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Aluno: ......................................................................................................................................................................... Curso: ........................................................................................................................................................................ Turma: ........................................................................................................................................................................ Comunicação educacional 1 Sumário Apresentação ................................................................................................................................ 2 Aulas 1 e 2 ..................................................................................................................................... 2 Programa ....................................................................................................................................... 2 1. O ato educativo e o ato comunicativo: construção de interfaces .......................................... 2 I. O ato educativo e o ato comunicativo: construção de interfaces ............................................. 3 1. Os modelos de educação e a prática comunicacional ...................................................... 3 1.1 O MODELO EXÓGENO ........................................................................................................ 3 1.1.1 EDUCAÇAO COM ÊNFASE NOS CONTEÚDOS ................................................................... 3 1.1.2 Comunicação Bancária ..................................................................................................... 4 1.1.2.1. EDUCAÇÃO COM ÊNFASE NOS RESULTADOS .............................................................. 4 2. Elementos teóricos da linguagem e da comunicação ........................................................... 8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 12 2 Apresentação A disciplina tem como objetivo geral compreender a interface entre educação e comunicação num contexto de uma sociedade multimídia e seus reflexos na prática educativa, bem como na formação de professores. Aulas 1 e 2 Programa TEMAS TÓPICOS SUBTÓPICOS 1 . O a to e d u ca ti v o e o a to c o m u n ic a ti v o : c o n st ru çã o d e i n te rf a ce s 1. Os modelos de educação e a prática comunicacional 1. Modelos pedagógicos e tipos de comunicação: a) Modelos exógenos de educação. b) Modelo endógeno. 2. Elementos teóricos da linguagem e da comunicação 1. A comunicação humana: sintaxe – semântica – pragmática 2. Elementos da comunicação 3. Princípios básicos da comunicação 3 I. O ato educativo e o ato comunicativo: construção de interfaces 1. Os modelos de educação e a prática comunicacional Kaplún analisa a comunicação a partir da comunicação educativa e das mensagens produzidas com objetivo de que os destinatários tomem consciência de sua realidade ou ainda para promover uma reflexão ou gerar uma discussão. Os meios de comunicação, portanto são vistos como instrumentos para uma educação popular. Cada tipo de educação corresponde a uma determinada concepção e prática de comunicação. Por isto Kaplún analisa a comunicação a partir de 03 modelos de fundamentais de educação (citando a taxonomia de Díaz Bordenave): Modelo Exógeno, onde a educação é tida como objeto (o sujeito está fora do objeto da educação). Este modelo subdivide - se em dois: a. Educação com ênfase nos conteúdos b. Educação com ênfase nos resultados Modelo Endógeno, onde o educando é tido como sujeito: a. Educação com ênfase no processo. 1.1 O MODELO EXÓGENO 1.1.1 EDUCAÇAO COM ÊNFASE NOS CONTEÚDOS No modelo que enfatiza os conteúdos, a comunicação é bancária, segundo expressão do educador Paulo Freire. O professor é aquele que sabe e vai transmitir, depositar, os conhecimentos na cabeça do aluno - que é quem não sabe. É um modelo de comunicação vertical (de cima para baixo), unidirecional e autoritário. Predomina na escola formal primária, secundária e também na maioria das 4 universidades. Educar, para esta abordagem é realizar comunicações sob forma de instruções, domesticando as pessoas. Os eixos desta comunicação educativa são: o professor e o texto; o currículo (amplo e predeterminado pelo professor); pouca importância ao diálogo e à participação; muita valorização de dados e pouca valorização de conceitos; característica do uni-pensar (só o professor pensa) e de sua verdade (única válida). Como efeitos desta abordagem, pode-se citar: os alunos ficam passivos, dependentes; não desenvolvem crítica nem reflexão ou pensamento próprio; observa- se uma nítida diferença de status, de separação, entre o professor que sabe e o aluno ignorante; estimula-se uma estrutura mental de obediência (autoritarismo) e o individualismo e competição entre os alunos; os estudantes se tornam dogmáticos em relação ao que ouvem (o que não coincide com a opinião do professor não é tido como verdade); o estudante popular sente-se inferiorizado, inseguro, com baixa autoestima. O conceito de saber é se o aluno sabe repetir o que foi ensinado, ainda que sem elaboração mental. O objetivo é que o estudante aprenda (ainda que isto signifique mera memorização) 1.1.2 Comunicação Bancária Guia-se pelo clássico modelo E - m - R (Emissor, mensagem, Receptor). A comunicação é mera transmissão unidirecional, vertical, de ideias, informações, mediante o emprego de signos e palavras. O professor fala para uma plateia passiva e ouvinte. A comunicação é um monólogo. Somente o que o professor diz é valido. É uma comunicação ditatorial. Mesmo quando apela para os recursos audiovisuais, nada muda. Às vezes, até piora, pois com um o filme, por exemplo, o aluno sequer tem com quem dialogar. Os recursos mal utilizados apenas se transformam em apelos por mais atenção à mensagem unidirecional. Os alunos são bombardeados com imagens e sons para reforçar as ideias previamente digeridas pelo professor, sem permitir em nenhum momento que os alunos recriem, pensem por conta própria. 1.1.2.1. EDUCAÇÃO COM ÊNFASE NOS RESULTADOS Modelo que surgiu como reação, como alternativa ao modelo de conteúdos. Dá muita importância à motivação. Rechaça o modelo livresco, com programas amplos. Preconiza uma comunicação com feedback pelo destinatário. Estabelece o objetivo como sendo a mudança de atitudes. É um método ativo, propositor de ações. 5 Preocupa-se muito em avaliar os resultados. Porém é tão autoritário e impositivo quanto o método tradicional. Este modelo se desenvolveu a partir da necessidade de treinar soldados durante a Segunda Guerra - é um modelo de adestramento militar. Seus propositores criticavam o método tradicional achando-o pouco prático, lento e caro. Propuseram em seu lugar um método mais rápido e eficiente, que visava condicionar o aluno para certas condutas. Ensinava passo a passo, operação por operação, onde tudo já vinha programado. Chegou à América Latina como tentativa de persuadir os trabalhadores do campo a abandonarem seus métodos e adotarem técnicas mais modernas. Valorizava a produtividade e as novas tecnologias. Os educadores acreditaram que seus métodos podiam ajudar os habitantes do campo da América Latina a saírem dapobreza, e que, de fato, estavam conduzindo as pessoas para um bom caminho. Nasceu assim a Engenharia do Comportamento. O Engenheiro do comportamento acreditava que era preciso persuadir, induzir a população a adotar formas de pensar, sentir e agir, que lhes permitissem aumentar sua produção e elevar seus níveis de vida. Este modelo baseia-se numa visão de psicologia manipuladora e não de um homem autônomo. Toda a base desta abordagem está na chamada Escola Psicológica do Behaviorismo. O objetivo do behaviorismo é criar hábitos, condutas condicionadas, automatizadas, mecânicas, pelo uso de recompensas significativas. Educar, para esta escola pedagógica não é raciocinar, mas formar hábitos. Não visa à reflexão, à consciência. A recompensa tem um papel central nesta teoria. Recompensa é tudo aquilo que tem significado de prazer e agradabilidade ao aluno para que ele repita sempre o mesmo comportamento, pela expectativa da gratificação. Como foi dito, este modelo visa mudar os hábitos, porém os hábitos têm raízes nos valores, nas crenças nos mitos, e isto traz resistências na mudança do comportamento. O papel do educador não é ouvi-los e sim, persuadi-los, afirmando que sempre tem razão quanto à nova abordagem. Por isto é tão autoritário quanto o modelo tradicional. Chama à resistência de ignorância, atraso, As novas decisões não passam pela consciência, pelo debate, pela reflexão. Com esse modelo surgiu o adestramento de operários, as máquinas de ensinar, a instrução programada. Em EAD usa-se muito este modelo onde o programador prepara os materiais, definindo tudo de antemão. Esta abordagem tecnifica o ensino. O que interessa é que o estudante chegue à resposta desejada - resposta própria, pessoal, não tem lugar neste modelo. Os meios de comunicação de massa (TV, radio, imprensa, cinema) se valem com frequência destes modelos para manipular a opinião publica. As técnicas 6 publicitárias que atuam por repetição, pressão e motivações subliminares, induzindo às compras desenfreadas, também têm base neste modelo. A propaganda política idem. Neste modelo a figura central é o programador. O trabalho de ensinar fica restrito às maquinas, aos computadores, aos materiais audiovisuais. O planejamento da educação é o papel principal do engenheiro de comportamento. Não há nenhum estimulo à participação coletiva e solidária. Os valores cultuados são de caráter mercantilista e utilitarista. Os estudantes perdem sua identidade cultural, suas referências e seguranças. O método não favorece o desenvolvimento do raciocínio, tampouco a inter-relação de conhecimentos adquiridos, ou a capacidade de analisar a realidade e suas consequências. O modelo tem um efeito domesticador. O objetivo é que o estudante faça. 1.1.2.2. Comunicação Persuasiva Este modelo guia-se pela máxima: “temos comunicação sempre que, mediante a transmissão de sinais, uma fonte emissora influencia seu receptor”. O modelo é representado pelo esquema E-m-R–Rf (Emissor, mensagem, Receptor, Reforço). O reforço é a retroalimentação oferecida pelo receptor, mas sempre de acordo com o esperado, com a resposta que se deseja, com o comportamento que se propõe obter. O receptor continua tendo um papel secundário. Se a resposta não é a desejada esta informação serve como controle para mudar a estratégia de comunicação até conseguir o que se queira. Não há participação, só há adaptação, controle de efeitos. O feedback é apenas um mecanismo para comprovar a obtenção da resposta desejada pelo comunicador. É uma forma de robotização social. A comunicação persuasiva está interessada em respostas mensuráveis. No caso da propaganda, quanto o produto vendeu mais, no caso da TV, quanto de audiência aumentou. Confunde comunicação com propaganda, quantidade com qualidade. Aplausos não significam que se melhora a capacidade crítica das pessoas. As pessoas são consideradas como massa. Apela-se para efeitos emocionais sem levar em conta os conteúdos racionais das mensagens. Esta abordagem reproduz a ideologia dominante e apesar de apresentar resultados satisfatórios, é um forte fator de alienação social. E o ser humano não é tão moldável como supõem os engenheiros de comportamento 7 1.2. MODELO ENDÓGENO 1.2.1. EDUCAÇÃO COM ÊNFASE NOS PROCESSOS É um modelo gestado na América Latina. Mesmo com influências europeias e norte-americanas tem como expoente máximo o pedagogo brasileiro Paulo Freire, com sua clara orientação social, política e cultural. Entende esta pedagogia como libertadora - instrumento de transformação social. Segundo Freire, a educação é práxis, reflexão e ação do homem sobre o mundo pra transformá-lo. Não é uma educação para informar, nem para conformar, mas sim para formar as pessoas e levá-las a transformar sua realidade. Para Freire, nada se educa sozinho e sim os homens educam-se mediatizados pelo mundo. Esta dinâmica é o próprio processo educativo. Este processo é permanente - nele os sujeitos vão descobrindo, elaborando, reinventando, fazendo seu o conhecimento. A característica do processo é a sequência A-R-A (Ação-Reflexão-Ação), que o sujeito faz a partir de sua realidade, experiência, prática social, junto com os demais. Educador é aquele que acompanha o outro e ambos se aproximam do conhecimento, construindo-o juntos. Nesta abordagem também se supõe mudanças de atitudes, porém de um ser passivo para ativo; egoísta para solidário e comunitário. É uma educação essencialmente problematizadora, que se faz com autonomia, estimulando o estudante a desmistificar sua realidade, tanto física quanto social, O que importa aqui é que o individuo aprenda a aprender, mais do que ensinar coisas, transmitir conteúdos, modelar comportamentos. É estimular os estudantes a migrarem de uma consciência ingênua para uma consciência critica. . O que importa é fazê-lo pensar, deduzir, raciocinar. Só há verdadeira aprendizagem quando há processo, quando há autogestão dos educandos. O erro é visto como importante fonte de aprendizado. O conflito é força geradora de problematização (sem crise dificilmente há crescimento). As crenças do homem são revisadas paulatina e criticamente. O objetivo é que o sujeito pense. E que este pensar o leve a transformar sua realidade. 1.2.2. Comunicação Dialógica – Democrática - Problematizadora Neste tipo de educação o grupo é a célula. O eixo não é o professor, mas o grupo de educandos. O professor está ali para perguntar, estimular, facilitar a busca, problematizar, escutar, ajudar o grupo a se expressar e aportá-lo de informações que 8 precise para avançar no processo. Utiliza-se do diálogo comunitário e democrático, que exalta valores como a solidariedade, a cooperação, a criatividade, a capacidade potencial de cada indivíduo. Ë uma comunicação aberta, não dogmática. . Emprega recursos audiovisuais para problematizar e não para reforçar conteúdos. Visa ajudar o individuo a resgatar sua própria dignidade, seu valor como pessoa. É claramente uma comunicação educativa que visa o compromisso social. Sua mensagem central é a liberdade essencial que todo homem têm para realizar-se plenamente como tal. Porém, esta abordagem não pode prescindir da informação, pois nem tudo é fruto da auto descoberta - conhecer não é adivinhar. A informação, no entanto, deve ser precedida da problematização, senão ela se converte em transmissão - o que Freire condenava. Se a inquietação não surge do grupo o educador deve problematizá-la primeiro. 2. Elementos teóricos da linguagem e da comunicação 2.1 1. A comunicação humana: sintaxe – semântica – pragmática e os elementos da comunicação. Acomunicação não é somente um recurso tecnológico, mas um componente pedagógico. Citando Freinet, Kaplún apresenta as pontes entre a educação e comunicação. Afirma que identificar comunicação só com meios e instrumentos é empobrecê-la. Comunicação não é sinônimo de “meio de comunicação”. A visão da comunicação como produção de materiais educativos é uma visão reducionista. Por outro lado “educação e comunicação não são a mesma coisa”. Isto também é uma visão radical. Analisando a estória do educador francês Freinet, Kaplún nos dá pistas de como ligar os dois termos – educação e comunicação. Freinet, em seu trabalho com a escola proletária, mostrou a importância dos educandos tornarem-se comunicadores. Afirmando que “não existe expressão sem interlocução”, Freinet postulava a necessidade dos educandos expressaram-se por si mesmos, construindo seus periódicos (Freinet introduziu este meio de comunicação em sua atividade pedagógica). O periódico funcionava como uma “caixa de ressonância” onde os alunos podiam ser lidos, ouvidos. A produção do periódico extrapolava a sala de aula, ia para as ruas, para o mercado, para os vizinhos. Os alunos perguntavam, entrevistavam, pesquisavam sua realidade e escreviam, produziam o periódico. Os alunos tinham que escrever para serem lidos. Esta forma de educar foi batizada de autoeducação 9 orientada. O papel do professor era de estimular, orientar, motivar. Assim eram maximizados os recursos da autoaprendizagem. Porém o grupo era a célula básica. A co-aprendizagem mostrou sua força. Desta forma os alunos estavam praticando o “aprender a aprender”, através de uma gestão autônoma. Como resultado, “conhecer” se mostrou sinônimo de “comunicar”. Ao descobrir, recriar, inventar, os alunos estavam se expressando e, desta forma, comunicando-se de forma autêntica. Somente assim a real aprendizagem construída, se dava. Estudar era comunicar – uma atividade grupal, não isolada. E mais do que isso, constituíram uma rede de comunicação com outras comunidades. Comunicar pois, dentro da perspectiva educativa, não era só uma atividade grupal, mas sim uma atividade intergrupal. E o grupo não é a mera aproximação física das pessoas. É o gestor de seu próprio processo formativo - uma escola prática de cooperação e solidariedade. O resultado é o produto socialmente construído. O papel, portanto, dos meios de comunicação, a partir da experiência de Freinet, se define a partir do modelo dialógico. A função da comunicação transcende o uso dos meios. É um recurso para motivar a expressão ampla dos alunos. E sem expressão não há aprendizagem, construção de significados. Uma instrução que não permite produzir algo pelo destinatário oprime e dificulta o desenvolvimento das capacidades. Um adulto assimila somente 20% do que ouve, 30% do que observa, 50% do que ouve e observa, 70% do que expressa e 90% do que ele elabora por si mesmo. Aí está a força do modelo. Em síntese, segundo Kaplún “a apropriação do conhecimento por parte dos educandos se catalisa se eles são potencializados como emissores. Seu processo de aprendizagem será favorecido e incrementado pela realização de produtos comunicáveis e efetivamente comunicados. Se educar-se é envolver-se em um processo de múltiplas interações, um sistema será tanto mais educativo quanto mais rico seja o fluxo de comunicações que saiba se abrir e se colocar à disposição dos estudantes”. E por ultimo, se o objetivo de uma educação comunicativa dialógica, democrática, é favorecer a capacidade de pensar há que citar dois autores destacados por Kaplún que corroboram com esta tese. De um lado Piaget, ao afirmar que “educar a linguagem é educar o pensamento” e, de outro, Vygotsky, que postula que “o desenvolvimento do pensamento está determinado pela linguagem. O desenvolvimento da lógica é uma função direta da linguagem socializada. O crescimento intelectual depende diretamente do domínio dos mediadores sociais do pensamento, isto é, do domínio das palavras: a linguagem é a ferramenta linguística 10 do pensamento”. E Vygotsky acrescenta: “as categorias de estruturação do pensamento não procedem de uma lógica mental interna, mas sim das exigências do discurso e do intercambio”. Portanto, Kaplún corrobora: “a linguagem, matéria prima para a construção do pensamento e instrumento essencial do desenvolvimento intelectual, se adquire, pois, na comunicação, e neste constante intercâmbio entre as pessoas que torna possível exercitá-lo e, desse modo, apropriar-se dele. Não basta receber (ler e ouvir) uma palavra para incorpora-la ao repertório pessoa; para que se dê sua efetiva apropriação é mister que o sujeito a pronuncie, a escreva e aplique em interlocução com os demais sujeitos (...) quando o sujeito educando logra expressar uma ideia de modo que outros possam compreendê-la é quando ele mesmo a aprende e a compreende verdadeiramente (...) os educadores sabem por experiência que a melhor forma de aprender algo é ter que ensina-lo (quer dizer, comunicá-lo) de um modo organizado e compreensível”. 2.1.2. Princípios básicos da comunicação Os axiomas da comunicação, segundo Watzlawick, são proposições que caracterizam a comunicação, sendo essenciais na interação que o indivíduo estabelece com os outros, manifesta pelo seu comportamento. Axiomas Destacam-se assim os seguintes axiomas: A impossibilidade de não comunicar – Este axioma decorre de uma propriedade básica do comportamento que consiste na impossibilidade do não-comportamento. Quer a atividade, quer a inatividade são comportamentos e, por conseguinte, mensagens (e.g. Quando um indivíduo não responde verbalmente a outro está a comunicar). O ser humano encontra-se em constante comunicação, podendo esta ser verbal ou não verbal (e.g. gestos ou silêncios). Neste sentido, a comunicação pode ou não ser intencional. Toda a comunicação apresenta um nível de conteúdo e um nível de relação, tal que o segundo classifica o primeiro, sendo uma metacomunicação – O nível de conteúdo diz respeito à informação veiculada na mensagem (e.g. factos, opiniões). O 11 nível de relação, por sua vez, refere-se ao que é comunicado sobre a relação entre os comunicantes. Neste sentido, pode falar-se em metacomunicação, isto é, o comunicar sobre a comunicação, sobre o nível de relação, na medida em que a relação pode ajudar a esclarecer o conteúdo veiculado, assim como o conteúdo redefine a cada momento a relação (e.g. “Estás sempre a olhar para o telemóvel enquanto falo contigo!” – o nível de conteúdo respeita ao facto de utilizar o telemóvel durante a conversa, o nível de relação respeita ao que este ato diz sobre a relação). A natureza de uma relação está na contingência da pontuação das sequências comunicacionais entre os comunicantes – Este axioma postula que a comunicação assenta numa sequência de trocas comunicacionais, ocorrendo uma mensagem em resposta à mensagem do outro. A interpretação que cada comunicante realiza sobre a troca comunicacional gera um comportamento, por sua vez gerador de um comportamento no outro comunicante. Muitas vezes, as pontuações e interpretações dos comunicantes são divergentes (e.g. O indivíduo A não inicia conversa com o indivíduo B porque o indivíduo B não fala consigo; O indivíduo B não inicia conversa com o indivíduo A porque o indivíduo A não fala consigo). A comunicação é analógica ou digital – O ser humano pode comunicar analogicamente, isto é, através de qualquer comunicação não-verbal (e.g. movimentos corporais, gestos, expressões faciais, ritmo das palavras) ou digitalmente, através de comunicação verbal. Deste modo, pode dizer-se que o nívelde conteúdo é fundamentalmente transmitido através de comunicação digital e o nível de relação é predominantemente analógico (e.g. Quando um indivíduo fala com outro, está a comunicar algo verbalmente, mas também não verbalmente através das expressões faciais, podendo estes dois níveis ser ou não congruentes). Todas as trocas comunicacionais são ou simétricas ou complementares, segundo se baseiem na igualdade ou na diferença, respetivamente – Este axioma refere-se à reação de um comunicante em resposta ao comportamento do outro, ditando a minimização das diferenças e maximização das semelhanças, ou seja, a simetria, ou a maximização das diferenças e a minimização das semelhanças, ou seja, a complementaridade (e.g. Numa discussão, dois indivíduos podem escalar a 12 argumentação, gerando competitividade ou, por outro lado, adotar posições distintas em que uma figura numa posição submissa enquanto a outra figura numa posição percebida como superior ou de controlo). Numa interação funcional, existem ambas as trocas de forma alternada, contribuindo para estabilizar desequilíbrios. Neste sentido, quer a simetria quer a complementaridade não são necessariamente positivas ou negativas, dependem do contexto e significado atribuídos pelos comunicantes. REFERÊNCIAS Alarcão. M. (2006). Desequilíbrios familiares: Uma visão sistémica. Coimbra: Quarteto. BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação/Educação: apontamentos para a discussão. Revista Comunicação, Mídia e Consumo. ESPM. V.1, n2, 2004. (online) 13 MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento / Edgar Morin. 8a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 online) Watzlawick, P., Beavin, J., & Jackson, D. (1967). Pragmática da Comunicação Humana. Um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interacção. São Paulo: Cultrix.
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