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Universidade Estácio de Sá - Graduação em Direito Professora: Maria Maria Martins Silva Stancati Direito Civil V ProfMariaMariaRegistrosPublicos Direito Civil V - Aula 4 - Validade do Casamento parte 1 Página 1 de 4 Aula 4: Validade do Casamento – parte 1 1) Plano da existência, validade e eficácia. a) Pressupostos de existência do casamento (analisam os elementos fundamentais intrinsecamente ligados ao plano do ser): diversidade de sexos (hoje deve ser relido); consentimento de ambos os nubentes e autoridade competente em razão da matéria. Verificada a falta de um ou mais destes elementos, o casamento será considerado inexistente, ou seja, será considerado um nada jurídico ou um não-casamento, não podendo sequer ser reconhecido como putativo. b) Plano da regularidade (gera ineficácia do casamento): verifica a possibilidade do casamento produzir os efeitos que dele se espera ou não. Preliminares: que antecedem o casamento e dizem respeito ao processo de habilitação, publicação dos editais e certificado de habilitação. Concomitantes: que dizem respeito ao momento da celebração do casamento. Ex.: nubente não exprime sua vontade de forma livre. c) Plano da Validade: analisará os pressupostos estabelecidos em lei para a realização do ato (conformidade com a ordem jurídica): condições naturais de aptidão física; condições naturais de aptidão intelectual; condições de ordem moral e social (Eduardo de Oliveira Leite, 2005, p. 56-67). 1.1) Plano da Validade: faltando qualquer dos pressupostos de validade, o casamento será inválido uma vez que eivado do vício que levará à nulidade absoluta ou relativa, conforme expressa previsão legal. 1.1.1) nas condições naturais de aptidão física analisam-se a puberdade (idade núbil, arts. 1.517 e 1.520, CC); a potência (aptidão para conjunção carnal); sanidade. 1.1.2) nas condições naturais de aptidão intelectual observa-se o consentimento, lembrando-se que o Direito de Família adotou uma teoria própria dos vícios do consentimento, só servindo à anulação do casamento o erro substancial quanto à pessoa do outro cônjuge e a coação moral (lembrando que a coação física é causa de inexistência do casamento). 1.1.3) nas condições de ordem moral e social aferem-se o grau de parentesco entre os nubentes, a inexistência de casamento anterior e a viuvez. É neste plano que o casamento encontrará sua justificação plena. 1.2) Situações de casamento: a) existir, ser válido e eficaz (casamento celebrado entre pessoas maiores e capazes e desimpedidas de casar entre si); b) existir, ser inválido e ineficaz (o casamento celebrado entre irmãos, em incesto); Universidade Estácio de Sá - Graduação em Direito Direito Civil V - Aula 4 - Validade do Casamento parte 1 Página 2 de 4 c) existir, ser inválido, porém eficaz (como no exemplo do casamento putativo, aquele que é inválido, porém, em razão da boa-fé dos cônjuges, obtém eficácia por força de decisão judicial, conforme permissivo do art. 1.561 da Lei Civil); d) inexistir, ser inválido e ineficaz (é o casamento celebrado sem a manifestação de vontade dos nubentes – casamento na festa junina). Desta forma, afetam diretamente o plano de validade do casamento e da união estável os impedimentos matrimoniais que são proibições legais taxativamente previstas no art. 1.521, CC, que se destinam a vedar o casamento de uma pessoa com outra determinada ou o reconhecimento da união estável entre certas pessoas (art. 1.723, §1º., CC). 2) Incapacidade: é geral (o considerado incapaz não pode casar com quem quer que seja) e o impedimento se dirige a certa e determinada pessoa. Pelo estatuto da pessoa com deficiência, só pela condição de deficiente, não impede o casamento – art. 6º, L. 13.146/2015. Não é porque a pessoa está sob tutela ou curatela que não pode casar. Deve ver os limites da interdição. Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Enunciado 329, JDC: Art. 1.520: A permissão para casamento fora da idade núbil merece interpretação orientada pela dimensão substancial do princípio da igualdade jurídica, ética e moral entre o homem e a mulher, evitando-se, sem prejuízo do respeito à diferença, tratamento discriminatório. Enunciado 512, JDC: Art. 1.517: O art. 1.517 do Código Civil, que exige autorização dos pais ou responsáveis para casamento, enquanto não atingida a maioridade civil, não se aplica ao emancipado. 3) Impedimento: em sentido estrito, é a impossibilidade de alguém casar com determinada pessoa. Trata-se de proibição que atinge uma pessoa com relação a outra ou outras. Assim, não podem casar ascendentes com descendentes ou parentes até terceiro grau (Maria Berenice Dias – 2007, p.147) 3.1) Elementos: a) material que diz respeito à situação de fato ou de direito subjacente que justifica a proibição; b) formal que corresponde à previsão legal expressa. Os impedimentos resultantes de parentesco (impedimentum consanguinitatis e impedimentum affinitatis) estão previstos nos incisos I a V, do art. 1.521, CC existem para proteger a harmonia familiar, a ordem moral e o incesto. Lembrar das relações de parentesco. Universidade Estácio de Sá - Graduação em Direito Direito Civil V - Aula 4 - Validade do Casamento parte 1 Página 3 de 4 Quanto aos colaterais de 3º grau, deve ser feito um exame sanguíneo para verificar se não há problema para a prole. Enunciado 98, JDC: Art. 1.521, IV, do novo Código Civil: O inc. IV do art. 1.521 do novo Código Civil deve ser interpretado à luz do Decreto-lei n. 3.200/41, no que se refere à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º grau. O impedimento resultante de vínculo (impedimentum ligaminis sue vinculi) está previsto nos incisos VI, do art. 1.521, CC, não podem casar as pessoas já casadas. É impedimento resultando do próprio princípio da monogamia com a finalidade de preservar a família e a ordem moral. Cuidado porque ele não se aplica à união estável quando a pessoa já se encontrar separada de fato (art. 1.723, §2º., CC). O impedimento resultante de crime (impedimentum criminis) está previsto no inciso VII, do art. 1.521, CC, não podem casar o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte (conhecido como conjugicídio). Para a configuração deste impedimento exige-se a condenação pelo crime. Finalidade: preservar a família e a ordem moral. 3.2) Momento de interposição dos impedimentos: por serem de ordem pública, podem ser opostos até o momento da celebração do casamento por qualquer pessoa capaz, Ministério Público ou pelo juiz ou oficial do Registro (art. 1.522, CC) ou a posteriori. O denunciante não precisa ter interesse específico em relação ao casamento, mas é necessário que se identifique uma vez que não se aceitam oposições anônimas (arts. 1.529, CC). O denunciante deveapresentar a denúncia por escrito e indicar, ao menos, o local onde as provas podem ser obtidas. Opostos os impedimentos, a celebração do casamento deve ser suspensa até o trânsito em final da decisão que os julgará (o rito é sumário conforme o art. 67, §5º., da Lei de Registros Públicos). 4) Causas Suspensivas: não são proibições, mas recomendações inibitórias. Se os nubentes incidirem em uma causa suspensiva, eles podem casar, mas não poderá escolher seu regime de bens. A eles deve ser imposto o regime da separação de bens – art. 1.641, I, CC. Se superada a causa suspensiva pode haver a modificação do regime de bens. Finalidade: evitar a confusão patrimonial na proteção dos filhos, do cônjuge, do tutelado ou curatelado e a confusão de sangue. Por fim, vale lembrar, que as causas suspensivas não se aplicam à união estável (art. 1.723, §2º., CC). Enunciado 330, JDC: Art. 1.524: As causas suspensivas da celebração do casamento poderão ser argüidas inclusive pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e pelos colaterais em segundo grau, por vínculo decorrente de parentesco civil. Universidade Estácio de Sá - Graduação em Direito Direito Civil V - Aula 4 - Validade do Casamento parte 1 Página 4 de 4 4.1) Momento da interposição da causa suspensiva: até a celebração, não impedindo a cerimônia, causando apenas irregularidade devendo ser imposto o regime de bens próprio. Porém, nada impede que seja arguido em ação própria proposta posteriormente à celebração. Impedimento – art. 1.521 Causa suspensiva – art. 1.523 Atitude Não podem casar Não devem casar Efeito Casamento nulo - art. 1.548, II Imposição de regime de bens-art. 1.641, I, Quem argui Qualquer pessoa capaz-art. 1.522 Somente os do art. 1.524 Interesse Público Privado 5) Casamento Putativo: É o casamento nulo ou anulável contraído de boa-fé por um ou por ambos os cônjuges (art. 1.561, CC). A boa-fé aqui se refere ao desconhecimento (no momento da celebração) do(s) nubente(s) quanto a impedimentos que viciavam o casamento, incorrendo em erro (desculpável) de fato ou de direito. São exemplos clássicos desta espécie de casamento: os irmãos que se casaram sem conhecer a sua condição de irmãos; a mulher que casa com homem já casado sem conhecer sua situação anterior. O casamento putativo é válido até que seja declarada sua putatividade em sentença anulatória, e os efeitos do casamento podem perdurar em relação aos filhos e ao cônjuge inocente (uso do nome, pensão, meação dos bens, sucessão dos filhos, perda do poder parental...). O legitimado para propor a ação são os próprios interessados.
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