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Coperativismo e cooperativas escolares


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1/1 
BR4900048 
E15/850/B/M/V 
MONSERRAT, J. 
SECRETARIA DA AGRICULTURA, INDUSTRIA E COMERCIO 
, PORTO ALEGRE, RS (BRAZIL), SECCAO DE ASSISTEN 
CIA AO COOPERATIVISMO 
COOPERATIVISMO E COOPERATIVAS ESCOLARES [HI 
STORIA; RIO GRANDE DO SUL; BRASIL] 
PORTO ALEGRE, RS (BRASIL) 
1949 212 P. (PT) 11 ILLUS. 
/G514 
MICROECONOMIA; HISTORIA; COOPERATIVA ESCOLAR; C 
OOPERATIVA; RIO GRANDE DO SUL 
247 
 
J. M O N S E R R Á T 
E 
COOPERATIVAS; 
E S C O LAR E S 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À memória de Salvador Monserrat e Maria Pin- 
heiro Monserrat, pais e amigos, o preito de nossa 
imorredoura gratidão. 
Ao culto e abnegado magistério rio-grandense a 
quem confiamos a educação de nossos filhos, a homenagem 
do autor. 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
“J. MONSERRAT” 
 
“COOPERATIVISMO 
E 
COOPERATIVAS ESCOLARES” 
 
 
 
 
– Secção de Assistência ao Cooperativismo – 
Secretaria de agricultura, industria e comércio 
PORTO ALEGRE – RIO Grande do Sul – Brasil 
1949 
 
 
 
A Secção de Assistência ao Cooperativismo, edi- 
tando êste primeiro trabalho de um de seus técnicos — 
COOPERATIVISMO E COOPERATIVAS ESCOLARES 
— não só cumpre mais uma das atribuições que lhe 
foram delegadas pelo acôrdo que o Govêrno do Es- 
tado mantém com o Serviço de Economia Rural, do 
Ministério da Agricultura, para difusão do sistema e 
práticas cooperativistas no Rio Grande do Sul, co- 
mo espera contribuir, de forma a mais positiva, para 
a, organização de cooperativas escolares em nossas 
instituições educacionais. 
E' inegável que o Rio Grande ocupa a vanguarda 
do movimento cooperativo brasileiro em quase todos 
os setores de sua atividade econômica. 
Conta, atualmente, com 320 sociedades, em pleno e 
regular funcionamento, que se distribuem pelos quatro 
quadrantes de seu território, levando à cidade e ao 
campo, à serra e à planície os ensinamentos e as van- 
tagens da Cooperação e reunindo, sob sua bandeira, 
nada menos do que 100.000 produtores e consumidores 
de tôdas as classes sociais e de tôdas as origens étnicas, 
para realizarem um movimento econômico-financeiro 
que atinge a Cr$ 1.200.000.000,00 anuais: 
Entrementes, o COOPERATIVISMO ESCOLAR 
que deveria constituir a primeira linha da ação cooperati- 
vista, não conseguiu, ainda, expandir-se como se tor- 
na necessário em nosso meio. 
Os exemplo que temos são poucos e devem suas 
tão auspiciosas realizações, mais à atividade isolada e à 
boa vontade de uma ou outra professora, do que a um 
trabalho prèviamente estudado e racionalmente 
planificado. 
Daí, a iniciativa dêste livro e as razões de sua 
edição. 
Seu autor, economista José Monserrat, antigo 
funcionário desta Secção, hoje à frente do Serviço de 
Divulgação e Propaganda, tem, aliada à sua comprovada 
capacidade técnica, uma larga experiência do problema, 
adquirida nos longos anos em que exerceu as funções de 
Inspetor de Cooperativas, em Bento Gonçalves, centro de 
próspera zona agrícola do Estado, o como ex-presidente 
da Cooperativa dos Estudantes de Pôrto Alegre Ltda.., 
entidade que, no gênero, honra nosso país. 
Alicerçando, assim, seu trabalho, não só nos 
mais reputados técnicos e pedagogos mas, também, no 
trato das questões concretas, e trazendo à discussão 
exemplos práticos e situações reais, o autor revela a 
seriedade da matéria que estuda, detida e 
criteriosamente, e a necessidade de exercitarmos a 
ooperação desde os bancos escolares, como meio de 
consolidar as realizações existentes e progredimos 
cooperativamente. 
As sugestões oferecidas no capítulo À Guisa de 
um Plano de Fomento são oportunas e ressaltam me- 
didas objetivas e capazes de, bem articuladas com as de 
nossas autoridades educacionais, satisfazer uma 
necessidade evidente, no movimento cooperativo 
riograndense. 
Cabe, pois, agora, pôr mãos a obra. 
E, na execução desse trabalho, cremos, firme- 
mente, que os nossos técnicos em educação e o bri- 
lhante professorado gaúcho, a quem tão merecida- 
mente, é também dedicado êste livro, não regateará 
o seu concurso decisivo. 
A educação é obra de cooperação, dizem os 
mestres. 
Eduquemos, pois, cooperando. E, cooperando, 
lancemos os marcos de uma nova fase na história das 
atividades cooperativistas do Rio Grande do Sul. 
Rui Esteves Corrêa 
Chefe da S. A. C. 
 
 
 
 
COOPERATIVISMO 
(Esbôço histórico sôbre o movimento cooperativo) 
 
 
 
 
 
 
Há mais de um século, a mesma maçã que con- 
denou Adão a comer o pão com o suor de seu rosto, 
que revelou a Newton a lei da gravidade e a Páris 
projetou na História, inspirou, também, a Fourier, com 
a «lei da atração dos sentimentos» que afirmou des-
cobrir, o sistema de reivindicação econômica na 
ordem social — O COOPERATIVISMO. 
Conta Fourier que, achando-se num restaurante 
em Paris viu o seu companheiro de mesa pagar por uma 
maça produzida na sua terra 14 soldos, enquanto lá 
custava, justamente 14 soldos, o cento. «Surpreso com 
tal diferença, continua êle, comecei a suspeitar que 
havia uma desordem fundamental no mecanismo 
industrial, de onde nasceram minhas investigações que, 
ao cabo de 4 anos, me fariam descobrir a teoria das 
séries de grupos industriais e as leis do movimento 
universal, malogradas por Newton». 
Constatava-se, mais uma vez, a profunda 
anomalia existente no mecanismo da produção, 
distribuição e consumo da riqueza. 
 
 
 
 
 
 
A GÊNESE DO MOVIMENTO 
Valendo-nos de trabalhos de investigação e divul- 
gação históricas que constituem parte da bibliografia 
cooperativista, procuraremos dar uma noção da gê- 
nese do movimento cooperativo e caracterizar-lhe os 
seus fundamentos econômicos. 
A Cooperação, em sentido amplo, surgiu, na sua forma 
elementar, no momento preciso em que o ho- 
mem, compreendendo a precariedade das ações isola- 
das e distintas entre si, na busca dos elementos indis- 
pensáveis à satisfação de suas necessidades, procurou 
a colaboração de um semelhante para, juntos, enfren- 
tarem as dificuldades, cada vez maiores, e conquistar 
um meio diferente, empregando métodos diversos e 
desconhecidos, pan realizar, assim, o benefício comum. 
E, se nos reportarmos aos primeiros aglomerados 
humanos, encontraremos, no período do próprio «no- 
madismo», nuances mais ou menos imprecisas, mas 
bastante indiciadoras de cooperação econômica, através 
da ajuda mútua que se prestavam no pastoreio e o 
auxílio recíproco no cultivo de primeiras lavouras, etc. 
Mladenatz informa que, na Armênia, próximo ao 
monte Ararat, onde, segundo o texto bíblico, foi o 
berço da Humanidade, funciona ainda uma forma par- 
18 J. MONSERRAT 
ticular de cooperativa entre os leiteiros da localidade 
e que data de tempos imemoriais. 
Como formas históricas de tradição cooperativa, 
o mesmo autor nos apresenta a «zadruga» sérvia e a 
«mir» russa, citando como exemplo mais concreto o 
«artel», cujas características muito se aproximam das 
modernas cooperativas de trabalho. O «artel», que era 
uma associação de pessoas, agrupando um número ili-
mitado de trabalhadores sem grandes recursos, basea- 
va-se na mais estrita solidariedade de seus membros 
e entre os mesmos reinava espírito familiar. Em reu- 
nião geral era eleito o chefe, que se encarregava da 
direção dos diversos serviços, que iam desde os tra- 
balhos particulares aos das necessidades gerais da 
«grei». 
Na Grécia antiga, relata-nos Fábio Luz, «quase 
tôdas as pessoas das classes média e baixa faziamparte de associações de cunho cooperativo» e os «co-
légios» romanos também constituiam associações de 
igual caráter. 
Para Bórea, o exemplo remoto de associação dêste 
gênero, deve ser buscado na Palestina. Na França, 
considera êle como mais antigo as «Frutières», socie- 
dades de queijeiros das regiões do Jura e Sabóia. 
Na Alemanha, Otto Gierke, em seu «Direito Coo-
perativos», diz que «a cooperação é pré-alemã». Stau-
dinger viu, nas uniões religiosas, formações cooperati- 
vas, pois nelas se abrigavam, em absoluta comunidade 
de vida, aquêles que fugiam das condições destrutoras 
de tôda solidariedade, próprias da época. 
Na América, os vestígios mais antigos datam da 
civilização incaica. 
A organização agrária do povo inca, ensina-nos 
Horne, se baseava na exploração coletiva da terra. Era 
o regime do «ayllú». O sistema incaico tendia a for- 
COOPERATIVISMO 19 
mar uma disciplina no trabalho e manter os incas em 
constante atividade. A saudação «Ama Kella» — não 
sejas preguiçoso — revela o espírito daquele povo. 
Valdiki Moura nos informa que «trinta anos na- 
tes do movimento de Rochdale, modestos grangeiros 
de Connecticut haviam instalado uma cremaria coope-
rativa, e em 1785, isto sessenta anos antes, também 
haviam alguns criadores organizado a primeira coope- 
rativa pecuarista dêste hemisfério. Também três anos 
antes dos temerários tecelões inglêses. Mr. Picket ha- 
via montado em Wisconsin uma usina lacticinista ma-
nipulada cooperativamente». 
No México, a história do «ejido» e da economia 
«ejidal» nos impressiona como uma forma de organi- 
zação social do trabalho agrícola profundamente en-
raizada no povo asteca e cujas bases de caráter asso- 
ciativo e de integral solidariedade entre seus compo- 
nentes vem incorporá-la à pré-história do movimento 
cooperativo mexicano. 
Condições semelhantes encontramos no Paraguai, 
«onde os guaranis tinham o seu «tupambaé», no qual 
se efetuavam os cultivos coletivos e pastava o gado, 
conservando cada um seu «abambaé» (lote particular), 
existindo, no seu regime agrário, muitos elementos 
para uso comum, como os bois, os instrumentos, etc.» 
A Colônia São José, instalada por Urquiza, em 
1857, na margem do rio Uruguai, com cem famílias 
suíças e savoianas, foi uma realização da maior 
transcendência. Vale a pena conhecermos com alguns de-
talhes a colonização planificada dentro das normas de 
uma sadia política agrária, como exemplo de um vi- 
zinho próximo. Uma grande extensão de terras foi 
dividida em lotes e entregue a cada família. Não cons- 
tituia, porém, a colônia, partes isoladas, como ocor- 
reu a ainda ocorre conosco. Tinha uma direção cen- 
20 J. MONSERRAT 
 
tral e uma área central reservada para os escritórios 
de administração, a escola, a igreja, etc. Os membros da 
colônia elegiam periòdicamente uma comissão de cinco 
companheiros para discutir os interêsses gerais da col- 
ônia, com competência para representar junto aos po- 
deres públicos contra os desmandos da administração. 
A ação individual tinha os limites impostos pelos di- 
reitos e interêsses da coletividade. A organização im- 
punha uma série de dificuldades para a venda de ter- 
ras entregues aos colonos, a fim de evitar não só a 
especulação como a solução de continuidade, porque, 
diziam, aquêles lotes deviam ser trabalhados como 
convinha, racionalmente. 
A Côlonia São José é ainda hoje um exemplo, diz 
Horne. 
Ali vivem os netos dos fundadores nas mesmas 
concessões originais. A terra não se concentrou nas 
mãos de um ou dois; os colonos não perderam suas 
terras e nem conhecem dívidas. Suas explorações são 
mistas, intensivas e integrais. Não existe luta nem pro-
letariado rural: os produtores se ajudam entre si nas 
tarefas agrárias. 
Aqui mesmo, no Brasil, Álvaro Ilgenfritz, estu-
dioso e culto colega de pregação cooperativista, em in-
teressante investigação histórica, descortinou no es- 
fôrço dos negros alforriados das Minas Gerais, para 
libertação de seus irmãos, formas expressivas de or-
ganização e, nos trabalhos subseqüentes, numa daque- 
las tradicionais vilas, traços evidentes de método coo-
perativista. 
Jean Gaumont, em «Histoire Générale de la Coo- 
peration en France», citada por Luiz Amaral, escre- 
veu uma página sôbre a organização agrícola, nos 
primórdios da colonização brasileira, que merece uma 
maior divulgação. 
COOPERATIVISMO 21 
Diz êle que, «em 1840 constituiu-se uma sociedade 
com o fim de fundar no «Palmetar» (Brasil) uma, 
colônia societária, de acôrdo com os dados de Charles 
Fourier e, aprovados os estatutos, ela tratou de apelar 
para as famílias de diferentes categorias e de associar 
colonos, tudo sob a direção do doutor Arnaud, o qual 
obtivera uma concessão de terras. Essa sociedade tomou 
o nome de Union Industrielle. Tinha por fim consti- 
tuir no Brasil, de acôrdo com as autoridades oficiais 
daquele país novo, um centro de colonização proletá- 
ria, que tentaria pôr em prática as teorias 
fourieristas, pela orientação de uma ou mais comunas 
agrícolas e industriais conforme o plano dado pelo Mestre. 
Operários de tôdas as profissões deliberaram participar da 
tentativa e se repartiram em três grupos, que deviam 
embarcar em escalas sucessivas com destino à colônia. 
Designado em Lyon para organizar aí um dêsses grupos de 
emigrantes, Reynier se atirou à prebenda árdua e cheia de 
responsabilidades, durante os anos de 1840, 1841, 1842 e 
1843. O grupo, que êle recrutara em Lyon, atingiu nesse 
último ano 75 pessoas, homens, mulheres e crianças, cuja 
contribuição à sociedade consistia em 2.080 francos de 
numerário e 3.150 francos de utensílios. Dessa soma, 1.500 
francos foram consignados à Sociedade central, em Paris, 
incumbida de organizar a viagem. Por eleição, foram 
designados três diretores para conduzir ao Brasil os 
emigrantes. Eram Michel Derrion, Joseph Reynier e Jamain. 
O doutor Mure havia já partido para negociar com o 
govêrno brasileiro as condições de concessão e da 
ororganização da colônia societária. Derrion, promotor do 
empreendimento, e que arregimentara os adesistas do 
primeiro embarque, constituído sobretudo de parisienses, 
embarcou com o primeiro grupo, seguido pouco depois por 
Jamain, que conduzia o segundo. Reynier seria o terceiro a 
partir, conduzindo os adesistas 
22 J. MONSERRAT 
lioneses. Foi, porém, retido pela noticia de que grave con- 
flito surgira entre aquêles grupos, que se dividiam, parte 
dos associados acompanhando o doutor Benoit Mure, 
que instalara o falanstério d’Oliveira, na península de 
Sahy, Província de Santa Catarina, e permanecendo o 
resto em tôrno d’Arnaud, de Derrion, de Jamain, de 
Rouffinei e de Joly, que obtinham uma segunda con- 
cessão no «Palmetar» e tomavam posse dela em março 
de 1843. Que resultou da tentativa da União Indus- 
trielle? Após haver vivido alguns anos, conforme tes-
temunha o relatório do próprio Reynier, que refere ter 
ela podido criar uma serraria mecânica dirigida por 
Jamain, fracassou em seguida. Essa tentativa dos fou-
rieristas, conquanto uma pouco fora das tentativas 
precedentes do Commerce Véridique, prevalece, toda- 
via, no quadro do Cooperativismo, aparentando-se com 
as fórmulas diversas de cooperativas de produção». 
«O negócio do Sahy, dirigido por Benoit Mure, 
viveu mais. Em 1846, a 7 de abril, Derrion, então no 
Rio de Janeiro, onde leciona para viver, pronuncia vi- 
brante discurso no banquete de aniversário do nasci- 
mento de Fourier. Recorda que, depois de muitaspro- 
vações, a colônia do Sahy existe, e constitui vasto do- 
mínio de duas léguas quadradas, òtimamente situado 
e prestes a receber tôdas as tentativas mais ou menos 
integrais que os homens ávidos de prática quiserem 
realizar». 
E, mais adiante, lemos a transcrição de uma no- 
tícia de Jules Durval de que, já por volta de 1845, 
existia no Rio de Janeiro um órgão publicitário — O 
Socialista — divulgador da teoria apregoada por Fou- 
rier. 
Essa tentativa de colonização foi assinalada, por 
Saint Hilaire, em seu livro sôbre a Província de Santa 
Catarina, onde comenta as ótimas condições locais, a 
uma légua, apenas, da baía de São Francisco, e diz 
COOPERATIVISMO 23 
que, se não fôra o móvel da emprêsa pôr em prática 
a utopia de Charles Fourier, o êxito da colonia estaria 
garantido. 
Em nossa terra êsses empreendimentos, se bem 
que significativos, tiveram, como se viu, um caráter 
restrito, limitando-se a um engenhoso expediente para 
ibertar escravos e a mais uma experiência dos discí- 
pulos de Fourier. 
O que poderíamos alinhar como método caracte-
rístico e generalizado de trabalho cooperativo entre 
nossa gente é o muxirão ou mutirão e à troca de dias 
de serviço, como sistemas de trabalho exclusivamente 
nossos, originados das necessidades dos meios rurais 
brasileiros e que se têm conservado inalteráveis. 
O mutirão ocorre quando o proprietário de meia 
dúzia de hectares de terra quer levar a cabo as tare- 
fas agrícolas de grande envergadura, como derruba- 
das, roçadas, e, mais raramente, plantação e colheita, 
o que nenhum dêles (agricultores pobres) seria capaz 
de realizar isoladamente, entregues às suas próprias 
fôrças. 
A troca de dias de serviço é a permuta de um 
trabalho por outro trabalho, constituindo, portanto, 
um dos mais sintéticos exemplos de cooperação. Não 
se restringe apenas à prestação de serviços pessoais 
recíprocos. Implica, com freqüência, no uso de maqui-
nismos agrários, animais de tração e meios de trans- 
porte, existindo, mesmo, localidades em que já foi 
estabelecida a equivalência entre diversas espécies de 
labor. 
A primeira se caracteriza pelo seu aspecto festivo 
e onde o encerramento do trabalho (mutirão) é sem- 
pre motivo para regalada janta seguida de alegres 
danças; a segunda, por não implicar, absolutamente, 
24 J. MONSERRAT 
em retribuição pecuniária ou de qualquer outra espé- 
cie, que não a do trabalho pessoal. 
* * * 
Contudo, todo êsse movimento associacionista que 
espertou com as manifestações gregárias do homem, é 
visto, naturalmente, como simples decorrência da pró- 
pria necessidade, que dêle fêz um ser eminentemente 
social. 
Não eram pròpriamente associações cooperativas, 
pois não podia haver cooperação entre senhor e escra- 
vo. E a escravidão e a servidão foram as bases da 
economia pretérita. 
O que se realizou na Idade Média não podemos 
aproximar de doutrina cooperativa. Neste período da 
História a economia se baseou no trabalho servil e nas 
corporações de ofício, instituições estas de direito pú- 
blico, com caráter compulsório para todos os membros 
de uma mesma profissão, com funções específicas de-
legadas pelo Poder Público, e dispondo mesmo de atri-
buições legislativas. 
O que ocorreu foi, exclusivamente, o fruto da ne-
cessidade, estimulado pelo exemplo das organizações 
religiosas e premido pelo imperativo do amparo e 
auxílio recíprocos, anàlogamente ao que Aristóteles já 
observa no mundo das plantas e dos animais, tecido 
todo êle e uma relação mútua de caráter cooperativo, 
formando o que os naturalista chamam de simbio- 
tismo. 
Foi, pois, uma simbiose, natural e lógica, em face 
de iguais problemas, o que aconteceu nas eras ante- 
riores, e não a estruturação de um organismo autô- 
nomo, livre e neutro, como se operou nos Tempos Mo-
dernos. 
FATOS DECISIVOS 
A Revolução Francesa foi sem dúvida um manan- 
cial inesgotável para os estudos e pesquisas de ordem 
econômica, social e política dos séculos subseqüentes. 
E, se recuarmos um pouco aos dias brilhantes da 
Grande Revolução, e procurarmos focar o evoluir do 
movimento cooperativo, notaremos alguma coisa de 
original na Declaração dos Direitos do Homem. 
É que, ao lado da liberdade, da igualdade, do di- 
reito à propriedade, de resistência à opressão, etc., não 
se encontra, inscrito no seu texto, o direito de asso- 
ciação, por mais espontâneo que êle se manifestasse no 
meio social. 
Apesar de ser uma insurreição essencialmente li- 
beral, temeram, por certo, os seus legistas, que uma 
tal garantia estimulasse o espírito associativo, o qual, 
na ortodoxia dos teóricos da Revolução implicava na 
limitação das liberdades individuais e, por conseqüên- 
cia, num desvirtuamento imperdoável dos postulados 
revolucionários... 
As razões que presidiram essa omissão foram 
aceitas com tal intransigência que não trepidaram em 
proscrever, pelo famoso decreto Le Chapelier, de 1791, 
a associação profissional, uma das mais democráticas 
26 J. MONSERRAT 
organizações da época; e ainda mais, confirmando sua 
conceituação, estabeleceram, no Código Penal de 1810, 
severas sanções para qualquer agremiação que reu- 
nisse mais de vinte pessoas. 
O mesmo aconteceu na Inglaterra. Sidney Webb, 
escrevendo a História do Tradeunionismo, apresenta- 
mos trechos da conclusão de um inquérito contempo- 
râneo à promulgação do Código Francês, e onde se lê 
que «nenhuma intervenção da legislatura pode dar-se 
na liberdade de indústria ou na completa liberdade de 
cada indivíduo dispor de todo o seu tempo e trabalho, 
da maneira a nas condições que julgue mais vantajosa 
para o seu próprio interêsse, sem violar princípios de 
capital importância para a prosperidade e felicidade 
geral..» 
A par dessa incongruência «revolucionária», fren-
te à organização popular, as idéias de Smith e seus 
discípulos, apregoando a liberdade econômica, encon-
traram ressonância nos meios da indústria nascente 
e campo fértil à sua aplicação imediata entre as gran- 
des massas, manifestamente alcoolizadas pelo entusias- 
mo incontido da novidade. 
Dadas as condições anteriores das atividades in-
dustriais que viviam asfixiadas pelo absolutismo dos 
Luíses, o seu desenvolvimento, nesse clima de liber- 
dade, foi rápido, aproveitando tão boas circunstâncias. 
O advento dessa nova situação criou, nas relações 
comerciais, o corolário lógico da livre concorrência, cu- 
jos efeitos, exercendo a função de vasos comunicantes, 
manteriam o equilíbrio nas oscilações dos preços, pro- 
movendo, automàticamente, o aumento ou a diminui- 
ção das utilidades, à medida que a lei da oferta e da 
procura acusasse, na balança dos mercados, maiores 
ou menores necessidades. 
Esta inovação, como é natural, causou benefícios 
e trouxe vantagens sem conta ao progresso dos povos. 
COOPERATIVISMO 27 
Mas, os benefícios e as vantagens do liberalismo 
econômico, se promoveram o desaparecimento dos mon-
opólios de Estado e do regime servil do feudalismo, 
e facilitaram o desenvolvimento da iniciativa humana, 
originou, também, do bôjo de tôdas as suas realiza- 
ções, como resultante da própria expansão industrial 
e comercial e da livre disputa de mercados, o fenô- 
meno quase desconhecido da concorrência. 
O Estado absteve-sede tôda ingerência na eco-
nomia, abandonando a organização da produção e res-
tringindo sua ação a medidas mantenedoras da ordem 
e da segurança social. Deixou, mesmo, as relações de tra-
balho, que «as corporações tanto zelavam», entregues 
à solução dos próprios interessados, «intervindo pura 
e simplesmente como órgão policiador, para garantir o 
livre curso à lei da oferta e da procura», tão exaltada 
por Bastiat, em «Harmonias Econômicas». 
A medida, porém, que as posições econômicas se 
iam definindo e as fábricas, impulsionadas com com- 
bustível barato, ampliavam suas instalações e inicia- 
vam a acúmulo de mercadorias, surgiu o jôgo dos pre- 
ços e a corrida vertiginosa para o lucro. 
Pressentindo os resultados dêsse jôgo concorre- 
ncial, os estudiosos e filantropos da época encheram-se 
de inquietação. 
Percebiam, por certo, a aproximação da tempes- 
tade, de que a desenfreada luta pelo lucro, de um lado, 
e os disputadíssimos duelos por aumento de salários, 
de outro, eram indícios claros. 
A concorrência, descortinavam então, promoveria 
a formação de outros monopólios, concentrações mais 
poderosas e decisivas, e o cenário não mais seria ape- 
nas uma ilha ou a velha Gália... 
Êste período de ações e reações simultâneas não 
se fez esperar, lançando os marcos definitivos de uma 
28 J. MONSERRAT 
nova era, donde surgiram os fundamentos de várias 
concepções, as quais, com o perpassar dos tempos, se 
foram lapidando, ajustando-se às injunções de novas 
necessidades e de formas mais racionais de satisfazê- 
las. 
Staudinger, estudando as origens do cooperativis- 
mo um moderno, escreve que a «cooperativa, em sentido 
específico, se funda em condições históricas e econô- 
micas mui precisas e determinadas. Deve-se o seu 
aparecimento à extensão do capitalismo; ela é uma 
reação pacífica, mas ativa, contra a pressão que êle 
exerce no mecanismo econômico». Pois, via de regra, 
a intermediação tem rosto de Jano e a mercância é 
luta. Luta entre os contratantes para usufruir maio- 
res vantagens do contrato; luta entre os competidores, 
tanto para vender como para comprar. E a arma 
usada neste combate diuturno é a da melhor oferta». 
É certo que a competição econômica trouxe pro- 
gressos incalculáveis à técnica da produção; mas não 
é menos evidente que sendo a ganância a lei de sua 
vida e de sua atividade, observamos, no seu processo, 
a queima de produto em meio à subnutrição e a inci- 
neração de lãs quando o frio é mais intenso... 
Nestas condições, o aparecimento do Cooperativis- 
mo, foi uma reação lógica contra os efeitos maléficos 
da nova estrutura que avassalava o mundo. 
A revolução industrial abriu as portas da moderna 
«city» e dos grandes magazines, dando origem a situa- 
ções desfavoráveis de vida as grandes massas da po- 
pulação. O industrialismo congregou grandes núcleos 
urbanos, formando cidades populosas e obrigando os 
artezãos, pela concentração das grandes organizações 
fabris e comerciais, a se inscreverem, sem mais ou- 
tra alternativa, nas legiões do proletariado que emer- 
gia e se avolumava. 
COOPERATIVISMO 29 
O advento da máquina e do aparelhamento in- 
dustrial que, na medida do tempo, aperfeiçoava sua 
engrenagem, aumentando os meios de produzir mais 
e diminuindo as despesas da mão-de-obra, beneficiou 
sòmente aos que a possuiam. 
Contra êste aspecto particular da produção e da 
distribuição dos artigos e manufaturas de consumo, 
assim como para evitar os abusos do prestamista usu- 
rário, nasceu intensa a necessidade de desenvolver o 
sentido da solidariedade social, trazendo como resul- 
tado o aparecimento dos primeiros esboços de uniões 
econômicas devidamente estruturadas. 
Não, por certo, na associação corporativa, de tão 
tristes lembranças, mas na sociedade cooperativa. 
* * * 
Tragados, embora precàriamente, os lineamentos 
da gênese dêsse grande movimento que, hoje num 
contagiante e sadio egoísmo, se avoluma para a con- 
quista de um maior bem-estar do homem e da socie- 
dade, vejamos as idéias, os fracassos e as contribui- 
ções dos Utopistas. 
AS IDÉIAS, OS FRACASSOS E AS CONTRIBUIÇÕES 
DOS UTOPISTAS 
O Cooperativismo, pois, lança suas raízes profun- 
das nos trabalhos e idealizações dos «Utopistas», ho- 
mens que, inspirados nas más condições existenciais 
da época, saíram a público anatematizando, com uma 
critica sem precedentes, a ordem imperante e apre- 
goando novos métodos de trabalho e distribuição da 
riqueza. 
Imaginando paraísos acreditavam que, pela asso-
ciação livre e espontânea dos cidadãos, seria possível 
emancipar o homem das agruras do salariado e ofe- 
recer-lhe, assim, tudo o que fôsse preciso ao cumpri- 
mento de sua finalidade precípua, em uma atmosfera da 
mais franca amizade e solidariedade social. 
Deixando de lado Tomas Morus, Bacon, Campa-
nela et caterva, cujas fantasias apenas influiram nesse 
processo no que interpretavam as inquietações de seus 
contemporâneos e os sonhos de um mundo melhor, 
demoremo-nos um pouco naqueles que ingressaram na 
História batizados como os «Precursores de Coopera- 
ção», muito embora suas concepções se assinalassem 
com profundas marcas de velhas utopias. 
Portadores de grande e viva imaginação, fizeram 
verdadeiras profecias sôbre a organização do traba- 
32 J. MONSERRAT 
lho, direito de propriedade, desenvolvimento dos meios 
de comunicação e tantos outros problemas que hoje, 
em pleno século XX, estão sendo equacionados e postos 
em execução. 
Entre êles, os autores mais categorizados das cor- 
rente ideológicas que daí se originaram, são unânimes 
em destacar, na França, Charles Fourier, Louis Blanc, 
Louis Guesde e Phellippe Bouchez e, na Inglaterra, 
Robert Owen, William King, John Bellers e P. C. 
Plockoly. 
Para melhor apreciarmos o conteúdo das ideali-
zações e dos trabalhos dêsses homens e o papel im- 
portantíssimo que desempenharam no processo evolu- 
tivo da sociedade, daremos uma síntese biográfica de 
Owen, King, Fourier e Louis Blanc, indiscutivelmente 
os que maiores contribuições deixaram para os movi- 
mentos posteriores. 
É verdade que o fracasso de suas iniciativas che- 
gou mais cedo do que os seus detratores haviam pre- 
dito. E não era possível esperar-se outra coisa. Uma 
organização popular e democrática, como foram os 
frutos de suas elucubrações, exigia, forçosamente, uma 
grande base de compreensão, disciplina e desinterêsse 
pessoal e, além de não existir nenhuma dessas condi- 
ções essenciais, a conjuntura econômica não era de 
molde a propiciar o desenvolvimento de outras forças 
que não estivessem ligadas aos interêsses do industrialis- 
mo nascente. 
Para esboçar os planos de suas concepções de um 
novo edifício social tinham que ater-se às aspirações 
de seu idealismo, porque não podiam apelar para a 
história vivida, para a experiência do lutas anteriores, 
uma vez que eram rebentos da própria revolução in- 
dustrial em seus primeiros vagidos. 
 
A máquina de fiar «Jenny» que desencadeou a «Revoluçăo 
Industrial». 
 
Projeto para um «Falanstério» conforme a «utopia» de Fourier. 
COOPERATIVISMO 33 
Era, como vimos, um clima favorável às disposi- 
ções de Le Chapellier, do Código Penal e das reaçõesinglêsas a par da carência de preparo das populações 
para o perfeito recebimento e assimilação das idéias 
que, no dizer de Danton, «andavam correndo pelas 
ruas enquanto os homens que mais precisavam se es- 
condiam delas, estonteados com tanto embuste» e das 
quais, mais tarde, Gide diria terem sido «como essas 
frutificações extemporâneas da primavera, que as últi- 
mas geadas destróem com facilidade, abortaram, mas 
o movimento que elas iniciaram não se perdeu, foi re- 
novado, 17 anos depois, pelos Pioneiros». 
 
ROBERT OWEN 
«Filantropo louco», «industrial progressista», «Re-
volucionário perigoso», etc.. são epítetos que encontra- 
mos sempre a respeito dêste inglês genial e, aparen- 
temente, contraditório. 
Temperamentalmente socialista, sua existência — 
1771 a 1858 — foi tôda ela de uma atividade e dina- 
mismo impressionante, embora, ao que saibamos, nun- 
ca tenha sido um militante político-partidário. 
Iniciando-se como aprendiz, antes de 30 anos, em 
1.º de janeiro de 1800, assumia a direção de uma fá- 
brica de tecidos em New Lanark, onde despertou-lhe 
interêsse o estudo da questão social. Sua fábrica tor- 
nou-se cedo um lugar de aristocrática peregrinação, 
recebendo a visita das grandes figuras da época, entre 
as quais os reis da Prússia e da Holanda e de tzar 
Nicolau I. 
Que teria feito Owen para merecer a atenção de 
tão selecionadas personalidades? 
 
34 J. MONSERRAT 
Simplesmente, antecipou de um século o que mais 
tarde viria chamar-se legislação operária. 
Em New Lanark as realizava já tudo o que figu- 
raria nas exposições de economia social — habitações 
com jardins para os operários, refeitório higiênicos, 
bibliotecas, caixa econômica, etc., e nela: 
— reduziu o dia de trabalho do 16 para 10 horas; 
— recusou emprego para menores do 14 anos, crian-
do escolas para êstes; 
— suprimiu na multas então em uso. 
Todavia, «desgostoso por não ver generalizadas 
suas idéias pois seus colegas não o seguiram, nem o 
Govêrno de S. M. deu importância ao seu programa 
de reivindicações, voltou-se Owen para a associação 
depois de se ter convencido da impotência dos dois 
poderes — o Público e o Patronal — para servir ao 
progresso social inglês». 
Torna-se, então, o propugnador da associação co- 
mo meio de resolver o problema social, «escandalizado 
que estava com a diferença de tratamento entre a má- 
quina morta e a máquina viva». A abolição do lucro 
foi, para êle, o ponto capital para atingir o meio am-
bicionado. E, com o lucro, a concorrência. « O lucro 
e a concorrência, afirmava Owen, são inseparáveis. Se 
a concorrência é a guerra, o lucro é o saque». Por isto 
combatia todos «os arranjos que criam o desejo infin- 
dável de comprar barato e vender caro». 
Concretamente, sua ação, no terreno da prática 
associonista se revela em dois audaciosos empreendi- 
mentos: as colônias «NEW Harmonies» e os «National 
Equitables Labour Exchanges» (Armazéns de Troca). 
A experiência das «comunities», ou colônias har-
mônicas, foi levada a efeito em Indiana, EE. UU., e a 
COOPERATIVISMO 35 
ela acorreram inúmeros e cultos cidadãos de todos os 
recantos da América. Contudo fracassou. A base igua- 
litária absoluta entre seus membros, com a proprie- 
dade coletiva das terras e a ausência de realismo no 
planejamento da colônia, a par das condições locais 
do pioneirismo americano, não permitiram vida longa 
a essa original e prematura experiência do coletivismo 
agrário. Tentado novamente no México, teve o mesmo 
im, não obstante a tradição do «ejído», existente nesse país. 
O Armazém de Trocas, no entanto, foi a mais 
utópica das tentativas para a emancipação econômica 
de uma classe. Neste armazém o societário trocava 
senhas de trabalho por mercadorias, avaliado o valor 
destas senhas em horas de trabalho. Assim, se um 
operário tivesse levado 10 horas para fabricar um par 
de sapatos, por exemplo, sabia que, com aquela senha, 
oderia receber qualquer mercadoria que exigisse aquê- 
le mesmo tempo para sua elaboração. Recebia dessa 
forma, o equivalente de seu trabalho — o lucro seria 
eliminado e abolido o intermediário pelas relações di- 
retas que se estabeleciam entre o trabalhador e o ar- 
mazém. 
O mecanismo dessa troca mesmo a substituição 
da moeda, como medida de aferição, apesar de interes-
sante, é secundária, no caso. O mérito de tôda essa 
niciativa reside na sua idéia essencial — a abolição do 
lucro — em proveito dos próprios interessados. 
Outra contribuição que Owen não pôde levar a 
cabo foi a «Association of All Classes of All Nations», 
Associação de Tôdas as Classes de Tôdas as Nações, 
que fundou em Londres, em 1835, para propagação de 
suas idéias. Apesar de ter viajado por vários países 
europeus visitado, entre outras figuras da época, 
Metternich e Alexander von Humboldt, teve de regres- 
36 J. MONSERRAT 
sar convencido de que ainda não havia soado a hora 
para a organização de uma cooperativa internacional 
com sucursais em todos os cantos do globo, e a sua 
Associação foi transformada numa sociedade cultural. 
Nem por isto, contudo, se perdeu a iniciativa. Cêr- 
ca de 70 anos mais tarde era constituída a Aliança 
Cooperativa Internacional. 
CHARLES FOURIER 
Simultâneamente ao trabalho de Owen, no outro 
lado do Canal da Mancha e nos EE. UU., em França, 
um caixeirinho modesto se enchia de indignação e re- 
volta vendo atirarem ao mar 20.000 quintais de arroz 
que se deteriorava à espera de que essa gramínea al- 
cançasse melhor cotação no mercado, enquanto na 
cidade muitas crianças pediam esmolas. 
Mais tarde, veio a «história da maçã» que foi a 
decisiva. Verificando que a causa do agravamento do 
custo dos bens de consumo era originada pela série 
de intermediários que se interpunham entre o produ- 
tor e o consumidor, concebeu a solução do problema 
do barateamento dos preços das utilidades, na apro- 
ximação de um ao outro, através dos Falanstérios. 
O Falanstério idealizado por Fourier era um gran- 
de casarão, com vários pavimentos, bem arejado, que 
muito se aproxima aos modernos arranha-céus — sa- 
las de leitura, teatro, jardins, etc. Nêle tinham in- 
gresso pessoas de qualquer classe social, pois have- 
riam aposentos e acomodações para tôdas as bôlsas. 
O Falanstério apresentava, assim, dupla vantagem: 
conomia, porque a vida sob o mesmo teto traria 
o máximo de confôrto com o mínimo de dispêndio; 
COOPERATIVISMO 37 
social, porque a vida sob o mesmo teto, substituiria, 
pouco a pouco, por uma atração de simpatia, os sem-
timentos recíprocos que, sob o regime individual, «se 
movem numa escala ascendente de ódios e numa es- 
cala descendente de desprezo», como afirmava. 
Até os serviços domésticos Fourier previra em 
seus sonhos. O serviço particular de criadagem seria 
feito pelo serviço coletivo e a emprêsa doméstica da- 
ria lugar à emprêsa industrial, evolução a que já che- 
gamos hoje no pão, na lavanderia, na pensão a domi- 
cílio, nas emprêsas para limpeza de casas, etc. 
Foi o primeiro a proclamar que, o grau de emanci-
pação da mulher numa sociedade, é o barômetro na- 
tural pelo qual se mede a emancipação geral,colocan- 
do-a em igualdade absoluta com o homem, a quem 
lança o apróbio de tê-la mantido em cativeiro milhares 
de anos. 
No Falanstério não só o consumo era provido em 
comum. A área de 40 quilômetros que deveria circun- 
dá-lo, seria explorada coletivamente para o abasteci- 
mento de seus habitantes e se constituiria numa socie- 
dade por ações, de sorte que a propriedade privada 
permaneceria. 
Os resultados seriam divididos entre os fanlanste-
rianos de forma bastante original — 4/12 ao capital, 
5/12 ao trabalho e 3/12 ao talento. 
Fourier pregou, também, o regresso à terra, na 
sua «Teoria dos Quatro Movimentos», mas não livre 
e anàrquicamente, e sim distribuídos em Falanstérios, 
instalados em lugares «tecnicamente» escolhidos, de 
forma que, a cultura da terra, seria um eterno «cul- 
tivar de jardins». 
O trabalho atraente foi outra visão extraordiná- 
ria do caixeirinho sem eiras. «O trabalho, dizia êle, 
38 J. MONSERRAT 
nas sociedades civilizadas como nas escravagistas, con- 
tinua como uma condenação, uma maldição». Queria 
que o homem trabalhasse não por necessidade, desejo 
de lucro ou obrigação imposta por terceiros, mas com 
o mesmo prazer com que corre a uma festa. 
E isto seria possível, afirma Fourier. 
— substituindo o trabalho industrial pelo agrícolas; 
— pela divisão do trabalho em pequenos agrupa- 
mentos, e 
— garantindo um mínimo de subsistência a cada um. 
«Nenhum reformador social, nos fala Totomianz, 
alardeou uma imaginação tão desenfreada como Fou- 
rier, que sonhava em transformar a água do mar em 
potável e colhêr laranjas no Polo Norte, que predisse 
a abertura do Canal de Suez e imaginou uma comu- 
nicação interna para o seu Falanstério que recorda o 
telefone moderno. E Engels afirma que, onde Fou- 
rier aparece mais profundo, é na sua concepção da 
História e quando afirma «que a sociedade está em 
perpétuo movimento». 
WILLIAM KING 
Grande foi a obra dêste precursor. Médico, em 
Brighton, grangeou logo a simpatia e a benquerença 
dos pobres e humildes dessa vila, tornando-se ardo- 
roso propagandista da associação. Fundou a revista 
«The Co-operator», e publicou inúmeros trabalhos de 
cunho prático e útil ao soerguimento das populações 
laboriosas. No primeiro número de seu mensário, pu- 
blicado em 1.º de maio de 1828, inscreveu as seguintes 
sentenças: « o saber e a união são uma fôrça; a fôrça 
COOPERATIVISMO 39 
dirigida. pelo saber, é felicidade; a felicidade é o fim 
da criação». Sua filosofia era idealística e otimista. 
«É impossível, dizia êle, que só haja Senhores, pois, 
em trabalho, todo o dinheiro seria inútil». Levantou 
e defendeu a tese de que todo o capital é produto do 
trabalho e de que só a cooperação pode emancipar a 
pessoa humana da exploração. A sua associação de 
consumo de Brighton foi a primeira experiência in- 
glêsa dêste gênero e serviu de base à constituição de 
dezenas de outras, antes mesmo da cooperativa dos 
Probos Pioneiros de Rochdale. 
King interessou-se grandemente pelo ensino entre 
as classes trabalhadoras e apregoava que as coopera- 
tivas deviam criar bibliotecas, cursos de leitura, etc. 
Dizia êle em um de seus escritos: «A escola atual 
ocupa-se em cultivar a inteligência das crianças e de-
sinteressa-se pela alma infantil. Com a cooperação, 
porém, será mister organizar a escola a fim de que não 
forme sòmente homens cultos, mas, também, homens 
ativos e e bom caráter». 
É atribuído ao «The Co-operator», cuja tiragem 
ascendia a vários milhares de exemplares, grande in- 
fluência no sistema rochdaleano. Sua associação de 
Brighton, fundada em 1827, teve pouca duração, in- 
felizmente. 
LOUIS BLANC 
Natural de França, onde exerceu, por largo tem- 
po, 812 a 1882, intensa atividade política, é conside- 
rado como o principal teórico do Socialismo de Estado 
pois, em seus escritos, apresentava, na agremiação dos 
trabalhadores em «oficinas nacionais», a fórmula «mais 
favorável à emancipação econômica de uma classe e 
40 J. MONSERRAT 
o meio ideal de uma luta pacífica contra a ordem im- 
perante». 
Preconizando, para o Estado, atribuições de pla- 
nificação econômica ressaltava, todavia, que a assis- 
tência estatal a essas associações se restringiria ao 
início da sociedade que, depois de consolidada, deveria 
gozar de completa autonomia. 
Como tribuno de grandes recursos tomou parte 
ativa na Revolução de 1848, chegando, mesmo, a in- 
tegrar o Govêrno Provisório. Nessa oportunidade tin- 
giu o movimento associacionista que se avolumava em 
França de uma «tonalidade política, até então desco- 
nhecida, e da qual, daí por diante, dificilmente tem se livrado». 
Sua ação foi muito objetiva, dizem seus biógrafos. 
"Enquanto Fourier vivia em altas elucubrações, a 
busca de uma fórmula integradora para o bem-estar 
social, Louis Blanc imiscuia-se entre o povo semeando 
suas idéias». Esta a razão principal porque, não obs- 
tante o fracasso de suas iniciativas, arregimentasse 
prosélitos que, persistentemente, voltavam com novas 
tentativas, dadas as soluções locais e imediatas que 
sugeria seu plano. 
Escreveu vários panfletos e livros entre os quais 
teve grande repercussão a obra «Organização do Tra- 
balho» — 1840 — onde debateu e divulgou suas con- 
cepções político-econômicas sôbre o direito do trabalho. 
A «oficina nacional» que fundou em Paris, em 
1848, para a efetivação de suas teorias reformistas, 
logo logrou êxito. Agrupou cêrca de 2.000 membros 
e tinha por finalidade a fabricação de uniformes para 
a Guarda Nacional. Instalada na antiga prisão do Cli- 
chy, serviu de exemplo para mais de uma centena de 
associações de trabalhadores urbanos. 
COOPERATIVISMO 41 
Referindo-se a Louis Blanc, escreve Totomianz: 
«Segundo o seu projeto, estas associações deviam de- 
dicar-se, a princípio, sòmente a algumas indústrias, 
com o concurso e sob o contrôle do Estado e os be- 
nefícios realizados deveriam ser repartidos em partes, 
na seguinte ordem: 
— aos membros da sociedade, a proporção do 
tempo de trabalho de cada um; 
— para socorrer os inválidos e os desocupados; 
— para amortizar os empréstimos do Estado; 
— para auxiliar novas iniciativas associacionistas. 
Apregoando a «honra do trabalho» como suces- 
sora da «honra militar», via, nessa mística, uma maior 
contribuição à produtividade do que a própria concor- 
rência mercantilista. E, por meio dela, perava que 
as associações de trabalhadores oderiam substituir 
com facilidade as emprêsas dustriais e agrícolas. 
Desta maneira, o Estado, uxiliando-as, não teria ne- 
cessidade de recorrer à edidas de violências nem de 
confiscação». 
Afora os conceitos sôbre a necessidade e os re- 
ltados da associação como elemento retificador da 
trutura econômica, a grande, a inestimável herança 
ue legou ao movimento cooperativista moderno, re- 
side na criação do fundo coletivo e indivisível conce- 
bido por Buchez, e com que dotouos «ateliers natio- 
naux», organizados sob sua inspiração, e que hoje 
constitui parte integrante de inúmeras legislações, in-
clusive a nossa. 
 
ROCHDALE E ESTRUTURAÇÃO DO MOVI- 
MENTO COOPERATIVO 
OS PIONEIROS 
Embora tenham surgido muitas controvérsias e 
disputas em tôrno do berço onde se depurou, e se 
consolidou tôda a imensa fertilidade dos Utopistas, a 
«Rochdale Equitable Pioneer’s Society», é reconheci- 
da hoje como um marco ZERO das realizações e ex- 
pansão do cooperativismo. Pois «se não foi ela quem 
imaginou êste sistema, a ela cabe a honra de ter sido 
a primeira a estruturá-lo e tragar-lhe os seus princí- 
pios fundamentais». 
A Cooperativa dos Probos Pioneiros de Rochdale 
nasceu da mesma forma que as agremiações econô- 
micas que a antecederam, impelida pelos efeitos da 
expansão do industrialismo inglês. 
As dificuldades econômicas que já vinham de 
longe, como vimos, encontraram, nos 28 tecelões, um 
grau maior de necessidade e a experiência do fracasso 
das associações de Brighton, sedimentou-se aí, indi- 
cando que havia alguma coisa a corrigir. 
E, assim, em 21 de dezembro de 1844, foram aber-
tas as portas do andar térreo de um velho casarão do 
44 J. MONSERRAT 
Beco do Sapo, com um capital de 28 libras, subscritas 
por: James Smithiers, William Cooper, John Collier, 
Miles Ashworth, James Tweedale, John Heill, John 
Holt, Charles Howarth, David Brooks, Samuel As- 
worth, William Mallalien, James Daley, John Bent, 
John kershaw, John Scowcroft, James Staudring, Jo- 
seph Smith, Robert Taylor, James Wilkinson, Georges 
Healy, James Maden, James Manock, Willian Taylor, 
Benjamin Reedmac, John Garside, James Bramford e 
Ana Tweedale. 
Os estatutos redigidos por Charles Howarth — o 
Arquimedes da Cooperação — são considerados como 
um manifesto, verdadeiro programa da cooperação. 
Vale a pena conhecê-los, pois constituem a base 
dos princípios fundamentais desta doutrina, não só 
aceitos no mundo inteiro como reconhecidos no batis- 
mo legal de quase tôdas as legislações. 
«A Sociedade tem por objeto conseguir um bene- 
fício — pecuniário e melhorar as condições domésticas 
e sociais de seus membros, reunindo um capital divi- 
dido em ações de uma libra — que permita pôr em 
prática o seguinte: 
— abrir um armazém para suprimento de gêneros, 
vestuários, etc.; 
— construção ou compra de casa para os sócios; 
— produzir artigos de consumo imediato a fim de 
dar emprêgo aos sócios desempregados; 
— comprar ou arrendar terras para os sócios; 
— constituir colônias autônomas e auxiliar a orga- 
nização de outras cooperativas; 
— organizar campanhas pró-temperança. 
Para a execução dêsses tão nobres objetivos fo- 
ram estabelecidas as seguintes normas: 
1 — Pagamento à vista. 
2 — As vendas se realizarão ao preço corrente na 
praça. 
COOPERATIVISMO 45 
3 — Distribuição dos resultados «pro-rata» às com- 
pras de cada um. 
4 — Juros reduzidos ao capital. 
5 — Todos os sócios gozarão de igual direito, qual- 
quer que seja o sexo, idade, profissão e quotas 
que possuir. 
6 — Cada sócio terá direito a um voto e sòmente a 
um. 
7 — Neutralidade política e religiosa. 
8— Contabilidade metódica, revisada periódicamente, 
e balanço à disposição dos sócios. 
Trimestralmente seria feita a distribuição dos re- 
sultados depois de atender a: 
a) gastos de administração; 
b) Juros ao capital; 
c) amortização das existências; 
d) percentagem destinada ao fundo social indivisível; 
e) 2,5% para manter escolas, bibliotecas, etc. 
O êxito dos Pioneiros não tardou. Lutas, incom-
preensões e o sarcasmo público com que foram brin- 
dados em seus primeiros passos, ao invés de arrefecer 
os ânimos, retemperou a vontade daqueles homens e o 
s ligou ainda mais, cimentando, num mesmo bloco, so-
cialistas, cartistas, conservadores e cooperadores para 
a dificação de sua iniciativa. 
Na base democrática das resoluções definitivas sò- 
mente serem tomadas pelas assembléias, das vendas 
à dinheiro e ao preço corrente na praça, puderam, em 
pouco tempo, multiplicar o capital e os resultados. 
Com a distribuição dos lucros na proporção das 
operações de cada associado e o pagamento de um 
juro reduzido às quotas, vincularam, de forma ainda 
mais concreta, o cooperador e a sua Casa, despertan- 
do-lhe maior interêsse pelo desenvolvimento e progres- 
so da organização. 
Fiéis a essas normas e não medindo sacrifícios 
para cumpri-las, em breve sua ação proveitosa e exem- 
46 J. MONSERRAT 
plificadora tomava vulto, estimulando a constituição 
de outras cooperativas não só na Inglaterra, mas, ul- 
trapassando os limites de sua pátria, influenciava po-
derosamente as classes necessitadas de outros países. 
Não cessa aí, todavia, a herança legada pelo Pio-
neiros. 
Com a constituição de outras entidades em Lan-
cashire, Yorkshire, cedo compreenderam êles a impos-
sibilidade das cooperativas de consumo realizarem, efi-
cientemente, suas finalidades, enquanto vivessem isso- 
ladas, entocadas em seus bairros e cidades. 
Se os consumidores podiam prescindir dos arma- 
zéns varejistas, ingressando naquelas organizações, elas 
contudo, não poderiam, de forma alguma, ampliar seus 
objetivos, beneficiar, de maneira mais concreta e va- 
riada, as mensas necessidades de seus membros, con- 
tinuando ada uma em seu canto, como irmãos de uma 
família desunida — suas vantagens seriam sempre 
reduzidas e limitadas. 
Além disso, percebiam claramente que, mesmo au-
mentando o volume de seus negócios, não lhes seria 
possível dispensar os fornecimentos dos atacadistas, 
os quais, era de presumir-se, não tardariam a criar-lhes 
dificuldades, como fregueses sem maiores tradi- 
ções e garantias que o entusiasmo e a idéia mesma 
de progredir e emancipar-se. 
Afigurava-se, também, a êstes homens, que po- 
deria ocorrer amanhã, eliminando sómente um 
intermediário, que viessem, na verdade, apenas 
substituí-lo, para recomeçar de outra forma o que 
desejavam destruir — a concorrência. 
Estas apreensões concretizaram-se mais 
tarde quando os Pioneiros resolveram instalar um 
armazém para fornecimento por atacado aos seus 
vários postos e às sociedades congêneres das 
vizinhanças, as quais, 
COOPERATIVISMO 47 
sem, disporem de maiores recursos, experiência e or- 
ganização, dificilmente podiam suprir-se convenientemen- 
te. 
As medidas práticas que o próprio trabalho quo-
tidiano ia sugerindo, convenceram-lhes, logo depois do 
fracasso dêsses fornecimentos, que «idéia federativa 
deriva, em forma natural, do principio estrutural mesmo 
do sistema cooperativo e que, para substituir aos ata- 
cadistas e todos os demais intermediários, as cooperativas de 
consumo precisavam constituir entre si federações regionais e 
nacionais, organizadas sob os mesmos princípios que as 
próprias sociedades constituintes ». 
Esta magnífica e oportuna observação extraída das 
entranhas de uma experiência diuturna, levou a Abraham 
Greenwood a propugnar e ver todo o seu esfôrço coroado de 
êxito com a fundação, em 1864, de uma sonhada Wholesale 
— Cooperativa de Consumo do Norte da Inglaterra para o 
Fornecimento porAtacado — e, com ela, iniciar a produção de 
manufaturas, artigos diversos e a importação direta de 
produtos de além-mar, para satisfazer, o mais integralmente 
possível, às necessidades de consumodos cooperativistas 
inglêses. 
A A.C.I. 
As idéias de Rochdale, em sua aceitação, e as 
iniciativas por elas inspiradas em todos os qua- 
drantes da terra, necessitavam, no entanto, de uma 
codificação, de uma síntese, capaz de estruturar o 
movimento que se ampliava, dando a unidade ne- 
cessária à sua corporificarão doutrinária. 
Já o principio da distribuição dos resultados, 
a reposição do capital nos justos têrmos de elemento de 
48 J. MONSERRAT 
uso na criação da riqueza e a concepção de que não 
se deve produzir simplesmente para o mercado, mas 
para satisfazer, primordialmente, as necessidades dos 
grupos organizados, constituia, por si só, as pre- 
missas básicas de um novo sistema que vinha 
revolucionar o modus imperandi da caça ao lucro e 
da concorrência, sem se observar a situação que se 
criava com a concentração cada vez maior do 
trabalho fabril e do assalariamento das populações. 
A necessidade de dar feição orgânica ao mo- 
vimento, através de um centro de irradiação e disci- 
plinamento cooperativo, pela propaganda e o 
incentivo do intercâmbio de relações entre as 
organizações cooperativistas, foi sentida, 
inicialmente, entre outros, por M. de Boyve, que 
formulou uma proposição tendente a constituí-lo, 
durante o Congresso das Cooperativas Inglesas, 
realizado em Plymouth, no ano de 1886. 
A Aliança Cooperativa Internacional, não 
obstante, só foi fundada dez anos mais tarde, em 
Londres, num dia de setembro de 1895. 
De acôrdo com estatuto, então aprovado: 
«A Aliança Cooperativa Internacional, 
continuando a obra dos Pioneiros de Rochdale, 
persegue com toda a independência e com seus meios 
próprios, a substituição do regime atual de 
concorrência entre os comércios privados, por um 
regime cooperativo da comunidade, baseado na ajuda 
mútua dos cooperados associados. 
A A.C.I. tem por fim: 
a) – o estabelecimento dos princípios e métodos 
cooperativos; 
b) – o desenvolvimento da Cooperação em todos 
os países ; 
c) – o estreitamento das relações amistosas entre os 
membros da Aliança; 
 
Fotografia tirada em 1865, na qual aparecem treze dos 
fundadores da «Rochdale Equitable Pionerr’s Society». 
 
A famosa casa de Toad Lane (Beco do Sapo), atual- 
mente transformada em Museu Cooperativo. 
COOPERATIVISMO 49 
d) — a defesa, dos interêsses do movimento cooperativista 
e a dos consumidores em geral; 
e) — fornecer informações e estimular os estudos 
concernentes à Cooperação; 
f) — o desenvolvimento do intercâmbio de produtos e 
mercadorias entre as organizações ooperativas 
dos di versos países. 
A Aliança não se ocupa de política nem de reli- 
gião. Considera a cooperativa como um terreno neutro, no 
qual as pessoas de opiniões as mais variadas e das crenças 
mais iversas podem encontrar-se e trabalhar em comum. 
Tal neutralidade, sôbre a qual repousa a unidade do 
movimento cooperativista internacional, deve ser observada 
em tôdas as ocasiões, como em tôdas as suas publicações e na, 
atividade de todos os seus órgãos. 
Nos trabalhos, iniciais a orientação da A.C.I., ontudo, 
tendia mais, ou melhor, quase que exclusivamente, para o 
cooperativismo de consumo, possìvelmente porque, na 
realidade, o movimento rochdaleano se desenvolvia nesse 
setor. 
E, ao sistema cooperativo estruturado em Rochdale 
para defesa dos consumidores, veio se juntar, na segunda 
metade do século XIX, o trabalho de Hermann Schulze-
Delitzsch e Frederico Guilherme Raifeisen, na Alemanha, uigi 
Luzzati e Leone Wollemborg, na Itália, criando as Caixas 
Rurais e Bancos Populares e, desenvolvendo, com a instalação 
e propaganda dêsses organismos de crédito, as cooperativas 
agrícolas, cujos métodos de trabalho, aprovisionamento e 
venda em comum já eram conhecidos até mesmo na América, 
como vimos em Capítulo anterior 
As crises periódicas, moléstia endêmica da ordem 
capitalista, e a Primeira Guerra Mundial, dêste século, foram, a 
pouco e pouco,acentuando as contradições 
50 J. MONSERRAT 
evidentes entre as classes sociais e aflorando, de forma 
mais aguda, a necessidade de organização dos homens 
no sentido de equacionar os problemas que se avolumavam 
nos setores da produção e do crédito popular. 
Frente ao crescimento da organização cooperativa e 
à sua frutificação nos mais variados setoresda atividade 
humana, e «sentindo a necessidade de conhecer-se como, e 
até que ponto, os princípios rochdaleanos eram aplicados 
pelas cooperativas existentes», a delegação francesa 
apresentou, ao Congresso da A. C. I., levado a efeito em 
Viena, em 1930, uma proposta nesse sentido. 
Aprovada a proposição francesa, foi nomeada 
uma Comissão Especial para estudar o assunto e, 
oportunamente, apresentar seu relatório. 
Êste documento da Comissão Especial, embora 
baseado no estudo e investigação dos arquivos, 
manifestos, estatutos, atas, etc., de Rochdale, em 
depoimentos de Miles, um dos veteranos da sociedade dos 
Pioneiros, e de uma filha de James Smithies, também um 
dos 28 tecelões, conforme nos informa Poisson, não foi 
aprovado pelo Congresso de Londres, em 1934. Sòmente 
após um reestudo feito pela Direção da A.C.I., é que o 
Relatório daquela Comissão foi aprovado, contra dois 
votos, pelo Congresso realizado em Paris, a 7 de setembro 
de 1937, onde achavam-se representados mais de 30 
países, através de 500 delegados. 
Desde esta data memorável para a universalidade 
cooperativista, ficou reconhecido e aceito por todos, como 
Princípios Fundamentais do Cooperativismo, Os 
consagrados naquele conclave e que estudaremos, 
sucintamente, a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO 
COOPERATIVISMO 
I — Adesão Livre. 
Conhecido como «princípio da porta aberta», si- 
gnifica que o ingresso é livre em uma cooperativa, in- 
dependentemente de raça, côr, ideologia política, con- 
fissão religiosa, etc., ressalvadas, é claro, as condições de 
idoneidade. Esclarecendo êste princípio, a Comissão Especial 
concluiu que a adesão livre não implica, necessàriamente, que 
seja voluntário êsse ingresso e que o fato do Poder Público 
poder torná-lo compulsório não desnatura o caráter próprio de 
sociedade cooperativa. A êste respeito os autores divergem. 
Enquanto uns vêem, na liberdade de contratar, o elemento útil 
e indispensável à ação cooperativa, nos têrmos ditados pelos 
Pioneiros, outros, aceitando o sentido evolutivo da concepção 
cooperativista e o processo dinâmico das relações sociais, 
concordam com a filiação obrigatória, «uma vez que o Estado 
respeite a sua autonomia, o contrôle democrático de seus 
membros e a estrutura federativa, partida esta debaixo para 
cima e não por imposição de governantes para gover- 
nados» — Fauquet. 
52 J. MONSERRAT 
II — Contrôle Democrático. 
O Cooperativismo é a expressão econômica da de- 
mocracia e o ambiente de liberdade que êste sistema 
propicia é clima indispensável ao seu perfeito funcionamento. 
Por isto, na prática cooperativa, os Pioneiros ob-
servaram a «igualdade» entre os sócios, o «voto singular» e a 
«administração plural». 
A direção se deve compor de órgãos coletivos de 
deliberação, execução e contrôle e a sua escolha deverá ser a 
expressão da vontade social, apurada em sufrágio direto e 
secreto, tendo cada associado um só voto, qualquer que seja a 
sua participação no capital da sociedade. 
III — Devolução dos Resultados «Pro-Rata» Às Ope- 
rações de Cada Sócio. 
O lucro para quem contribuir para formá-lo.Êste é, sem dúvida, o «princípio de ouro» desta 
instituição. Devido ao «intelectual» dos Pioneiros — 
Charles Howarth — constitui a pedra angular da cooperação e o 
seu ponto diferencial máximo no concêrto dos sistemas de 
associação econômica. 
Gide vê, neste princípio, «o segredo do êxito alcançado 
pelo cooperativismo no mundo e a razão porque concretiza 
econômicamente e sem luta o aumento da capacidade aquisitiva 
dos associados, beneficiando não só êstes como a sociedade 
onde laboram; pois, até então, todos os benefícios do 
associacionismo eram repartidos em função do capital que 
representava o poder e a capacidade de satisfazer às 
necessidades individuais». 
COOPERATIVISMO 53 
Ora, as necessidades de consumo sendo comuns à 
gregos e troianos, devem marcar as oscilações e a 
respectiva retribuição de parte do organismo social 
que tem de caber a cada um, na medida em que se de- 
senvolve o processo de produção e os métodos mais 
consentâneos à debelação dessas necessidades. 
IV — Juro Limitado ao Capital. 
Ao capital, como um dos fatôres da produção, cabe 
desempenhar a sua função também na sociedade cooperativa. 
Por isto se justifica a sua remuneração. 
Todavia, integrando-se na engrenagem cooperativista, 
servirá apenas de lubrificante à eficiência da máquina e não de 
máquina de eficiência. 
Os juros que se lhe atribuam não devem ser altos, pois, 
se assim acontecer teremos, dentro de uma sociedade de pessoas, 
com caráter sui-generis, o aspecto capitalístico das emprêsas 
comerciais, num hibridismo condenável e contraproducente à 
«subordinação do útil à moral». que procura consagrar, no 
cumprimento de seus elevados objetivos. 
V — Neutralidade Política e Religiosa. 
Êste ponto merece um esclarecimento especial. Assim 
se manifestou sôbre êle o Comité Especial, no Congresso A.C.I.: 
«A neutralidade não significa renúncia das responsabilidades 
que têem os cooperados de defender os legítimos interêsses de 
seu sistema econômico ante os Poderes Públicos. E essa 
responsabilidade é tanto maior quanto a cooperação não se 
identifica com nenhum grupo ou partido político, em par- 
54 J. MONSERRAT 
ticular». E mais adiante afirma: «A neutralidade im- 
plica no reconhecimento da devoção completa do movi- 
mento à comunidade, baseada na melhoria econômica 
e social, independente da significação que uma idéia, 
política ou religiosa, possa ter para qualquer um de 
seus membros». 
Deve ser tomado, portanto, como independente da 
política partidária e nunca como organismo neutro, 
no sentido que nos ensinam as ciências físicas e na- 
turais. 
VI — Vendas a Dinheiro. 
Este princípio que melhor poderíamos chamar de 
norma fundamental, apresenta dupla vantagem na prá- 
tica cooperativista: social — educa o associado; eco- 
nômica — consolida o organismo social. 
Repetto, defendendo êste princípio integrante da 
lei argentina, alinha um argumento de ordem finan- 
ceira que merece ser divulgado, mormente aqui, onde 
o sistema das vendas a crédito é polvo insaciável: 
«Numa cooperativa é necessário, para que as coisas 
marchem bem, que o seu capital gire 5 ou 6 vêzes du- 
rante o exercício social. Como, pois, poderia girar 5 ou 
6 vêzes durante o ano, o capital, se seus sócios ad- 
quirissem mercadorias a crédito? Com que dinheiro 
renovaria o estoque dos artigos de consumo que se 
esgotam ràpidamente, como açúcar, arroz, café, etc.? 
Para repor seus estoques e mantê-los em condições de 
atender seus associados, só o pagamento à vista resolve, 
satisfatóriamente, a situação, pois a ninguém se 
lhe ocorre, certamente, que a cooperativa, para tanto, 
peça dinheiro emprestado aos Bancos...». 
COOPERATIVISMO 55 
Na Inglaterra, as cooperativas de consumo sinte- 
tisaram a sua vasta experiência na seguinte conclusão: 
«O Crédito, que pode ser útil ao comércio ordinário, 
encarece o preço das mercadorias em 25%, o que si- 
gnifica que, se não houvesse o crédito, poderíamos 
consumir mais um quarto do que gastamos hoje para 
viver». 
VII — Fomento ao Ensino. 
Uma escola que se abre é uma prisão que se fe- 
cha, afirmou célebre pensador. E os Probos Pioneiros 
de Rochdale não esqueceram que o êxito da obra que 
realizavam necessitava alicerçar-se nas amplas e só- 
lidas bases da educação popular — daí os 2,5% dos 
resultados anuais que destinavam à manutenção de 
escolas e bibliotecas. 
O «Comité de Paris», além de exaltar êsse prin- 
cípio epropor a sua mais estrita observância pelo Movimento, 
conclui que, nos estatutos das cooperativas, devem ser 
regularmente destinadas percentagens das sobras líquidas para 
o fomento do ensino, dando prioridade, é claro, aos 
cooperadores, a fim de que possam, conscientemente, 
conseguir o seu ideal. 
 
 
CONCEITO E DEFINIÇÃO 
Desta exposição, onde se caracteriza, a cada pas- 
so, como fatôres essenciais do processus cooperativistas, 
a necessidade e a união de esforços como meios de 
satisfazê-la, decorre, naturalmente, a conceituação do 
cooperativismo, a definição do organismo que lhe serve à 
efetivação dos seus princípios e o caráter que assumem 
suas atividades. 
Sem nos alongarmos demasiadamente neste 
ponto, podemos fixar-lhe o conceito, dizendo que o 
cooperativismo é um sistema de organização econômica 
em que o homem exercita livre e disciplinadamente sua 
atividade, tendo em vista não apenas simplesmente a 
satisfação pessoal, imediata egoísta de suas neces- 
sidades mas, pela ação conjunta, o conjunto de neces-
sidades do meio em que trabalha e onde elas (suas 
necessidades) se encontram integradas. 
Sua divisa, um por todos e todos por um, escla- 
rece perfeitamente. 
O sentido da solidariedade que origina nos con- 
firma que «aquêle que trabalha por todos, trabalha, 
trabalha também por êle próprio». E a consciência que 
inspira esta realidade dá-lhe foros de um movimento reti- 
ficador e a vitalidade e o vigor indispensáveis para que 
58 J. MONSERRAT 
possa alcançar seus propósitos de bem-estar, demo- 
cràticamente. 
Sem ser anticapitalista, stritu-sensu, luta para 
colocar o capital no seu justo pôsto, como lubrificante 
à eficiência da máquina e não como máquina de eficiência. 
Sem ser politico ou confessional, compreende a 
política como uma necessidade para o exercício das 
aspirações populares e a religião, como um sentimento, uma 
questão de foro íntimo, da exclusiva vontade de cada um de 
seus membros, entre os quais exige respeito e compreensão 
recíproca. 
Sem cogitar os méritos das fronteiras nacionais, êle 
prega o trabalho e a cooperação entre os homens das mais 
distantes latitudes e reconhece a universalidade dos 
problemas econômicos, para sugerir a solução cooperativa. 
Assim, o cooperativismo, torna-se, aos nossos 
olhos, um movimento pacífico de reivindicação social na 
ordem econômica, que reune, coordena e disciplina os 
agrupamentos humanos que se abrigam à sua sombra e, 
através do sistema que decorre da adoção de seus princípios, 
organiza a economia em bases realmente democráticas e 
oferece oportunidade ao desenvolvimento das relações de 
produção, em consonância com as necessidades do 
consumo, e das inteligências nacionais, em sua constante 
evolução. 
* * * 
Daí a definição do organismo que a vivifica e lhe 
enriquece constantemente os conhecimentos com a ex- 
periência da luta quotidiana, plasmando seu espírito e 
dando-lhe o dinamismo e a resistência capaz de fazê-lo 
sobreviver a todos osembates por que tem passado. 
COOPERATIVISMO 59 
Muitas são as definições com que os estudiosos 
situam a sociedade cooperativa. 
No entanto, pelo que acabamos de sentir, a co- 
operativa é uma emprêsa econômica e uma instituição 
econômico-social. E, como tal, temos de compreendê-la e 
defini-la. 
Como emprêsa podemos dizer que «a sociedade 
cooperativa é uma associação de pessoas, que organiza 
em comum uma emprêsa de natureza econômica para 
prover, primordialmente à satisfação de necessidades 
individuais dos que a compõem, e com o fito de partilhar, 
entre êles, as vantagens da supressão do intermediário». 
— A. Gredilha. 
Como instituição, ela se nos apresenta como a 
associação que forja e dinamisa a idéia da subordinação 
dos interêsses individuais aos supremos interêsses da 
comunidade, submetendo o sentido do útil ao da moral 
social. 
Uma e outra, contudo, não constituem manifesta- 
ções separadas ou descontínuas. Ao contrário, coexis- 
tem. E, justamente de sua coexistência e de sua si- 
multaneidade ou não, na vida dessa sociedade, é que 
teremos, ou não, a exata expressão cooperativista do 
sistema. 
Pois, é através dessa conjugação, desta coincidên- 
cia da emprêsa e da instituição, agindo simultânea- 
mente, que a cooperativa promove não apenas as van- 
tagens materiais momentâneas que nascem da asso- 
ciação de esforços, mas também aquelas com que visa 
corrigir a injusta distribuição atual da riqueza e dar 
um conteúdo social à atividade do homem, para que 
cumpra, sem vacilações, a sua grande tarefa na vida. 
A NATUREZA CIVIL OU MERCANTIL DA 
SOCIEDADE COOPERATIVA 
Finalmente, a natureza jurídica da sociedade co- 
operativa depende, como é óbvio, do caráter de seus 
objetivos. Na conformidade como concretise suas fi- 
nalidades, ela será civil ou mercantil. Não será, pois, como 
efetivamente não o é, a lei que declara civil ou mercantil uma 
sociedade. E, no caso específico da cooperativa, o artigo 38, do 
Decreto 22.239, apenas enumera as de um e outro caráter, tendo 
em vista as diversas categorias pelas quais distribuiu, a título de 
exemplificação, e suas respectivas, atividades econômicas. 
Entretanto, independente de seu caráter civil ou 
mercantil «... são sociedades de pessoas e não de capitais, de 
forma jurídica sui-generis...» na límpida conceituação do artigo 
2.º, daquele Decreto. E é justamente êste aspecto peculiar e 
comum a tôdas elas que promove confusões sôbre a natureza das 
cooperativas e das sociedades não comerciais. 
A distinção, por isto mesmo, se impõe, não só pela 
necessidade de um perfeito esclarecimento teórico de 
uma situação, como, e principalmente, para os efeitos 
62 J. MONSERRAT 
práticos das relações de direito daí decorrentes e bas- 
tante diversas. 
As cooperativas de natureza civil não estão su- 
jeitas ao instituto da falência, visto não realizarem o 
que, em nosso direito, é reconhecido como ato de co - 
mércio. Chegadas a esta situação deve ser declarada a 
insolvência da sociedade, de acôrdo com o que 
determina o Código Civil — artigos 1.554 e seguintes, 
aplicáveis à espécie — a qual se processará nos têrmos 
do Código Processual respectivo. 
Exemplifiquemos: 
Uma cooperativa de consumo será sociedade civil 
sempre que operar, exclusivamente, com seus associa- 
dos, e mercantil quando transacionar com pessoas es- 
tranhas ao seu quadro social. 
As organizações vitivinícolas enquanto apenas 
beneficiarem o vinho elaborado por seus associados se - 
rão de natureza civil, transformando-se em mercantil no 
momento em que passarem a industrializar a uva. 
Assim, as de produtos suínos, trigo, carne, etc., uma vez 
que o seu objetivo seja a industrialização da matéria- 
prima produzida por seus associados, pois os atos 
praticados por uma emprêsa industrial são considerados 
atos de comércio pelo nosso direito, mesmo que essa 
emprêsa seja de ordem cooperativa. 
 
 
ENSAIO ESTATÍSTICO INTERNACIONAL DAS 
SOCIEDADE COOPERATIVAS 
Sob êste título, o Bureau Internacional do Traba- 
lho, deu à publicidade, meses antes de irromper a Se- 
gunda Guerra Mundial, um interessantíssimo e opor- 
tuno informe, onde condensa, em números, o pujante 
movimento cooperativista no Mundo. 
Embora não seja, como se lê na sua introdução, 
um trabalho perfeito, é, sem dúvida, uma contribuição de 
inestimável valor e nos dá uma idéia bastante aproximada 
da expansão do cooperativismo no Mundo, Já naquela 
época. 
Os dados que transcrevemos referem-se, como se 
pode observar, a uma síntese estatística e constituem o 
quadro final que reune o número de sociedades e de seus 
associados, cujas informações foram colhidas entre: 
55 países para as de consumo 
28 ,, ,, ,, ,, habitação 
56 ,, ,, ,, ,, profissionais não-agrícolas 
89 ,, ,, ,, ,, agrícolas 
16 ,, ,, ,, ,, diversas 
64 J. MONSERRAT 
Além disso advertimos que: 
Nas de consumo, incluem-se os dados referentes 
às universitárias, às mistas, etc. 
Nas de habitação, foram computadas também as 
de crédito do lar. 
Nas cooperativas agrícolas estão compreendidas 
as de crédito e de seguros mútuos. 
Nas classificadas com «diversas» acham-se incluí- 
das as não compreendidas nos grupos aludidos e reu- 
nem os tipos relativamente raros, como as cooperati- 
vas sanitárias, telefônicas, etc. 
 
MOVIMENTO COOPERATIVO NO MUNDO 
Grupos geográficos N.º de Coop. Associados Dados de 
ÁFRICA : 
Consumo ........... . 46 16.397 
Prof. não agrícolas. 28 2.764 
Agrícolas .......... ... 3.529 312.750 
TOTAL:....... 3.598 331.911 (3.483) 
AMERICA: 
Consumo ........... 4.061 585.808 
Habitação ............ 10.078 5.002.248 
Agrícolas ............ 28.289 7.474.272 
Prof. não agrícolas. 7.208 1.444.474 
Diversas ................ 6.080 168.124 
TOTAL: ..... 51.251 14.674.426 (45.724) 
ÁSIA: 
(menos a U.R.S.S.) 
Consumo ............ 988 330.155 
Habilitação .......... 377 17.624 
Prof. não agrícolas. 13.968 2.160.556 
Agrícolas ............. 15.222 12.350.036 
Diversas .......... ..... 9 2.095 
TOTAL: ........... 167.554 14.860.466 (156.570) 
U. R. S. S.: 
Consumo ........... 24.113 39.200.000 
Prof. não agrícolas. 15.577 2.032.350 
Agrícolas ............. 246.905 19.156.921 
TOTAL: ............ 286.595 60.389.271 (286.595) 
EUROPA: 
(menos a U.R.S.S.) 
Consumo ............ 19.426 18.621.180 
Habitação ............ 10.747 3.261.163 
Prof. não agrícolas. 20.171 5.289.478 
Agrícolas ............ 246.435 24.995.552 
Diversas ............... 3.544 253.296 
TOTAL: 300.323 52.470.589 (247.981) 
OCEANIA: 
Consumo ................. 169 131.167 
Habitação ................ . 277 127.319 
Agrícolas ................. . 745 275.794 
TOTAL: ............. 1.191 584.280 (1.191) 
TOTAL GERAL: ...... 810.512 148.260.953 (741.543) 
MOVIMENTO 
COOPERATIVO 
DISTRIBUIÇÃO GEOGRAFICA DAS COOPERATIVAS 
Regiões e Estados Nº de Nº de Capital 
NORTE: Cooperativas Associados 
Acre ....... ..... . ....... 8 375 335.530,00 
Amapá ........ .. ....... 3 208 351.295,00 
Amazonas ............. 6 2.378 299.609,00 
Guaporé ................. 1 23 264.200,00 
Pará ...... .. .. .. ........ 76 4.713 1.477.668,00 
Rio Branco ....... ..... — — — 
Total Norte ............. 94 7.697 2.708.297,00 
NORDESTE: 
Maranhão ............... 21 3.524 477.921,00 
Piauí .................... ... 19 1.940 753.824,00 
Alagoas .. ...