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ISBN — 978-85-225-1244-7 Copyright © 2012 David Menezes Lobato, Jamil Moysés Filho, Maria Candida Torres, Murilo Ramos Alambert Rodrigues Direitos desta edição reservados à EDITORA FGV Rua Jornalista Orlando Dantas, 37 22231-010 — Rio de Janeiro, RJ — Brasil Tels.: 0800-021-7777 — (21) 3799-4427 Fax: (21) 3799-4430 editora@fgv.br — pedidoseditora@fgv.br www.fgv.br/editora Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei no 9.610/98). Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores. 1a edição — 2012 Revisão de originais: Sandra Frank Editoração eletrônica: FA Editoração Revisão: Fatima Caroni e Fernanda Mello Capa: aspecto: design Ilustração da capa: André Bethlem Conversão para eBook: Freitas Bastos Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV Lobato, David Menezes Gestão estratégica / David Menezes Lobato...[et al.]. - Rio de Janeiro : Editora FGV, 2012. (Gestão empresarial (FGV Management)) Em colaboração com: Jamil Moysés Filho, Maria Candida Torres, Murilo Ramos Alambert Rodrigues. Publicações FGV Management. Inclui bibliografia. 1. Administração de empresas. 2. Planejamento estratégico. I. Moysés Filho, Jamil. II. Torres, Maria Cândida Sotelino. III. Rodrigues, Murilo Ramos Alambert. IV. FGV Management. V. Fundação Getulio Vargas. VI. Título. VII. Série. CDD – 658.401 Sumário Capa Folha de Rosto Créditos Dedicatória Apresentação Introdução 1 | Evolução do pensamento estratégico O que é estratégia? As escolas do pensamento estratégico Escolas de natureza prescritiva Escola do design Escola do planejamento Escola do posicionamento Escolas de natureza descritiva Escola do empreendedorismo Escola cognitiva Escola do aprendizado Escola do poder Escola cultural Escola ambiental Escola de natureza híbrida Escola da configuração 2 | Administração estratégica e alinhamento Administração estratégica Gestão estratégica Atuação global Proatividade e foco participativo Criatividade e inovação Aprendizagem contínua Unidades estratégicas de negócio (UENs) Ênfase em alianças Sustentabilidade Alinhamento estratégico Governança corporativa 3 | Referenciais estratégicos Definições dos referenciais estratégicos A definição do negócio da organização Identificação do negócio atual Criação do modelo de negócios da organização Adequação às tendências do ambiente de negócios A elaboração da visão de futuro Missão: o propósito de existência da organização Os valores da organização As políticas da organização 4 | Análise do ambiente externo O que são cenários? Análise do ambiente geral Desenvolvendo cenários Oportunidades e ameaças A análise da indústria A estrutura do modelo das cinco forças competitivas Grau de rivalidade entre as empresas A ameaça dos novos entrantes A ameaça dos produtos substitutos/h3> Poder de barganha dos compradores Poder de barganha do fornecedor As críticas ao modelo das cinco forças competitivas 5 | Análise do ambiente interno O quadro geral da análise do ambiente interno Recursos, capacidades e competências essenciais Competências essenciais Diagnóstico das forças e fraquezas Fatores críticos de sucesso (FCS) A matriz Swot e a avaliação estratégica 6 | A formulação da estratégia competitiva A matriz de Ansoff O modelo Porter das estratégias genéricas de competição Estratégias de liderança no custo total Estratégias de diferenciação Estratégias de enfoque A cadeia de valor O posicionamento estratégico Grupos estratégicos Mapas estratégicos A abordagem da disciplina dos líderes de mercado Excelência operacional Liderança em produto Intimidade com o cliente Aprisionamento (lock-in) A estratégia do oceano azul A inovação de valor Oceanos azuis e oceanos vermelhos Exemplos da estratégia do oceano azul Sistemas de atividades 7 | Objetivos estratégicos Definição dos objetivos Natureza dos objetivos Prazo Forma Conteúdo dos objetivos Implementação dos objetivos Desdobramento dos objetivos A priorização de objetivos e a ferramenta GUT O plano de ação 8 | O balanced scorecard (BSC) Conceitos do modelo As perspectivas do balanced scorecard A perspectiva financeira A perspectiva dos clientes A perspectiva dos processos internos A perspectiva do aprendizado e do crescimento A construção do balanced scorecard Elaboração dos objetivos estratégicos Elaboração do mapa estratégico Construção dos painéis estratégicos Definição de metas Conclusão Referências Os autores David Menezes Lobato Jamil Moysés Filho Maria Candida Torres Murilo Ramos Alambert Rodrigues Aos nossos filhos, aos nossos alunos e aos nossos colegas docentes, que nos levam a pensar e repensar nossas práticas. Apresentação Este livro compõe as Publicações FGV Management, programa de educação continuada da Fundação Getulio Vargas (FGV). Instituição de direito privado com mais de meio século de existência, a FGV vem gerando conhecimento por meio da pesquisa, transmitindo informações e formando habilidades por meio da educação, prestando assistência técnica às organizações e contribuindo para um Brasil sustentável e competitivo no cenário internacional. A estrutura acadêmica da FGV é composta por nove escolas e institutos: a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), dirigida pelo professor Flavio Carvalho de Vasconcelos; a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp), dirigida pela professora Maria Tereza Leme Fleury; a Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE), dirigida pelo professor Rubens Penha Cysne; o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), dirigido pelo professor Celso Castro; a Escola de Direito de São Paulo (Direito GV), dirigida pelo professor Oscar Vilhena Vieira; a Escola de Direito do Rio de Janeiro (Direito Rio), dirigida pelo professor Joaquim Falcão; a Escola de Economia de São Paulo (Eesp), dirigida pelo professor Yoshiaki Nakano; o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), dirigido pelo professor Luiz Guilherme Schymura de Oliveira; e a Escola de Matemática Aplicada, dirigida pela professora Izabel Tavarez Gramacho. São diversas unidades com a marca FGV, trabalhando com a mesma filosofia: gerar e disseminar o conhecimento pelo país. Dentro de suas áreas específicas de conhecimento, cada escola é responsável pela criação e elaboração dos cursos oferecidos pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), criado em 2003 com o objetivo de coordenar e gerenciar uma rede de distribuição única para os produtos e serviços educacionais da FGV, por meio de suas escolas. Dirigido pelo professor Clovis de Faro e contando com a direção acadêmica do professor Carlos Osmar Bertero, o IDE engloba o programa FGV Management e sua rede conveniada, distribuída em todo o país (ver www.fgv.br/fgvmanagement), o programa de ensino a distância FGV Online (ver www.fgv.br/fgvonline), a Central de Qualidade e Inteligência de Negócios e o Programa de Cursos Corporativos In Company. Por meio de seus programas, o IDE desenvolve soluções em educação presencial e a distância e em treinamento corporativo customizado, prestando apoio efetivo à rede FGV, de acordo com os padrões de excelência da instituição. Este livro representa mais um esforço da FGV em socializar seu aprendizado e suas conquistas. Ele é escrito por professores do FGV Management, profissionais de reconhecida competência acadêmica e prática, o que torna possível atender às demandas do mercado, tendo como suporte sólida fundamentação teórica. A FGV espera, com mais essa iniciativa, oferecer a estudantes, gestores, técnicos — a todos, enfim, que têm internalizado o conceito de educação continuada, tão relevante nesta era do conhecimento — insumos que, agregados às suas práticas, possam contribuir para sua especialização,atualização e aperfeiçoamento. Clovis de Faro Diretor do Instituto de Desenvolvimento Educacional Ricardo Spinelli de Carvalho Diretor Executivo do FGV Management Sylvia Constant Vergara Coordenadora das Publicações FGV Management Introdução O objetivo deste livro é oferecer um referencial teórico e prático que proporcione uma visão estruturada de gestão estratégica e contribua para o aperfeiçoamento desta temática no ambiente de negócios. O livro está estruturado em oito capítulos. O capítulo 1 oferece uma reflexão sobre os conceitos de estratégia e apresenta os aspectos da evolução do pensamento estratégico, baseando-se na tipologia apresentada por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) em Safári de estratégia. O texto identifica as principais premissas e características das escolas do pensamento estratégico e lança os fundamentos para a metodologia de gestão estratégica exposta nos capítulos seguintes. O capítulo 2 tem por objetivo destacar as características-chave da gestão estratégica. Neste livro consideramos gestão estratégica o que alguns autores chamam de administração estratégica. Um aspecto que deve ser destacado neste capítulo é a apresentação dos conceitos de governança corporativa. O capítulo 3 contempla a apresentação dos referenciais estratégicos da organização. Os referenciais são formados pela definição do negócio, da visão, da missão e dos valores da organização. Os referenciais estratégicos fazem com que a organização se engaje em determinados comportamentos que dão base para elaboração de análises e desenvolvimento da gestão estratégica. O capítulo 4 aborda a análise externa, o estudo de cenários e a análise competitiva do setor de atuação da empresa. Visa desenvolver uma metodologia para mapear as prováveis evoluções do ambiente externo, buscando antecipar oportunidades e ameaças ao desempenho almejado pela visão, missão e objetivos. Além disso, é o capítulo que apresenta a metodologia analítica que permite à organização analisar o setor como um todo e prever sua evolução, assim como compreender a concorrência e sua própria posição no setor. A análise do ambiente interno é o objetivo do capítulo 5, que compreende o diagnóstico da situação da organização com relação às suas forças e fraquezas, capacitações, competências e questões críticas para o alcance do sucesso no negócio em que a organização se propõe a atuar. O capítulo 6 engloba os principais modelos desenvolvidos para a implementação de estratégias, seu relacionamento com o processo de gestão estratégica e a adoção de ferramentas para pensar o negócio com o objetivo de assegurar a sobrevivência e construir o futuro das organizações. O capítulo 7 apresenta a etapa de definição dos objetivos, tendo como base não só os desafios atuais como também aqueles já identificados para os próximos anos e a elaboração do plano de ação, que é uma ferramenta significativa no processo de desdobramento, organização e execução da estratégia. Por último, o capítulo 8 apresenta os conceitos da ferramenta balanced scorecard (BSC), através da qual são desenvolvidas medidas financeiras e não financeiras que possam dar alinhamento e controle estratégico a todos os níveis da organização, possibilitando o desdobramento das estratégias a serem implementadas. Cabe ressaltar a você, leitor, que para planejar e pensar estrategicamente é necessário um trabalho que harmonize persistência, tempo para desenvolvimento do seu estilo estratégico e capacidade inspiradora. Se você está disposto a desafiar seu modelo mental, sabendo que rotas novas em mapas antigos pouco podem agregar, prossiga e trabalhe um novo mapa do pensamento estratégico. Os autores desejam sucesso no seu desafio da gestão estratégica. 1 Evolução do pensamento estratégico O objetivo deste capítulo é proporcionar uma reflexão sobre os conceitos de estratégia e apresentar os aspectos da evolução de pensamento estratégico, conforme proposto por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010). Você perceberá que as escolas de pensamento estratégico são desenvolvidas a partir de várias concepções e formam a base da metodologia de gestão estratégica. Com uma população global que já ultrapassou os 7 bilhões de habitantes, teremos, cada vez mais, de refletir sobre a relação demanda x oferta de bens e serviços. Esse cenário impõe a necessidade de as empresas tratarem estrategicamente suas opções, no sentido de enfrentar as turbulências ambientais com proatividade e vigor. A competitividade é o desafio imposto pela globalização às empresas do mundo inteiro. Dentro desse enfoque, as empresas que têm êxito são as que preveem, geram e desenvolvem as mudanças, com flexibilidade e rapidez, dando foco e direção às suas ações estratégicas. O conceito de estratégia teve várias fases e significados, evoluindo de um conjunto de ações e manobras militares para uma disciplina de gestão empresarial, dotada de conteúdo, conceitos, metodologias e aplicações práticas, e que conquistou importância e desenvolve conhecimento tanto no âmbito acadêmico quanto no empresarial. O que é estratégia? A definição e aplicação da estratégia são consideradas atividades muito importantes para os executivos. Mas, o que é estratégia? Esta é uma questão fundamental que os pensadores do campo da gestão empresarial buscam responder. A palavra estratégia vem de strategós (de stratos = exército, e ago = liderança ou comando, tendo significado inicialmente a arte do general) e designava o comandante militar. No quadro 1, apresentamos as diversas variações da palavra estratégia no idioma grego. Quadro 1 A ORIGEM GREGA DA PALAVRA ESTRATÉGIA Stratós/stratia Exército acampado Stratéia Expedição/campanha Strategeo Liderar como um general Strategós Comandante de exército Strategía Qualidade e habilidades do general Fonte: Serra, Torres & Torres (2004:4). Pela origem apresentada para a palavra estratégia, a literatura a relaciona com situações políticas, guerras ou jogos. Aliás, por esta perspectiva é fácil compreender uma característica da estratégia em qualquer campo: alcançar determinado desempenho competitivo. Vamos refletir acerca de como alguns pensadores definem o que é estratégia. Segundo Ghemawat (2007:16), “a estratégia é um termo criado pelos antigos gregos, para os quais significava um magistrado ou comandante-chefe militar”. No início da evolução do pensamento estratégico, o conceito de estratégia era focalizado nas organizações militares. A estratégia era a arte do general. A partir daí, o pensamento estratégico passou a ser apropriado pelo ambiente de negócios, tendo seu desenvolvimento relacionado com o ritmo das transformações, tanto na sociedade quanto no mundo empresarial. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) abordam o que é estratégia através dos chamados cinco Ps, que são diferentes maneiras de definir o conceito de estratégia. Vejamos: a estratégia é um plano (plan), uma direção, um guia ou curso de ação para o futuro, um caminho a ser seguido para levar a organização de um estado atual, corrente, para um estado futuro desejado. Nesse conceito, as organizações desenvolvem planos para seu futuro e criam estratégias pretendidas. Vale observar que, na prática, as estratégias pretendidas nem sempre são realizadas. O mundo real exige alguma adaptação da estratégia pretendida durante o percurso de implantação; a estratégia é um padrão (pattern), isto é, a consistência do comportamento ao longo do tempo. Uma organização que sempre trabalhou focada nos segmentos de maior valor agregado de determinada indústria segue determinado padrão de estratégia. Da mesma forma, podemos encontrar um padrão de estratégia num executivo que sempre aceita os desafios de maior risco ao longo de sua carreira profissional; a estratégia é uma posição (position), ou seja, o posicionamento (ou localização) de determinados produtos ou serviços em determinados mercados. Ansoff e McDonnell(2009) utilizam esse conceito na sua clássica matriz “produto versus mercado”. A partir das posições de mercado (existente ou novo) relacionado com os produtos (existentes ou novos) era possível compreender as estratégias factíveis. Porter (2005) reiterou que estratégia é a criação de uma posição única e valiosa, envolvendo um conjunto diferente de atividades; a estratégia é uma perspectiva (perspective), uma maneira fundamental de a organização fazer as coisas. A estratégia apresenta uma perspectiva da visão de negócio em termos de interação com o cliente ou das maneiras como bens e serviços serão oferecidos ao mercado. Como perspectiva, a estratégia olha para dentro da organização, tendo como referencial o pensamento dos estrategistas, e também para cima, para a grande visão da empresa; a estratégia é um estratagema (ploy), ou seja, uma manobra específica para vencer com astúcia um oponente ou concorrente. A estratégia é um artifício aplicado para ganhar participação de mercado através de um estratagema. Como exemplo, uma organização pode adquirir terras para dar a impressão de que planeja expandir sua capacidade de produção, para desencorajar um concorrente de construir uma nova fábrica. Nesse caso, a verdadeira estratégia é a ameaça de expansão, não a expansão em si. Na visão de Mintzberg e Quinn (2010), existem três níveis de estratégia, que não deve restringir- se aos níveis gerenciais e diretivos, mas distribuir-se por toda a organização, considerando-se os diferentes graus de importância de cada nível hierárquico para o alcance dos objetivos organizacionais. Podemos, então, classificar a estratégia considerando a localização hierárquica na estrutura organizacional: estratégia corporativa – é o nível mais elevado da estratégia empresarial e abrange as questões relacionadas aos negócios nos quais se decide competir, determinando o portfólio de unidades de negócios da organização. É a decisão de onde competir; estratégia competitiva ou de negócio – envolve a escolha de uma estratégia de competição para a unidade de negócios. Corresponde à decisão de como competir; estratégia funcional – corresponde à forma de atuação de uma área funcional da empresa, normalmente relacionada ao nível tático da organização. Para maior sustentabilidade da gestão estratégica, as estratégias funcionais devem cobrir todos os ângulos da organização. Podemos verificar, nas várias definições e classificações de estratégia expostas acima, que sua essência é complexa e envolve vários processos de pensamento. A partir deste momento, vamos identificar as principais premissas e características das escolas do pensamento estratégico, como proposto anteriormente. Desta forma, podemos fundamentar nossos conhecimentos por meio das diferentes formas de pensar a estratégia e, nos capítulos seguintes, apresentar uma metodologia de gestão estratégica para a organização. As escolas do pensamento estratégico As escolas do pensamento estratégico expostas a seguir baseiam-se na interpretação desenvolvida por Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel (2010). Elas serão apresentadas aqui, ressaltando-se que nenhuma visualiza a estratégia como um todo, pois cada uma delas apresenta suas soluções de acordo com as suas premissas. Contudo, para compreender o todo precisamos compreender as partes. Para trabalhar esse entendimento, as 10 escolas de pensamento estratégico serão analisadas. Escolas de natureza prescritiva Ao buscar explicar como as estratégias devem ser formuladas, a natureza prescritiva aborda todo um leque de escolas do pensamento estratégico, que são as escolas do design, do planejamento e do posicionamento. Escola do design A escola do design é uma das mais influentes na formulação das estratégias empresariais. Esta escola apresenta a elaboração (desenho) da estratégia como um processo formal de concepção, através da análise e combinação dos ambientes interno e externo, buscando o melhor ajuste entre eles, ou seja, entre as capacidades e competências da organização e as oportunidades e ameaças presentes no ambiente de negócios. A matriz Swot é a principal ferramenta desta escola. Trata-se de uma técnica relacionada à avaliação do ambiente interno da empresa, com a análise das suas forças e fraquezas, e do ambiente externo, com a análise das suas oportunidades e ameaças. A sustentabilidade das estratégias propostas de acordo com a metodologia da escola do design está apoiada em sete premissas: a estratégia deve ser formulada a partir de um processo racional, formalizado e controlado, deliberado e não intuitivo; a responsabilidade pela formulação e controle da estratégia é do executivo principal; essa pessoa é o estrategista; o modelo de formulação da estratégia deve ser mantido simples e informal; as estratégias devem ser únicas. Elas são elaboradas levando-se em consideração as situações específicas das organizações; o processo de design está completo quando as estratégias parecem plenamente formuladas como perspectivas, prontas para serem implementadas; as estratégias devem ser explícitas; assim, precisam ser mantidas simples. Segundo Tregoe e Tobia (1990), a “lei da parcimônia” destaca que as estratégias devem ser mantidas claras, simples e específicas. A simplicidade é a essência da estratégia; somente depois que essas estratégias únicas, desenvolvidas, explícitas e simples são totalmente formuladas é que elas podem ser implementadas. Ao criticar a escola do design, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) destacam que uma estratégia que coloca a organização em um nicho pode estreitar sua própria perspectiva. As premissas do modelo negam certos aspectos importantes da formação da estratégia, inclusive o desenvolvimento incremental e a estratégia emergente, a influência da estrutura existente sobre a estratégia e a plena participação de outros atores, além do executivo principal. As principais críticas à escola do design referem-se aos pontos fracos de cada uma das suas características marcantes: a formação da estratégia é um processo de concepção, minimizando a importância do processo de aprendizado; a centralização da responsabilidade pelo processo na alta direção reforça o personalismo e pode diminuir a participação e a contribuição das diferentes áreas da organização; a separação entre formulação e implementação negligencia o impacto da complexidade do ambiente de negócios na implementação das estratégias e simplifica em excesso o processo de criação da estratégia. Escola do planejamento Na década de 1970, existiu uma grande divulgação das virtudes do planejamento estratégico formal. A escola do planejamento preconiza a formação da estratégia como um processo formal, que segue um conjunto específico de etapas, as quais devem ser seguidas rigorosamente. Esses passos partem da análise da situação atual da empresa até o desenvolvimento e a exploração de diferentes cenários alternativos. O objetivo é a geração de um conjunto coordenado de planos que guie a organização até o alcance de seus objetivos. As principais etapas que se encontram na maioria destes modelos são as seguintes: determinação de objetivos e metas – elaboração e quantificação dos resultados que a organização pretende alcançar ao longo do tempo, nas suas diversas áreas de atividade; auditoria do ambiente externo – elaboração de cenários alternativos para a organização, através do estudo detalhado das variáveis do ambiente externo. Busca-se prever as possíveis evoluções dessas variáveis, as tendências do ambiente externo, para que a organização esteja preparada para os possíveis cenários que estão por vir; auditoria do ambiente interno – estudo dos pontos fortes e fracos, por meio de uma extensa análise das características da organização, com o uso de check-lists e tabelas para a avaliação de cada área e função da organização; avaliação das estratégias – etapa em que elas são delineadas, para posterior avaliaçãoe escolha. Busca-se identificar aquelas que tenham o maior potencial de criação de valor, mensurado em termos econômicos e financeiros. operacionalização das estratégias – as estratégias delineadas na etapa anterior são detalhadas e decompostas por toda a organização. Criam-se estratégias e subestratégias para cada nível hierárquico, visando ao sucesso de sua implantação e de sua operacionalização. O processo de controle é desenvolvido junto com o detalhamento e a decomposição das estratégias, visando garantir o alinhamento da organização. As premissas da escola do planejamento são: as estratégias são o resultado de um processo de planejamento formal, controlado, decomposto em vários passos, cada um delineado por check-lists e apoiado por técnicas e análises; a responsabilidade pelo processo de planejamento é, em princípio, do executivo chefe. Na prática, a responsabilidade pela implantação e execução é dos planejadores; as estratégias devem ser implantadas por meio da atenção detalhada a objetivos, orçamentos, programas e planos operacionais, para todos os níveis da organização. Uma crítica importante a essa escola é que os planos são elaborados apresentando pouca conexão com a realidade, promovendo a visão de que planejamento e execução não estão relacionados. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) apontam um problema central nesta escola: a falácia de que a análise pode produzir a síntese, ou seja, de um processo analítico formal pode-se extrair uma recomendação que sintetize um curso de ação a ser seguido e prever descontinuidades. Escola do posicionamento Esta abordagem é fortemente influenciada pelos trabalhos de Michael Porter (2005). A elaboração da estratégia é fruto de um processo analítico no qual analisamos a organização considerando o contexto da indústria na qual ela se encontra, e exploramos maneiras por meio das quais a organização pode incrementar sua posição competitiva. A premissa central da escola de posicionamento é a escolha de uma posição no mercado. Ao contrário das escolas do design e do planejamento, que não colocam limites à geração de estratégias numa dada situação, a escola do posicionamento argumenta que poucas estratégias são desejáveis em qualquer indústria na qual a organização atue. A organização deve escolher uma estratégia genérica de competição – diferenciação em produto, liderança em custos ou enfoque – e defender sua posição no mercado contra suas concorrentes. A análise estrutural da indústria, por meio do modelo das cinco forças competitivas, a escolha de uma estratégia genérica de competição, a definição de um posicionamento estratégico no mercado e a construção da cadeia de valor são as ferramentas analíticas centrais desta escola. As premissas da escola do posicionamento são as seguintes: as estratégias são genéricas, comuns às organizações, e identificam posições específicas no mercado; o mercado é competitivo e baseado na racionalidade econômica; o processo de formulação da estratégia busca selecionar uma estratégia genérica de competição por meio de um processo analítico; os analistas são peças fundamentais do processo, alimentando os gestores – responsáveis pelas escolhas – com recomendações baseadas num processo analítico devidamente quantificado; as estratégias são geradas por este processo e, então, detalhadas, articuladas e implantadas. A estrutura do mercado direciona a escolha do posicionamento estratégico que, por sua vez, determina a estrutura organizacional. Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010), as principais críticas a esta escola estão relacionadas ao foco, ao contexto, aos processos e às estratégias em si. O foco é estreito, sendo orientado para o econômico em oposição ao social e político. O contexto é direcionado para grandes empresas tradicionais. O excesso de formalização no processo pode impedir não só o aprendizado e a criatividade, mas também o envolvimento emocional. Finalmente, a crítica à própria estratégia, segundo a qual a escola de posicionamento focaliza sua atenção em estratégias genéricas, em indústrias estabelecidas, em grupos já formados e em dados já factuais, desencorajando a criação de novas categorias. Escolas de natureza descritiva Ao buscar explicar como as estratégias foram de fato formuladas, as escolas de natureza descritiva trabalham conceitos que vão do empreendedorismo até a cultura e o poder, passando pelo aprendizado, pela cognição e pelo ambiente. Escola do empreendedorismo Esta abordagem trata a elaboração da estratégia como um processo visionário, que surge dentro da mente do líder ou do fundador da organização, geralmente considerado uma pessoa carismática e empreendedora. Esta escola propõe que a estratégia é elaborada a partir do julgamento, da sabedoria, das experiências e da intuição do líder. É a estratégia como perspectiva, associada com o senso de direção, a imagem e o foco presentes na construção da visão de futuro da organização. Logo, o conceito central desta escola é a visão: uma representação mental da estratégia, criada e comunicada pelo líder. A visão oferece o senso de direção, que pode ser articulado em planos, palavras e números. A estratégia torna-se flexível e o líder pode adaptá-la às circunstâncias do ambiente externo. Assim, pode-se dizer que se torna deliberada e emergente. Deliberada, pois há um senso de direção, de linhas amplas de ação a serem seguidas. Emergente em seus detalhes, para que possam ser adaptados ao longo do caminho. Resumidamente, as principais premissas da escola empreendedora são: 1. a estratégia existe na mente do líder como uma perspectiva do que poderá vir a ser, especificamente, o senso de direção de longo prazo, uma visão do futuro da organização; 2. o processo de elaboração da estratégia contém muito da intuição e da experiência do líder; 3. o líder promove a visão de forma decidida, para que ela seja partilhada pelos colaboradores. Mantém um controle pessoal da implantação, para que possa ser capaz de reformular o curso de ação, sempre que necessário; 4. o processo de formulação das estratégias é maleável e elas tendem a ser deliberadas e emergentes; 5. a organização é maleável, sendo uma estrutura que responde às orientações da liderança. As rotinas e procedimentos de trabalho, assim como as relações de poder dentro da organização, estão a serviço das orientações do líder; 6. a estratégia empreendedora tende a procurar um nicho de mercado, protegido das forças da competição. A escola do empreendedorismo ressalta características importantes para a formação de estratégias. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) destacam a natureza proativa e o papel da liderança personalizada e da visão estratégica, que podem beneficiar as organizações no seu estado embrionário ou inicial e organizações com problemas, que precisam encontrar um novo rumo. A principal crítica a esta escola é a dependência excessiva da figura do líder visionário e as limitações que esta dependência pode trazer ao processo de geração de estratégias. O culto à personalidade gera uma sobrecarga com relação ao desempenho do líder. Além disso, uma questão que deve ser tratada com rigor é a falta de embasamento científico da associação do sucesso empresarial à personalidade empreendedora do líder. Escola cognitiva É uma escola que apresenta a formulação da estratégia como um processo mental e analisa como as pessoas percebem padrões e informações. Por meio da psicologia cognitiva busca-se entender os processos mentais dos gerentes e dos formuladores de estratégias. A escola cognitiva estuda como as crenças produzidas pelo senso comum são contempladas no pensamento estratégico, associando processos individuais aos coletivos, do indivíduo à organização. A ideia central é que os estrategistas utilizem seu conhecimento e sua forma de pensar para produzir as estratégias por meio de experiências. A escola cognitiva é moldadapela experiência e é dividida em duas alas: objetiva: orientada para a estruturação do conhecimento – um processo que recria o mundo; subjetiva: orientada para a interpretação do mundo – um processo que cria o mundo. Esta é uma escola que estabelece que temos de compreender a mente e o cérebro humanos para podermos compreender a formação da estratégia. As principais premissas da escola cognitiva são: a formação da estratégia é um processo cognitivo que toma forma na mente do estrategista; as estratégias emergem na forma de perspectivas (conceitos, mapas e esquemas mentais), que moldam como as pessoas lidam com informações vindas do ambiente; as informações do ambiente podem ser interpretadas a partir de uma série de filtros, que as distorcem de alguma maneira antes de serem decodificadas pelos mapas cognitivos, ou são meramente interpretações de um mundo que existe em termos de como é percebido. O mundo, então, pode ser modelado, estruturado e construído a partir dessas interpretações; as estratégias, como conceitos abstratos, são difíceis de ser realizadas num primeiro momento. Quando são realizadas, ficam muito abaixo do ponto ótimo e, posteriormente, são difíceis de mudar quando não são mais viáveis. A crítica central feita a esta escola é que ela é caracterizada mais por seu potencial do que por sua contribuição para o entendimento de como as estratégias são criadas. Apesar da importância da cognição para o processo de formação de estratégia, a psicologia cognitiva ainda precisa resolver, de forma mais precisa, como se formam os conceitos na mente de um estrategista. É fundamental saber não só como a mente interpreta, mas também como é capaz de integrar uma diversidade de informações complexas. Escola do aprendizado Esta escola de pensamento trata a estratégia como um processo emergente, no qual os gerentes da organização prestam atenção especial ao que funciona ou ao que não funciona ao longo do tempo, e incorporam esse aprendizado no seu plano de ação gerencial. As principais premissas da escola do aprendizado são: a natureza complexa e imprevisível do ambiente de negócios, gerenciado por meio da difusão das bases de conhecimento necessárias à estratégia, impede o controle deliberado. A formulação da estratégia deve seguir um processo de aprendizado ao longo do tempo, no qual, no limite, torna indissociável a formulação e a implantação da estratégia; embora o líder possa ser o principal aprendiz, geralmente é o sistema coletivo que aprende. A organização como um todo deve estar orientada para o aprendizado. Assim, existem vários estrategistas em potencial dentro da organização; o aprendizado ocorre de forma emergente, sendo que as pessoas podem contribuir para o processo de estratégia em qualquer parte da organização. As iniciativas estratégicas são tomadas por todos os que tenham capacidade e recursos para aprender; o papel da liderança não é a formulação de estratégias deliberadas, mas sim gerenciar o processo de aprendizado estratégico, para que novas estratégias possam emergir continuamente; as estratégias surgem, inicialmente, como padrões vivenciados no passado. No momento seguinte, podem assumir a forma de planos para o futuro e, finalmente, de perspectivas que guiam o comportamento geral. As críticas a esta escola estão relacionadas aos seguintes problemas: inexistência de estratégias – num caso extremo, algumas organizações podem sofrer com a falta de uma estratégia claramente articulada. O aprendizado é importante, mas existem situações em que o aprendizado demorado pode gerar ou agravar as crises dentro da organização; estratégia perdida – um excesso de ênfase na aprendizagem pode descartar uma estratégia coerente e viável. A descontinuidade do ambiente de negócios demanda um gerenciamento de novas iniciativas que gere aprendizagem, ao mesmo tempo que se prossegue com as estratégias que funcionam; estratégia errada – a aprendizagem tende a incluir pequenas tentativas que podem estimular o surgimento de estratégias indesejáveis e que a organização não pretende implementar. A organização que aprende deve se preocupar com o custo e a necessidade da aprendizagem. Escola do poder Para esta escola, a formação da estratégia é um processo de negociação e concessões entre indivíduos, grupos de interesses (stakeholders) e coalizões. Sendo assim, enfatiza-se a utilização do poder, da influência e da política para negociar estratégias favoráveis ao alcance de interesses particulares. A concepção do poder como eixo central no desenvolvimento das estratégias é abordada por dois ramos desta escola: poder micro – quando consideramos o lado político dentro da organização e sua influência na administração das organizações. Neste caso, o foco recai nos conflitos entre os stakeholders (grupos de interesses) internos da organização; poder macro – em que se exploram as relações da organização com o ambiente de negócios, a utilização do poder e da política para cooperar ou conflitar com os stakeholders externos da organização. Um exemplo para o sentido micro refere-se às negociações dos departamentos de uma organização para os lançamentos de novos produtos ou a venda de uma unidade de negócios. Um exemplo para o sentido macro refere-se às negociações e pressões de uma organização numa situação pré-falimentar por empréstimos subvencionados pelo governo. As principais premissas da escola do poder são: a formulação da estratégia é determinada pelo poder e pela política, seja como processo de tomada de decisão dentro da organização ou como comportamento da organização no ambiente externo; as estratégias que são derivadas deste processo tendem a ser emergentes e tomam mais a forma de posições e artifícios do que de perspectivas; o poder micro aborda a formulação da estratégia pela interação entre grupos de interesse internos, por meio de persuasão ou confronto direto, sem que haja uma dominância explícita de um grupo ao longo de um período significativo de tempo; o poder macro aborda a organização buscando atingir seus interesses por meio do controle ou cooperação com outras organizações. Formam-se diferentes tipos de alianças estratégicas e redes, objetivando-se o bem-estar da organização. A principal crítica a esta escola refere-se ao exagero de suas colocações. A formação da estratégia envolve poder, mas não apenas poder. Falta atenção aos padrões que se formam, mesmo em situações de conflito. Pouca ênfase é colocada nas forças relevantes para a formação das estratégias, como a liderança e a cultura. Escola cultural Esta escola entende a formação da estratégia como um processo enraizado na força social da cultura, envolvendo vários grupos e departamentos dentro da organização. É a contraposição à escola do poder, em que há o interesse individual, que é fragmentador, enquanto na escola cultural o interesse é comum e o sistema é integrador. As principais premissas desta escola são as seguintes: o processo de formulação da estratégia é um processo de interação social, baseado nas crenças e valores partilhados pelos empregados da organização; as pessoas adquirem os valores por meio de um processo de aculturação ou socialização, um processo predominantemente tácito e não verbal, mas que pode ser reforçado através de uma doutrinação formal; os empregados podem descrever apenas parcialmente as crenças e valores que caracterizam sua organização, enquanto as origens e explicações relacionadas a tais crenças e valores permanecem obscuras; a estratégia é entendida como uma perspectiva, baseando-se nas intenções coletivas e refletindo a utilização dos recursos e capacidades da organização na busca por vantagens competitivas. A estratégia tende a ser deliberada; a cultura e a ideologia não encorajam a mudança estratégica, mas colaboram para a perpetuação da estratégia existente. No melhor dos casos, tendem a promover mudanças dentro da perspectiva estratégicacomo um todo. A crítica principal a esta escola é que ela está centrada na possibilidade de estagnação da organização, pois a escola cultural pode desencorajar mudanças que sejam necessárias. Por outro lado, fornece consistência à administração. Finalmente, é uma escola que está focada em explicar as estratégias, e não em recomendar o que se pode fazer, qual curso de ação deve ser seguido. Escola ambiental Para a escola ambiental, a formação da estratégia é entendida como um processo reativo: uma resposta aos desafios impostos pelo ambiente de negócios no qual a organização está inserida. Logo, o foco no ambiente é fundamental, pois as estratégias são reativas, focadas nas respostas às mudanças no ambiente. O ambiente, a liderança e a organização são as principais fontes de geração de estratégias para a empresa. As principais premissas da escola ambiental são: o ambiente é o elemento central na formação das estratégias; a organização deve reagir ao ambiente ou será eliminada; a liderança é um elemento passivo no entendimento do ambiente, promovendo adaptações adequadas para garantir a continuidade da organização; as organizações tendem a se estruturar em nichos distintos. Condições do ambiente demasiadamente hostis ou escassez crônica de recursos podem levá-las à extinção. As principais críticas a esta escola referem-se a uma visão restrita das opções estratégicas diante do fator ambiental. Para ela, as organizações devem considerar não a existência de opções, mas as condições que aumentam ou restringem a amplitude das opções. Finalmente, existe a necessidade de o ambiente ser sondado e avaliado com precisão, para que se tenha uma descrição rica de como ele se apresenta. Escola de natureza híbrida Ao buscar combinar a natureza prescritiva e a natureza descritiva, a escola de natureza híbrida oferece, por meio da escola da configuração, a possibilidade da integração das ideias apresentadas pelas outras escolas estudadas. Escola da configuração Nesta escola, a formação da estratégia é entendida como um processo de transformação da organização, descrevendo-a e ao contexto que a cerca como configurações. A escola da configuração determina que, ao se estabelecer o equilíbrio numa fase de existência da empresa, é chegado o momento de criar uma estratégia para saltar para um estado superior. As premissas da escola da configuração incluem aquelas das outras escolas, porém, existem características gerais que a diferenciam: a organização, geralmente, pode ser descrita por uma configuração estável em determinado período de tempo. Nesse contexto, constrói uma estrutura adequada à geração de determinados comportamentos e estratégias; ocasionalmente, os períodos de estabilidade são interrompidos por transformações que geram uma mudança radical da organização para outra configuração; os estados sucessivos de configuração e períodos de transformação podem descrever ciclos de vida das organizações; o ponto fundamental é manter a estabilidade ou sustentar mudanças estratégicas viáveis, reconhecendo, periodicamente, a necessidade de gerenciar a transformação sem destruir a organização; o processo de formação de estratégia pode ser realizado conforme as premissas estudadas nas escolas anteriores, mas cada processo a seu tempo, considerando-se a adequação da estrutura da organização e as transformações demandadas; as estratégias resultantes podem assumir, dependendo do tipo de organização e das mudanças requeridas, as seguintes formas: planos, padrões, posições, perspectivas e artifícios. A crítica principal a esta escola está relacionada com o excesso de simplificação no entendimento das organizações, visto que não são analisadas as muitas singularidades apresentadas na complexa realidade do mundo organizacional. Neste capítulo, analisamos as principais escolas existentes no campo de conhecimento da estratégia, conforme a sistematização de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010). Observamos que existem várias opiniões sobre como se configurará a evolução do pensamento estratégico nesse novo milênio e várias maneiras de construirmos as estratégias que guiarão as organizações para o futuro. A partir dessas reflexões, iremos considerar a seguinte definição de estratégia: conjunto de escolhas e não escolhas, de modo a criar singularidade no mercado e promover crescimento sustentável. A estratégia adequadamente estabelecida permite que a organização crie singularidade no mercado, diferenciando-se, em termos competitivos, de outras instituições. Possibilita também o desenvolvimento sustentável da empresa, estabelecendo ações integradas que permitem seu crescimento, respeitando as premissas de comprometimento ambiental e social. Ao entendermos o significado de estratégia, temos melhores condições de refletir sobre gestão estratégica. No próximo capítulo apresentaremos a você, leitor, as características da administração estratégica e a importância do alinhamento. 2 Administração estratégica e alinhamento O objetivo deste capítulo é destacar a importância do alinhamento, tendo por base as características-chave da gestão estratégica. Você, leitor, poderá observar a necessidade de uma visão cada vez mais integrada do processo, que terá maior chance de sucesso se a empresa estiver em sintonia com seu ambiente de negócio. No livro Safári de estratégia, Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel (2010) fizeram uma análise do pensamento das principais escolas do pensamento estratégico e apresentaram a fábula dos cegos e do elefante, segundo a qual um grupo de cegos foi tentar conhecer um elefante, cada um tocando em uma parte do corpo do animal, tendo assim a impressão de que o elefante se limitava a algo que abrangia apenas a parte em que tocou. Na administração estratégica, fazemos uma analogia dessa fábula com as escolas do pensamento estratégico, indicando que nenhuma delas visualiza a estratégia como um todo; cada qual apresenta suas soluções de acordo com as suas premissas. Administração estratégica Para Meirelles (1995), cronologicamente a administração estratégica evoluiu do planejamento financeiro, materializado no orçamento, para o planejamento de longo prazo, passando dele para o planejamento estratégico. Este último foi incorporado pela administração estratégica, que uniu, em um mesmo processo, planejamento e administração, adicionando-lhes a preocupação com sua implementação. Um dos principais pensadores da administração estratégica é Igor Ansoff. Para ele, a estratégia consiste, basicamente, em um conjunto de regras de decisão para orientar o comportamento de uma organização. Segundo Ansoff (2001), o planejamento da postura estratégica preocupa-se com dois desafios. O primeiro, denominado análise de competitividade, lida com a decisão a respeito do modo pelo qual a empresa conseguirá êxito em cada área estratégica de negócio em que pretende operar. O segundo desafio é a integração da intenção estratégica da empresa nas várias áreas de negócio, numa direção global para a empresa. A concepção utilizada por Ansoff para determinar o conceito de estratégia baseia-se na necessidade de conduzir os gestores a diretrizes específicas para a atividade da administração estratégica, sendo esta definida por um processo sistemático para a tomada de decisões, visando garantir o sucesso da empresa em seu ambiente futuro. Acadêmicos e consultores podiam estudar e prescrever as estratégias específicas disponíveis às organizações e os contextos nos quais cada uma parecia funcionar melhor. Para Bertero (1995), inicialmente o planejamento estratégico restringia-se à análise dos pontos fortes e fracos de uma organização, passando depois a se preocupar também com o planejamento e a administração de eventuais mudanças no ambiente organizacional. Entrou em crise em razão da imprevisibilidade cada vez maior do ambiente de negócios, que exigia uma postura mais dinâmica e integrada.Foi nesse contexto que a administração estratégica ganhou espaço, por ser a responsável pelo desenvolvimento e implantação da estratégia. Gestão estratégica O atual ambiente de negócios vive mudanças cada vez mais imprevisíveis, provocadas por diversos fatores. Nos últimos anos, essas transformações aceleraram-se, num cenário de nova ordem social, política e econômica mais complexa e competitiva, que tende a absorver novas ideias. Tal cenário tem provocado uma crise de paradigmas no campo teórico do pensamento estratégico, que procura responder aos desafios dos novos contextos exigidos na gestão empresarial. As interpretações sobre gestão estratégica têm evoluído ao longo do tempo. Veremos algumas interpretações acerca do assunto e, em seguida, daremos o nosso entendimento sobre o tema. É importante ressaltar que, neste livro, consideramos gestão estratégica o que alguns autores chamam de administração estratégica. A gestão estratégica pode ser entendida como o processo contínuo e circular que visa manter a empresa como um conjunto adequadamente integrado ao seu ambiente. Esse processo abrange o cumprimento, por parte do gestor, de uma série de etapas que envolvem análise do ambiente, estabelecimento de diretrizes organizacionais e formulação, implementação e controle da estratégia (Certo e colaboradores, 2010). Segundo Hitt e colaboradores (2007), pode-se pensar a gestão estratégica como um conjunto de compromissos, decisões e ações necessárias para que uma empresa obtenha vantagem competitiva e retorno acima da média. Trata-se de um processo dinâmico, uma vez que os mercados passam por constantes mudanças e as estruturas competitivas têm de ser coordenadas pela empresa por meio das informações estratégicas em contínua mutação. No nosso entendimento, a gestão estratégica pode ser entendida como a arte de escolher os caminhos que levem aos objetivos estratégicos, considerando-se as mudanças ambientais e as capacidades da organização, de forma que possam maximizar sua competitividade nos mercados em que atua. Um dos maiores desafios para um gestor é conduzir estrategicamente a organização, pois gerir uma empresa em um ambiente dinâmico requer os melhores julgamentos gerenciais. Os aspectos que envolvem a gestão estratégica são geralmente ambíguos e desestruturados. A gestão estratégica extrapola o estabelecimento de objetivos e de orientações para que se atinja o que foi estabelecido. Segundo Wright, Kroll e Parnell (2010), uma decisão estratégica geralmente depende de várias considerações, que contemplam aspectos externos e internos da organização. A gestão estratégica procura dar enfoque sistêmico às funções estratégicas para trabalhar e estabelecer um equilíbrio entre as demandas dos ambientes interno e externo, assim como a integração de todos os setores da organização, de forma a alocar recursos de maneira a melhor atingir os objetivos e metas, ou seja, proporcionar o alinhamento estratégico. Assim, o processo de gestão estratégica envolve oito principais características que influenciam no seu sucesso, conforme mostrado na figura 1. Figura 1 GESTÃO ESTRATÉGICA: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Qual o melhor modelo para aplicação da gestão estratégica? Possivelmente, você, leitor, encontre várias formas, principalmente depois que analisou as várias escolas do pensamento estratégico que foram apresentadas. Você verá, a seguir, a apresentação de cada uma das oito principais características do processo de gestão estratégica. Atuação global É opinião corrente que a globalização não foi desejada, mas assim mesmo ela veio, fundindo equipamentos de multimídia, criando o ciberespaço, multiplicando a utilização da internet e gerando oportunidades de ganhos de escala na produção. A atuação global das organizações contemporâneas é uma característica-chave da gestão estratégica para o novo ambiente mundial de negócios. O fenômeno da globalização tornou-se uma espécie de inevitabilidade internacional, seu conceito transformou-se numa panaceia de significados, explicando e afetando todos os acontecimentos contemporâneos. Conforme a definição do filósofo Alain Touraine (1996), globalização é a impossibilidade de as empresas e os governos seguirem outra lógica que não a do mercado mundial. O que chamamos de globalização era chamado, há cerca de um século, de imperialismo. Não é um fenômeno que afete apenas uma economia. A globalização produz um risco sistêmico para países e organizações: crises financeiras e conflitos ideológicos podem impactar negativamente a economia de vários países, simultânea e rapidamente. Por outro lado, a globalização é sinérgica, sendo maior do que o poder somado das economias nacionais e estabelecendo uma nova equação na qual a economia suplanta a política e produz um campo fértil para a queda das fronteiras comerciais e para a atuação global das organizações. Na gestão estratégica, a globalização dos mercados reconstrói o mundo de uma forma darwinista, decretando a sobrevivência dos mais fortes. Proatividade e foco participativo O aprendizado, na gestão estratégica, deve ocorrer de forma emergente e sistêmica, através do autodesenvolvimento e do comportamento proativo que estimule o pensamento estratégico para que se possa compreender a ação integrada da gestão. A conquista dos objetivos desejados tem maior chance de acontecer se a organização incentiva a postura empreendedora de todos os seus colaboradores, existindo um processo com foco participativo na elaboração e implementação da gestão estratégica. Para conduzir a gestão estratégica, a organização deve compreender, de forma coletiva, os limites de suas forças e as suas habilidades, e estar bem-informada sobre o meio ambiente, convertendo em sucesso as oportunidades existentes. Para que isso aconteça é fundamental que a empresa construa seu futuro desejado através de um comportamento proativo. As empresas consideradas visionárias têm procurado novos caminhos para aumentar a eficiência e a eficácia de seus processos produtivos, com o objetivo de se anteciparem às necessidades e preferências de seus clientes. Por isso, a proatividade tem sido considerada um dos pilares estratégicos responsáveis pela perenidade na maioria das organizações vencedoras. Criatividade e inovação Não há dúvida de que o pensamento estratégico, diante do novo quadro internacional, começa a postular um comportamento de gestão estratégica mais criativo. Constata-se a necessidade premente de que as empresas se amoldem aos novos métodos produtivos e aos avanços tecnológicos pós- terceira onda. O principal objetivo é desafiar a criatividade de cada colaborador da empresa para acompanhar a velocidade de transformação não só de capitais, mas de culturas organizacionais e de mecanismos de concepção de trabalho e emprego. Os estrategistas devem ser, portanto, mais criativos e inovadores, uma vez que têm de desenvolver suas estruturas de conhecimento e seus processos de pensamento, principalmente em ambientes com alto grau de descontinuidades. Para criar um ambiente que incentive a criatividade e a inovação, a organização deve buscar o comprometimento intelectual e emocional de todos, reconhecendo e recompensando o desenvolvimento de ideias inovadoras dos seus colaboradores. Segundo Bessant (2010), a inovação tem propiciado às empresas não só a sobrevivência, mas a geração de lucro, pois proporciona maior produtividade e defesa contra a concorrência. Uma organização inovadora consegue aperfeiçoar processos internos existentes e alcançar um patamar de competitividade totalmente novo no mercado em que atua. A criatividade é um elemento essencial para o processo de inovação, uma vez que é o ingrediente- chave no processo de geração de novas ideias, base para todo o processo de mudança. Estimular inovação nada mais é do que estimular a criatividade para gerar ideias. Amabile (1988 apud Pereira Filho, 1996) afirmaque o conceito de inovação é construído sobre o de criatividade. A inovação pode ser definida como o processo de fazer mudanças ou introduzir algo novo em contextos organizacionais e sociais. Aprendizagem contínua Assim como a escola do pensamento do aprendizado, a gestão estratégica sugere uma resposta para o mundo complexo e repleto de imprevisibilidade: deve-se aprender continuamente. O aprendizado contínuo é um caminho vital para uma vantagem competitiva renovável. Para aprender continuamente, a empresa necessita de um senso de propósito claro e estratégico, voltado para adquirir novas capacidades, e comprometimento real com a experimentação contínua. Na busca pelo aprendizado, deve-se enfatizar a importância tanto da eficiência quanto da eficácia na organização. O quadro 2 procura clarificar o entendimento dos conceitos de eficácia e eficiência. Quadro 2 EFICIÊNCIA VERSUS EFICÁCIA Eficiência Eficácia Faz corretamente as coisas Faz as coisas corretas Soluciona problemas Antecipa-se aos problemas Economiza recursos Otimiza a utilização de recursos Cumpre obrigações e tarefas Obtém resultados Diminui custos Aumenta os lucros Sistema fechado Sistema aberto Curto prazo Longo prazo Operacional Resultado Para alcançar a eficiência e a eficácia no aprendizado, Senge (2009) apresenta a proposta da organização-aprendiz (learning organization), resultado da convergência de cinco componentes ou disciplinas: (a) raciocínio sistêmico, que resgata a percepção da dinâmica do todo e das interações de suas partes; (b) domínio pessoal, que permite esclarecer e aprofundar continuamente o objetivo pessoal; (c) conscientização dos modelos mentais; (d) definição de um objetivo comum; (e) aprendizado em grupo. No processo de desenvolvimento da aprendizagem contínua, essas cinco disciplinas convergem para padrões de comportamento que funcionam em conjunto. A administração estratégica deixa de ser apenas a gestão de mudanças, passando a ser a gestão por mudanças. É vital para esta escola de pensamento o fato de a gestão ser abordada como um processo de aprendizagem, tanto individual quanto coletivo. Unidades estratégicas de negócio (UENs) Em resposta às exigências que se alteram e às novas necessidades estratégicas, estão surgindo novas formas organizacionais. Todas representam esforços no sentido de tornar a empresa mais orgânica, proativa e dinâmica. A proposição das unidades estratégicas de negócio (UENs) foi feita inicialmente por Ansoff, que as definia como o resultado de subdivisões da realidade de negócios da organização. O conceito de unidades estratégicas de negócio foi aprimorado e aplicado em várias organizações contemporâneas. A gestão estratégica desenvolve UENs para corporações que se constituem em conglomerados de negócios ou para empresas diversificadas em termos de serviços e produtos oferecidos. No caso das pequenas empresas, estas possuem geralmente uma única UEN. A estruturação em unidades estratégicas de negócio é descentralizada e possui, em cada um de seus setores, uma autonomia que tenta reproduzir, em grande parte, o todo organizacional. A organização se torna um conjunto de pequenas organizações, administradas com o máximo de interdependências. A conexão entre as partes passa por um intenso sistema de comunicação e por uma filosofia organizacional compartilhada. Na teoria de unidades estratégicas de negócio, tem-se a lógica do holismo, segundo a qual o todo está nas partes e as partes estão no todo. Segundo Vergara (2010:10), “tem-se do grego holo = todo, holismo, que significa totalidade, coordenação de todas as partes, força ou princípio que tudo conecta, princípio de organização inerente à natureza”. As estratégias de negócios ou de UENs estão subordinadas a uma administração estratégica que define estratégias corporativas para a organização como um todo e para cada unidade de negócio, buscando o resultado final no qual a eficácia do todo seja maior do que o somatório da eficiência das partes. Esse tipo de estrutura organizacional facilita a coordenação estratégica, já que cada unidade é projetada com menos hierarquia, com mais autonomia e com um equilíbrio de poder baseado num processo decisório participativo. Ênfase em alianças Uma aliança estratégica é uma relação formal criada com o propósito de buscar, conjuntamente, objetivos mútuos. Numa aliança estratégica as organizações individuais partilham a autoridade administrativa, formam elos sociais e aceitam propriedade conjunta. Tais alianças deixam menos nítidas as fronteiras nacionais e culturais que separam as empresas. Na gestão estratégica, as empresas transformam-se para formar alianças estratégicas e desenvolver novas tecnologias, compartilhar investimentos em pesquisa e desenvolvimento e reduzir custos operacionais. Um caso mais desafiante de aliança é quando ocorre uma fusão ou aquisição, pois, mesmo quando é feita com o consentimento mútuo, existe o processo de integração das culturas organizacionais. O cenário competitivo proporciona à organização moderna vários elos com outras organizações. O pensamento estratégico enfatiza que as melhores alianças são verdadeiras parcerias, nas quais tanto a competência quanto a interdependência de objetivos são fundamentais. Além disso, sintonia estratégica e compatibilidade de cultura são essenciais para o sucesso da aliança estratégica. Sustentabilidade Os avanços da tecnologia, a globalização da economia e o acirramento da competição empresarial têm gerado impactos negativos no meio ambiente natural e no desenvolvimento social. A gestão estratégica defende que as organizações têm amplo espectro de responsabilidades, que vão além da produção de bens e serviços para obter lucro, ou seja, como membros da sociedade, devem participar ativa e responsavelmente do desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade. Michael Porter destaca que o desenvolvimento da responsabilidade social passou por dois estágios. O primeiro deles foi o da reação a pressões políticas, quando as empresas se viram forçadas a dar respostas a questões que elas não pensavam ser de sua responsabilidade. Elas passaram, então, a desempenhar algumas ações, mas não de maneira voluntária. Veio o segundo estágio, que teve início mais recentemente, quando as empresas começaram a perceber que a responsabilidade social poderia ser algo positivo e que valeria a pena ser proativo. Elas passaram, então, a enxergá-la como um instrumento para a construção de uma imagem. Michael Porter defende que a prática da responsabilidade socioambiental empresarial (RSE) ceda lugar para a criação de valor compartilhado (CVC), que é o valor econômico gerado por organizações ao atender a necessidades de cunho socioambiental que sejam parte de seu core business. Porter entende que, para praticar a CVC, a empresa deve olhar para sua cadeia de valor e descobrir quais questões sociais e ambientais sofrem o maior impacto de suas atividades para, então, entender que oportunidades potenciais nascem disso (“O capitalismo do valor compartilhado”, 2011). De acordo com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, pertencente à ONU, desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. A sustentabilidade, segundo Sachs (1993), possui diferentes dimensões que podem ser analisadas individual ou coletivamente e têm os seguintes significados: sustentabilidade social: obter a equidade na distribuição de renda para os habitantes do planeta; sustentabilidade ambiental: utilizar os recursos naturais que são renováveis e limitar o uso dos recursos não renováveis; sustentabilidade econômica: reduzir os custos sociais e ambientais; sustentabilidade espacial: atingir uma configuração de equilíbrio entre a população rurale a urbana; sustentabilidade cultural: garantir a continuidade das tradições e a pluralidade dos povos. Os executivos enfrentam um imperativo novo e urgente: criar uma relação entre a atividade de negócios e o ambiente natural que equacione os danos ambientais e neutralize os efeitos de práticas passadas pouco louváveis. A área do pensamento estratégico tradicional costumava encarar as questões ambientais como uma situação em que se perde sempre: ou se auxilia o ambiente prejudicando os negócios ou se auxiliam os negócios a um custo para o ambiente. A gestão estratégica visa a uma abordagem sustentável no longo prazo e demanda uma visão mais equilibrada sobre a temática de sustentabilidade. Alinhamento estratégico Esta característica da gestão estratégica destaca a importância do alinhamento estratégico da corporação, das unidades de negócio, dos departamentos, dos parceiros externos e do conselho de administração com a estratégia. Um dos desafios mais árduos de serem vencidos é a obtenção da sinergia. Isto porque, geralmente, as organizações são compostas de vários setores, unidades de negócios e departamentos, e cada um deles pode possuir sua estratégia particular. Para obter o alinhamento, as empresas devem implementar as práticas de governança corporativa e do balanced scorecard (BSC). O BSC é uma ferramenta de alinhamento estratégico na qual é utilizado um sistema de controle que permite à organização usar o desdobramento da estratégia para fazer seu planejamento. Trata-se de um sistema de gestão baseado em indicadores que impulsionam o desempenho, proporcionando à organização as visões atual e futura do negócio, de forma abrangente e com um controle proativo dos objetivos planejados. O processo de gestão estratégica terá maior chance de sucesso se a organização estiver em sintonia com seu ambiente de negócio. A metodologia aplicada deve buscar um alinhamento estratégico que pode ser realizado através do balanced scorecard, que será estudado no capítulo 8, e da governança corporativa, que será abordada a seguir. Governança corporativa Na gestão estratégica, a compreensão, a internalização e a prática da governança corporativa, bem como as responsabilidades dela decorrentes e seus futuros desdobramentos, têm sido um dos principais desafios do mundo empresarial. Com a globalização, cada vez mais instituições internacionais, como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial entendem que as boas práticas da governança corporativa são adequadas, pois ajudam no crescimento econômico e na integração global dos mercados, além de contribuir para o controle dos riscos de investimentos das companhias abertas. A discussão sobre a governança corporativa envolve a criação de mecanismos internos e externos que assegurem que as decisões corporativas serão tomadas no melhor interesse dos investidores, de forma a maximizar a probabilidade de os fornecedores de recursos obterem para si o retorno sobre seu investimento. O aprendizado, na gestão estratégica, deve ocorrer de forma emergente e sistêmica, através da prática de uma governança corporativa. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) a define como um sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os acionistas e os cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade [IBGC, s.d.]. Robert Monks e Nell Minow (apud Andrade e Rossetti, 2006:138) abordam que: A governança corporativa trata do conjunto de leis e regulamentos que visam: a) assegurar o direito dos acionistas das empresas, controladores ou minoritários; b) disponibilizar informações que permitam aos acionistas acompanhar decisões empresariais impactantes, avaliando o quanto elas interferem em seus direitos; c) possibilitar aos diferentes públicos alcançados pelos atos das empresas o emprego de instrumentos que assegurem a observância de seus direitos; e d) promover a interação dos acionistas, dos conselhos de administração e da direção executiva das empresas. Andrade e Rossetti (2006) abordam que, na construção e na operação de sistemas de governança corporativa, geralmente estão presentes, explícita ou implicitamente, 8 Ps: propriedade, princípios, propósitos, papéis, poder, práticas, perenidade e pessoas. Vejamos resumidamente cada um deles: propriedade – um dos principais atributos que diferenciam a razão de ser e as diretrizes da governança corporativa é a estrutura da propriedade nas organizações, bem como o regime legal de sua constituição; princípios – são a base ética da governança e têm como atributo essencial a universalidade. Devem orientar as diretrizes e políticas corporativas. Os princípios da governança corporativa são: equidade (fairness): tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders). Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis; transparência (disclosure): maior do que a obrigação de informar é o desejo de disponibilizar, para as partes interessadas, informações de seus interesses e não somente as informações obrigatórias por leis regulatórias; prestação de contas (accountability): os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente a responsabilidade e consequências dos seus atos e omissões; responsabilidade corporativa (compliance): os agentes de governança devem zelar pelo cumprimento das normas reguladoras expressas nos estatutos sociais, nos regimentos internos e nas instituições legais e regulatórias no país; propósitos – o propósito fundamental da governança corporativa é o de contribuir com o máximo retorno total no longo prazo da organização para os investidores e demais stakeholders; papéis – a segregação de papéis resulta das diferentes atribuições dos três principais agentes da governança: proprietários, conselheiros e gestores. Estes têm papéis distintos na organização, independentemente de sua constituição legal, dos graus de concentração e da tipologia da propriedade; poder – as maneiras como se articulam as negociações e se estabelecem as relações entre órgãos de governança definem a estrutura de poder dentro da organização; práticas – as bases práticas da governança corporativa começam a efetivar-se a partir da constituição dos conselhos de administração, da direção executiva e do sistema de auditoria; perenidade – mesmo considerando que as organizações possuem dinâmica própria, seja por fusões e aquisições, processos sucessórios ou por novas composições de propriedade, o objetivo principal das organizações é se manterem vivas, atuantes e com participação crescente nos setores em que atuam; pessoas – são as responsáveis pela estruturação e disseminação de ambientes profícuos de governança corporativa. Em todos os 7 P citados anteriormente, as pessoas são fundamentais na elaboração e implementação dos sistemas de governança corporativa. Para concluir, a governança corporativa tem como principal objetivo recuperar e garantir a confiabilidade em determinada empresa para seus acionistas. As boas práticas convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade. Veja, leitor, que a gestão estratégica e suas principais características apresentadas também trazem elementos de várias escolas que analisamos no capítulo 1. Então, prepare-se, pois tendo por base os dois últimos capítulos, vamos desenvolver, no capítulo 3, uma metodologia da gestão estratégia que será muito útil para lidarmos com os crescentes desafios originados na complexidade do ambientede negócios atual. 3 Referenciais estratégicos O objetivo deste capítulo é apresentar a você, leitor, os referenciais estratégicos da metodologia- base para o processo de gestão estratégica, que compreendem o processo de definição do negócio, a elaboração da visão, a determinação da missão e dos valores fundamentais da organização. A gestão estratégica tem como finalidade acrescentar novos elementos de reflexão e ação continuada, de modo a permitir avaliar a situação, elaborar projetos de mudanças, acompanhar e gerenciar os passos da implementação. Nosso objetivo é desenvolver um modelo que contemple, de maneira prática e aplicada, a construção do planejamento das organizações, gerando uma metodologia-base da gestão estratégica. Como fazer isto? Primeiro, estudaremos os referenciais estratégicos, instância em que é definida a orientação geral que a empresa precisa seguir para sobreviver e evoluir em determinado cenário. Os referenciais estratégicos são formados pela definição do negócio, da visão, da missão e dos valores da organização. Posteriormente, inicia-se o processo de análise dos ambientes interno e externo. Essa etapa é essencial na gestão estratégica, pois propicia ao estrategista detectar os sinais de mudança, identificar as oportunidades, planejar de forma sintonizada com o negócio e criar as condições para as ações proativas, de modo que a empresa tenha sucesso em seus desafios. Finalmente, para que uma empresa atue com uma gestão estratégica que proporcione sobrevivência, crescimento e evolução, ela precisa formular estratégias competitivas, determinar seus objetivos e desenvolver planos de ação. Para o alinhamento e controle estratégico, o balanced scorecard será aplicado. Definições dos referenciais estratégicos A gestão estratégica abrange a definição dos referenciais estratégicos, que comunicarão as diretrizes da organização para as suas unidades estratégicas de negócios e para os diversos níveis funcionais, visando que suas ações sejam coerentes e alinhadas com uma orientação geral. Os referenciais estratégicos são direcionadores da tomada de decisão, e todas as organizações, independente da sua natureza, do seu porte ou de sua operação, necessitam tê-los permanentemente. Esses referenciais abrangem definição de negócio, idealização da visão de futuro, estabelecimento da missão institucional e formação das filosofias empresariais. Na figura 2, é apresentada a metodologia-base da gestão estratégica. Mais que um documento estático, ela deve ser vista como um instrumento dinâmico e, assim, contribuir para obtenção de resultados da organização. Figura 2 METODOLOGIA-BASE DA GESTÃO ESTRATÉGICA Neste capítulo, aprofundaremos a definição de negócio, visão, missão e valores da organização. Após estudar os referenciais estratégicos da organização e como construí-los, analisaremos separadamente as outras etapas. A definição do negócio da organização Um dos aspectos fundamentais para que as organizações alcancem o sucesso é a definição do negócio no qual atuam. Esta é a base para a definição da estratégia corporativa, ou seja, o processo de escolha de em qual negócio queremos estar. A definição do negócio foca o entendimento de quais são as necessidades dos nossos clientes e quais são os benefícios que eles buscam para atender às suas necessidades e desejos. Logo, a definição de negócio tem de estar orientada para os benefícios que vamos gerar para os clientes. Na definição, temos de questionar qual é o nosso negócio. Drucker (1998) destaca que raramente perguntamos de forma clara e direta ou dedicamos tempo a uma reflexão sobre o assunto de qual é o nosso negócio. Esta ausência de entendimento, talvez, seja a mais importante causa do fracasso de empresas. Segundo Vasconcelos e Pagnoncelli (2001), os benefícios advindos da definição do negócio estão relacionados à determinação do nosso âmbito de atuação no ambiente de negócios. Assim, a organização pode ajustar seu foco no mercado e desenvolver seu diferencial competitivo, orientando o posicionamento estratégico da organização. Veja o caso da Nokia. Poderíamos, numa descrição restrita do negócio, definir a Nokia como uma empresa de celulares. Porém, a Nokia define seu negócio como “conectar pessoas”. Ao orientar seus esforços para as tecnologias que conectam as pessoas, a Nokia ajusta seu foco estratégico, determina o âmbito de atuação, desenvolve seu diferencial competitivo e se atualiza diante dos novos desenvolvimentos tecnológicos. Porém, será que os clientes querem apenas se conectar? A Apple ampliou os horizontes da telefonia celular agregando várias outras funcionalidades ao iPhone e redefiniu o mercado de notebooks com o iPad, um dos maiores sucessos comerciais dos últimos anos. Estes são exemplos de redefinições dos benefícios que os clientes querem receber, dentro de determinado escopo de definições de negócios. Hamel e Prahalad (2005) apresentam questões relevantes para a dinâmica da definição do negócio: O que fazemos hoje que devemos continuar fazendo no futuro? O que fazemos hoje que não devemos mais fazer no futuro? O que não fazemos hoje e que devemos começar a fazer para criarmos nosso futuro? O que os nossos concorrentes estão fazendo que lhes garantirá o sucesso no futuro? Avalie como estas questões podem ser aplicadas ao caso da Nokia e da Apple. A definição do negócio permite o desenvolvimento de uma visão estratégica do que estamos fazendo para atender os nossos clientes. A definição do negócio é conduzida por meio de três questões básicas, de que trataremos a seguir. Identificação do negócio atual Para trabalhar esta questão, buscamos novamente inspiração em Drucker (1998) e nas suas habituais perguntas para gerar reflexões no estrategista, seja ele um empreendedor, empresário ou executivo: Quem é mesmo o seu cliente? Quais são os benefícios procurados pelo cliente? Por que o cliente faz negócios com sua empresa? As respostas a estas questões nos ajudarão a entender a natureza básica, a essência do negócio. A partir da identificação dos benefícios que os clientes querem receber para atender às suas necessidades e desejos, podemos desenvolver o modelo de negócios da organização, nosso próximo ponto de análise. Criação do modelo de negócios da organização A criação do modelo de negócios da organização está relacionada à definição da estratégia competitiva e da estrutura que gerará os benefícios aos clientes. A estrutura da organização está fundamentada nas pessoas e nos processos de trabalho, que são orientados para os clientes e visam à geração de valor para os stakeholders. A criação do modelo de negócios leva em consideração o dos concorrentes. Observe as organizações e constate como as estruturas de muitas empresas são semelhantes. Observe, por exemplo, os bancos de varejo brasileiros, postos de gasolina no mundo inteiro, hotéis e agências de turismo. Compare suas estruturas e veja como são similares. O foco em segmentos de clientes, o posicionamento estratégico e a escolha da estratégia de competição podem ser diferentes, mas as estruturas são semelhantes ou mesmo iguais. Sabe por quê? Porque a geração dos benefícios direciona a estratégia e a estrutura. Logo, influencia decisivamente na elaboração do modelo de negócios da organização. Agora, para sua reflexão: onde está a raiz do sucesso de organizações como o Cirque du Soleil? Na maneira pela qual os benefícios aos clientes foram interpretados na construção da estratégia e da estrutura, do modelo de negócios da organização. Esta é uma das características principais da competição nos dias atuais: a geração de modelos de negócios que superam os concorrentes na geração de benefícios para os clientes, seja por meio de maneiras diferentes de se construir a estrutura, seja por meio de um foco em inovação e empreendedorismo que nos coloque à frente dos concorrentes. Adequação às tendências
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