal e sexual são menos comuns. Pode ocorrer mais frequentemente em relações desprotegidas com múltiplos parceiros. O HIV é um fator que aumenta o risco de infecção. A forma mais comum atualmente é o uso de drogas ilícitas (injetáveis, compartilhamento de seringas). 7 Nathalia Immisch Atualmente, as principais vias são: • Compartilhamento de equipamentos para uso de drogas ilícitas • Confecção de tatuagens e piercing, ou realização de procedimentos médico-odontológicos (incluindo acupuntura), sem obedecer à biossegurança • Compartilhamento de objetos de uso pessoal como escova de dente, depiladores, instrumentos de manicure sem esterilização adequada. Manifestações clínicas: • Menos de 20% dos infectados se tornam sintomáticos na doença aguda. Sendo assim, o diagnóstico não costuma ser feito nessa fase, mas na fase crônica. • A chance de um paciente agudamente infectado se tornar portador crônico do HCV é de cerca de 80%. • As aminotransferases (principalmente ALT) podem ter um aumento de 25x até 100x acima do LSN. Patogênese: O HBC também não é capaz de lesar diretamente o parênquima hepático e a lesão hepatocelular é justificada pela agressão pelo próprio sistema imune. Diagnóstico: O HCV-RNA costuma ser detectado no sangue a partir da segunda semana após a exposição. Os anticorpos anti-HCV são positivos no soro de 80% dos indivíduos sintomáticos no momento em que os sintomas aparecem, mas nos 20% restantes o diagnóstico só pode ser estabelecido nessa fase através da pesquisa do HCV-RNA. • Anti-HCV – leva de 8 a 12 semanas para positivar • Anti-HCV é pesquisado por ELISA, mas se positivo não dá para diferenciar infecção atual de contato prévio curado, ou seja, sempre se usa também o HCV-RNA. • HCV-RNA (PCR) – é solicitado para confirmar um anti-HCV positivo • A genotipagem do HCV sempre deve ser feita após anti-HCV positivo e HCV-RNA positivo, uma vez que tal informação é indispensável para definir a melhor estratégia terapêutica. 8 Nathalia Immisch Tratamento: • Drogas antivirais: pode prevenir a evolução para a forma crônica e sempre que possível devem ser utilizadas. o Critérios para iniciar o tratamento agudo: ▪ Paciente assintomático – inicia imediatamente ▪ Paciente sintomático (ictérico) – inicia se não houver clareamento viral espontâneo, ou seja, se o HCV-RNA permanece detectável após 12 semanas o Esquemas: ▪ Interferon convencional em monoterapia – 24 semanas ▪ Interferon convencional + ribavirina – 24 semanas ▪ Pacientes HIV+: IFN peguilhado + ribavirina – 24 semanas Hepatite viral D É um vírus que necessita da função do vírus B para a sua sobrevivência e disseminação. Os vírions do HDV necessitam do envelope sintetizado pelo HBV para terem sua formação completa. Ele tem um core antigenicamente diferente do HBC, mas um envoltório lipídico indistinguível do HBsAg. Vias de transmissão: ➢ Exposição percutânea ➢ Hemotransfusão ➢ Drogas IV Co-infecção: infecção simultânea com o HBV Superinfecção: HDV infecta um paciente cronicamente infectado pelo HBV. É mais frequente que a co-infecção e muito mais provável de causar hepatite D crônica. A hepatite D tende a ser mais grave que a hepatite B isolada e com maior probabiliadede de levar à hepatite fulminante, hepatite crônica grave e cirrose. É um vírus comprovadamente citotóxico. Diagnóstico:• Pesquisa do anti-HDV – aparece após 30-40 dias da infecção aguda • Normalmente, tem-se a dosagem do anti-HDV total (sem distinguir IgM de IgG) 9 Nathalia Immisch Hepatite viral E Genótipos: • 1 e 2: epidêmica • 3 e 4: autóctone (geralmente acomete suínos – é uma zoonose) Epidêmica: ➢ Transmissão: via fecal-oral ➢ Diagnóstico: anticorpos anti-HEV IgM e IgG o IgM permanece positivo por 3 a 12 meses o IgG – cicatriz sorológica ➢ Não cronifica ➢ Maior risco de hepatite fulminante em gestantes Autótocne: ➢ Transmissão: contato direto com suínos, mas a forma principal é a ingesta de carne de porco mal-cozida. ➢ Predomina em pessoas mais velhas ➢ Complicações potencialmente graves nos idosos ➢ Achados extra-hepáticos: artrite, pancreatite, aplasia de medula, neuropatias (mais frequentes) ➢ Pode cronificar ➢ Diagnóstico: ELISA anti-HEV O tratamento com drogas antivirais ainda é experimental (ribavirina) e já existe uma vacina para o HEV.
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