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Crises convulsivas no recém- nascido Danilo Santiago Hugo Dantas Sarita Lima Orientadora: Dra.. Janeusa Chagas Caso Clínico Identificação • GMO, 1 mês de vida, branco, natural e procedente de Morro do Chapéu. Queixa Principal • Abalos musculares desde o nascimento. HMA • Paciente com história de abalos musculares isolados desde o nascimento. Segundo a genitora, a criança apresentava abalos em MMSS e MMII, alternadamente, que duravam alguns segundos, várias vezes ao dia. Não apresentava outros sintomas associados. Procurou assistência médica em Irecê, onde foi prescrito Fenobarbital e encaminhado ao HCRS. Sendo introduzido Ampicilina, Gentamicina e Hidantal, e posteriormente transferido para UPL para investigação diagnóstica. Antecedentes obstétricos e neonatais • Nascido de PSNV, a termo, em maternidade, sem intercorrências, trabalho de parto de 8 horas. Peso de nascimento: 2900g. • Genitora, 21 anos, realizou pré-natal ( incompleto ). Nega doenças durante gestação ou uso de drogas. G2P2A0. GS: O+. Antecedentes vacinais e alimentares • Hepatite B e Sabin. • Leite materno exclusivo. Antecedentes familiares • Nega história de convulsão na família, bem como DM, HAS e outras patologias. Exame Físico • Paciente em BEG, sonolento, reativo, acordando fácil ao estímulo, eupnéico, hidratado,corado, acianótico, anictérico, afebril. Peso: 2580g. • PC: 37cm FA: 4x5cm • AR: MVBD, sem RA. • ACV: RCR em 2T, BNF sem sopros. • Abd: globoso, flácido, fígado 2cm do RCD, baço não palpável, RHA presente. • Ext: perfundidas e sem edema. • SN: Tônus adequado, sucção presente, reflexos sem alterações. Suspeita Diagnóstica • Crise convulsiva secuncundario a: – Distúrbios eletrolíticos? – Infecção adquirida do SNC? – Infecção congênita? – Encefalopatia hipóxico-isquêmica? – Malformações? – Erro Inato do Metabolismo? Exames complementares • 19/09: Ht:33,3%; Hb: 11,6; leuco: 8.300; seg: 20; lin:64; eos: 9; mon: 7 • 19/09: Na: 138; K: 4,3; Ca: 8,8; glc: 105 • 19/09: VDRL não reagente • 19/09: LCR: límpido, incolor, 12 céls ( mononucleares), glc: 60mg%, prot:35mg%, globulinas: negativo. • 23/09: US tranfontanela: sem alteração. • 24/09: EEG: padrão descontínuo sugestivo de encefalopatia epiléptica infantil precoce tipo Ohtahara. • 25/09: Ca: 9,0; Mg: 1,8 Exames complementares • TORCHS: – CMV IgG: Positivo – CMV IgM: Negativo – HSV IgG: Negativo – HSV IgM: Negativo – Rubéola IgG: Negativo – Rubéola IgM: Positivo – Toxoplasmose IgG: Negativo – Toxoplasmose IgM: Negativo Diagnóstico • Rubéola congênita • Crise convulsiva mioclônica – Síndrome de Ohtahara Evolução • Durante o internamento, fez uso de Ampicilina ( 200mg/kg/dia ) e Gentamicina ( 5mg/kg/dia ) por 8 dias, além de Fenobarbital ( 4mg/kg/dia ). Evoluiu sem intercorrências, não apresentado episódios convulsivos no período. Discussão Incidência • Dificuldade diagnóstica • Crises eletrográficas sem manifestações clínicas • Inversamente proporcional a idade gestacional Classificação • Crises sutis • Crises clônicas – focais – multifocais • Crises tônicas – focais – generalizadas • Crises mioclônicas – focais – multifocais – generalizadas Crises sutis • Mais freqüentes • Difícil reconhecimento • RN a termo e principalmente no pré-termo • Fenômenos assimétricos • Movimentos: – orobucolinguais (sucção, mastigação); – nistagmóides (desvios oculares tônicos ou clônicos); – estereotipados (natação, pedalagem). • Apnéia Crises clônicas • Crises clônicas focais – contrações musculares clônicas, irregulares, restritas a um lado do corpo – mais comuns no RN a termo – não há perda da consciência – pode NÃO indicar localização Crises clônicas • Crises clônicas multifocais – migram de um membro a outro – simultaneamente ou em seqüência – tipicamente de forma anárquica – mais no RN a termo Crises tônicas • Crises Tônicas Focais – menos freqüentes que as generalizadas – extensão assimétrica de um membro, tronco ou pescoço – maioria associada a atividade epiléptica no EEG Crises tônicas • Crises Tônicas Generalizadas – extensão dos membros com hipertonia – associada com apneia e desvios dos olhos para cima – mais no RN prematuro – relacionam-se freqüentemente com patologia grave do SNC – podem não demonstrar alteração no EEG Crises mioclônicas • Abalos musculares sincrônicos • Focal: acomete uma extremidade • Multifocal: acomete todas as extremidades • Generalizada: acomete os quatro membros • Raras no período neonatal • Grave comprometimento do SNC • Prognóstico reservado Etiologia • Asfixia perinatal • Hemorragias intracranianas • Distúrbios metabólicos – Hipoglicemia – Hipocalcemia – Hipomagnesemia – Hipernatremia – Hiponatremia • Dependência de piridoxina • Deficiência de piridoxina • Deficiência de biotinidase • Desordens do transporte da glicose • Erros inatos do metabolismo • Distúrbios peroxissomiais • Distúrbios mitocondriais • Neuroesoectodermoses: esclerose tuberosa, neurofibromatose • Infecções adquiridas do SNC: meningite, encefalites, abscesso cerebral • Infecções congênitas do SNC: rubéola, toxo, CMV, HSV, sífilis • Anormalidades congênitas ósseas- cerebrais • Displasias corticais • Tóxicos: anestésicos • Síndrome da abstinência a drogas • Crises convulsivas neonatais familiares benignas • Crises convulsivas neonatais idiopáticas benignas • Idiopáticas Tabela I- etiologia das crises epilépticas neonatais no HCFMRP-USP no período 1982 a 1986 N° de casos % Anoxia perinatal 41 51,2 Anoxia+ hemorragia 04 5,0 Anoxia + Ca baixo 02 2,5 Anoxia + glicose baixa 02 2,5 Malformação 05 6,2 Infecção do SNC 05 6,2 Hipocalcemia 02 2,5 Hiperglicinemia 01 1,2 Hipernatremia 01 1,2 Hiperglicemia 01 1,2 Encefalopatia bilirrubinica 01 1,2 Indeterminado 14 17,4 Síndrome de Ohtahara • Encefalopatia epiléptica grave • Início das crises antes dos três meses de idade, geralmente antes dos vinte dias de vida • Etiologia variada - malformações cerebrais congênitas e lesões pré-natais graves • Padrão da crise: espasmo tônico que ocorre geralmente em agrupamentos • Freqüência das crises é elevada - 100 a 300 vezes por dia, isoladas ou em série. Síndrome de Ohtahara • Aparece como uma condição clínica subaguda que progressivamente piora em dias ou semanas • Ocorre óbito em 50% dos casos no primeiro ano de vida • EEG com padrão surto-supressão • Crises são refratárias às drogas anti- epilépticas Diagnóstico • Anamnese • Exame físico geral e exame neurológico • Exames complementares – glicemia, Ca, Mg, Na, K, hemogasometria, hemograma completo, plaquetas, função renal, função e perfil hepáticos, PCR Diagnóstico • Exames complementares – Punção lombar • auxilia no diagnóstico de infecção do SNC, hemorragia subaracnóidea e intraventricular – EEG • imprescindível para o diagnóstico • clínica x EEG – USG transfontanela • exame simples • avalia hemorragias e tamanho dos ventrículos e ecogenicidade do parênquima cerebral Diagnóstico – TC• solicitada de acordo com a evolução clínica do paciente • auxilia tanto no diagnóstico quanto no prognóstico – RNM • melhor resolução para o estudo do parênquima cerebral • pode diagnosticar casos de mal formações do SNC Diagnóstico – SPECT cerebral • demonstra a perfusão encefálica • indicação significativa nos casos de insulto hipóxico-isquêmico (áreas de hipoperfusão) • pode detectar alterações precoces – Screening metabólico Tratamento • Patologia de base • Estimulação por: – Fonoaudiologia • trabalha com a alimentação, coordenação da sucção, da deglutição e da respiração – Fisioterapia (motora e respiratória) Tratamento • Anticonvulsivantes – Fenobarbital • droga de escolha no RN • diminuição do metabolismo cerebral • melhora do fluxo sangüíneo cerebral nas áreas lesadas • previne ou reduz o edema cerebral • menor probabilidade de crises convulsivas incontroláveis • Uso: ataque - 20 mg/kg/dose IM ou EV manutenção - 3 a 5 mg/Kg/dia IM, EV ou VO 12/12h Tratamento • Anticonvulsivantes – Fenitoína • indicação • má absorção via oral • Uso: ataque - 20 mg/Kg/dia EV única adm. manutenção - 5 a 7 mg/Kg/dia EV duas adm. (infusão lenta) • infusão não deve ultrapassar 1 mg/Kg/min Tratamento • Anticonvulsivantes – Midazolam • terapêutica de eleição no status epilepticus • poucos efeitos colaterais • ação rápida - tempo curto de duração • eliminação mais rápida • pode ser associada ao fenobarbital, com risco menor de depressão respiratória • Uso: ataque - 0,15 mg/Kg/dose, podendo ser feito até duas vezes, com intervalo de 5 min Se persistir a crise - 1 a 18 µg/Kg/min (de acordo com a evolução) em infusão contínua • pode ser usada intramuscular ou intranasal Tratamento • Anticonvulsivantes – Diazepam • pouco utilizada no RN • associação com fenobarbital aumenta o risco de depressão respiratória • aumenta o risco de Kernicterus • Uso: 0,3 mg/Kg/dose – Tionembutal • status epilepticus que não responde ao midazolam • Uso: ataque - 1 a 2 mg/Kg/dose manutenção - 1 a 10 mg/Kg/min em infusão contínua Tratamento • Anticonvulsivantes – Valproato de sódio • preconizado para Síndrome de Ohtahara • hepatotoxicidade • meia vida curta (três doses) • Uso: 10 a 40 mg/Kg/dia – Vigabatrina • crises refratárias • constrição do campo visual e anormalidades eletrorretinográficas • Uso: 50 a 100 mg/Kg/dia Seguimento • Exame neurológico – tônus muscular – perímetro cefálico – reflexos próprios da idade – exame oftalmológico • uso prolongado de oxigênio - fibroplasia retrolenticular • infecção pré-natal - coriorretinite • EEG Seguimento • Potencial evocado visual e auditivo – RN de alto risco - ventilação mecânica – repetido ao final do primeiro ano – muito valor quando há detecção precoce • USG transfontanela – RN de alto risco - evolução de hemorragia intraventricular, hidrocefalia e ventriculites • TC do encéfalo • RNM • Estimulação precoce Conclusão • Diagnóstico precoce • Exames complementares precisos • Medicação específica • Acompanhamento ambulatorial Conclusão • Manutenção da medicação – crises esporádicas e ocasionadas por distúrbios transitórios (metabólicos, sepsis, hiperbilirrubinemia) – casos resistentes ou que requisitaram o uso de duas ou mais drogas – crises neonatais e lesões cerebrais estabelecidas Artigo CRISES CONVULSIVAS NEONATAIS: UMA VISÃO GERAL DO CLÍNICO Cesare T. Lombroso Brazilian Journal of Epilelsy and Clinical Neurophysiology 2 (3) 143-166.1996 Classificação das crises neonatais Sutil, mínima, fragmentar ¾Clônica Unifocal Multifocal Hemiconvulsiva ¾Tônica Focal Generalizada ¾Mioclônica Críticas a classificação anterior ¾ Tendência ao superdiagnóstico. ¾ Uso excessivo de drogas antiepilépticas. ¾ Classificação deveria ser baseada em: classificação eletroclínica ( EEG), com vídeo monitoramento si- multâneo. Classificação das crises convulsivas ¾ Epiléptico- são aqueles comportamentos que demonstram íntima correlação com a descarga do EEG. ¾ Não epiléptico- aqueles comportamentos que demonstram uma relação inconsistente ou nenhuma re- lação com um evento ictal do EEG. Epilepsia ¾ Condição em que existe uma fenomenologia ictal recorrente, geralmente não provocada, devido a um limiar de crise con - vulsiva mais ou menos alterado cronicamente, dentro de uma área ou sistema neuronal do cérebro. Evolução do prognóstico: Fatores etiológicos ¾ Asfixia perinatal. ¾ Hemorragias e traumas intracranianos. ¾ Hemorragias subaracnóides. ¾ Hemorragia intraventricular. ¾ Infartos cerebrais. ¾ Infecções do SNC. ¾Mal formações congênitas do SNC. ¾ Fatores metab;olicos. ¾ Hipoglicemia neonatal. ¾ Hiper/ Hiponatremia. ¾ Erros inatos do metabolismo. ¾ Induzida por drogas. ¾Miscelânias. EPILEPSIA E NEURODENSENVOLVIMENTO:CONTRIBUIÇÕES DOS MODELOS EXPERIMENTAIS. Magda L. Nunes; Jana Velískova; Solomon L. Moshé Brazilian Journal of Eplepsy and Clinical Neurophysiology 1999. Porque o cérebro em desenvolvimento é mais susceptível à crises convulsivas? ¾ Sistemas inibitórios. ¾ Sistemas excitatório. ¾ Catecolaminas. ¾ Diferenças iônicas. ¾Mielinização. ¾ Redes neuronais. Porque o cérebro em desenvolvimento é mais susceptível à crises convulsivas? ¾ Sistemas inibitórios- Diminuição da inibição. • O ácido gama- amino butírico(GABA) é o principal neurotrasmissor inibitório cerebral. • Sistema neural que utiliza o GABA não está totalmente desenvolvido no mo – mento do nascimento. • Marcadores bioquímicos para a transmissão GABAérgica estão presentes em pequena quantidade no período neonatal. Porque o cérebro em desenvolvimento é mais susceptível à crises convulsivas? ¾ Sistemas excitatório- aumento da excitabilidade. • Glutamato e aspartato: principais neurotransmissores excitatórios. • Efeitos mediados por 5 receptores: N- metil D- aspartato ( NMDA ), quisca- lato ( AMPA ), kainato, AP4, metabotrópico. • Excesso de potenciais pós-sinápticos excitatórios sobrepondo-se aos inibitó- rios nos neurônios. • Excesso de sinapses excitatórias e aumento da densidade de receptores NMDA no hipocampo imaturo. • Cérebro imaturo os receptores NMDA são regulados pelo cálcio extracelular e não pelo magnésio como o do adulto. Porque o cérebro em desenvolvimento é mais susceptível à crises convulsivas? ¾ Catecolaminas. • Norepinefrina - papel importante na regulação da generalização da atividade epiléptica em animais adultos e adolescentes. • Em ratos- níveis de norepinefrina são menores na fase de desenvolvimento. Porque o cérebro em desenvolvimento é mais susceptível à crises convulsivas? ¾Mielinização. • A mielinização incompleta do cérebro imaturo poderia explicar os diferentes padrões idade- específico eletroencefalográficos e da expressão motora de cri- ses convulsivas. Porque o cérebro em desenvolvimento é mais susceptível à crises convulsivas? ¾ Redes neuronais • Evidências sugerem a existência de circuitos envolvendo núcleos subcorticais que influenciam no controle das crises convulsivas. Colaboradores: Daniel Schaer Francesca Dórea Obrigado!
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