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1 INTRODUÇÃO O termo “fator antinutricional” tem sido usado para descrever compostos ou classes de compostos presentes numa extensa variedade de alimentos de origem vegetal e animal, que quando consumidos, reduzem o valor nutritivo desses alimentos. Eles interferem na digestibilidade, absorção ou utilização de nutrientes e, se ingeridos em altas concentrações, podem acarretar efeitos danosos à saúde, como diminuir sensivelmente a disponibilidade biológica dos aminoácidos essenciais e minerais, além de poder causar irritações e lesões da mucosa gastrintestinal, interferindo assim, na seletividade e eficiência dos processos biológicos. O conhecimento da presença de fatores antinutricionais e/ou tóxicos, que possam afetar o valor nutricional de alimentos se faz cada vez mais necessário, principalmente nas hortaliças, pois a busca por alimentos saudáveis tem aumentado, especialmente na população brasileira. Entre os fatores considerados antinutricionais nós temos os fitatos, taninos, nitritos, nitratos, oxalatos, inibidores de proteases, glicosídeos cianogênicos, lectinas e inibidores de proteases. Tem-se assim, por exemplo os taninos que tem habilidade em precipitar proteínas, os fitatos que podem formar complexos com proteínas e minerais e os oxalatos que podem precipitar com o cálcio, formando cristais insolúveis e cálculos renais nos indivíduos. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1TANINOS Os alimentos que possuem a presença de taninos têm habilidade de precipitar proteínas, ou seja, são considerados como antinutrientes por causa do efeito adverso na digestibilidade da proteína. Em dietas de seres humanos taninos podem reduzir a digestibilidade da proteína, carboidratos e minerais; diminuir a atividade de enzimas digestivas, além de causar danos à mucosa do sistema digestivo ou exercer efeitos tóxicos sistêmicos. Os taninos são metabólitos secundários presentes em plantas e, geralmente, divididos em dois tipos: hidrolisáveis (galotaninos, elagitaninos) e condensados (não hidrolisáveis), formados por polímeros de proantocianidinas. Os taninos galotaninos, encontrados na maioria dos frutos como caqui e banana, são polímeros do ácido gálico. Já os taninos elagitaninos são formados por ácido elágico, composto utilizado no tratamento preventivo de câncer e amplamente encontrado em frutas vermelhas (morango, framboesa e amora). Por sua vez, os taninos condensados são responsáveis por determinadas características como adstringência e precipitação de proteínas e são encontrados em cascas de árvores (acácias) e em folhas. O conteúdo de taninos nas plantas pode variar de acordo com as condições climáticas e geográficas, maturação, dentre outros, e podem apresentar uma composição química variada, sendo muitas vezes, pouco conhecida. Na forma não oxidada, os taninos reagem com proteínas através de pontes de hidrogênio e/ou ligações hidrofóbicas. Quando oxidados, os taninos se transformam em quinonas, as quais formam ligações covalentes com alguns grupos funcionais das proteínas, principalmente os grupos sulfídricos da cisteína e ω-amino da lisina. A complexação dos taninos com as proteínas tornam-as insolúveis e inativam as enzimas. Essa complexação é a principal base do efeito biológico e é dependente do pH e envolve ligações hidrofóbicas e pontes de hidrogênio. Além disso, se ligam a outras macromoléculas como o amido causando dessa maneira a redução no valor nutricional dos alimentos. Processos como a germinação e moagem parecem ser eficazes na redução do teor de taninos em leguminosas e cereais, respectivamente. 2.2 NITRATOS E NITRITOS Os nitratos estão presentes em todas as plantas e são fontes essenciais de nitrogênio para o seu crescimento normal. No ser humano, interfere no metabolismo da vitamina A e nas funções da glândula tireóide, podendo sofrer redução a nitrito no organismo e, após absorvidos, originar cianoses devido à formação de metamioglobina, ou ainda, reagir com aminas secundárias e terciárias formando composto N-nitrosos, potencialmente carcinogênicos. Nitratos (NO3 -) e nitritos (NO2 -) podem estar presentes naturalmente, nos alimentos de origem vegetal e animal e na água, em decorrência do uso de fertilizantes na agricultura. As principais fontes de exposição alimentar a nitratos e nitritos incluem os vegetais, produtos cárneos, peixes e aves processados e defumados, aos quais se adicionam nitratos e/ ou nitritos,n e ainda a água se esta for recolhida em locais onde exista contaminação por nitratos de origem agrícola. As plantas são a principal fonte de nitratos (80- 90%), enquanto os produtos processados e curados são a principal fonte de nitritos. Estima-se que as hortaliças, em particular as verdes folhosas, contribuam com mais de 70% do nitrato total ingerido. No entanto, as concentrações normais de nitrato e nitrito nos alimentos naturais dependem do uso de fertilizantes e das condições nas quais os alimentos são cultivados, colhidos e armazenados. Nitratos e nitritos são substâncias que podem produzir efeito tóxico aos indivíduos pelo consumo de alimentos. Esses efeitos poderão ser severos ou não, dependendo da quantidade ingerida e da susceptibilidade do organismo. Os nitritos podem reagir com aminas secundárias e terciárias tanto in vivo como no próprio alimento, originando composto N-nitrosos (nitrosaminas) de elevado potencial carcinogênico, teratogênico e mutagênico. No trato gastrintestinal, o nitrato pode ser convertido em nitrito pela ação de bactérias redutoras e este pode ser transformado em nitrosaminas no estômago. Evitar o consumo de alimentos defumados e processados (embutidos, conservas etc.) é uma excelente forma de afastar os riscos provocados por essas substâncias. 2.3 FITATOS Os fitatos são encontrados em cereais integrais (como a aveia, centeio, trigo, milho, cevada), ervilha, soja e farelo de arroz. O fitato é considerado fator antinutricional devido à sua propriedade de associar-se a alguns minerais, como cálcio, zinco, fósforo, ferro, cobre, e também a algumas proteínas, formando complexos insolúveis e diminuindo sua biodisponibilidade. Uma das principais características do fitato é prevenir a formação de cálculos renais, uma vez que o mesmo age como um potente inibidor da formação de oxalato de cálcio e cristais de cálcio (principais substâncias formadoras de cálculos renais), visto que o fitato diminui a absorção intestinal de cálcio. Estudos demonstraram que os portadores de cálculo renais tiveram uma excreção significativamente menor de fitato na urina, com menor formação de cálculos renais, comparado aos indivíduos saudáveis, evidenciando a ação protetora dos fitatos. Os alimentos ricos em fitatos, por apresentarem redução da digestibilidade do amido, auxiliam também no controle glicêmico em diabéticos. Além disso, possuem efeitos benéficos na prevenção de intoxicação grave por metais, como o ferro e chumbo dietético, inibindo sua absorção intestinal. Devido aos efeitos benéficos dos fitatos, a estratégia dietética deve se adequar para que este nutriente não seja restrito da alimentação e sim, para que haja um equilíbrio na sua ingestão. Existem métodos que reduzem a quantidade de fitatos nos alimentos, em grãos o que se deve fazer é deixá-los de molho antes de cozê-los por pelo menos 6 horas. Com a fermentação há ativação da enzima fitase, que pode reduzir em até 80% o teor de fitato. O processo de fervura reduz em até 70% o ácido fítico no arroz e 5 a 15% em tubérculos, leguminosas e cereais. 2.4 OXALATOS .O oxalato (ácido oxálico ou oxalato de cálcio) é frequentementeencontrado em vegetais como o espinafre, ruibarbo, acelga, beterraba, tomate, nozes, cacau. O oxalato é o produto final do metabolismo de aminoácidos e do ácido ascórbico que não pode ser metabolizado no organismo, sendo excretado pela urina. A elevada quantidade de oxalato na urina aumenta o risco da formação de cálculos de oxalato de cálcio nos rins, pois o oxalato de cálcio é pouco solúvel na urina podendo também causar irritações na mucosa intestinal. Segundo Chai & Liebman, cerca de 75% de todos os cálculos renais são compostos de oxalato de cálcio e a hiperoxalúria é um dos principais fatores de risco para esta doença. Alimentos com elevada quantidade de oxalatos, principalmente o cacau, chás (folhas), espinafre e a carambola não são recomendados para pessoas com tendência à formação de cálculos renais, e outros problemas relacionados a estes tipos de sais como a artrite, reumatismo e gota. Além disso, reduz a biodisponibilidade de cálcio, magnésio, ferro e zinco. Estudos demonstram que os teores podem ser reduzidos através de diferentes métodos de cozimento, observando que a fervura promoveu uma redução de até 87%, e o cozimento de até 50%, sendo uma ótima estratégia para o consumo dos alimentos ricos em oxalato. 2.5 INIBIDORES DE PROTEASES Inibidores de proteases são produzidos pelas plantas como defesa a insetos, essas proteínas inibem as proteases digestivas dos agressores. São peptídeos capazes de formar complexos com as enzimas proteolíticas pancreáticas (ex.: tripsina e quimotripsina), tornando-as inativas. Ocorre um decréscimo nos níveis de enzimas pancreáticas livres no intestino, o que mantém altos os níveis de fatores liberadores da colecistoquinina que estimulam o pâncreas a produzir mais enzimas digestivas como tripsina e quimotripsina Encontrados no feijão, soja, amendoim, cereais (trigo, centeio, cevada), tubérculos (batata inglesa). Sendo que na soja esses inibidores, Kunitz e Bowman-Birk, constituem 6% de sua proteína bruta. A destruição ou inactivação dos inibidores da protease é acompanhada por uma clara melhoria do valor nutricional da fonte de proteínas. A sua inativação se dá pelo calor, fervura dos alimentos e pela germinação que aumenta a disponibilidade de nutrientes em sementes, cereais e leguminosas. 2.6 GLICOSÍDEOS CIANOGÊNICOS A capacidade de produzir ácido cianídrico é um fenômeno encontrado em aproximadamente 3000 diferentes espécies de plantas. Os glicosídeos cianogenicos estão presentes em varias famílias de vegetais, dentre os quais, destacam-se: Araceae, Asteraceae, Eupharbraceae, Farbaceae, Flacoutiaccae, Malesherbiaceae, Rosaceae, Sapindaceae e Turheraceae. Vários vegetais cianogênicos são comestíveis, contudo, esses vegetais apresentam o principio tóxico em maiores concentrações apenas em determinadas partes, que normalmente, não são ingeridos, podem ser encontrados nas sementes de maças e no interior carnoso das sementes de ameixas, pêssegos, cerejas, entre outros. As plantas cianogênicas mais importantes do Brasil são as do gênero Manihot (Euphorbeaceae), A mais conhecida é Manihot esculenta Crantz, conhecida como mandioca, macaxeira ou aipim. Possui mais de 150 espécies, que dependendo da região recebe varias denominações populares, tais como: mandioca-brava, mandioca, mandioca-amarga, mandioca-branca, mandioca-açu. São consideradas plantas cianogênicas aquelas que contêm como princípio ativo o ácido cianídrico (HCN). Este é um líquido incolor, muito volátil, considerado como uma das substâncias mais tóxicas que se conhecem. Nas plantas, o HCN encontra-se ligado a carboidratos denominados de glicosídeos cianogênicos, sendo liberado após sua hidrólise O vegetal que produz a mandioca é toda tóxica, contendo maiores concentrações no principio ativo no látex, principalmente na raiz (tubérculos) e folhas. Todas as variedades são toxicas, variando no teor do principio ativo, de acordo com a idade da planta, clima e solo. A forma de intoxicação se dá por ingestão da raiz ou folhas crua ou mal cozida. É recomendável que para evitar a intoxicação aguda por ingestão da mandioca, que ela seja previamente descascada, dividida em fragmentos, submetendo-se à ação da fervura, para eliminar o principio tóxico que é termolábil e volátil. As intoxicações só ocorrem quando doses tóxicas são ingeridas em curto período de tempo, no entanto, a ingestão da mesma dose tóxica no espaço de um dia, não causa qualquer problema. A dose tóxica de HCN é de 2 a 4 mg de HCN por kg/pv por hora . 2.7 LECTINAS A definição de lectina mais completa foi formulada por Kocourek & Horejsi citados por Etzler (1985). De acordo com estes autores, lectinas são proteínas não pertencentes ao sistema imunológico, porém capazes de recon hecer sítios específicos em moléculas e ligar-se reversivelmente a carboidratos, sem alterar a estrutura covalente das ligações glicosídicas dos sítios. As lectinas são encontradas em uma ampla variedade de espécies de plantas e animais, entretanto, estas substâncias estão presentes em maior quantidade em grãos de leguminosas e gramíneas. As fitohemaglutininas mais importantes são as encontradas em feijões e favas e os exemplos de lectinas bem caracterizadas são a concanavalina, presente em “jack bean” (Canavalia ensiformis), a aglutinina da soja e a aglutinina do gérmen de trigo (SHARON e LIS, 1972 Apud BONETT, L. P., BAUMGARTNER, M. S. T., KLEIN, A. C., SILVA, L. I). Em feijão, cerca de 10% das proteínas correspondem a glicoproteínas como lectinas e arcelinas, estas últimas encontradas apenas em espécies selvagens de feijão e com efeito protetor nas sementes (OSBORN et al., 1989), contudo, as lectinas são tóxicas para mamíferos e aves, causando lesões na mucosa intestinal (PUTSZTAI, 1993 Apud BONETT, L. P., BAUMGARTNER, M. S. T., KLEIN, A. C., SILVA, L. I) Em pesquisas com ratos, quando foram administradas lectinas de feijões crus (Phaseolus vulgaris) via oral e intraperitoneal, verificou-se que os animais que receberam injeções intraperitoneais de extratos de lectinas tóxicas morreram logo após o tratamento, enquanto que os animais alimentados com dietas contendo lectinas tóxicas apresentaram perda de peso, crescimento reduzido, baixa absorção de nitrogênio, alteração do baço e pâncreas e, após duas semanas, morreram (JAFFÉ e BRÜCHER, 1972 Apud BONETT, L. P., BAUMGARTNER, M. S. T., KLEIN, A. C., SILVA, L. I). Os possíveis efeitos adversos de lectinas em seres humanos podem ser inferidos somente de experimentos com animais de laboratórios.O fato das lectinas reconhecerem e ligarem-se a receptores glicosilados de células epiteliais localizadas nas vilosidades da mucosa intestinal, conferem a estas proteínas propriedades negativas quanto a interferência nos processos de digestão, absorção e utilização de nutrientes. Vale ressaltar que a maior parte das lectinas podem ser inativadas ou inibidas quando utilizados tratamentos térmicos adequados. Já foram analisados lectinas tóxicas do feijão, da soja, da ervilha, do gérmen de trigo, já jaca e do arroz. Diversas outras plantas que consumimos normalmente contem lectinas, como a cenoura, o milho, o alho, o amendoin, a beterraba, o chá, a salsinha, o orégano, portanto, é praticamente impossível não termos contato com lectinas. Para evitar problemas, devemos evitar comer plantas com alta concentração de lectinas cruas ou pouco cozidas, e tomar muito cuidado com quantidades exageradas de sementes 9 com feijão ) e cereais (como o trigo ). 3 CONCLUSÃO Os fatores antinutricionais presentes em alimentos podem provocar efeitosfisiológicos adversos ou diminuir a biodisponibilidade de nutrientes. Devido a isso é de extrema importância conhecer os alimentos que contem fatores antinutricionais e as formas de retirar esses fatores dos alimentos. No entanto, é importante observar que alguns fatores antinutricionais pode sem benéficos ao nosso organismo. A fim de ilustrar e melhor elucidar o tema proposto em nosso seminário trouxemos cachorro-quente, onde a salsicha apresenta nitritos e nitratos e o pão fitato, assim como paçoca que também possui fitato. Bolo de chocolate, pois o chocolate apresenta oxalato e café pois apresenta taninos.
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