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C a p í t u l o 6 262 Ações de enfermagem para o controle do câncer W BASES DO TRATAMENTO DO CÂNCER 263 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 As duas últimas décadas testemunharam um considerável avanço no tratamento do câncer, tendo-se a cura como objetivo terapêutico real em 50% dos tumores diagnosticados. A radioterapia é um tratamento de ampla utiliza- ção, visto que mais de 60% de todos os tumores malignos terão indicação de irradiação no curso de sua evolução. O enfermeiro que trabalha em radioterapia deve buscar conhecimentos teóricos e práticos sobre o tratamento em teleterapia, braquiterapia e em radioproteção, através de cursos de atualização, reuniões científicas do serviço e participação nos programas de controle de qualidade. Cabe ao enfermeiro especialista, ainda, traçar metas que assegurem uma assistência de qualidade ao cliente oncológico atuando na prevenção, trata- mento, orientação e reabilitação nos procedimentos radioterápicos, através da sistematização da consulta de enfermagem. O enfermeiro deve promover par- cerias com toda a equipe de radioterapia, viabilizando o cumprimento das nor- mas de radioproteção, e garantir participação ativa nos programas de pesquisa, contribuindo portanto para uma exata aplicação da dose prescrita pelo Radioterapeuta no volume-alvo e realizando um cuidado seguro e humanizado. 1.1 - Considerações Físicas Conceito A radioterapia é a modalidade terapêutica que utiliza as radiações ionizantes no combate aos agentes neoplásicos com objetivo de atingir células malignas, impedindo sua multiplicação por mitose e/ou determinando a morte celular. ¨¨¨¨¨Radiações Ionizantes Da interação das radiações com a matéria resulta a transferência da ener- gia existente na radiação para os átomos do meio através do qual a radiação está passando. O conhecimento do mecanismo de interação das radiações é de funda- mental importância para compreendermos: • As bases do processo de sua DETECÇÃO; • como são produzidos os EFEITOS BIOLÓGICOS; • os princípios e filosofia de PROTEÇÃO RADIOLÓGICA. ¨¨¨¨¨Ionização e Excitação Em decorrência das diferenças existentes entre as partículas e as radia- ções eletromagnéticas, suas cargas e massas, cada uma delas interage de modo diferente com a matéria. 1 - RADIOTERAPIA 264 Ações de enfermagem para o controle do câncer W As partículas atravessam a matéria CEDENDO sua ENERGIA CINÉTICA através de colisões com os átomos do meio absorvedor. Já os FÓTONS (radiação eletromagnética) sofrem ATENUAÇÃO, o que corresponde a uma diminuição do número de fótons emergentes do meio, e não se acompanha, necessariamente, de uma diminuição de energia do fóton. Podemos então definir RADIAÇÃO IONIZANTE como qualquer tipo de radiação capaz de remover um elétron orbital de um átomo ou podendo trans- portar elétrons para níveis energéticos superiores (órbitas mais externas), acar- retando sua EXCITAÇÃO OU ATIVAÇÃO. Pode ser dividida em: a) Radiação de partículas (corpusculares). - Partículas alfa (ααααα) - é uma partícula equivalente a um núcleo de Hélio 2He4 (2 p + 2n) e tem duas cargas positivas. Devido à sua alta DENSI- DADE DE IONIZAÇÃO, a energia da partícula α é rapidamente cedida ao meio, o que torna o seu poder de penetração bastante limitado (apro- ximadamente 5 cm no ar ou cerca de 100 mm no tecido mole). - Partículas beta (βββββ) - é um processo mais comum entre os núcleos leves, que possuem excesso de nêutrons ou prótons em relação a estrutura estável correspondente. Podemos então afirmar que emissão β é o ter- mo usado para descrever e- de origem nuclear, carregados positiva- mente ou negativamente. Dependendo da sua energia uma partícula β pode atravessar 10 a 100 cm no ar e de 1 a 2cm no tecido biológico. b) Radiação de ondas eletromagnéticas. São ondas eletromagnéticas de alta energia de origem intranuclear, trans- mitidos em forma de movimento ondulatório; geradas por isótopos radioativos. Esta emissão se destina à liberação de excesso de energia do núcleo e/ou são produzidos por equipamentos especiais, como os aparelhos de raios-X ou acele- radores lineares. Essas ondas não possuem nem massa nem carga elétrica e podem ser divididas em: - Raios X - São produzidas quando elétrons de movimento rápido se cho- cam com um objeto de metal. A energia cinética do elétron é transfor- mada em energia eletromagnética. É importante lembrar que a origem desta radiação é extra nuclear, isto é, formada na eletrosfera ou cama- da eletrônica do átomo. A função do Aparelho de Raios X é providenci- ar uma intensidade suficiente do fluxo de elétrons de maneira controla- da, para que produza um feixe de Raios X com uma qualidade e quan- tidade desejada. - Radiação Gama (γγγγγ) - São pacotes de energia, de origem nuclear, trans- mitidas em forma de movimentos ondulatórios. Tem grande poder de penetração. Esta emissão se destina à liberação de excesso de energia de um núcleo atômico instável. 265 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 1.2 - Conceitos em Radioterapia O uso da radiação ionizante para o tratamento de câncer reporta o final do século passado. Nas décadas seguintes, a medicina descreveu novas técnicas, sem- pre no sentido de alcançar um efeito diferenciado nos tecidos normais em relação aos tecidos neoplásicos. Atualmente podemos dividir a Radioterapia em: ¨¨¨¨¨ Teleterapia Consiste na terapia à distância, ou seja, a fonte emissora de radiação fica a mais ou menos 1 metro do paciente. Nesta categoria, enquadram-se os feixes de raios-X, de raios gama, elétrons de alta energia e nêutrons. Os principais aparelhos utilizados são: - Raios X Superficial, Semi-Profundo ou de Ortovoltagem - São equipa- mentos de raios X que operam com quilovoltagem entre 10 e 100 kVp (kilo volt pico) (RX superficial) e entre 100 e 250 kVp (ortovoltagem). Trata lesões de pele ou com infiltração até cerca de 3cm de profundida- de, como, por exemplo, a irradiação preventiva dos quelóides opera- dos, dos hemangiomas e dos carcinomas basocelulares. Atualmente este tipo de irradiação vem sendo substituído pela eletronterapia, isto é, por feixes de elétrons com energia entre 4 e 10 MeV (milhão de eletrons volt), obtidos com aceleradores lineares. Com feixe de elétrons de 16 MeV pode-se tratar lesões com até cerca de 5 cm de profundidade. - Cobalto-60 - Fontes de cobalto-60 liberam fótons sob forma de raios γ com energias de 1,17 MeV e 1,33 MeV. Como a fonte é radioativa, a emissão de fótons é contínua, ou seja, a fonte não para de emitir fótons. Quando a máquina está desligada, a fonte permanece guardada numa blindagem adequada que bloqueia a saída dos raios γ. Alguns serviços mais antigos, ainda usam fontes de césio-137, o que não é mais recomendado devido á baixa penetração de seu feixe. Como conseqüência do decaimento radioativo, as fontes de alta atividade (centenas de Giga Bekuerel - GBq) dos aparelhos de cobalto-60 dimi- nuem de intensidade na taxa de 1,1% ao mês. Depois de 5,27 anos, que é o valor de uma meia-vida, a exposição do paciente ao feixe demora o dobro do tempo em relação ao inicial para que seja atingida a mesma dose. Isto acarreta uma chance maior do paciente mover-se, principalmente quando sente dores intensas, fazendo com que o tumor fique fora do campo de irradiação e não seja adequadamente tratado e também que partes sadias entrem no campo e sejam lesadas. Desse modo, uma fonte de cobalto-60 de teleterapia deve ser trocada pelo menos a cada 8 anos. Entretanto, deve ser dito que aparelhos de cobalto-60. 266 Ações de enfermagem para o controle do câncer W ¨Aceleradores Lineares Estes aparelhos usam microondas para acelerar elétrons a grandes velo- cidades em um tubo com vácuo. Numa extremidade do tubo, os elétrons muito velozes chocam-se com um alvo metálico de alto número atômico. Na colisão com os núcleosdos átomos do alvo, os elétrons são subitamente desacelerados e liberam a energia relativa a esta perda de velocidade. Parte desta energia é transformada em raios X de freiamento, que tem energia variável na faixa de 1 MeV até a energia máxima do elétron no momento do choque. Por exemplo, um acelerador linear que acelera elétrons até 10 MeV, produz raios X com ener- gias entre 1 e 10 MeV. Os aceleradores lineares podem gerar fótons de energia muito maior que os do cobalto-60. Fótons de alta energia liberam menor dose na pele e nos tecidos sadios do paciente. Entretanto, os aceleradores lineares requerem po- tencial elétrico bastante estável, mais manutenção e pessoal mais habilitado para o seu funcionamento. Alguns aceleradores lineares, como mencionado anteriormente, permi- tem que os elétrons atinjam diretamente o paciente, retirando-se o alvo de áto- mos pesados da frente do feixe. Os elétrons não penetram profundamente no tecido, liberando sua dose num intervalo que vai da pele até uma profundidade em torno de 5cm, com uma queda acentuada após esta profundidade. Os trata- mentos com elétrons são adequados quando o órgão alvo é superficial com es- truturas radiossensíveis ao seu redor, como, por exemplo, os linfonodos cervicais que têm a medula espinhal logo atrás e lesões infiltrativas de pele. ¨¨¨¨¨Braquiterapia É a terapia de curta distância onde, uma fonte encapsulada ou um grupo destas fontes são utilizadas para liberação de radiação β ou γ a uma distância de poucos centímetros do volume tumoral. Ela pode ser dividida em: - superficial - A fonte é colocada sobre a superfície do tumor ou sobre a pele. - intracavitária - A fonte é introduzida em cavidades do organismo (traquéia, esôfago, vagina, reto, uretra, etc) adjacentes aos tumores, esta técnica é utilizada há mais de 50 anos. - intraluminal - A fonte de radiação é introduzida rapidamente dentro do lúmen ou na luz de certas cavidades do corpo, tal como a árvore brônquica, o exemplo mais comum é tratamento do Ca (câncer) de pulmão. - intersticial - É utilizada hoje em dia na forma de implantes temporários ou permanentes, através de agulhas ou tubos de material plástico que passam através do tumor. ¨¨¨¨¨Método de Implantação de fontes Existem quatro técnicas básicas de colocar e manter as fontes em posição: 267 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 a- Implantação direta de fontes em tecidos do corpo. Uma característica importante desta técnica é que as próprias fontes radioativas entram em contato direto com o tecido. b- Pré-loading - o termo designa todo o tratamento em que as fontes radioativas são colocadas dentro de carregadores, aplicadores ou mol- des (na terapia intracavitária ou superfície) em cavidades ou perto do tecido que se queira irradiar. A principal característica desta técnica é que os aplicadores que conterão as fontes radioativas, serão carregados manualmente e momentos antes da inserção no paciente. c- Afterloading - o termo se refere a qualquer método no qual os aplicadores são colocados, primeiramente, em cavidades ou perto do sítio de trata- mento e, subseqüentemente, as fontes radioativas são inseridas dentro destes aplicadores sob condições favoráveis de radioproteção. Quando ele é carregado fora do corpo do paciente e manualmente, é freqüentemente chamado de manual afterloading. d- Remote-Afterloading - é um tipo de "afterloading" no qual as fontes radioativas são carregadas nos aplicadores mecanicamente ou através da utilização de ar comprimido, por meio de conduítes acoplados aos aplicadores. 1.3 - Implicações Biológicas da Radioterapia ¨Radiobiologia celular Para compreender a radiobiologia celular é importante conhecer a cinética celular, ou seja, a renovação dos tecidos. Todas as células podem ser alteradas pelas radiações em vários sentidos e em vários graus. Os tecidos cuja atividade funcional não requerem renovação celular como, por exemplo, os tecidos muscular e nervoso, são bastante resistentes à radiação. Ambos têm um importante estroma vascular e conjuntivo que lhe servem de supor- te. Existem também muitos tecidos do corpo que requerem uma proliferação celu- lar contínua para que sua função seja mantida. Alguns destes tecidos são: a pele e seus anexos, a mucosa gastrintestinal, a medula óssea e os tecidos reprodutores. A tolerância do organismo ou de seus componentes teciduais normais à radiação varia de acordo com os seguintes parâmetros de natureza física: dose, duração do tratamento (tempo), volume tecidual e qualidade da radiação. Segundo esses parâmetros, define-se qual a sensibilidade e curabilidade de um tumor pela radioterapia. ¨Radiossensibilidade Significa a sensibilidade das células normais ou tumorais à radiação. A radiossensibilidade de uma célula está relacionada com o momento da vida celu- lar em que ela se encontra. A célula "em repouso" (fase G0) é muito mais resis- 268 Ações de enfermagem para o controle do câncer W tente do que quando se encontra na fase M. Quanto mais indiferenciado for um tumor e mais proliferativo um tecido normal, maior será a sua radiossensibilidade. ¨Radiocurabilidade Significa que as relações de sensibilidade à radiação das células tumorais e normais são tais que a dose curativa da radiação pode aplicar-se regularmente sem lesão excessiva para os tecidos normais circunjacentes ao tumor. A escolha ou determinação da dose de tratamento depende da comparação entre a possibilidade de cura clínica e a possibilidade tecidual de regeneração e renovação. Depende, também, da finalidade do tratamento. 1.4 - Efeitos Radiobiológicos e Fracionamento A irradiação de doses elevadas produz maiores lesões quando aplicada de uma única vez do que a mesma dose aplicada de forma fracionada. Neste último caso, a dose é dividida em frações que são aplicadas diariamente (fracionamento) de segunda a sexta-feira, de uma só vez (dose única) ou duas vezes ao dia (hiperfracionamento). O período de tratamento pode variar de ho- ras a meses. O esquema de aplicação dependerá da dose total calculada e da avaliação do radioterapeuta. 1.5 - Finalidades da Radioterapia O tratamento radioterápico pode ser utilizado com intenção curativa ou paliativa. ¨Curativa Na radioterapia curativa o importante é obter a cura da neoplasia, sub- metida em certos cânceres com lesões iniciais, por exemplo, pele, próstata, la- ringe e outros. Pode ser classificada em : • Curativa adjuvante - Realiza-se a cirurgia e em seguida o tratamento radioterápico. • Curativa neo-adjuvante - O cliente é submetido primeiramente a radio- terapia para diminuir o tamanho do tumor e melhorar as condições ci- rúrgicas a seguir. ¨Paliativa É um tratamento a curto ou longo prazo, que busca a remissão de sinto- mas para diminuir o sangramento, aliviar a dor, obstruções e compressão neuro- lógica, levando a uma melhora da qualidade de vida do paciente. 269 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 1.6 - Novas Técnicas de Tratamento em Radioterapia Mais recentemente, com o desenvolvimento dos sistemas robotizados de braquiterapia, as fontes radioativas seladas, inseridas em aplicadores especiais, são empregadas no paciente através de um sistema que carrega previamente o material radioativo e o aplica posteriormente por controle remoto, via computa- dor, com taxas de dose variadas (alta taxa de dose e baixa taxa de dose). O avanço da informática e o estudo das imagens ocorrido na década de 1980 permitiram que os tratamentos com radiações ionizantes, tanto na radiote- rapia externa como na braquiterapia, ganhassem em precisão e exatidão. Hoje, a partir dos dados obtidos por tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RNM) pode-se identificar o tumor (volume-alvo) com mais precisão e tratar com exatidão. Surgiram técnicas avançadasno campo da radioterapia externa como a Radioterapia Conformacional e a Radiocirurgia Estereotáxica. A primeira identifica, determina o tumor e aplica um tratamento fracionado preciso, poupando ao máximo os tecidos normais ao redor do tumor. A radiocirurgia estereotáxica aplica uma dose de radiação única a um pequeno tumor intracraniano (de até 5cm) e evita a aplicação de doses altas de radiação nos tecidos normais vizinhos ao tumor. É utilizada no tratamento das malformações arteriovenosas e nos tumores intracranianos. 1.7 - Descrição do Tratamento ¨Teleterapia É necessário realizar um planejamento a partir da primeira consulta com o radioterapeuta, seguindo as seguintes etapas: • Consulta de primeira vez; • decisão do tratamento; • definição do volume alvo; • escolha da energia ideal (elétrons ou fótons); • dose (única ou fracionada); • distribuição de campos; • conferência dos cálculos (físico e radioterapeuta); • acompanhamento médico e de enfermagem durante o tratamento; • encaminhamento para clínica de origem. Na teleterapia convencional a simulação utiliza os raios X e a fluoroscopia, produzido por um aparelho chamado simulador, identificando o volume alvo pelas referências ósseas e fornecendo ao radioterapeuta dados para delineação dos campos de radiação1 antes de iniciar o tratamento. 1 Campo de radiação é a delimitação do volume alvo (tumor) demarcando a pele com uma tinta vermelha, a tintura de castelano, para realizar o tratamento radioterápico. O paciente é atendido sobre as condutas de conservação da marcação. 270 Ações de enfermagem para o controle do câncer W A conferência do cálculo da dose de radiação para iniciar o tratamento é feito na física médica em parceria com o radioterapeuta através de um sistema computadorizado. Após a liberação do cálculo da dose, o paciente inicia as aplicações no aparelho indicado. A imobilização do paciente na sala de tratamento pode ser conseguida mediante o uso de acessórios como espuma (coxins), plástico, máscaras ou ou- tros materiais especiais inclusive os raios laser de vital importância para posicionamento do paciente. Durante as aplicações o paciente permanecerá imóvel, com a região a ser irradiada descoberta com o tempo de cada aplicação variando de 1 a 5 minutos. O paciente permanecerá sozinho na sala de tratamento, porém será ob- servado pelo técnico de radioterapia através de um circuito interno de TV na sala de controle. ¨Braquiterapia Atualmente podemos dividir a braquiterapia em baixa taxa de dose e alta taxa de dose (Tabela 6.1). Na técnica manual utiliza-se 137Cs, Rádio e 60Co, dependendo da região do Brasil. Temos ainda os sistemas robotizados de baixa e alta taxa de dose que utilizam, respectivamente, o Cs 137 e o Irídio 192 no trata- mento. Tabela 6.1 - Quadro demonstrativo de taxas de braquiterapia. 1.8 - Vantagens do Tratamento A Braquiterapia de Alta Taxa permite o tratamento de forma ambulatorial com vantagens operacionais e de proteção radiológica. Localizações de tratamento: pulmão, sarcoma, cérebro, mama, cabeça e pescoço, próstata, esôfago, reto, canal anal e 80% na área ginecológica. 1.9 - Programas de Controle de Garantia da Qualidade Esse Programa de Controle é essencial para um Serviço de Braquiterapia, e se faz necessário na atuação integrada e de parcerias com toda Equipe: Radioterapeutas, Enfermeiros e Físicos. Devem ser monitorados os seguintes itens: 271 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 • Testes nos sistemas de segurança; • condições gerais do aparelho; • avaliação das fontes; • controle dos pacientes. 1.10 - Radiotoxicidade Os efeitos tóxicos do tratamento radioterápico vão depender da localização do tumor, da energia utilizada, do volume do tecido irradiado, da dose total e do estado geral do paciente. Algumas reações são comuns aos paci- entes e independem do local de aplicação: a fadiga, as reações de pele e a inapetência, que costumam aparecer após a 2ª semana de tratamento. Em relação ao tempo de ocorrência podem ser classificadas em: • Reações agudas aparecem durante ou até um mês após o término das aplicações de radioterapia; • reações intermediárias aparecem de 1 a 3 meses após o término do tratamento; • reações tardias surgem de 3 a 6 meses ou anos após o fim do tratamento. Em relação à gravidade dos efeitos colaterais, o Radiation Therapy Oncology Group (RTOG) definiu os critérios seguintes (Tabelas 6.2 e 6.3): 272 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Tabela 6.2 - Critérios de graduação da toxicidade aguda causada pelo tratamento radioterápico. 273 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 Tabela 6.3 - Critérios de graduação da toxicidade crônica. 1.11 - Ações de Enfermagem em Radioterapia A função assistencial do enfermeiro para com os pacientes submetidos à Radioterapia engloba a explicação dos objetivos do tratamento, bem como a prevenção das complicações e a minimização dos efeitos colaterais inevitáveis. Para que o enfermeiro tenha segurança para desempenhar estas atividades, deve conhecer os princípios da Radioterapia, as principais características dos efeitos colaterais mais freqüentes e também as medidas necessárias para diminuir essa toxidade. Deve-se ter em mente as finalidades da Radioterapia e se esta vai se administrar isoladamente ou combinada com outras modalidades de tratamento. Para que o enfermeiro tenha condições de orientar os pacientes deve inicialmente conhecer sua história clínica e também o local a ser irradiado, re- portando essas informações e completando-as num histórico de enfermagem próprio. A teleterapia é realizada em regime ambulatorial. O total da dose poderá ser fracionado em aplicações diárias por um período que poderá variar de 2 semanas a 2 meses. O melhor momento para que o enfermeiro possa coletar os dados do paciente será durante o planejamento, visto que é a partir daí que vai 274 Ações de enfermagem para o controle do câncer W se iniciar o tratamento. Neste momento, ele estabelecerá o primeiro contato com o paciente, devendo interessar-se por suas ansiedades, esclarecer dúvidas e, então, orientá-lo sobre os efeitos colaterais do tratamento, no intuito de refor- çar as recomendações fornecidas pelo médico e complementá-las. Nesta eta- pa, poderá haver a necessidade da interação com outros profissionais, tais como nutricionista, assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo etc., vi- sando a um atendimento integral do paciente. O enfermeiro esclarecerá ao paciente que o planejamento terapêutico deve ser feito para que possam ser definidos, pelo médico, o local, o número e a freqüência das aplicações. De acordo com o local a ser irradiado será feito o planejamento num simulador, onde serão realizadas radiografias para a confirmação exata do cam- po a ser irradiado. Após a confirmação do campo, o local deverá então ser demarcado com uma tinta à base de fuccina (temporário) ou tatuados os limites do campo com nankin (permanente). Orientar o paciente que o posicionamento durante o planejamento será repetido quando ele estiver sob o aparelho e que a aplicação é rápida (questão de segundos, se o aparelho for o acelerador linear), indolor e silenciosa, deven- do permanecer imóvel. Explicar que ficará sozinho, porém será acompanhado pelo técnico durante as aplicações, por um monitor de TV. E que é imperativo que ninguém fique na sala com ele, para que não se exponha desnecessaria- mente à radiação, o que seria arriscado, principalmente para profissionais que lidam com vários pacientes por dia em um serviço de Radioterapia. A seguir, orientam-se as ações de enfermagem para os efeitos colaterais agudos e subagudos mais comumente observados em teleterapia: ¨ Mucosites As queimaduras e descamação das mucosas costumam ser muito doloro-sas e, especialmente na boca e esôfago, favorecem as infecções oportunistas, como a monilíase. Deve-se recomendar aos pacientes: • Higiene bucal cuidadosa sempre que se alimentar, utilizando-se de es- covas de cerdas macias (do tipo para crianças); • gargarejos e bochechos de soluções alcalinas (solução de água fervida + bicarbonato de sódio), à temperatura normal; • evitar alimentos quentes ou frios e sólidos (preferir dietas líquidas ou pastosas, ricas em proteínas e à temperatura ambiente; • retirar próteses dentárias móveis, se existentes; • utilizar borrifos na cavidade bucal e orofaringe de anestésico local an- tes da refeição, em caso de dor à deglutição; e outros cuidados neces- sários ao caso. 275 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 ¨Náuseas e vômitos Só ocorrerão se a mucosa gástrica for exposta à radiação, ou seja, se o estômago for incluído no campo da radioterapia. Recomenda-se: • Dieta branda, refeições pequenas e freqüentes, evitar condimentos e alimentos ácidos e gordurosos; • ingestão de líquidos gelados ou à temperatura ambiente; • usar antieméticos sistematicamente, e outros cuidados necessários ao caso. ¨Diarréia Verifica-se quando o intestino é incluido no campo de radiação. Recomenda-se: • Dieta branda; • reposição hidreletrolítica oral; • uso parcimonioso de antidiarréico (elixir paregórico); e outros cuidados necessários ao caso. ¨Fadiga Os pacientes devem ser notificados que estarão sujeitos à fadiga progres- siva no decorrer do tratamento, e isto pode implicar a diminuição da sua capaci- dade de trabalho. Porém, alguns pacientes serão capazes de executar suas atividades diárias, inclusive trabalhar. Alguns fatores podem influenciar o grau de fadiga: cirurgias recentes, anemia, duração do tratamento, tempo dispendido na locomoção até serviço de Radioterapia, dose total de radiação, e outros. As intervenções de Enfermagem devem incluir monitorização das dosa- gens séricas, reposição nutricional, estímulo ao repouso e ao relaxamento. Nes- ta fase, há necessidade de apoio emocional para reforçar a importância da con- tinuidade do tratamento, explicando-se também que a fadiga é temporária. ¨Reação de pele A reação de pele é o efeito colateral mais comum da irradiação indepen- dente do campo de tratamento e se apresenta como: - Reação de lº grau - É uma reação habitual e consiste de eritema da pele, que se apresenta com uma coloração vermelho brilhante por 2 a 3 semanas, surgindo durante ou após a aplicação. É comum também verificar a descamação da pele e uma exsudação (serosa) branca. - Reação de 2º grau - É a reação provocada por doses terapêuticas elevadas. Consiste de eritema rubro escuro e edema de pele, apare- cendo 2 a 3 semanas após o início da aplicação. A destruição da epiderme leva à formação de bolhas na pele; há descamação que pode ser seca ou úmida, com destruição das glândulas sebáceas e sudoríparas. 276 Ações de enfermagem para o controle do câncer W - Reação de 3º grau - É a reação de pele conseqüente de uma superdosagem. Produz a destruição do derma e o desenvolvimento de uma úlcera necrótica dolorosa. A cura, quando ocorre, é lenta. A pele irradiada torna-se sensível durante o tratamento e sujeita a danos. O enfermeiro deve reconhecer os danos e orientar os pacientes na con- sulta de enfermagem, dando ênfase às seguintes recomendações: • Manter a pele do campo de tratamento o mais possivelmente seca e livre de irritações. • Não usar loções, cremes, talcos, desodorantes ou álcool; usar somente o que for recomendado pelo médico, ou enfermeiro. • Lavar a pele do campo de tratamento com água morna apenas, e secar sem esfregar; recomenda-se o uso de sabonete neutro e sem perfume. • Evitar vestir roupas justas (lycras, jeans). • Não usar esparadrapo ou adesivo sobre a pele. • Evitar extremos de calor e frio (bolsa de água quente ou gelo) sobre a pele irradiada. • Evitar o contato de tecidos sintéticos com a área tratada; o algodão é menos irritante e mais confortável. • Não esfregar, coçar, arranhar ou escovar a pele irradiada. • Nas áreas pilosas, não usar lâmina de barbear, nem navalha. Usar bar- beador elétrico durante o tratamento. • Proteger a área de tratamento da exposição solar com uso de filtro solar nº 30. Continuar a tomar precauções durante seis meses a um ano após o tratamento. Devido ao risco de que sejam causados danos severos à pele, inclusive tumores malignos. • Estimular ingesta hídrica de 2 a 3 litros de líquido por dia (água, suco, água de coco). • Manter a pele do campo de tratamento hidratada, seguindo o protocolo de prevenção de radioepitelite da instituição, com o uso de Aloe Vera ou Ácidos Graxos Essenciais (AGE) no campo demarcado. • Comparecer semanalmente à revisão médica e de enfermagem. ¨Inapetência A inapetência verificada durante o tratamento pode estar relacionada com o local de aplicação ou também com o que se conhece como "Mal dos Raios". Os sintomas relacionados ao "Mal dos Raios" aparecem algumas horas depois da aplicação e consiste de um variado grau de mal estar, náusea, anorexia e vômitos. Eles não acompanham necessariamente o tratamento e, em alguns casos, são muito intensos. O mecanismo pelo qual a radiação produz desintegração rápida do tecido tumoral com absorção protéica, efeitos no fígado e mucosa gastrintestinal desconhecido. Em alguns pacientes os sintomas têm componen- tes psicológicos. 277 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 Não existe qualquer meio para abolir esses sintomas. No entanto, um ajuste adequado da dose diária de radiação pode diminuir sua ocorrência. Os demais estados de inapetência estão relacionados com a disfagia, provocada pelo tumor ou mesmo pela radioterapia. O enfermeiro deve reconhecer o tipo de inapetência para direcionar as ações de enfermagem, que são recomendar aos pacientes o fracionamento da dieta e a ingestão de refeições leves a intervalos curtos e em pequena quantida- de. A adequação da dieta deverá dar preferência à qualidade dos alimentos ingeridos e não à quantidade. O encaminhamento ao nutricionista também po- derá ser necessário, nos casos mais agudos ou graves. ¨Alopecia A perda de cabelo ocorre somente nos locais irradiados. Geralmente é temporária, quando doses de 1.500 a 3.000 cGy são aplicadas. O cabelo volta a crescer alguns meses após o término da terapia. A perda de cabelo pode ser permanente em doses acima de 4.500 cGy. É importante salientar ao paciente os cuidados que ele deverá ter com seu cabelo e couro cabeludo. As áreas do couro cabeludo particularmente mais susceptíveis à reação da pele (eritema e descamação) são as regiões da nuca e periauricular. É recomendado: • Evitar lavar e manipular excessivamente os cabelos durante a terapia; usar xampu suave e lavar os cabelos a cada 4 a 7 dias; • evitar escovar-se excessivamente; • evitar o uso de secadores elétricos, elásticos, pregadores, presilhas e grampos; • evitar tintura ou descoloração dos cabelos; • proteger a cabeça (chapéus, lenços, boinas, gorros, etc.) e utilizar téc- nicas de maquiagem para que a pessoa se sinta atraente, mesmo du- rante o tratamento; e • proteger o couro cabeludo da exposição solar. 1.12 - Ações de Enfermagem no Tratamento de Radioterapia Pediátrica • Apresentar a criança e seu familiar à Equipe do Serviço de Radiotera- pia. Explicar que todos irão participar em conjunto do seu tratamento. • Encorajar o familiar e a criança a expressar seus sentimentos e o que sabem sobe tratamento. • Identificar fatores de estresse para a família e a criança, como o medo do desconhecido, a separação dos pais, a interrupção do estilo normal de vida (escola, amigos, idas diárias ao hospital), raiva do diagnóstico, ansiedade associada a aplicação da radioterapia. 278 Ações de enfermagem para o controle do câncerW • Orientar o familiar sobre a importância de NÃO INTERROMPER O TRA- TAMENTO, só em caso de indicação médica. • Realizar a consulta de enfermagem no primeiro dia após encaminha- mento do médico ao aparelho. Identificar as necessidades individuais de cada criança, objetivando traçar um plano assistencial para o trata- mento. • Avaliar o grau de compreensão do familiar e da criança na consulta de revisão médica, onde serão solicitados exames hematológicos, investi- gando possíveis efeitos colaterais associados ao tratamento: anemia, leucopenia, deficiência visual neurológica e sensório-motora, náuseas, vômitos, reações da pele, associando ou não medicamentos à dor. • Mostrar o aparelho de radioterapia. Explicar o material utilizado para demarcação na pele, os sinais luminosos e sonoros. Informar que a marca na pele com tinta vermelha ficará somente durante o tratamento. • A criança que se recusar a permanecer no aparelho, ou ficar parada durante a aplicação deverá ser anestesiada. Neste caso virá ao Hospi- tal em jejum. • Orientar a criança que durante a aplicação ninguém irá tocá-la e não sentirá dor. Posicionar a criança na mesa do aparelho de forma a redu- zir o desconforto, acomodando-a, com o auxílio de suporte de gesso, isopor, confeccionado na Oficina de Moldes. • Deve existir uma sala de recuperação pós-anestésica com todos os equi- pamentos e materiais necessários a ressucitação cardio-pulmonar, prin- cipalmente para atender a crianças submetidas à anestesia. • Aliviar a ansiedade da criança oferecendo um ambiente colorido, tranqüilo, acolhedor, com vários brinquedos, jogos, revistas e televisão a sua escolha para atender a suas necessidades básicas de carinho, atenção, com o objetivo de que a criança venha à Instituição feliz, sem medos, e sabendo que encontrará um ambiente semelhante a sua casa. • Reforçar junto à criança que todas as vezes que ela apresentar um com- portamento positivo e de cooperação durante o tratamento, receberá um elogio verbal ou um pequeno brinde ou um selo de carinhas mos- trando como foi o seu comportamento. 279 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 1.13 - Ações de Enfermagem ao paciente submetido a Braquiterapia de alta taxa de dose. ¨Realizar consulta de Enfermagem no mesmo dia em que for realiza- da a consulta com o radioterapeuta • O agendamento das consultas subseqüentes é de acordo com o tipo de tratamento para cada paciente, e deve ser com hora marcada para que o paciente não fique muito tempo esperando. • Nesta consulta deve ser enfatizada a avaliação física do paciente; e o manejo dos efeitos colaterais (náuseas, complicações intestinais, des- conforto durante o tratamento). • O paciente deve ser orientado para: - Vir com a tricotomia realizada. - Não ter relações sexuais na véspera do tratamento, em caso de gine- cológico. - Que dependendo do tipo de aplicação, deverá fazer uso de sonda vesical durante o tratamento. - Que mesmo com a porta da sala de tratamento fechada durante a aplicação, ele estará sendo observado por um circuito interno de TV. - Que sua dieta deverá ser branda no caso de tratamento ginecológi- co, jejum de doze horas se for um tratamento de esôfago, ou trata- mento com implantes (neste caso o paciente deverá ser internado). ¨Assistir ao paciente durante o tratamento • Posicionar o paciente na mesa de tratamento. • Preparar o material necessário para cada tipo de tratamento: - Introdutores, anéis, aros e agulhas. • Conectar os cateteres nos respectivos canais do HDR. • Informar o paciente do início e duração da aplicação (de 5 a 15 minutos). • Observar o paciente durante o tratamento no circuito interno de TV. Caso ocorra alguma anormalidade a máquina pode ser desligada e o tratamento interrompido por tempo indeterminado. • Ao término do tratamento a máquina acionará o sinalizador sonoro e visual indicativo da função. Desconectar os canais do HDR, e auxiliar o paciente a sair da mesa. ¨Controlar todo material específico • Catalogar todo material existente no Serviço. • Acondicionar o material em caixas metálicas específicas. • Proceder a limpeza e esterilização do material. • O material deve ser lavado em água corrente, e depois esterilizado em Glutaraldeido. 280 Ações de enfermagem para o controle do câncer W • Manutenção do material. Observar sempre se o material apresenta ra- chaduras ou arranhaduras. • Participar do Programa de Controle de Qualidade do tratamento. • Participar de reuniões científicas do serviço para discussão e análise á condução terapêutica do caso, com apresentação da história clínica, exames do paciente, programação terapêutica, estudos radiológicos, seleção dos aplicadores, dose no volume alvo, dificuldades técnicas, resultados e complicações. • Estar sempre atento para as normas de proteção radiológica, usar sem- pre o dosímetro pessoal, seguir sempre os princípios de otimização e básicos de radioproteção: tempo, distância e blindagem. 1.14 - Ações de Enfermagem na Radiomoldagem Genital A braquiterapia genital ou radiomoldagem genital é a forma mais comum da braquiterapia. Ela é aplicada em pacientes com carcinoma do colo ou corpo uterinos, por meio da introdução de fontes radiativas de rádio, césio ou irídio no canal endocervical , utilizando-se aparelhos denominados aplicadores. Existem alguns tipos de aplicadores, tais como Fletcher, Henscheke, Tanden e outros, que serão selecionados de acordo com o critério médico e a localização do tumor. Para a radiomoldagem genital convencional, a paciente precisa ser inter- nada por um período de dois a quatro dias, dependendo da dose total prescrita pelo radioterapeuta. A paciente é internada à véspera ou com seis horas de antecedência da aplicação, para que ela seja preparada física e psicologicamente para subme- ter-se ao tratamento. É de extrema importância a conscientização e o preparo emocional da paciente, considerando-se que o tratamento exige isolamento e também a ma- nutenção de um mesmo decúbito para que não haja deslocamento dos aplicadores. O enfermeiro orienta a paciente e familiares no que diz respeito a esses cuidados e também com relação aos outros que receberá durante e após o tratamento. Recomendações usuais • A paciente deverá vir em jejum, caso o médico lhe tenha recomendado. • O preparo para a colocação do aplicador consistirá de tricotomia pubiana, lavagem intestinal e sondagem vesical. Após o preparo, a pa- ciente será encaminhada a uma sala cirúrgica, para submeter-se à co- locação do aplicador; radiografias podem ou não ser necessárias, de- pendendo do tipo de aplicador que foi utilizado, e têm como objetivo, confirmar o correto posicionamento do mesmo na cavidade uterina e 281 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 vaginal. Ao retornar a paciente ao quarto, o radioterapeuta colocará a carga radiativa, iniciando-se, assim, o tempo previsto para o tratamento. • O enfermeiro deve esclarecer à paciente e familiares que as visitas não serão permitidas durante o tratamento; mas passatempos que não exi- gem movimentação no leito são permitidos à paciente (livros, revistas, rádio, televisor e outros). • O repouso no leito em posição dorsal, sem sentar-se ou lateralizar o decúbito, é imprescindível. A paciente deverá realizar exercícios no leito, de flexão e abdução dos membros inferiores e superiores, para garantir a circulação dos membros e prevenir a ocorrência de trombose venosa. • O enfermeiro deve recomendar à paciente para não mover o quadril, a fim de não deslocar o aplicador. • O enfermeiro deverá providenciar recursos que visam a minimizar o desconforto da posição repetida, tais como: lençóis e colchões macios (tipo caixa de ovos); toalha macia colocada entre o impermeável e o lençol móvel, para absorver a umidade do corpo; quarto com ambiente agradávele bem arejado; e outros. • A alimentação deverá ser pobre em resíduos, com o objetivo de impedir o funcionamento intestinal e evitar a formação de gases durante o período de irradiação. • Cientificar a paciente que a sua higienização será limitada; o banho no leito é contra-indicado, para evitar manipulação da paciente e conse- qüente deslocamento da carga radiativa. • Informar a paciente que ela terá assistência durante todo o tempo de internação, porém a assistência será limitada devido à radiação emiti- da (é necessário pedir-lhe que evite chamar repetidamente o enfermei- ro, evitando assim que ele se exponha desnecessariamente à radiação, o que também é obtido com o rodízio da equipe de enfermagem). O enfermeiro deverá estar atento para os seguintes sinais: • Distensão abdominal pode estar associada à formação de gases ou acom- panhada de dor, por sua vez relacionada com uma complicação cirúr- gica (rotura uterina), provocada durante a colocação dos aplicadores, o que requer intervenção médica. • Sangramento vaginal, o radioterapeuta deve ser notificado e, depen- dendo da intensidade, o tratamento será interrompido; a freqüência alta do pulso e pressão arterial baixa; são sinais de perda sangüínea volumosa. • Sintomas do "Mal dos Raios". As pacientes com os sintomas do “Mal dos Raios” (náusea, vômitos e diarréia) também poderão ter o seu tratamen- to interrompido, dependendo da intensidade dos mesmos. 282 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Como o enfermeiro deve proceder: • Administrar a medicação prescrita (que normalmente constará de anal- gésicos, sedativos, antieméticos, antiespasmódicos e outros) e observar a ação da mesma. • Controlar os sinais vitais a intervalos de 6 horas, dando-se atenção es- pecial a hipertermia e hipotensão. • Controlar a diurese e inspecionar a permeabilidade da sonda vesical, pois a bexiga distendida pode estar sujeita a graves queimaduras pela radiação. • Elevar a cabeceira do leito até 30º pode ajudar a aliviar o desconforto sentido pela paciente ao manter-se deitada durante todo o tempo. • Observar, caso a paciente desloque ou retire o aplicador com a carga radiativa, recolocar a carga no carrinho de chumbo, anotar o horário e avisar imediatamente o médico. • Atentar para casos de parada cárdio-respiratória, a carga também deve ser imediatamente retirada, o médico avisado e os cuidados devidos aplicados. Após o término do tempo programado pelo radioterapeuta, a carga e o aparelho serão retirados pelo médico. A paciente será liberada para uma higienização completa e deverá receber orientações, para alta, quanto ao retor- no às atividades sexuais (conforme a recomendação médica), a utilização de dilatadores vaginais após a braquiterapia e desaparecimento da mucosite vulvo- vaginal. 283 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 2.1 - Tratamento Radioterápico - IODO É um tratamento com iodo radioativo (I-131), usado em algumas patologi- as benignas e malignas na tireóide, órgão responsável pelo metabolismo e orga- nização do iodo. Praticamente, todo iodo ingerido e retido no corpo se concentra na glân- dula tireóide. Como também os isótopos radioativos do iodo, eles são utilizados como base para um meio eficaz de inibição seletiva da atividade tireóide. O tumor de tireóide é freqüentemente de evolução lenta, podendo muitas vezes passar desapercebido ao longo da vida. A combinação da cirurgia com a iodoterapia, produz uma taxa bem elevada de sobrevivência e cura em torno de 90% dos casos. A iodoterapia é a irradiação da glândula, o que é conseguido sem o risco de atingir outros tecidos sensíveis à radioterapia. Apenas os tumores diferenciados que captam bem o I-131, como os papilíferos e os foliculares são tratados pela iodoterapia. Sempre que clinicamente haja suspeita de neoplasia, o procedimento ini- cial é cirúrgico. Não se indica ressecções parciais pelo risco de disseminação tumoral no campo operatório. Somente nos casos de suspeita de carcinoma indiferenciado, com fixação a estruturas adjacentes, onde a ressecção radical seja impossível, indica-se biópsia incisional. Todo o material obtido é rotineira- mente submetido a exame anatomopatológico por congelação. Confirmando-se a existência de carcinoma, totaliza-se imediatamente tireoidectomia, sempre que exeqüível. Quando uma tireoidectomia total é realizada é dada em geral uma dose traçadora de I-131, cerca de seis semanas mais tarde para determinar a atividade do campo tireoidiano ou detectar áreas metastáticas. Dependendo da % de cap- tação dos restos tireodiano ou se houver áreas de metástases, as doses poderão variar de 50 mCi a 100 mCi (mili curil) para pacientes com remanescentes tireoidianos, com captação basal até 12% e sem evidências de metástases. E doses de 100mCia 200mCi para pacientes com cintigrafia de corpo inteiro, que revelem metástases funcionantes. 2.2 - O IODO 131 (I-131) ¨Considerações físicas sobre o I-131 O I-131 é usado para o tratamento das doenças da tireóide por suas qualidades: 2 - IODOTERAPIA 284 Ações de enfermagem para o controle do câncer W • Alta energia (364 Kev - Kilo eletron volt); • radiação particulada (β); • meia vida longa (meia vida física = 8,06 dias). Essas qualidades permitem alcançar uma dose relativamente alta na glân- dula tireóide em tempo suficiente para atingir o tecido tumoral e, como as partí- culas beta, viajam distâncias curtas nos tecidos, as estruturas próximas à tireóide não são afetadas significativamente pela radiação. No exame de captação do I-131, é administrada ao paciente uma dose traçadora de I-131 (aproximadamente 5 a 10 µCi), sendo posteriormente feita uma contagem sobre a tireóide (geralmente, 24 horas após a dose). O valor da atividade da tireóide dividido pela quantidade da ativação administrada (ex- pressa em porcentagem), indica o índice de captação. É um teste simples e for- nece resultados seguros (valor da captação normal = 15 a 45%). Esse exame pode ser afetado pela ingestão de substâncias contendo iodo ou hormônio tireoideo sendo, portanto, indispensável realizar um histórico preli- minar do paciente para avaliar os resultados. A descoberta da diminuição de captação de I-131 em uma área localiza- da da tireóide é aceita como evidência de malignidade. A cintilografia tireoideana é de valor limitado uma vez que 70% a 80% dos nódulos tireoideanos únicos são hipocaptantes, dos quais 15% a 25% são neoplasias. A cintilografia é útil para determinar a localização, o tamanho, a forma e a função da glândula tireóide. Doses de rastreamento são administradas para verificação de captação ectópica (metástases à distância) e no local da cirurgia, detectando restos de tecidos tireoideanos. ¨Plano Terapêutico Inicialmente o paciente se submeterá à captação de 24 horas, cintilografia da tireóide, dose de rastreamento com I-131 e cintilografia óssea. A partir dos resultados dos exames será realizada uma avaliação clínica, e então determina- do o valor da dose a ser administrada. A seguir, será marcada a data de internação, bem como o dia de suspensão da dose de hormônio administrada diariamente (por 15 ou 30 dias, dependendo do hormônio). Pacientes que recebam terapia com doses acima de 30 mCi de I-131, deverão ser internados em quarto especial blindado (portas, paredes, teto e chão) com banheiro completo, seguindo as normas da CNEN (COMISSÃO NACIO- NAL DE ENERGIA NUCLEAR) e receber instruções quanto ao uso adequado das dependências e cuidados de proteção radiológica. Visando a minimizar a ansiedade, o stress e a solidão, esse quarto deve ser equipado com TV, frigobar, telefone, painéis e mobiliário adequado. 285 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 3.1 - Tratamento Quimioterápico A quimioterapia antiblástica consiste no emprego de substâncias quími- cas, isoladas ou em combinação,com o objetivo de tratar as neoplasias malig- nas. É o tratamento de escolha para doenças malignas do sistema hematopoético e para os tumores sólidos, que apresentam metástases regionais ou à distância. Na maioria dos agentes antiblásticos atuam de forma não específica, le- sando tanto células malignas quanto benignas. Como as diferenças entre as duas populações celulares são mais quantitativas do que qualitativas, uma linha muito tênue separa o sucesso terapêutico de uma toxicidade inaceitável. Os fármacos agem interferindo com outras funções bioquímicas celulares vitais, por atuarem indistintamente no tumor e tecidos normais de proliferação rápida, como o sistema hematopoético e as mucosas, o que obriga a interrupção periódica do tratamento para a recuperação do paciente. Também são necessários cuidados relacionados aos profissionais que ma- nuseiam os agentes citostáticos, devido ao potencial mutagênico das drogas, o que exige normas técnicas para a manipulação desses agentes e a realização de exames periódicos para os seus manipuladores. A aplicação dos agentes antineoplásicos no tratamento do câncer é base- ada no conceito da cinética celular, o qual inclui o ciclo de vida celular, o tempo do ciclo celular, a fração de crescimento e a massa tumoral. O tumor maligno é constituído por três grupos de células: as que se divi- dem ativamente nas fases Gl, S, G2 e M; as paradas na fase G0 (observe a pág. 62); e as que perdem sua capacidade reprodutiva e estão morrendo ou já estão mortas. Os tumores menores possuem maior porcentagem de células em reprodução. À medida que o tumor cresce, ocorre uma competição entre as células em busca de nutrientes, oxigênio e espaço, e o número de células ativas em reprodução diminui. As células que estão se reproduzindo ativamente são as mais sensíveis à quimioterapia. Por isso, um dos conceitos para o tratamento do câncer é o de "desavolumar" os tumores com a finalidade de reduzi-los a um pequeno tamanho, situação em que sua velocidade de crescimento aumenta e as células são mais suscetíveis à quimioterapia em decorrência de uma função de divisão celular aumentada. Uma segunda noção que pode ser observada, é que cada vez que a dose é repetida, mantém-se a proporção de células mortas e não o número absoluto de células são mortas. 3 - QUIMIOTERAPIA 286 Ações de enfermagem para o controle do câncer W No exemplo da Figura 6.1 (acima) 99,9% (3 log) das células tumorais são mortas a cada tratamento, ocorrendo um crescimento de dez vezes (1log) entre os ciclos de terapia para uma redução de 2 log com cada ciclo. Por exemplo: para uma massa tumoral com 1010 de células seriam necessários 5 ciclos de tratamento para conseguir alcançar uma massa tumoral menor que 10°, ou seja, com uma célula. Os citostáticos agem diretamente na célula, atuando nas diversas fases do ciclo celular. Devido a essa característica é que se opta por usar, mais freqüentemente, a poliquimioterapia, na qual mais de dois tipos de medicamen- tos de classificações farmacológicas diferentes são aplicados, buscando-se um efeito mais abrangente sobre as células tumorais. Na poliquimioterapia, é importante, sempre que possível, a associação de drogas com diferentes toxicidades que permitam aumentar o efeito antitumoral sem elevar a toxicidade. A utilização adequada de drogas antineoplásicas, requer avaliação criteriosa das doses a serem administradas, das vias de administração, dos efei- tos colaterais de risco, dos mecanismos de eliminação, do ajuste de doses ade- quadas em casos de insuficiência de órgãos, e das interações com outras drogas. A estratégia de administração dos medicamentos antineoplásicos consis- te em utilizá-los ciclicamente a intervalos suficientemente longos para que haja boa recuperação medular, mas não o suficiente para permitir a recuperação tumoral entre os ciclos. Figura 6.1 - Ciclos quimioterápicos. 287 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 3.2 - Classificação dos Quimioterápicos Antineoplásicos ¨¨¨¨¨Quanto à sua relação com o ciclo celular A maioria dos agentes quimioterápicos pode ser agrupada de acordo com a atuação no ciclo celular quer seja em fase de atividade ou de repouso. Drogas específicas para o ciclo celular As drogas ciclo-específicas podem ser divididas em dois sub-grupos: dro- gas fase-específicas e drogas fase-inespecíficas. O efeito citotóxico das drogas fase-inespecíficas é obtido em qualquer fase do ciclo celular. Estes agentes são eficazes em tumores grandes com menos células ativas em divisão no momento da administração da droga. Os quimioterápicos fase-inespecíficos são geralmente mais dose-dependentes que os quimioterápicos fase-específicos. Isto significa que o número de células destruídas é diretamente proporcional à dose de droga administrada. Do ponto de vista farmacocinético, apresentam geralmente uma curva de dose-resposta linear em que quanto maior a quantidade de droga administra- da, maior a fração de células mortas. Ex.: alquilantes. As drogas fase-específicas são aquelas que se mostram mais ativas con- tra células que se encontram numa fase específica do ciclo celular. A especificidade para a fase apresenta implicações importantes: observa-se um limite no número de células que podem ser erradicadas com uma única exposi- ção instantânea (ou muito curta) à droga, uma vez que somente aquelas células que estiverem na fase sensível são mortas. Uma dose mais elevada não conse- gue matar mais células. É necessário, então, promover-se uma exposição pro- longada ou repetir as doses da droga para permitir que mais células entrem na fase sensível do ciclo. Exemplos de drogas fase-específicas: S-antimetabólitos e M-alcalóides da vinca (observe a pág. 62). Farmacocineticamente, as drogas fase-específicas atingem um limite na sua capacidade de aniquilamento celular, mas seu efeito é uma função tanto do tempo quanto da concentração. Acima de uma certa dose, maiores incrementos nas doses das drogas não resultam em mais morte celular. Se a concentração da droga é mantida por um período de tempo, mais células entrarão na fase letal específica do ciclo e serão mortas. Drogas inespecíficas para o ciclo celular Um grupo de drogas que parecem ser eficazes, quer estejam as células neoplásicas em ciclo de divisão ou em repouso. Atuam geralmente em tumores de crescimento lento, com baixa fração de duplicação. A farmacocinética desse grupo de drogas é semelhante à das drogas fase- inespecíficas, sendo caracterizada principalmente pela linearidade da curva dose- resposta. 288 Ações de enfermagem para o controle do câncer W ¨Quanto à estrutura química e função celular Os quimioterápicos, classificam-se em: • Alquilantes - Ciclo-inespecíficos, agem em todas as fases do ciclo celular. • Antimetabólicos - Ciclo-específicos, fase-específicos, agem na fase de síntese. • Alcalóides - Ciclo-específicos, fase-específicos, agem na fase da mitose. • Antibióticos - Ciclo-específicos, fase inespecíficos, agem em várias fa- ses do ciclo celula. • Miscelâneas - Medicamentos de composição química e mecanismos de ação pouco conhecidos. Ex.: Hidroxiuréia, procarbazina L- asparaginase. 3.3 - Finalidades da Quimioterapia A finalidade da quimioterapia depende basicamente do tipo de tumor, da extensão da doença e do estado geral do paciente. De acordo com sua finalida- de, a quimioterapia pode ser classificada em: - Curativa - Objetiva a ausência de evidências de doenças pelo mesmo período de tempo que outra pessoa sem câncer. Ex.: leucemias agudas e tumores germinativos. - Paliativa - Visa a minimizar os sintomas decorrentes da proliferação tumoral e melhorar a qualidade de vida do paciente, aumentando seu tempo de sobrevida, em função de uma redução importante do número de células neoplásicas. - Potencializadora - Quando utilizada simultaneamente à radioterapiano sentido de melhorar a relação dose terapêutica/ dose tóxica do trata- mento com irradiação. Objetiva principalmente potencializar o efeito das drogas no local irradiado e conceitualmente não interfere no efeito sistêmico do tratamento. Ex.: tumor de pulmão. - Adjuvante - Quando é administrada posteriormente ao tratamento prin- cipal, quer seja cirúrgico ou radioterápico. Tem por finalidade promo- ver a eliminação da doença residual metastática potencial, indetectável porém presumidamente existente. Ex.: tumores de mama, ovário, cólon e reto. - Neo-Adjuvante - Quando é administrada previamente ao tratamento definitivo, quer seja cirúrgico ou radioterápico. Objetiva tanto a dimi- 289 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 nuição do volume tumoral, quanto a eliminação de metástases não- detectáveis clinicamente já existentes ou eventualmente formadas no momento da manipulação cirúrgica. Ex.: sarcomas, tumores de mama avançados. 3.4 - Determinantes do Plano Terapêutico Os determinantes básicos na escolha do tratamento são : • O diagnóstico histológico e a localização do tumor maligno; • o estágio da doença, incluindo padrões prováveis de disseminação para localizações regionais e à distância; • toxicidade potencial de uso; • duração da toxicidade presumida; • condições clínicas do paciente, que podem ser quantificadas pelas es- calas de "performance status" (ver Tabela 6.4 e 6.5 escala de KARNOFSKY e ECOG). ¨Performance Status Existem 2 tipos de escalas para a medida das condições clínicas do paciente: Tabela 6.4 - Escala de desempenho de ECOG. 290 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Tais escalas funcionam também como um parâmetro útil na individualização da terapia, auxiliando o médico a decidir se um determinado tratamento trará beneficio ou não ao paciente. ¨Avaliação das condições clínicas Para a aplicação da quimioterapia, é necessária uma avaliação prévia do paciente, cuja finalidade é a de assegurar que o seu organismo se encontra em condições de superar os efeitos tóxicos dos medicamentos antiblásticos. Os exames solicitados para proceder-se a esta avaliação dependem das drogas a ser utilizadas, dos seus efeitos tóxicos, do número de ciclos já recebidos e das condições clínicas do paciente. Assim, são requisitos para a aplicação da quimioterapia: • Perda do peso inferior a 10% do peso corporal anterior ao do início da doença; • ausência de contra-indicação clínica para as drogas selecionadas; Tabela 6.5 - Escala de desempenho de KARNOFSKY. Os pacientes com maior capacidade funcional e sintomas discretos res- pondem melhor ao tratamento; e têm uma sobrevida maior do que aqueles com menores capacidades funcionais, e com sintomas graves. O objetivo das esca- las de performance é a determinação da eficácia dos tratamentos utilizados através da distribuição dos pacientes em grupos de estudo clínico-terapêutico. 291 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 • ausência de infecção ou infecção presente, mas sob controle; • a contagem das células do sangue e dosagem da hemoglobina sérica (os valores exigidos para a aplicação de quimioterapia em crianças são menores) dentro dos seguintes limites: - Leucócitos > 3.000 a 4.000/mm3 - Neutrófilos > 1.500 a 2.000/mm3 - Plaquetas > 150.000/mm3 - Hemoglobina > 10g/dl • dosagens séricas: - Uréia < 50 mg/dl - Creatinina < 1,5 mg/dl - Bilirrubina total < 3 mg/dl - Ácido úrico < 5 mg/dl - Transferases (transaminases) < 50 UI/I Outros exames devem ser solicitados, se assim o indicar a toxicidade específica das drogas utilizadas, especialmente em pacientes acima de 60 anos de idade. São exemplos: avaliação cardiológica (função cardíaca) de pacientes que receberão adriamicina e avaliação da depuração da creatinina, em casos de quimioterapia com metotrexato em doses altas ou cisplatina. A freqüência com que esses exames são repetidos não é obrigatoriamen- te a dos ciclos de quimioterapia, exceto se: • As drogas utilizadas provocarem depressão da medula óssea (daí, o hemograma e contagem das plaquetas serem exigidos na maioria dos casos, pois a maioria dos agentes antiblásticos é mielodepressora); • as alterações possam ser provocadas pelo tumor, servindo elas também como parâmetros de avaliação da resposta ao tratamento (leucemias provocam leucocitose; metástases hepáticas, alterações das provas da função hepática; mieloma múltiplo, alterações das globulinas séricas e das provas da função renal; e outros); e • ocorrerem intercorrências que precisem ser avaliadas (ver tabela 6.6 grau de toxicidade). Como exemplo: uma mucosite grau 3 está freqüentemente associada à imunossupressão, situação em que exa- mes hematológicos devem ser solicitados. 292 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Tabela 6.6 - Grau de toxicidade ao tratamento com citostático. 293 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 Tabela 6.6 (continuação) - Grau de toxicidade ao tratamento com citostático. 294 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Contra-indicações absoluta A quimioterapia é totalmente contra-indicada, nos portadores de doença maligna em fase terminal, grávidas no primeiro trimestre, portadores de infec- ções graves e pacientes comatosos. Contra-indicações relativas Agentes quimioterápicos podem ser contra-indicados nas seguintes situações: • Quando efeitos colaterais potenciais do tratamento excederem os be- nefícios por ele proporcionados. • Quando o paciente não reunir condições clínicas ou apresentar desem- penho clínico pessoal inadequado para receber o tratamento proposto. Desempenho clínico pessoal (performance status) menor que 50 (esca- la de Karnofsky e Ecog), a princípio, deve ser um fator não indicativo de quimioterapia. • Meios inadequados para avaliar a resposta do cliente à terapia e para monitorizar as reações tóxicas. 3.5 - Vias e Métodos de Administração de Quimioterápicos Quanto ao sítio de aplicação os quimioterápicos podem ser administra- dos por diversas vias, a saber: - Regional - O agente é aplicado diretamente em uma artéria ou cavida- de, atingindo-se assim altas concentrações regionais do medicamento e, paralelamente, evitando-se ou minimizando-se a sua ação sistêmica. Ex: intra-vesical, intra-pleural, intra-tecal, intra-pericárdico, intra- peritoneal. - Local - A droga é injetada diretamente no local do tumor. Ex.: intra- lesional (infiltração no sarcoma de Kaposi), tópica (com 5FU e mostarda nitrogenada). - Sistêmico - O agente isolado ou uma combinação de drogas é adminis- trado com o intuito de tratar-se o organismo como um todo. É o método mais utilizado. Ex.: oral, intravenosa, intra-arterial, subcutânea e intra-muscular. Observe a Tabela 6.7, que apresenta as vias de administração de Agen- tes Antineoplásicos. 295 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 Tabela 6.7 - Vias de administração de Agentes Antineoplásicos (Bender, 1997). 296 Ações de enfermagem para o controle do câncer W ¨Formas de aplicação da quimioterapia Aplicada a intervalos, que variam de acordo com o esquema e os medi- camentos (chamados indistintamente de drogas, citostáticos, quimioterápicos), diz-se que se aplica em ciclos. Tome-se como exemplo o cliclofosfamida, metotrexato, fluorouracil (CMF), em uma das suas concepções, indicado como terapia adjuvante de alguns está- dios do câncer de mama, observe a Tabela 6.8: Logo, um ciclo deste esquema CMF tem duas fases, já que se repete a aplicação de 5-Fluorouracil no 8° dia (Tabela 6.9). Cada esquema de ABVD consiste de duas fases de aplicação (1° e 15° dias) e se repete a cada 4 semanas, num total de 6 a 8 ciclos. A Tabela 6.11 apresenta o esquema B.E.P. Tabela 6.8 - Esquema, dose, via e fase do CMF. Tabela 6.9 - Os tratamentos aplicáveis a casos de Doençade Hodgkin, ABVD. Tabela 6.10 - Esquema de Tumor de canal anal. Tabela 6.11 - Esquema aplicado no caso de tumor de testículo (B.E.P.). 297 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 Assim, não se deve confundir aplicação (administração do quimioterápico, especialmente por via venosa) com fase (número de aplicações dentro de um mesmo ciclo) e ciclo (quando se aplicam todas as fases e, após um dado interva- lo de tempo, reinicia-se a aplicação das mesmas drogas). Cálculo de superfície O cálculo da superfície corporal é feito através do peso e altura do paciente e é expresso em metros quadrados (m2). A superfície corporal é basea- da em uma tabela de três escalas contendo altura, superfície corporal e peso. Uma linha reta de conexão entre a altura e o peso nas respectivas escalas inter- cepta a coluna da superfície corporal. A superfície também pode ser obtida através da seguinte regra: Superfície Corporal = (peso em kg) x (altura em cm) 3.600 3.6 - Efeitos Colaterais e Toxicidade Específica A quimioterapia é possível, apesar dos seus efeitos tóxicos, porque os tecidos normais se recuperam totalmente antes do que as células tumorais. É nesta diferença de comportamento celular que a quimioterapia se baseia. As drogas antineoplásicas possuem efeitos tóxicos diferentes em qualida- de e intensidade. Alguns deles são tão nocivos que podem indicar a interrupção do tratamento ou ainda acarretar a morte do paciente e, por isso, devem ser previstos, detectados e tratados com precocidade. Os principais efeitos colaterais segundo tempo de início e duração são apresentados na Tabela 6.12. Tabela 6.12 - Efeitos colaterais dos citostáticos de acordo com o tempo de início e duração. A Toxicidade inespecífica segundo tempo de início e sinais e sintomas observdos são apresentados na Tabela 6.13. Fonte: INCA/MS. 298 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Tabela 6.13 - Toxicidade de citostáticos segundo o início da sua apresentação e sinais e sintomas observados. 3.7 - Efeitos Colaterais Segundo Sistemas Comprometidos Toxicidade hematológica - Os quimioterápicos antineoplásicos po- dem ser capazes de afetar a função medular e levar o indivíduo a uma mielodepressão ficando o tecido hematopoiético vulnerável no período do NADIR da droga (é o tempo transcorrido entre a aplicação da droga e a ocorrência do menor valor de contagem hematológica). Em conseqüência poderá ocorrer: - Anemia que é a redução da concentração de hemoglobina e da massa de glóbulos vermelhos, situação em que o paciente relata fadiga aos menores esforços, nota-se também palidez, dispnéia e taquicardia. Os níveis séricos de hemoglobina e o hematócrito devem ser monitorizados, em alguns casos é indicada a administração de fator de crescimento (eritropoietina) ou transfusão de concentrados de hemácia. - Leucopenia - Ocorre diminuição do número de linfócitos, granulócitos e especialmente neutrófilos, levando a uma supressão da imunidade ce- lular e humoral, com aumento significativo da suscetibilidade aos qua- dros infecciosos graves. - Trombocitopenia - Ocorre uma redução anormal no número de plaquetas, podendo levar o paciente a um quadro de sangramento ou hemorragia. Existe um risco de sangramento quando o nível de plaquetas atinge valores inferiores a 20.000/µl. Toxicidade cardíaca - manifesta-se pelo efeito cumulativo de quimiote- rápicos antineoplásicos cardiotóxicos, embora possa ocorrer nas primeiras apli- cações. Pode-se avaliar através de alterações no ECG tais como: taquicardia sinusal, contração ventricular prematura e modificações na onda T e ST. O uso prolongado também pode levar à insuficiência cardíaca congestiva e falência cardíaca. Toxicidade pulmonar - é relativamente incomum; porém fatal, podendo instalar-se de forma aguda ou insidiosamente. A fisiopatologia das lesões perma- 299 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 nece desconhecida. Seus sinais e sintomas são tosse não produtiva, dispnéia, taquipnéia, expansão torácica incompleta, estertores pulmonares, fadiga. Na biópsia pulmonar há ocorrência de fibrose pulmonar intersticial, inflamação modular. Toxicidade neurológica - Ocorre com maior freqüência após o uso dos alcalóides da vinca e o uso freqüente de asparaginase, manifestando-se através de sinais e sintomas de anormalidades centrais (alterações mentais, ataxia cere- bral, convulsões) ou anormalidades periféricas (neuropatia periférica craniana e irritação meníngea). Toxicidade vesical e renal - A nefrotoxicidade interfere no clearence das drogas administradas ao paciente, impondo ajuste de dosagem. Alguns quimioterápicos antineoplásicos (QA) causam irritação química na mucosa vesical, expressa clinicamente por disúria, urgência urinária e algumas vezes por hematúria em graus variáveis. Toxicidade gastrintestinal - Náuseas e vômitos - Constituem o efeito colateral mais estressante refe- rido pela maioria dos pacientes. As reações psicológicas, bem como múltiplos fatores fisiológicos, também podem desencadear as náuseas e vômitos antecipatórios. A náusea representa uma sensação subjetiva de incômodo gástrico que pode vir acompanhada pela impressão de querer vomitar. As náuseas podem começar e durar mais tempo que os vômitos. - Mucosite ou estomatite - Baseado na literatura, a mucosite é a inflama- ção da mucosa oral em resposta à ação dos quimioterápicos antineoplásicos. Inicia-se com ressecamento da boca e evolui para eritema, dificuldade de deglutição, ulceração, podendo envolver todo o trato gastrintestinal até mucosa anal. - Diarréia - O trato gastrintestinal, por ser formado por células de rápida divisão celular vulneráveis à ação dos quimioterápicos antineoplásicos, sofre uma descamação de células da mucosa sem reposição adequada levando à irritação, inflamação e alterações funcionais que ocasionam a diarréia. - Constipação - Alguns quimioterápicos antineoplásicos do grupo alcalóide da vinca podem provocar a diminuição da motilidade gastrintestinal, devido a sua ação sobre o sistema nervoso do aparelho digestivo, po- dendo inclusive levar ao quadro de íleo paralítico. - Anorexia - A ação dos quimioterápicos antineoplásicos pode ocasionar a sensação de plenitude gástrica, alteração do paladar, percepção au- mentada ou diminuída para doces, ácidos, salgados e amargos. A perda do sabor dos alimentos pode levar o paciente à perda total do apetite. O paciente que apresenta o quadro de anorexia deve ser acompanhado de suporte nutricional. 300 Ações de enfermagem para o controle do câncer W Disfunção reprodutiva - Os quimioterápicos antineoplásicos podem le- var a alterações relacionadas com a fertilidade e a função sexual, cuja intensi- dade vai depender da dose, duração do tratamento, sexo e idade. No homem ocorre oligoespermia e na mulher irregularidade no ciclo menstrual e amenorréia. É comum ocorrer diminuição da libido que pode ser atribuída a vários fatores tais como: a auto imagem comprometida, fadiga e ansiedade. Alopecia - Representa um dos aspectos psicológicos mais difíceis a se- rem enfrentados pelos pacientes. A perda dos cabelos ocorre pela atrofia total ou parcial do folículo piloso, fazendo com que a haste do cabelo se quebre. O efeito é temporário e o cabelo torna a crescer depois de dois meses após a interrupção do tratamento, podendo ter textura ou cor diferentes das anteriores. Hepatoxicidade -É um quadro de disfunção hepática freqüentemente re- versível com a interrupção da quimioterapia antineoplásica. É avaliada através da elevação transitória das enzimas hepáticas (TGO, TGP, DHL e fosfatase alca- lina). O tratamento prolongado, porém, pode causar fibrose hepática, cirrose e elevação das enzimas hepáticas. Alterações metabólicas - Os diferentes quimioterápicos antineo-plásicos podem causar distúrbios metabólicos tais como: hipocalcemia,hipercalcemia, hipoglicemia, hiperglicemia, hiponatremia, hipomagnesemia. 3.8 - Complicações do Tratamento QuimioterápicoAntineoplásico Síndrome da Lise tumoral aguda - Desequilíbrio metabólico decorrente da rápida liberação do potássio, fósforo e dos ácidos nucleicos intracelulares para a corrente sangüínea como resultado da destruição das células tumorais. A lise que ocorre durante a quimioterapia pode levar à insuficiência renal e à mor- te súbita devido à hipercalcemia ou hipocalcemia, causas de arritmias graves. Anafilaxia - É decorrente da sensibilidade, ou seja, de uma reação imunológica ou alérgica imediata ao início da administração da droga e que se caracteriza por contração da musculatura lisa e dilatação dos capilares devido à liberação de substâncias farmacologicamente ativas (histamina, serotonina, bradicinina e etc). Manifesta-se por rubor facial, edema palpebral, dispnéia, tosse, podendo evoluir para edema de glote. Flebite - Geralmente ocorre quando há administração rápida de quimioterápicos antineoplásicos irritantes ou é administrado em vias de peque- no calibre. Os sintomas são dor local, hiperemia, endurecimento e/ou escurecimento do trajeto venoso. 301 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 Extravasamento -É a infiltração de quimioterápico antineoplásico (QA) intravenoso para os tecidos locais, que podem ser ocasionados por drogas irri- tantes, que causam dor e inflamação no local da administração ou ao longo do trajeto venoso. Os QA vesicantes têm o potencial de causar dano celular ou destruição tecidual. Os sinais e sintomas podem ser imediatos com queimação, desconforto local e eritema ou tardio (dor, edema, enduração, ulceração vesicular, necrose, celulite e inflamação). 3.9 - Avaliação da Resposta Terapêutica A resposta terapêutica pode ser classificada em: - Resposta Parcial: quando há redução de 50% ou mais na soma do pro- duto dos dois maiores diâmetros perpendiculares de todas as lesões mensuráveis por exame físico ou por técnicas radiológicas. - Resposta Completa: implica no desaparecimento completo da doença, sendo, se possível, documentada por uma repetição do estadiamento anatomopatológico. Para tumores que secretam marcadores proteicos quantificáveis, como o carcinoma gestacional ou os tumores de células germinativas dos testículos, uma queda desses marcadores para níveis normais e a persistência destes níveis por dois ou três meses se faz necessária para definir uma remissão completa. - Doença Estável: representa uma redução de menos de 50% até um aumento de 25% no produto de diâmetros de quaisquer lesões mensuráveis. - Doença em Progressão: caracteriza-se por um aumento de mais de 25% no produto dos diâmetros ou o surgimento de quaisquer novas lesões. 3.10 - Anticorpo Monoclonal Anticorpos são imunoglobulinas produzidas pelas células B plasmáticas em resposta aos antígenos. Anticorpo monoclonal é uma glicoproteína desen- volvida em laboratório, que ajuda o sistema imunológico do corpo a combater elementos invasores, como o câncer. É composto por moléculas de anticorpos produzidas pelos descendentes clonais de única célula (anticorpo monoclonal). Este tipo de medicação tem a característica de ser altamente específico para um único determinante antigênico, isto é, liga-se a elas, causando uma resposta imune. 302 Ações de enfermagem para o controle do câncer W As pesquisas envolvendo anticorpos monoclonais datam de aproximada- mente 100 anos atrás. O marco ocorreu em 1975 quando Köhler e Milstein receberam o prêmio Nobel de Medicina por terem desenvolvido a técnica do hibrioma (técnica utilizada para produção de conjunto de células proveniente do cruzamento de duas espécies diferentes de células), realizado com camun- dongos. A partir deste período, houve o desenvolvimento crescente destas subs- tâncias. Atualmente existem vários tipos de anticorpos monoclonais em desen- volvimento, inclusive sendo utilizados em outras áreas da medicina. Tornou-se uma das tecnologias médicas mais poderosas. Na área oncológica, existem três tipos principais utilizados no país. Mabthera (Rituximab) - É o primeiro anticorpo monoclonal aprovado para o tratamento do câncer. Utilizado no tratamento de linfoma não-Hodgkin (LNH) de baixo grau ou folicular, que não tenha respondido ou quando a doença tenha progredido durante ou após, pelo menos, um tratamento padrão contendo agente alquilante. É um anticorpo monoclonal quimérico/humano direcionado contra o antígeno CD20 encontrado na superfície de linfócitos B maduros e linfócitos pré- B, normais ou malignos. O antígeno CD20 está expresso em mais de 95% dos LNH. Esta medicação atua nos locais onde há maior concentração desses antígenos. MabThera encontra-se disponível em frascos de 100 e 500mg; podendo ser diluído em soro fisiológico 0,9% ou glicosado 5% com uma concentração final entre 1 e 4 mg/ml. Deve ser armazenado sob refrigeração. A dose inicial recomendada é de 375 mg/m2, uma vez por semana, durante quatro semanas. Deve ser administrado em infusão endovenosa, com rigoroso controle do gotejamento; em paralelo com soro fisiológico 0,9%. Recomenda-se iniciar a infusão com 50mg/h, na primeira hora; se bem tolerado, aumentar 50 mg/h a cada meia hora até o máximo 400 mg/h. Nos pacientes que apresentarem reação leve a moderada durante a infusão, esta deverá ser reduzida ou interrompida temporariamente. Quando os sintomas do paciente desaparecerem, a infusão poderá ser continuada reduzindo em 50% da velocidade de infusão anterior à reação. É indicada a administração da pré-medicação com paracetamol e um anti-histamínico, 30 minutos antes. É contra-indicada a administração desta medicação em pacientes com hipersensibilidade conhecida a qualquer componente do produto ou a proteínas murinas. É indispensável a monitorização dos sinais vitais a cada 15 minutos na primeira hora e posteriormente a cada 30 minutos; inclusive após término da medicação o paciente deverá permanecer em observação por 30 minutos. Dentre os efeitos adversos, o mais comum é a síndrome infusional com febre e calafrios (mais comum), podendo ser acompanhada por náuseas, vômito, urticária, fadiga, cefaléia, prurido, irritação na garganta, hipotensão, 303 Bases do Tratamento do Câncer W Capítulo 6 broncoespasmo, dispnéia e angioedema. Em caso de reação, interromper a in- fusão, deixando infundir somente o soro em paralelo. Pode-se utilizar broncodilatadores, oxigenoterapia, epinefrina, anti-histamínico e corticosteróide, estes devem estar disponíveis para uso imediato. Pacientes com um grande número ( > 50.000 mm3 ) de células malignas circulantes ou com uma grande carga tumoral, podem ter maior risco de reação infusional grave. Mylotarg (Gemtuzumab Ozogamicin) - É um anticorpo recombinante ligado a um potente antibiótico antitumoral chamado caliqueamicina, isolado de uma bactéria. É indicado para paciente com leucemia mielóide aguda (LMA) com 60 anos ou mais e recidiva para CD33. Este anticorpo liga-se ao antígeno CD33, formando um complexo que é internalizado pela célula mielóide; após este processo ocorre a quebra da cadeia de DNA, devido à liberação do antibiótico antitumoral; ocasionando morte celular. O tratamento recomendado são duas aplicações com a dose de 9 mg/m2 com intervalo de 14 dias. O medicamento apresenta-se em frasco-ampola com 5mg. Recomenda-se conservar o frasco sob refrigeração, protegido da luz (dro- ga fotossensível). Deve-se realizar a reconstrução com 5 ml de água para injeção, diluindo após em 100 ml de soro fisiológico 0,9%. Após a diluição, a droga mantém-se estável por oito horas. Deve ser administrado sob infusão de 2 horas (cada frasco), via endovenosa com um filtro de 1,2 micron, com finalidade de baixar afinidade por proteínas. É contra-indicada a administração desta droga em