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apostila do aluno FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

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64	
FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
SUMÁRIO
	METODOLOGIA DO ENSINO DE ALFABETIZAÇÃO 
	04
	O que o professor sabe e pensa do aluno e da alfabetização? 
	05
	Leitura e escrita 
	05
	1.1.2 O alfabetizador 
	06
	.1 Contribuições ao educador-alfabetizador 
	07
	Ações do professor alfabetizador 
	08
	Ao desenhar, a criança escreve? 
	08
	1.2.2 Concepções que a criança adquire sobre os símbolos linguisticos antes da alfabetização
	11
	Níveis conceituais lingüísticos
	12
	 Nível 1 – Pré-silábico 
	13
	Nível 2 – Intermediário I 
	14
	Nível 3 – Intermediário II ou silábico-alfabético 
	14
	Nível 4 – Alfabético 
	15
	Reconstrução do código linguístico da criança 
	16
	Textos 
	16
	Jogos de análise linguística 
	16
	Ortografia e gramática 
	19
	1.3.4.1 Correção das palavras do texto 
	19
	1.3.4.2 Autocorreção 
	19
	1.3.4.3 Pontuação 
	19
	1.3.4.4 Escrita ortográfica 
	20
	Avaliar o ensino e a aprendizagem do aluno 
	20
	Avaliação normativa 
	20
	Avaliação qualitativa 
	20
	O papel do “erro” no processo educativo e na avaliação 
	21
	2. METODOLOGIA DO ENSINO DE PORTUGUÊS 
	21
	2.1 Como um professor pode promover uma “boa atividade” na sala de aula? 
	21
	2.1.2 Tipos de atividades 
	25
	 Atividades de ensino-aprendizagem
	27
	 Atividades de aplicação
	27
	 Atividades de avaliação
	28
	2.2 O trabalho com leitura 
	28
	2.2.1 Estratégias de leitura 
	28
	2.2.2 O trabalho com textos 
	30
	 Textos práticos
	30
	 Textos informativos ou científicos
	32
	 Textos literários
	33
	 Textos extra verbais
	34
	2.3 Algumas sugestões para o trabalho com a produção de textos 
	36
	3. LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
	38
	3.1 Estratégias e ensino da leitura 
	38
	3.2 Função da leitura
	43
	3.3 Desenvolvimento – Produção de Texto
	44
	3.4 Alfabetização: Um processo de leitura e escrita
	45
	3.5 A aquisição e o desenvolvimento da oralidade e da escrita pelo aluno
	49
	3.6 Leitura e escrita na era das mídias
	56
	Referências bibliográficas 
	68
FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA E DA ALFABETIZAÇÃO.
METODOLOGIA DO ENSINO DE ALFABETIZAÇÃO 
 	Nos últimos anos, as discussões sobre o conhecimento de nossas crianças e jovens têm se multiplicado. As críticas da sociedade em relação ao que é ensinado desde a alfabetização dos alunos faz-se presente, principalmente quando muitos jovens não conseguem se expressar por meio de um texto escrito ou entender uma escrita quando leem. Algumas empresas têm dificuldade em seus processos seletivos por não encontrarem pessoas que apresentem habilidades de leitura e escrita. 
Muitos estudiosos, principalmente de outras áreas profissionais, têm criticado ou mesmo buscado culpados para a dificuldade de nosso país, já que a 14ª economia do mundo está em 71º lugar em desempenho escolar, numa lista de 121 países, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)11 A UNESCO aponta o Brasil como um dos doze países que concentram um grande número de pessoas com idade acima de quinze anos, ao todo 75%, que não sabem ler e escrever e denuncia que temos 1,9% dos analfabetos do planeta. 
Responsabilizar somente uma nuance da realidade não significa que estamos perto da solução do problema ou de atingir a tão almejada qualidade de ensino, portanto, precisamos nos lembrar de que a educação é construída pela sociedade, num contexto sociopolítico, econômico, histórico e cultural. 
Nesse contexto, falaremos sobre a metodologia do ensino de alfabetização, um dos recortes consideráveis dessa realidade, um dos instrumentos reconhecidamente fundamental para a inserção da pessoa na cultura letrada de nossa sociedade.
 
Alguns questionamentos nos induzem à reflexão sobre a realidade educacional da alfabetização dos brasileiros, sobre os conhecimentos que adquiriram e sua atuação na sociedade, a forma como utilizam esses conhecimentos para reforçar o que existe ou transformar a educação, para melhorar as condições de vida para todos. 
Enfim, o que é uma pessoa alfabetizada? Quando podemos dizer que a pessoa está alfabetizada? Quais são as ações que o alfabetizador deveria ter para contribuir com a melhoria da educação? 
Algumas crianças copiam textos com uma letra muito bonita, mas não conseguem ler o que escrevem; outras leem, mas não conseguem escrever; há as que recitam letras de A a Z, mas não conseguem ler ou escrever, sem falar no nível de compreensão de um texto. Será que o ler e o escrever são um ajuntamento de letras? É fazer a correspondência entre grafemas e fonemas? É fazer cópias ou descrever letras até memorizá-las? O que garante a alfabetização é a transmissão dos conteúdos pelos professores? É a cobrança dos conteúdos pelos professores? 
Muitos equívocos são cometidos nos anos iniciais da criança na escola. Um deles é achar que o ensino e a aprendizagem são iguais. O fato de o professor ensinar, apresentar estratégias modernas, atividades recreativas de conteúdos, com certeza, não significa que o aluno aprenderá.
 
O professor tem papel considerável na alfabetização, mas não é o único responsável. A criança traz experiências, formas de pensar, hipóteses sobre a realidade. Não é uma pessoa vazia a esperar que coloquemos nossas impressões e nossos pensamentos. 
O que o professor sabe e pensa do aluno e da alfabetização? 
O professor não pode parar de ser um pesquisador. Ele precisa estudar o seu aluno, saber como a criança pensa e aprende os conhecimentos que traz sua realidade, para que possa atuar nesse contexto. Não há receitas prontas, fórmulas de sucesso a serem transplantadas numa realidade multifacetada, rica e diversa da outra, com pessoas distintas e diferentes. 
Leitura e escrita 
Autores descrevem a leitura e a escrita como instrumentos básicos de ingresso e participação do cidadão na sociedade letrada. Portanto, exercem função social. São ferramentas facilitadoras da compreensão e realização da comunicação do homem na sociedade contemporânea. É a chave para a apropriação dos saberes conquistados pela humanidade. 
Conforme declaração da UNESCO, em 1958, uma pessoa sabia ler e escrever quando lia ou escrevia compreensivamente um pequeno enunciado relacionado a sua vida diária. Tempos depois, adotou outra definição, tendo-a como funcional; uma pessoa lia e escrevia quando o fazia o suficiente para inserir-se em seu meio e seu desempenho envolvia tarefas de leitura, escrita e cálculo. 
Isabel Cristina Alves da Silva Frade (2001), mestre e doutora em educação pela UFMG, relata como a concepção do ensino das primeiras letras tem se modificado ao longo dos tempos. Ressalta que não é suficiente decifrar o código linguístico, mas é fundamental ter habilidades que possibilitem saberes envolvidos no ler e escrever, além de participar dos benefícios envolvidos na cultura escrita, construir atitudes e representações dessa participação. A autora relaciona a escola como representante da cultura escrita e, portanto, constitui-se agente de letramento. 
A alfabetização, na visão do construtivismo, é vista como um processo de construção contínua de conceitos que tem início muito antes de a criança ser escolarizada.
 
É necessário ter claras as características do sistema de escrita e o uso funcional da linguagem.
1.1.2 O alfabetizador 
• Conhece como a criança aprende a ler e a escrever? 
• Precisa trabalhar com grande quantidade de conteúdo para alfabetizar seus alunos? 
• Considera a cartilha indispensável para a aprendizagem da leitura e escrita de nossas crianças? 
• Concebe a leitura como decodificação e a escrita como cópia? 
Alguns pesquisadores e estudiosos ajudaram a compreender não só como a criança pensa, mas como o seu pensamento se desenvolve naaprendizagem da leitura e da escrita. 
Piaget: sua preocupação foi explicar como a criança pensava e interagia com o mundo, com as pessoas, para adquirir conhecimento. Definiu que o conhecimento é construído a partir da interação do sujeito com o objeto de aprendizagem. 
As autoras Telma Weisz e Ana Sanches (1999, p. 33) reafirmam a contribuição de Piaget para a mudança de concepção e de olhar sobre a aprendizagem existente até a sua época. 
Até o início do século XX, acreditava-se que a crianças eram miniadultos e que após crescerem é que chegariam ao nível dos adultos, considerados superiores mentalmente. Acreditava-se também que seus processos cognitivos eram iguais aos do adulto, mas em proporção menor por serem pequenas. Piaget concluiu, por meio de suas pesquisas, que as crianças pensavam muito diferente dos adultos, que o que faltava para elas eram certas habilidades. 
Sua contribuição foi explicar a maneira como a criança interage com o mundo e com as pessoas para chegar ao conhecimento. É, portanto, a interação do sujeito com o objeto de aprendizagem que produz o conhecimento. 
Lev S. Vygotsky: foi professor e pesquisador, contemporâneo de Piaget; viveu na Rússia até os 37 anos de idade, quando faleceu de tuberculose. 
Suas pesquisas apontaram para o papel da linguagem e da aprendizagem no desenvolvimento do indivíduo, cujo pensamento se constrói num ambiente histórico-cultural. 
Para Vygotsky (2001, p. 127), a relação do homem com o mundo não é direta, mas mediada . O professor é um mediador entre o aluno que aprende e o conhecimento. 
Vygotsky investigou o desenvolvimento das capacidades intelectuais superiores do homem e identificou a linguagem como o principal fator do crescimento. Definia a linguagem como um conjunto de símbolos que mantinha seu caráter histórico e social. 
Emília Ferreiro: discípula de Piaget; desenvolveu teses sobre as hipóteses do pensamento da criança a respeito da linguagem escrita. Não propõe um método novo e muito menos uma pedagogia nova, mas esclarece que o que faz com que a criança reconstrua o código linguístico não é o cumprimento de tarefas repetitivas ou o fato de conhecer as letras e os símbolos, mas a compreensão de como funciona o código. 
A partir dos estudos e das investigações desses pesquisadores e de outros educadores, o professor tem condições de saber como ocorre o processo de alfabetização e o que o aluno pensa ao apropriar-se do conhecimento quando reconstrói o código linguístico. 
Com esses conhecimentos, o professor pode planejar e realizar uma ação pedagógica baseada no desenvolvimento e na construção da linguagem por meio de práticas educativas que contenham jogos e atividades que permitam à criança pensar e dialogar com a linguagem; pode contribuir para que a criança desenvolva a leitura e a escrita do mundo em que vive. 
.1 Contribuições ao educador-alfabetizador 
• O conhecimento não está no sujeito (racionalismo). 
• O conhecimento não está no objeto (empirismo). 
• Adquirir conhecimentos depende das estruturas cognitivas do sujeito e de sua relação com o ambiente. 
• O construtivismo não é um método de ensino porque não diz o que e como o professor deve dar aula/ensinar. É uma teoria psicológica de aprendizagem cujo objeto é a psicogênese da inteligência e dos conhecimentos de como o sujeito aprende. 
Ações do professor alfabetizador 
• Saber como a criança pensa: a escrita, os símbolos do mundo.
• Estabelecer um ambiente estimulador na sala de aula, no qual o ler e o escrever tenham significado e sejam usados no interior de nossa atual sociedade. 
• Planejar práticas educativas com jogos e atividades que permitam à criança pensar e dialogar sobre a linguagem. 
• Trabalhar considerando a leitura de mundo que a criança apresenta. 
O percurso que a criança faz quando é alfabetizada é o mesmo do homem ao longo da história da humanidade: 
• pictórico: desenho; 
• simbólico: reconstrução do código linguístico.
Ao desenhar, a criança escreve? 
Ao desenvolver a linguagem da fala, a criança começa a usar o desenho como forma de expressão. Primeiramente, o faz de memória: não desenha o que vê, mas o que conhece de sua realidade. Percebe que alguns traços podem até lembrar o objeto que desenhou, mas não o percebe como símbolo. 
Com o tempo, a criança desenha a sua realidade, representa as suas observações e expressões por meio de representações de sinais simbólicos abstratos. 
Toda essa vivência contribui para o desenvolvimento da escrita da criança. Segundo Hailer (1996), o desenho acompanha a frase, e a fala permeia o desenho. 
A criança percorre o mesmo caminho que a humanidade ao desenvolver seu conhecimento da escrita. Inicialmente, desenha de memória, depois substitui traços que lembram o objeto desenhado por sinais indicativos ou figuras e, por último, utilizasse dos signos. Como a humanidade, parte do desenho (pictórico) para a simbologia (alfabeto). 
Muito se trabalha, atualmente, com o método tradicional de alfabetização. Apesar da contribuição de muitos estudiosos, professores utilizam a cartilha (método global, silábico, fonético e outros) como forma de ensinar a criança a ler e a escrever. Todo o processo de alfabetização é organizado pelo adulto, o professor. O papel do aluno é receber as informações valiosas transmitidas pelo professor e incorporá-las como sinônimo de aprendizagem. Escreve frases distantes de sua realidade, sem significados e, por vezes, sem entendê-las; escreve frases padronizadas e iguais às registradas na cartilha; apresenta dificuldade na produção de um texto e não relaciona o que aprende na escola com o seu cotidiano. 
Alguns pesquisadores contribuíram para que o foco do trabalho pedagógico não fosse o professor, mas o aluno e sua relação com o objeto de aprendizagem, que, nesse caso, é a língua. 
Piaget possibilitou a compreensão de que a criança não é um cérebro vazio à espera do professor colocar-lhe o conhecimento; pelo contrário, o aluno constrói seu conhecimento quando transforma o real, o mundo e a si mesmo por meio de suas relações com o meio e com o objeto de sua aprendizagem. Portanto, não é mais viável que o professor se preocupe apenas com suas estratégias de ensino, seus conteúdos e métodos, mas sim com o que e como o aluno aprende como subsídio de suas atuações em sala de aula. 
Muitos professores se preocupam com conteúdos, estratégias, planos de aula e relegam a segundo plano, quando se lembram, o que e como o aluno aprende; pouco reflete sobre o que pode fazer para que seu aluno tenha condições de construir o próprio conhecimento. 
Antes de passar pela alfabetização propriamente dita, a criança apresenta hipóteses sobre a leitura, observa, pensa e adquire concepções individuais acerca dos símbolos linguísticos. Essas concepções são importantes para o entendimento da criança do valor social da língua. 
	
Concepções que a criança adquire sobre os símbolos linguísticos antes da alfabetização 
Alguns autores discriminam algumas concepções apresentadas pela criança antes do período escolar de alfabetização e que apontam para o valor social da língua. São elas: 
• tem consciência da diferença entre leitura silenciosa e a leitura em voz alta; 
• reconhece que a leitura de histórias é feita em livros e as notícias são lidas em jornais; 
• percebe que a leitura de uma bula tem a função de orientar o uso do remédio; 
• sabe que as receitas podem ser lidas, compreendidas e utilizadas em algo concreto; 
• compreende que os manuais de brinquedos e jogos servem para orientar o modo como os brinquedos e jogos devem ser montados e usados; 
• verifica que as palavras têm quantidade; que apresentam letras diferentes uma das outras e que a leitura pode ser feita de cima para baixo e da esquerda para a direita. 
Essas concepções a respeito da leitura são adquiridas na medida em que as crianças interagem com o meio em que vivem e têm experiências de leitura e escrita. Elascriam hipóteses sobre a escrita e seus usos porque participam de situações nas quais os textos e as leituras têm função social. 
Numa sala de aula, existem crianças com experiências muito diferentes umas da outras. 
Crianças provenientes de famílias pobres, cujos pais ou responsáveis utilizam-se pouco da leitura e da escrita, tendem a refletir no espaço escolar seu pouco repertório com a leitura, porque tiveram poucas oportunidades de participar ou presenciar situações de leitura e não puderam criar muitas hipóteses. 
Para as crianças que vivem em famílias de classe média ou alta, que convivem com a leitura de vários tipos de textos, que ganham livros e gibis, que observam os adultos manusearem livros e jornais para buscar informações, e que presenciam adultos receberem correspondências, o repertório de suas experiências e hipóteses de leitura é muito maior, porque seus contatos são frequentes e significativos, com diferentes tipos e utilização de textos, como, por exemplo, os textos nas marcas de produtos, títulos de histórias, escritos de placas etc. 
São nessas experiências iniciais que encontramos muitas crianças que acreditam que a palavra está ligada ao tamanho do objeto representado. A essa reação, chamamos de realismo nominal: quando a criança acredita que a palavra boi não representa o boi porque é uma palavra pequena. Se a entregamos uma palavra como formiga, é capaz de relacioná-la ao animal boi devido ao tamanho da palavra. 
A professora pode intervir nessa fase e criar oportunidades para que a criança atinja o conhecimento do sistema alfabético da escrita e rompa com o realismo nominal. 
Situações como brincadeiras de “faz de conta”, em que um brinquedo representa determinado objeto. Atividades de adivinhação que utilizem mímica, desenhos para representar o que pensamos. 
Registros de atividades planejadas com o intuito de não esquecermos compromissos agendados. Anotações por representações da rotina da sala etc. 
Após esse período, a criança dá início à leitura por preditibilidade: a leitura de símbolos e sinais globais em diferentes contextos. A criança aponta para o símbolo do Danone e fala em voz alta que está escrito Danone; quando questionada, diz que sabe que é Danone. 
Atividades com rótulos de supermercado, em que a criança representa uma situação de vendas. Atividades de adivinhação pelos rótulos. 
Níveis conceituais linguísticos
 
Se perguntarmos a alguns professores sobre a forma de as crianças adquirirem a aprendizagem da leitura e da escrita, vários responderão que é pelo ajuntamento das sílabas até formar as palavras. 
Ainda não conseguem entender por que algumas crianças aprendem e outras não, e permanecem na aprendizagem da cartilha. 
Emília Ferreiro e outros pesquisadores contemporâneos contribuíram para a prática pedagógica quando estudaram as concepções que as crianças apresentam da escrita e como apresentam fases ou níveis de desenvolvimento na construção do pensamento em relação à linguagem escrita. 
São cinco os níveis conceituais linguísticos:
Nível 1 – Pré-silábico 
Fase pictórica: é o registro feito pela criança com escrita, desenhos sem figuração e, mais tarde, desenhos com figuração. Inicia-se aos dois anos de idade se a criança vive num ambiente urbano que a estimula desde cedo ao uso de caneta e papel.
Fase gráfica primitiva: a criança mistura símbolos, pseudoletras com letras, e números com letras em seus desenhos. Costuma representar o que conhece do meio e o representa desenhando bolinhas, riscos e pedaços de letras.
Fase pré-silábica: a criança começa a diferenciar as letras dos números, os desenhos dos símbolos e reconhece o papel da letra na escrita. Sabe que as letras servem para escrever, mas não sabe como ocorre, ainda. Não associa o fonema com o grafema. A criança acredita que a ordem das letras e as vogais não têm importância.
Nível 2 – Intermediário I 
Essa fase é a de conflitos, em que a criança não tem resposta para alguns questionamentos e diz que “não sabe escrever”. Apresenta e usa alguns valores sonoros convencionais como, por exemplo, diz que o seu nome começa com determinada letra e a conhece pelo som, mas não sabe onde fica na palavra que escreve.
Nível 3 – Intermediário II ou silábico-alfabético 
É mais um momento de conflito entre uma fase e outra em que a criança precisa desconsiderar o nível silábico para pensar segundo o nível alfabético. Nessa fase, o professor deve instigar a criança no sentido de reflexão sobre o sistema linguístico pela observação da escrita alfabética. 
Nível 4 – Alfabético 
Quando a criança chega nessa fase, já reconstrói o sistema linguístico e compreende como ele funciona, consegue ler e expressar seus pensamentos e falas. Forma sílabas e palavras juntando as letras e consegue distinguir letra, sílaba, palavra e frase. Pode acontecer de a criança dividir a frase não gramaticalmente, e sim conforme o ritmo frasal.
O trabalho de alfabetização em sala de aula exige do professor conhecimento, habilidade e competência para dar condições aos seus alunos para que construam seus conhecimentos. De forma alguma o professor pode se ater a transmitir conhecimentos do alfabeto, da junção de letras e palavras, sem preocupar-se com a função da escrita, sem possibilitar ao aluno o uso da linguagem escrita. 
As teorias pedagógicas, as investigações e as pesquisas científicas dão suporte ao professor no planejamento e na atuação em sala de aula, quando o ajudam a conhecer seus alunos, como pensam e suas hipóteses na tentativa de resolver seus conflitos. 
Com o conhecimento científico na área educacional, o professor tem condições de elaborar aulas de forma a chamar a atenção do aluno, com propostas significativas, com jogos e atividades que instiguem o aluno a pensar e a reformular suas hipóteses. Não podemos ignorar o papel do professor em ser o mediador e o organizador da ação educativa, da construção e reconstrução dos conhecimentos de seus alunos em sala de aula.
Para atuar, o professor deve conhecer seus alunos, mas também saber o que eles têm e/ou trazem de conhecimentos. Para essa atividade, o professor pode utilizar-se da sondagem de seus alunos, a fim de refletir, planejar atividades e intervir na vida deles. 
1.3 Reconstrução do código linguístico da criança 
Frente às pesquisas científicas, como o professor pode intervir na reconstrução do código linguístico da criança? Hailer (1996) propõe dois eixos no trabalho de alfabetização da criança:
 
1. O trabalho textual, porque permite à criança compreender como funciona a escrita e como pode ser empregada socialmente; 
2. A análise linguística, porque embasa a aquisição do valor sonoro convencional à criança e a ajuda na reconstrução do código linguístico. 
Textos 
A maioria das crianças chega à escola com pouca experiência em leitura de textos diversos, portanto, podemos dizer, sem dúvida, que esse trabalho é ponto central de uma proposta alfabetizadora. 
A sala de aula deve conter grande quantidade e variedade de material escrito, como livros, jornais, gibis, revistas e cartazes que estimulem a leitura da criança. Pode, por exemplo, conter várias cestas e cada uma delas com um tipo de leitura: uma com livros didáticos, outra com histórias, gibis etc. O professor pode sugerir que, ao término das atividades, as crianças escolham uma das leituras para lerem e conversarem com os colegas sobre o livro escolhido e o que contém cada um deles.
 
Autores sugerem atividades para três frentes de ação pedagógica. São elas: 
1. Jogos para contato com a linguagem escrita: 
• caminhada da leitura; 
• leitura de obra de arte; 
• atividades com rótulos; 
• texto coletivo; 
• texto memorizado; 
• notícias; 
• jogos de rimas; 
• procura de palavras; 
• músicas; 
• bilhetes. 
2. Acesso a textos diversificados: 
• textos práticos; 
• textos informativos; 
• textos literários; 
• textos extraverbais. 
3. Atividades de interpretaçãode textos. 
 Jogos de análise linguística 
O papel do jogo no cotidiano infantil e o indicam como um dos principais meios de construção do conhecimento pela criança, porque, além de a atividade lúdica em si ser prazerosa, o erro é encarado como algo normal, portanto, pode ser trabalhado pelo professor para a mudança de atitudes da criança, e a interação com o outro colega contribui para a autonomia da aprendizagem do aluno. 
O trabalho com jogos de análise linguística possibilita à criança corresponder os sons com as letras e adquirir valores sonoros convencionais. A seguir exemplificamos algumas atividades sugeridas pelos autores. 
Utilizar letras do alfabeto, pintadas e recortadas, numa caixa e sorteá-las para as diferentes crianças; mostrar e perguntar se conhecem aquela letra. Em seguida, solicitar sugestões de palavras que começam com aquela letra. O professor pode fazer cartazes com uma gravura que inicia com a respectiva letra e com a lista de palavras sugeridas pelas crianças. 
Alfabeto ilustrado: pedir para as crianças recortarem de revistas gravuras cujos nomes comecem com a letra de seu nome. 
Alfabeto concreto: solicitar às crianças que separem objetos ou figuras e classifiquem-nos de acordo com a letra com que começa cada objeto ou figura coletada. 
Listagens na sala: com os alunos, separar palavras, listando-as de acordo com suas características. Por exemplo: lista de roupas, animais, produtos de higiene, meios de comunicação, brinquedos. O professor pode registrar na lousa as indicações das crianças. 
Quebra-cabeça: a criança pode brincar com um quebra-cabeça, confeccionado pelo professor, de nomes dos alunos da sala, de lista de animais, de objetos da sala, de gravuras e seus respectivos nomes abaixo etc. 
Ortografia e gramática 
O ensino da ortografia possibilita à criança o desenvolvimento da fluência na leitura. Após o entendimento de escrever o que se fala, a criança alfabética começa a desestruturar suas hipóteses porque não entende algumas regras da escrita ortográfica. 
A ortografia, parte da gramática, apresenta regras como a utilização de “m” antes de “p” e “b” e outras com aspectos convencionais estipulados a partir do social-arbitrário. Nesse conhecimento, a criança precisa lembrar-se da palavra para escrevê-la corretamente. É um processo que envolve a imagem mental; a consciência do modo como a palavra é escrita está além do plano da memorização da palavra por meio de repetidas cópias, passíveis de esquecimento. 
1.3.3.1 Correção das palavras do texto 
Infelizmente, muitos professores, equivocados com a concepção construtivista da alfabetização, simplesmente não corrigem os textos escritos de seus alunos e, consequentemente, não os ajudam na construção correta da imagem mental das palavras escritas no texto. 
1.3.4.2 Autocorreção 
É um procedimento de comparação da palavra escrita incorretamente com a forma ortograficamente correta. O professor pode devolver o texto ao aluno com as palavras escritas incorretamente grifadas e com a palavra correta no final do texto, para que a própria criança possa reescrever o texto com as palavras escritas corretamente, após a comparação das palavras. 
 
1.3.4.3 Pontuação 
Não se fala mais em ensinar pontuação nessa ou naquela série ou ano em que a criança estuda, mas sim na fase em que se encontra na hipótese linguística. Ensina-se, portanto, pontuação quando o aluno é alfabético e escreve textos. 
O professor pode ler um texto produzido coletivamente em sala de aula, dramatizando-o como se o texto não tivesse pontuação e, junto com as crianças, num outro momento, colocar a pontuação necessária para entendimento do texto, do ponto final, dos parágrafos, das vírgulas etc.
 
Trabalhar com as crianças a respeito das expressões faciais, a forma como o corpo se manifesta quando falamos uma história a outras pessoas e que, num texto, não temos as expressões ou linguagens corporais para que fique clara a compreensão. No texto, temos a pontuação para que possamos expressar nossos pensamentos. 
1.3.4.4 Escrita ortográfica 
O conhecimento da escrita ortográfica é construído num processo de aprendizagem percorrido ao longo das experiências de leitura e escrita das pessoas. 
A autocorreção e a pontuação de um texto são formas de ampliar e consolidar os conhecimentos construídos ao longo do processo de alfabetização e letramento, e não um fim em si mesmo. Ou seja, é necessário que o aluno escreva corretamente para ser interpretado, expressar suas ideias e opiniões, não aprendê-las simplesmente para repeti-las em provas e tirar notas boas, dizer que está alfabetizado porque copia ou escreve sem erros ortográficos; com certeza, não é repetir frases decoradas e “cartilhescas” sem significado e sentido para o aluno.
 
Avaliar o ensino e a aprendizagem do aluno 
A avaliação está relacionada à visão que o professor, os pais, os alunos e a equipe como um todo têm do mundo, de suas expectativas em relação ao processo do ensino e da aprendizagem. 
Avaliação normativa 
A avaliação normativa é pautada em notas e menções realizadas a partir do número de acertos que o aluno apresenta na prova, e não na verificação de sua aprendizagem. O professor tem papel de mero transmissor de conhecimento; cabe ao aluno repetir os conhecimentos que lhe foram passados por meio de respostas escritas em sua prova. 
A prioridade do professor é trabalhar os conteúdos, e não o conhecimento que o aluno adquiriu.
Avaliação qualitativa 
A avaliação qualitativa é fundamentada em critérios. 
O professor observa os seus alunos, o aproveitamento de cada um e propõe atividades desafiadoras ou de fixação de conteúdos, proporcionando-lhes condições para que construam seus conhecimentos.
 
Avaliar requer reflexão contínua da prática educativa e dos resultados alcançados pelos alunos. 
O papel do “erro” no processo educativo e na avaliação 
O erro costuma ser “desconfortante” para quem o comete porque é visto como algo negativo, portanto, ninguém deve cometê-lo. Porém, segundo Piaget, os conceitos são construídos num processo de autorregulação, quando as pessoas corrigem as ações consideradas erradas por não alcançarem os objetivos propostos e estabelecidos. 
O que deve ser ressaltado é a atitude que se toma a partir do erro: o reforço de hipóteses equivocadas, não adequadas, ou a construção e o aperfeiçoamento de novas hipóteses, contribuindo-se para o desenvolvimento cognitivo do aluno. 
O professor, além de diagnosticar o erro do aluno, deve ajudá-lo a reformular suas hipóteses. 
2. METODOLOGIA DO ENSINO DE PORTUGUÊS 
Nos últimos anos, apesar do número de estudos e discussões sobre como a criança aprende a ler e escrever, das contribuições de teóricos na educação, alguns professores ainda acreditam que a prática pedagógica deve ser fundamentada em exercícios repetitivos a serem aplicados em sala de aula e lições a serem feitas em casa. Muitos pensam que essa repetição contribui para que a criança leia e escreva melhor. 
Temos crianças que copiam muito bem um texto, têm a letra bonita, mas nada do que escrevem tem sentido ou significado. Não fazem uso da leitura e da escrita habitualmente e nem as têm como instrumento de expressão de suas ideias e seus sentimentos, ou como uma forma de comunicação com os outros e de leitura de mundo. 
Alguns professores aplicam muitos conteúdos e acreditam estar executando uma “boa atividade”. 
2.1 Como um professor pode promover uma “boa atividade” na sala de aula? 
A “boa atividade” é a que promove a aprendizagem do aluno, a construção de seu conhecimento. Com certeza, não é aquela aula show, farta em jogos e brincadeiras, da qual o aluno quer participar, mas a que promove a mudança de atitudes, procedimentos e conceitos dos alunos. 
2.1.1 Características de uma “boa atividade” 
A “boa atividade”, promotora do desenvolvimento do conhecimento do aluno, pode ser significativa, produtiva e desafiadora. 
Atividade significativa:“Quando gera conhecimento útil para a vida do aluno; quando lhe oferece condições de, tendo consciência do conhecimento apropriado, vir a utilizá-lo nas diferentes situações de sua vida” (Naspolini, 1996, p.12). 
As pesquisas a respeito do baixo rendimento escolar de nossos alunos apontam para uma de suas dificuldades: a de relacionar o que aprendeu na escola com o seu dia a dia. Relacionar os textos escritos e aprendidos na escola com a sua necessidade de ler, escrever, ter conhecimento e interpretar o que lê e escreve. Cabe a reflexão sobre as atividades aplicadas em sala de aula. 
Paulo Freire criticou as cartilhas e as comparou às roupas de tamanho único que servem para todo mundo e, ao mesmo tempo, para ninguém; as cartilhas estão longe de abordar a realidade vivida por nossos alunos (Aranha, 1989). 
O indício que o trabalho com cartilha nos dá é a compreensão da alfabetização como a assimilação de habilidades perceptivas, psicomotoras, de discriminação visual e auditiva e coordenação viso-manual da grafia. 
Algumas podem propor a repetição de exercícios e traçados das vogais e consoantes, a composição de sílabas simples e organizadas em famílias silábicas. Após essas ações, há a construção de palavras e frases isoladas de um contexto que a criança conhece e se identifica. Apresentam frases com uma linguagem irreal, longe da criança. 
Adriane Andaló (1996) explica que, apesar de muitas gerações aprenderem com o método da cartilha, a memorização de letras e o ajuntamento de sílabas e palavras não garantem a aprendizagem da criança; alguns leem, fazem cópias, mas não compreendem o que escrevem. 
A cartilha apresenta palavras e frases escritas com letra cursiva e minúscula. De acordo com as pesquisas psicogenéticas, a criança identifica com facilidade a letra bastão maiúscula por visualizá-la, frequentemente, nas escritas de seu meio ambiente, e, por conter letras separadas, as crianças percebem as regras de combinação silábica da língua. 
Torna-se necessário, portanto, que a criança leia na sala de aula por meio de cartazes ou prateleiras com caixas e suas respectivas identificações em latas, embalagens e rótulos de produtos variados. 
O contato com diferentes escritas e textos promove na criança o reconhecimento e a distinção do desenho (sinal) e da escrita (signo); contribui para que ela compreenda que escrevemos o que falamos; facilita a aprendizagem da grafia das letras e a construção de palavras de forma significativa na prática: lendo e escrevendo. 
Adriane Andaló (1996) sugere como atividade significativa de leitura e escrita as seguintes atividades que objetivam o que denominou de “redes de significado”: 
• trabalhar com o nome dos alunos, identificando palavras, sílabas e letras do próprio nome da criança e de seus colegas em outras atividades; escrever listas de palavras do mesmo campo lexical, como, por exemplo, nome de animais, nome de frutas, nome de brinquedos, compras de supermercado; 
• recortar e colar figuras e associá-las com a escrita de letras móveis de plástico; 
• utilizar, em sala de aula, a letra bastão maiúscula até as crianças estarem alfabéticas; 
• montar e desmontar palavras; 
• montar quebra-cabeças com palavras e gravuras; 
• fornecer palavras e pedir às crianças que as representem por meio de desenhos. 
Atividade produtiva: quando o aluno aprende, constrói o conhecimento e, além de desenvolvê-lo, o aperfeiçoa nas atividades cotidianas. 
Frequentemente, os trabalhos escolares são requeridos pelos professores sem que estes sintam a necessidade de escrever; simplesmente, os fazem porque o professor mandou. Torna-se uma atividade que não é produtiva, desvinculada do contexto da criança, uma escrita mecânica. 
Muitos adultos têm dificuldades para escrever um texto ou expressar o que pensam por intermédio de um texto escrito. Essa dificuldade pode ter relação com a dicotomia entre o que se escreve na escola e o que realmente precisa escrever para comunicar-se socialmente.
Adriane Andaló (1996) sugere ao professor que abandone textos mecânicos e sem significado para o aluno e trabalhe com textos reais, provenientes do meio em que o aluno vive. Indica ao professor o trabalho com: 
• pequenos poemas de ritos populares como “Marcha soldado”, “Batatinha quando nasce” e “Pombinha branca”, conhecidos pela transmissão oral e escrita; 
• textos da literatura infantil;
 
• textos escritos em outdoors, placas, avisos, cartazes, revistas, jornais, televisão; 
• textos de comunicação social: cartas, convites, cartões comemorativos, bilhetes etc. 
Atividades desafiadoras: atividades que apresentam dificuldades possíveis de serem solucionadas pelo aluno, mas que exigem a sua reflexão, análise de hipóteses, busca de ações possíveis, portanto, contribuem para o desenvolvimento de sua capacidade cognitiva.
 
Naspolini (1996) sugere que o professor trabalhe com situações de aprendizagem desafiadoras, provocativas e instigantes, que devem ser construídas sobre aspectos conhecidos do aluno anteriormente. Portanto, as atividades não devem ser tão fáceis que o aluno as desenvolva rapidamente, mas também não tão difíceis, fazendo com que o aluno desanime por sentir-se incapaz de executá-las.
 
Muitos professores entendem que, ao final do período de alfabetização, o aluno deve estar capacitado a ler e a escrever, encerrando-se assim o período de aprendizagem da leitura e escrita, o que é um equívoco. Naspolini (1996) afirma que, nesse momento, a criança apenas adquiriu o código linguístico e necessita executar vários tipos de atividades para que desenvolva a sua leitura e escrita.
 
2.1.2 Tipos de atividades 
Atividades de sondagem: estão relacionadas às atividades de avaliação da atividade do aluno. Visa detectar o conhecimento que a criança construiu e como esse conhecimento foi construído. A partir do que foi coletado pelo professor, planejam-se as atividades de ensino e de aprendizagem novas e específicas ao aluno. 
Naspolini (1996) destaca alguns pontos das atividades de sondagem: 
• retratam o momento específico da atividade executada pelo aluno: num certo momento, o aluno apresenta um determinado conhecimento, e, em outro momento, outro conhecimento; 
• as intervenções do professor favorecem a compreensão de como a criança pensa um determinado conhecimento; 
• possibilitam o registro, em fichas, da produção do aluno e podem fundamentar o planejamento de novas atividades.
 
As atividades de sondagem e o material utilizado devem ser inéditos, para não estimular a memorização de como se aplica determinado conhecimento pela criança. A sondagem é feita periodicamente, e os resultados devem ser comparados com os resultados da sondagem anterior.
 
Ao analisar os resultados da sondagem, o professor pode agrupar crianças que apresentam determinada dificuldade e planejar atividades diversificadas de ensino e de aprendizagem. 
As atividades diversificadas são compostas por jogos e variam conforme a evolução do conhecimento dos alunos. 
Atividades de ensino-aprendizagem: segundo Naspolini (1996), são atividades que intervêm nos saberes construídos anteriormente pelo aluno e promovem a aquisição de novos conhecimentos. Como exemplo, cita a atividade de correspondência título-texto, em que a professora lê um texto em sala de aula e apresenta vários títulos. Os alunos devem escolher um título que se adeque à história narrada pela professora. 
Atividades de aplicação: são exercícios específicos que visam à aplicação de conhecimentos apreendidos pela criança por meio das atividades de ensino-aprendizagem. Naspolini (1996) sugere que devem ser aplicados, preferencialmente, nos grupos de alunos. A autora distingue dois períodos ou características das atividades de aplicação: a repetição e a transformação. 
A repetição devido ao fato de os conhecimentos adquiridos pelos alunos serem utilizados repetidas vezes e em momentos diferentes das atividades. A transformação se refere aos exercíciosserem mudados, e não seus objetivos, que devem ser a aplicação de determinados conhecimentos aprendidos anteriormente. 
O exemplo dado por Naspolini (1996) é que a mesma atividade de correspondência texto-título pode ser empregada de diferentes formas, como: 
• corresponder o texto com a escolha de um título dentre outros; 
• corresponder um título com a escolha de um texto dentre outros; 
• corresponder os textos com a escolha dos respectivos títulos, dentre outros. 
Note que as atividades apresentam a repetição, emparelhar textos e títulos, e a transformação, com a execução de atividades diferentes entre si.
 
Atividades de avaliação: o objetivo dessas atividades de avaliação é diagnosticar o que o aluno é capaz de realizar sozinho, o que o aluno aprendeu e o que precisa melhorar, e podem ter a finalidade qualitativa ou quantitativa, segundo Naspolini (1996).
 
A finalidade qualitativa está ligada ao diagnóstico do conhecimento construído pelo aluno e subsidia o planejamento do professor na medida em que planeja futuras atividades de ensino-aprendizagem (sondagem), e a finalidade quantitativa está ligada ao diagnóstico e à medição do que o aluno construiu de determinado conteúdo. 
2.2 O trabalho com leitura 
De acordo com Naspolini (1996), “ler é o processo de construir um significado a partir do texto”. A leitura será compreendida se houver concordância entre os conhecimentos prévios do leitor e os elementos textuais. 
O ato de ler significa compreender o que está escrito com as letras e o que se quis dizer com as letras; é muito mais do que decodificar os códigos linguísticos. 
Para entender o texto lido, o leitor utiliza vários esquemas cognitivos, e como as pessoas têm esquemas cognitivos diferentes, podem entender o mesmo texto de formas diversas. 
As diferentes formas de linguagem de cada leitor, o conhecimento que tem do mundo, seus propósitos e esquemas conceituais podem ajudar a entender ou dificultar a compreensão do texto. 
2.2.1 Estratégias de leitura 
Todo leitor apresenta estratégias, processos cognitivos para facilitar a leitura compreensiva, rápida e eficaz. São estratégias: a seleção, a predição, a inferência, o autocontrole e a autocorreção. 
Seleção: quando um leitor lê um texto, ele o faz a partir do que é de seu interesse, do que considera importante para o entendimento da leitura. Ao selecionar o que quer ler, o leitor despreza algumas partes do texto e acaba por “pular” alguns aspectos do texto sem comprometer sua compreensão. 
Predição: o texto fornece algumas pistas que favorecem a criação de algumas hipóteses por parte do leitor. 
Inferência: quando o leitor conclui aspectos explícitos ou não do texto baseado em seus conhecimentos prévios. 
Autocontrole: quando o leitor valida ou não sua predição, inferência do texto por meio de sua leitura. 
Autocorreção: quando o leitor corrige o que pensou a respeito da leitura quando o texto não a comprova. 
Segundo Naspolini (1996), há uma reciprocidade entre a estratégia de leitura para entender um texto e a sua interpretação; um não acontece sem o outro. 
Naspolini (1996) se refere à pesquisadora francesa Jolibert quando sugere alguns passos para se questionar um texto. Esses passos podem ser utilizados em atividades diversificadas, com o intuito de o aluno ler e interpretar o texto: 
• De onde e como surgiu o texto? 
• Quais são as características físicas do texto? 
• Como está diagramado? 
• Que informação o texto traz por meio de imagens ou palavras do parágrafo, frases? 
• Existem números, símbolos no texto? Quais são os objetivos que o autor demonstra com os números e símbolos descritos no texto? 
• Quais são os sinais de pontuação apresentados no texto? 
• Há palavras desconhecidas? 
2.2.2 O trabalho com textos 
A leitura e a escrita não devem se restringir ao trabalho com cartilha. 
Numa sociedade letrada como a nossa, o professor precisa trabalhar com os mais variados tipos de textos, com o objetivo de que a criança construa estruturas cognitivas necessárias à leitura e à escrita de textos variados. Não significa que o aluno tenha apenas que identificar ou reconhecer as diferentes modalidades de texto, mas escrevê-las, utilizá-las mediante as suas necessidades. 
Com um fim didático, Naspolini (1996) classificou os textos em práticos, informativos ou científicos, literários e extraverbais, mas ressaltou que um único texto pode pertencer a mais de um grupo dos citados. 
Textos práticos: são textos comuns em nosso dia a dia. Por exemplo: cartas, contas de água, luz e telefone, cheques, embalagens de todos os tipos, manuais de aparelhos eletrônicos, listagens, itinerários, ingressos, passagens, carnês, bulas de remédio, cardápios, receitas culinárias, notas fiscais, bilhetes, telegramas. O professor pode utilizar uma data comemorativa, como o dia dos pais, e desenvolver uma atividade de confecção de uma carta. 
Pode abordar algumas questões como: 
• A quem escrever? 
• Quem é o remetente e/ou destinatário da carta que escreve? 
• Qual é o pronome de tratamento adequado? 
• Para que e por que escrever uma carta. 
• O que pretende abordar na carta à outra pessoa. 
• Qual é a estrutura do texto? 
• Para finalizar a atividade de ensino e de aprendizagem, os alunos podem passear numa excursão ao seu bairro e postar a carta em comemoração ao dia dos pais. 
Naspolini (1996) sugere os seguintes pontos como elementos essenciais da carta e que podem ser trabalhados com os alunos para aprenderem como se faz uma carta:
Após esses elementos serem aplicados na sala, o professor pode incentivar o seu aluno a se autoavaliar, a fim de analisar os itens cumpridos, os que precisam melhorar e as possíveis mudanças.
 Naspolini (1996) sugere o seguinte quadro para o professor promover a autoavaliação do aluno:
Textos informativos ou científicos: a função dos textos informativos é trazer conhecimentos novos aos leitores. Por exemplo: jornais, revistas, enciclopédias, entrevistas, tabelas, gráficos. 
Exemplo:
Dicas para combater o mosquito e os focos de larvas
Fonte: <http://www.dengue.org.br/dengue_prevenir.html>. 
Textos literários: são textos que expressam sentimentos, pensamentos e fantasias do homem na relação com o mundo a sua volta e consigo mesmo. 
Exemplo:
Soneto da fidelidade (Vinícius de Moraes) 
De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. 
E assim, quando mais tarde me procure
 Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama.
Eu possa (me) dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. 
Fonte: <http://www.secrel.com.br/jpoesia/vm2.html#sonetodafidelidade>.
Textos extraverbais: existem textos escritos não com palavras, mas com outros códigos linguísticos e não linguísticos. Por exemplo, os textos escritos com figuras, ilustrações, arquitetura, história em quadrinhos, quadro de arte, música, gesto etc. 
Exemplo:
O ciclo da água
Fonte:<http://www.tvcultura.com.br/aloescola/infantis/chuachuagua/ciclo.htm>. 
O professor pode trabalhar com vários textos em sala de aula e com três enfoques diferentes. 
Enfoque conteudístico: a partir de um texto, questões são formuladas para que os alunos respondam segundo as palavras e ideias expostas no texto. Naspolini (1996) define como o objetivo desse tipo de atividade decodificar a leitura. Muitos professores costumam utilizar apenas esse tipo de enfoque e acreditam que, ao responder às questões, os alunos entenderam e interpretaram o texto.
Enfoque estruturalista: todos os textos apresentam determinadas estruturas que os identificam e são chamadas de superestrutura esquemática: a distribuição e a organização da estruturainterna do texto. Exemplos de estruturas esquemáticas do texto, segundo Naspolini (1996):
Enfoque discursivo: o trabalho com enfoque discursivo tem por objetivo analisar os efeitos que o texto produziu no leitor. Para essa análise, o professor pode utilizar questões que considerem processos cognitivos como o de antecipação, de transformação, inferência, crítica, extrapolação, situação problema, efeitos, intenções e emoções. Exemplos de questões sugeridas por Naspolini (1996) de cada processo cognitivo:
 
2.3 Algumas sugestões para o trabalho com a produção de textos 
• Pode -se trabalhar com textos escritos individualmente, em pequenos grupos ou coletivamente. 
• Propor para os alunos a escrita de vários tipos de textos: relatórios, contos, poesias etc. 
• Pedir aos alunos que descrevam fotos e paisagens.
• Solicitar que criem histórias a partir de recortes de gibis, paisagens etc. 
• Pedir para entrevistarem conhecidos e descreverem como foi a entrevista. 
• Pedir que escrevam jornais da sala, reportagem da escola e outros. 
O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), anualmente, aplica testes em população representativa de quinze a 64 anos para coletar hábitos e práticas de leitura e escrita em diversos contextos de vivência dos brasileiros. Apontam, além de habilidades matemáticas, habilidades de leitura e de escrita, que compreendem a capacidade de processar informações numéricas presentes no dia a dia, no comércio, no trabalho ou nas páginas dos jornais.
Observe o quadro abaixo:
Fonte: <http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/2006/>.
3. LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
3.1 ESTRATÉGIAS E ENSINO DA LEITURA 
Há muito um debate vem sendo travado em nossa sociedade, chamado “Crise da leitura”, pois no atual momento acredita-se que a leitura não tem mais espaço reservado na vida das pessoas, principalmente na das crianças e jovens. Pode-se dizer que esse fato acontece pela falta de incentivo à leitura, por parte da família e dos educadores, vítimas do mesmo sistema? Esta é, sem dúvida, uma das mais contundentes perguntas no momento. 
O progresso tecnológico vem colocando as pessoas em um acelerado ritmo, pois se vê que as informações e o conhecimento de hoje não serão suficientes amanhã e a leitura passa de privilégio para obrigação. O que ocorre é que a grande massa da população não tem acesso aos livros, literários ou não, e isso faz com que a leitura seja um privilégio de poucos.
A leitura é uma ponte entre o conhecimento sistematizado e o mundo real. O livro, por ser a fonte de conhecimento, é um instrumento de combate à ignorância e à alienação, pois através dos textos os homens expõem os visíveis problemas sociais, enfrentados por seus semelhantes no dia-a-dia.
É importante observar que a leitura pode, muitas vezes, estar sujeita às regras e conveniências sociais, que visam o domínio de uma classe social sobre outra, usando o analfabetismo funcional como uma arma opressora.
O analfabetismo funcional refere-se às pessoas que são alfabetizadas, sabem ler e escrever, porém esse conhecimento se resume em leitura cotidiana, como por exemplo, para se localizar com os nomes de ruas, ônibus, lojas, supermercado, e leitura de textos curtos e simples. O conhecimento dessas pessoas, neste caso, é superficial, pois não conseguem buscar, em texto de nível médio, um significado mais profundo. Caracteriza o analfabetismo e o iletrismo da seguinte forma:
O analfabetismo caracteriza-se pela impossibilidade de compreender ou de produzir uma mensagem escrita simples [...] O analfabetismo funcional refere-se à mesma impossibilidade, porém envolve pessoas com vários anos de escolaridade que dominaram essas técnicas de correspondências grafo fonética num certo período de sua vida, mas que perderam esse domínio por falta de uso e de exercícios com elas. [...] O iletrismo se caracteriza pelo afastamento em relação às redes de comunicação escrita, pela falta de familiaridade com livros e jornais, pela exclusão do indivíduo das preocupações e respostas contidas na elaboração da coisa escrita.
Neste contexto, o analfabetismo funcional é visto como parte do iletrismo, ou melhor, como resultado do mesmo. Ao deixar a leitura de aprofundamento para trás o leitor passa apenas a fazer uma leitura superficial e desinteressante, pois não se envolve com o texto buscando mais compreensão e conhecimento. 
A leitura acompanha o poder, pois ela transforma o leitor, e ele o mundo a sua volta, através da busca pelo conhecimento, e sua aplicação traz somente benefícios para os seres envolvidos. A defasagem entre leitores e não leitores reproduz a divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os que são apenas executores. Na busca pelo poder aquisitivo, o homem precisa se aperfeiçoar cada vez mais na sua área de trabalho e o maior e mais eficaz meio de consegui-lo é a leitura.
Apesar de ser muito importante para a sociedade, o ensino da leitura vem sendo trabalhado de forma casual, formando analfabetos funcionais. Segundo Silva e Zilberman (1998, p.79):
 [...] a escola não está vencendo o desafio de alfabetizar funcionalmente a parcela da população que consegue chegar a ela. [...] embora se tenha conseguido nos últimos anos um aumento substancial na taxa de escolarização, a escolarização por si só não está dando uma contribuição decisiva à solução do problema.
A melhor solução para o problema é, para Silva e Zilberman (1998, p.81) “[...] a maneira de aprender a ler funcionalmente é ler.” Isto é, manter o aluno dentro e fora da sala de aula em contato com a leitura. Isso não quer dizer que seja a realização de uma leitura didática e obrigatória, mas uma leitura interessante e envolvente, que desperte o prazer do aluno pela leitura.
O bom leitor é aquele que relaciona o conteúdo do texto com a realidade que o cerca, fazendo críticas, concordando ou discordando de ideias e opiniões, elaborando hipóteses e questionando seu meio social. Segundo Silva (1995, p.47) “[...] a leitura enriquece ou empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve para alienar as ações relacionadas com a formação de leitores.” Sendo assim, o livro pode ou não abrir novos horizontes ao bom leitor.
As crianças, ao serem alfabetizadas, reproduzem o som que ouvem para escrever, ou seja, escrevem da forma como ouvem. Quanto maior seu contato com materiais escritos, maior sua bagagem de conhecimento. Ler histórias, fazer bilhetes e anotações, dá às crianças o incentivo que elas precisam para ler qualquer coisa escrita, como por exemplo: livros, jornais, anúncios. Ao serem alfabetizadas, é fundamental que explorem o universo de significados contidos nos textos. Solé (1998, p.60) afirma que: 
As crianças só podem aprender porque as correspondências entre o som e a letra lhe são transmitidas [...] a criança pode se beneficiar tanto do contexto de uma frase conhecida para descobrir o significado de uma palavra nova inserida na mesma, como de uma experiência em correspondência.
Cabe ao professor oferecer aos alunos amplas perspectivas, estratégias e caminhos, para que eles possam entrar em contato com o sistema da língua escrita e seus significados, e também com variados textos.
O professor deve permitir que os alunos planejem a própria leitura, e sempre pedir que comentem os textos lidos, de forma que possam controlar suas leituras, indicando um caminho de motivações e objetivos. Deve deixar que os alunos julguem a parte mais importante no texto lido. Os educadores devem compartilhar os mais amplos e complexos significados que compõem o texto, exercendo o papel de guia. Segundo Solé (1998, p.75) o educador: “[...] deve garantir o elo entre a construção que o aluno pretende realizar e as construções socialmente estabelecidas.”. Ao servir de guia, os professores permitem que os alunos construam e assumam a responsabilidade do próprio desenvolvimento.
Parafraseando Solé (1998), o melhor meio de fazercom que os alunos assumam a responsabilidade do próprio desenvolvimento é o professor dividir o ensino em três etapas: 
Na primeira etapa os professores são os modelos, esses modelos permitem aos alunos compreenderem os textos, os exemplos, hipóteses e mecanismos que os compõem, expondo aos alunos os procedimentos utilizados na compreensão textual. 
Na segunda etapa, começa a participação do aluno, embora dirigida pelo professor, que formula perguntas, sugere hipóteses e transmite as próprias opiniões e conclusões. Aos poucos, o professor vai transferindo a responsabilidade de compreender o texto para os alunos, incentivando-os a seguirem em frente com as próprias ideias, opiniões e conclusões sobre o texto discutido. 
Já na terceira etapa, os alunos passam a realizar sozinhos, as tarefas que antes eram orientadas pelo professor. Eles buscam exemplos que confirmam ou negam suas ideias, pensamento e conclusões a respeito do tema. Mas o método mais usado no ensino de leitura é o método direto ou ensino direto, em que ele explica e desenvolve o exercício em questão, sendo totalmente encarregado do ensino, não permitindo que os alunos busquem a leitura para a compreensão e interpretação. 
Para ensinar os alunos a compreender o texto, o professor deve reconhecer os objetivos do ensino da leitura e ser capaz de expor aos alunos. O ensino é construído em cima de livros de texto, realizado em grupos, grandes ou pequenos. O professor que está bem preparado deve ser capaz de prever e compreender o aluno, apontando, corrigindo e explicando os erros e as dúvidas dos alunos. 
Existem discussões sobre a eficácia desse método, porém esse modo de ensino é um dos métodos que mais se preocupa com a necessidade de ensinar os alunos a ler. Pois, na sala de aula o aluno é passivo, ele simplesmente responde ao entusiasmo do professor, fazendo o que ele pede, ou seja, o aluno só corresponde ao método direto se o professor dirigir o ensino diretamente a ele. Assim, o modelo proposto se torna recíproco, o aluno passa a assumir um papel ativo dentro do ensino, onde formula perguntas, esclarece dúvidas e resume o texto, depois expõe suas dúvidas e conclusões ao grupo, assim, um ajuda o outro, trocando opiniões. Para Silva (1995, p.103): “[...] o ensino da leitura significa estabelecer as funções que ela deve cumprir na escola e na sociedade [...] nenhum tipo de ensino é politicamente neutro.”
As diferenças sociais estão presentes nas escolas, influenciando, com sua variável história de vida, a leitura e sua interpretação, pois um texto sempre está relacionado a um contexto e a leitura, quando crítica, remete o leitor a um mundo de percepções, conhecimentos e análises.
Fica ao encargo do professor partilhar experiências de mundo com os alunos, incluindo toda a bagagem de conhecimento adquirida no decorrer dos anos.
Segundo Kleiman (2002, p.30):
 [...] o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos específicos em relação a essa atividade. Nele a atividade de leitura é difusa e confusa, muitas vezes se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos, análise sintática, e outras tarefas do ensino da língua. Assim, encontramos o paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é perfeitamente capaz de planejar as ações que o levarão a um objetivo pré-determinado (por exemplo, elogiar alguém para conseguir um favor) quando se trata de leitura, de interação à distância através do texto, na maioria das vezes esse estudante começa a ler sem ter idéia de onde quer chegar, e, portanto, a questão de como irá chegar lá... nem sequer supõe.
Especialistas em leitura afirmam que não há processo de compreensão e sim processos de leitura e que estes processos de leitura são tantos quantos forem os objetivos e as motivações do leitor. Afirmam também que a forma e o tipo de texto determinam os objetivos da leitura. É a partir dos objetivos da leitura que se permite ao aluno controlar e regular o próprio conhecimento, esse processo é chamado “estratégia metacognitiva”.
Por controlar o próprio conhecimento o aluno só aprende o que lhe interessa, Kleiman (2002, p.35) afirma que “[...] a leitura desmotivada não conduz à aprendizagem.”, pois o texto lido apenas como atividade mecânica é esquecido rapidamente, é através do texto que o educador passa ao aluno, que ele vai estabelecer e desenvolver suas estratégias metacognitivas, ou seja, se o texto tratar de um tema que é de interesse do aluno, este procura aprofundar seu conhecimento porque estará fazendo algo prazeroso.
Os objetivos que motivam o aluno a ler e compreender o texto trazem outra situação: a formulação de hipóteses, pois o aluno terá dúvidas e elaborará hipóteses sobre o assunto e a estrutura do texto, de forma que consegue alcançar novos horizontes, visando os amplos significados presentes no texto. Assim, sempre estará construindo novos conhecimentos para ele e para sua vida em sociedade. 
3.2 FUNÇÃO DA LEITURA
1. Reconhecer diferentes gêneros do discurso: notícia, resumo, resenha, relato pessoal, resenha crítica, carta familiar, carta do leitor, horóscopo, sinopse, propaganda, relato de viagem, relatório científico, artigo de opinião, fábula, conto de fadas, conto de horror, anedotas, charge, quadrinhos, conto de riso, convite, cartaz, pôster, ofício, memorando, entre outros. 
2. Perceber os elementos estruturais do gênero em estudo: partes do texto, relação entre as partes do texto e coerência textual.
3. Comparar modos de organização textual.
4. Ler textos a partir de suas características dando entonação adequada, respeitando as pontuações. 
5. Avaliar o efeito de sentido consequente do uso da pontuação expressiva.(interrogação, exclamação, reticências e outros)
6. Depreender o sentido das palavras no texto e no contexto.
7. Distinguir causa/consequência, fato/opinião ou definição/exemplo.
8. Estabelecer relação ideia principal/idéia secundária.
9. Identificar e analisar o(s) objetivo(s) de um texto dentro da situação de enunciação (Quem?; Diz o quê?; Para quem?; Para quê?; Onde?; Quando?; Como?).
10. Identificar índices contextuais e situacionais ( marcas dialetais, níveis de registro, jargão, gíria, variações lingüísticas) que permitam a construção da imagem do locutor e interlocutor. 
11. Interpretar sequências de ideias; acontecimentos; analogias; comparações; linguagem figurada, etc.
12. Perceber a coerência como um elemento fundamental para a compreensão de um texto. 
13. Reconhecer que certos elementos linguísticos constituem marcas de textos de diferentes gêneros e estes em seus respectivos suportes. 
14. Reconhecer os mecanismos coesivos sequenciais.
15. Refletir sobre a importância do que foi lido, tirando conclusões e fazendo avaliações.
16. Relacionar informações constantes do texto com conhecimento prévios, identificando situações de ambiguidade ou de ironia, opinião de valores implícitos e pressuposições. 
17. Relacionar informações verbais e não verbais em um texto.
18. Reconhecer a intertextualidade e/ou interdiscursividade.
3.3 DESENVOLVIMENTO - PRODUÇÃO DE TEXTO
1. Assegurar a unidade temática ao texto, considerando a proposta apresentada. 
2. Avaliar o próprio texto a partir das condições de produção, da construção composicional e dos recursos linguísticos estudados.
3. Construir enunciados estabelecendo a sintaxe de regência e concordância verbal e nominal.
4. Elaborar relatos de experiências de fatos históricos. 
5. Elaborar textos de diferentes gêneros discursivos
6. Enfatizar ideias mais importantes do texto.
7. Construir textos utilizando-se de linguagem figurada.
8. Utilizar a adequação vocabular considerando as idéias do texto.
9. Utilizar a norma padrão.
10. Utilizar recursos gráficos e expressivos para o efeito de sentido.
11. Reconhecer e empregar adequadamente formas lexicais e gramaticais à variante e ao grau de formalidade da situação enunciativa.
12. Utilizar recursos discursivos que lhe permita atingir os objetivos de escritor que quer conquistar seu leitor, adequando esses recursosas ideias que quer transmitir.
13. Reconhecer e utilizar as marcas do discurso direto e indireto.
14. Produzir textos coesos e coerentes.
15. Perceber e utilizar as características da linguagem jornalística. 
3.4 ALFABETIZAÇÃO: UM PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA
	Escrever e ler são duas atividades da alfabetização que devem ser conduzidas paralelamente. No entanto costuma-se dar muito mais ênfase à escrita do que à leitura. Pode-se creditar isto ao fato de as escolas acreditarem que é mais fácil avaliar um aluno pelos seus acertos e erros de escrita, o que fica difícil de realizar quando um aluno lê.No entanto, ler é uma atividade tão importante quanto a produção de textos, principalmente para jovens e adultos em processo de alfabetização que, em muitos casos, vivem praticamente sem escrever, mas não sem ler. Necessitam da leitura para a sua vida cotidiana, principalmente em nossa sociedade atual. As pessoas que vivem nas cidades precisam saber ler as placas de ônibus, números, etiquetas de alimentos, documentos etc.
	Além de ter um valor técnico para a alfabetização, a leitura é ainda uma fonte de prazer, de satisfação pessoal, de conquista, de realização, que serve se grande estímulo e motivação para que o aluno jovem e adulto permaneça em sala de aula e dê continuidade a sua formação.
	O processo tradicional de introdução do aluno à leitura é através do bê-á-bá, isto é, através das famílias silábicas, o que pode acarretar problemas sérios para a formação do leitor. O reconhecimento das famílias silábicas, como o próprio reconhecimento das letras, faz parte do processo de decifração que já deve ser considerada um estágio inicial de leitura. Por isso, nem sempre é importante que o aluno conheça todas as palavras do texto. Deixá-lo ler, refletindo sobre as estratégias de leitura e o conteúdo do texto, é fundamental.
Decifração da escrita – o início da leitura
Um dia numa caverna, um homem começou a desenhar e encheu as paredes com figuras, representando animais, pessoas, objetos e cenas do cotidiano. Recebendo visitas de amigos, foi questionado sobre o significado dos desenhos. O homem começou a explicar os nomes das figuras e a relatar os fatos que os desenhos representavam. Depois, à noite, ficou pensando no que tinha acontecido e acabou descobrindo que podia “ler” os desenhos que tinha feito. Ou seja, os desenhos, além de representar objetos da vida real, serviam também para representar palavras que, se referiam a esses mesmos objetos e fatos na linguagem oral. Pode-se dizer que a moral desta história seria: quem inventou a escrita foi a leitura.
	Com esta tentativa de registrar a linguagem a partir de desenhos, foi elaborada a escrita ideográfica, que parte dos significados, das idéias. Já a fonográfica é escrita a partir dos sons das palavras. O nosso sistema de escrita em particular é fonográfico, de base alfabético-ortográfica, ou seja, a escrita é a representação dos sons da nossa língua através de letras e o que estabelece as relações entre letras e sons não é o alfabeto e sim a ortografia.
	No entanto, quando o homem explicou o significado dos desenhos da caverna, fazendo a sua decifração, ele não se restringiu a uma tradução de letras em sons, mas incluiu o reconhecimento dos significados das palavras, pois existia um contexto para o uso daqueles desenhos específicos. Isso ocorre também quando se inicia o processo de alfabetização onde o aluno traz consigo para a escola algumas representações e hipóteses sobre a linguagem oral e escrita. Como falar é fácil, segundo sua experiência de vida, eles acham que ler deve ser igualmente fácil. Ler é o primeiro desafio que eles encontram na escola.
Com o uso do alfabeto e com as devidas explicações sobre o conhecimento das letras que compõem as palavras (sejam elas quais forem), o aluno pode passar facilmente da decifração da escrita para a fala do que está escrito, realizando assim, o processo de leitura.
O que vem primeiro, a leitura ou a escrita?
Para Cagliari:
No processo de alfabetização, a leitura precede a escrita. Na verdade, a escrita nem precisa ser ensinada se a pessoa souber ler. Para escrever, uma pessoa precisa, apenas, reproduzir graficamente o conhecimento que tem de leitura. Por outro lado, se uma pessoa não souber ler, o ato de escrever será simples cópia, sem significado. (Cagliari, 1994, apud Massini-Cagliari, 1994, p. 26).
Para este autor, o fundamental é partir da leitura, ensinando as relações entre letras e sons, mostrando como estas relações são diferentes, em um sistema ortográfico, quando se parte da leitura para a escrita ou da escrita para a leitura.
	Deve-se lembrar que a leitura não é a fala da escrita, mas um processo próprio que pressupõe um amadurecimento de habilidades linguísticas em parte diferentes das que ocorrem na produção da fala espontânea. Uma leitura em voz alta, além de levar em conta o que se deve fazer para dizer algo em termos de produção sonora da fala, exige ainda que o leitor acompanhe um raciocínio sobre um pensamento exterior, expresso por outra pessoa, e que ele “declama” como se fosse um ator. A complexidade desse fato é enorme, e muitas vezes a escola não se dá conta disso, porque os adultos já amadureceram para a leitura.
	É neste estágio, onde o leitor atinge um tal grau de maturidade e independência apropriando-se do texto como construção do outro e reconstrução sua, diz-se que o leitor chegou a um patamar ideal. E é somente a partir daí que o leitor pode usufruir plenamente da leitura em todas as funções que ela possa assumir na sociedade. Cabe ao leitor não somente decodificar o que foi escrito pelo escritor, mas principalmente reconstruir a coerência construída por ele.
Como pode ser percebido, dá-se a leitura uma grande importância social, pois o seu desenvolvimento implica diretamente a formação do ser humano e do cidadão. Isso acabou por relegar a decifração da escrita a um segundo plano, pois esta limitaria a leitura somente a um processo de decodificação, matando todo o processo de construção e reconstrução de sentidos.
A leitura como atividade fundamental
Para Cagliari (1997), a atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos é a leitura. É muito mais importante saber ler do que saber escrever.
A leitura é a realização do objetivo da escrita. Quem escreve, escreve para ser lido. O objetivo da escrita é a leitura. E ler é um processo de descoberta, as vezes requerendo um trabalho paciente, outras vezes é feita de forma superficial ou lúdica. Pode-se ter então várias atitudes perante a leitura. Ela é uma atividade profundamente individual e duas pessoas dificilmente a fazem da mesma maneira.
Ao contrário da escrita, que é uma atividade de exteriorizar o pensamento, a leitura é uma atividade de assimilação de conhecimento, de interiorização, de reflexão.
Portanto, a leitura é uma decifração e uma decodificação. O leitor deverá em primeiro lugar decifrar a escrita, depois entender a linguagem encontrada, em seguida decodificar todas as implicações que o texto tem e, finalmente, refletir sobre isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do que leu. A leitura sem decifração não funciona adequadamente, assim como sem a decodificação e demais componentes referentes à interpretação, se torna estéril e sem grande interesse. A leitura é uma atividade estritamente linguística e a linguagem se monta com a fusão de significados com significantes.
Depois que o leitor decifrou a escrita, ele tem subsídios para processar o que decifrou em termos de produção de fala. Para tal, deverá lançar mão dos recursos que usa quando fala espontaneamente. Para conseguir ler, deve-se, pois, decifrar foneticamente a escrita, processa-la para a fala e realizar todas as etapas necessárias para a produção do que se vai dizer, da maneira como se vai dizer.
Atividades que colaboram para a decifração da escrita
É importante lembrar que saber para que serve a leitura e a escrita não é saber ler e escrever. Por isso, o desenvolvimento de atividades deprodução / interpretação de texto podem ajudar o aluno a compreender os usos sociais da leitura e da escrita.
Além disso, deve-se considerar o fato que jovens e adultos das camadas populares normalmente não têm livros em casa e, então, não possuem o hábito da leitura. Este tipo de atividade funciona também como um incentivo à sua incorporação em sua vida.
A escola deve despertar o aluno para a atividade de leitura, percebendo a sua importância no processo de alfabetização. Esta torna o aluno apto a conquistar o mundo e se realizar enquanto indivíduo.
Este tipo de conquista é a motivação necessária para que o aluno valorize o seu desenvolvimento e o processo de alfabetização em si, pois é justamente ele que o irá auxiliar no desvendamento do seu mundo.
3.5 A AQUISIÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE E DA ESCRITA PELO ALUNO. 
 “Ninguém educa ninguém.
Ninguém educa a si mesmo.
As pessoas se educam entre si,
Mediatizadas pelo mundo.”
 (Paulo Freire)
Nos últimos tempos, o Brasil tem sido alvo de comentários nada animadores em relação aos baixos índices de aproveitamento escolar. Dados estatísticos apontados pela UNESCO e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico atestam que os estudantes brasileiros conseguem ler, mas não demonstram capacidade de reter nem de interpretar as palavras, não conhecem e não utilizam conteúdos matemáticos e científicos, não sabem..., não sabem... Se estes são meros dados sensacionalistas ou não, se a educação deste país está em crise ou não é só uma questão de ponto de vista. Mas um dado é real e nem um pouco discreto: nós, professores deste país, estamos assustados com tantos “não saberes”.
A quem atribuir todo esse insucesso? A resposta mais cogitada se respalda nas dificuldades sociais e econômicas da população. Essa é uma causa que vem se arrastando ao longo das décadas e que é eminentemente política, mas nem por isso podemos deixar de dar a nossa contribuição.
Vários grupos de professores espalhados pelo Brasil afora, comprometidos com seus ideais e crentes na possibilidade de, apesar das enormes dificuldades, construírem um mundo melhor, estão arregaçando as mangas, pondo-se a pensar em maneiras de solucionar, ou pelo menos diminuir, os graves problemas que a educação brasileira enfrenta. Um desses grupos está em Rondônia e optou por, primeiramente, pesquisar para, então, sugerir melhorias.
O papel do educador não é propriamente falar ao educando sobre sua visão de mundo ou lhe impor esta visão, mas dialogar com ele sobre a sua visão e a dele. Sua tarefa não e falar, dissertar, mas problematizar a realidade concreta do educando, problematizando-se ao mesmo tempo. Nesse sentido, educador/educando estão sempre a se fazer a se construir num processo de inacabamento de incompletude em que o diálogo é mediador dessa reconstrução. Para melhor compreender a linguagem e a língua, sua constituição sócio-histórica e relação com alfabetização e letramento há inúmeras contribuições dadas por Paulo Freire, pois quando perguntado porque alfabetizar, ele respondeu: “para que as pessoas que vivem em uma cultura que não conhece as letras não continuem roubadas de um direito – o de somar à “leitura” que já fazem do mundo a leitura da palavra que ainda não fazem. ”
Foi objetivando entender e conhecer melhor a realidade linguística tanto de alfabetizandos quanto de professores alfabetizadores de escolas públicas de bairros periféricos e ribeirinhos de Porto Velho/RO que surgiu, na Universidade Federal de Rondônia, o Projeto “Alfabetização de Ribeirinhos na Amazônia: uma proposta a ser construída” E foi por entender que, no processo de aquisição e desenvolvimento da escrita e letramento, há a necessidade de: (a) conhecer e investigar as concepções de linguagem e de língua que subjazem ao trabalho de leitura e produção escrita que o professor veicula na sala de aula, (b) investigar o nível como se processa a oralidade dos alunos (em que momentos eles se expressam espontaneamente, dentro e fora da sala de aula), (c) diagnosticar o nível de letramento das famílias dos educandos, (d) diagnosticar as variantes lingüísticas desses alunos como pressupostos para a aquisição de letramento, a fim de que não se tenham resultados laterais, vistos apenas sob um prisma, mas a integração professor e aluno que poderá trazer, para a ação do professor, um modo de fazer fora do instituído no livro didático; e para o aluno, a construção de um espaço para a infância e para a criatividade na escola.
Partindo do princípio de que a “alfabetização é a ação de ensinar/aprender a ler e a escrever, (...) letramento é o estado ou condição de quem não sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais dos que usam a escrita e (...) alfabetizar letrando é ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da escrita” (Revista Educação Popular), ou, ainda que “o letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso é um conjunto de práticas, ou seja, letramentos (Marcuschi, 2003) e que os moldes tradicionais de ensino-aprendizagem não têm atentado suficientemente para os aspectos sociais da linguagem, da leitura e da escrita, tomamos a iniciativa de proceder a uma pesquisa-ação em comunidades periféricas – urbanas ou ribeirinha rural, onde se pode encontrar um grande número de alunos desistentes ou reprovados e os que avançam o fazem com muitas restrições (provavelmente fazem parte daquela estatística recente).
Estamos entendendo pesquisa-ação como 
“ ... um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo” (Thiollent, Michel, 2000).
E é exatamente esse aspecto social e participativo que envolve pesquisadores e pesquisados que norteia o trabalho de observar, investigar, conhecer e participar.
Se por um lado a linguagem dos alunos das escolas pesquisadas traz marcas significativas de variações sociais, por outro lado a linguagem dos professores também as trazem. Até aí nenhuma novidade. O problema é que nem a linguagem dos alunos e nem a dos professores é a pretendida pela escola enquanto instituição de ensino. E então? O famoso nível culto da linguagem, propalado aos quatro ventos como linguagem a ser alcançada pelos alunos através da escola, está cada vez mais distante de ser atingido. Pior ainda. A linguagem trazida pelos alunos é discriminada pela escola e pela sociedade, dificultando todo e qualquer avanço de alfabetização ou de letramento. Caímos no velho problema: nem a linguagem que o aluno traz é boa, nem ele “aprende” aquela supostamente boa. Consequência: “a escola não serve para nada” e “o melhor é parar de estudar, esse mundo não foi feito para nós” (palavras de um aluno desistente). 
Comecemos, então, pelo respeito à linguagem dos nossos alunos. Afinal, já nos perguntamos por que eles falam como falam? Para que quereriam falar de outra forma? Por que haveriam de mudar seus jeitos de falar? Que diferença faria em seus cotidianos quaisquer mudanças? Por que não podem continua falando como falam?
Se as respostas forem, respectivamente, falam assim porque é assim que sabem falar, não têm objetivos claros para mudarem suas falas, falar assim os satisfaz, mudar não traria benefício algum, podem continuar falando assim, sim. Temos aí um quadro de falantes que se respeitam apesar das variações linguísticas.
Mas, se as respostas forem, respectivamente, falam assim porque são analfabetos, não têm interesse em falar diferente porque são acomodados, não querem mudar suas falas para não serem diferentes dentro da comunidade de fala, se o governo não ajudar com a cesta básica de que

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