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Sergio Luiz de Barros Santiago Mapeamento e Gerenciamento de Processos Sumário 03 CAPÍTULO 2 – Como analisar os processos de negócio? ....................................................05 2.1 Compreendendo o Ambiente de Negócio ...................................................................05 2.1.1 Construindo um cenário abrangente ..................................................................06 2.1.2 Encontrando a melhor posição no mercado ........................................................06 2.1.3 Preparação para atuar .....................................................................................08 2.2 Definição de Padrões de Coleta de Informação ...........................................................13 2.2.1 O que, onde, quando, por que, como e por quem o trabalho é feito? ...................13 2.2.2 Fluxograma ....................................................................................................15 2.2.3 Trabalhando em equipe ...................................................................................16 2.3 Métodos de Levantamento de Informações ..................................................................19 2.3.1 Concepção do levantamento ............................................................................20 2.3.2 Tipos de Levantamento .....................................................................................20 2.3.3 Análise de Desempenho ...................................................................................23 2.4 Controle de Processos ..............................................................................................25 2.4.1 Capacidade de controle de processos ................................................................25 2.4.2 Técnicas de controle de processos .....................................................................26 2.4.3 Governança em Processos ................................................................................29 Síntese ..........................................................................................................................32 Referências Bibliográficas ................................................................................................33 05 Capítulo 2 Ao longo das últimas décadas, as exigências do mercado foram aumentando a complexidade gerencial, exigindo um posicionamento claro das empresas. O ambiente empresarial ficou mais agitado e complexo, impondo uma compreensão e o efetivo gerenciamento das atividades da empresa, envolvendo seu planejamento e controle. Para essas mudanças do ambiente, o sistema gerencial é crucial, pois determina como a organização percebe os movimentos, diagnostica, decide o que fazer e põe em prática suas decisões (ANSOFF, MCDONNELL, 1993). Tais ações são efetivadas no âmbito dos processos gerenciais, ativadas por indicadores, como os gerados pelo Balanced Scorecard de Kaplan e Norton (2004), que sugerem metas aos processos. Na última década, a discussão foi sobre a integração da estratégia com os processos empresa- riais, na busca de alinhar a organização, ou seja, de entender as interfaces e os relacionamentos das atividades de modo a se obter a integração. Diante desse cenário, algumas perguntas são pertinentes, como: quais são os processos empresariais críticos para isso? Como relacionar os processos aos objetivos? A resposta está na avaliação de desempenho. Todavia, existe um paradoxo, pois a tomada de decisão que é fundamental é o processo menos sistematizado, e é nesse aspecto que o Business Process Management (BPM) assume importância, visto que é basilar para o entendimento do processo de negócio. A análise de processos proporciona uma compreensão das atividades do processo e os seus resultados e dos processos em relação a sua capacidade de atender às metas pretendidas. E analisa também as interferências no desempenho do processo. Com isso, surge a seguinte per- gunta: como fazer essa análise? Neste capítulo, entenderemos como fazer essa análise, sendo que existem várias técnicas para levantar informações, incluindo modelagem, entrevistas, questionários, observações, simulações, entre outras. Além disso, nos tópicos a seguir, buscaremos entender o ambiente organizacional inserido no seu cenário para, então, definir quais informações serão úteis à gestão, onde encon- trá-las e como obter tais informações, em conformidade com as regras e regulações vigentes, indicando, assim, quais dessas informações poderão subsidiar a tomada de decisão. Vamos lá?! 2.1 Compreendendo o Ambiente de Negócio Cada vez mais, estar bem informado sobre o ambiente interno e externo propicia aos gestores condições mais favoráveis para o exercício de suas funções, de modo a aproveitar as oportuni- dades e se preparar para as surpresas que possam aparecer. A figura 1, a seguir, mostra o posicionamento da empresa no seu ambiente de negócios. Como analisar os processos de negócio? 06 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Ambiente Externo Mercado Empresa Figura 1 – Ambiente de Negócio. Fonte: Elaborada pelo autor, 2016. A existência de fronteiras indica que poderão haver trocas, influências e restrições entre as en- tidades separadas por elas, e será de fundamental importância o conhecimento dos diferentes cenários que se oferecem ao gestor nesse contexto. Acompanhe! 2.1.1 Construindo um cenário abrangente A competitividade de uma organização está condicionada por situações externas remotas em re- lação ao negócio, que podem ser analisadas pelo modelo conhecido como Análise PESTAL, um acrônimo formado pelas iniciais dos fatores políticos, econômicos, socioculturais, tecnológicos, ambientais e legais. Veja, a seguir, alguns fatores que podem influenciar as decisões empresariais. • Políticos: estabilidade governamental; política monetária e orçamental; política de impostos; e política comercial. • Econômicos: ciclos econômicos; tendência do PIB; taxas de juros; taxas de câmbio; taxa de inflação; e desemprego. • Socioculturais: demografia; distribuição de renda; mobilidade social; estilos de vida - trabalho e lazer; consumerismo e níveis de educação da população adulta. • Tecnológicos: novas descobertas e desenvolvimentos; obsolescência; e dinâmica de difusão de tecnologia. • Ambientais: leis de proteção ambiental; tratamento de resíduos; e consumo de energia. • Legais: leis de concorrência; legislação trabalhista; e normas de qualidade dos produtos. A seguir, veremos como encontrar o melhor modelo de análise para as empresas. 2.1.2 Encontrando a melhor posição no mercado A análise de mercado pesquisa fatores externos mais próximos e que afetam o mercado da em- presa, portanto seus clientes, concorrentes e fornecedores. Assim, é preciso encontrar um modelo 07 de análise de mercado adequado à empresa referência, que permita entender clientes ou consu- midores, concorrentes e fornecedores do seu setor de negócio, permitindo, assim, a visualização de fatores que possam influir na sua atuação. VOCÊ QUER VER? O filme Com o dinheiro dos outros, que tem no elenco Danny DeVito, Gregory Peck e Penelope Ann Miller, trata de assuntos relativos à internacionalização de mercados, governança corporativa, ética e responsabilidade social, liderança e clima organizacio- nal; assuntos relacionados ao tema deste capítulo. Um modelo atual e muito utilizado para entender a posição da empresa no seu mercado é o modelo de análise de competitividade das 5 forças de Porter (1999). O modelo das 5 forças de Porter (figura 2) considera as forças competitivas como cinco fatores que devem ser estudados para que as companhias possam desenvolver uma estratégia empresarial eficiente. Poder de Barganha dos Fornecedores Poder de Barganha dosClientes Ameaça de Novos Entrantes Rivalidade entre Concorrentes Ameaça de Produtos Substitutos Figura 2 – Modelo das Cinco Forças. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em PORTER, 1999. Vamos entender como esse modelo funciona refletindo sobre cada força, no momento de realizar a análise. Acompanhe! • Como se dá a rivalidade entre concorrentes? É importante saber quem são os concorrentes diretos da empresa, como eles se agrupam, como atuam e quais diferenças apresentam nessa atuação. 08 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos • Quais são os produtos ou serviços que podem substituir os que a empresa oferece? É necessário relacionar todos os produtos e serviços que possam oferecer benefício igual ou superior ao dos seus produtos. • Qual é o poder de negociação dos seus fornecedores? Não depender de poucos fornecedores é o ponto de partida para não ficar dependente deles, isso porque eles decidem quanto custa o produto, quando entregar e qual é a qualidade, o que não é nada bom para os negócios. Construir uma relação de parceria com os fornecedores é o caminho! • Como evitar ou dificultar a entrada de novos concorrentes (entrantes)? A partir da criação de barreiras de entrada nesses mercado, bem como buscando a parceria de outras empresas que já participam do mercado para resistirem ao intruso. Entre as principais barreiras há: a economia de escala, o capital necessário para competir desafiado por ações de marketing dispendiosas para atrair a atenção dos consumidores e a dificuldade de acesso aos canais de distribuição por meio de parceria com tais distribuidores. • Qual é o poder de negociação dos clientes? “Quem tem um, não tem nenhum”. Essa máxima diz tudo, pois se a empresa tiver poucos clientes ou consumidores, ficará dependente deles. Eles podem forçar o preço do produto para baixo, ou demandar uma qualidade maior do que a atual. Portanto, deve-se procurar tratá-los com excelência. Economia de escala é aquela que maximiza o uso dos recursos produtivos envolvidos no processo, visando baixos custos de produção e o incremento de bens e serviços. E é uma barreira porque está relacionada a reduzir os custos e o valor do produto e, com isso, adquirir competitividade em relação a uma empresa iniciante no mercado. VOCÊ SABIA? Até aqui, vimos que as informações para o cenário externo ja podem ser obtidas, mas como construir o cenário interno? Acompanhe o próximo item. 2.1.3 Preparação para atuar A análise do ambiente interno de uma organização, segundo Lobato et al (2000), compreende o diagnóstico de suas forças e fraquezas, suas capacidades e competências, ou seja, obter a resposta para algumas perguntas, como: de que recursos a organização dispõe para cumprir sua missão? Quais capacidades e competências a organização precisa desenvolver? Que aspectos internos podem ser caracterizados como pontos de força ou fraqueza em relação ao cumprimen- to dos objetivos organizacionais? Qual é o desempenho da organização comparativamente ao desempenho da concorrência? O processo de análise do ambiente interno é iniciado por meio do reconhecimento dos recursos disponíveis na empresa. Esses podem ser tangíveis, como equipamentos, materiais e instalações; ou intangíveis, como marcas e patentes, métodos de processo, confiança, tradição no mercado, entre outros. As capacidades provêm do conhecimento da organização, da habilidade para gerenciar os re- cursos num ambiente complexo e imprevisível. 09 As competências essenciais podem ser definidas como as habilidades ou tecnologias de que a organização dispõe e que lhe servem de base para gerar benefícios aos clientes. Com base nas suas competências essenciais, sua competitividade cresce, e seus resultados superam os dos competidores, agregando valor, que é percebido pelos clientes, ou seja, são criadas vantagens competitivas sustentáveis. Após a identificação das forças e fraquezas da organização, devem ser avaliados os fatores crí- ticos de sucesso com o objetivo de priorizar as atividades-chave do negócio, que precisam ser muito bem executadas para que a organização atinja seus objetivos. Na decada de 1960, alguns pesquisadoores desenvolveram uma matriz de análise de negócios, que é muito conhecida e utilizada no ambiente empresarial e acadêmico sem, contudo, ter uma autoria determinada. Essa matriz é mundialmente conhecida como Matriz SWOT (figura 3), que relaciona as forças e as fraquezas das organizações com seu mercado e o ambiente externo como um todo, sendo, assim, de grande valia para a análise da competitividade, que é vital para as organizações no mundo dos negócios. A expressão SWOT é um acrônimo das iniciais das seguintes palavras em inglês: Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Opor- tunidades), Threats (Ameaças). Fatores Positivos Fa to re s In te rn os Fa to re s Ex te rn os Fatores Negativos S - Strengths F - Forças W - Weaknesses F - Fraquezas O - Oportunities O - Oportunidades T - Threats A - Ameaças SWOT FOFA Figura 3 – Matriz SWOT. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em KOTLER; KELLER, 2006. A análise pelo modelo SWOT, além de auxiliar na identificação das características de força e fraqueza de uma organização, ainda possibilita, perante as caracteristicas já identificadas do ambiente externo e do mercado de um negócio, utilizando os modelos PESTAL e das 5 Forças já vistas, identificar as oportunidades que existem para esse negócio e as ameaças vindas do cenário externo. Com essas informações, os gestores conseguem conduzir com mais segurança o negócio e, inclusive, arriscar com a sabedoria necessária. Combinando fatores internos e externos, de acordo com a classificação SWOT, pode-se posicio- nar de forma diferente perante aquilo que vem de fora do negócio, e é nesse momento que a gestão de processos é fundamental, pois ela dá estrutura e agilidade para o processo decisório (figura 4), podendo desssa forma gerar valor para o cliente. 10 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Modelo SWOT Pontos Fortes Pontos Fracos Explorar Melhorar Enfrentar Explorar Análise Externa Enfrentar Abandonar ou Modi�carA ná lis e In te rn a Figura 4 – Decisões estratégicas. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em CHIAVENATO; SAPIRO, 2003. Os processos devem suportar situações competitivas de exploração, enfrentamento, melhoria e mudança ou abandono. O livro Safári da Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico, de Mintzberg, Ahistrand e Lampel, detalha as dez principais escolas de pensamento sobre formulação de estratégia. A idéia dos autores é conduzir os leitores a uma caçada do conhecimento desse tema muito importante e desafiador para os profissionais que pla- nejam e decidem. VOCÊ QUER LER? Desse modo, foram apresentados três modelos de apoio para a análise do ambiente de negó- cio, que servirão para organizar e interligar informações coletadas no cenário como um todo. Visualmente, complementando o desenho da figura 1, apresentamos um desenho representativo do ambiente de negócio e da ação dos modelos de suporte à análise de variáveis. Veja a figura a seguir. Ambiente Externo Mercado Empresa SWOT- Fatores organizacionais - Fatores de pessoal - Fatores de marketing - Fatores de produção - Fatores �nanceiros - Fatores comerciais PESTAL - Fatores políticos - Fatores econômicos - Fatores socioculturais - Fatores tecnológicos - Fatores ambientais - Fatores legais FORÇAS - Concorrentes - Produtos substitutos - Fornededores - Novos concorrentes - Clientes 5 Figura 5 – Modelos de Análise de Cenário. Fonte: Elaborada pelo autor, 2016. 11 O quadro 1 traz algunspontos de reflexão, levantados pelos autores do Modelo Canvas, uti- lizado para construir planos de negócio, trabalhando sobre situações analisadas com a Matriz SWOT. Nessas situações, os gestores-empreendedores passaram momentos de euforia, tranqui- lidade e aflição, sob a ação das variáveis externas e internas, atuantes no dia a dia, e, portanto, influindo no fluxo dos processos. Proposta de valor Custos/Receitas Infraestrutura Interface com clientes Análise das forças e fraquezas • Alinhamento com as necessidades dos clientes • Sinergia entre os produtos e serviços • Grau de satisfação dos clientes • Possibilidade de re- alizar uma projeção mais realista • Fontes de Receitas diversas e sustentá- veis • Margem de ganhos viáveis • Capacidade de pa- gamento dos clientes • Operações que poderão ou não otimizar os custos • Estrutura de custo adequada • Possibilidade de ser replicada • Disponibilidade de recursos logistica- mente • Possibilidade das atividades-chaves serem replicadas • Equilíbrio quan- to à utilização de recursos próprios e terceirizados • Ambiente que pro- move bom relacio- namento com os parceiros • Segmentação de clientes • Facilidade ou não de perder e conquistar clientes • Canais de acesso à empresa que promo- va conveniencia ao perfil dos clientes • Poder da marca para conquistar cliente • Possibilidade de promover forte rela- cionamento com o cliente Análise das ameaças • Existência de produ- tos e serviços simila- res no mercado • Abordagem estraté- gica da concorrência • Possibilidade de mudança dos custos com o avanço tecno- lógico • Variação das mar- gens de ganhos por conta da concor- rência • Variáveis que pode- rão influenciar na mudança brusca dos custos e na precifica- ção dos produtos e serviços • Risco de perder parcerias • Possibilidade de interrupção de for- necimento de alguns recursos importantes para empresa • Potenciais parceiros não agirem etica- mente e prejudican- do a empresa • Saturação de mer- cado • Equívocos a reação de mercado que venha dificultar os canais de acesso propostos para se relacionar com os clientes • Possibilidade de não conseguir manter o relacionamento com os clientes Análise das oportunidades • Possibilidade de im- plementar inovações • Capacidade de atender necessida- des adicionais dos clientes • Oportunidade de melhoria continua na construção do relacionamento com o cliente • Flexibilidade em mu- dança de preços • Alternativas para redução de custos • Até quando os clien- tes estão dispostos a pagar • Possibilidade de ganho de eficiência com a terceirização de recursos princi- pais • Capacidade de padronização das rotinas e procedi- mentos • Utilização de tecno- logia para ganhos de escala e con- veniência para os clientes • Aprimorar os canais de acesso dos clientes • Capacidade de melhor monitora- mento e suporte aos clientes • Ampliar para atender novos segmentos de clientes • Possibilidade de redi- recionar o foco para segmento de clientes mais lucrativos • Aprimorar o proces- so de atendimento aos clientes Quadro 1 – Situações de Negócio. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010. 12 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Os pontos de reflexão foram agrupados em quatro linhas de interesse, sendo que duas focam diretamente a missão do negócio: propostas de valor e interfaces com o cliente; uma terceira foca o apoio: infraestrutura; e a outra foca a operação do negócio, o motor da empresa, em si: custos/receitas. Estamos em uma nova era de pensamento em processos, um período que, na opinião do Gart- ner Group (2005), será diferenciado por processos mais flexíveis e não apenas padronizados e eficientes, uma preocupação da maioria das organizações (ABPMP, 2009). O Gartner Group é uma empresa americana de consultoria especializada em TI, com um quadro associativo de cerca de 6.000 profissionais atuantes na área espalhados pelo mundo, que realiza pesquisas, eventos e desenvolve ferramentas que auxiliam seus clientes na tomada de decisão em assuntos referentes à especialização. VOCÊ SABIA? Para enfrentar tais desafios, as organizações necessitam melhorar sua capacidade de se antecipar e de responder tanto a mudanças de mercado quanto a demandas de clientes. As organizações buscam a flexibilização de suas operações, face aos eventos gerados pelo mundo globalizado. Mesmo que a gestão de processos venha se deparando com a ideia da “agilidade nos negó- cios”, poucas organizações de fato alcançaram esse objetivo, embora alguns gestores habilitem mudanças em processos de negócio com uma cultura de melhoria, todavia, seus processos não foram desenhados para mudanças. Em quaisquer situações de mudança significativa, há resistências por medo do desconhecido, sensação de comodismo ou qualquer outro interesse não aparente. Muitos trabalhadores do conhecimento resistem à transformação de processos, pois veem isso como uma diminuição de suas experiências. A análise de processos, segundo a Association of Business Process Management Professionals - ABPMP (2009), é essencial para avaliar como os processos de negócio estão operando. O prin- cipal benefício de analisar o estado atual é o entendimento comum de como o trabalho é feito. Dessa análise, podem ser obtidas informações como as que seguem. • Compreender a visão estratégica da organização. • Entendimento do cenário ao qual pertence o processo (por que o processo existe). • Uma visão do processo como conector de funções. • O abastecimento de recursos e entregas do processo ao mercado, incluindo fornecedores e clientes. • Os papéis e transferências de cada área funcional no processo. • Uma avaliação da escalabilidade, utilização e qualificação de recursos. • Uma compreensão das regras de negócio que controlam o processo. • Medidas de desempenho usadas para monitorar o processo. • Resumo das oportunidades identificadas para aumentar a eficiência e a eficácia. 13 Não há um único modo correto para analisar processos de negócio. Tópicos a serem estudados, métodos para estudá-los e ferramentas a serem utilizadas dependerão da natureza do processo e da informação disponível quando a análise é iniciada. Por isso, é recomendável o estabeleci- mento de padrões para a coleta das informações, que é o tema do próximo tópico. 2.2 Definição de Padrões de Coleta de Informação Os padrões de coleta de informação devem ser definidos para determinar quais informações serão coletadas, por quem, critérios de validação, critérios de organização e armazenagem, a forma como será atualizada e como será utilizada. Isso é importante porque sem padrões haverá conflitos e diferenças entre informações coletadas pelos integrantes da equipe de análise e proliferarão de convenções distintas de modelagem, não havendo entendimento entre as convenções utilizadas. A adoção de padrões vale também para as ferramentas de modelagem, pois se não houver padrões, as inconsistências persistirão. E tais inconsistências causarão propagação dos problemas para o modelo corporativo de processos; além disso, a equipe poderá falhar na coleta ou validação da informação necessária. Veja, a seguir, uma técnica que auxilia na padronização dos processos. 2.2.1 O que, onde, quando, por que, como e por quem o trabalho é feito? Apesar dos padrões, muitas iniciativas de análise de processos sofrem com desconexões na terminologia. Está claro que cada organização cria sua própria linguagem BPM, diferindo de organização para organização e de equipe para equipe, e o uso de termos e definições diferentescausam vários problemas de comunicação e entendimento. Como sabemos, um processo de negócio é definido de maneira abrangente. Nesse caso, é reco- mendável o uso da técnica do 5W1H, que aborda o que (what), onde (where), quando (when), por que (why) e como (how) o trabalho é feito e quem (who) é o responsável por realizá-lo. Tais informações são fundamentais para mapear os processos existentes e planejar sua reestruturação ou substituição. Só isso já torna o contexto complexo, o que dirá se cada organização, equipe ou função tiver sua própria maneira de representar suas respostas. Todavia, em qualquer padrão, pelo significado dessas interrogações, vê-se que elas são interconectadas. Acompanhe! • O quê? Refere-se aos aspectos funcionais e informacionais da organização, ou seja, quais dados são usados ou produzidos, para qual atividade e qual é o seu relacionamento dentro da organização. • Onde? Complementa as informações respondidas pela pergunta “quem”, qualificando o local no qual as funções são executadas. • Quando? Refere-se a aspectos do comportamento dinâmico do sistema, integrando ao modelo o importante aspecto do tempo. • Por quê? Refere-se às razões que levam ao comportamento do sistema. Que justificativas existem para a ação de uma tarefa, integrando-se ao modo de execução. • Como? Refere-se ao nível de execução das atividades dentro da empresa. Quais são as formas utilizadas para realizar uma determinada tarefa de um processo. • Quem? Responde quem é o responsável por quais funções, trazendo uma dimensão organizacional ao modelo. 14 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Na figura a seguir, há uma sequência de atividades, executadas por diferentes funções de uma organização, representadas graficamente. Receber pedido Produzir peças Montar veículo Expedir veículo Criar especi�cações Vendas Engenharia Produção Montagem Expedição Figura 6 - Exemplo de representação gráfica de processo. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em ABPMP, 2009. A informação passada pela figura 6 representa apenas a resposta para “quem faz o quê”, que, embora muito útil, mantém inúmeras questões sem resposta, como as apresentadas a seguir. • Quais/que/qual (what): quais são os insumos do processo? Que produto/serviço o processo produz? Qual é o grau de satisfação do cliente com o processo? • Onde (where): onde o processo é planejado, executado e avaliado? Onde o processo deveria ser executado? • Quando (when): quando deve começar e terminar a preocupação do dono do processo com ele? Quando deve começar e terminar o envolvimento dos clientes com o processo? • Por que/para que (why): por que/para que esse processo existe? O que está sendo feito é por que é necessário? Por que deve ser feito dessa maneira? • Como (how): como as informações são registradas e disseminadas? Como é avaliada a satisfação do cliente? Como está o desempenho do processo? • Quem (who): quem são os clientes, fornecedores, gerentes e executores do processo? Quem participa das decisões? Quem deveria executar o processo? O entendimento do processo de negócio é, muitas vezes, facilitado, até pela diferença de pa- drões, pela representação gráfica das atividades que o compõe em caixas interligadas e organi- zadas sequencialmente em raias correspondentes às funções organizacionais executoras delas. Eriksson e Penker (2000) apresentam uma série de vantagens que podem motivar determinada organização a representar graficamente o seu processo de negócio. Acompanhe! 15 • Revelar incompatibilidades e oportunidades de melhoria, clareando o ambiente da organização para que ela possa ser entendida e, com isso, auxiliar na reengenharia desses processos. • Prover uma visão melhor das atividades, suas causas e modos de execução. • Utilizar o modelo gráfico como um meio para distribuição de conhecimento dentro da organização e treinar as pessoas, ajudando-as a conhecer melhor seus papéis e as tarefas que executam. • Disponibilizar informações úteis e necessárias para a automação dos processos de negócio. • Facilitar o desenvolvimento de novos sistemas, uma vez que as informações contidas no modelo dizem muito sobre o negócio ao qual o sistema terá que atender. Todavia, é necessária a criação de um glossário de termos comuns para uso compartilhado, isso contribuirá positivamente para reduzir o problema de comunicação entre os diferentes padrões. Veja, a seguir, a importância dos fluxogramas nos processos. 2.2.2 Fluxograma Diversas notações foram desenvolvidas com o objetivo de representar uma organização. A maior parte dessas metodologias traz em sua essência a integração e a visualização dos processos de modo a representar da melhor forma possível toda a complexidade inerente aos processos de negócios. Processo/Atividade Documento Arquivo Temporário Arquivo De�nitivo Entrada/Saída Início/Fim Decisão Conector Figura 7 – Símbolos de Fluxograma. Fonte: BRASIL, [201-?], p. 8. O fluxograma é uma ferramenta simples de utilizar, acessível e eficiente, utilizada para analisar quaisquer atividades representadas por fluxos de trabalho. O fluxograma permite visualizar todo processo e, por ser simples, facilita a interação das pes- soas. Ele ainda é útil para a documentação das áreas envolvidas em cada etapa do processo, 16 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos permitindo identificar suas interfaces. Além disso, o fluxograma permite aperfeiçoar os fluxos e, com isso, agregar valor e minimizar os custos, além de garantir a realização de tarefas indispen- sáveis de um sistema específico. A figura 7 apresenta símbolos mais comumente utilizados. Existem outros símbolos que poderão ser aplicados também. O desenho deve retratar o fluxo com clareza, mostrando as relações entre as áreas funcionais da organização. O maior potencial de ganhos está, muitas vezes, nas inter- faces das áreas funcionais, em que se pode buscar melhorias. Enfatiza-se a documentação dos processos, seguindo a premissa de que, para realizar alguma melhoria no processo, é preciso primeiro conhecê-lo e entendê-lo e que a qualidade de um produto ou serviço é um reflexo da qualidade e do gerenciamento do processo utilizado em seu desenvolvimento. O fluxograma é utilizado com dois objetivos: garantir a qualidade e aumentar a produtividade. É o início da padronização. Todos os gestores devem estabelecer os fluxogramas dos processos sob sua autoridade, pois eles explicitam as tarefas conduzidas em cada processo. Você sabe quantas tarefas existem em sua área de trabalho? E quantas pessoas trabalham em cada uma delas? O fluxograma é o instrumento mais eficiente para fazer a própria análise. Ele mostra claramente o que está acontecendo e oferece um método fácil de localização de fraquezas no sistema ou áreas nas quais poderiam ser introduzidas melhorias. 2.2.3 Trabalhando em equipe Uma análise de processos bem-sucedida envolverá diversas pessoas da organização pela própria característica dos processos, razão pela qual se deve logo de início estabelecer e atribuir esses papéis a essas pessoas. Haverá sempre um indivíduo ou grupo responsável pelo desempenho do processo, podendo ser o denominado dono de processos ou a liderança executiva da organiza- ção, devendo-se escolher criteriosamente aquele que gerenciará a equipe. O gestor do processo terá a responsabilidade de assegurar a conclusão bem-sucedida do projeto. Em alguns casos, poderá ser necessário nomear formalmente as pessoas que farão parte dessa equipe de análise, com responsabilidades claras e definidas para não haver conflitos funcionais. Na figura 8 pode ser visto um exemplo típico de fluxograma que mostra um processo referente à utilização da técnica de fluxogramas.17 Início Identi�car passos principais do processo Relecionar ordenando os passos principais Há mais algum passo principal? Existem sub-passos? Relacionar ordenando os sub-passos para cada passo principal Relacionar ordenando os sub-passos para cada passo principal Mudar o �uxograma? Final Organize a rotina interna de cada passo principal Determine símbolos Desenho o �uxograma Teste �uxograma Está correto? 1 1 2 2 Sim Sim Sim Sim Não Não Não Figura 8 – Exemplo de Fluxograma. Fonte: BRASIL, [201-], p. 9. Organizações orientadas por processos atribuem a responsabilidade de forma horizontal, foca- das na entrega de valor para o cliente. Isso envolve o desenho de processos, a documentação, a medição e a transformação. Em vez de exercer apenas o comando e o controle, os gerentes de processos capacitam, orientam e apoiam gestores funcionais e equipes que realmente executam o processo. 18 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Algumas organizações podem criar estruturas híbridas que combinam uma dimensão de proces- so com uma dimensão funcional, podendo, inclusive, ser orientada para o produto ou distribui- ção geográfica. Há organizações estruturadas quase inteiramente em torno de processos. O que não deixa de ser uma ousadia. Willian Edwards Deming, um professor estadunidense de Matemática/Estatística, foi enviado ao Japão para ajudar a reconstruir o país durante o pós-guerra e criou lá um modelo de gestão da qualidade e de competitividade que recuperou aquele país em tecnologia e qualidade. Ele é considerado como celebridade no Japão por causa do impacto de seus ensinamentos na indústria japonesa. VOCÊ O CONHECE? Raramente uma análise de processos pode ser realizada por um único indivíduo, mas isso poderá resultar em uma análise enviesada da realidade. É sempre recomendável a formação de uma equipe interfuncional, que, por essa condição, irá oferecer experiências variadas e diferentes pontos de vista do processo, que resultará em uma melhor compreensão do processo e da orga- nização, com benefício de uma ampla e melhor aceitação para futuras mudanças. Reconhecer o papel de processos em uma organização parece simples, mas não é fácil integrá- -los aos objetivos e controles organizacionais, assim como não é fácil integrar o desempenho individual ao processo e aos diferentes níveis organizacionais. Nas equipes, frequentemente, há indivíduos que assumirão papéis mais técnicos, outros nem tanto. Haverá também especialistas em competências complementares. Considerando apenas o grupo de profissionais encarregados de efetuar a análise dos processos, seriam esses papéis os mais comumente encontrados, como pode ser observado no quadro 2. Uma vez que a equipe de processos estiver formada, o gerente de projeto de análise deve comu- nicar com clareza, para que não haja dúvidas, o plano de ação e o papel de cada membro da equipe. Todos devem, então, entender e aceitar o compromisso de tempo e esforço necessários para assegurar o sucesso do projeto de análise. PAPÉIS RESPONSABILIDADES Gerente do projeto de análise Decide com as partes interessadas a profundidade e o escopo da análise e como o processo será analisado. Gerencia o projeto de análise e facilita o avanço dos trabalhos. Ajuda o grupo na aplicação das técnicas analíticas escolhidas. Analista de processos Coleta informações; elabora modelos e realiza análise. Providencia documentação e reportes para partes interessadas. 19 PAPÉIS RESPONSABILIDADES Especialista Provê insights nos processos de negócio. Provê insights na infraestrutura técnica e de negócio que provê suporte ao processo. Quadro 2 – Equipe de Análise. Fonte: ABPMP, 2009, p. 115. Entre as principais análises efetuadas, de acordo com Müller (2014), destacam-se: • análise do tempo – em que se podem comparar atividades em série versus atividade em paralelo, bem como comparar tempos de processamento com tempos de ciclo; • análise de custo – em que o custeio por atividade pode localizar e avaliar a ocorrência dos custos e das despesas; • análise de valor – em que é possível identificar quais atividades agregam valor e quais representam apenas dispêndio; • análise da qualidade – em que se pode prevenir a reincidência de falhas e defeitos. É importante ressaltar que o próximo passo na análise é reunir o máximo de informações rele- vantes sobre o processo e o ambiente de negócio. Os tipos de informação obtidos dependem do negócio e do processo em análise. E como já foi visto, eles podem incluir: • informações estratégicas sobre a organização, tais como planejamento estratégico, mercados, ameaças e oportunidades; • desempenho da organização em comparação a seus concorrentes (benchmarking), ou a outros segmentos de negócio (melhores práticas); • justificativa para a análise de processos e quem solicitou; • pessoas que deveriam estar envolvidas na análise. Após estabelecer os padrões a serem utilizados na coleta de informação, caberá, então, incor- porar o conhecimento das técnicas de levantamento que poderão ser utilizadas durante o mape- amento dos processos. 2.3 Métodos de Levantamento de Informações Existem muitos métodos para efetuar levantamento de informações. Dependendo da destinação e da aplicação que se pretenda dar às informações coletadas, poderá haver preferência por um método ou outro. E dependendo das informações que se deseja coletar, o método mais adequado pode requerer maior especialização na confecção de questionários e planilhas. Existem empresas com expertise nessa área e que podem prestar serviço rápido e de qualidade. Existem métodos que se apoiam no uso de Tecnologia da Informação e que, por isso, demandem uma competência diferenciada, que deve fazer parte da equipe. 20 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Caso o levantamento de informações exija que sejam efetuadas coletas externas à empresa, deve-se analisar qual método é melhor escolher pela natureza do contexto em que serão reali- zadas tais coletas. A seguir, conheceremos alguns métodos considerados mais adequados ao trabalho de mapea- mento de processos. 2.3.1 Concepção do levantamento Uma vez definido o objeto do levantamento, ou seja, aquilo que se quer saber, é preciso orga- nizar a atividade de pesquisa a partir da coleta dos dados. Para isso, algumas opções devem ser feitas conforme a situação. Veja, a seguir, alguns exemplos. • Envolvimento do pesquisador – o indivíduo que efetuará o levantamento deve ser alguém distante do que está sendo levantado para que se reduzam ao máximo as interferências de um envolvimento prévio na condução da pesquisa ou na interpretação dos resultados. Não se deve indicar para a equipe de trabalho pessoas que participaram da criação ou implantação do que existe atualmente. • Amostragem – é comum a tentativa de ampliar a área de coleta para que se obtenha uma maior diversidade de possibilidades, todavia, quanto maior for a abrangência, mais caro será o processo, mais complexo será o trabalho de consolidação e maior será o tempo de execução. O importante é escolher o que deve ser analisado sem comprometer a representatividade do resultado. • Teoria ou dados – os processos podem ser vistos de modo comparativo, em cenários ou situações distintas; ou formular um protótipo ideal para o processo e analisar o que foi levantado comparativamente ao referencial. As duas opções tem prós e contras na avaliação em face de obtenção de maior veracidade do resultado. • Testes de laboratório ou trabalho de campo – há um maior cientificismo em simular atividades e situações no laboratório do que buscar a realidade no campo, onde tudo acontece. Todavia, a realidadecaptada ao vivo somente é completa no instante da coleta. Já no laboratório, o pesquisador reflete na pesquisa o resultado da sua imaginação, com mais detalhamento enquanto estiver em execução, entretanto, é mais rápido e econômico obter o que se deseja em uma simulação do que ocorreu e vem ocorrendo no dia a dia das organizações. Qualquer que seja a opção escolhida, a pesquisa deverá ter validade para o que se pretende de sua análise, e seu resultado deve ter a confiabilidade necessária para que não ocorram di- vergências em eventual reprodução. A seguir, veremos os tipos de levantamento necessários. Acompanhe! 2.3.2 Tipos de Levantamento Em uma pesquisa, são utilizadas duas técnicas de levantamento: qualitativas, que são técnicas interpretativas que procuram descrever, decodificar, traduzir e chegar ao entendimento do signifi- cado do objeto; e quantitativas, que são técnicas voltadas para a frequência das ocorrências em estudo, em que são utilizadas a matemática e a estatística. E na análise de processos, são utilizadas técnicas qualitativas diversas. Você sabe quais são es- tas? Veja, a seguir, alguns exemplos. 21 • Entrevistas São interações entre uma pessoa, o entrevistador e outra (ou outras), denominada entrevistada (ou entrevistadas). Elas podem ser realizadas de forma presencial ou com a utilização de interco- municadores. As presenciais podem ser mais personalizadas e requerem estruturação maior, com perguntas bem preparadas, de modo que o entrevistado acredite na sua validade. Supõe-se que tal situação se repita com cada entrevistado As entrevistas olho no olho permitem ao entrevista- dor administrar a interação conforme o andamento da entrevista e a disposição do entrevistado em cooperar, ou as pré-formatadas com o uso de pequenos questionários mais interativos, sim- ples e rápidos. Na análise de processos, utiliza-se essa técnica para coleta de informação daqueles que partici- pam das atividades ou, de alguma forma, estão associados ao processo. Os entrevistados podem incluir os donos de processos, clientes, fornecedores e demais parceiros de negócio, enfim, quem trabalha no processo e quem fornece entradas ou recebe saídas do processo. • Observação Consiste em perceber, ver e não interpretar. É o registro de atitudes e ações, com o registro de aparência, modo de agir e falar de seus autores e também dos demais participantes, ativos ou não, bem como do local, com todos seus detalhes, devidamente inseridos, e, é claro, do acon- tecimento em si. A observação pode ser com ou sem a participação do observador. Na observação solitária, existe a figura do observador completo, que evita interação, ao passo que a observação participativa considera o observador que auxilia, pergunta e dialoga sem intervir diretamente no andamento do acontecimento. O observador participante pode, em certas situações e, nesse caso, é de muita utilidade, praticar o entender fazendo, em que substitui os atores e executa suas atividades podendo registrar com precisão todo o processo. O observador solitário é, na maioria das vezes, visto como espião, apesar de identificado. Em certos levantamentos, é feito uso do ghost, que é um observador fantasma. Este sim é um espião por não ser identificado, ele se mistura com as pessoas e, como parte do grupo, consegue registrar situações que não aparecem perante estranhos não integrados. É fato que qualquer tipo de observador influencia e altera o comportamento dos demais. E deve ser concedido tempo suficiente para que o observador se ambiente e seja acolhido, de modo a se sentir confortável, tendo a sensação de que está acompanhando os fatos e tomando notas. As anotações devem representar a rotina natural do serviço, em vez de uma amostra selecionada de transações. Contudo, é interessante notar que a observação implica o risco de os executores fazerem aquilo que acham que o observador quer ver, e não o que normalmente fazem. Convém se lembrar também de que com capturadores de imagem, isto é, as câmeras, é possível registrar ocorrências frias, na maioria das vezes, não tão completas, mas as pessoas mediante o registro em vídeo de suas ações superam o estigma de ter alguém assistindo-as e anotando tudo o que é feito. Às vezes, um executor se adapta mais rapidamente ao equipamento de gravação do que à condição de ter alguém ao seu lado observando o que faz (ABPMP, 2009). 22 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos O livro didático Metodologia da Pesquisa, de autoria de Sampieri, Collado e Lúcio explica diversas técnicas de pesquisa aplicada. Ele é de fácil entendimento e utilidade para estudantes, porque possui também orientação para trabalhos acadêmicos. VOCÊ QUER LER? • Grupos de ação Estes representam técnicas de coleta de dados em que, pela interação dos participantes, dá-se ampla problematização sobre o tema em análise. Trata-se de um trabalho em grupo em que os participantes podem explorar seus pontos de vista sobre o tema em pauta. Os grupos são espaços de discussão e de troca de experiências que estimulam o debate entre os participantes, explorando o tema com mais profundidade do que as entrevistas. Há várias técnicas de trabalho em grupo. Entre elas, podemos destacar o workshop, que é uma técnica usada em uma reunião estruturada, composta por pessoas selecionadas e representativas para o contexto do tema pesquisado. Essa técnica oferece a vantagem de ser rápida e de com- prometer mais seus participantes que compram a ideia do tema. Também há os grupos de foco, que é uma técnica de discussão informal, com poucos partici- pantes (até 12 pessoas), tendo como propósito obter informação qualitativa em profundidade. A informalidade descontrai e libera os participantes que colaboram mais e de forma espontânea, qualificando o resultado do trabalho. Há, ainda, os grupos de brainstorming, utilizados frequentemente, como complemento em workshops, e trabalham sobre o material gerado neles e que se compõem de problemas/neces- sidades referentes ao tema, sobre os quais se discute e desenvolve ideias e soluções. • Análise documental É uma técnica baseada somente na pesquisa de material impresso ou não, que podem ser documentos, mapas, publicações, registros etc.; mas também fotos, filmes e trabalho iconográfi- co. É uma pesquisa que normalmente subsidia com seus resultados a uma segunda fase em que são utilizadas outras técnicas. • Pesquisa pela WEB Para o caso específico de análise de processos, a Web tem sua utilidade reduzida, ficando como recurso para a realização de sessões virtuais de trabalhos de grupo e para simulações de pro- cessos digitalizados. Depois de conhecer as diferentes técnicas de coleta aplicadas nem levantamento de informações, podemos partir para sua aplicação e consequente análise. Vamos lá?! 23 2.3.3 Análise de Desempenho Ao concluir levantamentos, utilizando para isso as diversas técnicas disponíveis, chega-se a um resultado que deve ser interpretado e analisado. Como se trata de análise de processos, o que se busca é encontrar causas de um mau funcionamento. Com isso, deseja-se saber os porquês de cada gargalo, impasse ou omissão, para, ao final, melhorar o desempenho e aumentar a satisfação dos clientes. Uma análise feita com metodologia adequada pode ajudar a compreender as ocorrências, por que elas existem e como se pode corrigir. Um elemento-chave dessa análise é identificar métricas acionáveis e auditáveis que, com preci- são, indiquem o desempenho do processo. Essas métricas permitirão identificar onde e como um processo deveria ser ajustado (ABPMP, 2009). O caminho é buscar respostas, e as primeiras questões são: os resultados prometidos têm sido entregues? Qual foi o nível de serviço acordado? Os prazos de entrega têm sido cumpridos? Como anda a análise detempo e custo? Há equilíbrio ou não? Como o desempenho está sendo medido? Quais são as métricas utilizadas? Há melhorias? Existe programação de controle de desempenho? Entre as buscas de causas para melhoria dos processos, algumas situações são potencialmente causadoras de problemas. Fronteiras sempre trazem riscos; onde há regras impostas pode haver um possível descumprimento, afinal, são seres humanos que operam processos, assim como as capacidades existem para serem insuficientes no futuro, enfileirando tudo o que não chega a tempo, e o custo que é sempre muito controlado e a qualquer descuido se torna intolerável. Finalmente, processos envolvem pessoas, e com elas presentes, a luz vermelha de alerta máximo pode se acender. É importante ressaltar também que processos de negócio são complexos, interfuncionais e fre- quentemente fazem conexões de fluxo entre o ambiente interno e o externo à empresa. Precisa- mos considerar que várias transposições de informações serão efetuadas entre funções internas ou destas com atores externos da cadeia de valor da organização. Os processos que fazem essa passagem da informação entre fronteiras funcionais são denominados handoffs. Somente pelo fato de haver uma conexão, o handoff já apresenta um risco de ruptura. Além disso, as regras existem para organizar o andamento das coisas, principalmente se houver movimento ou fluxo entre situações que se encadeiam. Regras de negócio costumam ser criadas sem suficiente compreensão dos cenários que a organização pode encontrar ou ficam em des- compasso por mudanças imprevistas. Ao analisar regras, é necessário verificar o porquê de sua existência e se ela está alinhada com os objetivos propostos e compatíveis com os cenários envolventes. É importante que elas não se- jam conflitantes, ambíguas ou contraditórias. E regras excessivamente controladoras, com muitas aprovações ou desnecessárias devem ser evitadas. As regras devem ser adicionadas somente em último caso, quando a falta causa mais problemas do que o excesso. A figura a seguir ilustra a situação crítica das transposições de informação. 24 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Função 2 Função 3 Função 4 Pr oc es so s de n eg óc io Atividade 1a Atividade 2a Atividade 3a Atividade 4a HandofEvento de Iniciação Saída do Processo Handof Handof Atividade 1b Atividade 2a Atividade 3c Atividade 4f HandofEvento de Iniciação Saída do Processo Handof Handof Funções de negócio Função 1 Figura 9 – Handoff ou transferência de controle. Fonte: ABPMP, 2009, p. 122. No processo, há limites de capacidade. Por isso, é necessário observar o superdimensionamento ou o subdimensionamento. Além disso, as operações em baixa capacidade podem não funcio- nar satisfatoriamente, e a superutilização pode levar o processo ao colapso. As velocidades de fluxo, por sua vez, devem ser vistas de acordo com a capacidade porque os extremos sempre são preocupantes. Já a preocupação com os custos está em controlar mais de perto os processos que têm limites de capacidade mais estreitos e que requerem supervisão desde o início. É melhor controlar antes do que perder depois, por desperdício ou retrabalho. Quando existem pessoas, há possibilidades imprevisíveis, pois elas nem sempre fazem a mesma tarefa da mesma forma e, muitas vezes, compensam eventuais deficiências do processo execu- tando, individualmente, ações substitutivas que não estão documentadas. É importante saber como se pode orientar durante a execução do trabalho, caso seja difícil, é importante saber como quem executa reage ao imponderável, que conhecimento ele possui da atividade e dos recursos, como sabe se tudo está caminhando corretamente. Essas situações não implicam a universalização do monitoramento das tarefas e atividades de um processo. Contudo, o fator que oferecer risco deve ser controlado, mesmo que isso signifique monitorar um item de cada vez. São indicações de que é provável a existência de problemas no processo: • existência de atrasos na entrada ou na saída do processo; • frequência na existência de falhas, erros ou enganos; • frequência de situações de emergência; • existência de instruções confusas ou complexas nas regras; • falta de informações. 25 A melhoria de desempenho pode ser alcançada a partir da identificação e correção dos proble- mas. Para evitar que desvios no processo ocorram sem serem percebidos, é necessário fazer uso frequente e sistemático de indicadores, evitando custos de refazimento ou retrabalho. A análise do fluxo de informações por meio do processo pode mostrar como se dá a interação entre as informações, bem como em que volume e complexidade isso ocorre. Olhando o fluxo, é possível descobrir os gargalos, as filas, os lotes de informações desnecessárias e outras opera- ções que não agregam valor para o processo e seu cliente. Pela análise do fluxo, também é possível descobrir a regra do negócio adequada ao processo para que não haja engano na sua aplicação. No caso de sistemas automatizados, as regras de negócio estão presentes de modo explícito ou implícito, porque elas são essenciais na construção da lógica do processo. Nesses casos, é mais difícil identificar as lógicas embutidas nos sistemas. Eles nem sempre são bem documentados. Agora que já estudamos sobre análise de processos, vamos ver, no próximo tópico, como con- trolar os processos. Acompanhe! 2.4 Controle de Processos Controlar é sempre uma atitude difícil de ser executada porque as pessoas, principalmente as que exercem funções com certo grau de autoridade, não gostam de ser controladas, ou medidas. Sempre haverá resistência nessas situações; por isso, é preciso ter cautela, pois haverá objeções e desculpas para evitar qualquer tipo de medição. Para evitar tais constrangimentos, é recomen- dado um padrinho ou patrocinador ativo, participante e presente, que assegure certo grau de liberdade. 2.4.1 Capacidade de controle de processos A capacidade de exercer o controle de processos começa com a conscientização e a transfor- mação da cultura organizacional para que ela sustente um apoio ao trabalho de medição dos processos. Muitas vezes, a primeira aferição é efetuada, mas já não se consegue evoluir para uma segunda medida. No entanto, empresas que investiram tempo e dinheiro nesse trabalho acabam conseguindo evoluir à medida que o aprendizado ocorre, e os resultados começam a aparecer. Trata-se de um esforço de retorno em longo prazo, que para ter continuidade precisa ter critérios flexíveis e expectativas conservadoras, porque os resultados vão melhorando aos poucos. O controle é exercido processo a processo, fluxo a fluxo, de modo a prover suporte nos diferentes níveis do negócio. A capacidade de manter ativo o controle de medição está diretamente relacio- nada ao êxito do fluxo de trabalho, e de processo. Deve-se também considerar que o suporte computacional necessário a esse trabalho nem sem- pre está disponível e em configuração adequada ao que se pretende. Toda preocupação de preparação prévia nesse sentido é bem-vinda e necessária. É requisito para a continuidade do trabalho que haja um esquema de comunicação e divulgação dos resultados obtidos, com agradecimento à participação de todos os envolvidos como forma de motivação. Já o acompanhamento dos trabalhos pode ser feito por quadros ou painéis de monitoramento, alguns sumarizados para os mais leigos, e outros mais detalhados. Ambos devem ser continu- 26 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos amente atualizados. O nível dos reportes de desempenho evolui com a maturidade do BPM na organização. Em relação à forma de efetuar as medições necessárias, esta varia conforme a complexidade dos processos,o porte da empresa e a cultura existente. Poderá ser utilizada uma simples tabulação manual, desde que a fórmula utilizada seja previamente aprovada para que não haja dúvidas nem questionamentos e eventual rejeição. O resultado encontrado conta uma história que é sujeita a interpretações, que, por sua vez, de- pendem das expectativas das pessoas, e isso faz com que, para resultados iguais, haja narrativas diferentes, muitas vezes, conflitantes entre si. Tal condição leva à necessidade de um acordo sobre o modo como as medidas são conduzidas, sendo que este deve ser periodicamente revisto e atualizado. Falamos, em alguns pontos deste capítulo, sobre a influência da maturidade da organização na gestão de processos. E agora, quando se trata de capacidade de controle, convém definir o que é a tal maturidade, que, diferentemente das pessoas, não se conquista com o tempo vivido. Apesar de essa maturidade ser obtida ao longo do tempo, ela vem com a passagem do trabalho estritamente organizacional para o trabalho integrado de processos, de forma evolutiva. Assim, quanto maior for a maturidade, maior e melhor será o controle de processos exercido, pois é a maturidade que determina o que pode ser medido, conforme mostra na figura seguir. Nível 1 - Inicial Sucesso depende de heróis Nível 3 - De�nido Processo comum adaptado às necessidades dos projetos Nível 2 - Gerenciado Capacidade de gestão de projetos Nível 4 - Gerenciado Quantitativamente Capacidade de planejar estaticamente a qualidade Nível 5 - Em otimização Capacidade de prevenir defeitos e inovar Figura 10 – Níveis de maturidade. Fonte: ABPMP, 2009, p. 218. No nível 1, nada é esperado, o sucesso dependerá exclusivamente da equipe, da superação de cada um. No nível 2, alguns indicadores, métricas e medidas de desempenho são definidos. No nível 3, esses indicadores, métricas e medidas de desempenho passam a ser efetuados de ponta a ponta. No nível 4, indicadores, métricas e medidas de desempenho, assim como a gestão des- se desempenho, ocorrem a partir dos objetivos organizacionais. E, por fim, no nível 5, a medição direciona o gerenciamento, as estratégias e os objetivos organizacionais. 2.4.2 Técnicas de controle de processos Uma forma de monitorar um processo é utilizando indicadores de desempenho. Os indicadores são formas de medir as características de um processo e de suas entregas. Indicadores são mui- to utilizados em programas de qualidade, visto que se originam ali para controlar e melhorar a qualidade e o desempenho ao longo do tempo. Existem indicadores baseados no histórico, denominados resultantes, que são comparativos, fo- cados no longo prazo e ligados ao resultado final do processo. E existem indicadores que medem 27 as causas do que está acontecendo, permitem visualizar o futuro e trabalham no curto prazo, razão porque são denominados direcionadores. Há uma relação de causa e efeito entre eles, pois os indicadores resultantes monitoram os direcionadores. O controle de processos é feito pelo uso dos direcionadores que monitoram as tendências, per- mitindo, assim, a antecipação aos problemas, e são autênticos sensores do processo. Segundo a ABPMP (2009), seguir os seis passos seguintes podem levar a: definir o problema ao qual o indicador se aplica; identificar os critérios aplicáveis aos indicadores; avaliar os critérios conforme suas preferências; conhecer alternativas relevantes de ação; avaliar cada alternativa conforme cada critério; e mapear precisamente as alternativas e escolher a de maior percepção de valor. Sobre o uso de indicadores, devem ser considerados alguns aspectos na sua utilização, pois erros podem ser cometidos por (a) se basear em uma solução proposta, (b) não perceber um problema maior existente ou (c) diagnosticar um problema pelos seus sintomas. Bons indicadores são formulados para resolução de um problema e não devem se preocupar com os sintomas. Entre os indicadores de desempenho, pode haver alguns que reflitam diferentes medidas de desempenho do processo em análise, ao longo do seu fluxo de valor, em diferentes níveis de avaliação, como: • indicadores de economicidade – buscam reduzir custos de aquisição de recursos sem impacto na qualidade final; • indicadores de eficiência – medem a relação entre recursos utilizados em relação aos padrões de referência dos processos; • indicadores de eficácia – graduam o cumprimento das metas propostas aos processos para cada atividade, em relação ao que ela produz; • indicadores de efetividade – aferem o grau de cumprimento de objetivos em relação a um referencial escolhido como resultado (SCARTEZINI, 2009). A figura 11 mostra o fluxo de valor, desde a alimentação até a entrega e aponta os indicadores intermediários, que podem aferir cada passo dentro do fluxo. Custos Insumos Processos Produtos Resultados Economicidade E�ciência E�cácia Efetividade Figura 11 – Relação entre indicadores e níveis de avaliação. Fonte: SCARTEZINI, 2009, p. 20. Outra forma de controle, também proveniente das técnicas da qualidade, é o diagrama de causa-efeito, popularmente chamado de espinha de peixe (figura 11) devido ao seu formato, e que permite mapear fatores que causam um problema (ou um resultado desejado). 28 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Na composição do diagrama, é considerado que os problemas podem vir de seis tipos de causas diferentes: o método utilizado para executar o trabalho; a máquina que é utilizada; a medida, que são as decisões tomadas; o meio, que é o ambiente corporativo; a mão-de-obra, sua qua- lificação; e o material utilizado no processo. Devido à classificação das causas serem as descritas, esse diagrama também pode ser chamado de 6M, formado pelas iniciais das causas. Atualmente, incorporou-se um terceiro M, proveniente da palavra inglesa management, ou gerenciamento, o que é considerado razoável, pois também é uma causa potencial. Vale destacar que essas causas não são sempre aplicáveis ao diagrama, pois elas dependem do estudo de causa e efeito em foco. O sistema permite estruturar as causas hierarquicamente ou na forma de relações. Para facilitar o processo de desenhar, foi formulado o seguinte roteiro: • definir o problema e o que se espera alcançar por meio dele; • estruturar o diagrama, em que se coletam todas as informações relativas ao problema; • agrupamento das informações, em que, normalmente em equipe, faz-se o agrupamento em técnica de trabalho em grupo; • classificação das causas, em que são ordenadas as informações, apontando as principais causas para as quais se deve elaborar um plano de ação e definir responsáveis e estabelecer prazo para solução; • conclusão em que é desenhado o diagrama, considerando as causas, de acordo com os 6M, e distribuindo-as adequadamente, não se esquecendo de colocar ramificações para subcausas importantes. Contudo, conforme o caso, poderá haver mais de seis espinhas no peixe, se outras causas bási- cas principais forem identificadas. Na Figura 12, cada espinha representa uma causa principal de um problema, são seis espinhas, portanto, seis causas. Cada causa principal poderá ter ramificações ou subcausas, conforme a figura a seguir. Mão de obra causa causa causa causa causacausa Máquina Medida PROBLEMA Meio Ambiente Material Método Figura 12 – Diagrama de causa e efeito. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em CAMPOS, 1989. 29 Os indicadores são conhecidos, e sua utilização para aferição de resultados é uma função de controle. Para tanto, as organizações modernas adotaram padrões internacionais de governança corporativa para maior transparência. Veja, no item abaixo, como essa governança pode ser aplicada nos processos. 2.4.3 Governança em Processos Aprática de governança em processos vem do conceito de Governança Corporativa, que, se- gundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC (2016), é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capi- tal e contribuindo para a longevidade. O que se pode extrair dessa definição corporativa é que controle e prestação de contas fazem parte da governança, e que está alinhada devidamente à ideia de gestão de processos. A ideia de governança traz consigo o restabelecimento da confiança com base na transparência das informações geradas pelas organizações e, por consequência, a estruturação do processo de tomada das decisões, responsabilizando aqueles que as tomam. Mas o que vem a ser governança? Segundo Jeston e Nelis (2008), governança é o elemento responsável por integrar a execução dos processos, com a execução dos projetos de processos e com as estratégias organizacionais, e o relacionamento entre essas atividades, trazendo um comprometimento de melhoria dos pro- cessos por meio de seu projeto, sendo a melhoria devidamente compromissada com: os objetivos a cumprir, os prazos para o desenvolvimento e a conclusão, os recursos alocados e os resultados esperados; bem como deve ocorrer com as execuções dos processos em funcionamento trazendo a obrigação de entregar os produtos e serviços compromissados. Existe um anel de ligação à estratégia da empresa que adiciona maturidade organizacional porque vincula compromisso. Com governança, a organização da área de gestão de processos seria, aproximadamente, a constante do organograma apresentado na figura 13. Governança, em seu conceito básico, adiciona regras, políticas e leis que direcionam as ativida- des que compõem os processos, ou seja, é um facilitador da gestão executada agora, conforme determinam os padrões da governança corporativa. 30 Laureate- International Universities Mapeamento e Gerenciamento de Processos Diretoria Gerência de Processos Gerência do Processo 1 Processo 1 Gerência do Processo 2 Processo 2 Comitê Gestor Gerência do Processo 3 Processo 3 Figura 13 - Estrutura de Governança. Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em ARAUJO; GARCIA; MARTINES, 2011. Tendo os direcionamentos estratégicos organizacionais, para um bom desempenho da gestão de processos e uma boa interação entre estratégia, projeto e execução, a governança, conforme Araújo, Garcia e Martines (2011), deve ter: • objetivos que representam de forma clara e disseminada o que a organização espera da gestão de processos; • processo decisório – composto pela estrutura e níveis de tomada de decisão em que estão as pessoas envolvidas na gestão de processos; • papéis e responsabilidades – que são as atribuições definidas e formalizadas de cada pessoa envolvida na governança de processos e suas interações; • diretoria – cuja liderança deve se empenhar em descentralizar poderes para os gerentes e demais envolvidos da linha de frente, pois sem liderança forte não há comprometimento dos demais; • gestor de processo – responsável pela obtenção dos recursos para implantação e manutenção do processo, bem como mediar conflitos burocráticos e obter a integração e cooperação dos elementos da equipe e demais envolvidos; • comitê gestor – é responsável pela consolidação de informações, apresentação, monitoramento e controle dos processos, pela priorização dos projetos e pela aprovação das iniciativas voltadas ao processo em projeto. É esperado que com uma governança bem estruturada e atuante, a qualidade dos processos melhore, e, com ela, a satisfação dos clientes deve crescer. 31 CASO A empresa JPA Ltda. está fazendo planos de abrir o capital e vender ações para a Bovespa. E o escritório de advocacia que está assessorando a diretoria nesse estudo afirmou que havia uma exigência por parte da nova regulamentação do mercado de capitais que fala da necessidade de reestruturar a empresa e seu processo decisório para dar transparência e tornar os dados da organização disponíveis. O diretor financeiro já sabia das exigências e vinha trabalhando nessa reestruturação. Na reestruturação, foram inclusas exigências por parte da diretoria, que em reunião solicitou que o gerente de TI fosse substituído por alguém experiente em gestão de processos. A área de Recur- sos Humanos foi solicitada para conduzir o processo de seleção, a qual procurou uma empresa especializada em recrutamento de executivos na área de TI, a Headhunter PD. Na conversa entre o RH e a Headhunter PD, foi falado que seria interessante ter um gestor de TI com experiência em processos, mas que para executar a gestão de processos seria necessário outro perfil de profis- sional. Você, pensando como membro da diretoria da JPA, como imaginaria a função de gerente de processos no organograma da empresa, em uma formatação com governança corporativa? Se você imaginou essa função como assessora da diretoria, acertou. 32 Laureate- International Universities Síntese Neste capítulo, foi possível: • compreender como é o ambiente das organizações, ou seja, como a organização se situa em relação ao ambiente externo e ao ambiente interno; • entender como é seu cenário de atuação, no que consiste o contexto em que a empresa atua; • identificar quais forças exercem pressão na gestão da organização; • aprender a como posicionar a organização nesse cenário, que cuidados devem ser tomados e quais atitudes devem ser assumidas para encaixar a empresa no movimento dos atores externos; • entender como atuar no ambiente e aprender a como agir se houver oportunidade e como se defender se acorrer uma ameaça; • aprender a padronizar a coleta de informações e encontrar uma ou mais técnicas adequadas para que todos possam pesquisar de forma semelhante; • adquirir conhecimento para executar a coleta, a fim de utilizar as técnicas estudadas; • aprender a documentar as atividades da empresa e das suas relações com o ambiente e como utilizar as ferramentas disponíveis para fazer os registros; • entender como deve ser o grupo de trabalho, ou seja, quais competências são necessárias, que perfis de pessoas são requeridos, quais responsabilidades devem ser assumidas e quais delegadas; • estudar técnicas de levantamento de informações, sabendo diferenciá-las por metodologia, objetividade e praticidade em relação a sua aplicação; • entender a concepção de um levantamento, como é efetuado, quais fases o compõem e o que é realizado em cada uma; • conhecer os diferentes tipos de levantamento, quais são as diferenças e quando cada um se aplica; • aprender a analisar o desempenho dos processos, saber mensurar o real versus o padrão objetivo para poder corrigir eventuais problemas; • conhecer o que é controlar processos, como conduzir o processo, ao longo de sua trajetória, para que ele não seja desviado do plano e atinja seu objetivo; • aprender algumas técnicas de controle, de modo que para exercer esse controle há alternativas, sendo necessário escolher a mais adequada. • conhecer o que vem a ser governança de processos, isto é, um conceito novo e importante para a transparência e a confiabilidade na sua execução, pois há responsáveis e compromissos. 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