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PUC-SP A CITAÇÃO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO Nelson Nery Jr. Georges Abboud José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Abril/Maio de 2014 I. CONCEITO: CPC 213. “Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender.” Citação é a comunicação que se faz ao sujeito passivo da relação processual (réu ou interessado), de que em face dele foi ajuizada demanda ou procedimento de jurisdição voluntária a fim de que possa, querendo, vir se defender ou se manifestar à Na bem da verdade, a citação não é feita para o réu se defender, mas, apenas, para lhe dar ciência da demanda (v.g. execução o réu é chamado para pagar). Princípio do contraditório. à PNCPC 238. “Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual.” A CITAÇÃO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO II. ANTES DA CITAÇÃO O RÉU SOMENTE FAZ PARTE DA DEMANDA, MAS NÃO DO PROCESSO: A demanda é o ato de vir a juízo pedir tutela jurisdicional (quebra da inércia processual por ato do autor). O réu, desde que inserto na petição inicial como sujeito passivo, faz parte da demanda, mas somente com a citação é que passa a fazer parte da relação jurídica processual. É com a citação que se forma a relação jurídica triangular (Liebman). III. SISTEMA DE MEDIAÇÃO E IMEDIAÇÃO: No direito brasileiro, a citação é ato realizado mediante ordem do juiz. Esse sistema é o da mediação, no qual o juiz se coloca entre a demanda e o ato de chamar o réu a juízo. No sistema da imediação inexiste a figura do juiz na fase introdutória do procedimento sendo que a citação é feita pelos oficiais em razão do pedido direto do autor. IV. A CITAÇÃO REALIZADA DE FORMA VÁLIDA VALE PARA TODO O PROCESSO: No processo de conhecimento, que tornou-se sincrético pela entrada em vigor da Lei n.º 11.232/2005, há apenas uma citação, que garante formação do processo trilateral que se desenvolverá em fases sem solução de continuidade. V. CITAÇÃO: PRESSUPOSTO PROCESSUAL DE EXISTÊNCIA OU VALIDADE? A teoria dos pressupostos processuais originou-se da doutrina de Oskar Bulow (La teoría de las excepciones procesales y los presupuestos procesales) que identificou o processo como uma relação distinta daquela que constitui seu objeto. à Pressuposto processual: É uma exigência legal sem cujo atendimento o processo – enquanto relação jurídica – não se estabelece ou não se desenvolve validamente (HTJ). à A citação é tida pela doutrina maciça como pressuposto processual, mas há uma acirrada discussão no tocante a espécie de pressuposto, se de existência ou de validade. à CPC 214.“Para a validade do processo é indispensável a citação inicial do réu.” à Existência: Em que pese o CPC indicar, supostamente, que a citação é um pressuposto de validade, parte considerável da doutrina entende que na bem da verdade a citação é pressuposto de existência do processo (Arruda Alvim; Liebman). Isso, porque, o processo (rectius relação jurídica processual) somente se forma a partir da triangularização entre autor-juiz-réu. Antes desse momento processual não há propriamente uma relação jurídica processual, mas, como diz Chiovenda, um início de processo. à Se o réu somente passa a fazer parte do processo com a citação e se o processo somente existe formalmente com a participação do réu, sem citação não haveria processo, de forma que a citação, para a doutrina que assim sustenta, é inegavelmente um pressuposto processual de existência. à Validade: Para outra parte da doutrina, tal como expressamente disposto no CPC, a citação é, somente, pressuposto processual de validade, uma vez que entre a demanda e a citação o juiz pratica atos processuais na relação angularizada com o autor, e o faz dentro do processo (Dinamarco; Milton Sanseverino e Roque Komatsu; Pontes de Miranda; Vicente Greco Filho; Fredie Didier Jr.) Para esta parte da doutrina, o ato processual de citação se dá no bojo do próprio processo, que se forma com a propositura da demanda. A citação não seria pressuposto processual de existência, pois a sua ocorrência é posterior à formação do processo (Dinamarco). à Existência e validade: Para outra parcela da doutrina a citação é, ao mesmo tempo, pressuposto processual de existência e de validade. A citação é pressuposto de existência do processo e a citação válida é pressuposto de validade (NNJ, Teresa Arruda Alvim Wambier). à Polêmica: É inegável que a citação é um pressuposto processual, mas mesmo sem citação é possível que o Estado preste jurisdição através de atos que beneficiem o réu (v.g CPC 285-A e 295). Com efeito, com a demanda já há processo para o autor, que, dependendo das circunstâncias do caso concreto, pode ter sua pretensão processual analisada e resolvida mesmo sem a presença do réu. à O Processo: o que é? Deve ser compreendido como a conjunção da relação jurídica processual e do procedimento. A relação jurídica processual é sistema dos vínculos regidos pelo direito que interligam os sujeitos do processo. Compõe-se do conjunto de situações ativas e passivas que permitem ou exigem a prática de atos que estruturam o método de atuação do Estado: prestação da jurisdição. Com a demanda surge um vinculo entre o autor e o juiz e embora ainda não haja processo para o réu já é possível em certa escala evidenciar-se situações ativas e passivas pelas quais praticam-se atos processuais, inclusive, com possibilidade de prestação de jurisdição. à Conclusão: É possível afirmar que a citação é pressuposto processual de existência, mas para tanto parece-nos que é essencial fazermos uma ressalva: é pressuposto processual de existência do processo para a perspectiva do réu. Antes da citação o processo não existe para o réu. Antes disso a existência do processo é apenas potencial. Ele existe, mas somente entre autor e juiz. De toda forma, sempre será a citação pressuposto processual de validade do processo, sem a qual o processo não poderá se desenvolver de forma válida. E essa citação deve ser válida, sob pena de nulidade processual. PNCPC 239. “Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido.” VI. O DESTINATÁRIO DA CITAÇÃO. CPC 215, CAPUT. “Far-se-á a citação pessoalmente ao réu, ao seu representante legal ou ao procurador legalmente autorizado”. à Regra: Vige no Direito Processual Civil Brasileiro o princípio da pessoalidade da citação. Assim, o réu deverá ser citado pessoalmente. à Pessoa Física: i) Capazes: são citados pessoalmente; ii) Relativamente incapazes: são citados pessoalmente e o ato é aperfeiçoado também na pessoa de seu representante legal: CPC 8º. “Os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da lei civil.” à Absolutamente incapaz: são citados na pessoa de seus representantes legais, sem que haja necessidade do ato ser praticado na pessoa do citando (CPC 8º). CCB 3º: “os menores de dezesseis anos, os que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil e aqueles que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.” à Ao representante legal se dá o nome de tutor, quando se tratar de incapaz menor de idade, e curador, se maior. à Pessoa jurídica: A citação é feita na pessoa do representante legal. Nessa hipótese está citando-se a pessoa jurídica (ente moral) pessoalmente, não há quebra do princípio da pessoalidade da citação. à Atenção ao CPC 12 (entes despersonalizados). à Procurador com poderes: Em todo caso (pessoa física ou jurídica) é possível que a citação seja feita na pessoa do respectivo advogado, desde que tenha poderes específicos para receber a citação. Não basta procuração ad judicia, deve haver outorga de poderes específicos. ** Atenção: Nos casos de ações incidentais, o advogado está autorizado a receber a citação da parte através dos poderes de representação outorgados para o processo (ad judicia). V.g. oposição (CPC 57), reconvenção (CPC 316) (RT 578/142). à Representante legal e procurador legalmente autorizado: não representa quebra ao princípio da pessoalidade. A citação realizada nessas pessoas é considerada realizada na pessoa do citando. à Exceções: O CPC 215 apresenta duas exceções à regra da pessoalidade: CPC 215, § 1º. “Estando o réu ausente, a citação far-se-a ́ na pessoa de seu mandatário, administrador, feitor ou gerente, quando a ação se originar de atos por eles praticados.” à Ausente? Da Comarca em que tramita a demanda. à A citação é feita na pessoa que praticou o ato do qual a demanda originou-se; CPC 215, § 2º. “O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário de que deixou na localidade, onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes para receber citação, será citado na pessoa do administrador do imóvel encarregado do recebimento dos aluguéis.” à Quebra do princípio da pessoalidade: Essas hipóteses não se assemelham às hipóteses em que a citação é feita na pessoa do representante legal ou procurador legalmente autorizado. Aqui há a quebra do princípio da pessoalidade, porque o réu é citado na pessoa de outrem. VII. IMPEDIMENTOS NA REALIZAÇÃO DA CITAÇÃO. CPC 217. “Não se fará, porém, a citação, salvo para evitar o perecimento do direito: I – a quem estiver assistindo a qualquer ato de culto religioso; II – ao cônjuge ou a qualquer parente do morto, consangüíneo ou afim, em linha reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos sete dias seguintes; III – aos noivos, nos três primeiros dias de bodas; IV – aos doentes, enquanto grave o seu estado.” à Tratam-se de situações transitórias: Na bem da verdade não se trata de impossibilidade em realizar o ato da citação, mas apenas impedimento temporário. à Motivo (?) Dever de solidariedade humana, de cortesia e de respeuto a certos atos da vida (Pontes de Miranda). à Inciso IV: Doente (?) Acepção mais abrangente possível, incluindo os acidentados e feridos. à Perecimento do direito: Mesmo nas situações do CPC 217 poderá ser efetivada a citação nos casos de prescrição e decadência (que atingem a pretensão condenatória e constitutiva), bem como naquelas em que há urgência na prestação da tutela jurisdicional. VIII. EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE: A CITAÇÃO DO DEMENTE E DE QUEM ESTEJA IMPOSSIBILITADO DE RECEBÊ-LA. CPC 218. “Também não se fará citação, quando se verificar que o réu é demente ou está impossibilitado de recebê-la.” à Diferença das hipóteses do CPC 217 (?) As hipóteses do CPC 218 são diversas das hipóteses de impedimento contidas no CPC 217. Aquelas são momentâneas e uma vez cessadas a citação pode ocorrer normalmente. Nas hipóteses do CPC 218 há proibição de realização do ato em si. à As situações são permanentes e curador especial: CPC 218, §3º. “A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a defesa do réu.” Assim, verifica-se que não se trata, propriamente, de impedimento para a realização do ato, mas, sim, exceção ao princípio da pessoalidade. A citação não fica impedida de ocorrer, apenas não poder ocorrer de forma pessoal. Ou seja, o ato de citação realiza-se e não se posterga conforme as hipóteses do CPC 217. CPC 218, §2º. “Reconhecida a impossibilidade, o juiz dará ao citando um curador, observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida na lei civil. A nomeação é restrita à causa.” à Curador Especial. “Preferência estabelecida na lei civil”(?) O Juiz, ao verificar as hipóteses do CPC 218, nomeará curador ad litem e a escolha recairá, a priori, sobre alguma das pessoas indicadas no CCB 1.775: CCB 1.775. “O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito. §1º Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto. § 2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos. § 3º Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador.” à Procedimento: CCB 218, §1º: “§ 1o O oficial de justiça passará certidão, descrevendo minuciosamente a ocorrência. O juiz nomeará um médico, a fim de examinar o citando. O laudo será apresentado em cinco dias.” Se o laudo apontar a capacidade do réu em receber a citação, o juiz manda cumprir o mandado. Se o laudo apontar a impossibilidade, o juiz nomeará o curador. à Diferença entre CCB 217 IV e CCB 218: A diferença reside na circunstância da demência do CPC 218 ser permanente. Se for provisória a situação de doença mental aplica-se o CPC 217. IX. DO LUGAR DA CITAÇÃO. CPC 216. “A citação efetuar-se-a ́ em qualquer lugar em que se encontre o réu. Parágrafo único. O militar, em serviço ativo, será citado na unidade em que estiver servindo se não for conhecida a sua residência ou nela não for encontrado.” à Regra (NNJ): a citação do réu deve ocorrer no local de seu domicílio (ad domum). à Domicílio: O domicílio é o local livremente escolhido ou, em certos casos, imposto por lei, onde se concentram as atividades habituais da pessoa e onde ela pode ser encontrada para responder por suas obrigações. É, por assim dizer, a sede jurídica oficial do sujeito, de onde se presume que foram praticados os atos e negócios jurídicos por ele realizados (Almeida Santos, José Carlos Van Cleef e CASCALDI, Luís de Carvalho. Manual de Direito Civil. São Paulo: RT, 2011). à Exceção: Apenas quando não for possível a realização da citação no domicílio do réu é que incide o CPC 216 (NNJ REpro 55/7). X. TEORIA DA APARÊNCIA à Teoria da aparência aplicada na citação (Doutrina e STJ): Adotou-se a posição pela qual se reputa juridicamente relevante a crença naquilo que parece ser, ainda quando na realidade possa não ser o que parece. Assim, uma pessoa, considerada por todos como titular de um direito, embora não o sendo, leva a efeito um ato jurídico com terceiro de boa-fé. “PROCESSO CIVIL - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA - CITAÇÃO - TEORIA DA APARÊNCIA. 1. Nega-se seguimento a embargos de divergência quando o acórdão recorrido encontra-se em sintonia com a jurisprudência dominante no Tribunal. 2. Aplicação do entendimento prevalente da Corte Especial no sentido de adotar-se a Teoria da Aparência, reputando-se válida a citação da pessoa jurídica quando esta é recebida por quem se apresenta como representante legal da empresa e recebe a citação sem ressalva quanto à inexistência de poderes de representação em juízo. 3. Agravo regimental improvido.” (STJ – EREsp n.º 205.275, Corte Especial, Rel. Min. Eliana Calmon, J. 18.09.2002). à Citação por carta (regra do sistema): i) Pessoa física: se recebida por terceiro, o autor deve demonstrar que o réu teve ciência do ato sob pena de nulidade; ii) Pessoa jurídica: se recebida pelo funcionário, presume-se válida a citação, por aplicação da teoria da aperência. à STJ: “Impõe o Código ao carteiro a obrigação de entregar a carta pessoalmente ao citando, de quem exigirá assinatura no recibo (art. 223, parágrafo único). Tratando-se, porém, de pessoa jurídica, o Superior Tribunal de Justiça consagrou o entendimento de que é válida a citação postal quando realizada no endereço da re ́, mesmo que o aviso de recebimento seja firmado por simples empregado. Desnecessário, em tal caso, que a assinatura seja do representante legal da empresa.” (STJ, Corte Especial, ERESP 249.771/SC, Rel. Min. Fernando Gonçalves, ac. 07.11.2007, DJU 03.12.2007, p. 247. Precedentes: REsp 582.005/BA, DJU 05.04.2004; e REsp 259.283/MG, DJU 11.09.2000. No mesmo sentido: STJ, 4a T., AgRg no 1.229.280/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, ac. 25.05.2010, DJe 04.06.2010).” à Citação por Oficial de Justiça: i) Pessoa física: o Oficial de Justiça deve, sempre, procurar o réu para cita-lo pessoalmente; ii) Pessoa jurídica: conquanto tenha o Oficial de Justiça o dever de certificar-se que a pessoa que o recebeu tem poderes para receber a citação, caso o recebedor não ressalve a ausência de poderes a citação será considerara válida; de Noronha, ac. 25.05.2010, DJe 04.06.2010).” à PNCPC 248. “Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe de secretaria remeterá ao citando cópias da petição inicial e do despacho do juiz e comunicará o prazo para resposta, o endereço do juízo e o respectivo cartório. 2º. Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a pessoa com poderes de gerência geral ou de administração, ou, ainda, a funcionário responsável pelo recebimento de correspondências.” § 4º Nos condomínios edilícios ou loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega do mandado feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.” XI. EFEITOS DA CITAÇÃO. CPC 219: “A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.” à A citação possui efeitos de direito processual (prevenção, a litispendência e a litigiosidade da coisa) e efeitos de direito material (constituição em mora do devedor e interrupção da prescrição). à Apenas a citação válida enseja a produção dos efeitos contidos na norma. Citação válida é aquela “que satisfaz os requisitos exigidos por lei” (Amaral dos Santos) ou seja “aquela determinada por juiz competente e cumpria corretamente” (Moniz de Aragão). CPC 247. A invalidade da citação acarreta a sua impossibilidade de produção de efeitos típicos (Teresa Arrida Alvim Wambier). à Exceção: Efeito material da citação. Interrupção da prescrição. CCB, 202, I. Barbosa Moreira aponta que a citação ordenada por juiz incompetente para fins de interrupção da prescrição é válida mas parcialmente ineficaz (não produz os efeitos típicos em sua totalidade). à Citação e triangularização da relação jurídica processual: Com a citação ocorre a formação do relação jurídica processual triangular, o processo passa a existir para o réu. A) PREVENÇÃO: é a fixação de competência de um juiz face ao outro, ou outros, quando todos forem igualmente competentes (Moniz de Aragão). Para que ocorra a prevenção é necessário que haja conexão entre causas (CPC 103), porque mesmo que as partes sejam as mesmas causas que não tenham mesmo objeto ou causa de pedir podem tramitar de forma apartada. CPC 219: “A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.” CPC 106: “correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.” Há aparente contradição entre o CPC 219 e o 106 à A prevenção ocorre com o mero despacho ou com a citação válida? à REGRA: CPC 219; à EXCEÇÃO: CPC 106. à Com efeito apenas com a citação válida ocorre a prevenção, mas se tratando de juízes da mesma comarca (com a mesma competência territorial) a prevenção ocorrerá para aquele que primeiro despachar a petição inicial. Assim, a regra do CPC 219 aplica-se quando os juízes se localizarem em comarcas diversas, e a exceção do CPC 106 para juízes que estiverem situados na mesma comarca. “CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E AÇÃO ORDINÁRIA CONEXAS. REUNIÃO DOS PROCESSOS, FIXANDO-SE A COMPETÊNCIA DO JUÍZO CONFORME ESTEJAM ELES TRAMITANDO NA MESMA JURISDIÇÃO TERRITORIAL (CPC, ART. 106) OU EM JURISDIÇÕES TERRITORIAIS DIFERENTES (CPC, ART. 219, CAPUT). A conexão existente entre a execução fiscal e a ação de anulação de débito tributário induz a reunião dos processos para julgamento simultâneo; Correndo elas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar (CPC, art. 106); A citação válida determina a prevenção se as ações tramitarem perante jurisdições territoriais diferentes (CPC, art. 219, caput)”. (STJ – CC n.º 16.201-DF, 1ª Seção, Rel. Min. Ari Pargendler, J. 22.05.1996). à Problema: Em comarcas diversas: citações válidas efetuadas ao mesmo tempo (mesmo dia), como solucionar? Aplica-se a exceção contida no CPC 106 e verifica-se qual o juiz despachou primeiro. Na mesma comarca: ações despachadas simultaneamente (mesmo dia), como solucionar? A prevenção ocorre de acordo com a anterioridade da distribuição (André Luizi Correia). PNCPC 240. “A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, torna eficaz a litispendência para o réu, faz litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 do Código Civil.” PNCPC 59: “O registro ou distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.” B) LITISPENDÊNCIA: Trata-se do principal efeito da citação. à Três eadem: Para compreender o que seja litispendência, temos que relembrar a teoria dos três eadem: eadem personae; eadem res; eadem causa petendi (Chiovenda). à Elementos da ação: i) sujeitos; ii) objeto (pedido); e iii) causa de pedir. à Litispendência: possui dois significados processuais: i) causa pendente: fluência da causa em juízo; e ii) pressuposto processual negativo. CPC 301. §1º: “Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.” CPC 301. §2º: “o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.” CPC 301. § 3º “Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso.” à Regra para o réu: A litispendência é fixada com a citação válida apenas para o réu. E para o Autor? Demanda. NCPC 338 § 2º. “Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.” NCPC 338 § 3º “Há litispendência quando se repete ação que está em curso.” C) LITIGIOSIDADE DO OBJETO: Com a citação válida a coisa sobre a qual recai a demanda torna-se litigiosa. A coisa é o bem, corpóreo ou incorpóreo, objeto da pretensão resistida (lide). à Noção importante: haja vista que a coisa litigiosa atinge terceiros, mesmo que alienada no curso da demanda não influencia em regra na legitimidade das partes, bem como não pode a coisa litigiosa ser modificada, sob pena de atentado (CPC 881). D) CONSTITUIÇÃO EM MORA: Com a citação o devedor é constituído em mora. A regra destina-se a regular a mora ex persona, qual seja aquele que necessita de interpelação do devedor. E) INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO: A citação válida interrompe a prescrição, de acordo com o CPC 219. O CC de 2002, através do seu artigo 202, estabelece que a prescrição é interrompida pelo despacho do juiz. CCB 202. “A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;” à Doutrina: Fredie Didier Jr. propõe estar revogado o CPC 219, por ser o CCB lei posterior. NNJ lembra, nesse sentido, que o CCB estabelece efeitos materiais de interrupção da prescrição, tarefa que lhe é específica e nesse particular prevalece sobre o CPC. à Antinomia aparente de normas: em que pese parecer haver antinomia entre as normas em questão, trata-se de antinomia aparente. Na bem da verdade não há incompatibilidade entre a regra do CPC e a disposta no CCB (NNJ). à Na bem da verdade o ato que interrompe a prescrição é, de fato, o despacho do juiz (que ordena a citação): não é qualquer decisão, portanto, é apenas a decisão que determina a citação (assim, eventual juízo de admissibilidade negativo, ou julgamento liminar do mérito não tem o condão de interromper a prescrição). Essa sistemática é a vigente após o CCB 2002, em razão do disposto na LINDB 2º, §1º (Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro): “a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.” à E porque não há, então, incompatibilidade? Pois tanto no CCB, quanto no CPC o ato que enseja a interrupção da prescrição está subordinado à citação válida. Uma coisa, pois, é o ato que interrompe, a outra e a efetiva interrupção, que somente ocorre quando a citação válida é efetivada pela parte no prazo do CPC 219, §§ 2º e 3º: CPC 219 § 2º. “Incumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias subseqüentes ao despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário;” CPC 219 § 3º. “Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo de 90 (noventa) dias” CPC 219 § 4º. “Não se efetuando a citação nos prazos mencionados nos parágrafos antecedentes, haver-se-á por não interrompida a prescrição”. à A interrupção da prescrição, assim, decorre de ato complexo (NNJ): Conforme previsto no CCB o despacho que ordena a citação é o ato que interrompe a prescrição. Todavia, esta interrupção ficará condicionada à efetiva realização da citação válida, nos prazos previstos na lei processual. à Significado de promover a citação (?): A parte, na prática, pouco pode fazer para cumprir o mandado de citação. Na bem da verdade, a parte não efetiva a citação, apenas a promove. Promover a citação significa, apenas, subsidiar o Poder Judiciário com os meios necessários à realização do ato. à “Promover a citação significa requere-la e arcar com as despesas de diligência; não significa ‘efetiva- la’, pois no direito processual brasileiro a citação é feita pelo sistema da mediação”. (STJ - RMS n.º 42/ MF, Rel. Min. Athos Gusmão Carneiro, J. 30.10.1989). à Retroação da interrupção da prescrição: Determinada a citação pelo magistrado ocorrerá a interrupção da prescrição. Este ato, como visto, é condicionado à citação válida. Ocorrendo a citação válida, a interrupção da prescrição valida-se e retroage à data da distribuição da demanda. CPC 219, §1º: “a interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação.” à Assentou-se no CPC o que restou sedimentado na jurisprudência. STJ 106: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.” à Desde que o jurisdicionado não seja omisso e negligente, a demora do Poder Judiciário não pode prejudica-lo. PCNCP 240 “§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. § 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de dez dias, as providências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no §1º. § 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário. § 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei.” s XII. INEXISTÊNCIA E NULIDADE DE CITAÇÃO: O regime está previsto do CCB 147 e ss. Em regra, sabe-se que há duas modalidade de nulidades: i) as absolutas, que não se convalidam e independem e ação própria para seu reconhecimento; e ii) as relativas, que se convalidam, e necessitam de ação própria para seu conhecimento. à A teoria das nulidades do processo civil é inspirado na base do CCB, mas por ser ramo de direito público possui certas limitações. à Princípio da instrumentalidade das formas e princípio da inexistência de nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief). à No processo civil, não há propriamente uma diferença entre nulidade absoluta e relativa, no que tange à possibilidade de correção. Em processo “tudo se emenda, ou melhor, tudo deve-se emendar”. A diferença é que se tratando de nulidade relativa se a parte não arguir tempestivamente, ocorre a preclusão. As nulidades absolutas, por sua vez, não se submetem à preclusão e são causa, inclusive, de ação rescisória, mas o vício sempre poderá ser corrigido. à Inexistência de citação: não havendo citação, o processo não existe para o réu, e mesmo que haja relação jurídica formada entre autor e juiz, o réu não poder ser atingido pela tutela jurisdicional. à Vícios de fundo vs. vícios de forma: Os vícios de fundo (absolutos) são aquelas relacionados à estrutura do próprio processo e da relação jurídica processual. As nulidades de forma são as demais. Vícios na citação poderão apresentar-se como de fundo ou de forma. Quando a citação é realizada indevidamente e com isso prejudica-se o direito de ação e defesa, o vício na citação é de fundo (v.g. efetivada por uma modalidade indevida, porquanto ausentes os requisitos). Agora quando há inobservância do procedimento no ato citatório ocorre, via de regra, uma vício de forma (v.g. erro na escrita do mandado ou ausência de inobservância quando a eventual advertência das consequências da revelia). à Nulidades da citação: CPC 247: “as citações e as intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais”. Sempre? à A nulidade da citação deve sempre ser medida com base no fenômeno da revelia. “Diante de uma citação viciada – fundo ou forma-, há que se perguntar: houve relevia? (Teresa Arruda Alvim Wambier). Se houve, há nulidade, se não houve fica como se o vício não tivesse havido. “AGRAVO REGIMENTAL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO E OFERECIMENTO DE CONTESTAÇÃO. NULIDADE DO PROCESSO. PREJUÍZO NÃO COMPROVADO. CERCEAMENTO DE DEFESA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA STJ/7. 1.- Não obstante ter tramitado o processo por quase dois anos sem a participação da requerida, ora recorrente, entendeu o Acórdão recorrido que a falha foi suprida com a sua regular citação, seguida do oferecimento de contestação, quando teve a oportunidade de se manifestar sobre o laudo, inclusive formulando quesitos, os quais foram respondidos pelo perito, com ciência às partes. 2.- A desconstituição da conclusão a que chegou o Acórdão recorrido, ensejaria nova incursão no acervo fático-probatório da causa, o que é vedado à luz da Súmula 7 desta Corte. 3.- O princípio processual da instrumentalidade das formas, outrossim, sintetizado pelo brocardo pas de nullité sans grief, determina que não sejam declarados nulos os atos inquinados de invalidade quando deles não tenha decorrido nenhum prejuízo concreto. 4.- Agravo Regimental improvido. (STJ- AgRg no AREsp n.º 247.090/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, J. 19.03.2013). XIII. COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO RÉU: Se o réu que não foi citado ou o foi de forma defeituosa comparece espontaneamente em juízo a finalidade da citação (que é justamente dar ciência ao réu da demanda) é cumprida, de modo que eventuais vícios (de inexistência ou nulidade) tornam-se sanados. CPC 214 § 1º. “O comparecimento espontâneo do réu supre, entretanto, a falta de citação; CPC 214 § 2º. Comparecendo o réu apenas para argüir a nulidade e sendo esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data em que ele ou seu advogado for intimado da decisão.”. à O comparecimento espontâneo do réu pode ocorrer de três formas diferentes: i) O réu comparece e apresenta sua defesa: hipótese na qual nada obstante a inexistência ou nulidade da citação o réu toma conhecimento do feito e apresenta defesa; ii) O réu comparece apenas para alegar a inexistência ou nulidade do ato: hipótese na qual sendo procedente sua arguição lhe será fixado o prazo para a apresentação da resposta, sem que haja renovação da citação; iii) O réu comparece para arguir a inexistência ou nulidade e, simultaneamente, já apresenta a defesa: hipótese na qual sendo procedente sua arguição o juiz receberá de forma tempestiva a resposta. XIV. MODALIDADES: O CPC traz três meio de se efetuar a citação: i) por correio; ii) por mandado; e iii) por edital. São consideradas citações reais as que se efetivam diretamente na pessoa do réu (carta ou mandado). São consideradas citações fictas as que não se efetuam diretamente na pessoa do réu, mas que ante ao uma situação de razoável probabilidade de conhecimento, é tida pelo legislador como válida (editar e hora certa). XV. CONTEÚDO COMUM A TODAS AS MODALIDADES DE CITAÇÃO. CPC 223, 225 E 232: A citação deve cumprir dois requisitos essenciais: i) levar ao réu o conhecimento da demanda; ii) intimação do réu para realizar o primeiro ato que lhe cumpre no processo. Para que esses dois requisitos sejam validamente cumpridos, o ato citatório deve conter: Conteúdo comum de todas as modalidades: i) cópia da petição inicial; ii) copia da decisão com que o juiz mandou citar; iii) indicação do ato processual a ser realizado pelo réu; iv) a advertência de que, não se defendendo no tempo ou no momento oportuno, ele suportará o efeito da revelia; v) a assinatura do escrivão, com afirmação de que o escrito é feito por ordem do juiz; vi) se o caso, a ordem para o réu realizar algum ato ou se abster e a cominação de pena no caso de descumprimento. XVI. CITAÇÃO POSTAL. REGRA NO ORDENAMENTO JURÍDICO: Ato do escrivão e seus funcionário, com colaboração dos correios como auxiliar extravagante da justiça. Realiza-se mediante expedição de carta registrada com aviso de recebimento. O carteiro deve colher a assinatura do réu pessoalmente ou de seu representante legal. à Em caso de recusa: o ato restará frustrado, pois o carteiro não tem fé pública para atestar a injusta recusa. à Restrições à citação por carta. CPC 222. Principal delas: processo de execução. Caso para discussão: Citação por carta expedida para caixa postal é válida? (venire contra factum proprium) “Processo civil e direito do consumidor. Citação pela via postal. Correspondência remetida para a caixa postal da ré. Hipótese em que esse era o único endereço por ela fornecido a seus consumidores, nas faturas de cobrança enviadas. Validade.” (STJ – REsp n.º 981.887-RS, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, J. 23.03.2010). Caso para discussão: citação de pessoa física por AR que é devolvido com assinatura de pessoa estranha ao réu. Validade? “Embargos de divergência. Corte Especial. Citação por AR. Pessoa física. Art. 223, parágrafo único, do Código de Processo Civil. 1. A citação de pessoa física pelo correio deve obedecer ao disposto no art. 223, parágrafo único, do Código de Processo Civil, necessária a entrega direta ao destinatário, de quem o carteiro deve colher o ciente. 2. Subscrito o aviso por outra pessoa que não o réu, o autor tem o ônus de provar que o réu, embora sem assinar o aviso, teve conhecimento da demanda que lhe foi ajuizada. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos.” (STJ – EREsp n.º 117.949-SP, Corte Especial, Rel. Des. Carlos Alberto Menezes Direito, J. 03.08.2005). XVII. Citação por mandado: O mandado é a ordem que o juiz passa por escrito a alguém para que realize o ato. A citação por mandado é ato do qual participam o escrivão e seus funcionário e o Oficial de Justiça. à Formalidades. CPC 226: “Incumbe ao oficial de justiça procurar o réu e, onde o encontrar, citá-lo: I - lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé; II - portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé; III - obtendo a nota de ciente, ou certificando que o réu não a apôs no mandado.” CPC 143. “Incumbe ao oficial de justiça: I - fazer pessoalmente as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias do seu ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia e hora. A diligência, sempre que possível, realizar-se-á na presença de duas testemunhas;” XVIII. CITAÇÃO POR HORA CERTA: CPC 227 e 228. Trata-se da citação por mandado que se realiza em pessoa próxima ao réu, quando o oficial suspeita seriamente de que este se oculta para evitar a citação. CPC 227. “Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar.” CPC 228. “No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de realizar a diligência. § 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar- se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca. § 2o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.” à Autorização do juiz? à Requisitos: i) suspeita do oficial; ii) que o oficial tenha realizado 3 diligências para tentar citar pessoalmente o réu em dias e horários diversos; e iii) o oficial deve certificar pormenorizadamente as razões pelas quais levou a efetuar a citação ficta para permitir futuro controle jurisdicional à A citação deve ocorrer na pessoa que recebeu a intimação do Oficial de Justiça? “É ineficaz a citação por hora certa se a contrafé não é entregue à mesma pessoa que recebeu a intimação do Oficial de Justiça. A marcação e o levantamento da hora certa devem ser precedidos na mesma pessoa” (ATARJ 17/92) (NNJ e RMAN, CPC Comentado). “Na citação por hora certa, a contrafé será entregue a pessoa da família ou a qualquer vizinho, não necessariamente aquela mesma pessoa que fora intimada. Entendemos que a exigência de que a contrafé seja entregue à mesma pessoa que recebeu a intimação poderia tornar a citação por hora certa inócua. Bastaria que essa pessoa, no intuito de auxiliar o citando, também se ocultasse, para que o oficial de justiça, não podendo entregar a contrafé a outrem, continuasse impedido de concluir o ato”. (André de Luizi Correia. A citação no direito processual civil brasileiro. São Paulo: RT, 2001, p. 132. No mesmo sentido Barbosa Moreira). à Família ou vizinho (?): é possível a citação por hora certa em pessoa diversa das indicadas no CPC 227? * Sim. A doutrina entende que outras pessoas também podem receber a citação, tais como companheiro, empregado doméstico, zelador, funcionário, etc. PNCPC 252. “Art. 252. Quando, por duas vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar. Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação a que se refere o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência.” à Aperfeiçoamento do ato: Carta de hora certa. CPC 229. A carta de hora certa não é parte do ato citatório, mas, apenas, condição para aperfeiçoamento do ato (NNJ). Sua ausência enseja nulidade. O prazo para contestação na citação por hora certa é o mesmo das outras modalidades de citação e corre do momento da juntada do mandado nos autos. à Revelia: Havendo revelia na citação por hora certa, o juiz deve nomear curador especial ao réu (CPC 9º, II). XIX. CITAÇÃO POR EDITAL: É meio de citação ficta e extremamente excepcional. É aquela que se faz mediante divulgação de proclamas públicos capazes de levar a propositura da demanda ao conhecimento geral, com o objetivo de fazer com que a informação chegue ao réu. CPC 231. “Far-se-á a citação por edital: I - quando desconhecido ou incerto o réu; II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar; III - nos casos expressos em lei. § 1º Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país que recusar o cumprimento de carta rogatória. § 2º No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão.” à Pessoas não identificadas (CPC 231 I e II). Hipóteses extraordinárias pois compreendem também a omissão do próprio nome e qualificação do réu na petição inicial. à Pessoas incessíveis (CPC 321 II). A inacessibilidade poder ser de ordem física ou política. à Demais casos previstos em lei (CPC 321 III). Tais como, v.g. CPC 942. à Requisitos: CPC 232. “São requisitos da citação por edital: I - a afirmação do autor, ou a certidão do oficial, quanto às circunstâncias previstas nos ns. I e II do artigo antecedente; II - a afixação do edital, na sede do juízo, certificada pelo escrivão; III - a publicação do edital no prazo máximo de 15 (quinze) dias, uma vez no órgão oficial e pelo menos duas vezes em jornal local, onde houver; IV - a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 (vinte) e 60 (sessenta) dias, correndo da data da primeira publicação; V - a advertência a que se refere o art. 285, segunda parte, se o litígio versar sobre direitos disponíveis. § 1o Juntar-se-á aos autos um exemplar de cada publicação, bem como do anúncio, de que trata o no II deste artigo. § 2o A publicação do edital será feita apenas no órgão oficial quando a parte for beneficiária da Assistência Judiciária.” à CPC 232. O CPC dificulta a boa compreensão da citação por edital ao misturar i) requisitos para que a citação por edital seja admissível; ii) indicações do conteúdo do edital; e iii) exigências relativas ao modo como se procede à divulgação do edital. à Afirmação do autor ou certidão do oficial. CPC 232, I: Na bem da verdade, é o juiz que, analisando a afirmação do autor ou a certidão do oficial, avalia se estão presentes os requisitos da citação por edital e se de fato é o caso de assim se proceder. à Dolo da parte: CPC 233. “A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente os requisitos do art. 231, I e II, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário mínimo vigente na sede do juízo. Parágrafo único. A multa reverterá em benefício do citando. XX. CITAÇÃO ELETRÔNICA. É POSSÍVEL: Lei n.º 11.419/2006. Convênio entre o Poder Judiciário e empresas de grande porte para estas receberem as citações por e- mail. NCPC 246. “A citação será feita: V – por meio eletrônico, conforme regulado em lei. § 1º Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte, as empresas públicas e privadas ficam obrigadas a manter cadastro junto aos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio. § 2º O disposto no § 1º aplica-se à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da administração indireta.” OBRIGADO! José Carlos Van Cleef de Almeida Santos Mestre em Direito Processual Civil pela PUC-SP. Especialista em Processo Civil pela PUC-SP. Membro do IBDP – Instituto Brasileiro de Direito Processual Advogado jcarlos@almeidasantos.com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • ALMEIDA SANTOS, José Caros Van Cleef de e CASCALDI, Luís de Carvalho. Manual de direito civil. São Paulo: RT, 2011. • ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel de. Manual de direito processual civil. 15ª Ed. 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Comentários ao código de processo civil: Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973: arts. 154 a 269. 10ª Ed., Rio de Janeiro: Forense, 2005, vol. 02. • NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na constituição federal. 10ª Ed. São Paulo: RT, 2010. • NERY JUNIOR, Nelson e ANDRADE NERY, Rosa Maria de. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 13ª Ed. São Paulo: RT, 2013. • NEVES, Celso. Estrutura fundamental do processo civil: tutela jurídica processual, ação, processo e procedimento. Rio de Janeiro: Forense, 1995. • REIS, José Alberto dos. Código de processo civil anotado. 3ª Ed., Reimp., Coimbra: Coimbra Editora, 2012, vol. 01 a 06. • ROSA, Eliézer. Dicionário de processo civil. São Paulo: Bushatsky, 1973. • ROSENBERG, Leo. Tratado de Derecho Procesal Civil. Tradução Espanhola da 5ª Ed. Alemã por Angela Romena Vera. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa-América, 1955, vols. 01, 02 e 03. • SANSEVERINO, Milton e KOMATSU, Roque. 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A pretensão de João iniciou-se em 01.01.2013, conforme dispõe o artigo 189 do CCB. Objetivando evitar a disputa perante o Poder Judiciário, João dedicou-se durante todo o ano de 2103 a negociar com Mário uma solução amigável do litígio. Em dezembro de 2013, sem que as partes houvessem chegado com um consenso, João procurou um advogado para tomar as medidas judiciais cabíveis. Em 01.01.2014 João ajuizou demanda contra Mário. Em 01.03.2014 o juiz determinou o cite-se. Mário foi citado em 01.05.2014 e apresentou contestação tempestivamente. Dentre outras alegações, arguiu em contestação a prescrição da pretensão do autor, em razão da citação ter ocorrido após o prazo prescricional ânuo. Pergunta-se: deve o juiz acolher a prescrição? Fundamente sua resposta. II) Quantas diligência devem ser efetuadas para seja efetivamente citado o réu por hora certa? III) A conexão existente entre a execução fiscal e a ação de anulação de débito tributário induz a reunião dos processos para julgamento simultâneo (conexão, CPC 103). Considerando que ambas tramitam perante juízes que têm a mesma competência territorial, a citação válida em qualquer dos processos operará o efeito da prevenção? IV) De acordo com a exegese do CPC 247, todo e qualquer vício na citação acarreta a sua nulidade? Há diferença, para a espécie, trata-se de vício de fundo ou vício de forma? V) Faça o cotejo dos julgados a seguir e indique, na opinião do grupo, qual o entendimento deve prevalecer. Fundamente a sua resposta. A discussão seria modificada se a modalidade de citação fosse a da regra geral? “PROCESSO CIVIL - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA - CITAÇÃO - TEORIA DA APARÊNCIA. 1. Nega-se seguimento a embargos de divergência quando o acórdão recorrido encontra- se em sintonia com a jurisprudência dominante no Tribunal. 2. Aplicação do entendimento prevalente da Corte Especial no sentido de adotar-se a Teoria da Aparência, reputando-se válida a citação da pessoa jurídica quando esta é recebida por quem se apresenta como representante legal da empresa e recebe a citação sem ressalva quanto à inexistência de poderes de representação em juízo. 3. Agravo regimental improvido.” (STJ – EREsp n.º 205.275, Corte Especial, Rel. Min. Eliana Calmon) “PROCESSUAL CIVIL - CITAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA - NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO LEGITIMA PARA RECEBER A CITAÇÃO - NULIDADE COMINADA - ARTIGOS 12, VI, 214, PARAGRAFO 1., 215, 247, 248, 249 E 282, VII, CPC. 1. O autor, na inicial, para a citação, deve indicar o representante legal da pessoa jurídica ré, incumbência que não pode ser transferida para o Oficial de Justiça. Desobedecida a obrigação legal, recairão sobre o autor as conseqüências dos equívocos e erros pelo Oficial de Justiça (Muniz de Aragão - Coments. CPC). 2. A "teoria da aparência", não serve para escumar os vícios no caso concreto. 3. Feita a citação na pessoa de preposto, faltante a representação legal para aceitar, em ato judicial de tal significância, o formal chamamento para o processamento da ação é nulo. 4. Multiplicidade de precedentes jurisprudenciais. 5. Recurso provido.” (STJ - REsp n.º 37.274-SP,1ª Turma, Rel. Min. Milton Luiz Pereira)
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