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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/49599839 ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO EM ALIMENTOS: CICLODEXTRINAS COMO AGENTE ANTIESCURECI.... Article · January 2009 Source: DOAJ CITATION 1 READS 2,743 4 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Production and applications of beta-glucans and related hydrolases View project Application of enzymes in food science View project Roberto Da Silva São Paulo State University 206 PUBLICATIONS 2,925 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Roberto Da Silva on 11 May 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. 345 ESCURECIMENTO ENZIMÁTICO EM ALIMENTOS: CICLODEXTRINAS COMO AGENTE ANTIESCURECIMENTO * Andréia Aparecida Jacomassi CARNEIRO** Heloiza Ferreira ALVES-PRADO*** Eleni GOMES**** Roberto DA SILVA*** *Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor no curso de Engenharia e Ciência de Alimentos - UNESP - São José do Rio Preto - SP- Brasil. Trabalho elaborado com apoio financeiro da CAPES (Programa nº 33004153070M-3). ** Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - UNESP - 15054-000 - São José do Rio Preto-SP- Brasil. *** Departamento de Química - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - UNESP - 15054-000 - São José do Rio Preto-SP-Brasil. **** Departamento de Biologia - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - UNESP - 15054-000 - São José do Rio Preto-SP - Brasil. RESUMO: As reações de escurecimento enzimático e não enzimático são uns dos mais importantes fenômenos que ocorrem durante o processamento e armazenamento dos alimentos. Devido às restrições ao uso de sulfito em alimentos, ciclodextrinas estão sendo estudadas como uma alternativa para inibir o escurecimento de alimentos. Elas são moléculas cíclicas compostas por monômeros de D- glicoses produzidas pela ação da enzima ciclodextrina glicosiltransferase (CGTase) sobre o amido, e são capazes de formar complexos de inclusão com outras substâncias em solução aquosa. A inclusão de compostos precursores de reações de escurecimento podem evitar a complementação destes processos. Esta revisão descreve algumas propriedades das CDs, tendo como principal característica a sua complexação com compostos fenólicos presentes em vegetais, frutas e bebidas, proporcionando a redução do escurecimento enzimático desses alimentos, os quais poderão ter uma maior vida de prateleira, visto que o escurecimento poderá alterar as propriedades organolépticas e a aparência dos produtos alimentícios. PALAVRAS-CHAVE: Escurecimento enzimático; ciclodextrina; alimentos; inibidores. INTRODUÇÃO As reações de escurecimento de alimentos estão entre as mais importantes alterações que sofrem os alimentos, seja na forma in natura ou durante a cadeia de processamento e armazenamento. Por causa das alterações que provocam, têm implicações tanto nutricionais, tecnológicas e econômicas. Por isto são motivos de intensa atividade de pesquisa. Os principais grupos de reações de escurecimento são conhecidos como escurecimento enzimático (REE) da polifenoloxidase (PPO) e escurecimento não enzimático (RENE), causado pela reação de Maillard (RM). Outros mecanismos de escurecimento de alimentos, tais como oxidação de vitamina C, ação das peroxidases e caramelização também existem.9 O método mais comum para controlar o escurecimento enzimático e não enzimático é o uso de sulfito em alguma de suas formas (dióxido de enxofre, metabissulfito de sódio ou potássio e bissulfito de sódio ou potássio).35 Entretanto, devido aos efeitos adversos aos seres humanos a Agência Food and Drugs Administration (FDA), proibiu em 1986 o uso do sulfito e derivados nos E.U.A.16 É evidente que isto terá efeito mesmo no Brasil onde ainda se utiliza o bissulfito, considerando as restrições impostas a produtos importados pelos E.U.A., que tenham na sua composição a presença desta substância química. Portanto, o sucesso para prevenir o escurecimento de frutas e vegetais por métodos alternativos é ainda um desafio. As ciclodextrinas têm se mostrado eficiente para inibir o escurecimento enzimático de alimentos40. Esta alternativa será discutida nesta revisão. Fundamentação teórica As ciclodextrinas (CDs) são maltooligossacarídeos cíclicos não-redutores contendo de 6 a 13 unidades de glicose7, 25 ligadas entre si, por ligações glicosídicas -1,4. Elas são produzidas pela ação da CGTase, uma enzima microbiana que atua sobre o amido formando as CDs.7, 47 As CDs mais comuns são do tipo - , - e -, constituídas de seis, sete e oito unidades de glicose, respectivamente. Suas cavidades internas são hidrofóbicas, mas externamente são hidrofílicas. Formam complexos de inclusão com uma variedade de substâncias, mudando as suas características físicas e químicas. Essa propriedade das CDs tem levado a um aumento na sua aplicação nas indústrias de alimentos, farmacêuticas, cosméticos, produtos agroquímicos, plásticos e outras.2, 3, 4, 7, 32, 39, 41, 42, 45 A principal via de escurecimento enzimático inicia- se com a oxidação de fenóis endógenos por ação da enzima PPO na presença de oxigênio formando o-quinona e a subseqüente polimerização destas, num mecanismo complexo envolvendo proteínas, aminoácidos e fenóis, Alim. Nutr., Araraquara v.17, n.3, p.345-352, jul./set. 2006 ISSN 0103-4235 346 culminando com a formação de pigmentos escuros denominados melaninas.30 Recente mudança no estilo de vida do consumidor tem levado a uma demanda maior pelos alimentos naturais e seguros, e a uma menor adição química nos alimentos processados. Devido a esta tendência tem sido renovado o interesse pela pesquisa por agentes naturais antiescurecimento. Com isso as ciclodextrinas se mostraram como uma alternativa. A sua cavidade hidrofóbica é capaz de formar complexos de inclusão com uma ampla classe de moléculas orgânicas, incluindo os precursores do escurecimento, uma vez encapsulados, estes compostos se tornam indisponíveis e conseqüentemente há inibição da reação de escurecimento enzimático.12 Formação da CD O amido é o substrato da CGTase para a formação de CD. Ele é um polímero relativamente simples, composto de moléculas de glicose, de alta massa molecular. Encontra-se na forma de substância de reserva em plantas, incluindo sementes, frutas, tubérculos e raízes. Ele é formado basicamente por amilose e amilopectina.24 É um dos polissacarídeos de grande importância para a indústria alimentícia, devido às suas características funcionais e qualidade nutricional. Assim tem uma grande aplicação industrial seja diretamente como alimento, agente texturizante e estabilizante ou como substrato para produção de uma série de derivados pela ação de enzimas. 51 A degradação parcial ou total do amido ocorre pela ação combinada de enzimas amilolíticas, as quais atuam na hidrólise das ligações -1,4 e -1,6. Exemplos dessas enzimas estão ilustrados na Figura 1. Glucoamilase + Oligossacarídeos ramificados Oligossacarídeos lineares Isoamilase/ Pululanase Oligossacarídeos lineares Beta-dextrina + Glicose Beta-amilase Ciclodextrina Glicosiltransferase CGTase dextrina limite + Alfa-amilase CD = = Não redutor Redutor + Maltose FIGURA 1 - A ação das enzimas envolvidas na degradação do amido. (•) Molécula de glicose com extremidade redutora; (o) Molécula de glicose sem a extremidade redutora. As setas indicam a preferência pela quebra na molécula de amido. A utilização de enzimas amilolíticas tem aumentado abundantemente. Entre elas a CGTase vem ganhando grande importância industrial. Elas têm a capacidade de degradar o amido, catalisando a hidrólise das ligaçõesglicosídicas e a subseqüente reação de transglicosilação intramolecular ou ciclização dos oligossacarídeos (Figura 2A), formando as CDs.50 A CGTase também catalisa outros dois tipos de reações. A reação de acoplamento (Figura 2B) é reversa a ciclização, onde o anel de CD é clivado e transferido para um substrato receptor linear. A reação de desproporcionação (Figura 2C) é uma reação de transferase propriamente dita, onde um maltooligossacarídeo é clivado e transferido para um substrato receptor linear. A enzima apresenta ainda, uma fraca atividade hidrolítica em presença de amido (Figura 2D) formando maltooligos- sacarídeos.1, 3, 7, 10, 47, 48, 50, 52 FIGURA 2 - Representação esquemática das reações de transglicosilação catalisadas pela CGTase. A) ciclização, B) acoplamento, C) desproporcionação e D) hidrólise. Cada círculo representa uma unidade de glicose. Fonte: Adaptado Van Der Veen et al. 50 Fonte: Adaptado Van Der Veen et al.50 347 Cavidade apolar Hidroxilas secundárias Hidroxilas primárias Caracterização das ciclodextrinas As estruturas químicas da -, - e -CD são apresentadas na Figura 3A . A forma circular da CD é devido à conformação do carbono C1 da unidade de glicose e suas ligações glicosídicas. Sua forma ovalada, semelhante a um cone truncado, tem um lado com diâmetro maior que é formado pelos grupos hidroxilas secundários (nos átomos de C2 e C3) e um lado com diâmetro menor, onde estão situadas as hidroxilas primárias (nos átomos de C6), tornando a CD hidrofílica externamente (Figura 3B). Formação do complexo de inclusão Os complexos de inclusão são definidos como o resultado da interação entre compostos nos quais uma FIGURA 3 - A) Estrutura da -CD, -CD e -CD com seis, sete e oito monômeros de glicose, respectivamente. B)Estrutura da ciclodextrina. Alfa Beta Gama CH3 CH3 CH3 CH3 + Exterior Hidrofílico Cavidade Hidrofóbica molécula hóspede menor se encaixa dentro e fica envolvida pela cavidade de uma outra molécula. A cavidade da ciclodextrina é uma região apolar, sendo ocupada pela molécula hóspede (ou sua parte) apolar.19 A forma e dimensão da cavidade da -CD permite total ou parcial inclusão de uma variedade de compostos. Os complexos podem ser formados em qualquer solução sendo a água o principal solvente de escolha. Em solução aquosa, a cavidade central apolar da CD é ocupada por moléculas de água que podem ser facilmente substituídas por "moléculas hóspedes" como, por exemplo, o xileno e a fenolftaleína que são menos polares que a água (Figura 4a). Outro exemplo de complexação é o que ocorre entre o -clorofenol e a CD, conforme Figura 4b, onde os átomos de oxigênio e hidrogênio glicosídicos localizados no interior da molécula interagem com os átomos do -clorofenol para formar o complexo de inclusão.14 FIGURA 4 - Representação esquemática da formação do comple- xo de inclusão da ciclodextrina. A) A molécula hospede é o - Xileno e os círculos menores representam as moléculas de água. Fonte: Adaptado Alves-Prado et al.4 Fonte: Adaptado Szejtli.43 Fonte: Adaptado Cyclodex15 e Purdy.33 A B 348 As ligações envolvidas na formação dos complexos são forças de van der Waals, interações dipolo-dipolo e pontes de hidrogênio. Essas ligações são fortes o suficiente para impedir a separação do complexo mesmo em estado sólido, mas fracas o suficiente para permitir a liberação da molécula encapsulada, quando necessário.20 O complexo de inclusão exerce um efeito intenso nas propriedades físico-químicas da molécula hospedeira. Dentre essas propriedades encontram-se: o aumento da solubilidade da molécula hospedeira, a estabilização da molécula hospedeira lábil contra os efeitos de degradação pela oxidação, o controle da volatilidade e sublimação.38 O complexo também impede reações como polimerização e oxidação, necessárias para completar a reação de escurecimento enzimático. A encapsulação pode ser analisada por calorimetria de varredura diferencial (DSC) a 300ºC, visto que é a temperatura em que a CD se decompõe. Quando a molécula hospedeira é encapsulada pela CD não ocorre absorção de energia, no entanto observa-se um aumento na temperatura de fusão, de aproximadamente 10ºC. 19 Reação de escurecimento enzimático O escurecimento enzimático, com algumas exceções (café, coco, figos pretos e chá), é considerado um problema que diminui a qualidade das frutas e suas características nutricionais. 27 As reações oxidativas deste processo, independentemente de sua causa (amassamento, corte, descascamento, ferimento e ação de microrganismo, etc), envolve o contato entre as enzimas oxidativas e vários compostos fenólicos. A principal enzima envolvida neste processo é a polifenoloxidase (PPO), que utiliza o oxigênio molecular na catálise de o-hidroxilação de monofenol para o-difenóis (atividade da monofenolase) e, posteriormente, a oxidação do difenol (atividade de difenolase) em o-quinona. Essas o-quinonas se polimerizam e/ou reagem com aminoácidos endógenos e proteínas formando pigmentos marrons complexos denominados melaninas (Figura 5). A enzima localiza-se nos plastídios das células FIGURA 5 - Esquema do escurecimento enzimático da PPO. FIGURA 4 - B) O -clorofenol no interior da - ciclodextrina, vista frontal e lateral. a-CD Fonte: Adaptado Mc Evily.28 OH R OH OHR OH OH O O OH OH CH3 OH Enzima-2 2Cu + Enzima-2 +Cu O OR PPO + O2 -quinona (colorido)o Proteínas Aminoácidos Difenol (sem cor) Polímeros complexos marrons Monofenol (sem cor) Agente Redutor (Melaninas) PPO Fonte: Adaptado Castilho & Boyd.14 vegetais e os substratos fenólicos estão armazenados nos vacúolos. Esta separação física previne qualquer oxidação dos fenóis sem danificar o tecido vivo. A separação pode ser rompida como resultado de danos à célula durante a colheita e transporte (não intencional) ou o processamento (intencional). Com isso a oxidação dos fenóis por meio da PPO se inicia.11 Os fatores mais importantes no aumento do escurecimento provocado por esta enzima são a concentração de compostos fenólicos, o pH, a temperatura e o oxigênio disponível no tecido.26 A escolha do cultivar tem demonstrado efeito no potencial de controle de escurecimento de batatas minimamente processadas, uma vez que diferentes cultivares têm diferentes composições químicas. Em tubérculos como batatas, os compostos fenólicos estão principalmente distribuídos nos tecidos entre o córtex e a pele. Na verdade, cerca de 50% dos compostos fenólicos estão localizados na pele e tecidos adjacentes, enquanto que os outros 50% estão no centro do tubérculo.17 Os nutrientes mais importantes presentes em batatas são os carboidratos, como o amido, ácidos orgânicos e fenóis, como o ácido clorogênico. A concentração de ácido clorogênico representa cerca de 90% do total de compostos fenólicos em batatas.6, 18, 29 As pêras são particularmente propensas ao escurecimento enzimático e seu uso é muito restrito em produtos processados como o suco ou purê. O grau de envolvimento das peroxidases no escurecimento enzimático permanece duvidoso, especialmente por causa da maior afinidade da PPO com os substratos naturais e o baixo nível de peróxido de hidrogênio em frutas.34 Inibidores das reações de escurecimento enzimático A prevenção ou a inibição do escurecimento 349 enzimático é uma das principais preocupações da indústria de alimentos em todo o mundo e trabalhos têm sido realizados para eliminar algum dos fatores essenciais da reação, como o oxigênio, a enzima, o cobre ou fenóis.40 Os inibidores podem operar por três diferentes modos de ação: primeiro, a inibição direta da PPO, segundo, a redução química da o- quinona em compostos o-difenólicos e por último a modificação químicaou a remoção dos substratos fenólicos da PPO.31 A enzima (PPO) é relativamente sensível ao calor acima de 50ºC e a escolha do tempo apropriado de tratamento permite uma diminuição na sua atividade. No entanto, ela é completamente destruída a 80ºC. Também pode ser inibida por ácidos, sulfitos, agentes quelantes e agentes redutores como o ácido ascórbico.49 Embora os sulfitos sejam eficientes nas REE e RENE existem diversos fatores negativos associados como seu uso em alimentos e bebidas, acarretando diferentes problemas de saúde, principalmente em certos indivíduos sensíveis como os asmáticos dependentes de esteróides. Em casos mais extremos poderão ocorrer reações anafiláticas e até mesmo a morte.46 Em busca de métodos alternativos em substituição aos agentes químicos, as ciclodextrinas tem mostrado efeitos promissores. Essas moléculas foram propostas como agentes no controle do escurecimento enzimático de produtos de maçã causado pela PPO5, 8, 36 e seu uso na prevenção do escurecimento enzimático foi patenteado. 21 A -CD mostrou que inibe o escurecimento enzimático de suco de maçã.36 Os autores propuseram que a -CD forma complexo de inclusão com o substrato da PPO, desse modo prevenindo a oxidação das quinonas e a sua subseqüente polimerização em pigmentos escuros. Isto também poderá representar um novo conceito em tecnologia de frutas minimamente processado. Sojo et al.40 avaliaram o efeito da CD na oxidação enzimática dos fenóis da polpa de banana. Esse trabalho mostrou pela primeira vez que as CDs, ao contrário do que geralmente se pensava que elas somente agiam como inibidores, mostrou também que dependendo da forma de uso, elas podem ativar o escurecimento em extratos de frutas cruas. Assim, a CD apresentou dois efeitos, um ativador e outro inibidor do escurecimento, conforme o produto utilizado. Quando se usou o fenol hidrofóbico como o tert- butilcatecol (TBC) observou-se uma acentuada inibição tanto com o derivado -hidroxipropil-CD quanto com o maltosil- -CD. Essa inibição foi ocasionada pela complexação do TBC com o centro da CD, demonstrando que a PPO da polpa de banana reagia somente como substrato livre e não com o complexo TBC-CDs. O aumento das concentrações de CDs na presença de dois inibidores da PPO (4-iodofenol e o ácido cinâmico) foi capaz de reativar a enzima, antes inibida, para o nível não inibido (ausência do inibidor). Isto ocorreu pela complexação dos inibidores com o centro hidrofóbico da CD, impedindo sua ação inibidora. Isto mostrou que um efeito sinérgico inverso com CD e outro inibidor pode ocorrer se o inibidor for capaz de inclusão com a CD. A maior parte dos estudos de aplicação de CD como antiescurecimento são com maçãs e seus produtos. A -CD não foi efetiva no suco de maçã em concentrações de 0,3- 1,8 mM. Observou-se o escurecimento gradual do suco de maçã nas concentrações testadas, indicando que não houve a formação completa do complexo. Se a concentração fosse aumentada, a eficiência poderia ser maior, embora isso pudesse causar redução no "flavour", por causa da também complexação com compostos aromáticos devido à falta da especificidade da CD na formação de complexos.30 Sapers et al.37 verificaram que a combinação de - CD com o ácido ascórbico 2-fosfato ou ascorbil palmitato foi significativamente mais efetiva como inibidor do escurecimento em suco de maçã comparado com o uso da -CD e do ácido ascórbico isoladamente. A -CD e as combinações dessa com o ácido ascórbico ou seus derivados apresentaram efeitos promissores na inibição do escurecimento em suco de maçã, entretanto, a mesma não foi efetiva em maçãs fatiadas. A capacidade da -CD de inibir o escurecimento enzimático em suco de maçã provavelmente resultou da sua capacidade de formar complexo de inclusão com o substrato da PPO prevenindo, dessa forma, a oxidação das quinonas e a sua subseqüente polimerização em pigmentos escuros. Irwin et al. 23 avaliaram que a CD forma um complexo de inclusão na proporção 1:1 com o substrato da PPO (ácido clorogênico) em suco de maçã, protegendo o substrato da oxidação enzimática. A -CD dissolvida em suco de maçã "Granny Smith" inibiu o escurecimento enzimático de forma diretamente proporcional à concentração de CD entre 5,9 e 13,6 mM, entretanto, - e -CDs foram menos efetivas. A inibição do escurecimento por -CD foi mais efetiva com a adição do ácido ascórbico (1,14 mM) ou de outros derivados ascorbil. Misturas contendo maltosil- -CD, dimaltosil- -CD e -CD foram efetivas na concentração de 1 a 4%, com a adição de ácido ascórbico e ácido cítrico. 22 A CD foi empregada em sucos de uvas verdes, maçãs "Granny Smith", pêras "Anjou" e aipo. O suco de maçã controle escureceu significativamente em 1 hora. No entanto, na amostra submetida ao tratamento com CD, o escurecimento foi prevenido por 82 horas. Em suco de pêra, o escurecimento ocorreu em aproximadamente 60 horas. 22 Estes autores também utilizaram as CDs solúveis e insolúveis, sozinhas ou em combinação com o fosfato orgânico e inorgânico para inibir o escurecimento em suco de maçã, onde verificaram que a -CD inibiu o escurecimento por 2 horas na concentração de 1% (8,8 mM). Resultados similares foram encontrados com o maltosil- -CD. Entretanto, com o aumento na sua concentração a 4% (28 mM), o período de inibição foi maior, aproximadamente 6 horas. A combinação de 1% de -CD com 0,5% de ácido pirofosfato de sódio ou ácido hexametafosfato de sódio e com 0,25% ácido difosfato ou ácido fosfórico proporcionou a inibição do escurecimento por mais de 25 horas à temperatura ambiente. Billaud et al.9 estudaram o efeito da CD na atividade da PPO de maçã, utilizando como substrato fenólico o ácido clorogênico e a (+) catequina. A CD diminuiu a atividade da 350 PPO, por complexação com o substrato. A eficiência da - CD como inibidor do escurecimento depende do equilíbrio entre o substrato livre e o complexado e da proporção da formação do complexo. O Hidroxipropril- -CD pode ser considerado melhor inibidor do escurecimento enzimático em suco de maçã quando comparado com a -CD, uma vez que a sua solubilidade em água é maior (>5 g/100 mL a 25ºC). São mais estáveis em condições ácidas e na presença da - amilase do que a -CD 9. A -CD tem uma solubilidade menor em água (1,85 g/100 mL a 25ºC), comparada com a - e -CD (14,5 e 23,3 g/ 100 mL, respectivamente). A baixa solubilidade é devido principalmente às ligações de hidrogênio intramolecular. Vários derivados têm sido propostos para aumentar a solubilidade em água. 9, 44 Em trabalho recente, Carneiro13 mostrou que a CGTase diminuiu o escurecimento enzimático de batatas. Isso ocorreu devido à produção de CD por ação da CGTase sobre o substrato natural (amido de batata) e sua subseqüente polimerização com os agentes responsáveis pelo escurecimento, evitando assim o desenvolvimento da reação. Inconvenientes Embora as CDs pareçam ser efetivas em retardar o escurecimento, existem diversos inconvenientes potenciais para o seu uso, entre esses a falta de especificidade da formação do complexo de inclusão poderá resultar na diminuição do "flavour" 22. Esta característica poderá ser minimizada pelo uso de derivados de CDs. No entanto esses têm como desvantagem o custo elevado. CONCLUSÃO As CDs são uma alternativa para substituir o uso de agentes químicos em alimentos processados que tendem ao escurecimento, uma vez que não traz prejuízos à saúde humana. Sua aplicação aumentará se os custos forem reduzidos. O alto custo da produção da CD é ainda o fator limitante no seu emprego na tecnologia de alimentos. Dessa forma, pesquisas dirigidas à produção, tanto da CGTase quanto da CD que resultem em menor custo, são importantes para viabilizar de maneira econômica o uso de CD em escala comercial e conseqüentemente aumentar a sua aplicabilidade em alimentos sujeitos ao escurecimento. CARNEIRO,A. A. J; ALVES-PRADO, H. F.; GOMES, E.; DA SILVA, R. Enzymatic browning in foods: cyclodextrins as antibrowning agents. Alim. Nutr., Araraquara, v.17, n.3 , p.345-352, jul./set. 2006. ABSTRACT: The enzymatic and non-enzymatic browning reactions are one of the major phenomenon which occurs during the processing and storage of foods. Due to the restriction of the use of sulfite in food, cyclodextrin has been studied as an alternative to control the browning of foods. They are cyclic molecules, composed by monomers D- glucose produced by action of the enzyme cyclodextrin glucosyltransferase (CGTase) on starch. The most remarkable property of these molecules is their ability to form inclusion complexes with others substance in aqueous solution. The inclusion of precursor compounds of browning reactions may avoid the completion of these processes. This review describe some properties of CDs, having as main characteristic a complexation with polyphenols present in vegetables, fruits and beverages, taking the reduction of enzymatic browning these foods, they could have a longer shelf-life, once that the browning can change organoleptic properties and appearance of the food product. KEYWORDS: CGTase; cyclodextrin; browning enzymatic; foods; inhibitor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABELYAN, V. A. et al . Cyclomaltodextrin glucotransferases from thermophilic actinomycetes. Biokhimiya, v. 60, p. 1223-1229, 1995. 2. ALLEGRE, M.; DERATANI, A. Cyclodextrin uses: from concept to industrial reality. Agro. Food Ind. Hi - Tech., v. 6, p. 9-17, Jan./Febr. 1994. 3. ALVES-PRADO, H. F.; GOMES, E.; DA SILVA, R. Produção de ciclodextrina glicosiltransferase (CGTase) microbiana e aplicação de ciclodextrinas em alimentos- revisão. Bol. SBCTA, v. 36, p. 43-54, 2002. 4. ALVES-PRADO, H. F. et al. 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