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O desenvolvimento das relações espaciais na criança

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O desenvolvimento das relações espaciais na criança. 
As etapas da construção das noções de espaço pela criança 
 
 
 A temática central do texto aborda o desenvolvimento das relações espaciais na criança 
e as etapas da construção das noções de espaço nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como 
o desvelar dos conceitos envolvidos neste tema. Teoricamente discute-se o papel da escola na 
construção das noções espaciais das crianças, a importância de se trabalhar com o lugar de 
vivência e como a formação docente contribui para estas práticas ao saber estabelecer as 
relações espaciais a partir da sua realidade e da realidade do educando. 
 O texto também traz autores como Almeida e Passini (2008)1, Piaget e Inhelder (1993)2, 
Callai (2012)3 e Castrogiovanni (2012)4 que apresentam as noções de espaço nos anos iniciais 
do Ensino Fundamental exigindo uma postura mais atenta e de análise por parte do professor, 
na qual a realidade do educando e do educador deve servir como ponto de partida e de 
chegada. 
 A construção da noção de espaço pela criança requer uma longa preparação. Realiza-se 
por meio de uma liberação progressiva e gradual do egocentrismo até chegar a descentração. 
Isto quer dizer que a criança que antes localizava os objetos utilizando seu próprio corpo como 
referência, passa então a localizá-los a partir das relações estabelecidas entre eles pela 
coordenação de diferentes pontos de vista ou de um sistema de coordenadas, deixando de ser o 
centro de todas as atenções. 
 O desenvolvimento das relações espaciais se faz por etapas ou níveis próprios da 
evolução da criança na construção do seu conhecimento, mas sempre associada à descentração 
e apoiada na coordenação de ações. 
 Segundo Almeida e Passini em ‘O espaço geográfico: ensino e representação’ (2008), a 
construção da noção de espaço passa pela seguinte evolução: do vivido ao percebido e deste ao 
concebido. Portanto, vivesse o espaço a partir de brincadeiras que envolvam deslocamento e 
movimento, ou seja, é necessário explorar com o próprio corpo as dimensões espaciais. 
 Já o espaço percebido não precisa mais ser experimentado fisicamente, e como exemplo 
podemos citar quando a criança lembra e reconhece o percurso da casa para escola, ou seja, ela 
passa a utilizar a observação. E, ao conceber o espaço, a criança consegue estabelecer relações 
espaciais através da representação, isto é, capaz de raciocinar sobre uma área retratada em um 
mapa sem tê-la visto antes. 
 O espaço vivido é o de ação, físico, corpóreo, vivenciado, cheio de movimento, onde se 
constroi as primeiras noções de espaço (próximo, dentro, fora, em cima, embaixo por meio do 
aguçamento dos sentidos). Nos primeiros anos de vida delineiam-se as impressões e 
 
1 ALMEIDA, Rosângela Doin de.; PASSINI, Elza Yazuko. O espaço geográfico: ensino e representação. São Paulo: 
Contexto, 2008. 
2 PIAGET, Jean.; INHELDER, Bärbel. A representação do Espaço na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. 
3 CALLAI, Helena Copetti. Estudar. O lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos 
(Org.). Ensino de Geografia: Práticas de contextualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2012. 
4 CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Org.). Ensino de Geografia: Práticas de contextualizações no cotidiano. 
Porto Alegre: Mediação, 2012. 
percepções referentes ao domínio espacial e de sua interação com o meio. O movimento e o 
deslocamento são importantes a exemplo de exercícios rítmicos e psicomotores para que ela 
explore com o próprio corpo as dimensões espaciais (ALMEIDA; PASSINI, 2008). 
 Para Piaget; Inhelder (1993) em sua obra ‘A representação do Espaço na criança’ a 
inteligência sensório-motora ocorre desde o nascimento até os dois anos com o aparecimento 
da linguagem, que demonstrará a ação prática do sujeito sobre a própria realidade, e não 
comporta distâncias muito longas entre a ação e a realidade. 
 Outro aspecto importante é que a partir dos dois anos com o estágio/período objetivo-
simbólico que a criança desenvolve a função simbólica, concebida como a possibilidade de 
substituir uma ação ou um objeto por um símbolo, imagem ou palavra, demonstrada pela 
compreensão do símbolo como representação gráfica – o desenho. Neste momento, há a 
elaboração do uso de símbolos como códigos a serem representados, ou ainda, o ato de 
codificação/criação. Não está desenvolvida ainda a plena descentração, pois esta leva um 
tempo. A visão da realidade é muito particular e um tanto estática. A criança tem dificuldades 
para trabalhar com imagens abstratas, repetindo aspectos irreversíveis da realidade. 
 Este momento ocorre antes do período de escolarização da criança. Em crianças de até 
seis anos a localização e o deslocamento de elementos são definidos a partir de referenciais 
dela, de sua própria posição, o que dificulta a percepção, a distinção de categorias de 
localização espacial como perto de, abaixo, no limite de. É nesta fase que se realiza as relações 
espaciais topológicas elementares, do nascimento até por volta dos sete anos. 
 A entrada dos alunos nos anos iniciais coincide com o estágio operacional-concreto. As 
operações constitutivas do espaço tem a particularidade de serem acompanhadas de imagens 
mentais relativamente adequadas e podem ser traduzidas por representações figuradas. Cabe 
ressaltar, que as operações concretas são baseadas no real, as transformações e evoluções 
estão diretamente ligadas à superação de desafios e dificuldades. 
 Da mesma forma é o período em que o educando passa a perceber noções que envolvem 
as representações proporcionais, ou seja, o tamanho proporcional dos objetos. 
 Na passagem do vivido para o percebido, ocorreu a ampliação do campo empírico da 
criança, ou seja, a análise do espaço passa a ser feita através da observação. 
 O espaço percebido como já dissera, não precisa ser mais experienciado. A análise não 
ocorre apenas pelos movimentos/deslocamentos, mas pela observação, momento importante 
para o ensino da Geografia, pois a criança é inserida no mundo da leitura das diferentes 
paisagens, quer sejam as naturais (de primeira natureza) e as culturais (de segunda natureza). 
A partir do percebido a criança já está inserida nos anos iniciais. 
 Ao entrar no estágio operacional-concreto a criança se desvincula das relações 
topológicas iniciais e, também, das questões temporais como representações de meras 
seriações. Assim, uma das características deste estágio é a possibilidade de o aluno aprender a 
refutar hipótese ou escolher a melhor explicação para os fatos, e ainda, analisar as propostas 
para fazer conclusões próprias. 
 É na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial voltada para a compreensão das 
formas pelas quais a sociedade organiza seu espaço. 
 O espaço concebido para o aluno inicia em torno dos onze e doze anos, capacitando-o a 
raciocinar sobre uma área representada, ou seja, estabelecer relações espaciais entre 
elementos por meio de sua representação. É nesta fase que começamos a ter as noções de 
limites, um problema enfrentado na linguagem cartográfica que deve ser trabalhado, de forma 
lúdica, desde a Educação Infantil. 
 O educador deve levar o educando a estender os conceitos adquiridos sobre o espaço, 
localizando-se e localizando elementos em espaços cada vez mais distantes e, portanto, 
desconhecidos. Localização, orientação e representação devem partir do espaço próximo para 
o distante e são conhecimentos e habilidades do processo de trabalho que necessitam ser 
aprofundados no Ensino Fundamental, pois são conceitos essenciais ao entendimento dos 
conceitos. 
 Ao destacar as três etapas da construção das noções de espaçopela criança, e que esta 
construção está relacionada com o processo de descentração, torna-se oportuno ressaltar o 
processo de consciência do espaço ocupado pelo próprio corpo, evidenciando o esquema 
corporal e a lateralidade. 
 A consciência do próprio corpo, de seus movimentos e postura desenvolve-se lentamente 
na criança. Ela se constroi a partir do nascimento até atingir a adolescência, quando ocorre a 
elaboração completa de esquema corporal. 
 À medida que a criança se desenvolve e especializa sua ação sobre o meio, obtém maior 
domínio sobre o espaço próximo, seu lugar de vivência/cotidiano, ela alcança espaços cada vez 
maiores. E conforme ela for crescendo, reconstruirá o espaço próprio dos adultos, pois estará 
constantemente voltada para o espaço exterior. 
 O espaço é para a criança um mundo quase impenetrável. Sua conquista ocorre aos 
poucos, à medida que for atingindo alterações quantitativas de sua percepção espacial e uma 
consequente transformação qualitativa em sua concepção de espaço. 
 Já a lateralização consiste na representação dos hemisférios corporais e a sua 
consequente projeção. Dá-se o predomínio de um lado do corpo, e o professor deve ajudar a 
criança a lateralizar-se, isto é, tomar consciência de seu predomínio lateral para a direita ou 
para a esquerda. 
 É na faixa etárias dos cinco aos sete anos que a criança toma gradativamente 
consciência do seu corpo com suas distintas partes, identificando-as. Na alfabetização espacial 
faz-se necessário que a criança tome consciência do espaço ocupado por seu corpo e a 
escolarização deve ajuda-la a orientar-se no espaço. Percebe-se, portanto, que para a 
alfabetização geográfica requer que o trabalho com a esquematização espacial do corpo, 
lidando com os intervalos através de referencias não apenas obtidas pela observação, mas já 
com recursos do euclidianismo, ou ainda, pelas noções de distâncias, como sistema fixo de 
referência. 
 Uma criança alfabetizada espacialmente, consequentemente estará apta aprender e 
apreender geograficamente os acontecimentos do seu espaço imediato, o seu espaço de 
vivência. E para que isso seja possível, há a primazia do educador tenha a consciência desta 
importância à aprendizagem significativa do educando.

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