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REVISÃO DA AULA PASSADA: Estamos estudando o crime, mais especificamente, estrutura. Vimos que o crime, para a maioria da doutrina tem três substratos (fato típico, ilicitude e a culpabilidade). Eu me comprometi a dissecar o fato típico, que é constituído de conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. O que eu já fiz? Já expliquei o que é fato típico e comecei a analisar conduta. Falamos do conceito de conduta (aqui vocês têm que lembrar daquelas sete teorias, que vão do causalismo até o funcionalismo sistêmico ou radical de Jacobs). Depois do conceito, falamos das causas de exclusão da conduta (caso fortuito, força maior, coação irresistível, ato reflexo e estado de inconsciência) e agora estamos tratando das espécies de conduta. Eu comecei dom dolo, culpa e preterdolo. Apesar de alguns terem reclamado é exatamente no assunto dolo, culpa e preterdolo é que estudamos erro de tipo. O erro de tipo umbilicalmente exclui do dolo. Ele está ligado à culpa. Por isso, eu estudo o erro de tipo junto com dolo e culpa. Não importa se no seu livro não está assim. E é exatamente no erro de tipo que paramos na última aula. Falamos que há duas espécies de erro de tipo: o erro de tipo essencial e o erro de tipo acidental. O essencial pode ser inevitável ou evitável. Se ele é essencial, pouco importa de que tipo, exclui do dolo (a doutrina critica esse 'exclui' porque não há como excluir algo que nunca existiu). E por que exclui o dolo? Porque se o erro de tipo é essencial, não há consciência. Nisso, o dolo perde o seu primeiro elemento, que é o elemento intelectivo. Mas eu também comentei que o erro de tipo inevitável também exclui a culpa porque não há previsibilidade. Mas no evitável a culpa permanece porque a previsibilidade existe. O erro de tipo acidental admite cinco espécies: erro sobre o objeto, erro quanto à pessoa, erro na execução, resultado diverso do pretendido e, por fim, erro sobre o nexo causal. O que mais cai em concurso? O erro de tipo acidental (não exclui dolo e não exclui culpa. Você vai responder pelo crime). O erro sobre o objeto é criação doutrinária. Erro sobre a pessoa, erro na execução, resultado diverso do pretendido foi onde terminamos o assunto na aula passada). d) Erro de tipo acidental SOBRE O NEXO CAUSAL Previsão legal: Não tem previsão legal. É criação doutrinária. Conceito: Aqui temos que lembrar as duas espécies de erro sobre o nexo causal: 1. Erro sobre o nexo causal em sentido estrito – “O agente, mediante um só ato, provoca o resultado visado, porém com outro nexo de causalidade (exemplo: empurro a vítima de um penhasco para que morra afogada, porém durante a queda ela bate a cabeça contra uma rocha, morrendo em razão de um traumatismo craniano”. Repare que você tem um só ato e é isso que o diferencia da segunda espécie. 2. Erro sobre o nexo causal com dolo geral (Aberratio Causae)– O dolo geral é uma espécie de erro sobre o nexo causal que, por sua vez é espécie de erro de tipo acidental. “No dolo geral, o agente, mediante conduta desenvolvida em dois ou mais atos, provoca o resultado visado, porém com nexo de causalidade diverso. Exemplo: atiro na vítima e, imaginando, estar morta, jogo o corpo no mar, vindo a morrer afogada.” São dois atos. O primeiro é o tiro e o segundo é o lançamento do corpo ao mar. É o segundo que gera o nexo de causalidade diverso (do tiro para o afogamento). A diferença é que no erro sobre o nexo causal em sentido estrito, você tem um só ago. No dolo geral, você tem uma sucessão de atos. Lá é o empurrão (um só ato) que desencadeia o nexo causal diverso. Aqui há pluralidade de atos, desencadeando o nexo de causalidade diverso. Querem ver um exemplo que, em tese, poderia se enquadra no dolo geral sobre o nexo de causalidade e não se encaixou? Eu esgano minha filha, imaginando que já estava morta e jogo pela janela. Quando eu vi o caso da Isabela Nardoni, eu tive a certeza de que veria algum interesse prático nisso aqui que estamos estudando. Primeiro caso que eu fico sabendo que dá para encaixar essa porcaria aqui. Vamos ver como é o dolo geral na prática. Eu achei que a coisa se encaixava direitinho: a madastra esgana e o pai, achando que estava morta, joga pela janela. O problema aqui foi que quando jogaram pela janela, sabiam que ela estava viva. O promotor não encarou como dolo geral e, infelizmente, o caso da Isabela não dá para enquadrar aqui. Consequência: “Não exclui o dolo, não exclui a culpa. Não isenta o agente de pena. O agente responde pelo crime considerando o resultado provocado. Isto é, queria matar, responde por homicídio.” No primeiro exemplo, eu queria matar afogando: vou responder por afogamento ou por traumatismo craniano que foi o que ocorreu? No segundo exemplo, eu queria matar com tiro, matei por afogamento (asfixia). Vou responder pelo crime visado pelo nexo ocorrido ou pelo nexo pretendido. Qual a importância disso? É que, dependendo do nexo, pode gerar a qualificadora (da asfixia, por exemplo). Como, então respondo? São três correntes. 1ª Corrente: “O agente responde pelo crime considerando o nexo visado (pretendido), evitando-se a responsabilidade penal objetiva.” 2ª Corrente: “O agente responde pelo crime considerando o nexo ocorrido (real), suficiente para a provocação do resultado desejado (o agente, de modo geral, aceita qualquer meio para atingir o fim)”. 3ª Corrente: “O agente responde pelo crime considerando o nexo mais benéfico. Ela aplica o 'in dubio pro reo'”. Se o nexo pretendido consegue afastara a qualificadora do nexo ocorrido, responde pelo nexo pretendido. Se o nexo ocorrido afasta a qualificadora do nexo pretendido, responde pelo nexo ocorrido. In dubio pro reo. Se a lei não trata do assunto, não pode o intérprete legislar contra o réu. Na doutrina prevalece a segunda corrente, na jurisprudência isso é paupérrimo de exemplo. Com isso, terminamos o erro de tipo acidental com todas as suas espécies. Eu só quero deixar claro que a doutrina tem chamado o dolo geral de aberratio causae. Você tem: Aberratio Ictus – Sinônimo de erro na execução Aberratio Criminis – Sinônimo de resultado diverso do pretendido Aberratio Causae – Sinônimo de dolo geral Já caiu em concurso: o examinador dá o problema e pergunta se houve aberratio ictus, criminis ou causae. Presta atenção no que eu vou falar: nem todos os livros diferenciam o erro sobre o nexo causal em outras duas espécies. Para quem não faz essa diferenciação, aberratio causae é sinônimo de erro sobre o nexo causal. Não há mais do que falar em erro de tipo. Caiu no concurso, você vai destruir. Qual é a diferença entre erro de tipo e erro de proibição? No erro de tipo, o agente não sabe o que faz e no erro de proibição o agente sabe o que faz mas desconhece a ilicitude do seu ato. Olha o que caiu no MP/MG: Alguém falsifica um cheque do Itaú. O promotor denuncia por qual crime? Falsidade de documento público ou particular? O Itaú é entidade particular, o cheque foi emitido por entidade particular, o cheque, contudo, é documento público por equiparação. “Art. 297, § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.” O cheque do Itaú é documento (apesar de ser entidade privada) é documento equiparado a público. Esse falsificador chega na audiência e pede para fazer uma pergunta: “Eu quero saber do promotor uma coisa: por que eu estou respondendo por falsidade de documento público se o cheque é do Itaú?” O promotor explica e ele diz: “Entendi. Mas eu não sabiaque era equiparado a público. Eu não tinha ciência disso” O que ele está alegando? Erro. Qual erro? Erro de tipo ou erro de proibição? Eu pedi para vocês decorarem as duas frases sobre erro de tipo e de proibição! No erro de tipo, ele não sabe o que faz. No exemplo, ele sabia? Sim. No erro de proibição, ele sabe o que faz, mas desconhece que é proibido. No exemplo, ele sabia que era proibido falsificar? Sim, sabia. Então não é nem erro de tipo e nem de proibição? O que é isso? No fundo, acaba não sendo nada, mas a doutrina dá nome: Erro de subsunção. ERRO DE SUBSUNÇÃO Não se confunde com erro de tipo pois não há falsa percepção da realidade. Também não se confunde com erro de proibição, vez que o agente sabe da ilicitude do seu comportamento. 1.CONCEITO Tem previsão legal? Não. É criação doutrinária. Qual é o conceito de erro de subsunção? “Trata-se de erro que se recai sobre valorações jurídicas equivocadas, sobre interpretações jurídicas errôneas. O agente interpreta equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento.” Quem me dá um outro exemplo de um artigo que é perfeitamente possível de ser objeto desse erro? Conceito de funcionário público para fins penais. Eu dei dinheiro para o jurado, mas não sabia que era funcionário público para fins penais. O jurado pega o dinheiro e não sabia que era, ele jurado, funcionário público para fins penais. 2.CONSEQUÊNCIAS Não exclui o dolo, não exclui a culpa. Não isenta o agente de pena. Pode gerar, no máximo, uma atenuante inominada (art. 66, do CP). “Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.” Pode o juiz entender que houve erro de subsunção e aplicar uma atenuante. Terminamos erro de subsunção. Olha a pergunta que eu vou fazer. Eu vou contar um caso, vocês têm que dizer que erro aconteceu e eu vou, ao final, fazer uma observação. Eu tenho um agente federal. Aqui eu tenho um investigador de polícia civil. Eu quero matar o investigador. Por erro, eu acabo matando o agente federal. Que erro que houve? Eu queria matar, os dois estão no local. Por falta de pontaria, matei o agente federal. Que erro foi esse? Erro na execução (art. 73, do CP, aberratio ictus). Qual a consequencia? Eu respondo como se tivesse atingido a vitima pretendida, virtual. Eu pretendia atingir o investigador, atingi o agente, mas respondo como se tivesse matado o investigador (vítima virtual). Até aqui alguma dificuldade? Não, né? Onde vai ser o processo e julgamento? Eu matei um policial federal, mas a vítima considerada (virtual) é um agente estadual. E aí? Quem julga? É a justiça estadual porque a vítima considerada é um agente estadual ou é a justiça federal pois quem morreu foi um agente federal? Competente é a Justiça Federal. Por que? Porque a consequência da aberratio ictus é só para fins penais e não para fins processuais penais. O processo penal trabalha com a vítima real. Só o direito penal trabalha com a vítima virtual. O processo penal, para fins de competência, trabalha com a vítima real. Pena é que trabalha com vítima virtual. Cuidado! A aberratio ictus não se estende para o processo penal. É um instituto de direito penal e não de direito processual penal! O erro de tipo não interfere na competência, que é matéria processual penal! ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO 1.PREVISÃO LEGAL: Art. 20, § 2º “§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro”. 2.CONCEITO: “No erro de tipo, o agente erra por conta própria, por si só. Já no erro determinado por terceiro, há uma terceira pessoa que induz o agente a erro (trata- se de erro não espontâneo).” 3.CONSEQUÊNCIA: “Quem determina dolosamente o erro de outrem, responde por crime doloso. Exemplo: o médico quer matar o paciente. Ele, dolosamente, engana e induz a enfermeira a ministrar a dose errada nesse paciente.” “Quem determina culposamente o erro responde por crime culposo. O médico, negligentemente deu errada a dose para ser ministrada ao paciente. Ele, culposamente induziu a erro a enfermeira, vai responder por homicídio culposo.” Nas duas hipóteses, temos o médico agindo como autor mediato. Veremos esse assunto daqui a umas duas aulas. DELITO PUTATIVO POR ERRO DE TIPO Para terminar erro, está faltando apenas diferenciar erro de tipo, de delito putativo por erro de tipo. Eu dou um tiro, imaginando que era uma pessoa, mas já era um cadáver (delito putativo por erro de tipo). Eu dou um tiro imaginando que era um cadáver, mas era uma pessoa (erro de tipo). No erro de tipo, eu não quero praticar o crime e, sem querer, acabo praticando porque eu ignorava a presença de uma elementar. No delito putativo por erro de tipo, eu queria praticar o crime e acabo não praticando porque eu desconhecia a ausência de uma elementar. Erro de tipo não se confunde com delito putativo por erro de tipo. No erro de tipo, o agente não sabe o que faz. Falta percepção da realidade. No delito putativo por erro de tipo, o agente também não sabe o que faz. Ele também tem uma falsa percepção da realidade. No erro de tipo, o agente imagina estar agindo licitamente. Por exemplo: atirar contra um animal. Ele imagina que está atirando contra um animal. Já no delito putativo por erro de tipo é exatamente o oposto: ele imagina estar agindo ilicitamente. Imagina estar atirando contra alguém. Exatamente o oposto. No erro de tipo, o agente ignora a presença de uma elementar. Ele ignorava a elementar “alguém”. Ele imaginava ser um animal, um bicho, e era alguém. Ele ignorava a presença dessa elementar do homicídio. E o delito putativo por erro de tipo é exatamente o oposto. Se antes ele ignorava a presença de uma elementar, agora ele ignora a ausência de elementar. Ele ignora a ausência de alguém. Ele imaginava que tinha alguém. No erro de tipo, o agente pratica fato típico sem querer. No delito putativo por erro de tipo, que é exatamente o oposto, ele pratica fato atípico sem querer. Erro de tipo: atiro contra o arbusto imaginando esconder o animal. A realidade que eu desconhecia: lá se escondia alguém. Aqui eu pratiquei um fato típico sem querer. Delito putativo por erro de tipo (é só inverter o exemplo): eu atiro contra o arbusto, imaginando esconder alguém. A realidade que eu desconhecia: lá se escondia um animal. Aqui eu pratiquei um fato atípico sem querer. Finalmente terminamos erro de tipo. Vamos agora estudar a próxima espécie de conduta que, nada mais é do que a omissão. c)Conduta COMISSIVA – Crime COMISSIVO Para estudar um crime comissivo temos, antes, que analisar tipo proibitivo. É um pressuposto inevitável para entender o que é crime comissivo. TIPO PROIBITIVO – “O direito penal protege bens jurídicos, proibindo algumas condutas ilícitas (matar, constranger, subtrair, falsificar, etc.).” Tipo proibitivo é aquele você abre, lê e percebe que o legislador está proibindo um comportamento. O tipo proibitivo protege o bem jurídico proibindo alguns comportamentos. “No crime comissivo, o agente infringe um tipo proibitivo praticando a ação proibida.” Isso aqui é a regra no Código Penal, o óbvio. Ninguém pergunta isso, o que cai é o seguinte: d)Conduta OMISSIVA – Crime OMISSIVO Para explicar crime omissivo eu vou ter que explicar que espécie de tipo? Crime omissivo não se refere a tipo proibitivo. Para entender o crime omissivo, temos que analisar o tipo mandamental. TIPO MANDAMENTAL - “O direito penal protege bens jurídicos determinando a realização de condutas valiosas (socorrer, notificar, guardar).” No proibitivo eu proíbo condutas ilícitas. No mandamental,eu determino condutas valiosas. “No crime omissivo, o agente deixa de agir de acordo com o que determinado por lei (é uma inação: não agir como determinado).” Importante: A norma mandamental (norma que manda agir) pode decorrer: a) Do próprio tipo penal – significando que o tipo penal descreve a omissão. Por exemplo, “deixar de”. b) De cláusula geral – aqui a omissão não está descrita no tipo. O dever de agir é que está descrito em norma geral, e não no tipo. O agente vai responder por crime comissivo. Isso é importante. Apesar da omissão, responde por crime comissivo. ESPÉCIES DE TIPO OMISSIVO Quando a norma mandamental decorrer do próprio tipo penal, isto é, quando o tipo descrever a omissão, tenho o chamado tipo omissivo próprio ou puro. Quando a omissão decorre de cláusula geral e apesar de omitir ele responde por ação, tenho o crime omissivo impróprio ou impuro. O que difere um do outro é o tipo de norma mandamental, uma está no tipo e a outra em norma geral. A diferença está na espécie de norma mandamental. Do tipo penal ou da cláusula geral mais especificamente o art. 13, § 2º, do Código Penal. O artigo 13, § 2º nada mais é do que aquela cláusula geral que se você se enquadrar nela, você responde por ação. “§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Diferenças entre omissão PRÓPRIA e omissão IMPRÓPRIA Omissão própria: 1. Se eu falei em dever genérico é porque não tem destinatário certo. Atinge a todos indistintamente. É o dever de solidariedade. 2. Se a omissão está descrita no tipo, estou diante de uma subsunção direta. A omissão se ajusta perfeitamente ao tipo penal. Aqui o tipo penal descreve diretamente a omissão. 3. Crime omissivo puro não admite tentativa. São delitos de mera conduta. Omissão imprópria: 1. Se eu falei que é dever específico, não é dever que atinge, que cabe, a todos, mas personagens especiais. É endereçado a personagens especiais, aqueles referidos no art. 13, § 2º. E isso não só para agir, mas para evitar o resultado típico. 2. Na omissão imprópria, o tipo não descreve a omissão. Estou diante de uma subsunção indireta. Por que subsunção indireta? Eu tenho a omissão e o tipo penal. O problema é que o tipo penal descreve uma ação. Como é que eu posso ajustar a omissão à ação? Não tem como. Eu preciso primeiro passar pelo art. 13, § 2º, para só depois chegar ao tipo penal. Eu preciso da norma geral para chegar no tipo penal. Daí subsunção indireta. 3. O crime omissivo impróprio concorre com o crime comissivo. Admite tentativa. Agora vamos colocar toda a teoria na prática: você se deparou na prova com uma omissão. É própria ou imprópria? Para responder isso, basta perguntar o seguinte: o omitente se encaixa no art. 13, § 2º? Sim. Pronto. É omitente impróprio e responde pelo resultado como se tivesse praticado a infração. O omitente não se enquadra no art. 13, §2º? Não. Então não é omissão imprópria. Tem que ter tipo penal específico, senão não é crime. Olha como fica fácil: vamos imaginar alguém que se omita diante de um menino agonizando e não faz nada. Que crime praticou? Vocês primeiro têm que perguntar o seguinte: Essa pessoa que estava vendo e não fez nada se enquadra no art. 13, §2º? Se ela se enquadrar, e o menino morrer, ela vai responder por homicídio. Se ela não se enquadrar e omitiu socorro, tem algum tipo que descreve omissão de socorro? Tem. É omissão de socorro. Se quem se omite é o pai, ele é omitente impróprio e responderá por homicídio. A pessoa que está olhando, de algum a forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (era a babá) ou quem olhando e não está fazendo nada, foi quem empurrou. Se o omitente se enquadra em uma das três alíneas, ele é um omitente impróprio e vai responder por homicídio (doloso ou culposo, dependendo do animus dele). Se ele se enquadra em uma dessas alíneas a doutrina diz que ele é garante ou garantidor. Ele não é um simples omitente. Agora, se não é garante ou garantidor porque não se enquadra em nenhuma das alíneas, o fato de ele não socorrer, tem um tipo penal específico que é a omissão de socorro, aí ele é omitente próprio. Numa comarca do interior uma professora levou dois alunos para conhecer uma caverna. Ela se descuidou, não vigiou os meninos e um deles bateu a cabeça e morreu. Houve uma omissão. Ela tinha o dever de cuidado. A omissão dela é própria ou imprópria? Vcs conseguem enquadrá-la em alguma das alíneas do art. 13, § 2º? “§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.” OMISSÃO PRÓPRIA OMISSÃO IMPRÓPRIA 1. O agente tem um dever genérico de agir 1. O agente tem um dever específico de evitar o resultado. 2. A omissão está descrita no tipo – Subsunção direta. 2. O tipo não descreve a omissão – Subsunção indireta. 3. Não admite tentativa – são delitos de mera conduta. 3. Admite tentativa. Essa professora, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Essa professora é uma garantidora e vai responder por homicídio, no caso, culposo, mas vai responder por homicídio. (Fim da 1ª parte da aula) 3)Conduta MISTA – Crime de CONDUTA MISTA Há crimes que no tipo penal exigem do agente ação e omissão. Não basta agir, também tem que omitir. Não basta agir, também tem que omitir. É um tipo penal específico que traz os dois núcleos, o comissivo e o omissivo para configurar o delito. Exemplo: art. 169, § único, II (apropriação de coisa achada): “Apropriação de coisa achada” “II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente (AÇÃO), deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente (OMISSÃO), dentro no prazo de quinze dias.” É uma ação seguida de omissão: crime de conduta mista. Há outro exemplo: Apropriação indébita previdenciária (art. 168-A): “Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:” Neste caso, eu tinha primeiro uma ação (recolhimento), depois, deixo de repassar (omissão). Há divergência doutrinária neste caso porque há autores que enxergam o crime do art. 168-A só como omissivo. Mas eu acho que está muito claro que há as duas condutas, uma omissiva e outra omissiva. Ação seguida de omissão. Com isso, terminamos conduta. Quando se fala em crime, mais especificamente em fato típico, o seu primeiro substrato, o assunto conduta, você já aprendeu. Pode perguntar o que for, sobre conduta, que vocês terão no caderno. Agora, vamos para o resultado, ou seja, o segundo requisito do fato típico. 3. FATO TÍPICO: 2º ELEMENTO: RESULTADO 3.1. ESPÉCIES de Resultado Quando falamos em resultado, temos que lembrar das duas espécies: a) Resultado NATURALÍSTICO (ou MATERIAL) – “Da conduta resulta efetiva alteração física no mundo exterior. Exemplo: morte, diminuição patrimonial, falsidade documental, etc.”. b) Resultado NORMATIVO (ou JURÍDICO) – “Da conduta resulta lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado”.3.2. CLASSIFICAÇÃO doutrinária do crime quanto ao Resultado a) Crime MATERIAL – No crime material, o tipo penal descreve conduta mais resultado naturalístico. A ocorrência resultado naturalístico é indispensável para a consumação. Exemplo: homicídio. b) Crime FORMAL – No crime forma, o tipo penal também descreve conduta mais resultado naturalístico. Porém, cuidado! Aqui, o resultado naturalístico é dispensável. É mero exaurimento do crime. Por que? Porque o crime se consuma com a conduta. A consumação se dá com a conduta. Por isso é chamado de crime de consumação antecipada. O que o juiz faz com o exaurimento? Enfia na pena. Exemplo: Extorsão (se consuma com a exigência). Recebendo a vantagem indevida, é mero exaurimento. c) Crime DE MERA CONDUTA – O tipo penal descreve uma mera conduta. Não descreve resultado naturalístico. É o chamado crime de mera atividade. Eu não digo que não possa existir de fato, mas juridicamente, não consta do tipo penal. Quem me dá um exemplo? Omissão de socorro, violação de domicílio, etc. Porte ilegal de arma é crime de mera conduta? Sim. Todos os crimes têm resultado naturalístico? É algo inerente a todo e qualquer crime? Não. Crime material tem e exige. Crime forma tem, mas dispensa. Crime de mera conduta, sequer tem. Então, verdade insofismável: Nem todos os crimes têm resultado naturalístico. Tem algum crime que não tem resultado jurídico? Se é verdade que nem todos os crimes tem resultado naturalístico, todos os crimes têm resultado jurídico. Não há crime sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. O crime material, o formal e o de mera conduta todos têm resultado normativo. É um elemento comum. A última pergunta para acabar o estudo do resultado (e ir para relação de causalidade) eu pergunto o seguinte: Do que é feito o fato típico? O crime é constituído de fato típico, que é composto de conduta, resultado, nexo e tipicidade. Quantos resultados vocês conhecem? Dois, um naturalístico e um jurídico. Qual dos dois integra o fato típico? Olha a pergunta da Magistratura Federal: “Qual resultado integra o fato típico?” E a resposta que o examinador queria era a seguinte: 1ª Corrente – Só o resultado naturalístico. É o que vocês vão encontrar na maioria dos manuais. Se é resultado naturalístico, eu tenho que diferenciar o fato típico no crime material do fato típico no crime formal ou de mera conduta. E por que? Se o crime é material, será constituído de conduta, resultado e nexo (o que une conduta e resultado) e tipicidade. Agora, se o crime é formal ou de mera conduta, ele é constituído só de conduta, não tem resultado, não tem nexo e só a tipicidade. O crime material tem o fato típico com quatro requisitos. O formal e o de mera conduta é constituído de dois requisitos: conduta e tipicidade, mais nada. Vocês vão encontrar isso em diversos manuais. 2ª Corrente (doutrina moderna funcionalista) – Para essa segunda corrente, a tipicidade formal só é constituída de resultado naturalístico. Porém, a tipicidade material, é constituída de resultado normativo. Então, na tipicidade material não importa se o crime é material, não importa se o crime é formal e não importa se é de mera conduta. Para a tipicidade material, não importa nada disso porque será sempre constituído de conduta, resultado normativo, nexo e tipicidade. Para a primeira corrente, o resultado que integra o fato típico é só o naturalístico e, com isso, ela diferencia os componentes do fato típico no crime material e no não material. Já a segunda corrente diz: Um momento, a tipicidade formal é só constituída de resultado naturalística. Então, aqui estão certos, mas na hora que você analisar a tipicidade material, verá que ela depende do resultado normativo. O fato típico, então, não importa se é material, formal ou de mera conduta porque ele é composto de conduta, resultado, nexo e tipicidade (E o Luiz Flávio ficou três horas e meia explicando para vocês tipicidade material e tipicidade formal). Com isso, terminamos resultado e vamos para a relação de causalidade. 4. FATO TÍPICO: 3º ELEMENTO: RELAÇÃO DE CAUSALIDADE “É o nexo causal, vínculo entre conduta e resultado. O estudo da causalidade busca concluir se o resultado, como um fato, ocorreu da ação e se pode ser atribuído, objetivamente (e juridicamente, ao sujeito ativo), inserindo-se na sua esfera de autoria por ter sido ele o agente do comportamento”. Já foi dissertação de concurso: relação de causalidade. Não tem como começar a falar disso, sem dar o conceito. O nexo de causalidade existe em qualquer crime? É requisito essencial de qualquer crime? O nexo causal é requisito essencial do crime? 1ª Corrente: Não. Só nos materiais. Essa primeira corrente diz que o nexo causal só existe nos crimes materiais. Por que? Porque crime formal e de mera conduta só tem conduta e tipicidade. Ela está dizendo que o nexo causal é sempre naturalístico. 2ª Corrente: Vai dizer o seguinte: O nexo causal nem sempre está presente na tipicidade formal. Porém, o nexo causal (normativo) é requisito da tipicidade material. A segunda corrente reconhece também o nexo causal normativo, que é requisito da tipicidade material. 4.1.PREVISÃO LEGAL – Art. 13, do CP: Relação de causalidade “Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. O art. 13 do Código Penal acabou tratando da causalidade de forma simples. Se você perguntar o que é causa, é simples: é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Esse artigo, quando trata do nexo de causalidade, adotou a causalidade simples. 4.2.TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS ou TEORIA DA CONDITIO SINE QUA NON “O art. 13, caput, do Código Penal, adotou a causalidade simples, generalizando as condições, é dizer, todas as causas concorrentes se põem no mesmo nível de importância equivalendo-se em seu valor (Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais também chamada de Teoria da 'Conditio Sine Qua Non').” Alguém te pergunta: O que é causa? O Código Penal responde: “Simples. A causa do resultado morte é todo comportamento (ação e omissão) anterior sem o qual o resultado não teria ocorrido.” ou seja, adotou a Teoria da Conditio Sine Qua Non. O que foi causa do resultado morte? Tudo aquilo que antecedeu e sem o qual não teria ocorrido. Aí alguém pergunta: “Mas como saber qual foi o comportamento determinante para o resultado?” Como que eu vou saber? A conditio sine qua non, sozinha não responde isso. Então, temos que adicionar à teoria da conditio sine qua non, a Teoria da Eliminação Hipotética dos Antecedentes Causais. Agora, sim, somando uma teoria com a outra, você vai saber o que é causa. 4.3.TEORIA DA ELIMINAÇÃO HIPOTÉTICA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS O que é causa? O CP diz: É toda ação ou omissão sem a qual o resultado não ocorreria. Como é que eu vou saber qual foi ou não determinante? Vc vai eliminar hipoteticamente o comportamento dos antecedentes causais. E pergunta: eliminando o resultado, aconteceria? Se a resposta for positiva, então ele não foi determinante, não é causa. Eliminando o resultado muda? Muda! Então foi causa. O que é causa? É tudo o que antecede o resultado sem o qual não teria ocorrido. Teoria da Eliminação Hipotética dos Antecedentes Causais - “No campo mental da suposição e da cogitação, o aplicador deve proceder à eliminação da conduta para concluir pela persistência ou desaparecimento do resultado. Persistindo, não é causa. Se o resultado persiste, não é causa, desaparecendo, é causa.” Eu acho que aí fica tranquilo. Para vocêsaber o que é causa de um resultado, o Código Penal acaba exigindo a soma das duas teorias. Quando ele fala em ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, como é que eu vou saber se o resultado ocorreria ou não ocorreria? Se eu elimino a sua conduta e o resultado persiste, significa que a sua conduta não tem influência no resultado, então ela não é causa do resultado. Agora, se eu elimino a sua conduta e o resultado desaparece é porque sua conduta deu causa ao resultado. Exemplo: Antes do envenenamento, eu tenho: 1) comprei o veneno; 2) comprei o bolo; 3) misturei o bolo + veneno; 4) tomei um suco de laranja; 5) eu servi o bolo para a vítima que morreu envenenada. O que foi causa da morte da vítima? O Código diz: tudo aquilo que antecedeu a morte, sem o qual a morte não teria ocorrido. Como eu vou saber? Vc vai pegar cada um dos cinco comportamentos e eliminar hipoteticamente. Vamos lá: eliminando a compra do bolo, eliminaria o resultado? Não porque ele comeu o bolo. Então, é causa. Eliminando a compra do veneno, ele deixaria de morrer como morreu, então é causa. Tudo é causa. Menos tomar o suco. Então, o que acontece: dos cinco antecedentes causais, você só consegue eliminar o suco. Crítica que se faz a essas duas teorias: Eu parei na compra do veneno, mas poderia ir até o pai e até a mãe do agente! Eliminando o pai e a mãe do Beira-Mar, ele não nasceria. E nem por isso eu posso dizer que os pais dele são a causa de tudo o que ele faz. Levando isso ao infinito, chegamos até Adão e Eva. A crítica que se faz a essa teoria é o seguinte: Ela faz com que a causalidade objetivamente regresse ao infinito. É óbvio que o pai e a mãe do Fernandinho não vão responder pelo crime porque não agiram com dolo ou culpa, mas objetivamente, são causa. Presta atenção: eu tenho que diferenciar a causalidade objetiva da causalidade psíquica. Para a objetiva, basta o nexo causal. Para a causalidade psíquica, o dolo e culpa. Somente depois de somar nexo causal com dolo e culpa é que chego na responsabilidade. Mas presta atenção: objetivamente, são causa do resultado. Não serão responsáveis porque não agiram com dolo e culpa. Mas objetivamente, ela regressa ao infinito. Qual é a crítica que fazem? Essa teoria regressa ao infinito. E quem nasceu para evitar o regresso ao infinito? Roxin! Teoria da Imputação Objetiva! Nasceu para evitar o regresso ao infinito da causalidade objetiva. 4.4.TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA Essa teoria serve para colocar um filtro na causalidade. Para o juiz não precisar analisar dolo e culpa. Já mata o problema na causalidade objetivo. Ela se insurge contra o regresso infinito. E como que ela se insurge? Na prática é o seguinte: o que ela faz? Ela incrementa. Ao lado da doutrina clássica (aqui não é a causalista, vamos dizer que seja a finalista), eu coloco a teoria da imputação objetiva. Eu separei a causalidade em causalidade objetiva e causalidade psíquica. Somente quando somar a causalidade objetiva com a psíquica é que eu tenho responsabilidade. Para a doutrina clássica, a causalidade objetiva e formada do quê? Só precisa do nexo causal. Por isso, é que ela corre o risco de regressar ao infinito. Depois do nexo causal, ela analisa dolo e culpa. E o que faz a imputação objetiva? Ela se insurge contra essa simplicidade. O que ela faz? Ela diz o seguinte: não há dúvida que o nexo causal existe na causalidade objetiva, é importante na causalidade objetiva. Mas não pode ser só o nexo causal. Ao lado do nexo causal, que é mera relação de causa e efeito, eu preciso definir o nexo normativo. Olha só a diferença! O nexo causal, essa mera relação de causa e efeito, existe, mas não basta. Além dele, para se cogitar da causalidade objetiva eu preciso estudar o nexo normativo. E o que vem a ser isso? Nexo normativo é a criação ou incremento de um risco não permitido. O que significa isso? A criação ou o incremento de um risco que a sociedade não tolera. É só disso que é formado o nexo normativo? Não. Ele precisa ainda de risco dentro do resultado provocado. O que é isso? O resultado deve estar dentro da linha de desdobramento causal normal da conduta. A realização do risco dentro do resultado provocado é o resultado dentro da linha de desdobramento causal normal do risco. O que a imputação objetiva fez? Ela só fez isso: acrescentou o nexo normativo, um filtro, antes de chegar no dolo e na culpa. Vamos analisar a conduta do homicida no exemplo do bolo com veneno. Vamos ver se a imputação objetiva muda algo com relação ao agente que misturou o bolo com o veneno. Pela doutrina clássica, misturou o bolo com o veneno, ministrou para alguém, vai responder pelo crime? Tem nexo causal? Se ele não misturasse o bolo com o veneno a vítima não morreria, então tem nexo causal. Basta isso, para responder pelo crime? Não. Isso já foi suficiente para dizer que ele foi causa do resultado, mas a causalidade psíquica precisa de dolo e culpa. Ele agiu com dolo? Agiu. Para a doutrina clássica ele responde por homicídio. E para a imputação objetiva, muda alguma coisa? Se tinha nexo causal, lá, não deixa de existir aqui. O nexo é o mesmo, só que aqui ele não é um só. Ele é um dos requisitos. Tem nexo causal na conduta do homicida? Tem. Basta isso para causalidade objetiva? Não. Antes de ir para o dolo e para a culpa, tenho que analisar o nexo normativo. Pergunto: dar veneno no bolo para alguém você está criando ou incrementando um risco que a sociedade não tolera? Está. Basta isso? Não. Você ainda precisa do quê? O risco que você criou está dentro do resultado? Ele morreu decorrente desse envenenamento? Morreu envenenado. Está na linha de desdobramento normal causal de envenenamento? Está ou não está? Está. Então tem nexo causal e tem nexo normativo. Agora, eu já posso dizer que a causalidade objetiva está perfeita. Ele agiu com dolo? Agiu. Eu pergunto: mudou alguma coisa para ele da imputação objetiva para a clássica (não é a clássica causalista, é a clássica finalista)? Não. Agora, vamos ver o comportamento da tia boleira, da tia que vendeu o bolo. Vamos olhar para a teoria clássica. Se eu eliminar do mundo a tia boleira, ele morreria como morreu? Não. Ele não morreria. Então, a tia boleira é causa do resultado. Ela só não vai responder porque não agiu com dolo ou culpa. Eu, MP, vou intimar a tia boleira e dizer que ela causou a morte da vítima. Objetivamente ela matou (o bolo dela fez isso). Subjetivamente é que não. Vocês entenderam a doutrina clássica? É contra isso que se insurge a imputação objetiva, você jogar o dedo na cara de alguém e dizer que foi causa do resultado. Vamos ver se melhora para a tia boleira com a imputação objetiva: se havia nexo causal, na teoria clássica, aqui é o mesmo nexo causal, com a diferença de que lá, para a teoria clássica era suficiente. Na imputação objetiva eu tenho que perguntar se ela agiu com nexo normativo. O fato de ela fazer um bolo criou ou incrementou algum risco não permitido pela sociedade? Não. Então, não tem nexo normativo. Mesmo tendo nexo normativo, eu não vou perquirir o dolo e a culpa. Eu já digo que ela não foi causa do resultado, nem objetivo. Olha que interessante essa questão: um assaltante assalta um homem e, na reação, mata o homem. Ligam para a esposa da vítima e dizem que o marido morreu vítima de um latrocínio. Ela tem um ataque cardíaco e morre. O latrocida responde pela morte da esposa? A doutrina clássica vai dar uma resposta, a imputação objetiva vai dar outra. O finalismo vai dizer o seguinte: se ele não tivesse matado o marido, ela não teria morrido, então o latrocida faz presente o nexo causal. Ele só não vai responder pela morte dela porque não agiu com dolo ou culpa, mas foi causa objetiva. A imputação objetivavai dizer: espera um pouco. Que ele foi causa física, eu não tenho dúvida. Eu tenho dúvida se ele foi causa normativa. Aí eu pergunto: assaltar uma pessoa e matar é um risco que a sociedade não tolera? É, claro. Então ele criou um risco não permitido. Agora eu pergunto: é desdobramento normal de um assalto a esposa morrer com a notícia? O risco que ele criou no latrocínio está dentro da morte da esposa? Não. Então, não estando dentro da linha de desdobramento causal normal, o latrocida sequer foi causa da morte da esposa. Eu consegui aplicar isso na prática em um caso só em dez anos de MP. Esse caso é emblemático. Vocês se lembram que em Vinhedo, no Hopi Hari, um rapaz entrou num brinquedo, teve um choque anafilático e morreu? O brinquedo solava uma fumaça para simular gelo seco. Esse jovem em contato com a fumaça, desencadeou uma reação em seu organismo, teve um choque anafilático e morreu. A perícia apurou o seguinte: esse jovem estava com início de pneumonia, com o pulmão fragilizado. O jovem sabia do quadro. Comportamento dos dirigentes do Hopi Hari, de acordo com a doutrina clássica. Se eu retirasse aquela fumaça, ele teria morrido? Não. Então, Hopi Hari foi a causa. Que foi causa física eu não tenho dúvida. Mas o Hopi Hari criou ou implementou o risco não permitido? Ou, na verdade, o jovem se autocolocou em risco, sabendo que estava em início de pneumonia. A autocolocação da própria vítima em risco não tem nexo normativo, exclui a causalidade objetiva, exclui o nexo do agente e isso não existe na doutrina clássica. Anotem, então, o que é a teoria da imputação objetiva: “Insurgindo-se contra o regresso ao infinito decorrente da causalidade simples, a teoria da imputação objetiva enriquece a relação de causalidade acrescentando o nexo normativo, este composto de: a) criação ou incremento de um risco não permitido; b) risco realizado no resultado provocado (resultado na linha de desdobramento causal normal da conduta).” Caiu em concurso: a imputação objetiva substitui o nexo causal? Não. Ela complementa o nexo causal. A imputação objetiva não substitui o nexo causal, apenas o complementa. Rogério Greco extrai algumas conclusões importantes: 1ª Conclusão: “A imputação objetiva é uma análise que antecede a imputação subjetiva (dolo e culpa).” 2ª Conclusão: “Pode-se dizer imputação objetiva quanto ao resultado ou comportamento do agente”. A imputação objetiva analisa, tanto o comportamento do agente quanto o resultado. 3ª Conclusão: “Foi criada para se contrapor aos dogmas da Teoria da Equivalência, erigindo uma relação de causalidade jurídica ou normativa.” 4ª Conclusão: “Uma vez concluída pela não- imputação da causa objetiva, afasta-se o fato típico. Trata-se de um corretivo o nexo causal.” Iter Criminis Conceito A expressão inter criminis significa caminho do crime, portanto, entende-se por iter criminis o conjunto de fases ou atos, que se sucedem para o alcance do intento criminoso. Melhor dizendo, é p conjunto de fases pela qual passa o crime desde a sua fase puramente mental até a sua realização final. Mas isso só server para os crimes dolosos, pois é o único que identifica as fases. O iter criminis, segundo a maior parte da doutrina, é composto de 4 fases: 1ª Cogitação; 2ª preparação; 3ª execução; e 4ª consumação. Fases do Inter criminis: a) Cogitação: É a fase puramente mental, quando idealiza o crime. Não é punível no Direito penal, ou seja, não constitui um fato punível. b) Atos preparatórios: Encontramos no art. 31 CP: Art. 31. “O ajuste, a determinação ou instigação e o auxilio, salvo disposição expressa em contrario, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”. São externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva; arma-se dos instrumentos necessários para a pratica da infração penal como, por exemplo, procurar o local mais adequado ou a hora mais favorável para a realização do crime, quando começa a se municiar para praticar o crime, procurar um carro para furtar, entre outros. Em regra não são puníveis, mas tem duas exceções, que são: - Quando elevados à categoria de crimes autônomos (ex.: arts. 252, 253, 288 CP). - Concurso de pessoas, na modalidade participação (ex.: art. 29 CP) c) Atos executórios (tentativa e/ou consumação): É diretamente a pratica do delito. É a realização do núcleo jurídico. Sempre constitui fato punível. Pode ser de duas formas: Crime tentado (art. 14, II CP) e Crime Consumado (art. 14, I CP). d) Consumação: É o momento que, de fato, ocorre o crime. É a realização completa do tipo penal. Está no art. 14, I do CP. Violência Doméstica Significado de violência doméstica Conforme dispõe o parágrafo 9º do artigo 129 do código penal, violência doméstica é toda lesão praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo- se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou seja, deverá ser aplicado não somente aos casos em que a mulher for vítima, mas a todas as pessoas, sejam do sexo masculino ou feminino, que se moldarem às situações narradas pelo tipo. A violência doméstica não é atual, ocorre desde a antiguidade, mas negligenciávamos esse fato, tratávamos como problema familiar. Em 17 de junho de 2004 o Estado tutelou a violência doméstica acrescentando os §§ 9º e 10 ao artigo 129 pela lei 10.886, tratando não mais como um problema de família e sim um delito. Consequências da violência doméstica Além das marcas físicas, a violência doméstica causa sérios danos emocionais. Normalmente é na infância que são moldadas grande parte das características afetivas e de personalidade que a criança carregará para a vida adulta. As crianças aprendem com os adultos, primeiramente dentro de seus lares, esse aprendizado alicerça a formação do caráter e personalidade do indivíduo em relação à sociedade. As noções de direito e respeito aos outros, a própria auto- estima, as maneiras de resolver conflitos, frustrações ou de conquistar objetivos, tolerar perdas, enfim todas as formas de se portar diante da existência são profundamente influenciadas durante a idade precoce. É assim que muitas crianças abusadas, violentadas ou negligenciadas na infância se tornam agressoras na idade adulta. Alguns indícios de mau desenvolvimento de personalidade podem ser observados em idade precoce. Algumas dessas características podem ser manifestadas por dificuldades para se alimentar, dormir, concentrar-se. Essas crianças podem começar a se mostrarem exageradamente introspectivas, tímidas, com baixa auto- estima e dificuldades de relacionamento com os outros, outras vezes mostram-se agressivas, rebeldes ou, ao contrário, muito passivas. Os tipos de violência A violência doméstica divide-se em 3 tipos: Violência física: Consiste basicamente no uso da força com o objetivo de magoar, e deixar ou não marcas evidentes. São comuns murros e chapadas, agressões com diversos objetos e queimaduras por objetos ou líquidos quentes. Quando as vítimas são homens, normalmente a violência física não é praticada diretamente. Tendo em vista a habitual maior força física dos homens, havendo intenções agressivas, esses fatos podem ser cometidos por terceiros, como por exemplo, parentes da mulher ou profissionais contratados para isso. Violência psicológica: A Violência Psicológica ou a Agressão Emocional, às vezes é igual ou mais prejudicial que a física. É caracterizada pela rejeição, discriminação, humilhação e desrespeito exagerados. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes profundas para toda a vida. Violência verbal:A violência verbal está diretamente relacionada com a violência psicológica. Alguns agressores verbais dirigem os seus insultos contra outros membros da família, principalmente em momentos em que estes estão na presença de estranhos. Em consequência da sua menor força física a mulher tende-se especializar na violência verbal, mas, de fato, esse tipo de violência não é um direito exclusivo das mulheres. Fato típico O fato típico é iniciado por uma conduta humana que é produtora de um resultado naturalístico, aqui há um elo que liga a conduta do agente ao resultado (nexo causal), e por fim, que esta conduta se enquadra perfeitamente ao modelo abstrato da lei penal (tipicidade). Portanto o fato típico é composto de conduta,resultado,nexo causal e tipicidade: Conduta: - Os crimes omissivos podem ser: omissivos próprios (ou puros, ou simples) e omissivos impróprios (ou qualificados, ou comissivos por omissão). - Os crimes omissivos próprios não exigem qualquer resultado para sua configuração, basta que o autor se omita. Ex: omissão de socorro, abandono material e intelectual, etc. - Já para qualificar o crime omissivo impróprio é preciso que o agente possua um dever de agir para evitar o resultado, um status de garantidor de não-ocorrêcia do resultado. |> CP, 13, p.2º. Resultado: - teoria da equivalência dos antecedente, "Conditio sine qua non" – causa é tudo aquilo que provocou o resultado, |> CP, 13. Crime materiais = São aqueles crimes que produzem resultado Crimes de mera conduta = O resultado não existe Exemplo: ameaça e extorsão. Crime formal = O resultado existe, mas não faz parte do iter criminis. O resultado aqui é chamado de exaurimento, é o que passa da consumação. O nexo causal é dispensado, por que não é necessário que ocorra o resultado. Exemplo: falsidade de moeda, ainda que a moeda falsa não venha a circular Teoria adotada: Teoria do resultado naturalístico = Resultado é toda modificação ocasionada pela conduta. Tudo aquilo que contribui para o resultado é causa, por exemplo, da compra da arma à hemorragia. A refeição do criminoso, se a eliminarmos hipoteticamente, o resultado não muda. Então a refeição do homicida não é causa do resultado. A adoção dessa teoria, segundo parte da doutrina levaria ao regresso ad infinito. Não atrapalha, no entanto, por que só responderá pelo crime quem agir com dolo ou culpa |> 13, p.1º - teoria adotada excepcionalmente = Teoria da causalidade adequada = causa do resultado será todo ato idôneo a praticar o resultado. A produção da arma não seria causa do resultado para essa teoria. Não adotada no Brasil: Teoria da imputação objetiva - da não imputação do resultado, por que não se vê dolo, nem culpa -> baseia-se no risco produzido ou no risco não-ponderado pela sociedade -> além do risco, o resultado deve estar no âmbito da conduta, é necessário que o resultado decorra naturalmente da conduta Ex : Taxi leva fulano para ele matar -> taxista não responderia pelo crime. Ex2: Pede para o padeiro por arma no pão -> padeiro não responderia Ex3: Tiro no pé e morre de infecção hospitalar -> não responderia, há o risco proibido, mas não é lógico que um tiro no pé leve a morte por infecção hospitalar. “nem tudo que foi mecanicamente causado pode ser imputado ao agente, como fato pertencente a ele. Aquilo que se causa no contexto de um risco permitido (autorizado, razoável) não é juridicamente desaprovado, logo, não é juridicamente imputável ao agente”.- Essa teoria afirma que a conduta só é penalmente imputável quando cria ou incrementa um risco proibido e o resultado só pode ser imputável ao a gente quando é decorrência direta desse risco. - Objetiva limitar o alcance da teoria da equivalência dos antecedentes causais; - Deve ser observada não uma causalidade natural, mas sim uma causalidade jurídica, normativa: Não basta que o resultado tenha sido produzido pelo agente, mas que a ele possa ser imputado juridicamente; A imputação objetiva exclui a tipicidade da conduta quando o agente se comporta de acordo com o seu papel social, ou, mesmo não o fazendo, o resultado não se encontra dentro da linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, não está conforme ao perigo. Nessa visão, nota-se que a imputação objetiva se restringe aos crimes materiais e comissivos, uma vez que foi criada para aumentar as exigências no estabelecimento do nexo causal. O Nexo causal não existe nos crimes omissivos, nem nos de mera conduta, e é irrelevante para os formais. Exemplos em que o resultado não pode ser imputado ao agente: a) Quando o agente diminui o risco Ex: Uma pedra vem caindo sobre a cabeça de A e B o empurra, evitando desfecho mais gravoso. A não morre, mas se machuca. b) Quando o risco criado é irrelevante e o resultado almejado acontece em decorrência do acaso. Ex: Sobrinho deseja a morte do tio e lhe dá uma passagem aérea para ir aos EUA, torcendo para que no avião tenha um terrorista. O avião cai em razão de um ataque. Não responde, porque o fato de dar a passagem não gerou um risco relevante. c) Quando a conduta do agente não aumenta o risco de ocorrência do resultado.Não aumento de risco permitido: Ex: Operários morrem infectados por manusearem pelos de cabra que o patrão não providenciou a desinfecção desses. Depois prova-se que todos os esforços para desinfetar fossem tomados, o resultado ocorreria. Fato atípico, agente não responde. d) Quando a conduta do agente não afronta a esfera protetiva da norma. Não infringência da esfera de proteção da norma: Se a conduta do agente não afrontar a finalidade protetiva da norma, não poderá ser incriminado pelo fato. Ex: A atropela e mata, por negligência, B. Sabendo da morte do filho, a mãe de B sofre um infarto e morre. A não responde pela morte da mãe. 2º) Intervenções médicas terapêuticas ou curativas: o médico quando realiza uma intervenção médica curativa seguindo rigorosamente a lei da medicina cria riscos para o paciente, porém, riscos permitidos. 3º) Lesões esportivas: todas as lesões ocorridas dentro do esporte e de acordo com as regras do esporte derivam de riscos permitidos (mesmo no boxe, morrendo um dos boxeadores, não há que se falar em delito). Nexo Causal Conditio sine qua non ou equivalência dos antecedentes; a causa superveniente relativamente independente exclui a imputação Superveniência causal Causas dependentes = Aquelas que se inserem dentro do nexo causal. Causas independentes = Fora do nexo causal Absolutamente independentes = Totalmente alheia a conduta do agente: O agente não responderá pelo resultado, mas responde pelos atos praticados. Ex: tenta matar morto por envenenamento Relativamente independentes = Pré-existente (hemofilia, o agente responde pelo resultado), "Na causa o resultado é imputável ao agente, uma vez que, sendo excluída hipoteticamente, permanece o resultado. Ex: uma pessoa hemofílica é ferida e morre em face da complicação dos ferimentos decorrente da hemofilia. O resultado morte é imputado ao agressor uma vez que, pela eliminação hipotética, o resultado permaneceria, já que houve uma soma de esforços, ou de energias que serviram para incrementar a morte." (José Carlos Gobbis Pagliuca) Concomitante (ataque cardíaco, o agente responde pelo resultado), "Também não exclui o resultado, imputando-se o fato ao agente. A atira em B, que está, naquele mesmo instante, sofrendo um ataque cardíaco, demonstrando-se, depois, que o tiro contribuiu diretamente para o resultado morte, acelerando o colapso." (José Carlos Gobbis Pagliuca) Superveniente = Na superveniente é adotada a teoria da causalidade adequada – 13, p. 1º - quando a condição suspensiva por si só leva ao resultado, agente não responde, responde apenas pelos atos já praticados. Exemplo: Pessoa leva um tiro,a ambulância bate e pessoa morre de traumatismo craniano ou hospital pega fogo e vítima morre queimada => houve ruptura do nexo causal, não há responsabilidade do agente. "exclui a imputação do resultado se a causa superveniente (e somente esta, porque as preexistentes e as concomitantes já são absolutas) sozinha, isoladamente, sem qualquer interferência, der razão ao resultado. Assim temos v.g.: Uma vítima de agressão vem a morrer porque a enfermeira, impudentemente, ministrou-lhe o medicamento tóxico ao invés do corretamente prescrito. Logo, a segunda causa, ou seja, a superveniente não está na linha de desdobramento físico natural da causa do resultado morte. Ou ainda, alguém é ferido e levado a um pronto-socorro que vem a desabar, morrendo o ferido exclusivamente em razão do desabamento. A expressão por si só não é absoluta, mas compreende nosso sentido de interpretação, pois nunca estará, num processo causal, totalmente isolada. Por isso, a excluímos quando acreditamos que não esteja no itinerário do resultado, existindo, na verdade, uma interrupção ou exclusão da causalidade remota. remota, a lesão. Assim, por si só foi " (José Carlos Gobbis Pagliuca) Questão CESPE: Diógenes desferiu, com animus necandi, golpes de faca em Jacó e fugiu do local dos fatos. Jacó foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao hospital, onde foi constatado que as lesões sofridas não eram graves, tendo sido a vítima submetida a rápido procedimento médico e liberada em seguida. Entretanto, Jacó faleceu dois dias após o atendimento médico. Feita a perícia, comprovou-se a morte por infecção generalizada decorrente de contaminação por bactéria encontrada nos instrumentos hospitalares. Nessa situação, como todos os fatos que antecederam o resultado foram indispensáveis à sua ocorrência, evidenciando-se a relação de causalidade entre as lesões sofridas e o resultado morte, de acordo com a teoria da equivalência dos antecedentes causais, adotada pelo Código Penal brasileiro, Diógenes deve responder por homicídio consumado. Comentários: No estudo da teoria da equivalência dos antecedentes causais, adotada pelo Código Penal brasileiro, sobressai a análise das causas dependentes e independentes, justamente a abordagem do enunciado da questão. As causas independentes são aquelas que aparecem no curso do nexo causal, diferenciando- se das causas dependentes, porque não se inserem na linha do normal desdobramento causal. Podem ser absolutamente ou relativamente independentes. As causas absolutamente independentes não possuem relação alguma com a conduta do agente; enquanto as causas relativamente independentes guardam relação com a conduta do agente. As causas relativamente independentes podem ser preexistentes, concomitantes e supervenientes. Em regra, por serem apenas relativamente independentes, não excluem a responsabilidade pelo resultado gerado. Somente as causas relativamente independentes supervenientes, que por si só produziram o resultado, nos termos do §1.°, do art. 13, do Código Penal, excluem a responsabilidade penal pelo resultado causado. Surge, portanto, a seguinte dúvida: A infecção hospitalar é causa relativamente independente superveniente que, por si só, gerou o resultado ou apenas causa dependente? Em outras palavras, a infecção hospitalar é causa superveniente ou apenas um desdobramento natural da lesão causada pelo agente? Duas são as orientações sobre o tema: 1.ª corrente (posição majoritária) – A infecção hospitalar é mera causa dependente, proveniente do desdobramento causal da conduta; 2.ª corrente (minoritária) – a infecção hospital é causa relativamente independente superveniente, devendo se verificar se por si só gerou o resultado para saber se a responsabilidade por este será excluída. A orientação majoritária é a adotada pelo Superior Tribunal de Justiça: “O fato de a vítima ter falecido no hospital em decorrência das lesões sofridas, ainda que se alegue eventual omissão no atendimento médico, encontra-se inserido no desdobramento físico do ato de atentar contra a vida da vítima, não caracterizando constrangimento ilegal a responsabilização criminal por homicídio consumado, em respeito à teoria da equivalência dos antecedentes causais adotada no Código Penal e diante da comprovação do animus necandi do agente.” (STJ HC 42559 / PE DJ 24/04/2006). Tipicidade conglobante: 1) Conduta deve ser anti-normativa -> contrária ao direito. 2) Deve haver tipicidade material-> deve haver relevância para o direito. Ex: Roubar pasta de dente – não é relevante para o direito. NOS CASOS DE INSIGNIFICÂNCIA EXCLUI-SE A TIPICIDADE MATERIAL. Ex2: Oficial de justiça entra na casa e penhora bens – não é anti-normativa, por isso não há tipicidade conglobante. QUESTÃO CESPE: O não pagamento de pequena parcela do imposto devido (descaminho) ou a introdução no território nacional de matéria proibida, mas em quantidade ínfima (contrabando) configuram típicas infrações de bagatela, possíveis de punição fiscal, mas não penal. De acordo com entendimento jurisprudencial, não se aplica o princípio da insignificância aos crimes ambientais, ainda que a conduta do agente se revista da mínima ofensividade e inexista periculosidade social na ação, visto que, nesse caso, o bem jurídico tutelado pertence a toda coletividade, sendo, portanto, indisponível. RESPOSTA- FALSA! hoje já se admite a aplicação do principio da insignificância nos crimes ambientais.Estudo do dolo, da culpa e do preterdolo: DOLO DIRETO = A consciência e a vontade de praticar a conduta e provocar o resultado. TEORIA DA VONTADE = Adotada para o dolo direto, dolo é a vontade de realizar a conduta e de produzir o resultado.DOLO INDIRETO = DOLO ALTERNATIVO = Vontade de praticar ou um ou outro resultado. Ex: atirar para matar ou para ferir -> não é admitido no direito penal. DOLO EVENTUAL = Vontade de praticar a conduta mas assumindo o risco de provocar o resultado. TEORIA DO ASSENTIMENTO OU CONSENTIMENTO - Adotada para o dolo eventual, dolo é vontade de realizar conduta, assumindo o risco de produzir o resultado. DIFERENÇA ENTRE DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE No primeiro, o agente prevê e assume o risco de provocar o resultado, na segunda, prevê o resultado mas acredita sinceramente que não vai acontecer ex: atirador de facas. Dolo de dano = Vontade de provocar um evento danoso. Dolo de perigo = Vontade de causar perigo mas o não o dano como nos crimes de perigo |> CP, 132 Dolo genérico (intenção de praticar o crime sem uma finalidade) e Dolo específico (hoje chamado de elemento subjetivo do tipo, "com o fim de"). CULPA = Não há vontade de praticar o resultado, praticado por uma das modalidades de culpa=> quebra de um dever de cuidado: Imprudência = Culpa por ação. Negligência = Culpa por omissão Imperícia = Culpa na arte ou ofício.Espécies de culpa 1) culpa inconsciente = Não prevê o que era previsível 2) culpa consciente = Prevê o resultado mas acredita sinceramente que não vai acontecer 3) impróprio / com previsão = Ocorre nas descriminantes putativas, imaginárias. Não há compensação de culpas, mas há a concorrência de culpas -> será amenizada, mas não excluída. Crimes qualificados pelo resultado, espécies DOLO + CULPA = Crime preterdoloso. Ex: lesão corporal seguida de morte. DOLO + DOLO = CULPA + CULPA = Incêndio culposo + morte culposa no incêndio. CULPA + DOLO = Aquele que incorrer em erro de tipo sempre terá o dolo afastado no estudo analítico do crime. TEORIA GERAL DO CRIME 1 - Conceito de Crime: A doutrina do Direito Penal tem procurado definir o ilícito penal sob três aspectos diversos. Atendendo-se ao Aspecto Externo, puramente nominal do fato, obtém-se um Conceito Formal; observando-se o Conteúdo do fato punível, consegue-se um Conceito Materialou Substancial; e examinando-se as Características ou Aspectos do crime, chega-se a um Conselho Analítico, como se segue: Conceito Formal = Crime é a ação ou omissão proibida pela lei, sob ameaça de pena; Conceito Material = Crime é a violação de um bem penalmente protegido; Conceito Analítico = Crime é o fato típico, ilícito e culpável. 2 - Crime e Contravenção: Segundo a maioria dos penalistas, não há diferença ontológica, substancial, entre o Crime e a Contravenção Não são categorias que se distinguem pela sua natureza, mas realidades que se diversificam pela sua maior ou menor gravidade. A questão residiria na quantidade da infração, não em sua substância. Adotando o critério quantitativo, o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal dispõe: a) Crime = Infração penal a que a lei comina pena de Reclusão ou Detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente, com pena de multa; b) Contravenção = Infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de Prisão Simples ou Multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Existe uma corrente, porém, para a qual o crime corresponde às condutas que causam Lesão ou Perigo de Lesão, ao passo que a Contravenção resultaria em Perigo de Lesão 3- Conduta: Conceito: Conduta = É a ação ou omissão humana consciente dirigida a uma finalidade. Teorias de Conduta São três as teorias acerca da conduta: a) Teoria Causal = Ação ou conduta é o efeito da vontade e causa do resultado, consistindo num fazer voluntário que atua sobre o mundo exterior. Essa teoria, orientada pela aplicação das leis naturais ao fenômeno penal, prescinde do exame do conteúdo da vontade para a caracterização da conduta, bastando que se tenha certeza de que o comportamento do agente foi voluntário para imputar- lhe o resultado. b) Teoria Social =É a realização de um resultado socialmente relevante, questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis naturais. c) Teoria Finalista = É a atividade final humana e não um comportamento simplesmente causal. Implica necessariamente numa finalidade. A direção final da ação tem duas fases: Interna- ocorre na esfera do pensamento (inclui a escolha do fim, a relação dos meios, aceitação dos efeitos secundários da concretização da ação). Externo = manifestação da ação dominada pela finalidade. 3 - Ausência de Conduta: Conceito e Casos. Considerando a Vontade um Elemento da Conduta, evidentemente não há Conduta quando o ato é Involuntário. Assim, caracteriza-se a Ausência de Conduta nos casos de: a) Atos reflexos; b) Coação física irresistível; c) Estados de inconsciência (sonambulismo, hipnose etc.). Formas de Condutas: Ação e Omissão = A CONDUTA pode consistir numa Ação ou Omissão. Crimes Comissivos são os crimes praticados mediante Ação. Sujeito Ativo do Crime: É a pessoa que pratica o fato típico. Só o homem (pessoa física) pode ser Sujeito Ativo do crime.A pessoa jurídica não pode ser Sujeito Ativo do Crime. Capacidade Penal do Sujeito Ativo: Capacidade Penal é o conjunto das condições exigidas para que o sujeito possa tornar-se titular de Direitos e Obrigações no campo do Direito Penal. Nesse sentido, distinguem-se Capacidade Penal e Imputabilidade. Um imputável pode não ter Capacidade Penal se passa a sofrer de doença mental após o delito. Os mortos, entes inanimados e animais não possuem Capacidade Penal, podendo apenas ser Objetou Instrumento do crime. Sujeito Passivo do Crime: É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa. Duas são as espécies do Sujeito Passivo: a) Sujeito Passivo Formal = É o Estado, que, sendo o titular do mandamento proibitivo, é lesado pela conduta do sujeito ativo; b) Sujeito Passivo Material = é o titular do interesse penalmente protegido, podendo ser pessoa física, jurídica, o Estado ou uma coletividade destituída de personalidade. Objeto do crime = É tudo aquilo contra o que se dirige a conduta criminosa, podendo ser: a) Objeto Jurídico = É o bem-interesse protegido pela lei penal (p. ex., vida, integridade física, honra, patrimônio, paz pública etc.); b) Objeto Material = é a Pessoa ou Coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Crimes Omissivos são os crimes cometidos mediante omissão. Omissão é a não realização de um comportamento exigido quando o sujeito tem possibilidade de concretizar. Assim, a caracterização da Omissão depende de: a) Dever de agir; b) Possibilidade de realização da conduta. De acordo com o disposto no art. 13, § 2º, do Código Penal, existe o dever de agir em três casos distintos, a saber: a) Quando advém de um mandamento legal específico (Dever Jurídico); b) Quando o agente, de outra maneira, tornou-se garantidor da não ocorrência do resultado (Dever legal ou Contratual); c) Quando um ato precedente determina essa obrigação. Os Crimes Omissivos podem ser: a) Crimes Omissivos Próprios = São os crimes praticados com a simples Conduta negativa do agente, independentemente da produção de resultado posterior; b) Crimes Omissivos Impróprios ou Comissivos por Omissão = São os crimes em que o agente, mediante Omissão, permite a produção de um resultado. Ex.: a mãe que, pretendendo matar o filho, deixa de alimentá-lo. 4-DOLO Conceito: Dolo = É a consciência e vontade na realização da conduta típica. Ao se examinar a Conduta, verifica-se que, segundo a teoria finalística, é ela um Comportamento voluntário, cuja finalidade é o conteúdo da vontade do autor do fato, ou seja, o fim contido na ação, que não pode ser compreendida sem que se considere a vontade do agente. Toda ação consciente é dirigida pela consciência do que se quer e pela decisão de querer realizá-la, ou seja, pela vontade. A vontade é o querer alguma coisa, e o Dolo é a vontade dirigida à realização do tipo penal. FATO TÍPICO Conceitos: Em sentido formal é qualquer ação legalmente punível. Essa definição, entretanto, alcança apenas um dos aspectos do fenômeno criminal, é a contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, a sua ilegalidade como fato contrário à normal penal. Ex: Artigo 121 do Código Penal - Matar alguém. Em sentido material é aquela que tem em vista o bem protegido pela lei penal. Ex: O Estado tem o dever de velar pela paz interna, pela segurança e estabilidade coletiva diante dos conflitos inevitáveis entre os interesses dos indivíduos e os do poder constituído. Em sentido analítico= É o fato típico, ilícito e culpável. O Fato Típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um resultado, sendo previsto pela lei como infração penal. Elementos do fato típico: a) Conduta = É toda ação humana ou omissão consciente e dirigida a uma finalidade; dolosa ou culposa - inobservância do objeto. A princípio, pune-se apenas quando há vontade (dolo), porém, como exceção, pune-se quando não há vontade mas há negligência. b) Nexo Causal = É a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado; c) Resultado = É a modificação do mundo exterior causada pela conduta. Exemplo: porte ilegal de arma. d) Tipicidade = É a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto e a descrição contida na norma penal incriminadora. Características a) a tipicidade: fato + conduta + resultado b) a antijuridicidade: (ou, mais adequadamente, ilicitude) - contrário às normas jurídicas. 5- CULPA Conceito: Culpa, em sentido estrito, é a conduta voluntária, que produz resultado ilícito, não desejado, mas previsível, e excepcionalmente previsto e que podia, com a devida atenção, ser evitado. A teor do art. 18, II, do CP, o crime diz-se culposo "quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia". Elementos São elementos da Conduta: a) Conduta Voluntária= O fato se inicia com a realização voluntária de uma conduta de fazer ou não fazer. O agente não pretende praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de terceiros a perigo de dano. Falta, porém, com o dever de diligência exigido pela norma. A conduta inicial pode ser positiva (p. ex., dirigir um veículo) ou negativa (p. ex., deixar de alimentar um recém-nascido); b) Inobservância do Dever de Cuidado Objetivo Manifestada Através da Imprudência = A todos, no convívio social, é determinada a obrigação de realizar condutas de modo a não produzir danos a terceiros (cuidado objetivo). Se o agente não cumpriu com o dever de diligência que um homem razoável e prudente teria observado, a conduta é típica, e o causador do resultado será atuado com imprudência, negligência ou imperícia. c) Previsibilidade Objetiva =É a possibilidade de antevisão do resultado; d) Ausência de Previsão = É necessário que o sujeito não tenha previsto o resultado. Se previu, agiu com Dolo não foi previsto pelo sujeito. Daí falar-se que a Culpa é a Imprevisão do Previsível. e) Resultado Involuntário = Sem o resultado involuntário (porque não previsto), não há que se falar em crime culposo; f) Tipicidade =Caracteriza-se quando o agente não observa o dever de cuidado objetivo que um homem razoável e prudente, nas mesmas circunstâncias, teria observado. Espécies de Culpa Há duas espécies de culpa: a) Culpa Inconsciente = O resultado não é previsto pelo agente, embora previsível. É a culpa comum, que se manifesta pela imprudência, negligência ou imperícia; b) Culpa Consciente = O resultado é previsto pelo sujeito, que levianamente espera que não ocorra ou que pode evitá-lo. Crimes Dolosos e Culposos O crime doloso, também chamado de crime ou dano comissivo ou intencional, é aquele em que o agente prevê o resultado lesivo de sua conduta e, mesmo assim, leva-a adiante, produzindo o resultado. Classifica-se em direto, quando há a previsão do resultado lesivo mais a vontade livre e consciente de produzi-lo, e indireto, quando há a previsão do resultado lesivo mais a aceitação de sua ocorrência. Crime Culposos: Culpa Inconsciente ou Pré- Consciente: é uma conduta voluntária, sem intenção de produzir o resultado ilícito, porém, previsível, que poderia ser evitado. A conduta deve ser resultado de negligência, imperícia ou imprudência. Exemplos: • Imprudência: art. 121, § 3º do Código Penal (CP) - Homicídio culposo A pessoa que dirige em estrada, com sono, resultando em acidente fatal a outrem. • Negligência: art. 121, § 3º do CP - Homicídio culposo
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