Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INTRODUÇÃO O período neonatal se estende desde o nascimento até o 30º dia de vida. Neste período, a pele do recém-nascido (RN) sofre várias modificações visando adaptar-se da vida intra- uterina para a vida no meio exterior. fu alterações cutâneas verificadas neste período compreendem desde processos temporários causados por mecanismos fisiológicos até quadros permanentes decorrentes de enfermidades graves. A PELE DO RECÉM - NASCIDO A pele do RN exerce importante papel fisiológico na regulação da temperatura, bem como barreira pro- tetora contra as infecções. Em relação à pele do adulto, poucas diferenças são observadas do ponto de vista estrutural, sendo mais marcantes as diferenças funcionais. fusiin, a absorção percutânea no RN é maior, principalmente nas regiões axilares, inguinais, retro- auriculares e bolsa escrotal. Os prematuros (idade ges- tacional inferior a 37 semanas) têm maior permeabili- dade cutânea que os RN a termo (idade gestacional de 37 a 41 semanas). Após 3 semanas de vida, esta dife- rença não é mais observada. A relação superfície/peso corporal em relação ao adulto é 3 vezes maior no RN DERMATOSES DO NEO-NATO a termo e 7 vezes maior no prematuro. Desse modo, é necessário precaução com a utilização de substân- cias tópicas em áreas extensas da pele da criança, principalmente nos prematuros. Em recém-nascidos, o cuidado é especial pois a absorção está aumentada em toda a superfície corporal. Também há limitação da atividade enzimática epidérmica nos prematuros, o que aumenta ainda mais a chance de toxicidade às substâncias aplicadas na pele. A resposta sudoral apresenta-se, de início, incom- pleta no RN, tendendo à normalização a partir do 6° dia, nas crianças a termo. Nos prematuros, esta res- posta torna-se adequada somente a partir do 30º dia. O tecido adiposo marrom, ausente no adulto, pode ser encontrado em algumas regiões do RN como interescapular, cervical e abdominal. Este tecido tem função no controle da temperatura ap'ós o nascimen- to, através da oxidação dos ácidos graxos. Nos cuidados diários do RN, deve-se evitar ades- truição do manto ácido que o reveste, já que esta subs- tância é provida de propriedades bactericidas. &sim, os banhos com sabonetes alcalinos devem ser evitados, dando-se preferência aos banhos rápidos com água morna. Não é recomendado usar cremes ou loções que podem alterar o manto ácido protetor e, conse- qüentemente, aumentar a absorção percutânea. 1302 DERMAT OLOGIA Diversas substâncias têm sido relacionadas como causa de toxicidade por absorção percucânea nos RN, principalmente nos prematuros. Dentre elas, salienta- mos: fenol, ácido bórico, ácido salicílico, epinefrina, corcicosteróides, estrógenos, hexadorofeno, gama ben- zeno hexacloreto (lindano), sabões iodados, corantes com anilina, álcool benzílico e dorexidine. Portanto, estas substâncias devem ser evitadas no RN. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS TRANSITÓRIAS É freqüente, neste primeiro mês de vida, o sur- gimento de fenômenos transitórios na pele do RN, que geralmente desaparecem espontaneamente, sem necessidade de tratamento. VERNIZ CASEOSO Ao nascer, a pele da criança está recoberta por substância graxenta, denominada verniz caseoso, com- posta por células epidérmicas descamadas e secreções sebáceas. Sua finalidade está relacionada com a lubri- ficação, facilitando a passagem pelo canal do parto. Atribuem-se, também, propriedades bactericidas, por este motivo, recomenda-se não removê-lo, deixando que seu desaparecimento ocorra espontaneamente em alguns dias. É mais espesso no RN a termo que no pós- termo, que nasce com a superfície da pele bem lisa. LANUGEM A pele do RN pode ser recoberta por pêlos finos, não pigmentados e com pouco potencial para cres- cimento, que são denominados lanugem. São mais abundantes nos RN pré-termo. Estão localizados, mais freqüentemente, na região dorsal, ombros e face. A lanugem desaparece nas primeiras semanas de vida, sendo substituída por pêlos velas durante os primeiros meses de vida. Uma alteração autossômica dominante rara que deve ser diferenciada é a hipertricose lanuginosa con- gênita em que coda a pele glabra é recoberta por la- nugem levemente pigmentada e mais longa. ALOPECIA FISIOLÓGICA Cabelos terminais estão presentes no couro cabeludo da maioria dos neonatos, em quantidade variável. Estes se convertem em pêlos velas hiperpigmentados duran- te o primeiro ano de vida. Cabelos terminais maduros crescem geralmente após um ano e meio de vida. Alopecia occipital pode ocorrer nos primeiros meses de vida por trauma da fricção dos cabelos no travesseiro ou mesmo por eflúvio telógeno. DESCAMAÇÃO FISIOLÓGICA É a alteração mais comum do RN. Durante as primeira semanas de vida, pode ocorrer descamação fisiológica caracterizada por escamas finas e não ade- rentes, principalmente nos tornozelos, mãos e pés. Nas crianças pós-termo, esta descamação costuma ser mais mtensa. ICTERÍCIA FISIOLÓGICA É outro achado comum nos RN, que, geralmente, se inicia em torno do 2º dia de vida. Ocorre em 60% dos RN a termo e em 80% dos prematuros. É devida ao acúmulo de bilirrubina indireta na pele e involui espontaneamente em poucos dias. PUBERDADE EM MINIATURA Em função da passagem de hormônios placentá- rios e maternos, o RN pode desenvolver quadro clí- nico semelhante ao induzido por hormônios durante a puberdade e gestação. A hiperpigmentação da linha alba, da bolsa escrotal e da genitália externa são as al- terações mais observadas, principalmente nas crianças melanodérmicas. Pode ocorrer aumento do tamanho dos genitais e hipertrofia mamária. Regride em dias ou semanas. ALTERAÇÃO DA COLORAÇÃO EM ARLEQUI M Esta alteração não deve ser confundida com o feto ou ictiose arlequim, que é uma forma grave de ictio- se. Na alteração da coloração em arlequim, observa-se que, com a criança em decúbito lateral, o hemicorpo em contato com o leito fica eritematoso, enquanto o lado oposto torna-se pálido. O quadro evolui em surtos, de poucos segundos a alguns minutos, e é mais freqüente nos primeiros dias de vida. Este fenômeno ocorre provavelmente em função da imaturidade do centro hipotalâmico que controla o tônus dos vasos sanguíneos periféricos. Geralmente remice em algumas semanas de vida. CÚTIS MARMORAT A FISIOLÓGICA São manchas produzidas pela dilatação de capila- res e vênulas, conferindo um aspecto reticulado de coloração marmórea ou azulada ao quadro. Estas le- sões são freqüentes nos membros inferiores do RN, principalmente quando expostos ao frio. O quadro é fis iológico e transitório e deverá ser diferenciado da cútis marmorata telangiectásica congênita, que persis- te geralmente até o segundo ano de vida e não me- lhora com o aquecimento da pele. HIPERPLASIA SEBÁCEA São pápulas pequena.$ e esbranquiçadas localizadas na abertura do folículo pilossebáceo, no dorso nasal, lábio superior, fronte e região malar (Figura 84.1). Representa hiperatividade sebácea por estímulo an- drogênico, não sendo necessário tratamento, já que desaparece após algumas semanas. É acompanhada por milia em 50% dos casos. MILIA Representam ciscos de inclusão epidérmicos punti- formes que se originam do aparelho pilossebáceo dos pelos velos. São achados freqüentes e se apresentam como rnicropápulas esbranquiçadas de 1 a 2 mm, prin- cipalmente no nariz, fronte e regiões malares. Ocorre em 40% dos RN a termo. Regridem espontaneamente. MANCHAS AO NASCIMENTO Denominadas popularmente de "marcas de nas- cençà', podem ser observadas desde o nascimento ou nos primeiros dias ou semanas de vida. F 1G. 84. 1. Hiperplasia sebácea do RN. Lesões papulosas no dorso nasal. DERMATOSES DO NEO- NATO MANCHAS VASCULA R E S Sãogeralmente detectadas ao nascimento e nem sempre involuem. A mais comum é a mancha salmão que ocorre em mais de 50% dos RN. São lesões de coloração rosada ou avermelhada que se localizam na nuca, glabela, região naso-labial ou pálpebras. Acen- tuam-se quando a criança chora. A maioria desaparece na infância, porém as da nuca freqüentemente persis- tem até a idade adulta. As manchas vinho do porto também são planas, de coloração vinhosa, geralmente unilaterais, que ocorrem principalmente na face. Como são malformações vascu- lares, não apresentam qualquer sinal de regressão duran- te a vida. O diagnóstico diferencial principal é com os hemangiomas, que no RN podem se manifestar como máculas angiomatosas ou anêmicas, com telangiectasias, que aumentam de tamanho a partir da 3ª ou 5ª sema- nas de vida, tornando-se elevadas. Os hemangiomas, na maioria das veu:.s, involuem até os 5 a 7 anos de idade. MANCHAS HI PERPIGMENTADAS Estão presentes em 4% dos RN. Existem vários tipos, que serão abordados em outros capítulos e as principais são: • • • • • Manchas café-com-leite: Máculas acastanhadas, de diferentes tamanhos, geralmente no tronco ou ex- tremidades. Podem estar presentes ao nascimento, mas vão aumentando em número com o cresci- mento da criança. Muitas vezes são um achado iso- lado mas também estão associadas a outras doenças como à neurofibromatose que se suspeita, quando presentes em número maior que 5. Nevos congênitos: Pequenos, médios ou gigantes. Nevos de Ota, !to, spilus. Hipermelanose nev6ide: Mácula hipercrômica, seguindo as linhas de Blaschko, aumentam até o segundo ano de vida e não têm associação com outras doenças. Mancha mong6lica: É a mais comum de todas as manchas do RN, principalmente em nosso meio, e com predomínio nas raças amarela e negra. É composta por células pigmentadas presentes na derme profunda, que, histologicamente se asseme- lham ao nevo azul e nevos de Ota e lto. Clinicamente caracterizada por mancha hipercrô- mica, cuja tonalidade varia desde o azul até o cinza, e com dimensões variando de poucos centímetros até 1303 1304 DERMATOLOG IA o comprometimento de grandes áreas. A localização principal é a região lombossacra e a glútea, mas pode acometer outras áreas como os membros. Geralmente poupa a face, superfícies .flexoras, as palmas das mãos e plantas dos pés. Evolutivamente, tende a aumentar de tamanh o e tonalidade até o primeiro ou segundo ano de vida, regredindo espontaneamente durante a infância na maioria dos casos. M ANC H AS H 1 P OPIGM ENTADAS São menos comuns que as hiperpigmentadas. Se- rão abordadas em outros capítulos, porém as mais freqüentes são: • Nevus despigmentoso ou hipocrômico: É mácula hipocrômica geralmente unilateral e solitária, de tamanhos variados. • Mancha em folha: Presentes ao nascimemo, não têm alteração de tamanho ou forma com o de- senvolvimento da criança. Encontradas no tronco ou extremidades, são um alerta quando houver mais de uma lesão, para a pesquisa de esclerose tuberosa. • Hipomelanose de !to ou incontinência pigmen- tar acromiante: Segue as linhas de Blaschko no tronco e extremidades. Pode se associar a altera- ções do sistema nervoso central. • Nevos anêmicos: São mais comuns no tronco. A L TERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO INTRA- UTERINO APLASJA CUTIS É dermatose rara, geralmente esporádica, caracteri- zada por lesões solitárias ou em pequeno número, bem definidas, arredondadas ou ovaladas, mais freqüente- mente localizadas na linha média do crânio. Podem ocorrer também nos membros, face e nádegas. Geral- mente são ulceradas ao nascimento ou já se apresentam atróficas e cicatriciais, levando à alopecia. A regressão é espontânea, deixando cicatriz (ver Capítulo 71). FÍSTULAS ou CJSTOS Ocorrem por alteração no desenvolvimento intra- uterino. Os ciscos branquiais ocorrem na área pré-au- ricular, por alteração no desenvolvimento do sistema branquial embrionário. Os ciscos tiroglossos, na parte anterior do pescoço, decorrem de falha na obliteração do ducw embriônico tiroglosso. O s ciscos broncogênicos, no mediascino ou tórax, são raros (ver Capítulo 71). SÍNDROME DAS BANDAS AMNIÓTICAS É um conjunto de anomalias devidas à conscricção provocadas por bandas amnióticas. São mais comuns nos membros, em que podem ocorrer desde peque- nas constricções até verdadeiras amputações de dedos, mão, pé e de partes dos membros. O segundo local de maior acometimento é a região craniofacial, em que pode haver desde pequenas deformidades até anen- cefalia. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS DEVI DAS A T RAUMAS PRÉ OU PÓS-PARTO Logo após o nascimento, é comum observarem-se lesões eritematosas, erosões e lacerações ou equimoses em conseqüência a traumatismos sofridos pelo RN durante o parto, principalmente quando teve auxílio do fórceps. Algumas situações, no entanto, são diretamente relacionadas com a passagem pelo canal do parto ou à cesariana. A maioria destas alterações evoluem satis- fatoriamente, sem deixar seqüelas. BOSSA SERO-SANGUÍNEA (CAPUT SUCCEDANEUM) É a manifestação traumática mais com um. É ca- racterizada pela deformidade da cabeça, que aparece logo após o parto às custas de edema ou hemorragia do tecido subcutâneo, produzido pela pressão exer- cida pelo útero e parede vaginal sobre o crânio do RN. Apresenta-se como tumefação difusa que pode se estender além dos limites das suturas cranianas. Não é necessário tratamento, já que o edema regride em poucos dias e a deformidade craniana, um pouco mais tarde. CÉFALO-HEMATOMA Representa uma complicação freqüente (1,5% dos partos). É caracterizado por hemorragia subperióstea e está limitado, freqüentemente, à superfície de um osso craniano, geralmente os parietais, mas pode ser observado nos ossos occipital ou frontal. D iferente- mente do caput succedaneum, este aumento de volume não ultrapassa a linha média pois não transpõe as su- turas ou fontanela. Clinicamente, observam-se massas tumorais sem alteração da cor da pele, localizadas nas regiões acima descritas. N ão estão presentes ao nas- cimento mas, como o sangramento periósteo ocorre lentamente, a tumefação começa a ser notada nas pri- meiras horas e vai aumentando nos primeiros dias de vida. Na maioria das vezes, há regressão espontânea após 2 semanas a 3 meses, não sendo necessário tra- tamento. LESÕES CAUSADAS POR IATROGENIA Lesões cicatriciais na pele do RN podem decorrer de procedimentos médicos para diagnóstico pré-natal, como amniocentese, biopsia de vilosidades coriônicas ou biopsia fetal. São caracterizadas por pequenas de- pressões, geralmente múltiplas e localizadas preferen- cialmente no tronco e extremidades. Em certos casos há laceração ou hemorragias cutâneas. Podem ocorrer malformações mais graves quando há sangramento incra-amniótico após a amniocentese, que interfere no desenvolvimento do feto. Com o uso da ecografia para acompanhar estes procedimentos, as complica- ções têm diminuído nos últimos anos, girando em torno de 1%. Lesões na pele podem ser ocasionadas pelos cuida- dos em unidade neonatal, como lacerações ou erosões por adesivos (esparadrapos) e eletrodos e edema ou equimoses devido à utilização de soros. BOLHAS POR SUCÇÃO O quadro, geralmente, está localizado no ante- braço, dedos ou lábio superior. É caracterizado por uma ou duas bolhas não inflamatórias, de conteúdo seroso, que se transformam em erosões. Presentes ao nascimento, são provocadas por sucção pelo feto in- tra-útero. A resolução é espontânea sem seqüelas em alguns dias. DERMATOSES INFLAMATÓRIAS Durante os 30 dias iniciais de vida, o RN pode de- senvolver quadros inflamatórios, sendo que a maioria desaparece em semanas ou meses. DERMATOSES DONEO-NATO MILIÁRJA Quadro muito freqüente no RN, devido a uma parcial obstrução dos duros sudoríparos em função de sua imaturidade, e também pela exposição do RN a fatores que aumentem a transpiração, como roupas e ambientes com baixa ventilação. É mais comum nos prematuros, em climas mais quentes ou quando os RN ficam em incubadoras. Não está presente ao nas- cimento, sendo mais freqüente na primeira ou segun- da semana de vida. São descriros três tipos de miliária: cristalina, ru- bra e profunda. A miliária cristalina é caracterizada por pequenas vesículas de conteúdo claro e que rompem facilmen- te, deixando uma descamação furfurácea. O quadro é acompanhado de prurido. A obstrução do duto su- doríparo ocorre mais superficialmente e a vesícula é subcórnea. Já na miliária rubra, que é a forma mais freqüente, a obstrução é mais profunda, na porção intra-epidérmi- ca do duto sudoríparo. O corre extravasamento de suor na derme, o que leva ao processo inflamatório. Cli- nicamente, a miliária rubra manifesta-se como pápu- las eritematosas, pruriginosas e agrupadas em áreas de maior transpiração, como as regiões cervical, axilar e o couro cabeludo. Com a evolução da miliária rubra, mi- cro púsrulas podem surgir na parte central do eritema, sendo então denominada de miliária pustulosa. A miliária profunda, q ue afeta as estruturas mais profundas do duto sudoríparo, muito raramente é ob- servada no RN. A conduta terapêutica na miliária é baseada prin- cipalmente na orientação precisa aos pais, no sentido de núnimizar, ao máximo, os fatores que aumentem a transpiração, como as roupas e os ambientes com baixa ventilação. Topicamente, deve-se evitar o uso de pomadas, dando preferência ao amido de m ilho aplicado várias vezes ao dia. ERITEMA TÓXICO É uma alteração transitória da pele do RN, ca- racterizada pela presença de pápulas amareladas sobre base eritematosa, muito semelhante à picada de pulga ou à miliária rubra. Pode também haver pústulas. Está localizado preferencialmente no tronco e face (Figura 84.2). Sua etiologia permanece desconhecida. O diag- nóstico é clínico mas, se houver necessidade, pode ser confirmado pelo exame microscópico do conteúdo da 1305 1306 D ER M A TOLOGIA pústula que é rico em eosinófilos. O quadro se inicia geralmente do primeiro ao 15° dia de vida e não há necessidad e de tratamento, já que desaparece espon- taneamente em poucos dias. MELANOSE PUSTULOSA TRANSITÓR IA É uma doença freqüenre, ocorrendo em acé 4% dos neonatos da raça negra e em menos de 1 o/o dos da raça branca. A etiologia é desconhecida e o quadro clínico é caracterizado pela presença de lesões vésico- pustulosas que se rompem em 1 a 3 dias, forman- do escamas delicadas e esbranquiçadas e p or mácu- las hiperpigmentadas que persistem por semanas ou meses. Este quadro escá localizado preferencialmente nas regiões frontal, retro-auriculares, cervical, tron- co inferior, pré-tibial e palmo-plantares. Está sempre presente ao nascimento como pústulas ou já como manchas. Não há sintomatologia sistêmica e a etiolo- gia é desconhecida. O diagnóstico diferencial deverá ser feito com o eritema tóxico, impecigo esrafilocóci- co, candidíase congênita, miliária e acropusculose. O tratamento não é necessário, já que o quadro regride espontaneamente em semanas. NECROSE GORDUROSA SUBCUTÂNEA DO RN (NGSRN) É uma hipodermite benigna e autolimicada e apresenta etiologia desconhecida. O quadro inicia-se entre as 1 ª e 6ª semanas de vida, em bebês geralmen- te saudáveis, com a presença de eritema e edema e posterior evolução para placas e nódulos de consis- tência endurecida bem delimitados e não aderente aos planos profundos (Figura 84.3). Estas lesões estão localizadas preferencialmente na região dorsal, ombros, pernas e região glútea. O diagnóstico é con- firmado pelo exame histológico, que mostra áreas de necrose do tecido celular subcutâneo com presença de células inflamatórias e giganrócicos de corpo es- tranho. O tratamento deve ser expectante, já que, na maioria das vezes, há regressão esponrânea em sema- nas ou poucos meses. As lesões em que há flutuação devem ser aspiradas para evitar infecção secundária. O cálcio sérico deve ser monitorado pelo potencial desenvolvimento de hipercalcemia nas primeiras 6 semanas de vida. F 1G. 84.2. Eritema tóxico. Lesões eritêmato-papulosas na face. F1G. 84.3. Necrose gordurosa subcutânea. Placa infiltrada na região dorsal. ACNE NEONATAL Geralmente está presente desde o nascimento ou nas primeira semanas de vida. Clinicamente, o quadro é polimorfo, caracterizado pela presença de comedões, pápulas eritematosas e púsculas, raramente com cis- cos, localizados nas regiões zigomáticas, mentonianas e dorso nasal. É mais freqüente no sexo masculino por provável estimulação da glândula sebácea pelos hormônios tanto do neonato como da mãe. Ocorre involução espontânea em poucas semanas, não sendo necessário tratamento. LÚPUS NEONATAL (LN) É uma rara condição do neonato, caracterizada pela presença de lesões cutâneas associadas ao blo- queio cardíaco congênito. A grande maioria das mães dos pacientes com LN apresenta anticorpo Anti-Ro (SS-A) positivo e menos freqüentemente anti-La (SSB) ou anti-UI RNP. No momento do nascimento, elas podem ou não apresen- tar doença ativa. Em 60% dos casos, as mães apresen- tam achados clínicos de síndrome de Sjogren ou lúpus eritematoso sistêmico. As manifestações extracutâneas do LN, além do bloqueio cardíaco, incluem hepatopatia transitória e rrombocitopenia. Do ponto de vista dermatológico, as alterações surgem nos primeiros dias de vida, caracterizadas por placas eritematosas bem definidas, localizadas em qualquer parte do corpo, mas, preferencialmente, em áreas expostas. Estas les,ões, algumas vezes, assumem aspecto anular, policíclico, muito semelhante às ob- servadas no lúpus cutâneo subagudo (Figura 84.4). F1G. 84.4. Lúpus neonatal. Lesões eriternatosas na região frontal e dorso nas<1I. · DERMATOSES DO NEO-NATO Na face podem se dispor ao redor dos olhos e nariz, configurando o aspecto "em máscara''. Ao involuírem, estas lesões, geralmente, não deixam cicatrizes, mas, algumas vezes, deixam cicatrizes atróficas semelhantes às do lúpus eritematoso discóide (Figura 84.S). O diagnóstico é clínico e pode ser confirmado pelos antecedentes maternos, pela sorologia (Anti- Ro SS-A) e, eventualmente, pelo exame histopato- lógico da lesão. As lesões cutâneas involuem em torno de 6 meses. Durante esse período, deverá se evitar a exposição so- lar. Recomenda-se hidrocortisona tópica por período curto se o quadro for muito intenso por curto pe- ríodo. É de importância que estes pacientes com LN sejam acompanhados, pois apresentam predisposição a desenvolver lúpus sistêmico na adolescência ou na vida adulta. F1G. 84.5. Lúpus neonatal. Lesões atróficas e cicatriciais da região frontal. 1307 1308 DERMATOLOGI A DOENÇAS INFECCIOSAS DO RN TOXOPLASMOSE A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii, protozoário intracelular obrigatório, sendo os felinos os hospedeiros definitivos. A gestance infectada transmite a doença ao feto em 40% dos casos. A taxa de transmissão é maior quanto mais tardia for a infecção na gravidez. Em 80% dos casos, a toxoplasmose congênita é assintomática. Em 20%, a infecção durante a gestação pode levar o feto ao óbito ou causar graves alterações, como coriorreti- nite bilateral, microcefalia, hidrocefalia, alterações do SNC, retardo m ental, pneumonia intersticial, hepa- toesplenomegalia, linfadenopatia e manifestações gas- trintestinais. As alterações cutâneas ocorrem em 25% dos ca- sos e são caracterizadas por erupção máculo-papulo- sa, petéquias e equimoses.Podem estar presentes ao nascimento ou somente iniciar nas primeiras semanas de vida. O quadro dura aproximadamente 3 sem anas. Quando a infecção é adquirida recentemente, o RN apre~enta lesões que se assemelham a roséola, urticária ou eritema polimorfo. O diagnóstico é fei to através de reações sorológi- cas para detecção de anticorpos IgG, lgA e IgM e isolamento do parasita no sangue, líquido cefalorra- quidiano, placenta ou líquido amniótico. A reação em cadeia da polimerase também permite fazer o diag- nóstico da doença. O tratamento é feito com associação de sulfadiazina (100 mg/kg/dia) e pirimetamina (1 mg/kg/dia). O utras drogas utilizadas são a clindamina e a espiramicina. RUBÉOLA A rubéola con gênita é transmitida através da pla- centa ao concepto. Durante a viremia materna, ocorre a disseminação do agente virai para a placenta, por via hematogênica, com comprometimento variável do trofoblasto. Após transpor a placenta, o vírus mul- tiplica-se em diferentes tecidos do feto, causando os mais variados tipos de alterações. As manifestações graves que o RN apresenta e o abortamento espontâneo ocorrem quando a infecção se dá no primeiro trimestre da gravidez. Estima-se que 30% dos neonatos expostos à infec- ção pelo vírus irão apresentar manifestações clínicas e o restante terão infecção subclínica. As alterações clínicas mais importantes são: micro- cefalia, baixo peso ao nascer, surdez, catarata e malfor- mação cardíaca, entre outras anomalias viscerais. Do ponto de vista dermatológico, as lesões mais ob- servadas são petéquias e equimoses e, mais raramente, o exantema, que lembra a forma adquirida da rubéola. O diagnóstico é confirmado pela sorologia para dosagem de lgM específica. CITOM EGALOVÍRUS A doença por inclusão citomegálica é causada pelo citomegalovírus que é do grupo dos herpesví- rus (HHV-5), que é transmitido ao concepto por via transplacentária. É a principal causa de infecção intra- uterina humana. Das gestantes infectadas, 40% têm filhos com in- fecção pelo vírus e destes, 5-10% são sintomáticos ao nascimento. Dos 90% assintomáticos ao nascer, 5% apresentam seqüelas da infecção na infância, princi- palmente auditivas. As m anifestações clínicas mais observadas incluem: icterícia (60%), hepatoesplenomegalia (75%), hiper- bilirrubinemia, baixo peso ao nascer e trombocito- penia (40%) . Alterações do sistema nervoso central estão presentes em 85% das crianças afetadas e as principais são microcefalia, encefalite, retardo psico- motor, surdez, coriorretinite e atrofia óptica, tornando o prognóstico bastante desfavorável. As alterações cutâneas principais são as petéquias, presentes em 80% dos casos, e que persistem por vá- rios meses. O diagnóstico é fei to pelo isolamento do vírus pela reação em cadeia da polimerase (PCR) na urina, saliva, san gue e líquido cefalorraquidiano, e também pela detecção de anticorpos IgM específicos. HERPES SIMPLES A infecção do RN pelo vírus do herpes simples pode ocorrer por transmissão intra-útero, por contato com o trato genital baixo durante o parto ou por contato direto após o nascimento, já no período neonatal. O risco de transmissão é m aior na primo-infec- ção geni tal da gestante em relação à infecção herpé- tica recorrente. O agente etiológico é o vírus do herpes simples tipo 1 (HHV-1) e II (HHV-2), sendo o tipo II mais freqüente no herpes neonatal. O tempo de incubação é de 2 a 21 dias para a infecção neonatal adquirida. ' As manifestações de infecção que ocorrem nas primeiras 48 horas de vida indicam transmissão in- tra-uterina, que é responsável por apenas 5% das infecções neonatais pelo vírus herpes. Apresentam-se como uma tríade de alterações: cerebrais (microcefa- lia, hidrocefalia, oculares (microftalmia, corioretinite) e vários tipos de manifestações cutâneas como vesícu- las, bolhas, lesões cicatriciais e hipopigmentação. Quando a infecção é adquirida no parto, a doen- ça se apresenta tanto como forma localizada, apenas com lesões mucocutâneas, como disseminadas, com comprometimento visceral, principalmente cerebral (encefalite). Geralmente no máximo em 1 semana de vida, a doença já se manifesta plenamente. As alterações cutâneas, qu~e sempre presentes, estão representadas por lesões vésico-bolhosas sobre base eritematosa que evoluem para crostas hemáticas ade- rentes (Figura 84.6). O diagnóstico precoce é muito importante e deve- rá ser confirmado pelo exame citológico (Tzanck) de uma vesícula íntegra para pesquisa das células multi- nucleadas gigantes, pela detecção do antígeno viral e cultura do vírus. A reação de PCR pode ser feita no líquor, urina ou biopsia de pele. O tratamento é com aciclovir endovenoso na dose de 30mg/kg/dia durante 10 dias. SÍFILIS A sífilis pré-natal (SPN) é causada pelo Treponema pallidum e transmitida ao feto por via placentária em qualquer época da gestação. Pode ser transmitida por gestantes tanto com sífilis precoce (até 2 anos) quanto tardia. F1G. 84.6. Herpes neonatal. Lesões exulceradas e crostosas do membro inferior. DERMATOSES DO NEO-NATO Sua ocorrência vem aumentando progressivamente nos últimos anos, provavelmente em função da não realização de exames pré-natais. As manifestações clínicas são multissistêmicas mas, freqüentemente, passam despercebidas ao nascimento. Podem ser divididas em precoce (até 2 anos) e tardia (após 2 anos). Abordaremos, neste capítulo, apenas a sífilis con- gênita precoce. As manifestações clínicas principais são: ósseas, viscerais e cutâneo-mucosas. As lesões ósseas constituem as manifestações mais freqüentes e precoces e se apresentam sob a forma de osteocondrite e periostite. Como são dolorosas, po- dem levar à diminuição da movimentação do RN, o que se denomina pseudoparalisia de Parrot. A hepatoesplenomegalia é também freqüente e muitas vezes representa a única alteração no período neonatal. A rinite está quase sempre presente no período neo- natal, com sua característica coriza mucopurulenta. O quadro cutâneo é constituído por lesões bolho- sas, maculosas e papulosas. A sífilis bolhosa ocorre já ao nascimento ou nos.pri- meiros dias de vida e é caracterizada pela presença de bolhas de conteúdo claro ou purulento localizadas nas regiões palmo-plantares. São altamente contagiosas. As lesões maculosas, semelhantes às roséolas do período secundário da sífilis adquirida, surgem isola- damente ou disseminadas. As sifílides papulosas constituem as manifestações mais comuns e são caracterizadas por pápulas infiltra- das de tonalidade eritêmato-acastanhada. Quando lo- calizadas nas regiões perioral e perianal, originam uma infiltração local que, ao menor traumatismo, causam as características fissuras com disposição radiada. As lesões papulosas, quando localizadas em áreas de atrito, como as regiões inguinal, anal e vaginal, sofrem maceração, conferindo um aspecto condiloma- toso ao quadro. O diagnóstico da SPN é baseado na história epide- miológica, quadro clínico e estudo radiológico e é con- firmado pela recuperação do Treponema pallidum em le- sões bolhosas e condilomatosas e pelos testes sorológicos como VDRL, micohemoaglutinação, FTA/abs, FTA/abs IgM e 19sFTA/abs IgM, que também devem ser realiza- dos no líquido cefalorraquidiano. A reação de PCR pode ser realizada em biopsia de pele, líquor ou sangue. O tratamento deverá ser feito com penicilina cris- talina na dose de 100.000 µ /kg/dia durante 10 dias com acompanhamento sorológico a cada 3 meses. 1309 1310 DERMATOLOGIA IMPETIGO BOLHOSO NEONATAL Geralmente afeta os recém-nascidos durante a 1 ª ou 2ª semana de vida. O RN prematuro é mais sus- ceprível. É causado pelo Staphylococcus aureus grupo II fagocipo 7 1. É deespecial importância, quando ocorrer em ber- çário, em que todas as medidas de isolamento devem ser tomadas, sendo necessário exame dos contactantes, no sentido de evitar as micro epidemias. Clinicamente, é caracterizado por vesícula inicial que evolui para bolha de conteúdo claro que logo se transforma em purulento. Estas lesões superficiais fre- qüentemente se rompem deixando áreas erosadas com colaretes de escamas na periferia. Estas áreas desnudas de pele podem aumentar, acometendo grandes exten- sões de pele (Figura 84. 7). A criança permanece com seu estado geral conservado. A síndrome da pele es- caldada estafilocócica, embora muito raramente, pode ocorrer no RN. O diagnóstico é geralmente clínico, mas exames bacteriológicos podem ser realizados, principalmen- te para detectar a sensibilidade da cepa estafilocócica aos antibióticos. O tratamento local deverá ser instituído com com- pressas de soluções anti-sépticas KMn04 a 1/20.000) e pomadas de antibiótico (mupirocina e ácido fusídi- co). Deve-se tratar também os possíveis focos, princi- palmente nasal, umbilical e ungueal. O tratamenro sistémico, nos casos mais extensos, é feito durante 7 dias com dicloxacilina 25-50 mg/kg/ dia, cloxacilina 50-100 mg/kg/dia, oxacilina ou van- comicina para os casos resistentes à meticilina. Nos berçários, o paciente deverá ser isolado e to- madas medidas rigorosas, no sentido de evitar a in- fecção hospitalar. F 1G. 84.7. lmpetigo bolhoso neonatal. Lesões vésico-pustulosas em área de fraldas. SÍNDROME DA PELE ESCALDADA ESTAFI LOCÓCICA (SPEE) Quadro dramático causado por uma toxina epi- dermolítica produzida pelo Staphylococcus aureus gru- po II fago fagotipos 3 A, 3 C, 71 e 55. A toxina epidermolítica, conhecida como exfoliati- na, é responsável por todo o quadro clínico observado na SPEE. Ela é liberada no foco da infecção e disse- minada por via hematogénica, induzindo à clivagem intra-epidérmica por alteração na desmogleína-1. O quadro clínico inicia-se com febre e irritabilida- de, apresentando eritema em torno dos lábios e nari- nas. Rapidamente, toda a pele torna-se eritematosa e quente. Após 24-48 horas deste início, a pele começa a se desprender, com formação de bolhas flácidas, e grandes áreas erosadas são observadas, principalmen- te nas dobras axilares, cervicais e inguinais (Figura 84.8). O sinal de Nikolsky é positivo. Com a evolução do quadro, fina descamação sur- ge em todo o corpo, permanecendo algumas áreas fissuradas, principalmente em torno da boca e olhos (Figura 84.9). Completa resolução dos casos não complicados ocorre em torno de 10-12 dias. O diagnóstico é feito pelo isolamento do agente etiológico nos focos, principalmente narinas, conjun- tiva, tonsila, nasofaringe e região umbilical. O exame bacteriológico das lesões cutâneas (bolhas) permanece rotineiramente negativo. O exame histopatológico revela clivagem epidér- mica alta, com células acantolíticas. O diagnóstico diferencial.mais importante é com a necrólise epidérmica tóxica por drogas que é rara em neonatos. Os exames bacteriológicos e h iscopatológi- cos permitem fazer esta diferenciação. O tratamento da SPEE exige internação, em que medidas de suporte clínico deverão ser tomadas, prin- cipalmente em relação ao equilíbrio hidroeletrolítico. Antibioticoterapia sistémica deverá ser instituída com oxacilina ou vancomicina. O tratamento tópico deverá ser direcionado para os focos de infecção (narinas, conjuntiva, região umbilical) com pomadas de antibiótico à base de mupirocina. A evolução geralmente é boa e a total resolução do quadro ocorre em 12 dias. As complicações mais freqüentes são os quadros septicémicos, que podem levar o paciente ao óbiro, ocasionados, geralmente, por demora no diagnóstico e na instituição da terapêutica. F1G. 84.8. Síndrome de pele escaldada estafilocócica. Extensas áreas erosadas com descamaçao em colarete na periferia. CANDIDOSE F1G. 84.9. Síndrome de pele escaldada estafilocócica. Lesões eritematosas e erosadas da região perioral. É ocasionada pela Candida albicans presente no canal vaginal. No RN, pode ser devida à infecção in- tra-uterina (forma congênita) ou adquirida pela passa- gem pelo canal do parto (forma neonatal). As lesões da candidose congênita já se mani- festam ao nascimento ou no primeiro dia de vida. Iniciam-se como máculas e vesículas com base eri- remarosa que evoluem para pústulas, geralmente se disseminando para grandes áreas do corpo, levando D ERMATOSES DO N EO-N ATO à descamação. Não há lesões orais ou comprometi- mento sistêmico. As manifestações da candidose neonaral se iniciam após a 1 ª semana de vida como lesões aftóides orais, vesículas, e pústulas localizadas nas grandes dobras, parte interna das coxas e área das fraldas. O diagnóstico clínico é confirmado pelo exame micológico direto. Na maioria dos casos, apenas o tratamento tópico com antifúngicos é suficiente. 1311 ' O processo de envelhecimento e a sua conseqüên- cia natural, a senescência, é fase biológica última na evolução do homem. A própria História está aí para demonstrar como as preocupações com a velhice são tão antigas quanto a origem da própria humanida- de. Poucos problemas na medicina social e biológica têm merecido tanta atenção como o envelhecimento e a incapacidade funcional conseqüente, própria des- se processo. Como a gerontologia e sua congênere a geriatria são campos científicos e profissionais relativa- mente novos (1909), poderia parecer que a preocupa- ção com a velhice seja recente. Noção absolutamente errônea. Desde sempre o homem tem procurado evi- tar a senescência isto é a ampla mensagem biológica que devemos entender e aceitar como indicadora do ocaso do nosso tempo de vida. Podemos entender as- sim, dos relatos, sejam eles utópicos ou míticos quan- do nos valemos da literatura, da pintura, da religião e da medicina para encontrarmos essas fantasias, que pretendiam eternizar o homem. A globalização na 5 ALTERAÇÕES NA PELE DO IDOSO geriatria não é privilégio de um Órgão ou um Siste- ma, pois a homeostasia humoral ou celular se altera quando pretendemos entender o controle e equilibrar os mecanismos metabólicos da revitalização biológica, quando a apoptose esse intrínseco programa da morte celular com a condensação da cromatina é a degrada- ção do DNA se impõem. Porém faco consumado é que só não envelhece aquele que morre cedo. Hoje, os cosmiatras com o suporte dos cosmicêu- tas e os geriarras tentam nos seduzir com soluções terapêuticas teóricas que objetivam abreviar esse faro que é fisiológico e inevitável. O idoso apresenta uma série de alterações na pele decorrentes do próprio processo de envelhecimento cutâneo e da ação de noxas do meio ambiente. As alterações encontradas na pele do idoso decorrem ba- sicamente da ação da constituição genética, de fatores ambientais, da repercussão cutânea do envelhecimen- to de outros órgãos e de efeitos de doenças cutâneas e sistémicas. 1314 D ERMATOLOG IA A SENESCÊNCIA Sabemos, pela biologia, que células normais, como o fibroblasto diplóide humano e outras, têm seu ciclo de vida proliferativo finito, ao término do qual a célula permanece em estado de hibernação, conhecido como replicação senescence, o que se dá aproximadamente após sessenta divisões, quando a célula quiescente senesce e morre e, paradoxalmente, a imortalidade, por definição, seria a perpetuação, característica das células cancerígenas. No entanto, sabemos, o declínio fisiológico gradual, como as alte- rações na pele do idoso, mesmo quando inicialmente indefinida, é fato imutável. Distinguem-se dois fenô- menos: a senescência verdadeira, atribuída somente à passagem do tempo, e a senescência actínica,aquela alteração relacionada com a habitual exposição solar crônica. Assim, a pele do idoso apresenta duas caracterís- ticas diversas consoante a região não exposta habitual- mente à luz solar ou área cutânea submetida à ação cumulativa das radiações actínicas do sol. ALTERAÇÕES DA PELE E ANEXOS NO IDOSO • Cútis: Há atrofia em grau variável que se eviden- cia pelo adelgaçamento difuso, secura e preguea- mento da pele, com aspecto comparável a papel de seda. Há uma tonalidade ligeiramente amare- lada ou cerácea, com perda de elasticidade e da curgescên eia. • Pêlos: As alterações dos pêlos são conspícuas. H á o embranquecimento dos pêlos e diminuição no seu número e volume. A cankie inicia-se nas têmporas e gradualmente atinge todo o couro cabeludo. Os primeiros cabelos brancos surgem na terceira e quarta décadas da vida nos bran- cos e amarelos e pouco mais tarde nos pretos. A canície pode, entretanto, ser mais precoce ou tardia. A idade do início da canície é geralmente condicionada por hereditariedade, provavelmen- te devida a gene aurossômico dominante, porém, há intervenção de outros fatores. Após a canície, surge o embranquecimentos dos pêlos da barba, regiões peitoral, pubiana e axilar. Estes últimos, entretanto, podem conservar sua cor, mesmo em pessoas bastante idosas. Com a idade, há uma diminuição do número e do volume dos pêlos. A diminuição dos cabelos na regiao frontal com as entradas bitemporais triangulares em adolescentes masculinos ocorre como um dos caracteres sexuais secundários e sua progressão constitui a alopecia androgené~ tica (calvície). No adulto masculino, na quarta e quinta décadas, discreta alopecia frontal e no vértex é normal e o mesmo se observa, em menor intensidade, em mulheres. Após os 60 anos, há, em geral, uma diminuição progressiva do núme- ro e volume dos cabelos, em ambos os sexos. As- sim, o número de cabelos, de 615 por centímetro quadrado aos 30 anos, diminui progressivamente, caindo para 500 ou menos, de acordo com a ida- de. Além do número, ocorre também diminuição do volume dos pêlos individualmente. Os pêlos do corpo, das axilas e do púbis atingem o desen- volvimento máximo até a quarta década da vida, para depois sofrerem um processo de diminuição progressiva. Os pêlos do corpo são os primeiros que diminuem e a seguir os pêlos pubianos e os axilares. As mulheres perdem os pêlos do tronco e das axilas antes dos homens. Em adultos acima dos 60 anos, os pêlos axilares faltam em 30% das mulheres e em somente 7% dos homens. Também se observam em mulheres a diminui- ção mais acentuada dos pêlos pubianos acima dos 60 anos. Os pêlos das pernas diminuem em ambos os sexos acima dos 60 anos, porém pode não haver alterações nos braços. Exceção são os pêlos dos supercílios, fossas nasais e da orelha externa, que se tornam mais grossos e alongados. Em mulheres, pode ocorrer o aparecimento de pêlos na face. • Unhas: As unhas dos idosos podem-se apresen- tar frágeis, com perda de brilho, aparecimento de estriações longitudinais e desprendidas. Al- tera:ções tipo unhas de Terry (branco opacas na porção proximal) são muito freqüentes. Unhas distróficas são freqüentes nos dedos dos pés por anormalidades ortopédicas que se agravam com a idade ou por traumas repetidos. O grau de cresci- mento diminui progressivamente e torna-se igual em ambos os sexos, sendo que na adolescência é maior nos masculinos. • Secreção sebdcea e sudorípara: Há uma diminuição progressiva da secreção sebácea, da secreção su- dorípara e do conteúdo de água da derme. Esses três fatores explicam o aspecto de secura da pele. Em relação às glândulas sebáceas não há altera- ção no volume e no número e a hipossecreção é devida à diminuição do estímulo androgênico. • Aliás, no couro cabeludo, as glândulas podem-se apresentar com volume aumentado. As glându- las sudodparas écrinas apresentam diminuição do número e do volume de suor eliminado, pela diminuição da microcirculação cu tânea. A mi- crocirculação cutânea diminui com a idade em decorrência de regressão e desorganização dos pequenos vasos. C om a retificação da epiderme e reabsorção das papilas, muitas reações capilares desaparecem. Estas alterações são mais intensas na pele actinicamente lesada. Da mesma forma, os vasos dos anexos cutâneos diminuem, sendo uma das razões da diminuição da sudorese e do afinamento dos pêlos, observados nos idosos. As glândulas apócrinas ,podem estar normais, ainda que eventualmente haja diminuição da secreção e atrofia por diminuição de estímulo hormonal. Pigmentação: Ainda que uma das características da pele idosa exposta seja o aparecimento de manchas melânicas, a chamada melanose solar (lentigo senil), há, em geral, hipomelanose difusa discreta e progressiva na senilidade. ASPECTOS HISTOPATOLÓGI COS E HISTOQUÍMICOS • Epiderme: H á uma diminuição da espessura de- vida particularmente à redução de volume das células. Pode ocorrer redução do número de ca- madas celulares do estrato espinhoso. Além disso, as células da camada basal e espinhosa mostram alterações de volume e forma e, por vezes, dispo- sição desordenada. Alteração hisrológica mais constante e consisten- te é a retificação da junção dermo-epidérmica com o esvaecimento da papila dérmica e reter Malpighi. Isro resulta numa considerável redução da super- fície de contatO entre as duas estruturas, quando a separação dermo-epidérmica pode ser conseguida em condições experimentais. A menor adesão epiderme- derme explica a fragilidade celular e aquelas abrasões superficiais conseqüentes a traumas menores. Em mé- dia, a relação da epiderme com os reter permanece constante, nas variações na espessura epidérmica, mas não no tamanho dos queratinócitos, quando avaliados individualmente. Pela microscopia eletrônica, a pele idosa, nas áreas protegidas do sol, caracteriza-se por alargamento do espaço estrutural entre os queratinó- citos. O espessamento e a compactação da camada A L TERAÇÕES NA P E L E D O IDOSO córnea permanece constante com a idade, porém os corneóciros analisados individualmente são maiores. Pesquisas recentes dão suporte ao faro de que a função barreira da camada córnea, constituída pelo comple- xo: camada disjunta mais camada compacta (str. lú- cido, intacto) parece estar diminuído naquilo que se refere à absorção percutânea de algumas substâncias, mas a perda da água erans-epidérmica não varia com a idade na pele adulta. O turnover epidérmico pode estar diminuído de 30 a 50% já a partir da terceira e até a oitava década de vida. A média de reparação epidérmica também diminui com a idade, constatada nas lesões com bolhas sub- cóm eas que requer em média três semanas naqueles indivíduos com idade de 18 a 25 anos, sendo po- rém de cinco semanas naqueles com idade de 65 a 75 anos. O citoplasma dos queratinócitos está alterado, com vacúolos, e os núcleos exibem alterações na forma e tamanho, com menor afinidade para os corantes dos ácidos nucléicos. Encontra-se a p resença de glicogênio em quantidades variadas na parte superior do escraro espinhoso, o que não ocorre em pele jovem. O número de melanócitos enzimaticamente ativos cem uma diminuição aproximadamente entre 10 a 20% da população celular para cada década de vida, havendo, portanto, uma diminuição da função mela- nogênica, exceto nas áreas de melanose solar, em que se apresentam alterados, admitindo-se hipertrofia funcio- nal nos melanóciros remanescentes. Quanto às células de Langerhans, estima-se que diminuam cerca de 50% nos idosos, particularmente na pele cronicamente ex- posta à luz. Este fato explica a diminuição das reações mediadas por células, como as dermatites de contato por sensibilização nos idosos. A despigmentação dos cabelos e pêlos é devidaà diminuição do número e da atividade dos melanóciros da papila do pêlo. Uma função endócrina da superfície epidérmica suspeita de declinar com a idade é a produção de vi- tamina D , fazendo pressupor que a falta de um pre- cursor biossintético possa limitar essa produção. A neoplasia está associada com a idade virtualmen- te em todos órgãos e sistemas, mas é especialmente bem caracterizada na pele. Com uns são as prolifera- ções benignas presentes naqueles ad ultos com mais de 65 anos e em alguns mesmo com dezenas de lesões. O s carcinomas cutâneos (basocelular-espinocelular) encontram-se entre aqueles mais freqüentes entre os processos malignos humanos. Essas neoplasias malig- nas e benignas certamente refletem, parcialmente, a perda da homeostase. 1315 1316 D E RMATO L OGIA • Derme: as alterações dérmicas são conspícuas e as principais responsáveis pelo aspecto da pele ido- sa. A perda da turgidez dérmica em idosos pode estar ao redor de 20% e o tecido remanescente é relativamente acelular e avascular. As manifesta- ções histológicas que acompanham as rugas são desconhecidas embora a perda das fibras elásticas normais possa contribuir e mesmo estar relacio- nada. A redução, em torno de 50% na população de mastócitos e a diminuição da rede vascular em torno de 30% pode ser determinada comparan- do-se as áreas cobertas como nádegas dos idosos com as de adultos jovens. A redução da rede vascular ao redor do bulbo pi- lar, glândula écrina, apócrina e sebácea, deve contri- buir para a gradual atrofia e fibrose da pele. A diminuição associada à idade, no clearance de fármacos absorvidos pela via erans-epidérmica estão provavelmente relacionados com alterações, tanto da malha vascular como da matrix extracelular. A pele do idoso tem suas fibras elásticas mais gros- sas do que as do adulto jovem e estas alterações são gradativamente encontradas na derme mais profun- da com o avançar da idade. Degenerações císticas e lacunas são comuns nas fibras elásticas mais antigas, podendo progredir até a fragmentação. A microvascularização dérmica, tanto no adulto quanto no idoso, pode já mostrar espessamento da parede vascular associada à ausência ou redução de células nas paredes, o que pode contribuir para o fe- nômeno conhecido como púrpura senil. As alterações bioquímicas no colágeno, elastina e na substância fundamental, descritos durante a idade fetal e no desenvolvimento pós-natal, são aqui mais evidenciadas do que aquelas encontradas com o avan- çar da idade. A proporção de colágeno dérmico sin- tetizado recentemente é menor e não varia cronologi- camente. Porém, tem uma significante diminuição na porcentagem de colágeno total conforme determinada pela digestão de pepsina variando aproximadamente de 25% aos 30 anos de idade para aproximadamente 10% aos 75 anos, com o proporcional aumento do colágeno insolúvel entre 70 a 80% . As fibras elásticas da pele, ainda não tão bem estudadas, demonstram uma progressiva alteração e calcificação com a idade na pele adulta. H á diminuição dos fibroblastos e a espessura das fibras colágenas diminui. Após os 60 anos, o colágeno torna-se mais rígido e menos elástico devido às altera- ções da substância fundamental pela diminuição dos mucopolissacarídeos e alterações qu1m1cas. As fibras elásticas mostram alterações químicas da elastina. Há alterações no conteúdo de hidratos de carbono dos lípides, ácido glutâmico e lisina. As fibras reticulares apresentam alterações similares às das fibras colágenas. H á redução de cerca de 50% na população de mas- tócitos na pele idosa, o que explica menor freqüência de urticária em idosos. Poucos são os dados referentes às alterações liga- das à idade em associação com os mucopolissacárides (glicosaminoglicanos e proteoglicanos) ou outras mo- léculas componentes da substância fundamental na qual, o colágeno e as fibras elásticas estão envolvidas. As propriedades mecânicas da pele também se mo- dificam com a idade. Os testes para tensão uniaxial ou biaxial realizadas em peles excisadas demonstram relativa e gradual destruição da rede elástica da derme, e o tempo requerido para que esta distensão possa retornar ao seu volume original pode estar reduzido em torno de 50% . A avaliação geral emerge, refletindo um tecido rí- gido inelástico e irresponsível incapaz de se modificar como resposta ao estresse. As glândulas sudoríparas écrinas apresentam achata- mento do epitélio secretor, atrofia dos ácinos, ectasia cística e aumento do tecido conectivo periglandular. H á um acúmulo progressivo de grânulos amarelados em rosetas no citoplasma das células. As glândulas ap6crinas apresentam aspectos diversos. Algumas es- tão completamente atrofiadas, outras discretamente, e outras com aspecto histológico normal. As glândulas sebdceas não exibem alterações mor- fológicas, ainda que possam estar ativas ou inativas. Entretanto, as glândulas inativas podem ser ativadas pela ação de andrógenos. As glândulas sebáceas con- têm menor número de vasos sanguíneos (em redor) e maior conteúdo de glicogênio e fosforilase. As glân- dulas sebáceas do couro cabeludo calvo apresentam-se aumentadas com maior número de lóbulos e duros di- latados. As glândulas sebáceas em tamanho e número não mostram d iminuição com a idade. A diminuição na produção sebácea, ao redor de 60% que acom- panha o avançar da idade em homens e mulheres é atribuída à concomitante diminuição de andrógenos das gônadas e da adrenal para os quais o estímulo hormonal para glândula sebácea é altamente sensível. Não existe relação direta entre a xerose e a dermatite seborréica, com a produção sebácea. As terminações nervosas livres na derme não se alte- ram, eletivamente, com a idade, porém, os 6rgãos ter- minais, como corpúsculos de Meissner, Vater-Pacini e M erckel estão diminuídos em número e volume no idoso. Resulta diminuição de sensibilidade da pele do idoso, o que favo rece a ocorrência de lesões traumáti- cas mais intensas, pois a diminuição da sensibilidade à dor, leva a maior demora nas respostas defensivas em relação ao agente agressor que atua, portanto, mais prolongadamente. As queimaduras, por exemplo, ten- dem a ser mais graves nos idosos. • Hipoderme: o subcutâneo em geral está diminuí- do com as células gordurosas mostrando freqüen- temente menor volume e número. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DA PELE IDOSA A pele idosa é inelástica, isto é, demora a recuperar a sua forma quando tensionada. De outro lado, é en- rugada e tende a formar dobras. Esta inelasticidade é devida às alterações do colágeno e elástico já descritas. O enrugamento é também causado por essas altera- ções, ainda que grandes pregas possam ser devidas às alterações no subcutâneo e nos tecidos musculares. A compressibilidade está diminuída na pele idosa e isco é, provavelmente, causado pelo menor conteúdo de água. As respostas vasculares aos estímulos de calor e frio podem ser m ais lentas com transtornos na regula- ção térmica. A regulação térmica está dificultada pela menor sudorese, levando a menores perdas de calor. Nas ocasiões de aquecimento, favorecem os choques térmicos. Por outro lado, a diminuição do panículo adiposo predispõe à hipotermia em condições de res- friament0. H á diminuição das luzes vasculares, dos capilares na derme com m enor número de formações glômicas, além de alterações de esclerose nos vasos maiores. A diminuição do fluxo circulatório cutâneo contribui para m enor intensidade das reações inflamatórias e para menor depuração de substâncias endógenas ou exógenas depositadas na derme. Algumas drogas topi- camente ativas podem exercer seus efeitos com menor número de aplicações diárias. Estes fatos também de- vem ser considerados em relação à ação de contactan- tes na peleidosa. O conteúdo de água d a pele idosa está diminuí- do pela menor fixação da água, conseqüente à menor quantidade de m ucopolissacarídeos, principalmente ácido hialurônico, responsáveis pela fixação de água na derme. Pelas próprias alterações das fibras e ór- gãos terminais, as funções de percepção podem estar A L TERAÇÕES NA PELE D O IDOSO diminuídas, o mesmo se processan do com as funções de secreção sudoral e sebácea da pele. A importante função imunológica da pele pode estar diminuída. As respostas inflamatórias estão diminuídas no ido- so, não somente por diminuição da microcirculação, mas também por diminuição do número de células inflamatórias na derme, inclusive mastócitos. Por essas razões, o idoso responde menos à irritantes químicos e à radiação ultravioleta. A imunidade, tanto humoral quanto celular é de- primida no idoso em relação ao jovem. Os anticorpos naturais, como as isoaglutininas, mostram-se diminuí- dos enq uanto os auto-anticorpos (antigástricos, antiti- reoideanos, antinucleares) mostram-se aumentados, o que explica a predisposição do idoso a certas doenças auto-imunes, como o pênfigo vulgar e o penfigóide bolhoso. Contrariamente, os fenôm enos atópicos di- min uem no idoso. Embora o número de linfócitos T permaneça nor- mal, suas respostas funcionais, como a blastogênese frente a mitógenos, diminuem. Contribui, também, para menor resposta imune celular, a diminuição das células de Langerhans apresentadoras de antígenos. O resultado do declínio da imunidade no idoso, que é agravado pela exposição solar crônica, é diminuição da vigilância imunológica. O pH da pele idosa não está al- terado. A menor espessura da epiderme, particularmen- te da camada córnea, com menor número de camadas, possibilita maior passagem e absorção percutânea de drogas e outras substâncias químicas. Além disso, estes produtos são removidos da pele mais lemamente, pela menor circulação sanguínea. Estes facos devem ser ava- liados na ação de contactantes na pele idosa. PATOLOGIA DA PELE SENIL As alterações da pele senil ocorrem em épocas di- versas em graus variáveis, como, aliás, a arterosclero- se e outras alterações sistêmicas. H á indivíduos que apresentam alterações senis da pele no fim da terceira década de vida, enquanto outros, na sexta década so- mente, têm alterações discretas. Assim, o quad ro cutâ- neo resulta de interação genótipo-fenótipo. Presentemente, a gerontologia não nos fornece da- dos precisos objetivando o fai:or idade na susceptibili- dade a uma maior expressão de dermatoses ou mesmo para estratégias terapêuticas de excelência. D oenças da pele são conhecidamente mais com uns em idosos, mas as referências, quanto aos dados de incidência e morbidade, são imprecisas. 1317 1318 DERMATOLOGIA Poucas doenças dermatológicas ocorrem predo- minantemente no idoso. Talvez, aqui faria exceção o penfigóide bolhoso do idoso. Possivelmente nesta pa- tologia a fixação de complemento e imunoglobulinas que ocorrem na membrana basal pode contribuir para a vulnerabilidade da pele verificada nesta patologia. Conhecida é a prevalência e a morbidade da nevral- gia em casos de herpes zoster ocorrendo após a quinta década de vida e que pode teoricamente ser calculada ao redor de 1 % aos 80 anos. Assim, a temida nevralgia pós-herpética, infreqüente em pacientes com menos de 40 anos, ocorre com conseqüências mais preocupantes, naqueles pacientes com mais de 60 anos de idade. O mecanismo que responde a esta manifestação clínica, causada pela ativação do vírus da varicela ainda não está estabelecida. Paradoxalmente, infecções recorrentes de herpes simples que também envolvem a reativação do vírus latente em gânglios regionais e na defesa mediada pelas células T, são mais comuns no adulto jovem, sen- do sem dúvida rara nos idosos imunocompetentes. A constatação da reduzida capacidade de cicatrização de lesões no adulto, parece ser responsável pela diminuída resolução de uma erupção aguda, mas sua relevância para explicar a nevralgia pós-herpética é discutível. A xerose que é a qualidade da pele seca áspera pode ser atribuída a disfunção da maturação epidérmica embora estudos histológicos revelem pouca alteração da epider- me e mesmo da camada córnea. Similarmente, não se tem uma explicação fisiológica para o prurido que fre- qüentemente acompanha a xerose. SÍNDROMES DE SENESCÊNCI A CUTÂNEA O s graus extremos de envelhecimento cutâneo prematuro são encontrados nas chamadas síndromes de senescência precoce, nas quais, por distúrbios ge- néticos enzimáticos, surgem, nos primeiros anos de vida, quadros que ocorrem nas alterações da pele se- nil. Estes quadros podem servir como modelo para a interpretação e investigação dos processos de envelhe- cimento cutâneo. As síndromes de senescência preco- ce são enumerados na Tabela 85.1. ALTERAÇÕES DA PELE SENIL No estudo das alterações patológicas da pele encon- tradas no idoso, devem ser distinguidos dois grupos: as afecções da pele não-relacionadas à luz solar e aquelas de- correntes da ação cumulativa das radiações solares. As Ta- belas 85.2 e 85.3 enumeram as alterações encontradas. TABELA 85-1. S ÍNDROMES DE SENESCÊNCIA P R ECOCE Eritema telangiectásico congênito (síndrome de Bloom) Poiquiloderma congênito (síndrome de Rothmund-Thomson) Progeria do adulto (síndrome de Werner) Progeria ou Pangeria (síndrome de Hutchinson-Gilford) Síndrome de Cockayne Xeroderma pigmentoso TABELA 85-2. A L T ERAÇÕES DA PELE I DOSA NÃO- RE l.:..ACIONADAS À LUZ SOLAR Acrocórdon Angioma Estelar Angioma Rubi ou Senil Angioqueratoma do Escroto Dermatite Seborréica Dermatose Papulosa Nigra Eczema de Estase Eczema Numular Hemangioma Venoso do Lábio Hiperplasia Sebácea Micose Fungóide Pênfigo Vulgar - Pênfigo Vegetante Penfigóide Bolhoso Perleche Prurido Anogenital Prurido Asteatósico Prurido da Orelha Externa Prurido do Couro Cabeludo Prurido Senil Púrpura Hipostática Púrpura Senil Queratose Seborréica Rosácea e Rinofima Úlcera Arteriosclerótica Úlcera da Perna Úlcera de Decúbito Úlcera de Estase Úlcera Microangiopática Úlcera Neurotrófica - Mal Perfurante Úlceras por Arteriopatias Muitas outras dermatoses observadas no adulto refletem a alta prevalência de doenças sistémicas, como a diabete, insuficiência vascular ou várias ou- tras síndromes neurológicas observadas nessa popula- ção. A incidência aumentada constatada para outras doenças cais como a tínea (pés, mãos e crural) ou dermatite seborréica pode refletir a diminuição na higiene e a exacerbação de outros problemas previa- mente inaparentes. PELE FOTOLESADA OU FOTOENVELHECIDA A ação cumulativa da radiação solar determina uma série de alterações na pele. o fotoenvelhecimen- to ocorre em todos os habitantes da terra e a época do seu desenvolvimento depende do tipo de pele e da intensidade de exposição solar. O grau de morbidade dessas alterações varia con- sideravelmente e, sem dúvida, reflete a capacidade de reparação individual ao insulto solar. Predominante- mente, as lesões mais acentuadas são encontradas nos caucasianos de pele clara que, inconseqüentemente e cronicamente, tenham-se exposto, em demasia, à luz solar, localizadas em áreas como face, pescoço e dorso das mãos e antebraços. As aparentes diferenças entre os sexos na prevalência de qualquer das manifestações refletem sem dúvida os diferentes estilos de vida e a natureza de exposição solar (ocupacional vs. recreacio- nal) e também aos diferentes conceitos de beleza no bronzeamento da pele. Outras diferenças sexuais tais como espessamento da pele, atividade glandular sebá- cea e mais do que tudo o ripo de pele podem também influenciar a natureza dessas alterações. A lesão da pele cumulativamentelesada nos seus constituintes celulares é o evento primário desta agres- são, mas a patofisiologia, nas suas minúcias, é espe- culativa. A relativa contribuição dos diferentes componen- tes do espectro da luz solar são desconhecidos e a ex- perimentação clínica se torna mais difícil devido ao tempo requerido, extremamente longo, para provo- car estas manifestações ou dermatoses em humanos e a falta de um modelo animal apropriado. Sabe-se, por estudos realizados em ratos e camundongos, que uma condição semelhante à elastose pode ser provo- cada predominantemente após intensa irradiação de UVB mas não examina a relativa ação da irradiação por longo comprimento de onda. Dados atuais não excluem, de qualquer maneira, o papel desempenhado ALTERAÇÕES NA PELE D O I DOSO pelo UVA ou mesmo os raios infravermelhos no de- sencadeamento de dermato-helioses. Assinale-se que as diferenças entre manifestações clínicas próprias da idade ou aquelas provocadas pela exposição crônica ao sol podem ser sutis e inicialmente imperceptíveis. Só recentemente estão bem documentadas diferenças qualitativas nas proteínas fibrosas da derme e na mi- crovascularização. Em nível teórico, seria interessan- te salientar que muitos dos mecanismos conhecidos como envolvidos nas lesões provocadas e mediadas pelo ultravioleta, podem ser os mesmos encontrados no envelhecimento cronológico. N isto se inclui a le- são do DNA ou a diminuição na sua capacidade de reparação, desestruturação lisossomial e a composição alterada do colágeno. A pele exposta t0rna-se adelgaçada, seca, de to- nalidade ligeiramente amarelada (elas cose solar) . Na face, surgem as rugas e pregas que se acentuam pro- gressivamente. Surgem, então, as alterações benignas e malignas relacionadas à radiação solar e enumeradas nas Tabelas 85.3 e 85.4. A época do aparecimento destas alterações inicia-se no adulto dos 30 aos 40 anos e se acentua gradualmente, sendo sempre relacio- nada ao tipo de pele e intensidade da exposição solar. TABELA 85-3. A LTERAÇÕES BENIGNAS E MALIG N AS DA P ELE IDOSA R ELACIONADAS À A ÇÃO CUMULATIVA DAS RADIAÇÕES SOLARES Elastose Solar - Cútis Romboidal Leucodermia Solar Melanose Solar Miliocolóide (Deg. Colóide) Poiquilodermia Solar Queilite Actínica Queratoacantoma Queratose Solar Micose Fungóide TABELA 85-4. ALTERAÇÕES MALIG NAS DA PELE FREQÜENTEMENTE RELACIONADAS À AÇÃO CUMULATIVA DAS RAD IAÇÕES SOLARES Epitelioma Basocelular Carcinoma Espinocelular Melanose Blastomatosa Melanoma Maligno 1319 1320 D ER M A T OLOGIA As primeiras manifestações são melanose e querato- se solar, mas, na mulher, comumente ocorre a leu- codermia solar. A poiquilodermia solar é encomrada também em pessoas jovens, de pele clara, enquanto a degeneração colóide da pele ocorre raramente. Na se- nescência, todas estas alterações comam-se mais acen- tuadas. Entretanto, elas não dependem da idade do indivíduo, mas sim do tipo de pele e da intensidade da exposição solar. Por este motivo, ao termo fotosse- nescência, deve-se preferir o de pele fotolesada ou fo- toenvelhecida. Assim, as pessoas com pele branca-da- ra (tipos 1 e 2), que se expõem ao sol, desenvolverão estas lesões a partir dos 30 anos de idade, enquanto as de pele morena-dara (tipo 3), mais rardiamente; e as de pele morena-escura, parda ou preta, mesmo com exposiçóes freqüentes ao sol, irão apresentar escas alte- rações entre os 50-60 anos. Na realidade, o benefício da exposição solar é pequeno e pode-se d izer que: o sol é para a pele o que o dlcool é para o fígado, o fumo para os pulmões e a gordura para o coração. É variável a nomenclatura para aquelas alterações da pele provocadas pelo sol. Atualmente a tendência é a denominação de dermacohelioses (Tabela 85.5). RECURSOS PREVENTI VOS E TERAPÊUTI COS PARA A PELE IDOSA O elemento fundamental da pele do idoso é a dimi- nuição do manto lipídico e o menor conteúdo de água, o que determina a secura do tegumento. Os cuidados de manutenção da pele em idosos são os seguintes: 1. Usar a quantidade mínima de sabões e detergen- tes, limitando-se somente ao necessário para lim- peza. 2. Evitar o uso de sabóes anti-sépticos ou conten- do drogas, preferindo os assim chamados sabóes neutros ou para pele seca. 3. Usar, no tronco e membros, após o banho, cremes lubrificantes. De uma maneira geral, o creme, quanto mais graxo ou uncuoso (óleo de amêndoas, vaselina líquida), tem melhor ação para conservação do manto hidricolipídico. En- tretanto, as substâncias oleosas ou graxas não são agradáveis. Por esta razão, preferem-se cremes ou TABELA 85-5. CARACTERÍSTICAS DA PELE LESADA ACTÍNICA Anormalidade Clínica Pele áspera e seca Ceratose actinica Pigmentação irregular (sardas) Lentigenes Hipomelanose gutata Hiperpigmentações persistentes Rugas (superficiais ou profundas) Pseudocicatrizes estelares Elastose Pele inelástica Telangiectasia Lago venoso Púrpura senil Doença Favre et Racouchot Hiperplasia sebácea Anormalidade Histológica Camada córnea pouco alterada Atipia nuclear, alteração progressiva na maturação do queratinócito Hiperplasia e hipoplasia da epiderme e ocasional inflamação dérmica Número reduzido de melanócitos fortemente dopa-positivo Alongamento dos rete Malpighi e melanização dos melanocitos Número reduzido de melanócitos anormais Reduzido número de melanócitos dopa-positivo Nada alterado Ausência de pigmentação na epiderme, colágeno dérmico alterado Agregados nodulares de material fibroso amorfo na derme papilar Derme elastótica Vasos ectáticos com paredes atróficas Vasos ectáticos com paredes atróficas Extravasamento de eritrócitos Ectasia superficial do folículo pilossebáceo Hiperplasia concêntrica loções, bem tolerados e dos quais existem inúme- ros preparados comerciais. 4. Na pele da face, é conveniente evitar o uso de sabões. Pode-se limpar somente com água ou usar um creme de limpeza. Existem numerosos produtos no comércio com esta finalidade. 5. A exposição ao sol deve ser rescrita ao mínimo no idoso. Além da ação cumulativa deletéria dos raios solares no decurso dos anos, a pele apre- senta maior sensibilidade às radiações accínicas. O dessecamento torna-se mais acentuado e, de outro lado, há ação solar no aparecimento da melanose e queratose solares e dos tumores ma- lignos cutâneos. Quando houver a exposição ao sol, usar proteção f~sica (vestuário e chapéu) ou, quando necessário, proteção químico-física (lo- ções ou cremes anti-solares) . 6. O uso de ácido retinóico ou ácido glicólico me- lhora a pele idosa ou fotoenvelhecida. Os objetivos terapêuticos estão preponderante- mente dirigidos ao controle de rugas e ao fotoen- velhecimento. A tretinoína tópica surgiu como esperança no início dos anos oitenta porém, mes- mo a longo prazo, sua validade é controvertida ALTERAÇÕES NA PELE DO I DOSO podendo-se dizer o mesmo para a ação tópica da isotretinoína. Os alfa-hidroxiácidos são outros recursos utilizados em baixas concentrações com propriedades hidratantes e queratolíticas. O pa- pel dos radicais livres com responsabilidade no envelhecimento cutâneo é utilizado como um pretenso efeito protetor nas moléculas anti-radi- cais sobre os danos actínicos Outros recursos são as esfoliações (peelings) cutâneas feitas com pre- parações à base de resorcina e ácido tricloroacéti- co. Para esfoliações profundas (dermatoabrasões) pode-se usar o fenol. Atualmente, está sendo muito empregado o laser de co2 pulsátil. 7 . Não foi demonstrado que antioxidantes melho- rem a pele idosa. Entretanto, é comumente usada a administração de Vitamina C (1 g/dia) e Vita- mina E ( 400 mg/ dia) para o estado geral do ido- so, o que, eventualmente, pode ser benéficopara a pele. No idoso, é sempre indicado suplemento vitamínico e dieta alimentar balanceada. Na Tabela 85.6, encontram-se resumidas as in- tervenções profiláticas e terapêuticas para a pele do idoso. TABELA 85-6. RECURSOS PROFI LÁTICOS E TERAPÊUTICOS Filtros solares (físicos e químicos UVA e UVB). Ação profilática. Tretinoína 0,025 (uso permanente). Hidroxiácidos. Outros agentes com efeito "peeling". Laser-resurfacing. C02 pulsado. Antioxidantes (Vit. E.C.A., betacoroteno, selênio, flavonoídes) opções pessoais. Dermabrasão. Química ou Mecânica. Cosméticos emolientes (ceramidas, vaselina, parafina, ceras, álcoois gordurosos, fi lmes hidrófilos, substâncias higroscópicas). 1321 DERMATOSES NA GESTANTE A gravidez é uma condição que envolve marcantes modificações metabólicas, protéicas, lipídicas, glicí- dicas, endócrinas (decorrentes de agentes hormonais com alteração de estrogênios, ~-Hcg e prolactina, entre outros), imunológicas e vasculares que poderão levar a alterações da pele e dos anexos a nível fisioló- gico e patológico. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PELE NA GRAVIDEZ As alterações cutâneas fisiológicas da gravidez podem ser divididas em alterações pigmentares, al- terações dos cabelos e pêlos, alterações ungueais, al- terações funcionais das glândulas da pele, alterações vasculares e alterações mucosas. ALTERAÇÕES PIGMENTARES MELASMA (CLOASMA) Melasma é uma melanodermia que ocorre na face em cerca de 70% das mulheres grávidas (Figu- ra 86.1). A hiperpigmentação resulta de excesso de deposição de melanina na epiderme (70% dos casos), na derme, fagocitada por macrófagos (10 a 15% dos casos) ou na epiderme e derme simultaneamente (20% dos casos). F1G. 86. 1. Melasma com padrão malar. Lesões acas.tanhadas nas regiões malares e na região supralabial. São considerados fatores etiológicos: alterações hormonais, predisposição constitucional, exposição solar e cosméticos. Admitem-se possíveis influências de estrógenos, progesterona ou mesmo do hormônio melano esti- mulante mas não existe nenhum mecanismo hormo- 1324 DERMATOLOGIA nal cabalmente demonstrado. O desencadeamento de melasma em mulheres recebendo anticoncepcio- nais é um argumento favorável à ação hormonal. A presença de melasma em homens demonstra que os fatores hormonais não são únicos na gênese do melasma. Como as demais hiperpigmentações da gravidez, o cloasma é mais freqüente nos indivíduos de pele mais escura, existindo, portanto, um fator constitucional. A exposição solar é o fator desenca- deante mais importante, pelo estímulo que as radia- ções ultravioletas representam para a melanogênese. Produtos cosméticos contendo derivados de petró- leo, psoralênicos e outros fotossensibilizantes podem agravar o melasma. O quadro clínico, histopatológico, a diagnose e o tratamento já foram analisados no Capítulo 27. OUTRAS H I PERP!GMENTACÕES ~ DA GRAVIDEZ Cerca de 90% das mulheres grávidas apresentam h iperpigmentação, habitualmente discreta, de algu- mas áreas corpóreas como mamilos, aréolas mamárias, axilas, face interna das coxas e genitais e da "linea alba' do abdome que, na gravidez, é designada "linea nigri'. Também pode ocorrer hiperpigmemação de lesões pigmentadas pré-existentes como sardas, nevos, lentigos e cicatrizes. As mesmas influências hormo- nais consideradas na gênese do melasma são admitidas para explicar essas hiperpigmentações, que tendem a diminuir gradualmente após o parto. ALTERAÇÕES DOS CABELOS E PÊLOS H IRSUT!SMO Praticamente, todas as mulheres na gravidez apre- sentam cerco grau de hirsutismo, particularmente na face e, menos freqüentemente, nos braços, pernas e dorso. Admite-se que o fenômeno se relacione às al- terações hormonais próprias da gravidez e, em geral, regride dentro dos 6 meses pós-parto. Quando, duran- te a gravidez, surge hirsutismo muito intenso, deve-se considerar a possibilidade de tumores andrógeno-secre- tantes, luteomas ou cistos luteínicos, ou ainda, ovários policísticos. Nestes casos, pode ocorrer virilização dos fetos femininos. Quando estes fenômenos de hirsutismo intenso ocorrem na ausência de tumores virilizantes, o processo pode ressurgir em gestações subseqüentes. DEFLÚV!O TE:LÓGENO PÓS-PARTO Caracteriza-se por intensa queda de cabelos, que ocorre de 2 a 5 meses após o parto e, em geral, dura de 1 a 5 meses, podendo, em alguns casos, persis- tir por até 15 meses. O deflúvio telógeno pós-parto decorre da permanência dos cabelos na fase anágena por longo tempo durante a gravidez diminuindo in- clusive as perdas capilares fisiológicas. Após o parto, cessadas as condições hormonais que produziram a longa permanência dos cabelos na fase anágena, 30% destes entram em fase telógena havendo, a seguir, im- portante queda de cabelos. Embora normalmente o processo cesse e haja reposição total dos cabelos, em algumas mulheres com tendência genética à alopecia androgenética, esta pode ser precipitada pelo parto; inclusive, em algumas mulheres, durante a gravidez, pode ser observada alopecia com padrão androgené- tico com discreta perda de cabelos na linha fronto- parietal (Figura 86.2). FIG. 86.2. Alopecia de padrão androgenético feminino na gestação. T RATAM ENTO E P ROFI L AXIA Não existem medidas específicas para prevenção ou tratamento das alterações pilosas e capilares da gravi- dez. Destas alterações a que mais preocupa as pacientes é a perda de cabelos. A atitude mais im portante é tran- qüilizar a paciente e esclarecer qu anto à benignidade do processo e a plena recuperação dos cabelos. Se exis- tirem fatores agravantes, estes devem ser elim inados. Entre os possíveis fatores agravantes, devem ser con- sideradas drogas como citostáticos, antitireoideanos, hipocolesterolemiantes, anticoagulantes, anriconvulsi- vantes, capropril e outras d rogas que, quando possível, devem ser reti radas ou substituídas. Condições capa- zes de causar deficiência$ protéicas, com o d istúrbios gastroentéricos, d ietas exageradas e anemia, se houver, devem ser corrigidas (ver Capítulo 31). ALTERAÇÕES UNGUEAIS Na gravidez, são observadas várias al terações un- gueais: sulcos transversos, fragilidade ungueal, onicólise e hiperqueratose subungueal, m as não existe explica- ção patogênica para a ocorrência destas anomalias na gravidez (Figura 86.3). Como em anemias e estados carenciais podem ser observadas essas alterações, admi- te-se a possibilidade de, na gravidez, relacionarem -se à espoliação que este estado fisiológico esp ecial pode provocar. Portanto, a manutenção do estado nutricio- nal adequado pode contribuir para que se m inimizem essas alterações. Também é recomendável que se evitem traumas como, por exem plo, a manipulação das cutí- culas das unhas. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DAS GLÂNDULAS DA PELE AUMENTO DA ATIVIDADE DAS GLÂNDULAS ÉCRINAS D urante a gravidez, observa-se aumento da sudore- se à exceção das regiões palmo-plantares nas quais há diminuição da atividade écrina. O aumento da sudo- rese poderia estar associado, segundo alguns aurores, a aumento da função tireóidea e pode contribuir para o aparecimento de manifestações de hiper-hidrose e mili- ária (Figura 86.4). Para m inimizarem-se essas alterações, deve-se reco- mend ar à gestante evitar ambientes muito quentes e utilizar ves tuário leve. D ERMATOSES NA GESTANTE F 1G. 86.3. Onicólise distal e estriação longitudinal da unha em gestante. F 1G. 86.4. Miliária. Lesões eritêmato·papulosas no tronco e membro superior. AUMENTO DA ATIVIDADE DAS GLÂNDULAS SEBÁCEAS Q uanto à influência da gravidez na atividade das glân dulas sebáceas, é controversa. Alguns trabalhos in- dicam diminuição da atividade dessas glândulas, o que explicaria a melhora de doenças relacionadas à atividade
Compartilhar