Rorschach Clínico Determinante Formal

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

64 SOCIEDADE RORSCHACH DE SÃO PAULO 
modalidades secundárias quando a ocorrência de uma delas for elevada ou nos casos em que o conteúdo seja vulgar e o determinante forma (RF) apenas apareça de modo implícito, como em M, m, Ps, ps, C , FC , CF, etc, computamos como sinal "mais" ( + ) . Levantamos, assim, o número total das modalidades correspondentes cuja qualidade formal seja positiva (F+) ou negativo ( F - ) . Normalmente devemos obter a proporção 3 : 1 , conforme indica Silveira (1964) . Se a proporção F+ : F- em cada modalidade considerada for igual ou maior à esperada, assinalamos o sinal "mais"(+) , quando ocorrer a condição inversa, o sinal será menos ( - ) . Assim, por exemplo, quando encontrarmos a proporção de 3F+ para 
1F- nas respostas globais com determinante Forma, assinalamos à frente de G o sinal + , indicando que a observação dos aspectos mais amplos das experiências baseia-se no julgamento de realidade. No caso inverso, com qualidade menos (G -) as generalizações do examinando serão consideradas demasiadamente subjetivas e mesmo arbitrárias. Significado análogo deve ser atribuído para os P+ e P-, ou seja observação realista dos fatos concretos e evidentes do ambiente ou, então, julgamento subjetivo e precipitado destes fatos. 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
Beck, S. (1950) . Basic Processes Ed Grane & Stratton. New York. (1960) . The Rorschach experiment: Ventures in blind diagnosis. New York: Grune and Stration. Coelho, L .M .S . ( 1 9 7 5 ) . Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de 
Rorschach, entrevistas em anamnese heredológica em 102 examinandos. Ática, São Paulo. Coelho, L. M. S (org.) (2004) . Qualidade Formal. Tradução Adaptada eAtualizada 
das Tabelas de Localização de Beck e Small para Classificação da Prova de 
Rorschach no Sistema Silveira. Terceira Margem Editora, São Paulo. Giotto, B. (1301-1305) . Capela Scrovegni de la Arena. Pintor Renascentista. Locke, J . (1632-1704) . Filósofo britânico. Klopfer, B & Davidson, H . (1940) . The technique of Rorschach scoring and 
tabulation. Rorschach Res. E x c h . , 4 , 75-83. Piotrowiski, Z. (1965) . Perceptanalysis - Editora Ex Libris, Philadelphia. Rorschach, H . (1978) . Psicodiagnóstico. 8 a ed. São Paulo, Ed . Mestre Jou. Shepard, N. R. (1992) . Eoeil quipense. Ed . Seiul, Points Sciences N140Par is . Silveira, A. (1985) . Prova de Rorschach: elaboração do psicograma, EdBras. , São Paulo. 
DETERMINANTE FORMAL 
LÚCIA S. COELHO E MARIA INÊS FALCÃO 
INTRODUÇÃO 
A tendência humana em estruturar os estímulos do ambiente, atribuindo-lhes significados específicos e delineando seus limites espaciais, 
é representada no Rorschach pelas respostas formais ( R F ) . O próprio Hermann Rorschach designou sua prova como: "interpretação de formas fortuitas". As respostas de forma, como a maioria das respostas elaboradas por outros tipos de fatores determinantes , dependem de um esforço de integração associativa entre o estímulo atual e as experiências do passado. Mas, o que as distinguem das demais é o fato desta integração operar-se através de um trabalho mental de confronto indutivo entre padrões configuracionais fixados na memória a partir de experiências concretas com objetos externos e as propriedades formais das manchas de Rorschach. A experiência empírica, direta, concreta do ser humano com objetos do ambiente externo, ou a sua familiaridade com descrições literárias, religiosas, estéticas de seres ou objetos forjados pelo imaginário cultural (mas que passam a participar na conduta direta do indivíduo com o ambiente) possibilitam o estabelecimento de noções perceptuais imediatas, nas quais a configuração formal se associa intimamente a um conteúdo particular. Nestas exper iênc ias , os olhos e a mente destacam as l inhas dominantes, a forma e a estrutura do estímulo a ser identificado. Assim, nas RF o observador reconhece padrões configuracionais em objetos destacados como familiares em suas experiências com o ambiente social ou explora atentamente características peculiares à gestalt formal aparente em novos objetos. 
66 SOCIEDADE RORSCHACH DE SÂO PAULO 
Na percepção da forma ocorre a objetivação dos dados externos, traduzindo o modo alocêntrico da adaptação ao ambiente; no caso, a estruturação dos estímulos do campo visual interpretados como categorias de objetos j á encontrados anteriormente. As imagens perceptuais podem ser fixadas na memória como representações formais e sintéticas de objetos completos e concretos (ícones) ou, a partir de novas elaborações destas imagens, poderão ser destacadas como qualidades significativas de padrões formais salientes observados em categorias mais amplas de objetos (considerados pelo teoria cognitivista como protótipos figurativos fixados 
como esquemas da memória). Estes padrões estruturais correspondem aos protótipos figurativos definidos em experimentos sobre categorização e esquemas da memória. 
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO 
As R F correspondem a respostas determinadas exclusivamente pela configuração da superfície, em que linhas externas delimitam o contorno das áreas selecionadas pelo probando. Na grande maioria dos protocolos de Rorschach, em diferentes cu l tu ras e c lasses s ó c i o - e c onôm i c a s , e nas d i f erentes fases de desenvolvimento ontogenético, o determinante "forma" é o que ocorre com maior frequência .Em parte, isto se deve à própria natureza da tarefa solicitada ao probando no início da realização da prova, mas também ao fato destas respostas decorrerem de ura processo mental básico para a elaboração dos demais fatores determinantes,pois a estruturação formal também pode participar em outros tipos de processos psíquicos mobilizados pela prova de Rorschach, nos quais a forma se associa a outros fatores de te rminan tes (mov imen to , p e r spec t i v a , tons c romá t i co s ou monocromáticos) . Outro fator responsável pela elevada ocorrência das R F em um protocolo de Rorschach é o próprio critério adotado para a sua classificação. De fato, nesta categoria, incluímos não apenas as associações determinadas pela configuração das linhas externas dos estímulos, mas também aquelas que resultam da apreensão de propriedades estruturais destacadas na superfície das manchas, ainda que explicitamente integradas em uma gestalt formal. O que é decisivo para a classificação de uma resposta como R F é o fato do observador haver destacado um padrão visual figurativo, no qual distingue os aspectos salientes e distintivos dos objetos. A estruturação formal apóia-se em qualidades da superfície de ordem concreta e presente na ma i o r i a dos e s t ímu los v i sua i s : o contraste entre a super f í c ie 
HOKSCHACH CLÍNICO - MANUAL B Á S I C O - 3 b EDIÇÃO 
(monocromática ou colorida),ou entre as manchas e o fundo branco on<te las se distribuem; a integração mais compacta ou dispersa dos estímulo) sua composição espacial, imperfeitamente simétrica. Na vida real , como no Rorschach, são estas qualidades figurativas que facilitam a delimitação de um objeto colocando-o em evidência , de modo a introduzi-lo em «alegorias de significados familiares. Por isto, o determinante formal nunca aparece como fator adic ional em uma resposta . ; ele pode abranger experiências sensoriais ou projetivas, enquanto qualidades complementares da percepção mas, nestes casos, os fatores correspondentes deverão ser incluídos como adicionais ou secundários. A análise mais detida do processo de objetivação formal permite a distinção de diferentes tipos de RF : em função do nível de frequência da atribuição de um determinado significado a áreas específicas da prancha ( F + , F - ) , do grau de precisão com que as imagens forem elaboradas ( Iv -Imagem vaga, Ip - Imagem precisa) e na distinção dos diferentes processos psíquicos mobilizados na construção das R F (indutivo-concreto, dedutivo-a bs trato) . 
SIGNIFICADOS PSICOLÓGICOS DAS RF 
Como vimos, as R F decorrem de um processamento consciente doi> estímulos, indicando um esforço de integração de ordem
mais racional £ impessoal. A ocorrência destas respostas revela a extensão com que o indivíduo se volta para o meio externo traduzindo, em geral, disposições de personalidade mais comuns e frequentes na população média. Nelas intervêm o processo de socialização através do qual o s e r humano se integra às condições do ambiente externo. Neste aspecto, â percepção da forma possui uma função adaptativa, na medida em que decorre da subordinação das concepções pessoais e dos impulsos afetivos às condições do ambiente. As R F indicam, mais do que os outros fatores determinantes, a ligaçãe do indivíduo à realidade externa, objetiva. Elas são facilmente influenciáveis pelas carac ter í s t i cas do ambiente imedia to e pe las cond i ções de aprendizagem. De fato, a capacidade de observação e o processamento coerente das experiências perceptuais dependem basicamente do tipo de treinamento cognitivo pelo qual o indivíduo passou no curso de suas experiências de vida. Deficiências na instrução ou carência de estimulação social para o desenvolvimento do pensamento crítico e ordenado poderão afetar a ocorrência das RF e, particularmente, das F + bem estruturadas. A percepção visual e a atribuição de um significado a estímulos , ambíguos, os quais possuem uma *Miii>dade praticamente infinita de formas. 
i H SOCIEDADE RORSCHACH DE SÃO PAULO 
constituem processos indispensáveis ao estabelecimento da noção do real , permitindo o julgamento e a orientação do indivíduo no ambiente. Implica, portanto, na focalização ativa e seletiva da atenção e não em uma atitude impulsiva e irrefletida diante das condições externas. Através do fluxo contínuo de impressões luminosas que atingem a retina, o indivíduo é capaz de perceber formas significativas, orientando-se no espaço, distinguindo seu próprio self dos objetos externos, ao mesmo tempo em que estabelece a noção de estabilidade e de ordem no ambiente em que vive . Estes processos, de ordem cognitiva-motora, efetuam-se a partir da estimulação afetiva, isto é, do interesse do indivíduo em atribuir um sentido aos dados externos, além de neles buscar os meios para a satisfação de necessidades primárias. A avaliação meramente quantitativa do grau de submissão aos dados externos pode ser feita pela %F. A sua ocorrência depende do nível de foca l ização da atenção e da qualidade do funcionamento cognitivo, especialmente no que se refere ao controle ou disciplina mentais. No índice 
%F são computadas todas as respostas determinadas pela forma como percentagem sobre JR. Portanto, de per si, a %F não indica integração do indivíduo à realidade. A integração pressupõe o julgamento de realidade, consequência natural da extensão do interesse do indivíduo em observar o que se passa ao seu redor, mas não idêntico a ele. O valor médio (M) deste índice em nossa população de 140 examinandos "normais", com idade variando de 20 a 56 , de ambos os sexos, foi o de 64,0 com Desvio Padrão (DP) de 9,0. A lém do índice perceptual, %F, a avaliação da extensão do contato do indivíduo com o meio externo pode ser feita através da proporção correspondente ao índice "lambda" de Beck (1960) . Este índice, que permite evidenciar a flexibilidade ou a rigidez do trabalho mental, será analisado em outra parte deste trabalho. 
DESVIOS DO ÍNDICE %F 
1) A i n t e rpre t a ção dos desv ios do índ i ce %F apó ia - se p r imord i a lmen t e no p r inc íp io da i n t e rdependênc i a dos determinantes. Neste caso, o valor demasiadamente elevado ou reduzido, das R F terá um significado específico em função dos tipos de forma que ocorrem em um dado protocolo e do nível de ocorrência dos demais fatores determinantes. 2) O valor extremamente elevado do índice %F (superior a 80%) poderá indicar que o probando percebe o mundo de modo 
iviKKCHACH CLINICO - MANUAL BÃSICO - 3 a EDIÇÃO 69 
superficial, observando com pouca espontaneidade a aparência imediata do ambiente. A dependência do indivíduo às condições externas, aos dados concretos da experiência (especialmente quando prevalecem os 
P e os G imediatos) é, neste caso, tão intensa que torna rígido o trabalho mental, impedindo a introspecção, a expressão simbólica dos próprios sentimentos e o exercício de autonomia: a própria vitalidade encontra-se paralisada. Este tipo de desvio geralmente ocorre em indivíduos que encaram a prova de Rorschach como uma tarefa a ser cumprida, evitando expor-se diante dos demais , empenhando-se em ajustar seu comportamento às exigências externas (neste caso, a elevação da %F acompanha-se de valor normal ou elevado da %F+ ) . A atenção exagerada à configuração dos estímulos poderá acom-panhar-se de inibição ou controle rígido das expressões afetivo-emocionais (rebaixamento de RC e RL) ou de desenvolvimento insuficiente da imaginação criativa e da prospecção (rebaixamento 
RMeRPs). 3) Quando a elevação da %F resulta da ocorrência de respostas com formas vagas, pouco elaboradas, ou mesmo estereotipadas e repet i t ivas , em um psicograma em que os demais fatores determinantes acham-se ausentes ou em número reduzido e qualitativamente mal estruturados, a interpretação destes desvios conjugados deverá ser de outra ordem. Neste caso, a ligação do indivíduo com o meio, além de superficial e impessoal, é dominada pelas solicitações imediatas do ambiente físico e social. Estes desvios poderão ocorrer em ind iv íduos cujo processo de socialização foi deficiente, achando-se afetada a capacidade de integração e categorização simbólica dos estímulos ou, ainda, em casos de empobrecimento psíquico decorrente de processos lesionais cerebrais ou de deficiência mental. 4 ) O desvio da %F em sentido oposto, isto é, como rebaixamento extremo das R F (inferior a 20%) é extremamente raro, apenas ocorrendo em indivíduos com distúrbios mentais graves, l ú do o que ocorre no meio externo assume s igni f i cado pessoa l , obscurecendo o ju lgamento e inter fer indo no processo de adaptação à realidade. O envolvimento afetivo e a interferência de valores irracionais na elaboração das experiências impedem o indivíduo de observar de modo atento e imparc ia l eventos externos. 
ÍÚ SOCIEDADE RORSCHACH DE SÃO PAULO 
5) Quando o rebaixamento do índice %F for menos acentuado ( l imites inferiores da fa ixa de variação no rma l ) , deveremos investigar o tipo de fator determinante que predomina no psicograma: se aqueles de ordem cognitiva - indicando atitude de introspecção e posicionamento refletido no ambiente ou tendência em refugiar-se no imaginário ou , por outro lado, nortear-se segundo concepções pessoais (RPs e RM) - ou se aqueles de ordem afetivo-emocional - traduzindo tendência em expressar seus afetos ou em atr ibuir valores emocionais aos eventos ambientais (RC e RL). 
DISTINÇÃO DAS RESPOSTAS DE FORMA PARA AVALIAÇÃO DO 
JULGAMENTO DE REALIDADE 
1 . PROPORÇÃO F + : F -
Hermann Rorschach distingue as RF como F + e F- baseado em crité-rio estatístico, de modo a excluir, tanto quanto possível, a avaliação subje-tiva. Utilizou como norma e referência as respostas de forma produzidas com maior frequência por examinandos (cerca de 100 protocolos) em ple-na normalidade mental . A forma só pode ser avaliada estatisticamente através do exame do conteúdo explícito que integra o processo mental da construção de resposta. Mas o autor que ampliou a lista de respostas de forma, adotando critérios de apuração mais rigorosos, foi Samuel Beck. Baseamo-nos nesta lista, incluindo algumas outras respostas referidas e avaliadas estatistica-mente por outros especialistas e registradas no manual de Small . A lista de respostas F+ e F- serve como referência para a classificação em cada novo protocolo a ser computado. Apenas deste modo será possível a compara-ção de protocolos fornecidos por diferentes indivíduos, ou de um mesmo indivíduo em épocas diferentes. Alguns autores relutam em adotar o critério estatístico, confundin-do o critério de frequência das respostas com aquele da precisão formal da imagem. Na verdade, uma imagem pode ser percebida
ou descrita verbal-mente de modo pouco preciso mas, ao mesmo tempo, a categorização do conteúdo correspondente pode referir-se a um percepto fornecido por um número elevado de probandos. Portanto, o caráter preciso ou vago de uma imagem (Ip ou Iv) não coincide necessariamente com a frequência com que e l a é percebida pela população normal , ainda que em gera l as Ip 
RORSCHACH CLINICO - MANUAL BÃSICO - 3 a EDIÇÃO 71 
correspondam às F + . A lém disso, diferentes categorias de conteúdo explí-cito poderão apresentar configurações formais equivalentes, o que permite • computação como F + ou F- de respostas não incluídas na lista de refe-rência, em protocolos de indivíduos de diferentes culturas. 
' ) . RESPOSTAS F ° 
A classificação F + ou F- não é suficiente para abranger todas as respostas de forma. Existem respostas cuja elaboração da imagem é precisa, Item estruturada, mas original, decorrendo de um trabalho mental altamente individualizado que foge aos critérios estatísticos mencionados no item anterior. Além disto, nem toda a forma abrange as áreas das manchas que foram suficientemente selecionadas pela população média e, portanto, não se acham incluídas nos mapeamentos de localização das modalidades. Neste caso, a conduta adequada será a classificação de respostas como F°. Nesta classi f icação, acham-se ainda incluídas as respostas cuja estruturação formal é medíocre ou vaga e que, ao mesmo tempo, não permite avaliação como F + ou F-, segundo os critérios referidos no item anterior, ainda que se localizem em áreas frequentes (mancha toda [G° ] , pormenor primário [P°] ou secundário [p°] e espaço [ E 0 ] ) . O significado psicológico destas respostas baseia-se nos processos mentais responsáveis pela capacidade de estruturação formal dos dados externos (no caso, imagens vagas) e não na avaliação do julgamento da realidade. A originalidade e criatividade de formas especiais e bem estruturadas ou, por outro lado, a incapacidade ou falta de interesse na elaboração precisa de formas, possuem peculiaridades na interpretação dos estímulos externos. Por isto, não podem ser avaliadas estatisticamente como F+ ou F-, sendo incluídas na categoria F°. Como índice perceptual, esta última categoria apenas participa na avaliação da %F . 
Exemp lo s : 
Pranchas 
1. I "Osso de perna (P8). Tem esse aspecto ...ele é mais 
comprido". PF° an ou PF- an (aprox. de coxa) 2. II "cara de macaco (p7) , o contorno da cabeça e a boca grande (em p31). Só vejo a cabeça, parece mais de macaco pela forma e por ser grande", p F+pA (ref. Tamanho). 
'3 II "Um i r l ó g i o ( desenho, coro a Ui) lo .ilvttti ma de relógio . a .no meio". GE 1< xntigo. Tem este 0 obj. 
72 SOCIEDADE RORSCHACH DE SÃO PAULO 
N° Pranchas 
4. III "Uma gravata (P3).? Pelo nó no meio e os dois lados do laço 
são iguais". - Você acha ela bonita? 
"Não sei, só acho que é gravata borboleta, porque ela tem 
formato de borboleta". - Quem usa? Homem ou mulher? 
"Dá para os dois, só que geralmente é o homem que usa em 
janta de rigor. [Portanto, o examinando não leva em conta 
a cor ] . PF+vs tV 
5. VI "Aqui, de cada lado (p25) parece uma asa, mas não dá para 
ver o pássaro", p F- pA 
6. VIII "Parece uma estátua (G) do tipo moderno, forma 
geométrica". G F- art 
7. VIII "Parece um pezinho ou uma botinha. Pé de gente...aqui e 
aqui (p prox. de P3 - ver resposta atípica). P F+ pH 
8. IX "Estômago...aberto, ele tem esta forma arredondada (E8)". 
E F - a n 
9. X "Cabeça de macaco (p arte sup. de p28)". p P p A 
5 . PROCEDIMENTO PARA A CLASSIFICAÇÃO DAS RF 
1) Consul ta da l i s t a de conteúdos aval iados estat ist icamente (Qualidade Formal) . 2 ) Consulta em área alternativa , conforme indicado na área da resposta do sujeito. 3) Quando o conteúdo não for encontrado na lista ,observar a sua 
gestalt, comparando-a com aquela de conteúdos da l ista que apresentam estrutura formal semelhante. 4 ) Verificar a tendência do protocolo em questão, comparando a resposta de classificação duvidosa com as demais respostas formais 
(F+ e F-) e com a qualidade formal de respostas em que a forma encontra-se integrada a outros fatores determinantes ,( C, M, m, 
m\Caso prevaleçam as respostas F+, ou seja, uma tendência significativa 
(F+ : F- = 3 : 1 ) , classificar a resposta duvidosa como F+. Caso contrário, como F-. Obedecendo a estes critérios , reduziremos a possibi l idade da intervenção subjetiva do examinador na classificação de uma resposta e, ao mesmo tempo, t raduziremos com a maior f idel idade possível o dinamismo psíquico mobilizado pela interpretação do probando. 
RORSCHACH CLÍNICO - MANUAL BÃSICO - 3 a EDIÇÃO 73 
Exemp l o I : 
Para a resposta "sa ia" associada ao pormenor secundário p 2 4 da Prancha I : 
• Passo 1 : Verificar a Tabela Atualizada de Qualidade Formal e nela procurar "saia" na região da prancha acima indicada: não encontrada. 
• Passo 2 : Não há área alternativa que se deva procurar. 
• Passo 3 : Procurar respostas que contenham uma gestalt semelhante à "saia": encontrada a associação "sino", que preenche o critério de forma aproxi-mada, constando a classificação " F + " . Portanto, para a resposta "saia" , atribuiremos " F + " . 
• Passo 4 : 
Não consultado, pois a resposta atende ao critério descrito no Passo 3. 
Exemp l o I I : Se quisermos classificar a resposta "telefones" para o pormenor primário P g da Prancha V de um protocolo que não apresente tendência significativa ( F+ : F- = 3 : 1 ) , deveremos: 
* Passo 1 : Verificar a Tabela Atualizada de Qualidade Formal e nela procurar "telefones" na região da prancha acima indicada: não encontrada. 
• Passo 2 : Procurar na área alternativa ( P 3 ) , a imagem correspondente, "telefone" (pois P 9 é constituído de ambos P 3 ) : não encontrada. 
* Pas so 3 : Procurar respostas que contenham uma gestalt semelhante à "telefone": não encontrada. 
• Passo 4 : Verificar a tendência do protocolo: não foi aferida tendência 3 : 1 . Assim: não encontrada. 
Portanto, à imagem "telefones" em P y atribuiremos F°. 
74 SOCIEDADE RORSCHACH DE SÃO PAULO 
4 . SIGNIFICADO PSICOLÓGICO DO ÍNDICE % F+ 
O índice %F+ permite avaliar a proporção em que os valores subje-tivos intervêm no processo de adaptação à realidade; daí o confronto percentual das F + com as F- (estas últimas, formas menos frequentes mas que também ocorrem em protocolos da população adulta e normal): 
F+ x 100 
%F+ = 
( F + + F - ) 
O valor médio deste índice é praticamente o mesmo nos diferentes grupos avaliados por vários autores. Assim, por exemplo, para Beck o valor médio da %F+ é 83 ,91 e de 87 ,38 para Piotrowski. A faixa normal de variação situa-se entre 70% e 80% e, em nossa população, o valor médio foi o de 84,2 com desvio padrão igual a 5,6. A percepção de uma imagem F+, apesar de não ser idêntica, aproxima-se daquela das experiências cotidianas e, mais raramente, das formas detectadas em situações inusitadas. Nestas diversas situações, o ser humano reconhece traços familiares ou ut i l i za pistas conhecidas para atribuir significados aos estímulos externos. Como vimos anteriormente, a visão de formas (RF) prevalece na maioria das respostas de um protocolo de Rorschach. E , dentre as formas, a mais frequente é a F + , que traduz o aspecto básico do processamento das informações para a adaptação à realidade. O índice %F+ traduz o esforço conativo para coordenar e expressar as concepções decorrentes de experiências com o ambiente: ele permite avaliar a capacidade subjetiva para o julgamento da real idade. Corresponde, portanto, a processos extrinsecamente intelectuais, embora indique a qualidade da atividade cognitiva. A elaboração de respostas F + corresponde à focalização seletiva e estável da atenção, tanto em nível perceptual, como para a mobilização das imagens mentais provocadas pela visão atual de estímulos do ambiente. Silveira (1985) sintetiza a descrição de Hermann Rorschach sobre os significados das F + : " 1 . Capacidade
de manter estável a atenção; 2. Cabedal de engramas nítidos de formas; 3. Capacidade para evocar estas formas nít idas; 4 . Capacidade para selecionar entre as imagens assim despertadas aquelas que mais se assemelham ao estímulo, o que exige que a atenção se divida entre o excitante externo e as imagens que afloram (p .60-61 , Psychodiagnoslik)" ( iu Silveira p .206) . 
RORSCHACH CLINICO - MANUAL BÁSICO - 3 a EDIÇÃO 75 
Esta capacidade de estruturar, integrar e controlar os processos perceptuais e associativos supõe o exercício do julgamento crítico, quando o indivíduo decide sobre a pertinência do significado que ele atribui a uma dada experiência . O julgamento de realidade depende da elaboração intelectual consciente e do pensamento disciplinado e racional, o que não exclui os conflitos e as necessidades afetivas, mas os subordinam aos imperativos do mundo objetivo. Neste sentido, a %F+ avalia a capacidade de modular os impulsos subjetivos, de distinguir as condições ambientais que permitam uma expressão mais espontânea daquelas que demandam maior controle e retenção das emoções. Mas, no indivíduo normal, este julgamento deve ser suficientemente flexível para possibilitar a aquisição do conhecimento, a formulação racional de concepções pessoais, mas realistas, e o desenvolvimento de papéis diversificados nas diferentes e complexas condições do ambiente social, lista capacidade de construção dinâmica de um saber organizado é suscetível a flutuações em decorrência das condições subjetivas do indivíduo e das injunções do meio externo. Além disto, nem todas as respostas classificadas como F + expressam uma atitude objetiva do observador atento e imparcial dos fatos: elas também podem resultar da disposição crítica, mas receptiva, quando o indivíduo observa o mundo com interesse e participação. A adoção racional e consciente de padrões sociais de referência não se confunde com submissão conformista aos valores convencionais. A atenção e o julgamento da realidade são processos ativos que participam <la percepção, evocação , integração e planejamento do indivíduo que examina objetivamente os eventos externos, mas também as próprias ações e condições subjetivas. No ser humano perfeitamente adaptado à real idade soc ia l , a subordinação nunca se faz de modo contínuo e exclusivo; por isto, nestes protocolos de Rorschach os índices %F e %F+ nunca atingem 100%. A maturidade psíquica supõe flutuação da atenção, capacidade de atenuar o controle das necessidades afetivas e das concepções pessoais. Portanto, o valor de F + não é função linear de saúde mental. Como observa o criador do Psicodiagnóstico: rnaximum e optimum não são sinónimos no caso de %F+ .Um valor elevado de % F + , mas ainda dentro da faixa de variação normal , indica maior tenacidade e concentração na atividade in te lec tua l , ma ior estabi l idade no desempenho e au todomín io em condições sociais. Isto também se observa em protocolos de artistas e intelectuais, nos quais a %F+ pode ser elevada, mas com formas bem elaboradas, F'q dilatado e G combinada. 
76 SOCIEDADE RORSCHACH DE SÃO PAULO 
5 . DESVIOS NO ÍNDICE: %F+ 
Quando próxima ou igual a 100, a %F+ traduz rigidez e estereotipia no pensamento, atenção obsessiva e escrupulosa aos dados externos, geralmente observados de modo minucioso (elevação de p) e acurado ( I p ) , segundo uma perspectiva estreita e bem ordenada. Mas, o valor elevado da %F+ pode também decorrer de uma atitude de autocrítica exagerada, com incapacidade de mobilizar de modo espontâneo e flexível os próprios recursos subjetivos, e de submissão passiva aos padrões estereotipados do meio externo (tal como ocorre em alguns estados depressivos). O empenho em encontrar uma seme lhança per fe i ta entre os estímulos do Rorschach e os objetos da realidade concreta, muitas vezes se acompanha dos mecanismos de crítica às próprias respostas ou de crítica às manchas, não consideradas como bem exatas ou insuficientemente simétricas. Em protocolos com %F+ = 100 é frequente encontrarmos rebaixamento das G - especialmente das G combinadas - , das RC e dos M. Em sentido oposto, o rebaixamento da %F+ pode decorrer de diferentes fatores da personalidade: I o ) Da pressão elevada de impulsos afetivos e de concepções irracionais que sobrepujam a capacidade de julgamento imparcial e objetivo dos fatos . En t re tan to , a mera presença destes distúrbios afetivo-emocionais pode não ser suficiente para afetar o índice %F+; para tanto , será necessár io que o próprio autocontrole do indivíduo encontre-se perturbado. Em casos extremos, o probando sente-se impelido compulsivamente a atribuir um mesmo tipo de significado a características estruturais muito diversas ou de recorrer a concepções irracionais para organizar suas respostas (Z2 ) . É o que ocorre nas perseverações de c on t eúdo exp l í c i t o ( p r i n c i pa lmen t e an e sx) ou nas perseverações temáticas de pacientes com elevado nível de ansiedade. 2 o ) Às vezes, o rebaixamento da %F+ indica a interferência de um mecanismo de controle que bloqueia a expressão direta dos impulsos afetivos, da autocensura que acarreta distorção no ju lgamento dos fatos. Ev i tando o confronto direto com o ambiente, ele apenas apreende de modo vago e impreciso aquilo que observa. 3 o ) Dificuldade cognitiva em julgar os eventos externos segundo os padrões de conhecimento utilizados pelo adulto. Neste caso, acha-se comprometida a própria capacidade de elaboração intelectual: o probando encontra dificuldade em mobilizar o 
RORSCHACH CLINICO - MANUAL BÁSICO - 3 a EDIÇÃO 77 
processo associativo de modo a selecionar imagens pertinentes da memória. As respostas são mal organizadas, e o psicograma apresenta uma faixa restrita de fatores determinantes e de conteúdos diferenciados. 4 o ) O rebaixamento da % F+ poderá, ainda, revelar falta de motivação do probando em realizar a prova. Neste caso, ele elabora de modo arbitrário e despreocupado os estímulos do Rorschach. Cabe ao examinador evitar tal situação e mesmo, se necessário, realizar entrevistas preliminares para estimular o interesse do sujeito. 
DISTINÇÃO DAS AMPARA AVALIAÇÃO DO JULGAMENTO DE REALIDADE 
Como vimos, as RF decorrem de um processo perceptual no qual prevalecem a observação e o pensamento controlado e consciente. Quanto maior a observação das formas em um protocolo, e melhor sua qualidade formal, melhor o su je i to terá desenvo lv ido e s t a s c apac i dade s . Neste aspecto, para avaliar com maior precisão o grau de controle racional, deveremos verificar a proporção dos fatores M, Ps, FC, L ou C em cada categoria respectiva de determinantes (RM, RPs, RC, RL ) e a qualidade formal de suas imagens. 
1 . RF COMUM 
Este grupo corresponde às respostas de forma em que o sujeito apenas percebe as semelhanças evidentes entre as qualidades formais da mancha e o esquema básico da imagem associada, por um trabalho cognitivo imediato e comparativo. Estas respostas são elaboradas a partir de padrões estereotipados part i lhados pe la ma io r i a ; correspondem ao reconhecimento quase automático de situações familiares, rotineiras, habituais, que não exigem maior esforço mental ou originalidade no pensamento. As inúmeras propriedades e qualidades dos estímulos do Rorschach ficam reduzidas, nestas respostas, a clichés sociais, concepções factuais, concretas, limitadas, em que a imaginação e a criatividade têm escassa participação.