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2 apresenta 2ª edição sumário vida longa à artéria! bruna callegari e rafael buosi apresentação: o fenômeno artéria omar khouri e paulo miranda nomuque edições: à margem do sistema editorial brasileiro omar khouri e paulo miranda linha do tempo: artérias, 1975-2011 poesia no muque julio mendonça mínimo divisor comum: artéria lúcio agra augusto de campos _sobre artéria entrevista com o poeta coletânea de poemas publicados colaboradores sobre os editores english version 7 9 15 16 42 44 47 52 136 137 138 7 A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima pelo respeito à diversidade, e mantém comitês internos atuantes para promover entre os seus empre- gados campanhas, programas e ações voltados para disseminar idéias, conhecimentos e atitudes de respei- to e tolerância à diversidade de gênero, raça, orientação sexual e todas as demais diferenças que caracterizam a sociedade. A CAIXA também é uma das principais patrocina- doras da cultura brasileira. Somente em 2015, investi- mos R$ 76 milhões em 539 projetos em todo o Brasil, visitados por 931 mil brasileiros. Em 2016 serão mais R$ 75 milhões para patrocínio a projetos culturais em espaços próprios e espaços de parceiros, com mais ên- fase para exposições de artes visuais, peças de teatro, espetáculos de dança, shows musicais, festivais de tea- tro e dança em todo o território nacional, e artesanato brasileiro. Os projetos patrocinados são selecionados via edi- tal público, uma opção da CAIXA para tornar mais de- mocrátiva e acessível a participação de produtores e ar- tistas de todas as unidades da federação, e mais trans- parente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa em patrocínio. Patrocinar a exposição Artéria 40 anos é investir na pluralidade das linguagens artísticas contemporâne- as, sobretudo na divulgação da poesia visual brasileira. Desta maneira, a CAIXA contribui para promover e di- fundir a cultura nacional e retribui à sociedade brasilei- ra a confiança e o apoio recebidos ao longo de sua se- cular atuação e de efetiva parceira no desenvolvimento das nossas cidades. Para a CAIXA, a vida pede mais que um banco. Pede investimento e participação efetiva no presente, com- promisso com o futuro do país, e criatividade para con- quistar os melhores resultados para o povo brasileiro. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Travamos o primeiro contato com a revista Artéria há cerca de 5 anos, por intermédio do poeta Walter Silveira, de quem estávamos realizando uma exposição individual. Em sua casa, ele nos mostrou a Zero à Esquerda, uma caixa de papelão de onde salta- ram poemas em serigrafia. Era coisa linda! No processo de preparação daquela expo- sição, pudemos conhecer ainda a Quadradão e a Fantasminha, outras edições de Artéria e, o melhor, os seus idealizadores, Paulo Miranda e Omar Khouri, poetas incríveis, realizadores incansáveis e pesso- as muito generosas. Assim nasceu o desejo de de- senvolver um projeto que resgatasse a história da revista e divulgasse para um público maior aquele feito tamanho. Sempre independente e ainda em atividade, Artéria veiculou o melhor da poesia experimental (ou intersemiótica) brasileira dos anos 1970 até hoje. Ao longo de seus 40 anos, lançou 10 edições numeradas e outras duas que escaparam à numeração (Balalaica, 1979, e Zero à Esquerda, 1981), assumindo os mais di- versos formatos, meios e técnicas de produção: de ca- derno offset à revista virtual interativa, de fita cassete à caixa de poemas soltos. Publicou trabalhos preciosos, reunindo mais de 100 artistas, que transitaram entre diversos códigos e linguagens, sempre preocupados com a visualidade de suas obras. Alguns nomes que passaram pela Artéria: Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, José Lino Grünewald, Julio Plaza, Regina Silveira, Arnaldo Antunes, Tadeu Jungle, Walter Silveira, Lenora de Barros e outros. Apresentando mais de 80 trabalhos de cerca 60 artistas, a exposição busca refletir a experiência da Artéria, explorando variados suportes, formatos e téc- nicas: adesivos, objetos, serigrafias, áudios e vídeos. Todas as edições da Artéria foram digitalizas e organizadas em um banco de dados com informações sobre autor, data e técnica de cada trabalho publica- do. O público pode conferir os 40 anos de publicação da revista, em sua totalidade, em uma plataforma in- terativa sensível ao toque (touch screen), podendo rea- lizar buscas e manipular os poemas conforme desejar. Uma das preciosidades da exposição é o vídeo de making of de Zero à Esquerda, praticamente inédito, realizado por Tadeu Jungle e Walter Silveira e exibido uma única vez durante o lançamento da revista em 1981, na extinta discoteca Pauliceia Desvairada, em São Paulo. O vídeo demonstra como era produzida a revista, literalmente no muque, e apresenta seus poetas e poemas. Tendo já realizado a exposição no Rio de Janeiro, é com maior alegria que agora a trazemos para São Paulo, reduto de seus criadores e colaboradores. O ca- tálogo, em nova edição ampliada, traz textos de Lúcio Agra e Julio Mendonça, além da entrevista inédita que realizamos com Augusto de Campos, um dos maiores poetas-inventores de todos os tempos, e que colabo- rou em todas as edições de Artéria. Como se não bastasse, a exposição também co- memora o lançamento da tão aguardada ARTÉR11A, da qual tivemos o orgulho de participar. Agradecemos a todos os artistas e poetas que integram a exposição e, sobretudo, aos curadores Paulo e Omar por sua con- fiança, amizade e generosidade. Vida longa à Artéria! vida longa à Artéria! Julio Plaza Arte = Verba, anos 70 1970’s Etiqueta com carimbo Label and stamp 6x 4,5 cm Publicado em Published in Artéria 2, 1976 Bruna Callegari e Rafael Buosi Espaço Líquido | Projeto e realização 9 A revista Artéria começou a ser pensada por Omar Khouri e Paulo Miranda no ano de 1974, em Pirajuí, interior do Estado de São Paulo, aos quais se juntaram os irmãos Figueiredo, da vizinha cidade de Presidente Alves: Luiz Antônio, Carlos e José Luiz. A de número 1 saiu em meados de 1975, já congregan- do um conjunto significativo de poetas, incluindo os concretistas históricos do Grupo Noigandres em sua formação inicial: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. Artéria já nasceu com as vocações intersemió- tica (interdisciplinar) e mutante (proteica) e assim foi abrigando poesia com forte visualidade e trans- formando-se ao longo desses 40 anos: mudança de formato, de processos de impressão, de mídia, e até de nome (Balalaica, Zero à Esquerda integram o con- junto) e congregando, cada vez mais, um número ampliado de colaboradores: poetas, artistas plásti- cos, artistas gráficos, músicos, fotógrafos. Dentre as revistas experimentais que proliferaram nos anos 1970, Artéria foi a que mais se metamorfor- seou: foi caderno, sacola, fita cassete, caixa-de-poe- mas-exposição-portátil, website e até caixa de fósforos! Artéria nasceu sob o impacto de Código, Polem e Navilouca, revistas que vieram retomar a linha experimental da Poesia em periódicos no Brasil (muito embora nenhuma, dentre as que ultrapas- saram o primeiro número, tenha tido periodicidade regular) e dadas certas facilidades apresentadas, à época, com relação aos meios de reprodução, no âmbito gráfico. As revistas proliferaram nos anos 1970, mas poucas tiveram longa vida como Artéria. De Pirajuí, Artéria transferiu-se para São Paulo, com quem já estabelecia uma espécie de simbiose e seu quadro de editores/organizadores foi-se modi- ficando, saindo uns e entrando outros, como Walter Silveira, Sonia Fontanezi, Tadeu Jungle, porém, man- tendo o núcleo inicial com O. Khouri e P. Miranda. Nessas 4décadas, foram impressos apenas 10 números + 2. Porém, há planos para próximas edi- ções. A alegria de fazer e de vir a público com um time numeroso de criadores garantiu a continuidade da revista, sempre independente e livre de patrocí- nios, que não é propriamente uma revista, mas que é uma Revista. Mutante, com alguma permanência, Artéria comemora os seus 40 anos. Auguri! Omar Khouri e Paulo Miranda São Paulo, março de 2015 apresentação Zero à Esquerda, 1981 Revista em serigrafia, offset, tipografia e carimbo Magazine – Screen printing, offset typography and stamp 51,6 x 28,2 cm / 500 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 11 Muito já se falou sobre a importância das revis- tas para a divulgação de trabalhos poéticos, artísticos e teóricos, no Brasil e no mundo, desde antes, mas principalmente a partir da eclosão dos Modernismos, inícios do século XX, até à atualidade, e das dificul- dades de se editarem essas publicações, mesmo em época mais recente em que, dados os progressos de ordem técnica, verificou-se um barateamento de cus- tos, o que fez com que houvesse uma proliferação de “jornaizinhos”, periódicos (sem propriamente periodi- cidade regular), poemas em edições autônomas, fan- zines etc. Isto, considerando apenas o suporte papel, sem que adentremos o terreno das novas tecnologias com suportes não-materiais e as facilidades de se ter um blog, por exemplo, que pode, na maior parte das vezes, abrigar materiais de um único indivíduo. Revista ou suposta revista - porque aqui, em sua maior parte as revistas não conseguiram manter algo fundamental, que é a periocidade regular e muitas de- las, quando saíam do nº 1, mal chegavam ao 3 – é sinô- nimo de publicação coletiva e é aí que a denominação se fixa. Raros são os exemplos das que conseguiram chegar ao 10º número e até ultrapassá-lo, como foi o caso de Código-Bahia e de Artéria. Uma das coisas que Julio Plaza sempre dizia, chamava, mesmo, a atenção, era para a questão das facilidades que pas- saram a existir a partir de um certo momento e que propiciaram, de fato, a multiplicação de publicações à margem do sistema editorial brasileiro, em nosso caso. E, do início dos anos 1970 até os 90, assistiu-se a toda uma série de inovações de cunho tecnológico, a que especificamente Artéria não ficou indiferente, ao mesmo tempo em que antigas tecnologias, no campo das Artes Gráficas, continuaram a existir e a prestar serviços, com bastante eficiência. Uma revista existe (dessas que não recebem sub- venções e que primam pela ousadia e experimenta- ção) enquanto existe um certo entusiasmo por parte dos que com ela se envolvem verdadeiramente, como já escreveu Mário da Silva Brito abordando o caso Klaxon. Portanto, as revistas que resistem e insistem, mesmo depois de décadas de seu 1º número, é porque os que se envolvem intimamente com a sua feitura ainda acreditam em trabalhos coletivos. Artéria é um caso especial, pois, até hoje teve apenas 10 números + 2 com outros nomes e se foi metamorfoseando, e houve números em que teve nomes duplo e triplo (as de nº 5 e 6) e houve as que receberam, na ânsia de transformação, outros nomes, como a fita Balalaica e a caixa-de-poemas Zero à Esquerda, o que nos faz considerar ter chegado Artéria, já, ao nº 12. Mesmo considerando a vontade de mudança, a não-repetição possível, Artéria conservou um núcleo de colaboradores, como poucas revistas, congregan- do experimentadores experientes e jovens poetas. Artéria pertence àquela leva de revistas que brota- ram a partir da 1ª metade dos anos 1970, em parte herdeiras de Noigandres e Invenção dos concretistas, em parte abertas para outras pesquisas, numa época que se convencionou chamar Pós-Modernidade e que Haroldo de Campos ponderou pelo Pós-Utópico. E, dessas revistas, convém mencionar Navilouca, Polem, Código, Invenção Bahia, Artéria, Poesia em Greve, Qorpo Estranho, Muda, Viva Há Poesia, Atlas e algumas outras poucas. Vivia-se ainda, naquele começo, a épo- ca da Ditadura Militar, o que implicava censura, que se abateu quase-nada sobre essas revistas experimen- tais, mas mais sobre publicações de uma vanguarda política. De qualquer modo, o medo pairava sobre to- dos, nós de Artéria, inclusive. Artéria, assim como outras publicações da mes- ma estirpe, seria “revista” ou “antologia”? Esta é a primeira questão que surge quando examinada, em seu conjunto – do 1º número (1975) ao 10º + Balalaica (1979) e Zero à Esquerda (1981) - já que não hou- ve uma periodicidade regular, tampouco uma forma o fenômeno artéria fixa, um formato regular, uma única mídia utilizada, um nome único. A questão de classificar a publicação nunca nos deixou preocupados, muito embora mais adequado fosse chamá-la “antologia”, como lembrou várias vezes Augusto de Campos. Artéria e tantas ou- tras publicações similares, que circularam a partir da 1ª metade dos anos 1970, sempre foram chamadas “revistas” por seus idealizadores e colaboradores, po- rém, escapam à noção tradicional de revista. No caso específico de Artéria, mais ainda, pois o ser mutante foi uma de suas principais características: configurou- -se caderno com encarte, sacola, caixa, fita cassete, site na REDE, de novo caderno, e até chegou a trocar de nome no percurso. Para falar sobre Artéria, temos de vinculá-la à Nomuque Edições, editora fundada por nós, há 41 anos (1974), em Pirajuí, e que sempre funcionou à margem do sistema editorial brasileiro, carecendo de registro como empresa editorial, o que a fez correr o risco de perder legalmente o nome. Nomuque = no muque (no braço, na força muscular) existe à medida que existam trabalhos que ela venha a editar e gra- ças aos recursos provindos dos próprios editores-co- laboradores (a editora nunca contou com patrocínios de fora – antes, por princípio, depois, por força do há- bito). Essa atividade editorial ocorria mais ou menos esporadicamente, bem porque, não visando a lucros e não dispondo de infraestrutura empresarial, só pode- ria mesmo funcionar assim, às vezes acontecendo de uma publicação ser lançada dez anos após o início de sua impressão que, por sinal, em algumas ocasiões, foi feita por seus editores que, além de poetas, eram (são) técnicos em serigrafia, programadores visuais etc. (os poucos que se dispuseram e se dispõem a este tipo de trabalho artesanal). Se bem que, atualmente, o trabalho artesanal tem sido deixado de lado, cedendo espaço ao offset que, de qualquer modo, esteve pre- sente desde o primeiro número de Artéria. Portanto, mais que editora, a Nomuque é gráfica e, além da se- rigrafia, utilizou, ao longo de seus mais de 40 anos de existência, outros processos artesanais de impressão e, também, processos industriais. A Nomuque Edições (“nomuque, edições”, na ori- gem) nasceu em Pirajuí, interior de São Paulo, trans- ferindo-se, a seguir, para a capital, onde ainda opera. Há vantagens e desvantagens nessa estrutura de fun- cionamento da editora: por um lado tem-se liberdade plena para tudo e não há o perigo de ficar insolvente ou mesmo o de ir à falência, já que, legalmente, não existe. Por outro, os custos acabam por onerar os poucos que se dispõem a reservar parte de seu salá- rio para os gastos da editora e, o mais grave: o crôni- co problema da distribuição do pouco material que é editado e que, fatalmente, fica em parte encalhado na casa de alguém, que se dispõe a guardá-lo. Artéria começou a ser pensada em 1974, a partir do momento em que sentimos a necessidade de uma publicação coletiva (até hoje, temos muito mais pra- zer em veicular nossos trabalhos em publicações co- letivas, que em separado: poemas reunidos em livro ou veiculados autonomamente). O nome: um achado (pronto), pois, além de tudo o que traz de positivo a palavra Artéria, contém Arte! Tendo,naquele ano, visto Polem e Código (Navilouca, pouco depois), percebemos que o projeto de uma revista de poesia seria viável. Daí, conversando e travando contato com os irmãos Figueiredo (Luiz Antônio, Carlos e Zéluiz), configurou- -se a possibilidade, e, o número 1, já com colaboração dos poetas concretos (que prontamente se dispuseram a nos enviar trabalhos inéditos) – Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos - saiu em 1975 (lançamento em 15/07, em São Paulo, numa peque- na reunião no Krystal Chopps, no Bairro das Perdizes, com as nossas presenças, mais as de Luiz Antônio de Figueiredo, Carlos Valero, Hermelindo Fiaminghi, Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos). 1313 Artéria 2 já viveu uma crise entre os organizado- res, posto que uns queriam algo arrojado em termos de mídia e outros ponderavam pelo que seria possí- vel, em termos de viabilidade econômica, e a revista foi feita, com alguma modificação do projeto inicial, mas mantendo o arrojo. Saiu em 1977, mas consta a data de 76, ano em que praticamente ficou pronta, só faltando alguns detalhes (o invólucro, uma sacola, causou alguns transtornos até ficar pronto, já que o trabalho de Julio Plaza – Alechinsky-Lichtenstein – foi visto como perigoso por gráficos-impressores e sua publicação teve de ser adiada e a capa do envelope ser refeita): a revista mostrou, nesse número, seu ca- ráter mutante (já indiciado na de número 1, em que aparecia um encarte: o poema “Reviravolta”, de Paulo Miranda). Tendo um formato diferente, não podendo simplesmente ser colocada numa estante, chegou a ser recusada por algumas livrarias, que costumavam receber as nossas revistas em consignação, exceção feita à Duas Cidades, que chegou a distribuí-la nacio- nalmente no ano de 1977, assim como Artéria 1 e ou- tras publicações da mesma estirpe. Os irmãos Figueiredo – Luiz Antônio e Carlos – eram, dos envolvidos no processo Artéria, os que mais insistiam para que a forma da revista não se repetisse. O número 3 não existiu - uma caixa de fósforos tra- zia o nome Artéria 3: ART3RIA – produção de Carlos Valero (de Figueiredo). O número 4 foi feito pela Nomuque Edições mais o Estúdio OM, projeto e execu- ção de Carlos Valero, e era constituído por um estojo que continha um caderno com especificações técnicas para a audição de uma fita cassete C60 – o tal caderno poderia ter existência autônoma como revista, tão pri- moroso graficamente era (muito embora a reprodução – eram apenas 100 exemplares – fosse reprográfica: xerox) e tudo ia dentro de um estojo azul, com impres- são serigráfica em branco. Convém lembrar, aqui, que Artéria IV foi precedida por BALALAICA (também pro- jetada e executada por Carlos Valero e ambas as fitas se encontram, hoje, na REDE: nomuque.net), outra fita cassete C60, sendo as datas de lançamento 1979-80 e, diga-se, isto tudo ocorreu antes da febre da dita “poe- sia sonora”, no Brasil. A novidade nas fitas não estava no fato de se gravarem poemas, coisa que acontecia há décadas, mas de ser um trabalho de poesia sonora/ sonorizada coletivo: uma revista sonora, contendo até o que se poderia chamar de ‘radionovela’. Nesta altura, já faziam parte da equipe de pro- dução, também, Walter Silveira, Sonia Fontanezi, Tadeu Jungle, Júlio Mendonça e, mais tarde, Arnaldo Antunes (que se ocupou de outras publica- ções e atuava, também, em outro campo: o da mú- sica popular, como se sabe). Em 6 de maio de 1981 foi lançada uma grande caixa, com poemas soltos e utilizando vários processos de impressão: Zero à Esquerda, num espetáculo multimídia, na discoteca Pauliceia Desvairada. Esta revista da Nomuque não levou o nome Artéria. Alguns outros projetos foram sendo feitos pela Nomuque que, ao mesmo tempo, tentava viabilizar Artéria 5 (Fantasma), enfim, lançada no MASP, em seu mezanino, em 1991, com uma grande exposição “comemorativa” dos 17 anos da editora, e Artéria 6 (Quadradão) 31 x 31, que só foi lançada em 1993, na Livraria Augôsto Augusta-MIS. Artéria 6 foi a revista de mais longa gestação na história da cultura brasileira: pensada desde 1981, começou a ser impressa (toda em serigrafia, como a de número 5) em 1983 e, daí, passa- ram-se dez anos até o seu lançamento. Nesse tempo todo, várias revistas foram pensadas e até projetadas, porém, os custos as inviabilizaram (a maior revista do Brasil, em formato A2, e outra composta de grandes cartazes 66 x 96 cm, contendo os poemas). A seguir, fizemos Arteriaset (AR7ERIA – Artéria 7) – mais uma longuíssima gestação - em offset, obvia- mente, que teve algo singular: ficou pronta em 2004, depois de Artéria8, que está na REDE desde o 2º se- mestre de 2003 (em 2001, colocamos no ar, com Fábio Oliveira Nunes, que também fez o desenho de Artéria 8, Sígnica, reunindo principalmente poemas de alunos da Universidade – IA-UNESP, FACOM-FAAP e PUC-SP). Na REDE não é preciso fazer números 1, 2, 3 etc., pois a publicação é, por natureza, crescente e mutante. A questão da visualidade sempre apareceu em Artéria (que tem mantido um núcleo de editores, com evasões e adesões, ao longo do tempo) e com o passar dos anos, foi-se acentuando, até culminar com as re- vistas de números 5 e 6. Fizemos a de nº 9 mantendo o formato aproximado da de nº 7 e preparamos a de nº 10, que foi lançada no ano de 2011. E não descartamos a feitura dos números 11 e 12 de Artéria. Artéria se insere na tradição de revistas que pri- maram por veicular uma produção poética mais ex- perimental, mais construtivo-formalista (e aí não vai teor depreciativo), tais como, entre nós, Noigandres, Invenção, Navilouca, Polem, Código (editada em Salvador-Bahia por Erthos Albino de Souza, e que durou 12 números: um verdadeiro prodígio!), Poesia em Greve, Qorpo Estranho, Kataloki, Zero à Esquerda, Atlas etc. Dessas, algumas tiveram apenas um núme- ro. Artéria prossegue e penso ser a única revista atu- almente no Brasil a se preocupar com a questão da visualidade e da experimentação em Poesia. O que faz com que, apesar de tudo, uma publi- cação (que não vem a ser propriamente uma revista, como a definem os dicionários) sobreviva por déca- das? Diríamos que o amor pela poesia e a crença de que tal trabalho seja necessário e, talvez, o que vem a ser o mais importante, a alegria que existe em pôr à luz mais uma publicação coletiva, já que há aqueles que preferem publicar coletivamente do que reunir periodicamente seus próprios trabalhos, mesmo que o avanço em anos seja notório. Artéria chega aos 40 anos e com indícios de que vai continuar. XAIPE! Omar Khouri e Paulo Miranda São Paulo, março de 2015 Regina Vater Abaixo do Equador, 1978 - 2002 Série de fotografias, 132 x 30 cm Publicado em Published in Artéria 9, 2007 Coleção Paulo Miranda Collection Paulo Miranda Che move il sole Objeto luminoso, Luminous object, 80 x 15 cm Publicado em Published in Zero à Esquerda, 1981 Coleção Paulo Miranda Collection 15 A Nomuque Edições, editora fundada por Omar Khouri e Paulo Miranda, em 1974, funcionou à mar- gem do sistema editorial brasileiro e está intima- mente ligada à revista Artéria, que editou a partir de 1975. Nomuque = no muque (no braço) existe à me- dida que existam trabalhos que ela venha a editar e com os recursos provindos dos próprios editores e colaboradores, já que nunca contou com nenhuma forma de patrocínio. Essa atividade editorial ocorre esporadicamen- te, bem porque, não visando a lucros e não dispon- do de infraestrutura empresarial, só poderia mesmo funcionar assim: às vezes – acontecendo de uma publicação ser lançada dez anos após o início de sua impressão, que também tem sido quase sempre fei- ta por seus próprios editores. Estes, além de poetas, são técnicos em serigrafia, programadores visuais, etc (os poucos que se dispuserame se dispõem a este tipo de trabalho artesanal). Portanto, além de uma editora, a Nomuque é, também, gráfica e, além à margem do sistema editorial brasileiro Sessão de impressão serigráfica da revista Zero à Esquerda, realizada na escola ASTER, em 1980; da serigrafia, tem utilizado outros processos artesa- nais de impressão, bem como os industriais. A Nomuque Edições nasceu em Pirajuí, interior de São Paulo, transferindo-se para a capital, onde ainda opera. Do núcleo inicial de editores-colabo- radores, composto por Omar Khouri, Paulo Miranda, Luiz Antônio de Figueiredo, Carlos Valero e Zéluiz Valero, hoje permanecem os dois primeiros. Outros, porém, se foram juntando, com maior ou menor atu- ação: Walter Silveira, Tadeu Jungle, Sonia Fontanezi, Julio Mendonça, Arnaldo Antunes, Fábio Oliveira Nunes. Da repografia e mimeografia, enveredando pelo offset e a serigrafia, passou para a fita mag- nética (em associação com o estúdio ON, de Carlos Valero) e para a REDE (web). Sem preconceitos. Sem limites: formas sem fôrmas, Artéria, antologias, edi- ções autônomas de poemas, livros. De edições míni- mas a 1500 exemplares e à investida no Planeta, com Artéria 8 na Internet. Nomuque Edições: enquanto houver entusiasmo por parte de seus editores. Texto originalmente publicado no catálogo Edições Nomuque: 30 anos, Senac São Paulo, 2004. nomuque edições Confecção da antologia Não muito mas muito da poesia segundo o século XX linha do tempo 1975 1976 1977 1979 1980 1981 1991 1992 2004 2003 2007 2011 1918 artéria 1 (Pirajuí: Nomuque Edições, 1975) _1232 exemplares. _16 x 23 cm. Offset. Sulfite – Gráfica Souza Reis-Bauru, Capa plastificada. _Planejamento gráfico: Omar Khouri _Capa + 4ª capa: Omar Khouri William Carlos Williams POEM original 2ª capa Iumna Maria Simon e Luiz Antônio de Figueiredo: Tradução POEMA (WCW) 3ª capa _Lançamento no Krystal Chopps – São Paulo, na noi- te de 15 de julho de 1975. Presentes: Augusto de Campos, Carlos Valero, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Hermelindo Fiaminghi, Luiz Antônio de Figueiredo, Omar Khouri e Paulo Miranda. _Distribuição: de mão em mão, consignação em al- gumas livrarias e em feiras de publicações marginais, até hoje. Distribuição também gratuita e doações a bi- bliotecas e museus. Em 1977, a Livraria e Editora Duas Cidades se dispôs a fazer uma distribuição nacional de algumas publicações que estavam à margem do siste- ma editorial brasileiro e distribuiu ARTÉRIA 1. _Pagou-se, com as vendas, a médio prazo. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores, ou os responsáveis. * O encarte reviravolta, de Paulo Miranda teve uma 1ª tiragem em plast plate, feita numa tipografia de Bauru; considerada insatisfatória pelos editores, mas foi utilizada para o lançamento, donde alguns dos primeiros exemplares a portarem. Logo em seguida foi feita a tiragem na gráfica Souza Reis-Bauru, em offset. O: Ai!cai, de Décio Pignatari, não foi assumido por ele em sua obra completa. Tendo saído o um dos textos de Galáxias em CÓDIGO 2, Haroldo de Campos enviou para ARTÉRIA 1, outro e a Nomuque publicou os dois. A página de Waldeyr de Oliveira deveria es- tar em negativo, mas, por engano, a seguinte, com poema de Haroldo de Campos é que acabou ficando. O texto de Décio Pignatari ditado a Luiz Antônio de Figueiredo, pelo autor, por telefone: o título deveria ser Franquisténs II. AUTORES/COLABORADORES: _Paulo Miranda: reviravolta (encarte) _Décio Pignatari: Ai!cai _Zéluiz Vtalero: Pollocklee + seven _ Fotomontagem _Haroldo de Campos: 2 fragmentos: tudo isto tem que ver… e passatempos e matatempos… _Luiz Antônio de Figueiredo: Textocidade para o poeta e tradução de poema de Catulo Carmen XXXII, com a colaboração de Ênio Aloísio Fonda _Carlos Alberto de Figueiredo: Arte e sociedade: manifesto _Décio Pignatari: Incipit _Arnaldo Caiche D’Oliveira: pássaro _Augusto de Campos: traduções: Canção – Guillaume de Poitiers e da Conferência sobre nada – John Cage _Omar Khouri: releitura de Amor Humor, de Oswald de Andrade _Gabriel Emídio Silva: Amor/Humor: o máximo do mínimo _Waldeyr de Oliveira: Videre et non videre _Haroldo de Campos: texto (sic) ruínas _Zéluiz Valero: Cabeça mecânica de Hausmann + Dito + Dito Chorão_ Fotomontagem _Décio Pignatari: Franquisteins II _Luiz Antônio de Figueiredo: PS _Omar Khouri: logotipo da Nomuque Edições _Zéluiz Valero: foto NOB Paulo Miranda Reviravolta, 1974 Objeto em metal serigrafado, 18 x 18 x 20 cm Silkscreened metal object Publicado em Published in Artéria 1, 1975 Artéria 1, 1975 Revista em offset Offset magazine 23 x 16 cm / 1232 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 2120 (Pirajuí: Nomuque Edições, 1976) _1000 exemplares. _24 X 34 cm (envelope + sacola de plástico transparente) _Caderno: 15,5 X 21,5 cm. Offset - Gráfica Souza Reis - Bauru. _Planejamento gráfico: vários. _Capa (envelope - serigrafia): Omar Khouri _Capa (caderno - offset): Julio Plaza _Trabalhos acondicionados no envelope, em diversos formatos: serigrafia, tipografia e offset + etiqueta colocada externamente (carimbo). _Trabalhos serigráficos: Edson - Bauru _Tipografia: Pirajuí _Lançamento: não houve, propriamente, a não ser uma tentativa em Avaré, com público escasso, e em que ne- nhum exemplar chegou a ser vendido. _Distribuição: de mão em mão, a partir do 1º semestre de 1977, consignação em algumas livrarias e em feiras de publicações marginais, até hoje. Num certo momen- to (1977), a Livraria Duas Cidades chegou a fazer dis- tribuição nacional de ARTÉRIA 2 (incluindo a de nº 1), assim como de outras publicações da mesma estirpe. Distribuição também gratuita, doação a instituições culturais (bibliotecas, museus, coleções particulares). _Provavelmente não se pagou. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *Dados erros gráficos de responsabilidade dos execu- tores da Souza Reis, os 1000 exemplares do caderno tiveram de ser refeitos e a edição refugada foi destruí- da. A capa – frente do envelope – não encontrou gráfica que imprimisse o trabalho “Alechinsky-Lichtenstein”, de Julio Plaza, por achar que poderia ter problema com a censura, pois havia, ali, uma conotação erótica ou mesmo pornográfica, alegou-se. O referido trabalho acabou sendo publicado em ZERO À ESQUERDA. AUTORES/COLABORADORES: ETIQUETA ATADA À SACOLA PLáSTICA: Julio Plaza: ARTE = VERBA CADERNO: _Julio Plaza: Arte: técnica quirúrgica, continua à página 3 _Haroldo de Campos: anamorfose _Luiz Antônio de Figueiredo: chamar-te vulva… _Décio Pignatari: Pessoinhas _Décio Pignatari + Fernando Lemos: Logotipo rejeitado. _Augusto de Campos: Tradução de poema de E. E. Cummings: minha especialidade é viver… _Regina Silveira: São Paulo turístico. Museu de Arte _Luiz Antônio de Figueiredo: mínimas _Zéluiz Valero: Fotografia _Régis Bonvicino: poema ENVELOPE: _Zéluiz Valero: Em caso de qualquer irregularidade… _Carlos Valero de Figueiredo: Hitler X Satie _Cláudio Cortez: mpb 1. Arte-final: Zéluiz Valero _Pedro Osmar: VIDA _José Augusto Nepomuceno: Observo… _Paulo José Ramos de Miranda: E. E. Cummings. não-tradução _Omar Khouri: KITSCHICK! _Walter Franco: o ab surdo não h ouve. Projeto gráfico: Omar Khouri _Pedro Tavares de Lima e Régis Rodrigues Bonvicino: d _Edgard Braga: linotipoema _Omar Khouri: sem título (E DI) _Paulo José Ramos de Miranda: Soneto artéria 2 Artéria 2, 1976 Revista em offset, serigrafia, tipografia e carimbo Magazine – offset, silk-screen, typography and stamp 34 x 24 cm / 1000 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 2322 (São Paulo: Editor Carlos Valero, 1977) _Trata-se de uma caixa (maço) de fósforos,que saiu nas cores vermelho e branco, com impressão ART3RIA em dourado. Iniciativa de Carlos Valero, frente ao impasse da dúvida, depois de ARTÉRIA de nº 2: a revista ainda sairia? Como seria? _38 x 48 x 5 x 2 mm. Foi distribuída aos amigos e conta- tos vários no ano de 1977. _Tiragem: ? talvez 100 exemplares, sendo que alguns ainda se conservam. *A ideia de Carlos Valero surgiu frente a um certo impas- se que se observou com relação à continuidade ou não de ARTÉRIA, cujo nome será retomado com ARTÉRIA 4, uma fita cassete C60, pela Nomuque Edições e Estúdio OM, totalmente editada por Carlos Valero, que reuniu colaboradores contumazes e novos. Um ano antes: BALALAICA. Tinha havido um mal-estar com relação a ARTÉRIA 2 e as adaptações que teve de sofrer para po- der ser viabilizada. artéria 3 Artéria 3, 1977 Carteira de fósforos Matchbook 4.5 x 5.5 cm / 100 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 2524 balalaica [O SOM DA POESIA] (São Paulo: Nomuque Edições-Estúdio OM, 1979). _Tiragem: ? (hoje, na internet, em nomuque.net) _Fita cassete C60. Estojo próprio da fita. Capa: BALALAICA: Carlos Valero + folha-índice. _Produção e trabalhos técnicos: Carlos Valero. _Distribuída de mão em mão a partir de 1979. _Lançamento na Livraria Muro, Rio de Janeiro, em 08 de maio de 1980. _Pagou-se, se não se considera o fator trabalho. _Cessão de direitos autorais pelos pró- prios autores ou os responsáveis. *Carlos Valero montou um estúdio caseiro, tendo assis- tido a gravação da maior parte dos trabalhos. Balalaica já é uma espécie de ARTÉRIA sonora. De qualquer modo, mostrou que uma revista sonora era viável. AUTORES/COLABORADORES: _Villari Herrmann: Sombras / vozes: Paulo Miranda e Omar Khouri _Augusto de Campos: O quasar / Augusto de Campos _Walter Franco: Mamãe d’Água / Walter Franco _Augusto de Camos: Cidade / Augusto de Campos _Omar Khouri: Facturas / Carlos Valero _Augusto de Campos: dias dias dias / Caetano Veloso. _Luiz Antônio de Figueiredo: O dedo de Leda / Radionovela – vários _Décio Pignatari e Gilberto Mendes: beba coca cola – motet em ré menor / Ars Viva _V. Khliébnikov (tradução Augusto de Campos): hoje de novo / Carlos Valero _John Cage (trad. A. de Campos): da Conferência sobre nada / Carlos Valero _Margareth Young (trad. Décio Pignatari): A morte pela raridade / Vários _Omar Khouri: Marta e Romeu: uma estória de morrer / Marlene Avelar e Stela Avelar _Décio Pignatari + Willy Corrêa de Oliveira: Um movimento / Ars Viva _Lewis Carroll (trad. De A. de Campos): Jaguadarte / Paulo Miranda _William Blake (trad. de A. de Campos): A rosa doente / Roberto Ghiotto _Fernando Pessoa: A casa branca nau preta / Carlos Valero _Stéphane Mallarmé (trad. Haroldo de Campos): Um lance de dados / Vários _Oswald de Andrade (versão inglesa: Paulo Miranda): The masses… / Paulo Miranda _Oswald de Andrade: Balada do Esplanada e Erro de por- tuguês / Oswald de Andrade _Marcial: Mammas… / Omar Khouri _Pedro Kilkerry: É o silêncio / Neoclair Coelho _Bernart de Ventadorn + Augusto de Campos: Intradução / Augusto de Campos _V. Maiakóvski (trad. Augusto de Campos): Balalaica / Stela Avelar Balalaica, 1979 Fita cassete C60 5 x 3,5 cm C60 cassette tape Produção e trabalhos técnicos: Carlos Valero Production and technical work: Carlos Valero Disponível em available at www.nomuque.net Coleção Omar Khouri Collection 2726 (São Paulo: Nomuque Edições-Estúdio OM, 1980) _Tiragem: 100 exemplares. _Estojo em papel Carmen 180 g azul ultramar. 13,7 x 21,5 x 1,1 cm, contendo fita cassete C60 e caderno-ín- dice 21 x 6,8 cm. _Capa: Carlos Valero. Texto interno: Luiz Antônio de Figueiredo. Impressão serigráfica de Paulo Miranda. _Caderno: sulfite 72 g, em reprografia (xerox). _Produção sonora e gráfica: Carlos Valero. _Lançamento na casa de chá Nastassika, em 22 de no- vembro de 1980. _Distribuição: à época do lançamento, esteve à venda, mesmo para os colaboradores que poderiam comprar 1 e levar duas. A edição original deve ter-se esgotado e outras cópias foram feitas, porém, sem a sofisticação do estojo + caderno-índice, como na primeira tiragem. Em época recente, remasterizada, entrou para o site da Nomuque Edições. _Pagou-se, se não se considera o fator trabalho. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *ARTÉRIA 4, assim como BALALAICA, trouxe uma espé- cie de radionovela tétrico-erótica. AUTORES/COLABORADORES: _Oscar Wilde? Poeta / voz de Paulo Miranda _Carlos Valero. Radionovela A vingança do vampiro / vários _Augusto de Campos: Roer… / Carlos Valero _Beatles + Caetano Veloso: Colagem? Beatles + Caetano Veloso _Augusto dos Anjos: Budismo moderno e Mistérios de um fósforo / Beto Xavier + Neoclair Coelho _Sonia Fontanezi: Alice / Paulo Miranda _Anônimo: Circular o desejo proibido / Carlos Valero _Luiz Antônio de Figueiredo: no cúlmen do teu ponto culminante / LAF _Haroldo de Campos: de Galáxias (frag. Inicial) /HC _Stéphane Mallarmé: Soneto em yx / Neoclair Coelho _Walter Franco / Walter Franco _Omar Khouri: Autorretrato em baixo astral / Carlos Valero _E. E. Cummings Quase Cummings / Vinicius Dantas _Carlos Valero + M. McLuhan: Rodapé McLuhan? _Maurizio Prati Trepa dorme / MP _Augusto de Campos: Memos / Júlio Mendonça _Lívio Tragtenberg: Mariceli / piano: LT _Walter Silveira: O dodói da dendeca / WS _Neoclair Coelho e L. A. de Figueiredo: um campo amplo/ Maíza M. Figueiredo _Edgard Braga: Uivoo / Walter Silveira _Carlos Valero: Stalin / Carlos Valero _Paulo Leminski: Você com quem falo / Walter Silveira _Tadeu Junges: Você eu / TJ _V. Maiakóvski (trad. A de Campos) Fragmento… / Maiakóvski + A. de Campos _Carlos Valero: Maristela / Carlos Valero _Paulo Miranda: Poema de valor / vários _V. Maiakóvski (trad. A de Campos) / Carlos Valero _José Lino Grünewald: Onão o putodor / Omar Khouri artéria 4 Artéria 4, 1980 Fita cassete e encarte em serigrafia e xerox Produção e trabalhos técnicos: Carlos Valero Cassette tape and silk-screen and Xerox insert Production and technical work: Carlos Valero 5 x 3,5 cm / 21 x 13,8 cm / 100 exemplares copies Disponível em available at www.nomuque.net Coleção Omar Khouri Collection 2928 (São Paulo: Nomuque Edições, 1981) _ Tiragem: 500 exemplares. _51,6 x 28,3 x 1,2 cm. Invólucro: caixa de papelão. _Trabalhos soltos em diversos formatos, papéis e téc- nicas de impressão (serigrafia, offset, tipografia, carim- bo). _Impressão: Nomuque (serigrafia: ASTER) e outras. _Idealizadores: Omar Khouri e Paulo Miranda. _Produtores e impressores dos trabalhos serigrá- ficos: Carlos Valero, Júlio Mendonça, Omar Khouri, Paulo Miranda, Sonia Fontanezi, Tadeu Junges, Walter Silveira, Zéluiz. _Capa: Walter Silveira, Paulo Miranda e Sonia Fontanezi. _Lançamento em 06 de maio de 1981, na Discoteca Pauliceia Desvairada, com um evento multimídia. _Distribuição: aos colaboradores, vendas no lançamen- to e algumas consignações, doações, vendas em feiras de publicações especiais, até hoje. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *ZERO À ESQUERDA foi quase toda impressa no Aster, um centro de estudos de Arte, nas Perdizes-SP, nos anos de 1980 e 81 (parte do 1º semestre). Houve traba- lhos em offset feitos fora. O de Villari Herrmann (∞) foi o último a chegar: produzido pelo autor, não coube na caixa-invólucro, que já estava pronta – como a margem em branco excedia, foi aparada e, daí, tudo deu certo. A montagem da revista se deu em casa de Paulo Miranda. AUTORES/COLABORADORES: _Aldo Fortes: (Sem título) /9º cigarro _Augusto de Campos: Limite _Carlos Valero: Maristela _Carlos Valero: Poesia _Décio Pignatari: Poeminha poemeto poemeu poesseu poessua da flor _Edgard Braga: Sem título _Elcio Carriço: O q está embaixo é como o q está no alto _Haroldo deCampos: Ode (explícita) em defesa da poesia _Haroldo de Campos: Li Tai Poema _Júlio Mendonça: Eclipse _Julio Plaza: Alechinsky-Lichtenstein _Lenora de Barros: Poema _Luiz Antônio de Figueiredo: Exercício cubista _Luiz Antônio de Figueiredo: Soneto (No cúlmen do teu ponto culminante) _Luiz Antônio de Figueiredo e Neoclair João Vito Coelho: P/ os q pensam _Lygia de Azeredo Campos: Adormeço _Lygia de Azeredo Campos: Amortecemeamor _Neoclair João Vito Coelho: Hellás _Omar Khouri: Eu nos amo _Paulo Miranda: Che move il sole _Paulo Miranda: La vie en _Paulo Miranda (e Carlos Valero): A POE M _Regina Silveira: Anamorfa _Renato Ghiotto: Sem título (50135) _Samira Chalhub: Sem título (As praias, as preias, as peias) _Sonia Fontanezi: Atravessa _Tadeu Junges: Justu nu meu! _Tadeu Junges: Passe a mão _Villari Herrmann (e Carlos Valero): Sem título (∞) _Walt B. Blackberry: Cardiografia: coração partido _Zéluiz: Sem título (.) zero à esquerda Zero à Esquerda, 1981 Revista em serigrafia, offset, tipografia e carimbo Magazine – Screen printing, offset typography and stamp 51,6 x 28,2 cm / 500 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 3130 [FANTASMINHA] (São Paulo: Nomuque Edições, 1991) _Tiragem: 160 exemplares. _34 X 25 X 1 cm (caixa-invólucro). Capa: duplex, com impressão em branco sobre branco (FANTASMA) e sobrecapa em Kraft com impressão serigráfica em vermelho (ARTÉRIA 5). _Idealização: Omar Khouri e Paulo Miranda. _Projeto da capa: Omar Khouri, Paulo Miranda e Arnaldo Antunes. _Equipe de realização: Arnaldo Antunes, Júlio Mendonça, Omar Khouri, Paulo Miranda, Sonia Fontanezi e Walter Silveira. _Gráfica: Nomuque Edições – oficina de serigrafia. _Lançamento: Mezanino do MASP, com a Exposição Nomuque Edições 17 anos, em 10 de abril de 1991. _Difícil saber se se pagou, pelo menos em 50%, pois foram feitos apenas 160 exemplares, distribuídos a colaboradores (1 para cada) e o restante, vendido e doado. Pelo fato de ter sido totalmente impresso pela Nomuque Edições, em serigrafia, não se computou o fator trabalho, emprestado pela equipe de realização. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *ARTÉRIA 5 / FANTASMA foi pensada em função de ARTÉRIA 6, sendo que o que não entrasse nesta (as colaborações), entraria na outra. E assim foi, com um longo período de gestação. AUTORES/COLABORADORES: _Adriana Freire: All ways _Aldo Fortes: Sem título (Cage) _André Vallias: Égloga _Arnaldo Antunes: Tudo ou tudo _Arnaldo Antunes: ? _Arnaldo Antunes: ! _Augusto de Campos: ly _Celso Marques: “OM”: variações _Décio Pignatari: Logochicomendes _Décio Pignatari: Bashô: Velha lagoa _Edgard Braga: Ocaos _Erthos Albino de Souza: Ready-made para Caetano _Gastão Debreix: O Sol se mostra ao meio _Gastão Debreix: Varal _Gilberto José Jorge: Exercício nº 1 – Dédalo _Go: ã _Haroldo de Campos: Como ela é _Ivan Cardoso: Sem título _Júlio Mendonça: ADN _Julio Plaza: Sempre há algo na realidade que você não vê _Lenora de Barros: Há vida _Lygia de Azeredo Campos: Ave útero memória. _Omar Khouri: Factura da série oidípous ópsimos _Omar Khouri: Sin palabras _Omar Khouri: ! _Oswald de Andrade: Amor _Paulo Miranda: Il fabbro _Regina Silveira: da série: Corredores para abutres _Regina Vater: Projeto para Performance de sombras _Salvador Martins: Palavra _Samira Chalhub: Amor en carte _Sonia Fontanezi: Azul era o céu de quando eu tinha minha mãe _Sonia Fontanezi: Era briluz (poema-objeto extra-caixa) _Tadeu Jungle: Zoológico _Walt B. Blackberry: Singer _Walt B. Blackberry: Sem título _Zaba Moreau: Sem título artéria 5 Artéria 5, 1991 Revista em serigrafia Silk-screen magazine 34 x 24 cm / 160 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 3332 [QUADRADÃO | 31 x 31] (São Paulo: Nomuque Edições, 1992) _Tiragem: 180 exemplares. _31 X 31 cm. Sulfite 180 (miolo) e cartão (capa). Impressão serigráfica. _Idealização: Omar Khouri e Paulo Miranda. _Projeto gráfico/equipe de realização: Arnaldo Antunes, Júlio Mendonça, Omar Khouri, Paulo Miranda, Sonia Fontanezi e Zéluiz Valero. _Gráfica: Nomuque Edições. _Capa: Paulo Miranda, Arnaldo Antunes e Omar Khouri. _Lançamento: Livraria Augôsto Augusta MIS-SP, em 15 de abril de 1993. _Distribuição: distribuição a colaboradores e vendas, no dia do lançamento e após, pela livraria onde foi lan- çada, de mão em mão, a partir do 1º semestre de 1993, consignação em algumas livrarias e em feiras de publi- cações marginais, até hoje (vendas esporádicas). _Difícil saber se se pagou, pelo menos em 50% (prova- velmente não), pois foram feitos apenas 180 exempla- res, distribuídos a colaboradores (1 para cada) e o res- tante, vendido e doado. Pelo fato de ter sido totalmen- te impresso pela Nomuque Edições em serigrafia (em cerca de 10 anos), não se computou o fator trabalho, por parte da equipe de realização. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *ARTÉRIA 6, em verdade, começou a ser pensada em 1981 e foi lançada em 1993. Pode ser considerada a revista de mais longa gestação na história da cultura brasileira. Assim como outras publicações artesanais da Nomuque, ARTÉRIA 6 tem sido muito procurada nos últimos anos. AUTORES/COLABORADORES: _Aldo Fortes: Cummings: não-tradução 2 _Paulo Leminski e João Virmond Suplicy: haiku da cigarra [de Winterverno] _Omar Guedes: Sem título _Betty Leirner: Les êtres lettres _Go: o que digo _Erthos Albino de Souza: Louvação para Pagu _Ivan Cardoso: Cinema _Júlio Bressane: Rio _Ronaldo Azeredo: noite noite noite _Gastão Debreix: Poesia _Lenora de Barros: Eu não disse nada _Samira Chalhub: Destra: ção _Walt B. Blackberry: Banheiro publyko: stylografico punk _Júlio Mendonça: Zero à esquerda _Glauco Mattoso: Dactylogramma sos _Décio Pignatari: solviete para o verão de Maiakóvski _Lúcio Kume: Alvo _Augusto de Campos: Intradução: amorse _Sonia Fontanezi: Pós-imagem para Júlia Fontanezi _Carlos Valero: Albers + Gertrude Stein _Josely Vianna Baptista e Guilherme Zamoner: Noites _Julio Plaza: Pré-dado _Arnaldo Antunes: Sem título _Raider: Soneto para Volpi _Luciano Figueiredo: Bye bye baby… (roda de stills favoritos) _Regina Silveira: Para Lizárraga _Edgar Braga: Cartoonpoem (poema da infância) _Omar Khouri: O que estarão essas crianças fazendo? _Gilberto José Jorge: Logovampiro _Marco Antônio Amaral Rezende: Tela e pele de Isabella Cabral _Paulo Miranda: Correção: Rauschenberg (para Erthos Albino de Souza) _André Vallias: Nous n’avons pas compris Descartes _Tadeu Jungle: O lance do gago _Safo e Haroldo de Campos: Em torno a Selene esplêndida _Maurizio Prati: Sem título artéria 6 Artéria 6, 1992 Revista em serigrafia Silk-screen magazine 31 x 31 cm / 180 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 3534 (São Paulo: Nomuque Edições, 2004) _Tiragem: 1.000 exemplares. _19 x 28 cm. Papel sulfite, impressão offset. _Capa: Paulo Miranda e Vanderlei Lopes. _Projeto Gráfico: Vanderlei Lopes. _Gráfica: Impressograf _Lançamento no Restaurante SPOT, São Paulo, em 18 de janeiro de 2005. _Distribuição: aos colaboradores, doações, alguma consignação, feiras de edições especiais. _Não se pagou e a editora ainda conserva mais da metade da edição. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *A gestação de ARTÉRIA 7 foi, também, longa: quase 1 década. AUTORES/COLABORADORES: _Editorial (Omar Khouri e Paulo Miranda) _Paulo Miranda: Already-made _Antonio Risério: (Frasis) _Aldo Fortes: Heráclito revisitado _Zéluiz Valero: Pollocklee _Samira Chalhub: Aperto: para Ed _Carlos Rennó: When 2 are in love _Sebastião Nunes: Arte poética _José Augusto Nepomuceno: Sem título _Tadeu Jungle: Autorretratos publicitários car-de-cu _Alice Ruiz: Medo _Erthos Albino de Souza: Homenagem a Glauber Rocha _Raider: Grafito70 _Go: Sem título _Peter de Brito: Desgaste _J. Medeiros: Life para Signatari _Diniz Gonçalves: Itinerário _Júlio Mendonça: Buraco negro da linguagem _Thiago Rodrigues: Rime _Avelino de Araújo: Soneto cotidianso _João Bandeira: Sem título _Vanderlei Lopes: Ephemeras _Décio Pignatari: Guarda-roupa _Walter Silveira e Fernando Laszlo: Objeto dado _Gastão Debreix: Diálogo _Fernanda Brenner: Sem título _Lenora de Barros: Em forma de família _Edson Pfützenreuter: Luznoite _Fábio Oliveira Nunes: Volátil _Regina Silveira: Latin American puzzle _Tiago Lafer: Dead or alive _Sonia Fontanezi: Teia digital para Edgard Braga _Inês Raphaelian: Roseta byte _André Vallias: Seixo _Haroldo de Campos: D’Amor _Felipe Martins-Paros: Como dizer tudo em grego _Waly Salomão: Tal qual Paul Valéry _Augusto de Campos: Ronda _Giberto José Jorge: Beijo _Walt B. Blackberry: Mamãe consolação _Lívio Tragtenberg: Continuidades _Edgard Braga: Olhos submersos e Retrato de velho _Omar Khouri e Zéluiz Valero: Sem título _Denilson Souza: Sem título _Daniele Gomes de Oliveira: Desafiamos _Arnaldo Antunes: Ver _Gerty Saruê: Sem título _Lúcio Agra: Imantagma: 5 X Signo _Julio Plaza: Sem título _Regina Vater: Antes e depois ou Ontem e hoje _Glauco Mattoso: O jogo da velha (ria) ou A história em quadrinhos _Omar Khouri: readymadenemtanto _Paulo Miranda: Logo Artéria 7 (3ª capa) _Elson Fróes: Sem título (4ª capa) artéria 7 Artéria 7, 2004 Revista em offset Offset magazine 19 x 28 cm / 1000 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 3736 [∞] (São Paulo: Nomuque Edições, 2003…) www.nomuque.net/arteria8 (Revista digital: Crescente e mutante). _Organização: Omar Khouri e Fábio Oliveira Nunes. _Web designer: Fábio Oliveira Nunes. _No ar desde 2003. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *Entrou no ar antes que fosse concluída e lançada ARTÉRIA 7. AUTORES/COLABORADORES: Editorial: Proteica: uma metamorfose arterial _Alckmar Luiz dos Santos e Gilberto Prado: Memória (Hai-Kai) _Alexandre Azeredo: O seu nu meu _André Vallias: De verso _Arnaldo Antunes: Cresce _Augusto de Campos: Pérolas para Cummings _Avelino de Araújo: (Em breve…?) _Brócolis (Leandro Vieira e Mariana Meloni): Hello _Célia Mello: Eusencontroseusencontros _Daniele Gomes de Oliveira: Êxito _Décio Pignatari: Cri$to é a solução _Diniz Gonçalves: Santos _Edgard Braga: Cartoonpoem (poema da infância) _Elson Fróes: Chaves de ouro _Erthos Albino de Souza: Volat irrevocabile tempus _Fábio Oliveira Nunes: Dúvida à Cuchot _Felipe Paros: Língua universal _Fernanda Brenner: Falsas memórias _Glauco Mattoso: Sonetos plásticos e plasmados _Gregório Graziosi: Masturbação _Haroldo de Campos e Safo: Em torno a Selene esplêndida _Inês Raphaelian: Oroboros _Jorge Luiz Antônio e Regina Célia Pinto: Logo Logos _José Lino Grünewald: Forma _Josiel Vieira: Instável 2060 _Júlio Mendonça: Zoomanosluz _Julio Plaza: TV _Lenora de Barros: See me _Letícia Tonon: Arteriografia _Lúcio Agra: Eu não precisava… _Omar Guedes: Sem título (Folha) _Omar Khouri: Góngora. 1582 a(h)ora. 1990 _Paulo Miranda: La vie en _Pedro Xisto: Epitalâmio II _Peter de Brito: Impressões oftálmicas _Priscilla Davanzo: Kiss: a kiss… un baiser… un bacio _R2 (Thiago R. E Guilherme Ranoya): Nada x nada _Regina Silveira: Descendo a escada _Roland Campos: Cineró(p)tico _Ronaldo Azeredo: Céu Mar _Sílvia Laurentiz: Móbile 3 _Sonia Fontanezi: Edgardigitalbraga _Tadeu Jungle: Tudo pode _Tiago Lafer: Jogo de amarelinha _Vanderlei Lopes: Powderhead _Villari Herrmann: somBRas _Walter Silveira: (Em breve…?) _Zéluiz Valero: Sem título (.) artéria 8 Artéria 8, 2003 Revista eletrônica Electronic magazine Programação Programming: Fábio Oliveira Nunes Disponível em available at www.arteria8.net 3938 (São Paulo: Nomuque Edições, 2007) _Tiragem: 1000 exemplares. _19 x 28 cm. Sulfite (miolo) e cartão (capa) impressão em offset. _Projeto gráfico e diagramação: Vanderlei Lopes _Capa e 4ª capa: Trabalho de Inês Raphaelian. _Gráfica: Pancrom. _Lançamento na Casa das Rosas, São Paulo, em 15 de dezembro de 2007. _Distribuição: aos colaboradores, doações, alguma consignação, feiras de edições especiais. _Não se pagou e a editora ainda conserva mais da metade da edição. _Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *O excesso de cuidado, por parte dos editores, para evitar transparência tornou a revista difícil de ser manuseada. AUTORES/COLABORADORES: _Inês Raphaelian: The Art (capa e 4ª capa) _Luz del Olmo: 4 Haikus (2ª capa) _Editorial (Omar Khouri e Paulo Miranda) _Ronaldo Azeredo: Velocidade (com comentário de Omar Khouri) _André Vallias: Tradução mais _Roland de Azeredo Campos: Ah Carnot _Décio Pignatari: 2 poemas para uma nova terra _Fábio Oliveira Nunes: Nov(e) _Gerty Saruê: Muro _Fernando Laszlo: Sem título _Eric Rieser: Sem título _Felipe Paros: Alfa blonde e o ômega da minha cabeça _Priscilla Davanzo: Stupid enough _Regina Silveira: Brasil [Brazil] _Fernanda Brenner: Sem título _Marcial, Dr. Ângelo Monaqueu e Prof. Omar Khouri: Mentula tam magna _Anna Barros: Nonamenameno _Tadeu Jungle: Mulher de areia [Ralph Lauren style] _Antonio Lizárraga: A mulher de meia idade _Diniz Gonçalves: Margens de Vênus _Gil Jorge: Sem título _Júlio Mendonça: Para Julio Plaza _Dumas: Sem título _Célia Mello: EUSENCONTROSEUSENCONTROS _Daniele Gomes de Oliveira: Duchampignon _Edgard Braga: Olho objeto _Felipe Paros: Jamais chorar, jamais rir _Erthos Albino de Souza: D’après Baudelaire _Elson Fróes: Sem título _Ivana Vollaro: Portuñol/portunhol _Gustavo Arruda: Fora _Ivan Cardoso: Sem título _K. Kaváfis e Haroldo de Campos: Juliano e os antioquenses [tradução] _Dulce Horta: New York _Julio Plaza: Braquebra _Lúcio Agra: Inscrição rupestre da memória ou Delvaux gráfico _Aldo Fortes: Sem título _Sérgio Monteiro de Almeida: Sem título _Tiago Lafer: Épico _Zéluiz Valero: Eppur si muove _Vinicius de Oliveira: Duchamp _Arnaldo Antunes: Handmade _Jorge Luiz Antonio: A past paper I at final pass _Lenora de Barros: Não me mostre _Thiago Rodrigues: Noite _Ernane Guimarães Neto: Forma _Go: A mínima noite que de cada objeto parte… _Marcos Rogério Ferraz: São tantas as certezas | São tantas as verdades _Augusto de Campos: O datilógrafo [ready made] _Júlio Mendonça: O lugar fora das ideias _Paulo Miranda: Quer ir de táxi? _Carlos Rennó: Fiel a você à minha moda _Glauco Mattoso: Soneto musical _Peter de Brito: Autorretrato _Alice Ruiz: Efêmero _João Bandeira: Suor _Vanderlei Lopes: Árvore _Sonia Fontanezi: Bilhete _Fabiana de Barros: Culture Kiosk, NY _Betty Leirner e Francisco Magaldi + equipe: [do filme] O reino menos o rei _Alexandre Azeredo: Poema a Descartes _Walter Silveira: Lição das férias _Regina Vater: Abaixo do Equador _Letícia Maria Tonon: Carimbo sobre pele _Marcelo Mota: Interrogação _Fernando Angulo: Tríptico objetos urbanos _Gustavo Vinagre: 2 poemas _Gabriel Marzinotto: 8 frames de construção [para Xenakis] _Gastão Debreix: 1,5 m de poesia (3ª capa) artéria 9 v 4140 (São Paulo: Nomuque Edições, 2011) _Tiragem: 500 exemplares. _Caderno em sulfite, impressão offset PB e capa, com 8 faces e impressão quadricrômica. 17,5 x 25 cm. 64 páginas. _Projeto gráfico e diagramação: Fernando Angulo e Cassiano Tosta. _Gráfica Águia. _Lançamento na Galeria Vermelho/Livraria Tijuana, São Paulo, em 21 de maio de 2011. _Distribuição: aos colaboradores, vendas durante o lançamento, doações, alguma consignação, feiras de edições especiais. _Não se pagou e a editora ainda conserva parte da edição. *Cessão de direitos autorais pelos próprios autores ou os responsáveis. *Quadricromias em offset: capa com 8 faces. AUTORES/COLABORADORES: NA CAPA: _Regina Silveira: Azzurro _Gastão Debreix: Enigma _Erthos Albino deSouza: Poema da série Musa Speculatrix _Marcela Tiboni: em De La Tour _André Vallias: F. Nietzsche: Sobre a Minha Porta – tradução e design _Peter de Brito: Mimese _Tadeu Jungle: Angústia _Sonia Fontanezi: Estudos para Logotipo CORPO DA REVISTA: _Fabiana de Barros: Santa Milla (encarte-santinho) _Editorial (Omar Khouri e Paulo Miranda) _Fernando Laszlo: Luz Preta _Dumas: Kurt Schwitters interpretiert die Ursonate _Dr. Ângelo Monaqueu e Omar Khouri: A beleza não é tudo _Gerty Saruê: Ângulos com A _Regina Vater: Time _Ezra Pound: Em uma estação de metrô. Tradução de Lara Werner _Demósthenes Agrafiotis: Definições. Tradução de Haroldo de Campos _Soraya Braz: Fruição / Micção _Fábio Oliveira Nunes: Poemaparte _Alberto Oliveira: Sem título (da série Hagar). _Júlio Mendonça: Sem título _Anna Barros: Nanopaisagem _Walter Silveira: Vocemia _Célia Mello: Sem título (Hotel Borges) _Anderson Gomes: Sem título _Rafael Trabasso: Tradução Interlingual _Aldo Fortes: Sem título _Décio Pignatari: Logograma _João Bandeira: UR _Daniel Scandurra: Vão _Inês Raphaelian: Amazing Amazon _Elson Fróes: XXX _Gil Jorge: Entrodução _Gustavo Vinagre: receita de sour cream _Diniz Gonçalves: Metálica _Lenora de Barros: Já vi tudo _Frederico Barbosa: O anoitecer das ninfas _Arnaldo Antunes: Inversión _Alexandre Azeredo: Poema à espera de uma música _Edgard Braga: Asas da Noite _Vanderlei Lopes: Sopro _Carlos Rennó: Tendeu? _Paulo Miranda: Falso cognato _Daniele Gomes de Oliveira: Termo de Compromisso _Ivana Vollaro: Sem título _Lúcio Agra: Olho por olho de Haroldo de Campos _Cláudio Daniel: Portão Sete (fragmentos) _Fernando Angulo: Sem título _Lygia de Azeredo Campos: os corpos se juntam _Antonio Lizárraga: de noite _Priscilla Davanzo: Garota do verão _Vinícius Alcadipani: Canto das formigas _Ricardo Coelho: Davi e Narciso _Felipe Paros: Variações ladinas _Augusto de Campos: Profilogramallarmé _Clemente Padín: Canción de protesta nahuatl _Paulo de Toledo: DI(C)(V)E _Glauco Mattoso: Molecada malcriada I, II e III _Pipol: Chapelaria Garcia _Gustavo Arruda: Oriki de Ifá _Alice Ruiz: Baú de guardados _Marie Ange Bordas: (da série) Sem remendo _Jorge Luiz Antonio: Logo logos _Julio Plaza: Sem título _Zéluiz Valero: Walter Franco artéria 10 Artéria 10, 2011 Revista em offset Offset magazine 18 x 14 cm / 500 exemplares copies Coleção Omar Khouri Collection 4342 john cage mostrou que para manter um compromisso precisamos admitir a descontinuidade nexo: banheiro publyko a poesia de artéria não é poesia concreta não é poesia visual não chama o nome disso mas as onze edições da revista estão atravessadas por esse compromisso compreensivo com a interdependência nossa com tudo que nos toca que há 60 anos recebeu o nome verbivocovisual paraporquê viver? ninguém fará isso por nós a gente compreende o passado enquanto faz, agora, o que precisa ser feito re vira volta re existe alguma pessoa ou instituição habilitada a afirmar qual o tipo de poesia que deve ser feita agora? ou se trata de afirmar com qual passado a poesia de agora deve estar comprometida? ou podemos entender que certas formas de fazer poesia foram/são mais capazes de descontinuar os compromissos com o que estava/está à sua volta sabem ler (,) os contemporâneos? os poetas de artéria não são conduzidos a passos cautelosos pelo compromisso com a página em branco com o livro com o desejo de publicar um livro a cada dois anos com a necessidade de construir uma identidade por meio de uma coerência interna perceptível na ocorrência recorrente de determinados temas e formas expressivas com a OBRA os diversos formatos e mídias que as diferentes edições da revista têm adotado são uma manifestação ao mesmo tempo hiperbólica e natural do seu compromisso com a descontinuidade signo dos signos, não fico – passo a consciência de não possuir nada: poesia omar khouri e paulo miranda sempre chamam as obras dos participantes da revista de trabalhos regina silveira (que é chamada de artista plástica), tadeu jungle (que é chamado de videomaker e poeta), andré vallias (que é chamado de poeta e designer), entre tantos outros, enviaram trabalhos não são poemas? é difícil predizer o futuro disto se linguagem e mundo não podem coincidir fisicamente no mesmo lugar, diferentes formas de linguagem podem entremear-se e interpenetrar-se não são as mesmas respostas porque novas perguntas estão sendo feitas cada edição de artéria é uma antologia de respostas im/possíveis poesia no muque 4544 A expressão de um certo modo singular de cria- ção em poesia que ao mesmo tempo que flerta com todas as dimensões do perigo, do heroísmo under- ground, dos sentidos reversores da contracultura, mesmo sendo a afirmação do que possa haver de me- lhor no do it yourself, é uma atitude de recusa termi- nante a tudo que ele possa ter de pior. Essa é, a meu ver, a sofisticada e difícil via da revista Artéria. Nesta perspectiva é uma corajosa incursão na contracultura pela perspectiva da invenção, cujos tra- ços de um discurso “maldito” não se forjam pela se- mântica, por um anti-conformismo meramente com- portamental. As noites infinitas de suor sobre as pranchas de serigrafia e o árduo trabalho que resultou em objetos tão singulares e extraordinários que, em si mesmos, sustentam-se como obras, cada um deles, uma dobra- dura, um volume, um recorte inusitado, são o exercí- cio das artes marciais na poesia. Com uma disciplina monástica, Omar Khouri e Paulo Miranda forjaram, no tempo, edifícios raros. Non multa sed multum. Ou, na frase proposta pelo próprio duo Nomuque: “não muito mas muito”. A fór- mula latina dita a procura por “essências e medulas” ao invés da obra proliferante. Sob o signo de uma eco- nomia estética rigorosa, a prática de criação e produ- ção de Artéria é descendende direta de uma das ver- tentes que a Poesia Concreta legou, sobretudo a partir de sua auto-transformação nos anos 60, quando aban- dona a ortodoxia do movimento vanguardista e passa a abrir-se como um olhar de referência para a poesia no Brasil e no mundo. Outras vertentes que puxaram a presença do corpo, a pop art, o barroco e muitos outros desdobramentos da arte contemporânea se espraia- ram ao longo das décadas seguintes. Artéria seguiu na proximidade daquela posição chamada, às vezes, com certa ingenuidade, de minimalista. Com o passar dos anos, os valores de uma so- ciedade acelerada e intensamente competitiva dei- xariam no esquecimento gente que, a exemplo de Marcel Duchamp ou Ronaldo Azeredo, produziam um trabalho a cada muitos anos. Trata-se não tanto de ter muito a dizer do que dizer com muito pouco. Cada elaboração de um vo- lume de Artéria levava anos a fio. Os intervalos entre os números são surpreendentes1. Seria possível dizer, durante cada época, que aquele seria o último, mas outro logo assomava. A relativa aceleração perceptível a partir do sécu- lo 21 é, em grande parte, devida à “editoração eletrô- nica”, às facilidades trazidas pelo mundo digital. Esse último permanece como área de processo e não de re- sultados, exceto pelo singular número 8, saído em or- dem trocada (antes dia 7), e lançado na web em nome da noção de infinito. Uma jóia única, autorada admira- velmente por Fabio Fon, a Arteria 8, com seu desenho de pérolas em círculo sobre um fundo vermelho, fez saltar para a rede mundial de computadores poemas que talvez devessem desde sempre ter sido pensados para o meio digital. Me lembro do caso específico de Koito, de Vilari Hermann que publicamos em 2003 na Córtex, outra dessas revistas de número único que gravitaram em torno da Artéria. Eu, Thiago Soares e Guilherme Ranoya buscamos,de certo modo, tecer uma homenagem ao que outras como Qorpo Estranho, Código, Muda, Polem, Navilouca, Bahia Invenção fize- ram Brasil a fora, às vezes com um único evento edi- torial – como foram os casos de Zero à Esquerda (den- tro da própria Nomuque edições), ou Atlas, ou ainda Kataloki. Houve um tempo em que essa atitude de eco- nomia e desprezo ao desperdício era de rigueur. Completamente diferente do que se vê hoje no am- biente da poesia, cada vez mais “literário” até mesmo no sentido da quantidade apresentada como qualida- de. Nenhum poeta aspirante soltava seu primeiro livro antes de muito meditar e mais ainda burilar. Os radi- ciais, como alguns da Artéria, jamais fizeram “livros” mas sim poemas-coisa que circularam em revistas não convencionais ou pequenas edições. Na Artéria – como acontece em Código – não se evita o poema com palavras mas é nítido o influxo de uma poesia vi- sual e sônica (vide Balalaica). Há claro interesse por uma proposta de leiaute, uma atenção a cada detalhe do formato. São lendárias as histórias de perdas de exemplares inteiros por conta de pequenos erros nos números serigrafados (como o Quadradão, Artéria 6, relíquia que guardo cuidadosamente no meu acervo mínimo divisor comum: artéria e a cujo lançamento no MIS, nos anos 90, compareci quando ainda nem era amigo de Omar e Paulo)2. Artéria também revela, além de seus editores, Omar Khouri e Paulo Miranda, toda uma geração de so- fisticados poetas não verbais, ainda hoje muito pouco “lidos”: Vilari Hermann, Gastão Debreix, Aldo Fortes, Julio Mendonça, Sonia Fontanezi, Zéluiz Valero, André Vallias. Tem a ver com o “pulsar quase mudo” de Ronaldo Azeredo e, além dos irmãos Campos, Décio Pignatari, Arnaldo Antunes, ou seja, nomes conhe- cidos que comparecem em outras inúmeras publica- ções, ainda fez cruzar, em seus caminhos Lenora de Barros, Julio Plaza, Edgar Braga, Erthos A. de Souza, ou seja, gerações diversas que se constelam, com os mais jovens, em torno desse núcleo de singularidades, tendo à frente os incansáveis Walter Silveira e Tadeu Jungle, colaboradores desde sempre. No Quadradão (1992) está um fotograma de Ivan Cardoso, um poema visual perfeito, a síntese de boa parte de seu trabalho. Um cinema em si mesma, a revis- ta-álbum ainda carrega um Rio de Julio Bressane, jus- to na época em que lançava o seu Tabu, filme-ícone do seu homônimo alemão e da figura de Lamartine Babo, tudo interconectado pela vertigem das analogias. Do Soneto Fita Métrica à Artéria “inferno portátil”, uma caixa de fósforos ou uma fita, uma pasta-portfó- lio, uma etiqueta (como a de Julio Plaza Arte=Verba, Artéria 2), atravessam-se anos de absoluta pertinácia, de obstinação permanente. Artéria é um diamante sem jaça, polido ao longo de décadas, arestas cuida- dosamente alinhadas. Para concluir lembro os grafitos de Walt B. Blackberry, presentes em vários números, em meio a rigorosos exercícios de ortogonalidade, sugerindo uma síntese, aquela mesma que já estava em vários escritos de Haroldo de Campos: “concentração mo- nádica e caos proliferante”. Ou ainda: adesão total à independência de produção e recusa total ao des- mantelo, ao desleixo, à frouxidão autocomplacente. Medula e osso, sem dúvida. 1. Os números 1, 2 e 3 sucedem-se anualmente: 1975, 76 e 77, respectivamente. Balalaica e Artéria4 (ARTERIV) são de 1979 e 80. Zero à esquerda é de 1981. Segue-se um longo intervalo e, em 1991 aparece o número 5 (Fantasma) e o número 6 (Quadradão) no ano seguinte, 1992. Mais outro longo intervalo vai ver surgir o número 8 em 2003, o número 7 em 2004, o 9 em 2007 e o 10 em 2011. Os editores já anunciaram que prosseguirão nessa irregularidade. 2. Texto originalmente publicado na revista Circuladô, 4a ed., Poiesis/Casa das Rosas, abril de 2016. Devo a Omar Khouri uma correção sobre esse lançamento. Tendo visto a versão anterior desse texto, publicada no dossiê da revista Circuladô (número 4, março 2016 http://casadasrosas.org.br/centro-de-referencia-haroldo-de-campos/revista-circulado) dedicado à revista Artéria, Omar me advertiu de que o lançamento no MASP foi de Artéria5, e não a 6, conforme eu escrevera então. Esta foi lançada no MIS, quando ainda existia ali a filial da Livraria aogosto augusta. 4746 augusto de campos A revista Artéria, se não me engano, surgiu em 1975. Eu já tinha tido contato com o Omar Khouri um ano antes, e depois também com o Paulinho Miranda, que são os dois criadores dessa publicação. Eles se aproximaram de mim, de Haroldo de Campos e de Décio Pignatari, por conta de uma afinidade de projeto, uma vez que todos nós tínhamos em comum o interesse em torno da poesia de novos media¹, chamada intersemió- tica naquela época, e que se expressava, principalmen- te por conta dos meios de que dispúnhamos, ainda no papel ou através do livro, mas apontando já para novas possibilidades de veículos para a poesia. Nós havíamos lançado a Poesia Concreta, Haroldo, Décio, eu e outros participantes, em 1956 no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e vínhamos publicando, desde 1952, algo que se parecia com uma publicação do tipo revista, a Noigandres. Na verdade, não era bem uma revista, era uma revista- -livro, ou mais propriamente um compêndio da nos- sa produção poética. Os primeiros livros de Haroldo e de Décio foram publicados em 1950 pelo Clube de Poesia, foram O Auto do Possesso e Carrossel. No ano seguinte, nós já estávamos desligados do Clube, pois não concordávamos com a orientação do grupo da Geração de 45. O meu primeiro livro O rei menos o rei- no (1951), por exemplo, já saiu às nossas custas. A Noigandres surgiu justamente dessa necessida- de de publicarmos juntos as nossas produções poé- ticas. Então, a primeira saiu em 1952, a segunda em 1955, a terceira em 1956 já com o subtítulo de Poesia Concreta, e os outros dois números em 1958 e 1962. Criou-se, então, um histórico de uma revista pouco co- mum que, pela sua continuidade ao longo desse perío- do, trazendo os nossos poemas, marcou época. Já em 1962, surgiu uma outra revista, essa com o sentido mais comum do termo, a Invenção, que saiu concomitantemente com o último número de Noigandres. Nessa revista, já havia uma colaboração mais diferenciada, pois nós resolvemos abrir para outras tentativas ou projetos paralelos não neces- sariamente ligados à Poesia Concreta. Daí, penso eu, que se construiu, aos olhos daqueles jovens que nos procuraram, o desejo de também publicarem os seus trabalhos nessa mesma linha de revista dedicada es- pecialmente às poéticas experimentais. revistas na pororoca O Omar Khouri tem uma tese que chegou a ser publicada parcialmente em forma de livro, Revistas na era pós-verso (Ateliê Editorial, 2003), em que ele es- tuda abrangentemente esse período em que surgiram várias revistas com essa mesma perspectiva experi- mental. Ele cita, se bem me lembro, no pórtico, uma frase do Paulo Leminski em que ele diz que a melhor poesia da época é a que havia sido produzida nessas revistas de cunho experimental². A primeira que surgiu nessa fase dos anos 1970 foi a revista Código, na Bahia, em fevereiro de 1974, dirigida pelo Erthos Albino de Souza, precursor da po- esia digital no Brasil, e pelo Antonio Risério, jovem po- eta que tinha 20 anos naquela época. Em seguida, saí- ram as revistas Polem, do Rio de Janeiro, dirigida pelo Duda Machado, que também era ligado, de alguma forma, ao grupo da Bahia, e finalmente a Navilouca, que teve um único número e que foi lançada em de- zembro de 1974, criada pelo Torquato Neto e Waly Salomão. Então, houve aí uma confluência de poetas que provinham também do contato com o grupo poé- tico e musical da Tropicália. O contato que fiz com aquele grupo que trazia uma nova linguagem para a música popular, Caetano, Gil, Torquato eoutros, acho que contribuiu para que houvesse uma confluência muito especial de interes- se artístico e de propostas de vanguarda entre os que faziam a poesia de ponta nos anos 1950 e 60 e aque- les que emergiam em grande parte da área da música popular, mas também com outras referências. O Paulo Leminski, em uma carta que dirigiu ao Antonio Risério em 1974, fala desse encontro que Ronaldo Azeredo (colaboração: M. A. Amaral Rezende) Noite noite noite, 1989 Objeto Object 28 x 28 x 28 cm Publicado em Published in Artéria 6, 1992 Coleção Omar Khouri Collection sobre Artéria 1. Teorizado por Marshall McLuhan, o conceito dos novos media preconizava a ampliação do suporte do livro sob o influxo do mosaico de novas tecnologias como a televisiva, eletroacústica e a da computação gráfica. 2. “As revistas são a obra prima da poesia brasileira”. Paulo Leminski, 1982. 4948 desviou o projeto das poéticas brasileiras do eixo Rio - São Paulo e subitamente convergiu para São Paulo - Salvador, e que ele chamou de pororoca. Nós conhecemos o Leminski quando ele tinha 18 para 19 anos. Ele tinha seguido para um congresso, a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte, sem ter sido convidado; ele foi porque que- ria se encontrar com os poetas. E quando eu voltei des- se simpósio, dessa reunião de poetas, ele ficou na minha casa. Passou a noite sem dormir lendo Os Cantos (1915- 1962), do Ezra Pound. E daí, começou o contato entre o Leminski e o grupo dos concretos, especialmente comigo, com quem ele tinha uma relação mais próxima. Leminski se considerava praticamente um discípulo dos concretos. De repente, surgiram no mundo das artes Caetano e Gil, da mesma geração que o Leminski, e tomaram muito da nossa atenção. Nós saíamos a campo para defendê-los quando eram atacados por todo mundo. E o Leminski, então, escreve essa carta ao Risério e, em certa altura, ele diz assim: “quando Augusto virou-se para a Bahia, tive uma crise de compreensão, depois entendi e começou então a pororoca”. Quer dizer, hou- ve um desvio que ele achou produtivo e interessante, que era esse encontro inédito, subitamente um inter- curso literário poético, que não vinha mais do fla-flu São Paulo – Rio de Janeiro, mas que estabelecia uma conexão inesperada com a Bahia. O Décio diria no final da vida: “movimentos movi- mentam”. Eu acredito que foi justamente no bojo dessa movimentação dos anos 1970, que se criou, também aqui em São Paulo, uma resposta brilhante para tudo isso: a revista Artéria. difícil circulação da poesia A poesia nunca foi muito popular. Os jovens poe- tas sempre encontram dificuldade para publicar o seu trabalho e acabam, eles mesmos, financiando suas edições. Isto é um denominador comum. Agora, no nosso caso, havia um agravante: a Poesia Concreta en- controu uma grande resistência nos meios intelectuais brasileiros, nas universidades e nos próprios jornais, porque era uma poesia muito nova, que abolia ou pelo menos relativizava o uso da sintaxe normal, discursi- va, preferindo uma linguagem mais visual. Poemas que eram organizados visualmente através de um projeto tipográfico, por exemplo, eram realmente até difíceis de serem publicados em jornal. Então, a resistência do meio cultural universitário ou convencional foi muito grande. Esse tipo de poesia que fazíamos teve realmen- te que encontrar um caminho à margem para circular. O meu primeiro livro publicado por uma editora comercial foi o Viva Vaia, em 1979. Eu tinha 48 anos. Até então, só havia publicado particularmente em edi- ções de autor, inclusive Poemóbiles (1974) e Caixa pre- ta (1975), com Julio Plaza. O primeiro de nós ligados à Poesia Concreta a publicar um livro foi o Haroldo, Xadrez de Estrelas, que saiu em 1976. Nos anos ‘70, eu frequen- tava muito a livraria Duas Cidades, que ficava no centro de São Paulo. Inclusive levava sempre os livros de auto- res e as revistas que fazíamos para serem vendidos lá. Era uma forma de distribuição, quando não eram distri- buídas de mão em mão. A verdade é que essas revistas, em grande parte, eram dadas e não vendidas. Eu frequentava muito a livraria, até que um dia, o dono, vendo que havia certo interesse por parte da clien- tela, me propôs reeditar a Teoria da Poesia Concreta, que tinha saído apenas como edição de autor também. Eu me lembro que, preocupado com essa inviabilidade de divulgação dos nossos poemas, propus a ele que edi- tasse primeiro o livro do Décio. O Décio era quatro anos mais velho do que eu, eu também não tinha livro edita- do, mas achei que o do Décio deveria ser primeiro, já que o Haroldo tinha conseguido a edição com a Perspectiva em 1976. Então, eu propus uma troca: editamos a Teoria da Poesia Concreta, se editarem o livro do Décio. E as- sim foi: Poesia Pois é Poesia saiu em 1977 e, em segui- da, o meu Viva Vaia. Veja: se eu tinha 48 anos na época, o Décio tinha mais do que 50. Imagine, para ter o seu primeiro livro de poesia lançado por editora comercial! Então, só por esses exemplos, já se percebe a dificuldade que era fazer circular essa poesia. E mais, as edições de autor que fazíamos eram pe- quenas. Por exemplo: o número 1 de Noigandres teve apenas 300 exemplares. O número 2, por causa dos poemas reproduzidos em até 6 cores, teve apenas 100 exemplares, dos quais meia dúzia se estragou, pois era composição manual e problemas de registro inviabiliza- ram alguns exemplares. Então, pouca gente teve acesso. Somente a número 5, Antologia, é que teve 1000 exem- plares, já em 1962. Foram essas revistas como a Artéria que nos acolhe- ram. Poderiam não ter acolhido, poderiam ter publicado só a obra dos jovens. Mas havia uma afinidade de pro- jeto literário muito grande entre nós. Fomos acolhidos por essas revistas e nossa produção toda fluiu através delas. Foi muito importante para nós e para os nossos trabalhos também. Nós não tínhamos espaço nos jor- nais, alguma coisa passava pelo suplemento literário do Estado de São Paulo, e tivemos, por um certo período, no ano de 1960 (de 17 de janeiro de 1960 a 26 de feverei- ro de 1961), uma página semanal no Correio Paulistano mas, em geral, era muito difícil o escoamento da nossa produção. Ela realmente fluiu, em grande parte, através de revistas como Artéria. era da internet A linguagem digital e o instrumental fornecido pe- los computadores veio colocar à mão dos poetas tudo aquilo que a gente imaginava nos anos 1950. Eu tenho uma introdução ao Poetamenos (1953), conjunto de poemas em cores, que comecei a publicar produzindo numa máquina de escrever com carbonos coloridos etc. Na época, eu pensava: “quando teremos o instrumental que têm os filmes de cinema, os luminosos...?”, e ima- ginava os poemas em grandes letras na cidade etc. Mas não tínhamos nada disso à mão. Então, tentávamos projetar no futuro. Imagine, nem a televisão era em co- res. Havia só o cinema e por ali nós sonhávamos. Não se suspeitava, àquela altura, da revolução que seria a informática. Artéria se adaptou a essa nova realidade e procurou tirar partido disso, tendo feito um número também na linguagem da informática (Artéria 8, 2003). Tudo isso é importante, mas eu acho que hoje ainda se investe muito pouco em criatividade nessa área digital. Na literatura, existe toda uma dialética que é difícil de acompanhar, ainda mais para os con- temporâneos. É difícil fazer uma avaliação precisa ou justa, mas acho que houve um retrocesso em relação ao que produziram essas revistas experimentais. Em duas décadas houve um refluxo, uma linguagem mais moderada, mais normativa e isto muito por conta do que se chamou de pós-moderno, que é uma expressão literariamente pouco precisa e que muitas vezes mes- mo abriga uma espécie de retrô-moderno, ao invés de pós-moderno. Parece ter havido uma fuga
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