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Caroline Chandler Pedrozo Medicina de Emergência ANAFILAXIA Anafilaxia representa a forma mais dramática e severa de hipersensibilidade imediata. Comidas, medicações, picadas de insetos são os agentes mais comuns. Tem aumentado a hipersensibilidade ao látex. Critérios Clínicos para Anafilaxia 1. Urticária, prurido ou rubor generalizados, ou edema de lábios, língua, úvula ou pele se desenvolvendo em minutos a horas e associado com pelo menos um dos seguintes: Dificuldade respiratória ou hipóxia ou Hipotensão ou colapso cardiovascular ou Sintomas associados de disfunção orgânica (ex. hipotonia, síncope, incontinência) 2. Dois ou mais sinais ou sintomas que ocorrem em minutos a horas após uma exposição a um alérgeno: - Envolvimento de pele e/ou mucosa - Comprometimento respiratório - Hipotensão ou sintomas associados - Cólicas GI ou vômitos 3. Considerar anafilaxia quando pacientes são expostos a um alérgeno conhecido e desenvolvem hipotensão PATOFISIOLOGIA É causada pela ativação de mastoides e basófilos. Mediadores envolvidos: ● Histamina: estimula a vasodilatação e aumenta a permeabilidade vascular, frequência cardíaca, contração cardíaca e secreção glandular. ● Prostaglandina D2: broncoconstritor, vasoconstrição pulmonar e coronariana e vasodilatação periférica. ● Leucotrienos: broncoconstrição, aumento da permeabilidade vascular, promove remodelamento das vias aéreas ● Fator de ativação plaquetário: broncoconstritor e aumenta a permeabilidade vascular ● Fator de necrose tumoral alfa: ativa os neutrófilos, recruta as outras células efetoras, melhora a síntese de quimiocinas. CLÍNICA Apresentação clássica: prurido, rubor e urticária seguidos de uma sensação de plenitude na garganta, ansiedade, sensação de aperto no peito, respiração curta, tontura. Queixa de “caroço” na garganta e rouquidão podem indicar edema laríngeo. Podem ser acompanhados por dor ou cólicas abdominais, náusea, vômitos, diarreia, broncoespasmo, rinorreia, conjuntivite e/ou hipotensão. Conforme a evolução, desconforto respiratório, redução do nível de consciência e colapso circulatório. Em casos graves perda de consciência e PCR. Duração: inciam de repente, frequentemente em 60 minutos após a exposição. Quanto mais rápido o início dos sintomas, mais grave a reação. Metade das reações anafiláticas fatais ocorrem na primeira hora. Fenômeno bifásico: existe um risco de recorrência com pico entre 8-11h após a exposição, manifestando sintomas 3-4 horas após a resolução das manifestações iniciais. Caroline Chandler Pedrozo Medicina de Emergência DIAGNÓSTICO É clínico, considerado quando ocorre envolvimento de 2 ou mais sistemas, com ou sem hipotensão ou comprometimento de vias aéreas. Manifestações clínicas Sistema Sinais e sintomas (incidência aproximada) Respiratório Respiração curta e/ou sibilos (45-50%) Edema faríngeo ou laríngeo (50-60%) Rinite ( 30-35%) Cardiovascular Hipotensão (30-35%) Dor torácica (4-5%) Pele Urticaria e/ou angioedema (60-90%) Rubor (45-55% Somente prurido (2-5%) GI Náuseas, êmese, cólicas ou diarreia (25- 30%) Neurológico Cefaleia ( 5-8%) Convulsões (1-2%) Diagnóstico diferencial: reações vasovagais, isquemia miocárdica, arritmias, asma aguda severa, crise convulsiva, epiglotite, angioedema hereditário, obstrução de via aérea por corpo estranho, carcinoide, mastocitose, disfunção de cordas vocais, e reações de drogas não mediadas por IgE. Investigação laboratorial são de pouca utilidade TRATAMENTO TERAPIA DE PRIMEIRA LINHA Vias aéreas e oxigenação - assegurar a via aérea é a primeira prioridade. Os sinais e sintomas de angioedema são: ● edema de úvula ● estridor audível ● desconforto respiratório ● hipóxia Nestes casos deve o paciente deve ser intubado precocemente. Prover oxigênio suficiente para manter a saturação > 90% Descontaminação - cessar a exposição ao agente causador. Lavagem gástrica não é recomendada. Em casos de picadas, o ferrão deve ser retirado. Epinefrina - é o tratamento de escolha para anafilaxia. Num paciente sem sinais de comprometimento cardiovascular ou colapso, administre IM na coxa (mais efetivo que no deltoide), já que esta via atinge o pico sérico mais alto, rápido e consistente. Repetir a cada 5-10 minutos de acordo com a resposta. Pode causar hipertensão severa. A idade não é um impedimento. Se o paciente for refratário apesar das doses repetidas ou então tem sinais de comprometimento ou colapso cardiovascular, instituir bolus EV ou infusão. Caroline Chandler Pedrozo Medicina de Emergência ● Diluir uma solução de 100 microgramas (0,1 mG) e administrar em 5-10 minutos. Deve ser suspensa imediatamente em casos de arritmias ou dor torácica ● Se refratariedade ao bolis inicial, infusão contínua 1mcg/minutos e titular conforme o efeito Cristaloides EV - a hipotensão é resultante do choque distributivo. Administrar solução cristaloide isotônica em bolus de 1-2L (10-20 ml/kg em crianças) simultaneamente com epinefrina. TERAPIA DE SEGUNDA LINHA Corticoesteroides - evidências escassas e precárias de que previnem reações prolongadas e bifásicas. ● Metilprednisolona 80-125 mg EV (2 mg/kg em crianças - até 125 mg) ● Hidrocortisona 250-500 mg EV (5-10 mg/kg em crianças - até 500 mg) Metilprednisolona e dexametasona são preferidos em idosos e naqueles em que a retenção de fluidos pode ser problemática. Anti-histamínicos ● Antihistamínicos H1: difenidramina 25-50 mg EV em infusão lenta ou IM ● Antihistamínicos H2: existem poucas evidências porém em casos severos, especialmente com choque circulatório, pode ser usada ranitidina ou cimetidina. Cimetidina não deve ser usada em pacientes idosos (efeitos adversos), que tem múltiplas comorbidades (interferência com o metabolismo de muitas drogas), que tem função renal ou hepática prejudicada, ou aqueles em que a anafilaxia é complicada pelo uso de beta-bloqueadores (a cimetidina prolonga o metabolismo de beta-bloqueadores e pode prolongar o estado anafilático). Vasopressores - deve ser iniciada infusão de epinefrina EV em casos de anafilaxia e choque resistente ao tratamento inicial. Se o paciente apresentar disritmias ou taquicardia, devem ser usados outros agentes (dopamina, dobutamina, epinefrina, norepinefrina, fenilepinefrina ou vasopressina) - nenhum agente provou ser superior. AGENTES PARA BRONCOESPASMO ALÉRGICO Um broncodilatador B2 deve ser instituído se houver sibilos (albuterol/salbutamol). Para broncoespasmo severo refratário, anticolinérgicos inalatórios e sulfato de magnésio EV podem ser adicionados. Broncodilatadores devem ser usados com cuidado (doses mais baixas e taxas mais baixas) em pacientes idosos. Aminofilina EV não é recomendada. Antagonistas do leucotrieno não são efetivos. GLUCAGON Pacientes usando beta-bloqueadores com hipotensão refratária a fluidos e epinefina, glucagon EV deve ser usado a cada 5 minutos até que se resolva a hipotensão, seguido por infusão. 1 mg EV a cada 5 minutos até resolver. ALTA E SEGUIMENTO Pacientes instáveis devem ser admitidos na UTI Duração da observação após a administração de epinefrina não é bem estabelecida. Pacientes saudáveis que permanecem sem sintomas depois de tratamento adequado podem ficar em observação por 4 horas seguida de alta. A observação deve ser prolongada em casos com história de reação severa e aqueles em uso de beta-bloqueadores, além daqueles que moram sozinhos, residem em longas distâncias, têm comorbidades significativas (incluindo asma) ou quesão mais velhos. Caroline Chandler Pedrozo Medicina de Emergência Prescrição de anti-histamínicos e corticoides por 3-5 dias. Um curso mais longo e agressivo de corticoterapia (1-2 semanas ou até que os sintomas sejam controlados) parece reduzir a frequência de recaídas em pacientes com anafilaxia idiopáticas. Instruções da alta de como evitar futuras exposições. Prescrever um auto-injetor de epinefrina. Referenciar os pacientes com reações alérgicas frequentes ou severas para um alergista para manejo preventivo e tentar identificar o alérgeno. Beta-bloqueadores deve ser trocados por um agente de diferente classe terapêutica. ALERGIAS E ANGIOEDEMA URTICÁRIA Marcada por início agudo de prurido, rodas eritemáticas de diferentes tamanhos, geralmente fugazes. Eritema multiforme é uma variação mais pronunciada, que pode acompanhar diversas reações alérgicas e também não alérgicas (vírus). Tratamento suporte e sintomático, com tentativas de identificar e remover o agente causador. ● Anti-histamínicos H1 (com ou sem corticóides) ● Epinefrina pode ser considerada em casos severos ou refratários ● Anti-histamínicos H2 como a ranitidina podem ser usados em casos mais graves, crônicos ou irresponsivos. ● Compressas geladas Encaminhar para um alergista os casos graves, recorrentes ou refratários. ANGIOEDEMA Similar a urticária porém com envolvimento mais profundo, caracterizado por formação de edema na derme, geralmente envolvendo a face, pescoço e as extremidades distais. Na língua, lábios e face pode causar obstrução de vias aéreas. Inibidores da ECA são um gatilho comum. O tratamento é de suporte, com atenção especial a via aérea. Drogas para reações alérgicas (como epinefrina, anti-histamínicos e corticoesteroides) não são benéficos. Escolha é ecartibant (antagonista bradicinina-2) e inibidor C1- esterase numa dose de 1000 U EV. É indicada a retirada imediata dos IECA e substituição por outro anti-HAS (BRA também não devem ser usados). A maior parte dos casos se resolve em poucas horas ou dias, então os pacientes com edema moderado ou sem evidência de obstrução de VA devem ser observados por 12 a 24h, com alta quando o inchaço diminuir. Angioedema hereditário - reações agudas edematosas envolvendo o trato respiratório superior, tecidos moles de extremidades ou tronco, ou TGI. Os ataques podem durar de poucas horas até 1-2 dias. Traumas pequenos podem desencadear um episódio. Os ataques podem ser encurtados com um inibidor de C1 esterase, icatibant ou inibidor da calicreína. Plasma fresco congelado pode ser usado quando estas medicações não estão disponíveis (geralmente 1-2 unidades). Profilaxia pode ser feita com estanozolol 2 mg/d ou danazol 200 mg/d REAÇÕES ALÉRGICAS A ALIMENTOS Laticíneos, ovo, castanhas e frutos do mar são os mais comuns. Coletar uma história detalhada. Os sintomas incluem: inchaço e prurido nos lábios, boca ou faringe; naúseas; cólicas abdominais; vômitos e diarreia. Manifestações cutâneas, como angioedema e urticária, assim como anafilaxia podem ocorrer. Tratamento de reações leves: suporte e anti-histamínicos. Caroline Chandler Pedrozo Medicina de Emergência REAÇÕES ALÉRGICAS A DROGAS Reações de hipersensibilidade verdadeiras são provavelmente 10% da ocorrências. Penicilina é a droga mais comumente implicada - 90% dos casos e 75% das reações anafiláticas fatais. A via parenteral tem 2x mais chances quando compara a via oral. A reação cruzada com cefalosporinas é de 10% aproximadamente. Manifestações clínicas são variáveis. Reações similares às imuno complexas ou doenças séricas são comuns, especialmente com bactrim e algumas cefalosporinas. Doença sérica geralmente começa na primeira ou segunda semana após o início da droga e pode levar várias semanas para melhorar depois da retirada da droga. Mal estar generalizado, artralgias, artrite, prurido, erupções urticárias, febre, adenopatia e hepatoesplenomegalia. Reações citotóxicas como anemia hemolítica. Erupções cutâneas incluem eritema, prurido, urticaria, angioedema, eritema multiforme e fotosensibilidade. Casos mais graves como síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidermoide tóxica podem ocorrer. Hipersensibilidade tardia pode se manifestar como dermatite de contato por drogas de aplicação tópica. Diagnóstico é clínico. Tratamento com anti-histamínicos orais/parenterais e corticoides, A suspensão do uso da droga é importante, mas reações podem continuar.
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