Buscar

apostila desenvolvimento pisicomotor na infancia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 152 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 152 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 152 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESENVOLVIMENTO 
PSICOMOTOR NA 
INFÂNCIA
PROFESSORAS
Dra. Mara Cecília Rafael Lopes
Esp. Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
2 
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração 
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente 
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Direção Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin, Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, 
Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, 
Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção 
de Relacionamento Alessandra Baron, Gerência de projetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do 
Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Contéudo Mara 
Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, 
Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Qualidade Textual Hellyery Agda, Revisão Textual 
Felipe Veiga da Fonseca, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; 
RAFAEL LOPES, Mara Cecília; VASCONCELOS MIRANDA, Maria Gorethe de.
 Desenvolvimento Psicomotor na Infância. Mara Cecília Rafael Lopes; 
Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda.
 Reimpressão
 Maringá - PR.:UniCesumar, 2018.
 152 p.
 “Graduação em Educação Física - EaD”.
 1. Psicomotricidade. 2. Desenvolvimento. 3. Criança. 4. EaD. I. Título.
ISBN-978-85-459-0834-0
CDD - 22ª Ed. 701.1 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
NEAD 
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande 
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, 
informação, conhecimento de qualidade, novas 
habilidades para liderança e solução de problemas 
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência 
no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: 
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará 
grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume 
o compromisso de democratizar o conhecimento por 
meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos 
brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos que 
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade 
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar 
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com 
as demandas institucionais e sociais; a realização 
de uma prática acadêmica que contribua para o 
desenvolvimento da consciência social e política e, por 
fim, a democratização do conhecimento acadêmico 
com a articulação e a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja 
ser reconhecida como uma instituição universitária 
de referência regional e nacional pela qualidade 
e compromisso do corpo docente; aquisição de 
competências institucionais para o desenvolvimento 
de linhas de pesquisa; consolidação da extensão 
universitária; qualidade da oferta dos ensinos 
presencial e a distância; bem-estar e satisfação da 
comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica 
e administrativa; compromisso social de inclusão; 
processos de cooperação e parceria com o mundo 
do trabalho, como também pelo compromisso 
e relacionamento permanente com os egressos, 
incentivando a educação continuada.
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
boas-vindas
Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à 
Comunidade do Conhecimento. 
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar 
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores 
e pela nossa sociedade. Porém, é importante 
destacar aqui que não estamos falando mais daquele 
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas 
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, 
atemporal, global, democratizado, transformado pelas 
tecnologias digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, 
informações, da educação por meio da conectividade 
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares 
e da mobilidade dos celulares. 
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram 
a informação e a produção do conhecimento, que não 
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em 
segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer 
transformou-se hoje em um dos principais fatores de 
agregação de valor, de superação das desigualdades, 
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. 
Logo, como agente social, convido você a saber cada 
vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a 
tecnologia que temos e que está disponível. 
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg 
modificou toda uma cultura e forma de conhecer, 
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, 
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa 
cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o 
conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância 
(EAD), significa possibilitar o contato com ambientes 
cativantes, ricos em informações e interatividade. É 
um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá 
as portas para melhores oportunidades. Como já disse 
Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. 
É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. 
Willian V. K. de Matos Silva
Pró-Reitor da Unicesumar EaD
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes 
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível 
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem 
dialógica e encontram-se integrados à proposta 
pedagógica, contribuindo no processo educacional, 
complementando sua formação profissional, 
desenvolvendo competências e habilidades, e 
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, 
Kátia Solange Coelho
Diretoria Operacional de Ensino
Fabrício Lazilha
Diretoria de Planejamento de Ensino
de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, 
estes materiais têm como principal objetivo “provocar 
uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta 
forma possibilita o desenvolvimento da autonomia 
em busca dos conhecimentos necessários para a sua 
formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de 
crescimento e construção do conhecimento deve 
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos 
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar 
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA 
– Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos 
fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe 
uma equipe de professores e tutores que se encontra 
disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
boas-vindas
6 
autoras
6 
Professora Doutora
Mara Cecília Rafael Lopes
Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação pela 
Universidade Estadualde Maringá (UEM/2016). Mestrado em Educação pela Uni-
versidade Estadual de Maringá (UEM/2009). Possui graduação em Educação Física 
pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/1995) e graduação em Pedagogia pelo 
Centro Universitário de Maringá (Unicesumar/2016). Atualmente é professora e 
coordenadora do curso de Licenciatura em Educação Física na EAD do Unicesumar.
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profi ssional, pesquisas e 
publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.
cnpq.br/5472896495130234>.
Professora Especialista
Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda
Especialista em Educação Psicomotora pela Universidade Federal do Rio Grande 
do Sul (UFRGS/1986), com formação pelo Centro Lydia Coriat de Porto Alegre- RS 
em Clínica e Terapêutica em Transtornos da Infância e Adolescência. Professora, 
graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL/1986).
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profi ssional, pesquisas e 
publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.
cnpq.br/8161227323374434>.
apresentação
Desenvolvimento Psicomotor na Infância
Professora Dra. Mara Cecília Rafael Lopes
Professora Esp. Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda
Caro(a) aluno(a), este livro tem por objetivo conduzir 
e auxiliar seu aprendizado sobre o desenvolvimento 
psicomotor da criança. Quando falamos da criança e 
do seu desenvolvimento, devemos entender que há um 
grande leque de conhecimentos a desbravar.
O sujeito humano é um ser complexo, que recebe 
influências de seus responsáveis e do meio no qual está 
inserido. Quanto mais entendermos sobre o sujeito 
humano nos vários enfoques, mais poderemos ter uma 
prática docente adequada e valiosa junto aos alunos. 
O desenvolvimento infantil envolve muitos as-
pectos subjetivos, por isso veremos o quanto a His-
tória, a Filosofia, a Sociologia, a Psicanálise de Freud, 
a Psicologia Genética de Jean Piaget e os autores da 
Psicomotricidade, propriamente ditos, enfatizam a im-
portância em considerar o sujeito como uma unidade e 
não apenas como um sujeito biológico e psíquico. Não 
se trata de unir o corpo e mente, e sim de entender o 
quanto o psiquismo influência o biológico, ao mesmo 
tempo que o biológico afeta o psiquismo.
Nada em nosso desenvolvimento acontece de 
forma reducionista. O desenvolvimento psicomotor 
que você estudará neste livro apresenta o percurso 
da criança lhe possibilitando ganhar noção de si, 
do seu corpo, de seu movimento e de sua aprendi-
zagem. Assim, chegaremos a entender que o mo-
vimento da criança vai depender da sua história e 
da representação que ela tem de si mesma, ou seja, 
como foi construída a sua imagem. Veremos que 
a imagem de si não é a mesma coisa que noção do 
corpo ou esquema corporal. Existem diferenças sutis 
que permitirão ao professor entender a criança mais 
profundamente. E assim poderá fornecer estratégias 
facilitadoras aos alunos.
Você aprenderá sobre os aspectos do desenvol-
vimento psicomotor: esquema corporal, equilíbrio, 
coordenação, lateralidade, noção de espaço e de tempo 
e como estes aspectos influenciam a atividade corporal. 
Esses aspectos serão o objetivo do seu trabalho. Con-
tudo, não esqueça a subjetividade da criança, pois é 
essa subjetividade que servirá de base para que o aluno 
possa incrementar ações com precisão, qualidade e 
boa estruturação. 
Portanto, caro(a) aluno(a), perceba a grandio-
sidade do humano e a imensa responsabilidade em 
estudar o desenvolvimento e trabalhar com os alunos 
em estruturação.
O sujeito humano precisa do organismo bioló-
gico como sustentação da sua subjetividade. Juntos, 
permitem que ele se constitua, se movimente, atue 
em relação com os outros semelhantes, crie, produza 
e se estruture definitivamente. Há uma maravilhosa 
engrenagem! Um ser é mais que corpo e mente! É o que 
faz de nós diferentes e iguais ao mesmo tempo. É com 
isso que você, futuro professor, trabalhará. Ajudando 
na construção de sujeitos plenos de potencialidades.
sumário
UNIDADE I
O UNIVERSO DA CRIANÇA 
14 A Criança - Que Ser é Este?
16 O Desenvolvimento Infantil
18 A Escola e a Criança
22 Uma Questão de Postura do Professor 
24 Psicomotricidade e Difi culdade de Apren-
dizagem – Um Olhar Além do Corpo
28 Considerações fi nais
34 Referências
35 Gabarito
UNIDADE II
O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO 
PSICOMOTOR
40 Biologia e Subjetividade Humana
44 O Brincar: Principal Ferramenta da Infância
56 Considerações fi nais
63 Referências
65 Gabarito
UNIDADE III
A PSICOMOTRICIDADE
70 História da Psicomotricidade
72 Aspectos Motores da Psicomotricidade 
78 Elementos da Psicomotricidade
90 Considerações fi nais
93 Referências
94 Gabarito
UNIDADE IV
ATIVIDADES PSICOMOTORAS: 
UMA INCRÍVEL SOLUÇÃO NA INFÂNCIA
100 A Importância das Atividades Psicomotoras 
para Crianças de Até 10 Anos
104 Estágios do Desenvolvimento infantil
110 Cortes Epistemológicos
112 Considerações fi nais
118 Referências
119 Gabarito
UNIDADE V
AVALIAÇÃO PSICOMOTORA- SINTOMAS
E ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
124 Aspectos Constitucionais do Desenvolvimento 
Psicomotor: Os Refl exos Arcaicos 
130 A Psicomotricidade e os Sintomas Psicomotores
134 O Gesto Motor
136 A Construção da Imagem
138 Abordagens Terapêuticas em Psicomotricidade 
143 Avaliação Psicomotora
144 Considerações fi nais
149 Referências
150 Gabarito
151 Conclusão
Professora Dra. Mara Cecília Rafael Lopes
Professora Esp. Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• Criança: que ser é este?
• O Desenvolvimento Infantil
• A escola e a criança
• Uma questão de Postura do Professor
• Psicomotricidade e Difi culdade de Aprendizagem – Um 
Olhar Além do Corpo
Objetivos de Aprendizagem
• Entender o processo de estruturação do ser humano 
dentro da nossa cultura.
• Perceber a importância do Outro na estruturação da criança.
• Conhecer o desenvolvimento global da criança e como o 
aspecto orgânico e psíquico se inter-relacionam.
• Compreender a relevante função da escola na 
estruturação da criança.
O UNIVERSO DA CRIANÇA 
I
unidade
INTRODUÇÃO
Pensar o desenvolvimento psicomotor é fazer prevenção de dificuldades 
do desenvolvimento. Desde que feito precocemente, isto é, desde bebê, o 
trabalho psicomotor pode nos dar pistas de uma estruturação saudável 
ou não da criança, dessa forma, agindo como prevenção.
O desenvolvimento não inicia se não houver condições sutis para 
isso. É necessário mais do que um organismo saudável para que o ho-
mem inicie seu longo processo de estruturação, de tornar-se sujeito. Su-
jeito subjetivado e rico em potencialidades. 
Ao nascer, o bebê não está pronto, mesmo nascido a termo (entre 37 
e 42 semanas), ainda precisará completar seu desenvolvimento. O que te-
mos a princípio é apenas um grupo de órgãos funcionando. Para animar, 
para dar vida mesmo ao ser humano, é necessário mais do que biologia. 
Lançando o olhar sobre as várias teorias que explicam o ser humano, 
encontraremos a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a Psicanálise, a Me-
dicina, a Pedagogia, e muitas outras. No trabalho com educação, devemos 
compreender o que cada uma dessas disciplinas dizem sobre o sujeito huma-
no. Isso trará como consequência um entendimento mais competente do de-
senvolvimento infantil e assim um trabalho mais responsável com pessoas.
Muitos professores sentem dificuldade ao se deparar com crianças 
com desenvolvimentos diferentes daqueles esperados. Percebem atrasos 
ou diferenças que resultam em problemas escolares. Poucos estudam o 
porquê das dificuldades no desenvolvimento de uma criança. Um dos 
motivos para problemas no desenvolvimento pode ser o fato dela nãoser 
bem recebida pela família, isto é, quando pelo menos um dos responsá-
veis pela criança, não se faz cargo realmente sobre aquele ser que nasceu. 
Vamos tentar iniciar, então, esse interessante estudo que nos dará 
condições de trabalhar a corporeidade humana, certos de que estejamos 
minimamente instrumentalizados para dar conta daqueles que estão sob 
nossa responsabilidade nas aulas de psicomotricidade: nossos alunos!
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
14 
Que enorme responsabilidade fazer parte de um 
projeto grandioso como o de estruturar um ser hu-
mano. Pela necessidade do trabalho das mães, as 
crianças chegam hoje ainda bebês na escola. Dessa 
forma, os professores podem fazer a diferença na 
vida dos pequenos. Tudo que dirigimos aos bebês 
será estruturante, ou, do contrário, desestruturante.
Poderíamos de imediato pensar que a criança é 
um ser em construção, em estruturação. Essa estru-
turação não vai acontecer pela simples biologia. O 
biológico é importantíssimo, mas não garante toda 
a estruturação humana. (WALLON, 1979). Então, a 
partir disso, estamos falando de algo não garantido 
“a priori”, ou seja, cada criança que nasce é um ser 
“prematuro” e dependente, ficando “à mercê” dos 
que a rodeiam. Dessa maneira, inclui-se aqui pri-
meiro os pais, e depois todos os adultos envolvidos 
com a criança. Entre eles estão os professores.
“Educar” faz parte de “ESTRUTURAR”. Educar, 
etimologicamente, significa: sustentar, acompanhar, 
conduzir (Dicionário Etimológico, on-line)1.
Uma questão importante: será que os adultos 
da vida das crianças sempre as sustentam, acompa-
nham e conduzem?
A educação está marcada pela dificuldade de 
aceitar as diferenças. Proust (2003, p. 544) vai dizer: 
“Talvez a imobilidade das coisas ao nosso redor lhes 
seja impossível pela nossa certeza de que tais coisas 
são elas mesmas, e não outras pela imobilidade do 
nosso pensamento em relação a ela”.
Então, nossas crianças começam, desde muito 
cedo, a serem “enquadradas” num modelo fixado 
A Criança
Que Ser é Este?
 15
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
por nós ou por alguns autores é que toda forma di-
ferente de existir passa a ser “patologia”. Ou seja, as 
crianças, muitas vezes, não obedecem um “padrão” 
no desenvolvimento. Por vezes, uns demoram um 
pouco mais a amadurecer, ou têm respostas mais 
ousadas, ou ainda necessitam um pouco mais de 
atenção do que outros. Cabe ao professor perceber 
que sua relação com cada aluno será singular, única 
e descobrirá formas particulares de resolver os im-
passes do desenvolvimento infantil.
As “formas” diferentes das crianças reagirem 
precisam ser entendidas como “discursos”, isto é, 
formas de dizer algo de si mesmo, e as explicações 
para essas questões deveriam ser pesquisadas e ob-
servadas nos pais dessas crianças. É importante es-
tarmos atentos ao estilo de cada família, que lugar a 
criança tem no contexto familiar, e se investem na 
criança como sujeito, ou como objeto a ser carrega-
do de cá pra lá, o qual, muitas vezes, os pais não per-
cebem a expressão da sua criança.
Os professores deverão se ocupar das crianças, en-
tendendo que toda a atividade infantil deve respeitar 
o estilo das crianças e o nível de compreensão delas, 
além das suas condições gerais. Caso as crianças rea-
jam a certas rotinas ou atividades, devemos nos preo-
cupar em decifrar em que estamos errando. As crian-
ças são sábias: sabem sobre amor, verdade, justiça etc.
É dessa maneira que a Educação deve chegar até 
nossas crianças. Um modo humanizado de “susten-
tar” a possibilidade de “estruturar” um ser humano, 
conduzindo-o às descobertas e às originais formas 
de se tornar sujeito.
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
16 
O desenvolvimento infantil está relacionado com a 
forma como os semelhantes se colocam e colocam 
a criança na vida. O modo como os pais falam do 
seu filho, as formas como o tocam, o olham, vão po-
sicionando-o na família. Também vão mapeando o 
corpo, marcando as zonas erógenas, organizando as 
percepções e constituindo o modo de pertencer ao 
mundo. Então, toda a corporeidade do sujeito está 
relacionada ao Outro. O termo “outro” é utilizado 
pelo psicanalista francês Lacan (1964-1965), cita-
do por Julieta Jerusalinsky (2002, p. 58) no Livro: 
Enquanto o futuro não vem - a psicanálise na clínica 
O Desenvolvimento
Infantil
interdisciplinar com bebês, se referindo à cultura e 
à civilização, na qual estamos incluídos e que tam-
bém está incluído a mãe, como o Outro Primordial, 
como chama Lacan. 
Esse Outro Primordial nos dará acolhimento e 
iniciará nossa história vivida e construída pela famí-
lia. (LACAN, 1964 - 1965). 
“O conceito de Outro é introduzido por Lacan 
para definir aquilo que é anterior ao sujeito e o de-
termina em sua Constituição. Escreve-se com mai-
úscula para diferenciá-lo do semelhante (outro)” 
(JERUSALINSKY, 2002, p. 58).
 17
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
As diferentes formas de lidar com as crianças farão 
diferença no sujeito que está se estruturando. Por 
exemplo: caso uma criança seja marcada pela super-
proteção, retira-se dela a capacidade de autonomia 
e segurança, que certamente afetará seu corpo, seu 
pensar, seu existir propriamente dito. Contudo, se, 
ao contrário, houver negligência por parte da família 
com os cuidados e proteção, teremos, também, um 
sujeito estruturado fora dos limites e regras, fora da 
organização que orienta e dirige o desenvolvimento.
É verdade que toda a relação humana afeta po-
sitiva ou negativamente o semelhante. Então, a sub-
jetividade do professor e do aluno estarão em jogo 
na escola. As angústias que atravessam o processo 
de educação (aluno x professor) deverão estar con-
troladas no professor, para evitar a desorganização 
psíquica do aluno. Ou seja, o professor deverá ser 
um adulto suficientemente estruturado e assim pro-
mover o respeito mútuo. Este é outro fator decisivo 
para o bom desenvolvimento infantil na escola.
O professor sempre deverá ser uma referência 
simbólica para a criança, por isso, devemos saber: 
quem é a criança que ali está? Qual sua história, seus 
desejos, sua imagem inconsciente? Nossas técnicas 
atendem aos alunos ou a nós mesmos? Somos sensí-
veis às questões da infância? Temos postura de aco-
lhimento, respeito e humildade para com os alunos?
O professor tem uma tarefa muito nobre jun-
to aos alunos. Deverá respeitar as diferenças, pois 
estas não são divergências. Também deverá ter au-
toridade que sempre protege e acalma a criança, 
pois as leis de convivência ficarão garantidas, isto 
é, estamos protegidos pelos hábitos e costumes da 
cultura, e todos nós cerceados de certos impulsos 
primitivos, pois estamos submetidos à cultura. O 
professor é um representante da cultura. Assim, 
deverá estar o mais livre possível de preconceitos e 
generalizações. Escutar profundamente todos, mas 
principalmente seus alunos. 
Na infância, temos todas as possibilidades, por-
tanto, ainda há tempo de afetarmos e até mudarmos 
o destino de alguém. As crianças só precisam de 
apoio, de sustentação subjetiva, ou seja, sustenta-
ção psíquica, ser reconhecido como sujeito, como 
pessoa, valorizado, ser conduzido no caminho da 
fraternidade e do bem coletivo, de uma civilização 
melhor, mais justa e humanitária.
Sempre precisamos saber sobre a história da criança 
em sua família, para poder entender seu desenvolvi-
mento. Assim, nossas estratégias de trabalho serão 
balizadas. Todos os aspectos da vida dependerão 
dessas primeiras vivências, e se mostrarão na estru-
turação da criança: sua psicomotricidade, sua lin-
guagem, sua cognição, seus hábitos, seu brincar, sua 
sexualidade, “aliás, sobre a sexualidade, Freud nos 
alertava que toda curiosidade intelectual é derivada 
da curiosidade sexual” (MILLOT, 1987, p. 43).
Figura 1 -Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981)
Fonte: Wikipédia ([2017], on-line)2.
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
18 
Aceitar o estilo de crescer e se estruturar de cada 
criança colabora para a construção de laços. E são es-
ses laços que nos colocarão na cultura, garantindo a 
pertença familiar, depois escolar e por último social. 
Toda a criança, hoje, é escolar, diferente de épo-
cas passadas, a escola faz parte do início fundamental 
do ser em sociedade (JERUSALINSKY, 2002). Nesse 
sentido, a escola, também, deverá ter formas de co-
laborar com os pais, auxiliando-os a fazer emergir o 
sujeito de cada criança e respeitando a singularidade 
subjetiva de cada um.
A Escola e a 
Criança
As aprendizagens são derivadas de vivências 
precoces das crianças em suas famílias. Aprendemos 
desde que nascemos. Toda e qualquer palavra, toque, 
olhar dirigido ao bebê, escreve nele algo da cultura 
familiar e social. Vivenciamos corporalmente as pri-
meiras marcas e isso é “matéria-prima” para nossas 
futuras descobertas, aprendizagens, transformadas 
depois em abstrações inteligentes. Somos afetados 
pelo meio desde sempre, e todos os adultos que con-
vivem com a criança farão parte de sua estruturação 
global (biológica, psíquica e social).
 19
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Nas crianças com diagnóstico de dificuldade 
psicomotora ou de aprendizagem, muitas vezes não 
encontramos nenhum componente neurológico e/
ou orgânico. Então do que se trata? Algo do psíqui-
co, fazendo obstáculos ao psicomotor e ao cognitivo. 
E por que é tão comum tal sintoma? Para atingir o 
“alvo”: o Outro. O sintoma está dirigido ao Outro. 
Esse Outro é principalmente os que exercem fun-
ções importantes para uma criança, quais sejam: 
pais e mães. Dizer “pais” e “mães” propõe diferen-
ças entre um e outro, função materna diferente de 
função paterna. Cada um responsável por aspectos 
específicos na constituição psíquica do sujeito e os 
dois permitindo a sustentação simbólica que possi-
bilita o aprender.
Antes de pensarmos como se organiza o psico-
motor e o pedagógico nas crianças, é preciso saber 
que a construção psíquica (a forma com que foi ge-
rado, recebido, cuidado, o lugar dela na família, o 
clima afetivo) o determina. Caso não haja sustenta-
ção simbólica mínima, o aprendizado não terá como 
pertencer a um SUJEITO. As vivências e os conflitos 
vividos pela criança desempenham um papel im-
portante em seu desenvolvimento, assim como na 
sua vida adulta (FREUD, 1938). Essas vivências são 
sinônimos de marcas simbólicas que “fabricam” mo-
dos de ser sujeito.
Que posição ocupa a criança na história fami-
liar? Qual o papel da criança nessa família? Como 
pensam e projetam a vida do filho? Questões que fa-
zem parte da estruturação do sujeito psíquico. Isso 
“fabrica” um sujeito.
As dificuldades de existir já estão na criança 
quando ela chega à escola. Na relação com os pro-
fessores algumas dificuldades poderão se agravar, 
visto que somos o que foi possível na relação com 
o Outro. Se não tem um lugar de importância para 
o Outro (país/cultura), provavelmente também não 
terá junto aos professores, que agora são os repre-
sentantes dos pais.
Aqui proponho um giro de 180º para que os pro-
fessores possam, alertados por questões teóricas a 
respeito da constituição psíquica da criança, retirar 
do lugar vazio ou depreciado que as crianças tenham 
junto à família, para possibilitar “algum” lugar na es-
cola. Escola que é lugar de resgate dos sujeitos, lugar 
de convívio, lugar de sublimações. Palavra-chave 
para se reposicionar um sujeito e transformar uma 
ausência do desejo, em desejo. Na escola, sempre de-
veria ser possível elevar o sujeito humano, mesmo 
aqueles esquecidos, desvalorizados. Principalmente 
O “alvo” do sintoma se refere a encontrar eco naque-
les que são os responsáveis pelas crianças e que ofe-
recem a sustentação simbólica a ela, compreender 
como ocorre esta relação. Então, é preciso atentar 
para o quanto os impasses das relações constroem 
problemas ou dificuldades no aprendizado.
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
20 
com as crianças bem pequenas, que frequentam a 
Educação Infantil. Quanto mais cedo uma interven-
ção adequada, mais chances de organizar uma vida. 
A escola que desejamos é a Escola que não se-
grega, que não exclui, que não deixa escapar aquelas 
crianças que não fazem parte da camada exitosa e 
sem problemas.
É preciso abandonar o “furor docente”, quer di-
zer, furor de ensinar tudo, o tempo todo, que tam-
bém fez fracassar Jean Itard, discípulo de Pinel, o 
médico que tentou ensinar hábitos humanos a Victor 
de Aveyron – o menino lobo, encontrado em 1800, 
num bosque da França (JERUSALINSKY, 2010).
Os únicos sinais interessantes, mais humaniza-
dos, que Victor demonstrou vieram da sua relação 
com a babá que não se preocupou em ensinar, mas 
em viver com ele. Adestramento não resgata o sujei-
to, o submete, o enquadra, o configura como mero 
objeto e não como sujeito.
Maud Mannoni em sua obra Educação Impossí-
vel (1977) fala sobre fracasso da Pedagogia para a 
maioria das crianças do mundo contemporâneo, o 
que explica, para ela, o enorme número de crianças 
com problemas de aprendizagem entre outros pro-
blemas que temos na escola hoje. “[...] A pedagogia 
oscila, nesse caso, entre as ideias de liberdade herda-
das do século XIX e os princípios de disciplina de-
correntes da tradição religiosa” (MANNONI, 1988, 
p. 33-34). Tanto a escola como a família utilizam 
de métodos pedagógicos que seduzem e ao mesmo 
tempo punem as crianças, assumem uma forma sutil 
de violência psíquica.
Se tomarmos os fundamentos da Psicanálise, sa-
beremos que não se trata de fazermos uma Educa-
ção Psicanalítica, mas devemos possibilitar um lugar 
especial para cada criança, que significa vê-la como 
sujeito apesar de não ser quietinha, apesar de não 
aprender com facilidade, apesar de ser agressiva, 
apesar de se angustiar e “perder a cabeça”, gritar.
A criança que demonstra sinais de problemas es-
colares está às margens da loucura. Um sofrimento 
enorme as habita e elas “gritam” por socorro. Quem 
poderá ouvi-las? Aqueles que são sensíveis à causa 
humana, que não se perdem enquadrando o “certo” 
e “errado”, mas lutam para salvar crianças do desati-
no dos adultos.
A psicanálise analisa o sujeito psíquico, o su-
jeito que atribui significado a seu corpo e seus 
órgãos, e possui uma relação de dependência a 
respeito de si, pois todas as funções dependem 
do sujeito. Nesse sentido, Freud coloca sobre o 
nascimento orgânico do nascimento psíquico, 
ao qual tem seu início desde a fase intra-uteri-
na. É na capacidade de antecipação (altamente 
abstrata) do papel daquele que nascerá, que 
a família (especificamente a mãe) dá início ao 
processo de constituição do sujeito.
Um bebê humano se torna humano ao rela-
cionar-se com seus pares e com a linguagem. 
Nomear, é manter um controle psíquico, so-
bre aquilo que se nomeia.
Fonte: Lima ([2017], on-line)3.
SAIBA MAIS
 21
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Não se trata apenas de criticar a educação que mais 
“aliena”, no sentido marxista do termo1, que ensi-
na. O que podemos pensar é que o ato educativo 
poderá ser, inclusive, terapêutico, se der um lugar 
ao sujeito, e não tentar adestrá-lo, ou desrespeitá-lo 
“pelo bem” da educação.
Talvez muitos não percebam seu talento como 
adestrador. Corrigem, inibem, punem, sem obser-
var que ali, naquele aluno, existe um sujeito que é 
efeito de seus tutelares.
Devemos cuidar dos tutelares também? Sim. Propo-
mos que respeito, solidariedade, sensibilidade, sejam 
palavras aceitas para colaborar com estes que também 
se beneficiariam da escola, e, com isso, aliviariam seus 
filhos de tensões e angústias avassaladoras. 
1 A alienação fez parte dos conceitos desenvolvidos por Marx,ao analisar as trans-
formações sociais ocorridas ao longo da história, sobretudo a partir da formu-
lação do método do materialismo histórico. A atividade dos alunos na escola, 
portanto, é uma relação que expressa a atividade na sociedade. Os alunos são 
categorizados ao se ter uma referência idealizada de aluno: interesse, disciplina, 
capacidade, inteligência.
Fonte: as autoras.
Quando Freud, em 1925, no texto “A negação” 
afirma que: – “Nossas melhores virtudes nasceram 
sobre o húmus de nossas piores disposições (pul-
sões)”, quer dizer que todos nós temos um conteúdo 
primitivo que foi civilizado. 
Se a escola possibilita o laço social das crianças 
e também de seus pais, colabora na inscrição sim-
bólica do sujeito, que lhe dá condições de convívio 
social. Entram aí conceitos ligados à estruturação do 
sujeito que inclui sexualidade e conhecimento.
Freud sempre se ocupou em explicar como 
o homem, desejando “saber” sobre seu próprio 
desejo, sua existência, se referia às questões se-
xuais, levando-o ao saber científico. Germe do 
saber, que, reprimindo sua verdadeira origem, dá 
lugar às investigações científicas. Por isso, Octa-
ve Mannoni (antropólogo, filósofo e psicanalista 
francês) afirma que a inteligência se faz com res-
tos da sexualidade.
As crianças, apesar de tudo, seguem lutando 
por um lugar no Outro, um lugar em seus pais. Po-
demos contribuir para que elas encontrem esse lu-
gar. Podemos “cavar com picareta”, “garimpar” esse 
lugar e assim possibilitar aprendizagem e mesmo 
para aqueles que não venham a aprender, dar al-
gum lugar de valorização. Ter um lugar importan-
te, apesar de tudo. Na Educação Psicomotora, não 
é diferente. Muitas crianças com problemas psico-
motores são excluídas, negligenciadas, quando, na 
verdade, podem ter muitas condições cognitivas, 
camufladas sob seu aspecto físico.
Aqui cabe refletir: por que atacamos tanto 
aqueles que já “desvalorizados” não sabem 
“pedir com educação”? Como ajudá-los a vol-
tar ao caminho dos “educados e felizes”?
REFLITA
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
22 
A postura subjetiva do professor afeta a relação com 
aluno. Tudo é percebido pela criança, colaborando 
ou atrapalhando o seu desenvolvimento: como o 
professor se refere aos alunos, como ele fala, como 
ele olha, como ele resolve as situações, como ele 
pensa infância e a educação, como os protege, como 
os expõe etc. Os alunos não são especialistas da 
área, mas sabem sobre isso pela intuição que têm 
e pelas sensações provocadas pelas relações com 
professor e colegas. Antes de sermos adultos, seres 
burocráticos, somos crianças e temos nossa forma 
original de sentir as pessoas. Mesmo os bebês sen-
tem as pessoas e os ambientes.
Desenvolver qualidades fraternas e solidárias à causa 
Infantil é fundamental para o professor. Essa postura 
subjetiva do professor se diferencia de uma que há 
tempos atrás existia entre o professor e seus alunos. A 
autoridade e a sabedoria andam juntas. O bom humor e 
a gentileza facilitam as relações. Assim as crianças terão 
motivo para ouvir o professor. Suas qualidades humani-
zadas colaboram para a formação do aluno que poderá 
se identificar com o professor. Portanto, valorizar o não 
palpável, o subjetivo, o invisível, trarão melhores con-
dições para o trabalho do professor. Ampliando sua 
visão do sujeito humano, ampliará também sua visão 
do sujeito cognitivo (SILVA; SILVA; LEAL, 2014).
Uma Questão de 
Postura do Professor
 23
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Uma postura que impulsiona os alunos a supe-
rarem limites, a explorarem os espaços, descobri-
rem formas de agir em grupo, a se relacionarem 
com cooperação, transformará nossa sociedade. A 
cada ação gentil e incentivadora, como por irradia-
ção, produzirá ambientes mais calmos e humaniza-
dos, retirando, assim, do convívio formas violentas 
e descompromissadas com o próximo, egoístas e in-
dividualistas. O bem-estar de todos nos dá chances 
de crescer em comunhão com valores fraternos e 
assim perceber o outro semelhante na sua essência, 
garantindo que todos envolvidos no processo es-
colar e social sejam valorizados. Utopia necessária, 
quando estamos engajados na construção de um 
mundo moderno, mas não frio ou mecânico. As 
primeiras relações com os pais são determinantes, e 
as primeiras relações com os professores são funda-
mentais para nossas identificações sociais. Temos, 
portanto, imensa responsabilidade social quando 
estamos diante dos alunos. Nossa pequena parcela, 
somada a outras, fará a diferença no clima e na at-
mosfera psíquica da escola e do mundo, sendo oti-
mistas e acreditando que somos parte dessa imensa 
engrenagem chamada humanidade.
Até mesmo o marketing, área envolvida em como 
vender um produto ou serviço, sabe disso. Não será a 
educação que ficará fora dessa maneira inteligente de 
fazer sua práxis.
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
24 
Por que algumas crianças enlouquecem seus pro-
fessores? Onde isso tudo teve início? Certamente é 
anterior à escolaridade. Vejamos onde se localizam 
os primeiros “nós” que podem entravar o desenvol-
vimento da criança que, uma vez afetada em seu psi-
que, trarão consequências corporais e vice-versa. 
Quando estamos ao lado de uma criança com 
transtornos psicomotores (dificuldade no movi-
mento, agitação, falta de concentração, apatia etc.), 
Psicomotricidade e 
Dificuldade de Aprendizagem
Um Olhar Além do Corpo
o que mais nos chama a atenção é como o corpo da 
criança se mostra, ou como ele se deixa ver. Geral-
mente são “corpos” extremamente visíveis. Salta aos 
olhos de qualquer um esse corpo descoordenado, 
desequilibrado, agitado. É aqui que precisamos ver 
além do corpo. 
Corpo que se faz presente demais, que disfarça 
ou camufla sofrimentos que geraram tal desarmonia 
no sujeito. E isso tem causas diversas.
 25
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Normalmente, crianças com tais sintomas acabam 
por serem maltratadas por causar muita confu-
são nos ambientes que frequentam e são chamadas 
comumente de “bagunceiras”, “desordeiras”, “ma-
landras”, “desobedientes” etc. Raramente o adul-
to envolvido com essa criança faz outra leitura da 
condição da criança. Esses adjetivos poderiam ser 
substituídos por: “abandonada”, “vítima”, “não com-
preendida”, “sofredora”, “superexigida”, “superprote-
gida”, “não acolhida” etc. Adjetivos que falariam da 
responsabilidade e da falha do adulto para com essas 
crianças (MENEZES, 1998, on-line)4.
É necessário levar em conta o estilo de cada criança; 
não exagerar nas exigências; dar chance à criança de 
errar, acertar, falar; organizar sua rotina com regras e 
respeito. Esses são aspectos que auxiliam no desen-
volvimento infantil. Às vezes, as pessoas não incluem 
suas crianças nas escolhas da família como: passeios, 
férias de verão, responsabilidades, decisões, opiniões 
e isso as torna excluídas de sua própria família e alheia 
à sua realidade. Outras vezes são dadas às crianças to-
tal liberdade de decisão e escolha, o que também não 
é adequado para essa idade, porque as crianças não 
têm condições de se autogerenciarem, fazendo deles 
“pequenos reis”, aterrorizando seus súditos (os pais). 
Os laços estabelecidos entre a criança e seus pais 
desde o nascimento farão sentir agora que ela já fala, 
caminha, escolhe, opina. No entanto, se esses laços 
não se estabeleceram adequadamente, a relação co-
meçará a demonstrar seus problemas. É quando se 
nota que tudo se transforma em conflito com o fi-
lho e seus pais, e posteriormente com os professo-
res. Vejamos como sutilezas subjetivas determinarão 
problemas nos relacionamentos futuros da criança 
(babás, coleguinhas, familiares, professores, e mais 
tarde chefe, cônjuge, filhos).
O adulto geralmente não se coloca em outro ân-
gulo para ver a criança, justamente por ter res-
ponsabilidadesobre esses sintomas, e inconscien-
temente sabe disso, embora se esforce para não 
saber. É provável que os adultos amem suas crian-
ças, mas só o amor não basta para estruturar uma 
pessoa. É preciso envolvimento, investimento 
psíquico, acolhimento, aceitação, sensibilidade, 
olhar e escuta especial. 
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
26 
A primeira relação significante que uma criança tem 
é com aquele que lhe cuida, geralmente a mãe. É 
nessa relação, relação primordial, que se construi-
rão todas as outras relações e percepções que propi-
ciarão o desenvolvimento harmônico. Muitas vezes, 
esse laço no início da vida das crianças acontece de 
forma desastrosa, não adequada ou na pior das hi-
póteses não acontece. Dessa forma, teremos a ori-
gem de transtornos psicomotores.
O corpo não se organiza quando o fio condutor 
de toda a relação estiver frágil ou partido. A men-
sagem dos pais chega até a criança, mas de forma 
tênue ou defeituosa. Assim, o laço do outro com a 
criança se mostrará insuficiente. Somos todos ape-
nas semelhantes entre nós, com pequenas diferenças 
que nos marcarão como sujeitos, cada um com seu 
estilo e peculiaridade. É no corpo que as dificulda-
des psíquicas mostrarão seus efeitos. Muitas crian-
ças mostram atraso no desenvolvimento sem esta-
rem afetadas por nenhuma patologia orgânica, e sim 
por dificuldades no laço com seus pais, que neste 
momento não dão conta de sustentar psiquicamente 
seu rebento. Sustentar a criança enquanto pequena 
é muito importante para a sua estruturação global. 
Sustentar no sentido simbólico, dar conta de 
estruturar o que futuramente terá condições de se 
estruturar sozinho, mas que por enquanto é frágil 
e indefeso demais. É emprestar-se à criança como 
continente e que lhe dê proteção e segurança. E sus-
tentar, no real, é cuidar da sobrevivência do bebê, da 
alimentação, da higiene, de proteger das intempéries 
etc.; porque no início da vida, a pele, assim como 
os outros sentidos, são de fundamental importân-
cia. Por essas vias que os bebês decodificam todos 
os estímulos que chegam do ambiente, e todas as 
sensações são resumidas em duas; dor ou prazer, de-
pendendo disso o seu bem-estar. A frase de Jacques 
Lacan, “o bebê é no Outro”, trata dessas questões.
A dose de como organizar a vida de uma criança se tor-
na, então, uma dúvida constante, entremeada por cer-
tezas momentâneas. É essa dúvida que abre na criança 
a possibilidade de “ser”. Quando o outro primordial (a 
mãe) vacila, diminui a sua certeza, consequentemen-
te, o pequeno ser poderá se mostrar e se apossar do 
seu jeito. Características como ser mais chorão, menos 
guloso, mais calmo, mais alerta, mais tranquilo etc., é 
que tornarão única essa criança, que há poucos dias 
era apenas uma hipótese no imaginário dos pais.
 27
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
É a própria criança que mostrará aos adultos que 
lhe rodeiam como deverão cuidar dela. Quando insis-
timos em não notar o que as crianças nos mostram, te-
remos o início dos transtornos e das psicopatologias.
Na escola, muitas vezes, essas crianças não serão 
ouvidas, não serão percebidas, não serão valoriza-
das. Chegarão carregando suas formas peculiares e 
às vezes desastrosas de relação. Muitas vezes é o con-
trário, o que chega na escola são crianças hiperexi-
gidas, hiperesperadas, hiperautoritárias, hiperter-
roristas. Logo, também, se percebe a maneira como 
foram construídas, no qual, talvez, o objetivo núme-
ro um seria que a criança fosse melhor que todas, 
para que os pais fossem, assim, melhores também 
na opinião das demais pessoas do círculo de convi-
vência. Onde não pode ser feito um projeto adequa-
do, um pedido possível, um investimento razoável, 
aparecerão crianças fora do comum; que não param, 
que não ouvem, que não respeitam, que não têm afe-
to, que não se sentem valorizadas, e que exigem que 
alguém lhes ajude a organizar um projeto possível 
para elas. Aqui o professor e o terapeuta poderão co-
laborar, adequando com os pais uma nova posição 
para a criança que sofre muito e apresenta sintomas.
Nova posição significa adequar sentimentos e atitu-
des para com a criança. Por exemplo: uma criança 
que é tratada como bebê, está mal posicionada em 
sua família. Ou uma criança que tem a função de 
salvar um casamento ou coisa parecida, tem uma 
função impossível para ela. É preciso retirá-la desse 
lugar em intervenção terapêutica junto aos seus pais.
As crianças que causam dificuldades na escola, 
que enlouquecem professores e funcionários, estão 
gritando por ajuda. Seu mal-estar não permite que 
ela se mostre tranquila, aprendendo, brincando, 
criando, como as outras crianças. A posição que lhe 
cabe, e que lhe coube até então, mostra uma ina-
dequação que causa uma tremenda dor psíquica, 
fazendo com que ela se agite ou se deprima, se an-
gustie e assim não aprenda, não acredite que possa 
arcar com suas responsabilidades, e, assim, não reaja 
frente aos deveres escolares; acreditam que os outros 
não gostam dela, e, por isso, respondem geralmente 
de forma agressiva.
O professor tem a tarefa de ver a criança além 
do sintoma e abrir um canal de escuta, ter um olhar 
que “fisgue” a criança e que faça com que ela se sin-
ta importante e que esteja incluída na preocupação 
da professora, dessa forma poderá fazer algo inte-
ressante para ela (representante dos pais). Quando 
conseguimos “fisgar” essa criança, é porque fomos 
suficientemente sensíveis e acolhedores. 
As crianças com sintomas começam a se de-
sarmar, a ouvir o outro e a tentar responder a essa 
demanda de amor. Isso pode ressignificar tantas 
marcas intoleráveis até então. Por isso, o profes-
sor tem o que fazer! Não angustiar-se vendo como 
impossível essa tarefa, e contar com a assessoria 
de profissionais de outras áreas, poderá colaborar 
enormemente para a melhor condução dessa pro-
blemática escolar.
28 
considerações finais
N
esta primeira unidade do livro, vimos alguns aspectos muito rele-
vantes para a prática docente de uma forma geral. Saber compre-
ender os alunos, motivá-los, e colaborar com seu desenvolvimento 
são tarefas importantes.
As leituras e aprendizados feitos até aqui deverão ser ampliados. Sempre é 
necessário, para conhecermos bem um determinado tema, que busquemos ou-
tros autores que falem de outras formas, e, assim, formularmos nossas próprias 
convicções, mas sempre baseados em autores respeitados, que já desenvolveram 
bem o assunto, e permitam sua compreensão. Caso não façamos com cuidado e 
rigor nossa formação, corremos o risco de identificar apenas alguns pontos su-
perficiais das questões e não conheceremos com a profundidade necessária para 
termos condições de avaliar e concluir melhor.
A intenção dessa unidade foi mostrar o quanto as subjetividades compare-
cem no trabalho do professor. A do próprio aluno, do professor, das famílias 
e social de uma forma ampliada. Isso será a base para compreender os demais 
aspectos do desenvolvimento psicomotor.
É necessário ter conhecimento sobre a criança, seu desenvolvimento, a escola, 
a postura do professor, para então podermos seguir adiante estudando sobre a 
história da psicomotricidade, autores relevantes, o desenvolvimento psicomotor, 
as atividades práticas, o brincar, os problemas psicomotores e finalmente a ava-
liação psicomotora.
 29
atividades de estudo
1. Para Jerusalinsky (1999, p. 28) “o desenvolvimento de um bebê humano não opera 
por simples automatismos biológicos”. Nesse trecho, a autora está afirmando que:
a. O desenvolvimento do bebê segue de forma cronológica com base na biologia.
b. O desenvolvimento do bebê está relacionado com o tônus muscular, sua estrutura física.
c. O desenvolvimento do bebê envolve a linguagem, sua constituição psíquica para 
além da questão apenas biológica.
d. O desenvolvimentodo bebê possui uma cronologia evolutiva determinada na biologia.
e. O automatismo é um aspecto importante no desenvolvimento do bebê.
2. A constituição da criança, no seu desenvolvimento, envolve uma série de 
laços reais, imaginários e simbólicos que fazem parte da organização do 
seu psiquismo. Nesse sentido, a organização psíquica envolve:
I. A realidade familiar e especialmente a vivência subjetiva.
II. A simbolização, que é uma atividade de representação, na organização dos conte-
údos psíquicos.
III. A social, pois é pelo social que se aprende a cultura e se insere no sistema simbólico 
da linguagem. 
IV. Os laços simbólicos, fruto da relação com os tutelares.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Todas estão corretas.
30 
atividades de estudo
3. Lacan pretendia dar conta da relação do homem com tudo que o determi-
na, assim estabeleceu diversos conceitos como o conceito de Outro, que 
significa:
a. Apenas a figura do pai e da mãe.
b. Pessoas do nosso convívio e a própria cultura.
c. Apenas os professores e amigos.
d. A mãe, que é a pessoa mais próxima da criança.
e. As pessoas do convívio escolar.
4. Para você, querido(a) aluno(a), que está iniciando os estudos sobre o de-
senvolvimento psicomotor, cabe um questionamento para seu autoconhe-
cimento: o que determinou e determina quem você é?
5. Na turma de um professor do ensino fundamental, tem uma criança que 
é constantemente rotulada por seus pares como: bagunceiras, hiperativa, 
agitada e com dificuldade de atenção. Acerca do papel do professor, diante 
de estratégias que visam a inclusão do aluno, avalie as afirmações a seguir.
I. O professor deve encaminhar esse aluno a uma turma especial com alu-
nos que apresentem as mesmas dificuldades.
II. O professor deve elaborar atividades para que o aluno participe e se en-
volva com a turma.
III. O professor necessita olhar para o aluno além dos sintomas que ele apre-
senta, para acolher o aluno.
IV. O professor necessita humanizar a relação com o aluno e do aluno com a 
turma.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas IV está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Todas estão corretas.
 31
LEITURA
COMPLEMENTAR
O EIXO DO CORPO
Esteban Levin
A temática do eixo corporal nas crianças pequenas remete-nos diretamente a interro-
gar-nos sobre o papel da postura e da representação no desenvolvimento psicomotor 
de um sujeito.
Acreditamos que a primeira postura, o primeiro eixo corporal, organiza-se e delimita-se 
a partir do toque e da postura do Outro materno. É nessa cena de diálogo tônico-ges-
tual e corporal que o recém-nascido sustentará não apenas seu corpo, mas também 
sua imagem. Nesse cenário simbólico, os movimentos arcaicos do bebê serão tomados 
como gestos, o amamentar será tomado como um ato de amor, o grito será transfor-
mado em chamado e a gestualidade refl exa se confi gurará como um dizer. Nessa ver-
dadeira metamorfose corporal e gestual, o eixo corporal começará a funcionar como 
representação e como lugar em que se instala o desejo do Outro.
A ideia de eixo corporal remete-nos ao que se perguntava Diderot no século XVIII: “se 
lhe perguntamos o que é um corpo, você responderá que é uma substância, um vo-
lume impenetrável, fi gurado, colorido e móvel. Mas separe desta defi nição todos os 
adjetivos. O que restará para este ser imaginado que você chama de substância?”
O eixo do corpo é um polo integrador das funções cinestésicas e labirínticas, que orde-
na o corpo ao promover o equilíbrio em relação à posição postural, espacial e temporal.
A sensibilidade cinestésica refl ete a posição do corpo em relação à força da gravidade. O que 
marca a importância dessa sensibilidade na orientação e no equilíbrio do corpo no espaço.
O sentido cinestésico do equilíbrio postural (sensações correspondentes aos músculos, 
às articulações e aos tendões) junto com o órgão do equilíbrio localizado no ouvido in-
terno determinam o modelo neuromotor da orientação e do equilíbrio corporal, dando 
lugar à função do eixo.
O eixo do corpo em sua função de receptáculo (parafraseando Jean Bergès) transfor-
ma-se em um operador fundamental para o desenvolvimento psicomotor e para sua 
constituição subjetiva. Nas crianças pequenas, o efeito de apaziguamento gerado pelos 
movimentos de embalar e movimentar que o Outro realiza acompanhado pela sua voz 
(canção de ninar) abre o caminho para o que inteligentemente Dupré chamou de “o 
lado negativo da motricidade” (o relaxamento).
O ritmo do impulso motor é delimitado por um estado de contração muscular (o lado 
positivo da motricidade) e um estado de distensão (o lado negativo da motricidade); 
32 
LEITURA
COMPLEMENTAR
entre essas variações tônicas motoras e suas referências posturais (em especial, em 
relação com o eixo corporal) oscila a motricidade de um sujeito. Desse ponto de vista, 
o lado “negativo” da motricidade não é a passividade, mas o que nomeia a síncopa, o 
silêncio necessário para que o movimento se organize em um ato gestual.
Tanto os estados de tensão permanente (as paratonias) como os estados de hipotonia 
generalizada situam a impossibilidade do desdobramento psicomotor, especifi camen-
te no concernente ao ritmo do impulso motor necessário para o “exercício” de seu 
funcionamento e do fazer signifi cante.
As crianças com sintomatologia psicomotora nos “fazem ver” a queda, o desmoronamen-
to do eixo corporal, dramatizado em sua desorientação espacial sem limites representa-
tivos nos quais sustentar-se para situar-se e diferenciar-se. Em parte, esta é a demanda 
que a criança enuncia nesse singular “fazer-se ver” na relação com o olhar do Outro.
O impulso motor desprende-se da postura. A partir disso, o eixo do corpo se confi gura-
rá como a “coluna vertebral” do postural.
Esse primeiro eixo corpóreo é ritmado pelas presenças e ausências que o Outro ma-
terno demarca em seus cuidados periódicos, nas trocas e giros posturais que realiza 
com o recém-nascido, nos jogos e imitações corporais, no manejo do corpo. Tudo isso 
produz como efeito sensações cinestésicas e labirínticas que se incorporam e ressoam 
no bebê como uma primeira musicalidade estética, um ritmo que marcará o encontro-
-desencontro com o Outro.
O impulso motor de um sujeito, em seu correspondente tônico, responderá a esse rit-
mo “estético” delimitado pelas presenças e ausências, abrindo o caminho à representa-
ção, que, desse modo, fi cará ligada ao eixo do corpo em sua função de receptáculo do 
toque, do dizer e do movimento que o Outro imprime no corpo.
Nesse sentido, o ritmo periódico e melódico (limitado pelo lado negativo, silencioso da 
motricidade) do movimento corporal tem uma “sonoridade” musical que institui um 
tempo: o tempo orientador no encontro com o Outro que marcará o impulso motor do 
infans e, por que não?, sua temporalidade.
O domínio da motricidade estrutura-se, em grande medida, a partir desse laço com o 
Outro que transforma o movimento em gesto e em imagens lúdicas. O sistema motor 
fi ca assim limitado pela dimensão psíquica que constitui a direcionalidade e a orienta-
ção do sistema. Daí o psicomotor.
Fonte: Levin (2000, on-line)5.
 33
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
No site Criança e Natureza, você terá sugestões de como envolver a criança no ambiente na-
tural e potencializar suas experiências por meio do brincar livre e exploratório. Acesse o link: 
<http://criancaenatureza.org.br/>.
A Infância em Cena
Esteban Levin
Editora: Vozes
Sinopse: que infl uência tem a estrutura e o desenvolvimento 
psicomotor para o desenvolvimentoda criança? A formação - 
construção, desenvolvimento, amadurecimento e crescimento 
- do corpo e do corpo subjetivado são determinadas por uma 
infi nidade de atividades como desejar, agarrar, engatinhar, balbuciar etc. O livro detém sua 
análise a essa fase como um todo, a qual começa a estruturar-se o universo simbólico e o 
sujeito. O autor apresenta caminhos inexplorados no campo da infância, na interrogação 
acerca do sujeito e do seu corpo.
Como Estrelas na Terra
Aamir Khan, Darsheel Safary, Tisca Chopra 
Direção: Aamir Khan
País: Índia
Sinopse: o jovem Ishaan tem muita difi culdade para se concen-
trar nos estudos, e mal consegue escrever o alfabeto. Depois de 
diversas reclamações da escola, o pai, que acredita que Ishaan 
não faz as tarefas por falta de compromisso, decide levá-lo a um internato, o que leva o 
menino a entrar em depressão. Contudo, um professor substituto de artes, Nikumbh, logo 
percebe o problema de Ishaan e entra em ação com seu plano para devolver nele a vontade 
de aprender e, sobretudo, viver.
34 
referências
Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasi-
leira, com comentários e notas de James Strachey. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Edi-
ção de 2006. Volume XIX, “O ego e o id e outros trabalhos (1923-1925), p. 261-269.
______. Esboço de psicanálise, 1940. In: Edição standard brasileira das obras psi-
cológicas completas de Sigmund Freud, vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
JERUSALINSKY, J. Enquanto o futuro não vem: A psicanálise na clínica inter-
disciplinar com bebês. Salvador: Ágalma, 2002.
JERUSALINSKY, A. N. Psicopatologia dos bebês: entre as neurociências e a psi-
canálise. In D.C. Barbosa & E. Parlato-Oliveira (Orgs.). Psicanálise e clínica com 
bebês: sintoma, tratamento e interdisciplina na primeira infância (p. 23-32). São 
Paulo: Ed. Instituto Langage, 2010.
LACAN, J. (1964- 1965). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamen-
tais da psicanálise. Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Versão brasileira 
de M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1979.
MANNONI, M. Educação impossível. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
MIRANDA, M. G. Psicanálise e Educação: o que revela um sintoma na apren-
dizagem? MARINGÁ. Revista Maringá Ensina. SEDUC, ago./set./out. 2011, 
n.20, p. 44-47.
MILLOT, C. Freud antipedagogo. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.
PROUST, M. Em busca do tempo perdido - Do lado de Swan. Relógio D’água, 
Lisboa, 2003. Tradução: Pedro Tamen.
SILVA M. A. A.; SILVA, L. B. da; LEAL, A. L. G. A importância da Relação Hu-
manizada professor-aluno para a superação das dificuldades de Aprendizagem. 
II Encontro Internacional de Educação e Espiritualidade. Recife, 2014.
WALLON, H. Psicologia e educação da criança. Lisboa: Veiga, 1979.
Referências On-line
1 Em: <www.dicionarioetimologico.com.br>. Acesso em: 11 mai. 2017.
2 Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Lacan>. Acesso em: 11 mai. 2017.
3 Em: < http://www.profala.com/artpsico41.htm>. Acesso em: 11 mai. 2017.
4 Em: <https://www.researchgate.net/publication/48928933_Dimensoes_psiqui-
cas_e_sociais_da_crianca_e_do_adolescente_em_situacao_de_rua>. Acesso em: 
11 mai. 2017.
5 Em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 
71282000000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 mai. 2017.
 35
gabarito
1. C.
2. E.
3. B.
4. R: Você poder ter respondido: um conjunto de experiências vividas, seu relacionamento com 
sua mãe, pai e familiares e também a cultura de forma geral, mas cada um tem uma história 
única e especial na qual determinou quem você é hoje.
5. D.
Professora Dra. Mara Cecília Rafael Lopes
Professora Esp. Maria Gorethe de Vasconcelos Miranda
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• Biologia e subjetividade humana
• O Brincar: principal ferramenta da infância
Objetivos de Aprendizagem
• Compreender a importância do brincar na estruturação 
da criança.
• Valorizar o brincar infantil como instrumento pedagógico.
• Perceber a fundamental ligação entre orgânico e subjetivo, 
que une a biologia e o psiquismo.
O BRINCAR E O 
DESENVOLVIMENTO 
PSICOMOTOR
II
unidade
INTRODUÇÃO
N
esta unidade estudaremos sobre a importante aliança entre o 
biológico e a subjetividade humana. Veremos como o brin-
car é fundamental na infância e como a criança se coloca no 
mundo por meio desta atividade, organizando sua relação 
interpessoal e sua aprendizagem. A mãe, o outro primordial, inaugura a 
criança no campo do brincar, colaborando para a independência psíqui-
ca do bebê. As variadas formas do brincar servem como ferramenta para 
a estruturação psíquica, favorecendo o psicomotor e o cognitivo.
O brincar colabora na estruturação corporal impulsionando o De-
senvolvimento Psicomotor. Nenhuma dificuldade existirá para a criança 
diante do entusiasmo de descobrir, de construir e realizar seus intentos 
quando está motivada pelo brincar. 
É verdade que houve uma grande modificação na infância e no brin-
car ao longo da história, mas este continua sendo primordial na infância. 
Na escola devemos reservar cuidadosamente os espaços para o brincar, 
valorizar e respeitar essa importante atividade infantil.
Também poderemos compreender o quanto o brincar é organizador 
do sujeito, trazendo formas civilizadas e ordenadas de convivência, sen-
do uma forma de diminuir a indisciplina na escola e na vida.
O excesso de intelectualismo, isto é, a insistência em tornar as crian-
ças precocemente intelectualizadas, muitas vezes, impede o brincar nas 
escolas, em tempos que o brincar ainda serviria muito na formação de 
nossas crianças. É preciso que os professores as incentivem, e saibam que 
essa fase não termina com a alfabetização dos alunos. Pelo contrário, vai 
até o final da infância e início da adolescência, quando, então, o brin-
car será substituído pela atividade mais intelectualizada. Em cada um de 
nós, porém, reside ainda a criança que amou brincar. Com ela, permane-
ceremos para favorecer o brincar de todas as crianças que convivemos, 
sejam alunos, filhos, ou amigos.
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
40 
Biologia e 
Subjetividade Humana
 41
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Os aspectos orgânicos se referem ao aparato biológi-
co humano. Sistema nervoso central, músculos, ossos, 
tendões, órgãos, membros, articulações, fisiologia, 
anatomia, juntamente com o subjetivo, ou seja, com os 
aspectos psíquico e cognitivo, serão a base da estru-
turação humana. Podemos dizer que o orgânico sus-
tentará o simbólico. Sabemos que o sujeito se constitui 
nessa necessária união do orgânico e da subjetividade, 
dessa forma os pais oferecem a hereditariedade orgâni-
ca e também sua hereditariedade subjetiva.
Durante sua existência, a criança participará do 
seu processo de estruturação primeiramente de for-
ma passiva, pois será afetada pelo desejo de seus pais, 
seus projetos, e tudo mais que dirigirem ao filho, 
mas logo depois, de forma ativa, pois dará retorno 
aos pais, afetando-os também, como uma usina, ali-
mentando e retroalimentando ambas as partes, pais 
e filho. Toda essa rede simbólica e imaginária criada 
pela família em direção da criança a tornará um se-
melhante. Tudo foi herdado dos pais, mas, ao mesmo 
tempo, modificado pela criança, que também será 
protagonista de sua história.
Nos primeiros meses de vida, a criança vive seu 
corpo com sensação de despedaçamento, pois ainda 
não há recursos que lhe dê a sensação de unidade. O 
orgânico e o subjetivo imaturos tornam difíceis seus 
primeiros meses, provocando choros e dificuldades 
constantes de toda ordem: alimentação, digestão, 
defecação, aconchego, mal-estar, dor e aflição. Por 
isso, a forma como seu corpo é tomado pelo adul-
to responsável fará toda a diferença nos progressos 
subsequentespara as próximas fases. Como é tocado, 
olhado, acalmado, pensado? Dependerá, portanto, 
da saúde psíquica familiar, do modo como seus pais 
se sentem quando confrontados com essas questões. 
Quanto menor a angústia dos adultos, mais harmo-
niosa e prazerosa serão as primeiras vivências da 
criança e melhor será o desenvolvimento infantil 
(Zveiter; Pongianti, 2006).
Quando, então, já for possível à criança ter al-
gumas representações de si mesma, sua imagem 
unificada e suas atividades serão organizadas, seu 
esquema corporal lhe dará possibilidades de ação, e 
as aprendizagens se farão notar sem maiores dificul-
dades. Estará aprendendo e apreendendo o mundo, 
chegando a organizar e efetivar suas primeiras ações 
pensadas. Enquanto isso, precisarão de colo, de acei-
tação, de olhar motivador, de sustentação. O outro 
semelhante os impulsiona aos novos progressos em 
todas as áreas do desenvolvimento. Assim, as próxi-
mas etapas da vida dependem das primeiras vivên-
cias infantis. As demais relações dependem da pri-
meira relação com os pais ou com quem os marcou 
significativamente.
Quanto ao desenvolvimento psicomotor, tam-
bém precisamos entender que a criança necessita de 
vivências motoras que resultem em ações prazero-
sas e que o movimento colabore para a descoberta 
do mundo. Para Aucouturier (2007), o prazer é um 
conceito fundador no desenvolvimento infantil, abre 
a criança ao mundo, por outro lado o desprazer o 
afasta, o fecha sobre si mesmo. 
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
42 
Assim, por exemplo, a organização do tônus 
muscular não depende somente de sinergias e 
automatismos neurofisiológicos, mas sim do 
tipo de tratamento que o Outro na posição ma-
terna outorgue aos estímulos internos que as-
sediam a criança. Destacados psicomotricistas, 
como André Lapierre, Bernardo Aucouturier, P. 
Voyer e outros assinalaram como decisiva a in-
tervenção do outro possibilidade de uma efetiva 
maturação harmônica do tônus muscular. Em 
outra direção, mas convergindo neste conceito, 
J. Ajuriaguerra assinalou a importância do “di-
álogo tônico”, ou seja, a necessidade para que se 
opere um desenvolvimento neste campo, de que 
a mãe signifique que no campo da linguagem 
(dimensão especificamente psíquica) o que o 
bebê manifesta em suas variações tonico mus-
culares. (JERUSALINSKY, 2010, p. 24).
Portanto, exercícios repetidos e enfadonhos não 
correspondem à necessidade infantil. A Psicomo-
tricidade não trata com exercícios motores que nos 
pareçam bonitos ao olhar externo, e sim, com ativi-
dades significantes e ricas de simbolismo, ajudando 
a criança a descobrir-se e descobrir o mundo à sua 
volta. Do mais simples ao mais complexo e do mais 
natural ao mais elaborado e coordenado. 
Podemos pensar que o brincar espontâneo é o mais 
importante na infância, e é esse exercício o mais inte-
ressante. Seria então o “exercício do desejo”, ou seja, 
aqueles movimentos que favorecem a organização psí-
quica, auxiliando na solução de questões pertinentes à 
etapa de estruturação da criança, e por consequência 
levando à organização da corporeidade e do psiquismo. 
O movimento será proporcional à motivação, 
à curiosidade e à necessidade de descobrir todas as 
coisas do mundo, para, assim, compreendê-lo. A 
criança busca aquelas atividades que no momento 
concorrem para as suas necessidades. Basta observar 
com atenção e cuidado a atividade infantil para com-
preensão de seu momento global.
Qual o papel do brincar, especialmente nessa 
fase da vida?
Por meio do brincar, a criança constrói 
normas, aprende a regular suas ações, a 
se relacionar, interage, questiona, argu-
menta, aprende a se organizar, comparti-
lha ideias, cria e recria o mundo. O brincar 
espontâneo, autoiniciado pela criança, é 
fundamental na escola. É preciso permitir 
e prover essa forma de brincar. O brincar 
dirigido, conduzido pelo adulto, e o espon-
tâneo, proporcionam o desenvolvimento e 
a aprendizagem. Ao brincar, a criança tem 
a possibilidade de conhecer seu próprio 
corpo, o espaço físico e social, as pessoas 
com as quais ela convive, conquistando a 
autonomia e construindo sua identidade. 
Terá oportunidade de aprender conteúdos 
conceituais, atitudinais e procedimentais 
nas mais diversas áreas do conhecimento 
e poderá desenvolver as linguagens oral, 
escrita, musical, plástica e a matemática. 
Fonte: Melo ([2017], on-line)1.
SAIBA MAIS
Se uma criança está agitada e agressiva, é natural que 
precise de atividades que lhe permitam exteriorizar 
esses sentimentos, e portanto, devemos colaborar 
para que as atividades lhe permitam organizar seus 
conflitos. Nesses momentos, não poderemos ofere-
cer ações de concentração e calma e sim movimen-
tos rápidos, fortes, que lhe exijam usar seu corpo de 
forma parecida com a sua situação. Após essas ati-
vidades adequadas ao humor, a criança se mostrará 
extenuada e poderá, agora sim, se acalmar e relaxar 
com a ajuda do professor.
 43
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Ao contrário, se a criança se mostra desmotivada 
e apática, deveremos ir pouco a pouco aumentando 
a intensidade da atividade, de modo que a criança 
vá entrando numa proposta de ação e movimento. 
O importante é sabermos que nossos grupos não se-
rão homogêneos, e que nenhum grupo será. E assim 
mesmo, ter, ao mesmo tempo, alternativas diferentes 
para um mesmo grupo.
O professor deverá colaborar para que a criança 
perceba o modo como se sente, que “escute” seu cor-
po, articulado ao seu desejo inconsciente, facilitando 
também nosso trabalho e nossas intervenções. Dessa 
forma poderemos colaborar com a corporeidade e 
suas significações, sua linguagem corporal.
É com isso que trabalhamos em Psicomotricida-
de, com a criança, seu movimento e sua história.
Desde muito cedo, nos bebês, podemos obser-
var sua estruturação, se estão se desenvolvendo 
bem, ou se mostram sinais de dificuldade ou dis-
túrbios. Também é possível observar como está seu 
tônus, sua força muscular, seu equilíbrio, sua ini-
cial coordenação, sua ação sobre os objetos, se seu 
olhar é expressivo, convocante, conectado, curioso 
ou apagado e sem graça, não se interessando pelas 
pessoas e os objetos à sua volta. Tudo isso nos serve 
de base para entendermos como está a criança em 
seu desenvolvimento.
A prevenção da saúde infantil está em promo-
ver vivências, relações, situações, para que a crian-
ça escreva sua própria história e sua maneira única 
de existir, assim, socializando, respeitando regras de 
convivência e evoluindo como pessoa.
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
44 
Sabemos que o brincar é a atividade por excelên-
cia na infância, e é verdade que a infância sofreu 
muitas modificações ao longo da história, mesmo 
assim, o brincar continua sendo a principal ferra-
menta dessa fase.
Os brinquedos foram registrados com o surgi-
mento das civilizações, no período entre 3 mil e 2 
mil a.C. no Antigo Egito, já tendo sido encontra-
das bonecas em túmulos de crianças (MUSEU DO 
BRINQUEDO, [2017], on-line)2.
O Brincar: Principal 
Ferramenta da Infância
Essa informação demonstra a antiga e necessá-
ria atividade infantil. Os brinquedos, objetos nor-
malmente oferecidos pelas mães, têm a importante 
função de substituí-la, de facilitar a separação sim-
bólica, e assim impulsionar seus filhos ao desenvol-
vimento e independência.
A criança de antes não gozava do status que tem 
hoje. Também o brincar não era valorizado como 
hoje. No livro História social da família e da criança, 
Ariès (1981) diz que a criança era vista como um 
 45
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
adulto em miniatura. Que tão logo pudesse exer-
cer atividade produtiva, era tomada como adulto, 
passando assim da infância à vida adulta de forma 
abrupta, não havia adolescência. 
Hoje temos uma grande modificação na forma 
de brincar.Os brinquedos eletrônicos estão demasia-
damente presentes, esmagando precocemente a pos-
sibilidade de interação com os semelhantes. Um dos 
principais objetivos do brincar é oportunizar à crian-
ça conhecer o mundo em que se vive, isso envolve 
imaginação, fantasia e convívio social. O problema é 
que a maioria dos jogos eletrônicos não apresentam 
tais características (SETZER, 2008, on-line)3.
Isso traz uma devastação na estruturação subjeti-
va do sujeito, que ainda sem as marcas significantes, 
principais inscrições simbólicas do psiquismo, se vê 
às voltas com um excesso de objeto que impede o laço 
com seu semelhante. Como é o caso de muitos bebês 
“intoxicados eletronicamente”, que ao chegarem à ida-
de de falar, nem sequer adquirem a linguagem, fican-
do em risco de desconexão definitiva com o Outro. 
Este é um claro sinal de distúrbio de desenvolvi-
mento, pela ausência do outro semelhante, em subs-
tituição ao objeto. Não há estruturação do sujeito, 
não há o brinquedo simbólico, não há outras signifi-
cações, não há substituições nem metáforas, que são 
a riqueza do psiquismo humano.
Caro(a) aluno(a), quais foram suas experiên-
cias brincantes na infância? Quais os brinque-
dos ou objetos que você se lembra? O que 
você sente quando recupera essas memórias?
REFLITA
QUANDO COMEÇAMOS A BRINCAR?
Podemos pensar que as crianças brincam desde 
que são bebês, a partir de 2 meses em diante. E 
que a cada momento brincam de forma diferente. 
Não há “mesmice” no brincar. Suas mães ofere-
ceram brinquedos a eles e para Winnicott (1975) 
essa é uma forma da relação mãe/bebê. É a “pri-
meira possessão”, segundo o autor. As mães ofe-
recem os brinquedos, esperando que seus filhos 
se relacionem com tais objetos. Assim, inicia-se a 
paixão pelo brincar. 
A mãe substitui sua inicial doação, significante 
e corporal, oferecendo ao seu bebê um objeto que 
é metáfora da cultura, que assim irá unindo mãe/
bebê de forma simbólica. Ela oferece objetos, que 
tem efeito organizador do bebê e que favorecerá 
seu crescimento e posterior separação em direção 
à autonomia física e psíquica. Aqui está o germe 
da criatividade, da imaginação e da criação. Trans-
formando em objeto metafórico, o brinquedo tor-
na-se recurso imaginário que permite a criança ir 
construindo seu ser. Agora, seu corpo e todos os 
recursos imaginários por ela produzidos, organi-
zarão seu lugar para viver. Adquirirá a linguagem 
e seguirá fazendo metáforas, permitindo seu de-
senvolvimento.
O brincar de forma prazerosa apresenta signi-
ficado para a criança, e tais significados dependem 
do uso de símbolos, por isso o brincar não deve 
ter o foco apenas no brinquedo, no objeto, ou na 
atividade realizada pela criança, mas na represen-
tatividade do objeto e da brincadeira (WINNI-
COTT, 1975).
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 
46 
OS BRINQUEDOS ELETRÔNICOS E AS 
CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMEN-
TO INFANTIL
Por essa forma de entender a estruturação humana, 
percebemos como o uso excessivo de eletrônicos é 
danoso ao desenvolvimento, e, na verdade, nem se 
enquadra no conceito de brinquedo, visto que este 
teria a função de unir e simbolizar as relações, e não 
de desconectar a criança dos seus semelhantes.
Então, essa riqueza entre pais e filhos impulsiona 
o desenvolvimento, e não o contrário, como no uso 
solitário e sem as importantes marcas do Outro. O 
desenvolvimento das funções orgânicas por si não 
leva a criança a brincar e aprender. O que possibilita 
a evolução do sujeito são os aspectos psíquicos, as-
sociados ao aparato orgânico.
[...] problema do crescimento das crianças 
na sociedade contemporânea, sobrevém do 
fato de que o desenvolvimento social, as in-
terações sociais da criança com o adulto e 
entre as próprias crianças, estão seriamente 
ameaçados pelo avanço tecnológico (FRIED-
MANN, 1992, p. 25).
Alguns fatores juntamente com o avanço tecno-
lógico modificaram as formas de brincar como: 
a redução dos espaços físicos, pelo avanço das ci-
dades, diminuição do tempo destinado ao brincar 
em que a televisão passou a fazer parte da roti-
na das crianças, a indústria dos brinquedos, no 
qual o sonho é comprar e não produzir ou criar os 
brinquedos, a negação da necessidade do brincar 
pela escola e a sociedade como um todo (FRIED-
MANN, 1992).
O BRINCAR COMO INTERMEDIÁRIO NA 
RELAÇÃO MÃE/BEBÊ
Antes mesmo de pensar racionalmente, os bebês 
brincam, se ligam aos objetos oferecidos pela mãe, 
e com eles fabricam sua existência. Para Winnicott 
(1975), “objetos transicionais” são os objetos eleitos 
pelo bebê, que facilitarão o “descolamento” do corpo 
materno e a futura autonomia. Assim, diz-nos Win-
nicott, a percepção, a memória, a psicomotricidade, 
a linguagem, a socialização e a aprendizagem se or-
ganizaram desde esse tempo precoce, de bebê, numa 
contínua evolução gradativa e complexa. 
[...] Winnicott interpretou o significado desses 
objetos e comportamentos da seguinte forma: 
se o bebê se apega de forma tão vigorosa ao 
objeto e precisa dele para dormir, isso mostra 
que o objeto está exercendo uma função funda-
mental no psiquismo do bebê. Que função seria 
essa? Ora, quando se leva em conta que o gran-
de “problema” com o qual o bebê está tendo 
que lidar após os seis meses de vida diz respeito 
ao afastamento gradual da mãe e, por consequ-
ência, o reconhecimento dela como uma pes-
soa, logo a função do objeto ao qual o infante 
se apega se torna mais clara. Se até então a mãe 
era tudo para o bebê (dependência absoluta), 
agora que ela começa a “falhar” (dependência 
relativa), eis que um dado objeto adquire para a 
criança um significado curiosamente absoluto 
– tanto é que o bebê precisa dele para sentir-
-se seguro e dormir. O objeto, portanto, parece 
exercer, para o infante, a função de substituto da 
mãe (NÁPOLI, 2016, p. 1, on-line)4.
Por isso, o brincar é tão estruturante do sujeito. 
Quanto melhor for a substituição simbólica da mãe 
por novos objetos significantes do mundo, melhor a 
 47
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
criança reagirá e menos dependente estará, favore-
cendo, assim, a busca por novas vivências e apren-
dendo sobre o mundo. A aprendizagem será tam-
bém uma substituição do corpo da mãe por outros 
prazeres. O prazer inicialmente sentido na relação 
corporal com a mãe, agora se dirige a outras desco-
bertas, com imensa curiosidade pelo novo. O corpo 
a corpo já não será tão necessário, e a criança partirá 
em busca das outras formas de prazer. 
JOGOS ESTRUTURANTES DO SUJEITO 
A partir da inicial estruturação da imagem corporal, 
e consequente progresso na movimentação e corpo-
reidade do bebê, as brincadeiras de exploração do 
mundo se fortalecem. Dois jogos aparecem como 
fundamentais na estruturação do sujeito humano. 
São eles: o Jogo do Fort-Da e o Jogo de Faz-de-Conta.
rolava para baixo de um móvel, ao que exclama-
va “fort”. Seu neto demonstrava maior prazer no 
momento em que puxava e revia o brinquedo que 
havia desaparecido sob o móvel, e exclamava “da”. 
Freud deduz dessa observação que o menino vi-
via agora ativamente o aparecer/desaparecer que 
até então fora vivido passivamente, quando no dia 
a dia os objetos somem, tal como a mãe, que ora 
está, e ora desaparece de seu campo visual. Nes-
se momento é a criança quem faz o objeto desa-
parecer. É ela quem produz a ação de aparecer e 
desaparecer, que brincava de fazer desaparecer e 
reaparecer os objetos. 
Esse jogo é notado em várias brincadeiras da 
criança. Trata-se de jogos de presença e ausência: 
abrir e fechar/ encher e esvaziar/ por e tirar. O co-
nhecido jogo de cobrir o rosto do bebê com um 
pano e descobrir, dizendo: “Achou!”, é um exemplo 
clássico do Fort-da. E todos sabem que essas brin-
cadeiras são vividas com imenso prazer por parte 
das crianças e dos adultos. Todas as brincadeiras

Outros materiais