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3.1 Socialização – características, mecanismos e agentes O processo de socialização Socialização – processo dinâmico através do qual os indivíduos aprendem os valores, as regras e as práticas da sociedade a que pertencem Ou seja: Quando nascemos, somos integrados numa família, existente numa determinada sociedade, com a sua língua, valores, hábitos, tradições e práticas sociais que nos são ensinados e incutidos num processo permanente e contínuo. A integração no grupo familiar e, posteriormente, a nossa aceitação social nos grupos que vamos integrando (escola, amigos, trabalho, etc.) deriva de nos comportarmos de acordo com o que é esperado de nós. É desta forma que aprendemos a ser membros de uma sociedade que por ela somos reconhecidos como tal. A socialização é um processo que visa a integração do indivíduo nos múltiplos e variados grupos a que irá pertencer ao longo da sua vida. O processo da socialização, ainda que particularmente significativo durante a infância e a adolescência, continua presente durante o resto da vida dos indivíduos.Com efeito, os indivíduos são influenciados pelo meio social envolvente, o que os leva a aprenderem e modificarem constantemente os seus comportamentos ao longo de todas as fases da sua vida. Aprendemos os valores fundamentais e as condutas básicas que nos permitem comunicar com os outros agentes sociais, ao mesmo tempo que adquirimos os 1ºs conhecimentos do mundo que nos rodeia - socialização primária (família) Na maturidade, os indivíduos têm de fazer face a novas situações, próprias da idade adulta. As adaptações e aprendizagens necessárias ao desempenho destas novas funções que lhes permitem integrar-se num mundo social específico – socialização secundária (ex: amigos) O processo de socialização prolonga-se, assim, pela vida do indivíduo, e está presente em todas as atividades que realiza de acordo com os mecanismos próprios da sociedade em que se insere. É a socialização que humaniza e integra socialmente os indivíduos. Características da socialização O processo de socialização, embora possa assumir diferentes formas de sociedade para sociedade e varie de época para época, apresenta determinadas características gerais: � Duradouro – a socialização prolonga-se por toda a vida dos indivíduos; � Dinâmico – implica uma permanente adaptação a novas situações numa sociedade; � Global – a socialização diz respeito a diversos domínios da vida do indivíduo; � Interativo – ao mesmo tempo que o indivíduo se tem de adaptar à sociedade, também a pode vir a influenciar e transformar. Ou seja: A socialização é um processo duradouro, dinâmico, global e interativo através do qual adquirimos conhecimentos, adotando padrões de comportamento e interiorizando valores dos grupos sociais de que fazemos parte. Mecanismos de socialização Principais mecanismos de socialização: � Imitação; � Aprendizagem; � Identificação. Na 1ª infância, as crianças tendem a imitar os outros, que para si são modelos sociais, reproduzindo os seus comportamentos e atitudes. Também por vezes, os adultos, ao enfrentarem situações para si completamente novas, imitam comportamentos que vêm os outros assumirem. Por outro lado, os indivíduos adquirem reflexos, hábitos e atitudes e interiorizam conhecimentos, aos quais vão atribuindo um significado através do processo de aprendizagem. Finalmente, o processo de socialização, ao visar integração social dos indivíduos, exige que estes se identifiquem com os grupos/sociedade em que se inserem. Neste sentido, o processo de socialização permite que os indivíduos deem significado à vida social, à medida que vão construindo a sua própria identidade. Este processo de identificação é complexo, dado que os indivíduos pertencem a vários grupos e aspiram ainda pertencer a outros. Assim, este processo vai decorrendo entre os desejos de ser como os outros, de ser aceite pelos grupos a que se pertence ou a que se quer vir a pertencer, e a necessidade de oposição para afirmação da sua individualidade. Os mecanismos de socialização – imitação, aprendizagem e identificação – atuam em simultâneo e ao longo da vida dos indivíduos. Agentes de socialização Os mecanismos de socialização são acionados por grupos ou contextos sociais, como a família, escola, meios de comunicação social, etc., aos quais habitualmente designamos por agentes de socialização. Deste modo, os agentes de socialização contribuem de forma direta para a aprendizagem social, embora de formas diferentes ao longo da vida do indivíduo. Promotores do processo de socialização. Os principais agentes de socialização são a família e outros grupos primários, a escola, os meios de comunicação e ainda diversas organizações sociais como partidos políticos ou clubes desportivos. � Família – primeiro e principal agente de socialização. Desde que nascem, os indivíduos integram uma família que, para além de garantir a sua segurança e prover a sua subsistência, se encarrega de velar pelo seu desenvolvimento psicossocial. Atualmente esta socialização primária é repartida com cresces e jardins de infância durante uma parte do dia. � Escola - desde cedo as crianças entram em contacto com esta. A escola permite a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de competências que são indispensáveis nos dias de hoje. Por outro lado, e dado o tempo que efetivamente os jovens passam na escola, esta passa a ser um importante agente de convívio e sociabilidade juvenis, onde colegas e grupo tem um papel fundamental na tomada de atitudes, na defesa de pontos de vista, no debate de perspetivas de análise e na afirmação de personalidade. No entanto, podem existir conflitos entre os agentes de socialização, quando não há coerência e afinidade entre os valores e modelos de socialização propostos por cada um desses agentes. � Meios de comunicação social – assumem um protagonismo, quer como fonte de informação, quer como forma de entretenimento. Deste modo, ao longo da vida, os indivíduos vão sendo moldados pela sociedade de forma que possam ser reconhecidos e aceites. Esta adaptação do indivíduo à sociedade denomina-se de integração social. 3.2. Cultura – diversidade cultural, padrões de cultura e etnocentrismo cultural Cultura Idade Média – só se aplicava ao trabalho da terra; Renascimento – manifestações artísticas do espírito humano; Iluministas Franceses – conjunto de conhecimentos e saberes no domínio de uma ciência ou de uma arte. Cultura – noção e elementos Sociologicamente, o conceito de cultura é o mais abrangente, pois dele fazem parte todos os tipos de atividade humana, ou seja: Cultura - conjunto de elementos que caracterizam uma determinada sociedade Todas as sociedades vivem uma cultura que lhes é própria e que deriva dos seus diferentes hábitos, valores e modos de vida. Deste ponto de vista, a cultura engloba 2 tipos de elementos: � Espirituais – onde se incluem as crenças, hábitos, ideias, valores, normas, costumes, língua, etc. � Materiais – dizem respeito às condições de vida e de que fazem parte alimentação, vestuário, habitação, meios de locomoção, etc. Os 2 elementos articulam-se e influenciam-se mutuamente – ex: certos costumes e valores determinam hábitos alimentares ou novas formas de comunicação alteram formas de pensar e criam novos hábitos, como no caso da utilização do telemóvel. A cultura engloba um conjunto de elementos que caracterizam diferentes modos de vida e que são criados e transmitidos pelos indivíduos nas suas relações com o ambiente que os rodeia. Desta forma, considera-se cultura um edifício, uma ópera ou um computador. A cultura integra toda a atividade humana quer na relaçãocom a natureza quer na organização de uma sociedade. Entres os elementos espirituais destacam-se os valores - conceções individuais ou de grupo do que é correto e desejável e que orientam o comportamento dos atores sociais. A cultura influencia o que os indivíduos valorizam no grupo ou na sociedade em que vivem. Ex: a ideia da beleza feminina que vem-se alterada ao longo dos séculos – ideia socialmente transmitida, ou seja, aprendemos a achar belo ou feio aquilo que na nossa sociedade assim é considerado. Este conjunto de ideias, próprias de cada grupo ou de cada sociedade que definem o que é considerado importante, significativo ou desejável, constitui um sistema de valores. De acordo com esta conceção, os valores não são universais, pois variam: � No tempo - ex: o conceito de beleza feminina que antigamente estava associado a uma tez branca, enquanto atualmente valoriza-se um tom bronzeado. � No espaço – ex: enquanto nas sociedades da Europa oriental se valoriza a idade, pois é sinal de sabedoria, na Europa ocidental valoriza- se o ideal de “eterna juventude”. Contudo, tal como no processo de socialização, onde os sujeitos não são passivos, também ao nível de valores estes não são uniformemente aceites. Quer isto dizer que os indivíduos constroem a sua identidade pessoal, mantendo uma certa liberdade e individualidade na adoção de valores. A cultura de uma sociedade é constituída por diversos elementos que, se combinam e entrelaçam criando formas e padrões próprios. Os modos de vida próprios e habituais de certas sociedades ou grupos e adotados pela maioria dos seus elementos constituem os seus padrões culturais, ou seja, padrões de cultura – são formas coletivas de comportamento que enquadram e orientam as ações individuais. Devido à heterogeneidade de formas de comportamento e, modos de vida historicamente conhecidos, podemos atualmente constatar uma enorme variedade de padrões de cultura, ou seja, uma grande diversidade cultural. Esta, atualmente, é cada vez maior devido, ao desenvolvimento dos transportes e comunicação. Outra característica da cultura é ser produzida e transmitida de geração em geração, ou seja é dinâmica e cumulativa. A nossa forma de estar em sociedade tem por base um património cultural e social que foi sendo transmitido e aperfeiçoado ao longo de gerações. O homem é, assim em simultâneo, um produto e um agente produtor de cultura. A cultura é, pois, tudo aquilo que é socialmente apreendido e partilhado pelos membros de um grupo ou sociedade. Essa aprendizagem e interiorização de valores, crenças, dos modos de vida, etc., dos grupos e das sociedades a que pertencem, isto é, dos seus padrões culturais, são realizadas através de um processo de transmissão cultural. Neste sentido, a socialização é um processo de transmissão cultural. Etnocentrismo cultural Como vimos existe uma pluralidade de padrões culturais que variam no tempo e no espaço. Deste modo, muitas vezes os padrões dos outros grupos ou sociedades podem parecer-nos estranhos. A situação torna-se mais difícil quando entramos em contacto direto com outras culturas, podendo, muitas vezes, produzir-se choques culturais, quando os valores das “outras” culturas são muito diferentes dos nossos padrões culturais. Estes choques resultam do facto de termos tendência para julgar os padrões culturais das outras culturas com base nos da nossa, levando-nos a não aceitar ou a aceitar dificilmente esses padrões diferentes dos nossos. Ora, o etnocentrismo cultural consiste precisamente em julgar as outras culturas tomando como padrão os nossos modelos culturais. Quando assumem esta conduta, os indivíduos estão a sobrevalorizar a sua cultura, considerando a dos outros “inferior”. Nas sociedades atuais, onde a diversidade cultural é muito grande, o etnocentrismo cultural tem dado origem a fenómenos como o racismo e a xenofobia. 3.3.Representações Sociais A socialização não é apenas uma transmissão de valores e comportamentos, mas também a apreensão de uma certa representação do mundo, de algumas das suas dimensões (social, politica, etc.). Deste modo, a vivência social leva os indivíduos a terem uma ideia de si próprios e da sociedade em que estão inseridos, a que podemos chamar representações. Estas são assim todo o tipo de avaliações cognitivas que os indivíduos e os grupos fazem de qualquer aspeto das suas condições de existência. As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, com um objetivo prático, que contribuem para a construção de uma realidade comum a um grupo social. As representações sociais não são assimiladas de uma forma acabada, resultam de um lento processo de construção em que os indivíduos reinterpretam as representações existentes de acordo com as suas experiências e aspirações. Os indivíduos não são, pois, meros recetáculos do que lhes chega do exterior, antes são eles que selecionam e descontextualizam as informações para depois construírem as suas representações sociais, que lhes permitem atribuir um sentido real (código de leitura) e ao mesmo tempo integrar o desconhecido no seu sistema cognitivo. As representações sociais são, assim, construções simbólicas que, uma vez interiorizadas pelos indivíduos através do processo de socialização, vão constituir-se como instrumentos que lhes permitem dar significado à informação que lhes chega da realidade social, contribuindo desta forma para orientar as suas práticas sociais. Este código simbólico é estruturado através de signos e símbolos que constituem uma linguagem corrente. Ex: os símbolos associam um significado concreto a um significado abstrato e valorizado – como a cor. Os símbolos revestem-se de significações diferentes consoante o grupo ou a sociedade, pois traduzem a adesão de uma comunidade aos valores e às representações que as especificam (ex: a cor do luto). Deste modo os diversos agentes de socialização desempenham um papel fundamental, na medida em que transmitem e inculcam nos indivíduos as representações sociais e os valores e símbolos que lhe estão associados. Os membros de um grupo que não cumprem estes padrões, inculcados através do processo de socialização, poderão vir a ser considerados socialmente inferiores pelo grupo, sendo, muitas vezes, objeto de condenação social. Quer isto dizer que quem não cumpre os padrões dominantes do grupo ou da sociedade a que pertence pode, num determinado momento, ser estigmatizado. Os grupos sociais configuram, assim, as suas próprias representações sociais, as quais são influenciadas pelas configurações culturais dominantes na sociedade em que se inserem. Neste sentido, pode falar-se de uma pluralidade de representações sociais, umas próprias de grupos sociais e outras são comuns a uma determinada sociedade, ou mesmo várias sociedades. Alguns exemplos de representações sociais associadas: � corpo; � criança; � juvenil � mulher; � etc.
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