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DIREITO DAS SUCESSÕES

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DIREITO DAS SUCESSÕES B2
MÓDULO 5.
 DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.
TESTAMENTO.
 Introdução.
 Há sucessão legítima (determinada pela lei, conforme estudamos nos módulos anteriores) e sucessão testamentária, que se manifesta por testamento (deriva de manifestação de última vontade, exteriorizada consoante a prescrição legal).
 A disposição de bens por testamento é limitada para quem tem herdeiros necessários (descendentes, ascendentes ou cônjuge): o testador pode dispor somente da metade de seus bens. A outra metade é reserva (legítima) daqueles herdeiros, salvo os casos de deserdação ou exclusão por indignidade.
 · Mesmo sendo menos frequente que a sucessão legítima, a lei consagra à sucessão testamentária a maior parte do Livro das Sucessões. Muitos dispositivos visam a interpretar a vontade do de cujus e esclarecer o conteúdo do testamento.
 A sucessão testamentária decorre do testamento, cujo conceito estudaremos, assim como a capacidade para testar e para receber por testamento.
 Críticas ao testamento:
A doutrina critica a complexidade do tratamento legal em matéria de testamento. Uma revisão do sistema testamentário ensejaria a aplicação dos princípios gerais e a adoção de normas de menor complexidade, facilitando o uso deste tipo de sucessão[1].
 A corrente que critica a propriedade privada também não aceita a possibilidade de transmitir bens por testamento. Para alguns, a sucessão testamentária propicia o enriquecimento sem trabalho, estimulando o ócio e causando desigualdade social, enquanto o mais justo seria repassar os bens ao Estado, para partilha na sociedade.
Fundamento jurídico:
 O direito de suceder é consequência do direito de propriedade, direito fundamental. A lei completa a extensão do direito de propriedade permitindo a seu titular, com uma amplitude maior ou menor, ditar o destino de seus bens para após a sua morte.
 Testamento.
 Conceito – é negócio jurídico revogável, com efeito causa mortis, personalíssimo, unilateral, gratuito e solene pelo qual o testador, em conformidade com a lei, estabelece disposições patrimoniais e/ou extrapatrimoniais.
 Pode ocorrer que o testamento contenha disposições somente extrapatrimoniais, como o reconhecimento de filho, ou a deserdação.
 Da natureza jurídica do testamento:
· Personalíssimo: Deve ser feito pelo testador, afastada a interferência de procurador – testamento não pode ser feito por representante (mandatário).
· Solene: Suas formas[2] são prescritas em lei, sob pena de nulidade, para assegurar a autenticidade do ato e a liberdade do testador, assim como chamar atenção do autor para a seriedade do ato que está praticando.
· Revogável: A possibilidade de revogação é para assegurar ampla liberdade – a mera existência de um testamento ulterior válido, incompatível com o anterior, revoga o testamento anterior, visto que o direito de dispor de seus bens causa mortis e de mudar as disposições passadas só se exaure com o falecimento da pessoa.
· Unilateral: Não depende da receptividade dos sucessores para se reputar válido[3].
· Causa mortis: A sua eficácia depende de um termo incerto (acidente do negócio jurídico que consiste em evento futuro e certo, cuja data de ocorrência não é conhecida).
Gratuito: Não exige sacrifício patrimonial dos sucessores, embora possa ser estabelecido o encargo, acidente de negócio jurídico benéfico, que diminui as vantagens auferidas pelo beneficiário, herdeiro ou legatário.
 Obs.: O CC/02 diminuiu formalidades, embora o testamento persista solene.
 A noção de testamento está nos art. 1.857, caput e§2º, e 1.858.
Do testador:
Quem tem capacidade para fazer testamento:
O testamento é negócio jurídico: os requisitos de validade estão no art. 104, CC.
Ter capacidade testamentária ativa é a regra – a incapacidade é a exceção (fora as pessoas que a lei expressamente proíbe, todas as demais podem fazer testamento válido).
 Então, só não podem testar (art. 1.860, CC): Além dos incapazes, os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento. Cf. parágrafo único do art. 1.860: Podem testar os maiores de 16 anos.
 O CC/1916 já permitia que os relativamente incapazes testassem sem assistência (e o testamento não podia ser anulado).
 Obs.: a tolerância em relação aos relativamente incapazes ocorre porque o testamento só deve produzir efeito após a morte do testador, de modo que tal ato não prejudica o testador, inexistindo, então, razão para incidir a regra sobre incapacidade, cujo sentido protetivo é a sua única justificativa[4].
 · A capacidade testamentária ativa era negada às pessoas que, por causa da idade, ou de falta de discernimento ou de meio de expressão (absolutamente incapazes), tinham sua vontade desprezada pelo legislador. O testamento é ato de vontade, portanto nulo se elaborado por pessoa absolutamente incapaz. 
CC/02 – O art. 1.860 quando impede os incapazes de testar, pela interpretação sistemática, não se refere a todos os incapazes, mas somente aos absolutamente incapazes (cf. art. 3º CC).
 · Isto porque: o art. 1.782, CC, quando trata dos atos que o pródigo não pode praticar, após a interdição, não fala do testamento – o pródigo só não pode praticar atos que diminuam o seu patrimônio, e fazer testamento não causa diminuição patrimonial.
 Cf. art. 1.860 – não podem testar os absolutamente incapazes, e os que no momento em que fazem o testamento não tenham pleno discernimento, o que pode decorrer de causa permanente ou transitória.
 Podem testar os maiores de 16 anos. Mesmo sem assistência do representante legal. Porque o testamento é ato personalíssimo (art. 1.858, CC), não pode ser feito por procurador. Não pode o testador ficar sujeito à assistência, autorização ou anuência de quem quer que seja.
 Obs.: A capacidade para testar deve ser aferida no momento em que o testamento é elaborado, pois a incapacidade superveniente não invalida o testamento eficaz, nem o testamento feito por alguém, enquanto incapaz, valida-se com a superveniência da capacidade (art. 1.861, CC).
 Então, não se pode descumprir testamento alegando incapacidade posterior.
 Por outro lado, se o testamento foi feito por menor com menos de16 anos, se ele morrer 80 anos depois, seu testamento não convalesce (é nulo). O argumento de que o testador o queria ver cumprido, tanto que não o revogou durante sua longa vida é improcedente, pois o ato nulo não convalesce com o transcurso do tempo[5].
Nulidade do testamento:
Art.1859, CC: extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro.
 Pode ocorrer a invalidade por causa de nulidade (art. 166) ou de anulabilidade (art. 171). Impugnar a validade é pedir a declaração de nulidade ou requerer a anulação do testamento.
 No caso de testamento temos uma exceção. Prescreve em cinco anos para a declaração de nulidade absoluta, contados da data em que o testamento foi registrado (pela regra geral, os atos nulos não prescrevem). O art. 1.859 é exceção à regra do art. 169 do CC/02[6].
 Obs.: o registro do testamento após a morte do testador será feito por mandado do juiz, observados os requisitos processuais.
Causas de anulabilidade do testamento.
 Testamento é anulável por vício do consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo).
 A captação da vontade vicia o testamento se for espécie de dolo.
 · A captação é o fato de alguém se fazer estimar por outra pessoa, despertar simpatia, e alcançar benefícios para si ou para terceiro no testamento da pessoa que conquistou. Para viciar o negócio jurídico, a captação deve ser acompanhada de dolo. Como exemplo: mentiras, calúnias levantadas contra outros herdeiros, interceptação de e-mail, abuso de influência ou de autoridade, afastamento propositado de membros da família e dos amigos do testador.
 Ainda, o dolo deve ser a causa do ato (dolo principal).
 · Art. 1.909, CC: são anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro,dolo ou coação.
· Prazo: 4 anos para anular a disposição, contados de quando o interessado tiver conhecimento do vício.
DAS FORMAS DE TESTAMENTO.
 Testamento é negócio jurídico solene (para garantir autenticidade do ato e liberdade do testador, e chamar atenção para a seriedade do ato). A lei apresenta várias possibilidades de forma.
 
- Se não respeitar a solenidade prescrita em lei, ocorre nulidade (absoluta). Art. 104 e art. 166, IV, CC.
- A nulidade pode ser decretada de ofício pelo juiz, porque é absoluta (art. 168, parágr. único do CC).
- O ato nulo não gera efeito de transferência de direito do testador para herdeiros e legatários.
- O CC/02 determina que não se admite outro testamento além dos contemplados em lei (no CC).
 Proíbe-se expressamente testamento conjuntivo (seja simultâneo, recíproco ou correspectivo – art. 1.863, CC).
 Conjuntivo (chamado de mão comum) é o que 2 pessoas fazem com um só instrumento.
1. simultâneo – quando os testadores dispõem em benefício de terceiros;
2. recíproco – quando os testadores se instituem um ao outro, de modo que o sobrevivente recolha a herança do outro;
3. correspectivo – quando o benefício outorgado por um dos testadores, ao outro, retribui vantagem correspondente.
 A lei proíbe tais testamentos por serem modalidades de pactos sucessórios (cujo objeto é herança de pessoa viva). Além disso, deve sempre haver a possibilidade de revogação, o que somente se assegura no ato praticado individualmente.
 Nas espécies recíproca e correspectiva fica claro o pacto sobre herança de pessoa viva, vedado por lei (art. 426), por conter votum mortis que é imoral. Daí a proibição do testamento de mão comum.
Há 3 espécies de testamento ordinário:
 1. público, feito perante tabelião;
2. cerrado ou místico, feito sigilosamente pelo testador, que o submete à aprovação do tabelião;
3. particular, escrito pelo testador e que deve ser lido e assinado na presença de 3 testemunhas, que, após a morte daquele, devem reconhecer em juízo o instrumento e confirmar seu conteúdo.
 · Cada forma traz vantagens e desvantagens.
 A lei admite 3 testamentos especiais (art. 1.886, CC):
 1. marítimo;
2. aeronáutico;
3. militar.
 · Os testamentos especiais têm menor importância prática e são transitórios.
Do testamento público:
(Art. 1.864, CC).
 - É escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, conforme as declarações do testador, feitas em língua nacional, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos, na presença de 2 testemunhas.
- O instrumento será lido em voz alta pelo tabelião, ou pelo testador, para este (testador) e as testemunhas confiram se a vontade do testador foi lançada realmente no livro.
- Depois, o testamento é assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.
 O CC/1916 exigia a presença de 5 testemunhas, que deviam assistir a todo o ato.
 O CC/2002 não exige testemunhas no momento em que o testamento é escrito por tabelião ou seu substituto legal, conforme as declarações do testador.
 As testemunhas devem ouvir a leitura do instrumento e assinar o testamento (art. 1.864, I e II)
. O tabelião pode escrever o testamento público manualmente ou no computador.
· O testamento também pode ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma.
· A lei sem perder segurança jurídica (que deve revestir o testamento) o simplificou, para facilitar a sua elaboração.
· Pode testar por forma pública aquele que puder fazer as suas declarações e verificar, pela leitura posterior, haverem sido fielmente exaradas. Mas a surdez, a cegueira ou o fato de ser o testador analfabeto não impedem o recurso a essa espécie de testamento.
· Art. 1.866, CC: O surdo, sabendo ler, lerá seu testamento – se não souber, designa quem o leia em seu lugar, na presença das testemunhas, para verificação de fidelidade.
· Ao cego só se permite o testamento público. Seu testamento será lido para ele em voz alta, 2 vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e outra por uma das testemunhas por ele designada, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no instrumento (art. 1.867, CC).
 · Quem não souber ou não puder assinar: Pede que uma das testemunhas assine a seu rogo, declarando-se a circunstância no testamento (art. 1.865).
· Art. 22, Lei nº. 8.935, de 18.11.1994 – Lei dos Notários e dos Registradores – os tabeliães respondem por danos que causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia.
· Art. 23 da lei (supra): a responsabilidade civil independe da criminal.
VANTAGENS DO TESTAMENTO PÚBLICO.
- A experiência do tabelião faz com que o instrumento não tenha vícios, sendo então capaz de gerar os efeitos almejados pelo testador.
- Não ocorre extravio: o testamento público consta das notas de um tabelião, fica ao alcance de todos, que podem a qualquer momento obter certidão (não poderá ser destruído por interessados em seu desaparecimento).
 DESVANTAGENS:
- Publicidade: livros de notas são públicos e qualquer pessoa pode obter certidão de seu conteúdo.
DO TESTAMENTO CERRADO (SECRETO OU MÍSTICO).
(art. 1.868 e s., CC)
 Existe desde as Ordenações. O CC/2002 também aqui diminuiu as solenidades, simplificando a sua elaboração.
 Usado por quem deseja guardar segredo de suas declarações de última vontade, é escrito pelo testador, ou por outra pessoa a seu rogo, e por aquele assinado.
 O CC/1916 trazia a mesma regra, mas afirmava que se o testador não pudesse ou não soubesse assinar, o testamento seria assinado pela pessoa que o escreveu.
 Art. 1.868, CC/2002: o testamento cerrado deve ser assinado pelo testador, quer ele mesmo o escreva, quer tenha a cédula sido escrita por outra pessoa, a rogo do testador. Então: a escrita até pode ser feita por outrem, a rogo, mas a assinatura tem de ser do próprio testador, sempre.
 O conteúdo só é conhecido pelo testador, daí a sua vantagem.
 · Desvantagem: pode facilmente se extraviar.
 Ainda, apresentando-se aberto ou dilacerado o testamento, nem sempre é fácil demonstrar que não foi aberto ou dilacerado pelo testador, ou com seu consentimento, resultando daí sua revogação.
· Somente tem eficácia, cf. a lei, após o auto de aprovação. Tal formalidade garante a sua autenticidade.
· O testador entrega ao tabelião, na presença de 2 testemunhas, o testamento já elaborado, declarando ser aquele o seu testamento, que deseja ver aprovado.
· Na presença das testemunhas, o tabelião lançará o auto de aprovação.
Trata-se (o auto de aprovação) de ato que se inicia imediatamente após a última palavra do testamento, salvo se isso for impossível (hipótese em que o tabelião porá nele o seu sinal público, proclamando tal circunstância no instrumento) e declara que o testador, na presença das testemunhas, entregou-lhe aquele testamento para ser aprovado.
 O instrumento de aprovação, lido pelo tabelião, será assinado por este, pelas testemunhas e pelo testador.
 O tabelião cerra e cose o instrumento aprovado, entregando-o ao testador, ao mesmo tempo em que lança, em seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue.
Forma:
 Art. 1.868, parágrafo único admite expressamente que o testamento cerrado seja escrito mecanicamente. Nesse caso, o testador deve enumerar e autenticar, com a sua assinatura, todas as páginas.
 · O testador pode pedir ao tabelião que escreva o testamento.
· Mas se o tabelião escreveu, a rogo, o testamento, está autorizado a aprová-lo, atuando, neste momento, como notário, delegado do Poder Público.
· Pode ser escrito em português ou em língua estrangeira, pelo próprio testador ou por outrem, a seu rogo (art. 1.871).
 * O auto ou instrumento de aprovação,lavrado pelo tabelião, por ser instrumento público, deve ser escrito em português (idioma oficial).
 · Quem não sabe ou não pode ler: está proibido de dispor de seus bens em testamento cerrado (art. 1.872). Eles não podem se certificar, com segurança, se o escrito corresponde à sua vontade.
· O surdo pode fazer testamento cerrado, desde que o escreva todo, e o assine. Não pode usar meios mecânicos, neste caso.
Ao entregar o testamento ao tabelião, ante as 2 testemunhas, como o testador não pode declarar oralmente que aquele é o seu testamento, escreverá isso na face externa do papel ou do envoltório, pedindo a sua aprovação.
Aspectos processuais: apresentação, abertura, registro e cumprimento do testamento cerrado.
 A principal questão do testamento cerrado é a sua conservação. Apenas o juiz pode abri-lo (art. 1.875). Com a abertura da sucessão, esse testamento será apresentado ao juiz.
 O juiz, na presença do apresentante e do escrivão, examinará o instrumento pra verificar se está intacto e se não apresenta vício extrínseco. Neste caso, ordenará a sua abertura.
 Obs.: caso o juiz suspeite de abertura, determina a perícia, para que, apensa ao termo de abertura, se registre, com precisão, o estado do testamento. Mas tal medida só se justifica quando se apresentarem sinais veementes de que houve a intenção de revogar o testamento.
 Sem suspeita de revogação, o juiz abrirá o testamento, ordenando que se lavre auto em que fará constar o estado em que se encontrava o instrumento, apensando-se, caso ocorra a hipótese, o laudo do perito.
 Este termo servirá de base para os debates futuros sobre a violação do testamento e sua autoria.
 ** Aberto o testamento, serão os autos conclusos ao juiz, depois de ouvido o MP, que o mandará registrar, inscrever e cumprir, se revestido das formalidades legais. Desses autos se extrai cópia autêntica do testamento, que será entregue ao testamenteiro, para juntada ao inventário.
Do testamento particular.
Art. 1.876, CC – pode ser de próprio punho ou mediante processo mecânico.
 É o testamento feito por instrumento particular escrito e assinado pelo testador, na presença de três testemunhas, e ainda lido na presença dessas testemunhas.
 O artigo supra prevê as formalidades.
 §1º - se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade: que seja lido e assinado por quem o escreveu (que é o próprio testador, pois a lei não admite a escrita a rogo), na presença de pelo menos 3 testemunhas, que o devem subscrever.
 §2º - se o testamento foi feito por processo mecânico, não pode ter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos 3 testemunhas, que o subscreverão.
 Obs.: Nas Ordenações e no CC/1916 – só podia ser feito à mão. Mas a jurisprudência (majoritária, e o STF) admitia que fosse datilografado pelo próprio testador[7].
Testamento particular manuscrito ou elaborado por processo mecânico pode ser redigido em língua estrangeira, desde que as testemunhas a compreendam (art. 1.880, CC).
 VANTAGEM:
- desnecessidade da presença do tabelião, pois o ato tem validade desde que presentes os requisitos, o testador e as testemunhas.
DESVANTAGEM:
- pode se extraviar, porque não há registro da sua existência em ofício público (do testamento cerrado há registro). A existência só será atestada pelas testemunhas. Mas se o testamento não for encontrado, não pode ser cumprido, ainda que todas as testemunhas confirmem o fato de sua elaboração e atestem qual o seu conteúdo.
Da publicação: com a abertura da sucessão, publica-se em juízo o testamento, apresentado pelo herdeiro instituído, pelo legatário, ou pelo testamenteiro. Estes devem requerer a notificação das pessoas a quem caberia a sucessão legítima para virem, em dia, lugar e hora designados, assistir à inquirição das testemunhas instrumentais, que deverão ser intimadas a depor.
- Presentes as pessoas notificadas ou à sua revelia, faz-se a inquirição das testemunhas sobre:
A) A autenticidade de suas assinaturas.
B) O teor das disposições testamentárias.
C) O fato de o testamento lhes haver sido lido, por ocasião de sua elaboração.
D) Encontrar-se o testador em perfeito juízo, no momento de testar.
 - Se pelo menos uma das testemunhas estiver viva e comparecer para depor, e se o seu depoimento confirmar a autenticidade do instrumento, o juiz mandará cumprir o testamento (o juiz decide se há prova suficiente de sua veracidade, para confirmar o testamento).
 DESVANTAGEM DO TESTAMENTO PARTICULAR: se as testemunhas faleceram ou se o seu domicílio for incerto ou desconhecido, de modo que elas não podem ser encontradas, o testamento não será nem poderá ser cumprido.
 Isso ainda que não haja impugnação, porque a autenticidade do instrumento, que no testamento público e no cerrado deriva da fé pública do notário, decorre do depoimento conteste das 3 testemunhas, ou de pelo menos uma delas (art. 1.878, parágr. único).
 ** Havendo impugnação, o juiz remeterá as partes às vias ordinárias, para a devida apuração. Isto (tal regra) serve para qualquer tipo de testamento.
TESTAMENTO PARTICULAR FEITO EM CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS.
Art. 1.879, CC em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz.
 · Basta que o testador escreva de próprio punho e assine o testamento. Não se requer a presença de testemunhas.
 Obs.: Tal testamento, com diminuição extrema de formalidades, só pode ser usado em circunstâncias excepcionais, que precisam ser declaradas no doc. Ex.: o testador está em lugar isolado, perdido, sem comunicação, ou ocorreu calamidade (terremoto, inundação, epidemia), ou o testador está em risco de morte iminente.
DOS CODICILOS.
 É também instrumento para transmitir bens causa mortis, assim como os testamentos.
 Roberto Senise Lisboa trata do codicilo como uma das formas ordinárias de testamento[8]. O codicilo parece com testamento, mas não é[9].
 O codicilo pode ter também disposições de caráter não patrimonial;
 Conceito – é disposição de última vontade sobre o funeral e o destino de bens móveis de pouco valor. Pode ainda o autor do codicilo nomear ou substituir testamenteiros (art. 1.881, 1.883 e 1.998, CC).
 Assim, o objeto do codicilo é restrito, muito limitado. Seu alcance é inferior ao do testamento.
 Não se pode por codicilo deserdar herdeiros, legar imóveis, ou fazer disposições de valor considerável.
 Obs.: o codicilo pode ser fechado, sujeitando-se às normas do testamento cerrado (art. 1.885, CC).
 Quem pode fazer codicilo: quem pode testar (o que foi dito sobre capacidade testamentária se aplica aqui).
 · O autor do codicilo tem que saber e poder escrever.
· O codicilo deve ser inteiramente escrito, datado e assinado pelo disponente.
· É ato com menos solenidades, apresentando os requisitos do testamento particular simplificado (art. 1.879), exceto a data que naquele não foi mencionada. Não se admite escrita ou assinatura a rogo no codicilo.
· O codicilo pode ser feito por meio mecânico, e deve ser datado e assinado pelo disponente.
 Obs.: o codicilo pode ser revogado por outro codicilo. E havendo testamento posterior, de qualquer espécie, se este não confirmar ou modificar o codicilo, considera-se o mesmo revogado. Cf. art. 1.884, CC.
Das formas extraordinárias de testamento (testamentos especiais).
(art. 1.886, CC).
· Marítimo:
Permitido a quem se encontra em viagem marítima, curta ou longa, em água salgada ou doce, a bordo de navio nacional, mercante ou de guerra, e que receie morrer na viagem.
· Aeronáutico – para quem está em viagem, em aeronave militar ou comercial.
· Militar – facultado ao militar em serviço, em campanha ou em praça sitiada.
 São testamentos com menos formalidades, se comparados com as formas ordinárias. Daí a crítica doutrinária:o negligente, que não fez testamento por desinteresse, pode fazer testamento sem as solenidades, que são de interesse social, tanto que é nulo o testamento que não as obedece.
 · O testamento militar existe desde as Ordenações.
· O marítimo foi inovação do CC/1916 (com fonte nos Códigos português e francês).
· Aeronáutico – previsto no CC italiano e português, foi novidade no Brasil do CC/02.
 São provisórios: feitos para uma emergência, caducam se o testador não falecer na viagem ou em campanha e, ao depois, estiver 90 dias em lugar em que possa testar.
Art. 1.891 – trata da caducidade dos testamentos marítimo e aeronáutico.
Testamento marítimo: art. 1.888 - quem está em viagem, em navio nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o comandante, em presença de 2 testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado.
 O registro do testamento será feito no diário de bordo.
 - Art. 1.890: o testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a guarda do comandante, que o entregará às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional, contra recibo averbado no diário de bordo.
 Aeronáutico – quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no art. antecedente, ou seja, em presença de 2 testemunhas e por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado.
- Ainda que feito em viagem, não valerá o testamento marítimo se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária (art. 1.892, CC).
- A lei não trata dos requisitos dos testamentos marítimo e aeronáutico – apenas dispõe que devem ser feito na forma do testamento público ou cerrado.
TESTAMENTO MILITAR.
CC/02: traz os requisitos do testamento militar, admitindo três espécies (art. 1.893, 1894 e 1896).
 É especial e pode ser usado por militares e demais pessoas, a serviço das Forças Armadas, em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja com as comunicações cortadas.
 1ª espécie: é escrito pelo comandante do corpo ou seção de corpo destacado, ou pelo oficial de saúde ou pelo diretor do estabelecimento (se o testador estiver em tratamento em hospital), ante 2 ou 3 testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas. Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir (1.893, caput e §§1º, 2º e 3º).
 É a lei aceitando testamento público sem algumas solenidades.
 · O art. 1.894, CC, regula espécie de testamento cerrado:
 “Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu punho, contanto que o date e o assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas, ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste mister.
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se apresente notará, em qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano, em que lhe for apresentado, nota esta que será assinada por ele e pelas testemunhas”.
 O testamento militar caduca (art. 1.895) se depois dele o testador estiver por 90 dias seguidos em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do art. antecedente.
· Possibilidade do testamento nuncupativo (verbal).
Cf. art. 1.896, CC/02 – pessoas designadas no art. 1.893, em combate, ou feridas, podem testar oralmente, confiando a sua última vontade a duas testemunhas.
 Obs.: o testamento militar nuncupativo caduca se o testador não morrer na guerra ou convalescer do ferimento (art. 1.896, parágrafo único).
TESTEMUNHAS TESTAMENTÁRIAS.
 Qualquer pessoa capaz pode ser testemunha de negócio jurídico (regra geral), só se excluindo as que a lei expressamente determina.
 As exceções estão na parte geral do CC, quando trata da prova dos fatos jurídicos e diz quem não pode ser admitido como testemunha (no art. 228).
 Obs.: incapacidade é diferente de falta de legitimação. Incapacidade é inaptidão interna, deficiência de ordem física ou psíquica que impede a pessoa pela sua imaturidade ou falta de discernimento; a falta de legitimação ocorre quando a lei, tendo em vista a posição peculiar de uma pessoa em face de uma relação jurídica, a proíbe de nela intervir.
 - herdeiro e legatário é que não são legítimos (podem ser capazes e atuar atém em outros testamentos como testemunhas). Não podem atuar como testemunhas no testamento em que são beneficiadas.
 · ascendentes, descendentes, irmão e cônjuge do herdeiro não são legítimos.
 Aplicam-se as normas para os negócios jurídicos em geral (art. 228, I, II e III – porque os incisos IV e V estão mais ligados ao direito processual).
 - O art. 228, I e II – não admite como testemunhas menores de 16 e os que por enfermidade ou retardamento mental não tiverem discernimento para a prática dos atos da vida civil (são absolutamente incapazes – art. 3º, I e II).
- Art. 228, III – cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa dos sentidos que lhes faltam.
Tais sentidos são essenciais para a testemunha do testamento.
 - Analfabeto ou pessoa que não possa assinar no momento: não pode ser testemunha do testamento, pois as testemunhas têm que assinar (CC, art. 1.864, III; 1.868, IV; 1.876, §§1º e 2º; 1.888; 1.893 e 1.894, parágrafo único).
- Herdeiros e legatários nomeados no testamento: se forem testemunhas, as disposições feitas em favor deles é nula (porque eles não têm legitimação para suceder – testemunha de testamento não pode receber – art. 1.801, II) – e essa nulidade se estende à disposição testamentária feita mediante interposta pessoa, presumindo-se pessoas interpostas pessoas os ascendentes, descendentes, irmãos e cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder (art. 1.802, CC).
DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS.
 Podem ser patrimoniais ou extrapatrimoniais.
· Disposições patrimoniais: instituição do herdeiro ou designação de legatários.
- Herdeiro instituído – sucede o de cujus em uma universalidade, a título universal (na totalidade do patrimônio ou em uma parte ideal dele).
- Legatário: recebe bem preciso e determinado (sucede a título particular, singular).
 Obs.: o testador sem herdeiro necessário pode dispor de todos os seus bens, instituindo um ou mais herdeiros, ou instituindo herdeiro e nomeando legatários, ou só nomeando legatários.
 Se o testador tiver herdeiro necessário, só pode dispor sobre metade dos seus bens.
 · O testamento pode conter apenas disposições não patrimoniais. Sem nomeação de herdeiro ou legatário. Ex.: reconhecimento de filho, deserdação, dispensa da colação, perdão do indigno, revogação de testamento anterior.
· O CC ao tratar das disposições testamentárias traz regras de caráter meramente interpretativo da vontade do testador.
Há ainda outras regras permissivas ou proibitivas de certo comportamento.
REGRAS INTERPRETATIVAS:
 Para descobrir a vontade do testador e poder cumpri-la.
 · Art. 1.899: é o mais importante. Ordena que prevaleça a interpretação que melhor assegure a observância da vontade do testador, quando a cláusula testamentária for suscetível de mais de uma exegese.
É como o art. 112: em todo negócio jurídico vale mais a intenção que a literalidade.
 É orientação para o julgador em caso de dúvida sobre a disposição testamentária.
 O art. 1.903 permite a busca de documentos e de fatos inequívocos para corrigir erro quanto à pessoa do herdeiro ou do legatário ou a respeito da coisa legada.
 · Art. 1.903, CC – o erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa legada anula a disposição.
Obs.: o erro é tratado no art. 171, II, CC – parte geral.
 A anulação não incidirá se do contexto do testamento, por outros documentosou por fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador quis referir-se.
 · Art. 1.902, CC: quando o testamento beneficia pobres, estabelecimentos particulares de caridade ou de assistência pública o art. fixa a extensão da cláusula testamentária: os beneficiários são os situados no domicílio do finado.
· Art. 1.904 – nomeados vários herdeiros sem discriminação da parte de cada um, dividir-se-á entre todos a porção disponível do testador.
· Art. 1.905 – se o testador nomear individualmente certos herdeiros e a outros coletivamente, a lei interpreta a vontade no sentido de dividir a herança em tantas quotas quantos forem os indivíduos e os grupos designados, de modo que os indicados individualmente recebem um quinhão e os indicados coletivamente dividem entre si o quinhão que cabe ao grupo.
Ex.: nomeia A, B e os filhos de C – A recebe 1/ 3; B recebe 1/3 e os filhos de C dividem 1/3.
 · Art. 1.906 – se o testamento não abranger todos os bens do testador, o remanescente caberá aos herdeiros legítimos.
· Art. 1907 – se o testador determinar os quinhões de uns e não os de outros herdeiros, a estes últimos caberá o que restar depois de completas as porções hereditárias dos primeiros.
Regras proibitivas.
 Art. 1.898 – veda a instituição de herdeiro a termo, exceto nas disposições fideicomissárias.
A proibição é para a segurança jurídica e para a estabilidade.
 O herdeiro substitui o de cujus, não pode receber a termo. O legatário não substitui o de cujus – pode receber a termo.
 · A lei é contraditória, porque proíbe a instituição a termo, mas permite a instituição condicional.
A condição traz direito eventual, muito mais insegura que o direito futuro adquirido, sujeito a termo. O próprio fideicomisso apontado no art. 1.898 é sujeito a condição. O herdeiro fiduciário fica com a deixa testamentária até que ocorra a prole eventual (fideicomissário) da pessoa indicada no testamento.
 · Além disso, não pode instituir a termo o herdeiro, mas o legatário pode.
 A proibição deve ter interpretação restritiva, por isso não pode ser estendida por analogia ao legatário.
 · Para haver lógica, ou deveria a lei proibir a instituição sob condição, ou permitir a instituição a termo.
 Obs.: a instituição de herdeiro a termo não invalida o testamento nem anula a disposição.
 A sanção é mais branda: ineficácia do termo. Se a cláusula testamentária designa o momento em que deve começar ou cessar o direito do herdeiro, entende-se que houve instituição pura (considera-se não escrito o termo).
· Art. 1.900, CC: é nula a disposição (inc. I) que institua herdeiro ou legatário sob condição captatória de que este disponha, também por testamento, em benefício do testador, ou de terceiro.
Aqui não é dolo (art. 171, II, CC). A proibição genérica do dolo para captar a vontade torna a cláusula anulável. Aqui é caso de nulidade absoluta, inspirada na ideia de interesse geral que veda os pactos sucessórios.
 De acordo com Silvio Rodrigues[10], veda-se aqui a proposta de troca de favores, como um contrato. A lei proíbe contrato que tenha por objeto herança de pessoa viva. É lei cogente, de ordem pública. A sociedade quer afastar os pacta corvina – negócios que suscitem em uma das partes o desejo pela morte da outra[11].
Art. 1.900, II: é nula a disposição que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar.
A transmissão de bens exige herdeiro ou legatário determinável. Se não, torna-se impossível.
 Ex.: deixa bens de modo genérico a pessoas de bem, ou a quem goste de animais (nulidade: pessoas incertas e indeterminadas).
 Obs.: a nulidade não ocorre se a pessoa incerta, referida no testamento, é determinável:
 Art. 1.901, I – vale disposição em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre 2 ou mais pessoas mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado.
Ex.: em favor do melhor aluno de uma escola, ou do vencedor de certa prova (pessoa incerta, mas determinável).
Art. 1.900, III: é nula a disposição que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro.
 A exceção supra, do inc. II, não abrange este caso, porque a sucessão testamentária deixaria de ser intuitu personae (terceiro não pode determinar o beneficiário).
Art. 1.900, IV, CC: nula a disposição que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado. Se fosse possível, deixaria de ser intuitu personae.
 - O terceiro não pode fixar nem o beneficiário e nem o valor do benefício (seu montante).
- Exceção: art. 1.901, II – vale disposição que deixa ao arbítrio do herdeiro ou de outrem, determinar o valor do legado, quando, através deste, visar-se remunerar serviços prestados pelo legatário ao testador, por ocasião da moléstia de que o mesmo faleceu.
REGRAS PERMISSIVAS.
Art. 1.897 – permite que a instituição do herdeiro ou legatário seja pura ou condicional, para certo fim ou modo, ou por certo motivo.
 Então os 2 acidentes, condição e encargo, são admitidos na esfera testamentária. Se não fosse tal art. específico, poder-se-ia contestar a validade da condição dentro do testamento, porque é inconveniente admitir, no campo sucessório, situações instáveis.
Condição é cláusula que subordina a eficácia de negócio jurídico a evento futuro e incerto.
 Valem as restrições às condições do art. 123 do CC. Ex.: ilícitas as condições puramente potestativas, e as impossíveis (física ou juridicamente).
 · condições juridicamente impossível, ilícita ou de fazer coisa impossível: são mais graves porque invalidam a cláusula testamentária, se suspensivas. Quando resolutivas, são consideradas não escritas.
· Encargo – limitação imposta a uma liberalidade, quer por se dar destino a seu objeto, quer por se impor ao beneficiário uma contraprestação.
· Encargo é diferente de condição suspensiva, porque nesta não há efeito até que ocorra a condição, enquanto no encargo o negócio gera efeito de plano, e o encargo deve ser cumprido posteriormente.
 Consoante art. 1.784, CC: o beneficiário adquire o domínio da herança desde a morte do testador, e tal domínio será resolúvel se o encargo não for cumprido. Mas a aquisição do direito é imediata, pois seu direito é deferido, e não eventual.
Art. 1.897, CC: permite que a nomeação do herdeiro ou legatário se faça por certo motivo.
 A interpretação da regra deve ser cf. preceito geral do art. 140, CC: só vicia a declaração de vontade o falso motivo, quando expresso como razão determinante.
 Se o legado de um imóvel, por exemplo, visa contemplar certo feito que na realidade foi alcançado por outrem, há anulabilidade por erro sobre a pessoa.
CLAÚSULA DE INALIENABILIDADE.
 Art. 1.848, CC – só pode ser estabelecida sobre os bens da legítima se houver justa causa declarada no testamento.
 Obs.: sobre a parte disponível (ou sobre todos os bens, se não há herdeiro necessários), a cláusula é livre (não depende de justificativa).
 Com essa cláusula, o beneficiário recebe domínio limitado. Pode usar, gozar e reivindicar, mas não pode dispor da coisa.
Tendo em vista interesses de credores e fora o caso de bem de família, ninguém pode tornar inalienável (e consequentemente impenhorável) um bem de seu domínio. Só por liberalidade (ex.: doador transfere ao donatário só o direito de uso, gozo e reivindicação da coisa, ficando em suspenso o direito de alienar, só exercitável pelos herdeiros do donatário, após a cessação da incidência da cláusula).
Obs.: CC/02, art. 1.911: cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.
Obs.:
- os frutos dos bens inalienáveis são penhoráveis. A interpretação da cláusula é restritiva, então pode penhorar os frutos.
· São impenhoráveis os frutos quando o testador estipulou expressamente dessa forma, embora hajadoutrina em sentido contrário, que defende serem sempre penhoráveis frutos e rendimentos de coisas impenhoráveis.
Obs.: Sub-rogação real.
É A TRANSFERÊNCIA DO ÔNUS PARA OUTROS BENS QUE SE ENCONTREM no domínio do interessado ou que pretende ele adquirir. É feita judicialmente, mediante fiscalização do juiz, que verifica a equivalência dos valores, para que não se descumpra a vontade do testador, que impôs a inalienabilidade sobre um valor determinado, para assegurar certa renda para seu herdeiro ou legatário.
 Com a sub-rogação, transfere-se a cláusula de inalienabilidade, que incidia sobre um bem determinado, para outro bem da mesma pessoa.
 A sub-rogação ocorre por força de lei (desapropriação) – cf. art. 1.911, parágrafo único; ou por vontade do interessado (a alienação dos bens clausulados pode ocorrer por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante autorização judicial).
O produto da venda se converte em outros bens, sobre os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros.
 Pode ocorrer ainda no caso de sinistro. O bem adquirido com o preço da indenização paga, porque o bem inalienável pegou fogo e estava no seguro (ou a culpa foi de terceiro, que pagou a indenização e outro bem foi adquirido), é inalienável também.
Ineficácia das disposições testamentárias.
 O testamento é negócio jurídico unilateral.
 Então, pode ser anulado por vício do consentimento.
 Há causas específicas de invalidade do testamento, cf. art. 1.900.
 · Extingue-se em 5 anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro (art. 1.859, CC).
· Disposições testamentárias anuláveis por erro, dolo ou coação: prazo de 4 anos para a impugnação, contado de quando o interessado tiver conhecimento do vício (art. 1.909, caput, e parágrafo único).
· A ineficácia de uma disposição não prejudica o testamento inteiro, salvando-se a parte válida, se possível (o útil não se vicia pelo inútil).
 Mas a ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem aquela, não teriam sido determinadas pelo testador. Se há dependência entre as disposições, a ineficácia de uma atinge a outra (art. 1.910, CC).
MÓDULO 6.
DOS LEGADOS.
 Conceito.
É a deixa testamentária a título singular, particular. Aqui a liberalidade tem por objeto coisa determinada, ou uma cifra em dinheiro.
 É diferente da herança, em que o sucessor recebe a título universal, podendo ser o herdeiro legítimo ou testamentário.
 Há o herdeiro por força de lei ou testamentário, ambos recebendo universalidade; e o legatário, que recebe por testamento a título particular.
Disciplina dos legados no CC:
Art. 1.912 e s.
 - Disposições gerais.
- Dos efeitos dos legados e do seu pagamento.
- Da caducidade dos legados.
Disposições gerais:
Há regras sobre o legado de coisa alheia e regras interpretativas da vontade do testador, para dirimir controvérsias sobre o exato sentido da cláusula testamentária, quando o testador não for preciso.
Assim, a lei define legado de crédito, legado de alimentos e legado de usufruto.
E a lei determina o limite do legado que tiver por objeto bem imóvel.
Legado de coisa alheia.
Cf. o art. 1.912, esse legado é ineficaz. Não se pode fazer liberalidade com bens de outrem. A coisa certa, objeto do legado, tem que pertencer ao testador no momento da abertura da sucessão.
 Exceções à regra (supra):
Art. 1.912, 1.913 e 1.915, CC.
 1. Art. 1.912. Vale o legado se o testador vier a adquirir o bem.
Porque é no momento da morte do testador que ocorre a abertura da sucessão e só então o testamento ganha eficácia como título traslativo de propriedade
 E o comportamento do testador de adquirir a coisa legada é interpretado como vontade de beneficiar o legatário. Ex.: testador determina que ficará para um amigo a casa da praia, que é alugada. Mas o testador o compra. O legado é válido e eficaz – porque no momento da abertura da sucessão pertencia ao testador.
2. Art. 1.913. Quando o testador ordena ao herdeiro (encargo) entregar ao legatário a coisa de sua propriedade
 Aqui o legado de coisa alheia é válido. Se o herdeiro não cumprir o encargo, renunciou à herança.
3. Art. 1.915, CC. Legado de coisa genérica.
É válido o legado de coisa que se determina pelo gênero, ainda que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.
 Isto porque o gênero não pertence a ninguém. Assim, embora as coisas legadas não se encontrem no patrimônio do testador, não se encontram também em patrimônio alheio.
 O testador tem que adquirir a coisa para que ela esteja no seu patrimônio na hora da abertura da sucessão. Ou então o herdeiro tem que comprar o bem, tratando-se de mais um caso de encargo.
 O herdeiro deve fazer a escolha entre as coisas do gênero referidas no legado. O herdeiro é devedor da obrigação de entregar coisa incerta, determinada só pelo gênero e quantidade, regra do art. 244 do CC. O devedor escolhe, se as partes não convencionaram de modo diverso (se outra coisa não constar do título).
 O herdeiro escolhe pela média: não pode escolher o pior e nem está obrigado a prestar a melhor.
Consequências da regra de que é ineficaz o legado de coisa (certa) alheia: art. 1.914, 1.916 e 1.917.
 - Se a coisa legada só pertence em parte ao testador, só vale em parte o legado (art. 1.914, CC).
- Se o testador legar coisa certa, só tem efeito o legado se o bem se encontrar entre os bens da herança na época do falecimento. Se não, a coisa será alheia (art. 1.916, 1ª parte).
- Mas se a coisa legada existir entre os bens do testador, mas em quantidade inferior à constante do legado, este só valerá quanto ao montante existente (em relação ao resto, a coisa será alheia). Cf. art. 1.916, 2a parte.
- Art. 1917, CC. Só é válido o legado de coisa ou quantidade que deva tirar-se de certo lugar, até a quantidade que ali se achar, pois, no restante, o objeto do legado será de coisa alheia, e como tal vedado por lei.
 Art. 1.939, II, CC/02. Caducará o legado se o testador, por qualquer título, alienar a coisa legada. Caso depois do testamento o legatário adquira do testador a coisa, o legado é ineficaz (aquisição a título gratuito ou oneroso).
Legado de coisa a ser retirada de determinado lugar.
 Art. 1.917, CC. Coisa móvel que se deva tirar de certo lugar: o legado só vale se a coisa ali for encontrada e somente até a quantidade que ali se achar.
 Ex.: se mandou dar todo os livros que estavam em certo local, não se deve dar tudo, só o que resta no local indicado no momento da morte do testador.
 A remoção da coisa em caráter definitivo, de um lugar para outro, feita pelo próprio testador, torna ineficaz o legado.
O legado vale se a coisa foi transferida do lugar provisoriamente.
Legado de crédito.
 A lei interpreta a vontade do testador.
 1. Art. 1.918 – trata dos legados de crédito, ou de quitação;
 Quando o objeto de um legado for crédito ao beneficiário, ele se cumpre pela entrega, ao legatário, do título que representa a obrigação.
 A seu total se incorporam os juros não pagos, pois a lei diz que o legado de crédito abrange a importância deste ao tempo da morte do testador.
 · Se o legado for de quitação de um crédito do testador contra o legatário (testador é credor e quita a dívida do legatário), ele também se cumpre pela entrega ao legatário do título representativo da obrigação.
 Esse legado, que é remissão, podendo ser da totalidade ou apenas de parte da dívida, não abrange as dívidas posteriores à data do testamento, pois, como estas não existiam na ocasião, não poderiam ser objeto da liberalidade. O testador pode abranger, no legado, os débitos posteriores.
 2. Art. 1.919. Caso de ser o testador devedor do legatário.
A liberalidade não se reputará compensação da dívida. Salvo se expressamente constar o contrário, o herdeiro tem que pagar ao legatário o crédito que tinha contra o espólio, e ainda deve lhe entregar o legado.
Legado de alimentos.Art. 1.920: regra interpretativa. Se o testador não dispuser em sentido contrário, o legado de alimentos abrange: sustento, cura, vestuário, casa, e despesas de educação, se o alimentário for menor.
 A fixação do montante do legado, pelo juiz, deve levar em conta as necessidades do alimentando e o montante da herança.
LEGADO DE USUFRUTO.
 Art. 1.921 – é vitalício o usufruto se o testador não determinou prazo menor de duração.
 Isto quando o beneficiário é pessoa física. Se for pessoa jurídica e o testador não determinou o tempo de duração do usufruto, este durará 30 anos, salvo extinção, antes desse prazo, da pessoa jurídica em favor de quem o usufruto foi constituído (art. 1.410, III, CC).
Legado de bem imóvel. Art. 1.922, caput – regra de caráter interpretativo.
 Não se incorporam no legado de um imóvel, salvo expressa declaração em contrário, as propriedades adquiridas pelo testador após a feitura do testamento, ainda que se trate de terrenos contíguos.
Obs.: As benfeitorias feitas no imóvel depois do testamento são acessórios da coisa deixada ao legatário, então a acompanham. O mesmo ocorre com as acessões, como construções e plantações, por exemplo.
 O valor ou espécie da benfeitoria não alteram a sua natureza de acessório (art. 1.922, parágrafo único).
Dos efeitos do legado e seu pagamento.
 Direito do legatário sobre a coisa legada.
 Art. 1.784, CC – a herança se transmite, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
 - Art. 1.923. Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição suspensiva.
§1º. Não se defere de imediato a posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por autoridade própria.
 · Então: o direito que tem o legatário é o de pedir aos herdeiros que lhe entreguem a coisa legada.
 Obs.: O art. 1.923, caput, parece contraditório com seu §1º e com o art. 1.924, porque o 1.923 caput diz que pertence a coisa certa legada ao legatário desde a morte do testador, e os outros dispositivos (§1º e 1.924) dizem que para obter a coisa objeto do legado, deve o legatário pedi-la ao herdeiro, sendo-lhe mesmo expressamente vedado entrar na posse dela, por sua exclusiva autoridade.
 A (aparente) contradição se resolve diferenciando-se posse direta e indireta.
 O legatário no momento da morte do testador adquire o domínio da coisa certa legada, e a posse indireta dela (art. 1.923, CC).
 Mas a pose direta só é adquirida quando o herdeiro lhe entregar o objeto do legado (art. 1.923, §1º, CC). Até esse momento, ele tem o direito de pedir a entrega do que se tornou seu por força do testamento, e cuja propriedade resultou da morte do testador.
 Esse direito refere-se apenas ao legado puro e simples, e não ao condicional e a termo.
 · Legado condicional (a lei só se refere à condição suspensiva): para se incorporar ao patrimônio do legatário, depende da ocorrência de um evento futuro e incerto.
Antes da condição, o legatário não pode exigir a entrega de um bem sobre o qual ainda não tem direito deferido.
 · Legado a termo: antes do termo, é direito inexigível. Por isso, ao reclamo do legatário, pode o herdeiro opor tal defesa.
 Mas ocorrida a condição ou advindo o termo, o legatário pode pedir a entrega do legado.
 O domínio do legado e a sua posse indireta são adquiridos pelo legatário desde a morte do testador. Assim, se o legatário falece um instante depois do testador, adquiriu o direito ao legado e o transmite aos seus sucessores, que poderão exigir a entrega de seu objeto.
 · Mas se o legatário faleceu fração de segundo antes do testador, nenhum direito transmite a seus sucessores, porque o legado caduca pela pré-morte do legatário.
· Se o legatário morre depois do testador, mas antes da condição suspensiva, também caduca o legado – porque não tendo o legado se incorporado ao seu patrimônio, não podia, claro, se transmitir a seus herdeiros
· Caduca o legado se o legado é a termo e o legatário morre antes do testador – embora se diga que o direito a termo é, ordinariamente, um direito deferido e não eventual, porque, em matéria de sucessão causa mortis, o que vai tornar o direito deferido não é o testamento, mas a morte do testador.
 Obs.: o legatário não pode ter a posse direta do bem antes pleitear ao herdeiro, pois compete ao herdeiro, antes de pagar o legado, verificar se a herança é solvável ou não.
Pedida e deferida a entrega do legado, esta é feita depois de pago o imposto de transmissão.
 O legatário pede o legado ao juiz do inventário. O juiz ouve o testamenteiro e os herdeiros, e outros interessados, como a Fazenda (sobre o pedido), e decide em seguida. Deferido o pedido, lavra-se termo de entrega ou de pagamento, observadas as formalidades legais. E o legado não pode ser entregue antes do pagamento dos impostos.
 · O direito de pedir o legado não pode ser exercido enquanto se litigue sobre a validade do testamento (art. 1.924). Caso a sentença declare sem efeito o ato de última vontade, legado nenhum existirá.
· O legatário só tem o direito de pedir o legado. Mas como a propriedade do legado se transmite ao legatário desde a morte do testador, a partir da morte do testador os frutos da coisa pertencem ao legatário (art. 1.923, CC).
Obs.: legado a termo ou condição - como o legatário só o adquire a partir do advento da condição ou do termo, só a partir de então tem direito aos frutos.
 · Art. 1.925, CC: exceção à regra – caso do legado em dinheiro. Só vencem juros desde o dia em que se constituir em mora a pessoa obrigada a prestá-lo.
 Juros serão devidos pelo herdeiro ao legatário quando aquele, interpelado, recusar-se injustamente a entregar.
Do legado em prestações periódicas.
 Art. 1.926 a 1.928, CC – regras interpretativas.
 Tratam de legados cujo pagamento deve ser feito em prestações periódicas, por causa da própria natureza desses legados (ex.: legado de renda vitalícia ou de pensão), ou por causa de assim o haver determinado o testador.
 A lei fixa o momento em que o direito do legatário surge, a sua extensão e o instante em que é exigível.
 · Renda vitalícia: o termo inicial é a morte do testador, e o final é a morte do legatário, que, enquanto viver, pode exigir do herdeiro, devedor, o seu pagamento.
 A finalidade é assistencial, como no legado de pensão periódica. Por isso a lei cuida dos dois tipos com a mesma regra: a renda vitalícia ou a pensão periódica correrão da morte do testador. Embora o legatário se atrase 1 ou 2 anos em pedir a entrega do legado, terá direito a receber a renda ou pensão vencida desde a morte do testador, desde que não deixe prescrever seu direito.
Pode o testador dispor de modo diferente.
 · Art. 1.927 – traz norma genérica, que se aplica aos legados de renda vitalícia ou de pensão, e a qualquer outro legado em que se imponha ao herdeiro o encargo de pagar uma quantidade certa em prestação periódica.
 Nela não se inclui, entretanto, o legado de uma importância fixa, paga em prestações, como na disposição que deixa 100 ao legatário, pagáveis pelo herdeiro em 5 prestações de 20. Aqui o legado não é em prestações periódicas, mas de uma única cifra, dividida em pagamentos parciais.
 O art. 1.927 fixa o montante do direito do legatário. A prestação periódica é devida por inteiro desde o 1º dia de cada período. Assim, no dia do falecimento do testador, o legatário tem direito a toda a pensão relativa ao 1º ano. Iniciado o ano seguinte, o legatário tem direito, desde logo, à 2ª prestação inteira. E assim por diante.
 O importante é que o art. supra fixa, para a renda constituída causa mortis, regime diverso do fixado pelo art. 811 para a renda constituída inter vivos.
O art. 811, relativo ao contrato de constituição de renda, estabelece que o credor adquire o direito à renda dia a dia.
 A solução do 1.927 é diferente – este abrange o legado de renda, pois, como vimos, o legatário não a adquire dia a dia, mas a adquirepor inteiro, no 1º dia do período.
 Se, portanto, a renda era vitalícia e o legatário faleceu no 1º dia subsequente ao início de um novo período, fez ele jus a toda a prestação, que por isso se transmite aos herdeiros que deixar.
 · O art. 1.928, CC trata do pagamento desses legados: só no termo de cada período poderão se exigidos. Mas traz exceção para o caso de serem deixados a título de alimentos, uma vez que, em tais casos, a sua natureza impõe que sejam pagos adiantadamente, visto que supõe dele urgentemente necessitar o legatário, para sobreviver (art. 1.928, parágrafo único, CC).
Do legado de coisa genérica:
· Regra da obrigação de dar coisa incerta.
O legatário é credor e o herdeiro, devedor da obrigação de entregar um legado definido apenas pelo gênero e pela quantidade.
 A escolha é do devedor (herdeiro), se nada constar do testamento.
 E ao escolher as unidades do gênero, o herdeiro deve fazê-lo pelo meio-termo – não é obrigado a dar o melhor, nem pode dar o pior (art. 1.929).
 A mesma regra ocorre quando a escolha for deixada a terceiro, ou quando o juiz tem que fazer a escolha, em face da recusa ou da impossibilidade de o terceiro escolher (art. 1.930, CC).
 É diferente se o testador der opção ao legatário. Aqui, presume-se que o testador quis possibilitar ao beneficiário a escolha do melhor (art. 1.931, CC).
Do legado alternativo (obrigação alternativa).
 No silêncio do testamento, a escolha é do devedor (art. 252). O herdeiro é o devedor da obrigação de entregar uma das várias liberalidades constantes da cláusula testamentária (art. 1.932, CC). Mas a regra é dispositiva, o testador pode dar ao beneficiário o direito de escolha.
 Se o herdeiro, ou legatário, a quem couber a opção, morrer antes de exercê-la, o direito de escolher se transmite aos seus herdeiros (art. 1.933, CC).
Do pagamento do legado.
Cabe ao herdeiro: Este tem a responsabilidade de retirar da herança, universalidade, as coisas que são objeto de legados, e entregá-las aos legatários.
 Art. 1.934, CC – no silêncio do testamento, o cumprimento dos legados incumbe aos herdeiros e, não os havendo, aos legatários, na proporção do que herdaram.
 · O testador pode ainda encarregar certo herdeiro ou certo legatário de efetuar o pagamento do legado. Ou indicar mais de um para pagar o legado, e apenas estes por ele responderão.
Trata-se de instituição gravada de ônus. Quando indicados mais de um, os onerados dividirão entre si o ônus, na proporção do que recebam da herança.
 Se o testador (usando permissão do art. 1.913) ordenar a entrega ao legatário de coisa pertencente a um dos herdeiros ou a um dos legatários, só a este incumbe o cumprimento de tal legado. Se o onerado não cumprir a ordem do testador, entender-se-á que renunciou à herança ou ao legado.
 Art. 1.935. “Se algum legado consistir em coisa pertencente a herdeiro ou legatário (art. 1.913), só a ele incumbirá cumpri-lo, com regresso contra os coerdeiros, pela quota de cada um, salvo se o contrário expressamente dispôs o testador”.
Da entrega do legado.
 Art. 1.936 e 1.937.
· O legado deve ser entregue no lugar e estado em que se achava ao falecer o testador, devendo a entrega abranger seus acessórios.
O legatário a recebe com todos os encargos que a oneravam.
· As despesas, bem como os riscos da entrega da coisa legada, correm por conta do legatário.
O legatário não participa das despesas advocatícias ou custos com o inventário, e nem paga outros impostos de transmissão que não os recaintes sobre a coisa legada.
 O legatário tem que pagar o imposto referente à coisa legada (só será pago pelo espólio quando o testamento ordenar).
Descumprimento dos legados com encargo.
Encargo é limitação de liberalidade, por dar destino à coisa ou por impor ao beneficiário contraprestação. Descumprido o encargo, revoga-se a liberalidade.
Da caducidade dos legados.
É a perda de eficácia, por circunstância superveniente, de legado válido.
 Art. 1.939, CC: traz 6 hipóteses em que o legado caduca. E o rol é exemplificativo, não esgota os casos.
 Os autores trazem outros casos em que a superveniência de um fato torna sem efeito o legado.
 Ex.: caduca o legado condicional se o legatário falecer após a abertura da sucessão, mas antes da condição suspensiva.
 Hipóteses de caducidade dos legados no CC:
 Modificação substancial na coisa legada (art. 1.939, I).
 O legado caduca se, depois do testamento, o testador modificar a coisa legada a ponto de não ter a forma, nem lhe caber a denominação que tinha.
 Justificativa: a mudança substancial da coisa feita pelo testador revela seu propósito de cancelar a liberalidade.
 Se a modificação não é fundamental a ponto de alterar a substância da coisa, prevalece o legado.
Alienação da coisa legada.
 Quando o testador, após o testamento, dispõe da coisa legada, esta sai de seu domínio e, portanto, caduca o legado, pois legado de coisa alheia é ineficaz.
 Com a alienação, o testador demonstra intenção de revogar a liberalidade, pois deu outro destino ao objeto legado.
 · Se a alienação é forçada (desapropriação) e não espontânea, a intenção de revogar a liberalidade não se manifesta, mas como a coisa passa para o domínio do expropriante, perde o legado sua eficácia (é ineficaz o legado de coisa alheia)[1].
 A nulidade da alienação não restabelece a eficácia do legado, salvo vício de vontade.
 Obs.: a revogação da liberalidade decorre menos da alienação, que da intenção revogatória, manifestada no ato de alienação.
 O mesmo ocorre para o caso de alienação e subsequente reaquisição, pelo testador, da coisa legada, pois, por ocasião da alienação, ficou evidente o intuito de revogar a deixa testamentária.
· Por fim: a mesma lógica justifica a tese de que a promessa irretratável de venda da coisa legada revoga a liberalidade.
Perecimento ou evicção da coisa legada.
 Com o perecimento, vivo o testador, caduca o legado porque quando da morte (abertura da sucessão), o objeto não se encontrará no espólio.
 Mas se perecer após a morte do testador, sem culpa do herdeiro ou legatário incumbido do seu cumprimento, o legado gerou seu efeito e a sua propriedade se transmitiu ao legatário no momento da abertura da sucessão. O direito do legatário (res perit domino) se perde - perde-se o direito de propriedade perecendo seu objeto (art. 1.275, IV, CC).
 Caso o perecimento da coisa legada se dê por culpa do herdeiro ou legatário que devia cumpri-lo, deve este compor o prejuízo. O mesmo ocorre se a coisa perecer por caso fortuito ou força maior quando estiver o herdeiro ou legatário em mora de entregá-la. Salvo se provar que o perecimento sobreviria ainda quando a entrega fosse tempestiva (art. 399).
 · Evicção: faz caducar o legado. Porque a evicção decorre de sentença judicial que reconhece pertencer a coisa ao reivindicante e não ao testador – o objeto da liberalidade é alheio. E é ineficaz o legado de coisa alheia.
Obs.: se o herdeiro ou legatário responsável pelo cumprimento é negligente, deixando a ação reivindicatória correr à revelia, ou se agiu culposamente, responde pela evicção e pelos consequentes prejuízos.
Indignidade do legatário.
 É possível excluir aquele que praticou contra o de cujus atos de ingratidão relacionados na lei (vimos). Deve-se afastar da sucessão beneficiário ingrato.
 O legado caduca se o legatário foi excluído da sucessão por indignidade, de modo que, se algum interessado provar que o legatário, após o testamento, praticou um dos atos relacionados no art. 1.814 do CC, torna-se ineficaz a cláusula testamentária que o beneficia.
 Tanto herdeiro como legatário pode ser afastado da sucessão se praticar um dos atos de ingratidão, cf. art. 1.815.
Pré-morte do legatário.
As disposições testamentárias são intuitu personae, visam beneficiar exatamente a pessoa do herdeiro ou do legatário. Se o herdeiro ou legatário morre antes do testador, a cláusula testamentária perde sua razão de ser, CADUCA.
 Assim, é condição de eficáciada deixa testamentária que o beneficiário sobreviva ao testador. Não quer o testador, necessariamente, beneficiar os sucessores do legatário ou herdeiro testamentário. 
Legado alternativo e caducidade.
Art. 1.940, 1ª parte: aplica ao legado alternativo, e em que perecem uma ou mais das coisas alternativamente legadas, a regra referente às obrigações de igual natureza.
O herdeiro é devedor, e o legatário é o credor de uma obrigação alternativa.
 Se uma das prestações alternativas se tornar inexequível, subsistirá o débito quanto à outra.
 Da mesma maneira, o art. 1.940, 1ª parte determina que: se o legado for de 2 ou mais coisas, alternativamente e algumas delas perecerem, subsistirá a liberalidade quanto às restantes.
Neste caso, concentra-se o legado na coisa remanescente.
 · A 2a parte (do art. 1.940) contém hipótese diversa, que cuida da caducidade do legado pelo perecimento de seu objeto.
Se o legado for de 2 ou mais coisas, alternativamente, perecendo parte de uma, o legado valerá, no que diz respeito ao seu remanescente.
O direito de acrescer entre os herdeiros
 Conceito.
Se a disposição testamentária caduca pela pré-morte do herdeiro ou do legatário, ou pela recusa do beneficiário, ou quando o herdeiro ou legatário é afastado da sucessão por indignidade, em todos esses casos a cláusula testamentária torna-se ineficaz e os bens que eram objeto da liberalidade ficam no espólio para partilha entre os herdeiros legítimos ou testamentários.
 Havendo numa disposição testamentária vários herdeiros ou legatários, a renúncia ou exclusão de um deles, bem como a caducidade do legado em relação a um só, tem os mesmos efeitos acima apontados: o quinhão do herdeiro excluído é dividido entre os herdeiros legítimos; o do legatário renunciante se incorpora ao patrimônio do herdeiro, que só deve pagar o quinhão dos demais colegatários e não o do legatário que renunciou.
 Mas tal solução não ocorre em duas hipóteses:
 a) Se houver designação de substituto, pois neste caso o substituto recolhe o quinhão do excluído ou do renunciante.
b) Se houver direito de acrescer entre os herdeiros ou legatários, pois nessa hipótese a parte que era do renunciante ou excluído, em vez de ser devolvida ao herdeiro legítimo, ou ao encarregado de pagar o legado, acresce ao quinhão dos seus coerdeiros ou colegatários.
 Assim, o direito de acrescer ocorre quando sendo vários os herdeiros testamentários, ou os legatários, o quinhão de um deles, que o não quer ou não o pode receber, aumenta o dos outros.
 Desta forma, três soluções[2] podem se apresentar quando, na sucessão testamentária, favorecidos por uma liberalidade vários herdeiros ou legatários, um deles não quer ou não pode receber a sua quota:
 a) O quinhão recusado retorna à sua fonte original – volta ao monte para ser dividido entre os herdeiros legítimos, ou para se incorporar ao patrimônio do herdeiro testamentário, que se exime do dever de pagar aquela parte do legado.
b) O referido quinhão é recolhido pelo substituto se o testamento o indicou.
c) O citado quinhão acresce aos quinhões dos coerdeiros, ou colegatários, se houver direito de acrescer entre eles.
 O problema não é importante quando o testamento é claro e o testador foi preciso, mandando, por exemplo, que em caso de caducidade do legado em relação a um dos legatários, de sua renúncia ou exclusão, sua quota deverá acrescer à dos outros.
 Mas cláusulas assim são raras, e se impõe sempre o dever de interpretar.
 As regras do CC se destinam a interpretar a vontade do testador.
 Quando uma pessoa deixa vários herdeiros, cada um deles tem direito a toda a sucessão e apenas não a recebe integral porque seu direito colide com o dos coerdeiros, que desfrutam de igual direito. Então, procede-se à divisão – concursu partes fiunt.
 Se o direito de todos os herdeiros, menos de um, se extingue, aquele que conservou o seu direito recebe toda a sucessão, por direito próprio, porque o seu direito não encontra obstáculo. Ele não toma o direito de seus concorrentes, pois o destes se extinguiu.
 O mesmo se dá com os legatários, a quem o testador destinou uma coisa inteira.
 Cada um deles tem direito ao todo, e se recebe só uma parte do todo é porque seu direito colide com o dos colegatários.
 Portanto, procede-se à divisão. Mas, se todos os legatários, menos um, são afastados da sucessão, o direito do 1º não encontra mais barreiras e, portanto, recebe ele a coisa inteira.
 Não porque acresça o direito dos outros, pois estes, por definição, não o tinham. Mas, por efeito do direito de não decrescer – jure non decrescendi -, visto que seu direito original era ao todo.
 Direito de acrescer é direito do colegatário de receber a totalidade de uma coisa da qual ele não teria senão parte, se os seus colegatários tivessem aceitado, como ele.
 · O CC/02 regula o assunto nos art. 1.941 a 1.946.
Princípios tradicionais do direito de acrescer.
 No direito romano se distinguiam três espécies de disposições conjuntas, para efeito de verificar a existência ou não do direito de acrescer:
 a) A conjunção re et verbis, em que, por meio de uma única disposição, o testador nomeia sucessor para uma coisa, ou para uma universalidade, sem menção de frações.
 Ocorre tal conjunção quando a cláusula declara deixar um prédio, ou a parte disponível da herança, a A ou B.
Há uma conjunção verbal, visto que a deixa testamentária se encontra em uma cláusula do testamento, e uma conjunção real, pois há unidade do objeto – portanto, conjunctio re et verbis.
 b) A disposição se diz re tantum quando a unidade se encontra apenas no objeto e não na disposição.
 Existem duas ou mais cláusulas, com referência a um único objeto.
 Ex.: deixo minha chácara a A. E, noutra cláusula: deixo também a B a chácara deixada a A.
 c) A conjunção se denomina verbis tantum quando se deixa a vários herdeiros ou legatários bens, com a cominação de que a cada um caberá uma parte.
 As duas primeiras espécies de conjunções implicam a existência de direito de acrescer.
A última (conjunção verbis tantum) não.
 No direito romano, como ocorre hoje, as regras acima eram interpretativas, aplicáveis quando não havia clareza.
 O CC/1916 trouxe os mesmos princípios. E o mesmo ocorreu com o CC/02.
Direito de acrescer entre os herdeiros:
Art. 1.941: determina verificar-se o direito de acrescer entre os coerdeiros quando estes, pela mesma disposição, são conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados.
É repetição da regra romana, a respeito da conjunção re et verbis: para haver o direito de acrescer, reclama-se a conjunção verbal, nomeação conjunta dos herdeiros em uma única disposição testamentária, e a conjunção real, quinhões não determinados.
 Art. 1.943: se um dos herdeiros nomeados morrer antes do testador, renunciar ou for excluído da herança, seu quinhão acrescerá à parte dos coerdeiros conjuntos.
 Exceção: o testador pode evitar o direito de acrescer indicando substituto ao herdeiro pré-morto, renunciante ou excluído.
Direito de acrescer entre os legatários:
Fonte: Direito Romano (conjunção re et verbis).
 Art. 1.942: competirá aos legatários aquele direito quando nomeados conjuntamente (conjunctio verbis), a respeito de uma só coisa, determinada e certa (conjunctio re).
 Ainda, há o direito de acrescer entre os legatários quando a coisa objeto do legado não se pode dividir sem risco de se desvalorizar.
Obs.: não há direito de acrescer quando se determina aos herdeiros ou legatários, ainda que nomeados conjuntamente, a quota ou objeto que lhes é deixado. Neste caso, é manifesta a vontade contrária do testador.
Consequências do acrescimento.
- Aos beneficiários se transmitem as vantagens e os encargos que deveriam caber ao herdeiro ou legatário renunciante, excluído ou falecido antes do testador.
Então: se a vários herdeiros se impôs o ônus de pagar um legado e um deles é excluído da sucessão, acrescendo aos outros seu direito, a estes se transmite, também, a obrigação depagar o legado; e se um colegatário pré-morreu ao testador e o seu direito acresceu aos demais, a este incumbe cumprir os encargos do legado (art. 1.943, parágrafo único).
 · Art. 1.945: o beneficiário do acréscimo não pode repudiá-lo separadamente da herança ou legado que lhe caiba, salvo se o acréscimo comportar encargos especiais impostos pelo testador.
O herdeiro ou legatário, então, aceitando a herança ou o legado, poderá repudiar o acréscimo sujeito a encargo, mas, nesse caso, uma vez repudiado, reverte o acréscimo para pessoa a favor de quem os encargos foram instituídos.
Destino da deixa quando não há direito de acrescer.
 Art. 1.944. Não havendo o direito de acrescer entre os herdeiros, a quota, que se vagou pela pré-morte, renúncia ou exclusão de um dos herdeiros instituídos conjuntamente, é devolvida aos sucessores legítimos do falecido.
 Art. 1.944, parágrafo único, CC. Se se tratar de legado conjunto e inexistir direito de acrescer entre os legatários, a quota do que faltar acresce ao quinhão do herdeiro, ou legatário, incumbido de satisfazer esse legado. Mas, se o legado se deduziu da herança, referida quota a ela será devolvida, beneficiando todos os herdeiros, na proporção de seus quinhões.
Acrescimento no legado de usufruto.
 Aqui o beneficiário recebe o direito de usar e gozar da coisa alheia, por certo tempo ou vitaliciamente.
Legado um só usufruto a duas ou mais pessoas, haverá direito de acrescer entre elas se a nomeação for conjunta. A hipótese é a de conjunção mista (re et verbis, se a determinação constar da mesma cláusula testamentária), ou de conjunção real (re tantum, se o mesmo usufruto for deixado a mais de um usufrutuário, em mais de uma disposição de última vontade).
Mas se não houve conjunção entre os legatários, ou, apesar de conjuntos, a cada um foi legada parte certa ou fração determinada do usufruto, não quis o testador contemplá-los com o direito de acrescer.
Se não houver direito de acrescer, a quota do legatário que faltar se consolida na propriedade: o titular do domínio adquire a parte do usufruto que caberia ao legatário renunciante ou excluído, sendo que o seu prédio será onerado apenas parcialmente pelo usufruto de que serão titulares os outros legatários.
Redução das disposições testamentárias.
Vimos que a liberdade de testar é relativa se há herdeiros necessários (cônjuge, ascendente e descendente). Só pode testar sobre a metade dos bens. A outra metade é a reserva (legítima).
O herdeiro necessário prejudicado pelas excessivas liberalidades (as que excedem a quota disponível) do testador pode pleitear a redução destas, para resguardar a legítima.
- Se na partilha por ato entre vivos (permitida pelo art. 2.018) a legítima de um herdeiro necessário for lesada pelo benefício excessivo concedido a outro herdeiro, ou a um legatário, o prejudicado tem ação contra o beneficiado com o excesso, para compor o desfalque experimentado.
Aqui, a ação do herdeiro é a de anulação de partilha. Prazo para a ação: 1 ano.
- A mesma solução é para o caso de doação feita em vida pelo de cujus, e que pode afetar a legítima (doação inoficiosa).
Redução nas doações feitas pelo autor da herança.
A doação inoficiosa é a que excede a metade dos bens do testador, prejudicando o direito à legítima.
Art. 549, CC – é nula a doação quanto à parte que exceder a de que o doador poderia dispor por testamento, no momento da liberalidade.
O doador que tem herdeiro necessário só pode dispor por testamento da metade de seus bens.
O cálculo do valor da doação deve ser efetuado no momento da liberalidade (se no momento o doador era homem rico e a doação foi de valor inferior à metade de seus bens, o negócio é lícito e eficaz, mesmo que haja empobrecimento depois e morte na miséria).
Tal solução é melhor para o interesse público e para a segurança jurídica, não fica a estabilidade a depender de acontecimento futuro e incerto – eventual empobrecimento do doador.
Como se opera a redução:
Se as liberalidades do de cujus atingem a legítima, deve-se verificar antes se há doações inoficiosas, suscetíveis de serem reduzidas. Se as houver, procede-se à redução.
Se forem várias doações inoficiosas:
· Primeiro são reduzidas as mais recentes, até as mais remotas, até eliminar o excesso – art. 2.007, §4º, CC/02.
Depois, verificando que as disposições testamentárias ainda excedem à quota disponível, seriam proporcionalmente reduzidos os quinhões do herdeiro, ou dos herdeiros instituídos.
- A redução é feita ao quinhão do herdeiro instituído, porque este, sucedendo a título universal, substitui a pessoa do de cujus e em tese só lhe cabe o domínio do remanescente da herança, ou seja, daquilo de que o testador podia dispor.
Assim, só tem direito a receber o que sobrar do espólio, depois de deduzidas as dívidas que o oneram, entre as quais se pode, sem recurso a uma excessiva ficção, incluir a legítima do herdeiro instituído até recompor-se a legítima.
Se a quota do herdeiro instituído for insuficiente, procede-se então à redução nos legados (art. 1.967, §1º). 
· O legatário tem preferência em relação ao herdeiro porque, sendo o legado como uma doação causa mortis, entende-se que o testador ordenou ao herdeiro que a efetivasse.
Como o testador só pode gratificar até o montante de sua quota disponível, é inegável que, se os legados a ultrapassarem, devem ser reduzidos.
** A redução nos legados é proporcional aos seus valores.
O CC não estabelece preferência entre os legados, manda ratear todos os legados, ressalvando, porém, a vontade do testador, em benefício de certos herdeiros ou legatários.
· É possível que o testador, antevendo a hipótese de suas disposições testamentárias desfalcarem as legítimas, ordene que a redução seja feita em quinhões de determinados herdeiros, ou em determinados legados. Neste caso, cumpre-se a determinação, pois não colide com a ordem pública e nada mais é do que uma redução em certa liberalidade (art. 1.967, §2º).
Redução em legado de bem imóvel.
Antes deve ser analisado se o bem é divisível ou indivisível.
- Se for divisível: faz-se a redução dividindo-se proporcionalmente o imóvel (art. 1.968).
A lei não é rígida a ponto de levar o juiz a soluções inconvenientes. Ex.: quando a redução for excessivamente pequena, ou quando trouxer imenso prejuízo ao legatário, deve-se exigir ou permitir a redução em dinheiro.
- Se não for possível a divisão: o juiz deve atentar para o montante da redução. Se o excesso é de mais de ¼ do valor do imóvel, o legatário o deixará inteiro na herança e receberá do herdeiro o restante do valor, em pecúnia.
A lei não dá escolha ao legatário. Não pode ele, contra a vontade do herdeiro, guardar o prédio, a despeito de o desfalque ser daquele alcance, e repor o excesso em pecúnia.
Tal solução só será admitida se assentir o herdeiro
Se o excesso for menor que ¼ do valor, guarda o legatário o prédio e entrega, em pecúnia, aos herdeiros, a importância correspondente à diferença (art. 1.968, §1º).
Se o legado inoficioso tiver beneficiado herdeiro necessário, este fica obrigado a devolver o excesso, em respeito ao direito dos outros herdeiros da mesma classe. Apenas, se o legado excessivo teve por objeto bem imóvel, dá-se preferência ao legatário para inteirar sua legítima no mesmo prédio. Mas tal preferência só é assegurada se a legítima mais a parte subsistente do legado forem de importância igual ou superior ao valor do prédio (art. 1.968, §2º).
Ação de redução.
Silvio de Salvo Venosa afirma que: “O objetivo da ação de redução é reconhecer a inoficiosidade e obter a reintegração do bem à legítima. É ação de natureza tipicamente sucessória, porque os bens voltam a reintegrar-se no monte, para sua distribuição aos herdeiros necessários. Se o bem não mais existir, ou tiver sido alienado de boa-fé, deve o acionado devolvê-lo em valor atualizado. Enquanto de boa-fé, não deve o beneficiado responder pelos frutos, devendo ser indenizado pelas benfeitorias

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