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Teoria Geral dos Recursos

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TEORIA GERAL DOS RECURSOS
RECURSO
É o meio idôneo para provocar a impugnação e, consequentemente, o reexame de uma decisão judicial, com vistas a obter, na mesma relação processual, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração do julgado. 
Ao interpor o recurso, objetiva o recorrente a reforma, a anulação, o esclarecimento ou a integração do julgado. O que dá ensejo ao pedido de reforma do julgamento é a injustiça da decisão recorrida, a má apreciação da prova e do direito aplicado, em última análise, o erro ao julgar (error in judicando). 
 A anulação pode ser pleiteada quando há vício formal na própria decisão, erro de procedimento (error in procedendo) e quando, por exemplo, a decisão não foi devidamente fundamentada (art. 489, § 1º). Nesse caso, não se pede a reforma, mas sim a anulação, para que o ato recorrido seja cassado e outro seja proferido em seu lugar pelo mesmo órgão do qual emanou ou pelo próprio tribunal (art. 1.013, § 3º, IV). O pedido de esclarecimento ou declaração é cabível no caso de julgamento obscuro, contraditório ou omisso. Para obter o esclarecimento, nessas hipóteses, devem-se manejar os embargos de declaração. Finalmente, cabe pedido de integração quando o juiz deixar de abordar determinada questão da lide, hipótese em que pode o tribunal completar o exame da matéria. 
ESPÉCIES DE RECURSOS
O art. 994 contempla as seguintes espécies de recursos: apelação, agravo de instrumento, agravo interno, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário, agravo em recurso especial ou extraordinário e embargos de divergência. 
CLASSIFICAÇÃO DE RECURSOS
Quanto à extensão da matéria impugnada: o recurso pode ser parcial ou total. Parcial quando o recorrente ataca apenas parte da matéria, objeto da decisão. Nesse caso, o que não for impugnado fica acobertado pela coisa julgada material, restando ao prejudicado apenas a propositura de ação rescisória, se presente alguma das hipóteses do art. 966, ou a querela nullitatis, se o vício for prejudicial à própria existência da relação processual.
Quanto à autonomia: o recurso pode ser principal ou adesivo. Principal é o recurso interposto independentemente da conduta da parte contrária, ou seja, é aquele cuja interposição não está condicionada à interposição de outro. Todos os recursos previstos no Código podem ser interpostos independentemente de outro. Quanto à apelação, ao recurso extraordinário e ao recurso especial, além de poderem ser interpostos como recurso principal, admitem a interposição na forma adesiva (art. 997, § 2º, II).
Quanto à natureza da matéria apreciada: os recursos podem ser comuns e especiais: 
Recursos comuns (ou ordinários em sentido amplo): são aqueles em que a sucumbência constitui a única exigência para sua interposição, atendidos os demais pressupostos de admissibilidade. Visa o recurso comum a atender ao anseio da parte ao duplo grau de jurisdição, à necessidade psicológica de ver a decisão reapreciada por outros juízes, supostamente mais experimentados. O recurso comum tem por objeto as questões e provas suscitadas e debatidas no curso da relação processual; em última análise, tem por objeto a proteção do direito subjetivo. A apelação, o agravo de instrumento e o agravo interno constituem modalidades de recursos comuns. Também o recurso ordinário (arts. 102, II, e 105, II, da CF), cabível, em regra, contra decisão de tribunal em matéria de competência originária, constitui uma modalidade de recurso comum. 
Recursos especiais (ou excepcionais): visa a proteção do direito objetivo, a uniformidade da aplicação desse direito. Como modalidades de recurso especial, temos o recurso especial propriamente dito, que se destina à uniformização do direito infraconstitucional, e o recurso extraordinário, cujo objetivo é a uniformização do direito constitucional.
PRINCÍPIOS DOS RECURSOS
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO: possibilita à parte que submeta matéria já apreciada e decidida a novo julgamento, por órgão hierarquicamente superior, previsto na Constituição, (arts. 92 a 126 da CF/1988). a própria Constituição estabelece hipóteses de competência originária de tribunais superiores, nas quais não há possibilidade de interposição de recurso ordinário. Assim, em virtude de o duplo grau de jurisdição ter incidência limitada, permite-se ao legislador infraconstitucional restringir o cabimento dos recursos, como ocorre, por exemplo, no caso do art. 1.007, § 6º, que prevê a irrecorribilidade da decisão que releva a pena de deserção se provado justo impedimento do recorrente. Igualmente a lei contempla hipóteses de o tribunal, em decorrência do efeito translativo do recurso, decidir originariamente uma questão que, embora submetida ao juízo de primeiro grau, de por ele não foi decidida. 
TAXATIVIDADE: consideram-se recursos somente aqueles designados por lei federal, pois compete privativamente União legislar sobre essa matéria (art. 22, I, da CF/1988). Por conseguinte, não há como admitir a criação de recursos pelos tribunais brasileiros, razão pela qual se deve reputar inconstitucional a previsão, em regimento interno de tribunal, de qualquer espécie de recurso. 
SINGULARIDADE: cada decisão comporta uma única espécie de recurso. De regra, não se admite a divisão do ato judicial para efeitos de recorribilidade, devendo-se ter em mente, para aferir o recurso cabível, o conteúdo mais abrangente da decisão no sentido finalístico. Exceções: art. 1.031 CPC, o princípio da unirrecorribilidade ou singularidade veda é a interposição simultânea de dois ou mais recursos contra a mesma parte ou capítulo da decisão. No mandado de segurança de competência originária de tribunal de segundo grau, cuja segurança foi apenas parcialmente deferida. Nessa hipótese, contra a mesma decisão, são cabíveis três recursos distintos. Para tanto, deve-se dividir o pronunciamento judicial em capítulos. Contra o capítulo que concede a segurança, em tese, pode-se interpor RE e/ou REsp e contra o capítulo que denega a segurança, cabe recurso ordinário constitucional. Na eventualidade de se oporem embargos de declaração em face da sentença ou acórdão contra o qual, posteriormente, se vai recorrer, também não há infringência do princípio da singularidade. Isso porque sequer há simultaneidade entre os embargos de declaração e o recurso que lhes suceder, uma vez que primeiro são interpostos os embargos e só depois da decisão destes é que há ensejo para outro recurso. 
FUNGIBILIDADE	
	A impugnação do ato judicial deve ser realizada por meio do recurso adequado para tal, sob pena de inadmissão da via recursal utilizada por ausência de um dos requisitos de admissibilidade (cabimento). 
	Em certas situações em que há dúvida objetiva a respeito do recurso cabível para impugnar determinada decisão, admite-se o recebimento de recurso inadequado como se adequado fosse, de modo a não prejudicar a parte recorrente por impropriedades do ordenamento jurídico ou por divergências doutrinárias e jurisprudenciais. 
	A essa possibilidade de conversão, de troca de um recurso por outro, dá-se o nome de Fungibilidade.
	O § 3º do art. 1.024, por exemplo, prevê a possibilidade de recebimento e processamento dos embargos de declaração como agravo interno, entendimento que já era contemplado na jurisprudência (STJ, EDcl nos EAREsp 252.217/ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 3ª Seção, julgado em 11.06.2014). No âmbito dos recursos extraordinários, o novo CPC também admite a fungibilidade entre o REsp e o RE. É o que se pode perceber da leitura dos arts. 1.032 e 1.033.
	Com novo Código de Processo Civil, excetuados os embargos de declaração, o prazo para interposição dos demais recursos (apelação; agravo de instrumento; agravo interno; recurso ordinário; recurso especial e extraordinário; agravo em recurso especial ou extraordinário; e embargos de divergência) será de quinze dias. 
	Sendo assim, a discussão quanto à observância (ou não) do prazo recursal para aplicação da fungibilidade sóterá relevância quando a parte pretender efetivamente impugnar a decisão, mas, para tanto, utilizar os embargos de declaração. 
PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS 
	O princípio da proibição da reformatio in pejus, é vedada a reforma da decisão impugnada em prejuízo do recorrente e, consequentemente, em benefício do recorrido. 
	Sendo interposto recurso por determinado motivo, o órgão julgador só pode alterar a decisão nos limites em que ela foi impugnada, não podendo ir além. 
	O órgão jurisdicional somente age quando provocado (art. 2º), e do princípio da congruência, pelo qual o julgador está vinculado ao pedido formulado pela parte (arts. 141 e 492, por extensão). 
	Caso ambas as partes interponham recurso contra uma decisão, não haverá aplicação do princípio em comento. O provimento de um recurso em detrimento do outro pode ensejar, nos limites dos recursos interpostos, prejuízo a um dos recorrentes. 
EXCEÇÃO: quanto análise e apreciação de questões de ordem pública, porquanto conhecíveis de ofício em qualquer tempo e grau de jurisdição (arts. 485, § 3º, e 337, § 5º).
	Não cabe reformatio in pejus, quando a sentença tenha sido cassada pelo tribunal.
	Por fim, cumpre ressaltar que, não é admitida a reformatio in melius, isto é, a reforma da decisão para melhorar a situação do recorrente além do que foi pedido. 
VOLUNTARIEDADE 
A parte não está obrigada a interpor recurso contra a decisão que lhe for desfavorável. Contudo, se não o fizer, arcará os ônus respectivos. 
Exemplo:
A sentença que condena o réu a pagar determinada quantia e este não interpõe apelação, a decisão transita em julgado, em caráter definitivo, ao que restou decidido. 
	A voluntariedade também está presente na desistência do recurso. Consoante o art. 998:
 “o recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso”. Trata-se de ato voluntário que, diferentemente do que ocorre com a desistência da ação após a contestação, independe da manifestação (concordância ou discordância) por parte do recorrido. 
DIALETICIDADE 
	Ao interpor recurso, a parte deverá expor as razões do seu inconformismo, indicando-as de forma clara e com a devida fundamentação. 
Nelson Nery Junior nos esclarece que:
“[...] de acordo com este princípio, exige-se que todo recurso seja formulado por meio de petição pela qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com o ato judicial impugnado, mas, também e necessariamente, indique os motivos de fato e de direito pelos quais requer o novo julgamento da questão nele cogitada”. 
Na apelação, constata-se a presença do princípio da dialeticidade no inciso II do art. 1.010, que traz como requisito da peça recursal a indicação das razões do pedido de reforma ou de decretação da nulidade da sentença. No agravo de instrumento, o legislador elenca como um dos requisitos da petição inicial “as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido” (art. 1.016, III). 
O princípio da dialeticidade, com o nome de regularidade formal, figura como requisito de admissibilidade recursal. 
	Caso o recurso não aponte os motivos de reforma da decisão recorrida (os fundamentos de fato e de direito), o tribunal dele não conhecerá. O STJ considera que a reiteração de argumentos elencados na petição inicial ou na contestação não implica, por si só, a ausência de requisito objetivo de admissibilidade do recurso de apelação.
	PRECLUSÃO CONSUMATIVA E COMPLEMENTARIDADE 
	A parte que pretender impugnar o ato decisório deve fazê-lo dentro do prazo previsto em lei. 
 Se a decisão é publicada e a parte vencida entende que deve interpor recurso de apelação, terá 15 dias úteis (art. 219) para preparar a peça recursal. 
Se, no entanto, já no dia seguinte à publicação da decisão ela interpõe o recurso, não pode posteriormente complementar as razões recursais, ainda que dentro do prazo, exceto na hipótese prevista no § 4º do art. 1.024. A complementação de atos processuais somente é admitida nos casos expressos em lei. Por mais que se fale em cooperação e aproveitamento dos atos processuais, não se pode olvidar do princípio da isonomia. 
 Se é concedido o prazo de 15 dias para ambas as partes para recurso, não se pode estender esse prazo.
 O recorrente não pode desistir do recurso, e ainda dentro do prazo, apresentar um novo apelo. Uma vez já exercido o direito de recorrer, consumou-se a oportunidade de fazê-lo. É o que se denomina consumação ou preclusão consumativa. 
PRESSUPOSTOS DA ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS
Para que o recurso produza o efeito de devolver o exame da matéria impugnada ao tribunal, é indispensável que estejam presentes certos pressupostos de admissibilidade.
O julgamento do recurso divide-se em duas etapas:
juízo de admissibilidade; e 
juízo de mérito. 
Na primeira parte o tribunal verefica se o recurso pode ser admitido, em outras palavras, o tribunal conhece ou não conhece do recurso. Deliberando o tribunal pelo conhecimento.
Na segunda parte, se refere ao mérito, quando então ao recurso pode se dar ou negar provimento. 
	O juízo de admissibilidade consiste, no exame acerca da existência de determinadas condições que devem estar presentes nos recursos para que o tribunal possa analisar o seu mérito. 
	Assemelha-se às condições da ação, que nada mais são que requisitos que devem estar presentes para que o mérito da causa possa ser examinado. A diferença é que sem as condições da ação a relação processual não se instaura ou não se desenvolve validamente; sem os requisitos de admissibilidade, a relação processual não se prolonga. 
O Recurso é conhecido quando o juízo de admissibilidade é positivo, contendo a presença de todos os requisitos de admissibilidade. Quando o juízo é negativo, o recurso não é conhecido. 
	O juízo de admissibilidade da apelação é único, feito apenas pelo tribunal competente. É o que se depreende da redação do art. 1.010, § 3º, segundo a qual:
“após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade”. 
De acordo a doutrina, os requisitos de admissibilidade dos recursos dividem-se em subjetivos e objetivos:
 Os subjetivos são: a legitimidade e o interesse. 
 Os requisitos objetivos são: o cabimento, a tempestividade, o preparo, a regularidade formal e a inexistência de fato extintivo ou impeditivo do direito de recorrer (exemplos: renúncia ao direito de recorrer, reconhecimento jurídico do pedido e desistência da ação ou do recurso). 
CABIMENTO:
	Para que o requisito do cabimento seja preenchido o recurso deve estar previsto em lei contra determinada decisão judicial e, ainda, ser o adequado à obtenção do resultado pretendido. 
	A respeito da recorribilidade deve-se destacar, que em decorrência do princípio da taxatividade, os recursos encontram-se designados, em rol exaustivo, por lei federal. 
	Tais recursos podem ser interpostos em face de alguns pronunciamentos do juiz, os quais, segundo o art. 203, consistem em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Recebe a denominação de acórdão o julgamento colegiado proferido pelos tribunais (art. 204). 
	Apenas as sentenças, os acórdãos e as decisões interlocutórias, enfim, os atos com conteúdo decisório, em face da possibilidade de causarem gravame à parte, ensejam a interposição de recurso. De acordo com o art. 1.001, dos despachos não cabe recurso. 
Entretanto, para evitar prejuízo, decorrente da inversão tumultuária da ordem processual, a praxe forense instituiu uma medida sui generis, que não se confunde com recurso, denominada correição parcial. Tal medida, que consta apenas em regimentos de alguns tribunais e na lei que disciplina a Justiça federal (arts. 6º, I, e 9º da Lei nº 5.010/1966), destina-se à reparação de ato do juiz para o qual não haja previsão de recurso e que, em razão de erro (in procedendo) ou abuso, pode causar dano irreparável à parte. 
	No que tange à adequação, cumpre observar que tal pressupostorelaciona-se com o princípio da singularidade, mas com ele não se confunde. Em razão da singularidade, a parte há que escolher, no elenco dos recursos, apenas um, não se admitindo, como regra, a interposição de dois recursos simultâneos. 
LEGITIMIDADE
	Tem legitimidade para recorrer quem participou da relação processual: as partes, os intervenientes e o Ministério Público, tanto na condição de parte, quanto na de fiscal da ordem jurídica (art. 996). Ou também o terceiro prejudicado aquele que pode sofrer prejuízo pela eficácia.
	O terceiro prejudicado equivale à do assistente (art. 119) que intervém na relação processual na fase recursal. Para que seja admissível o recurso, é necessário demonstrar que a decisão recorrida afetará direta ou indiretamente, relação jurídica de que o terceiro é titular. Além disso, não basta a demonstração de prejuízo econômico; é preciso que haja nexo de interdependência entre a relação jurídica submetida à apreciação judicial e o interesse do terceiro conforme decisão do STJ. 
	Admite-se o recurso por parte de terceiro que possa discutir a relação jurídica objeto do processo na qualidade de substituto processual, uma vez que a eficácia do julgado há de recair sobre a parte em sentido material e não apenas processual (art. 996, parágrafo único, parte final).
INTERESSE
	Para recorrer não basta apenas ter a legitimidade, não basta ter sido parte ou interveniente na relação processual. É necessário ter interesse, é indispensável que o recurso seja útil e necessário ao recorrente, a fim de evitar que sofra prejuízo com a decisão. O mesmo se pode dizer com relação ao Ministério Público. O fato de ter sido parte ou ter oficiado como fiscal da ordem jurídica confere-lhe legitimidade para interpor recurso, mas não o interesse para recorrer.
Para a utilidade e necessidade do recurso, pode-se afirmar ainda que:
• Não tem interesse quem, depois de recorrer, propõe acordo à parte contrária. Ocorre, nesse caso, a preclusão lógica; 
• Tratando-se de sentença citra, ultra ou extra petita, o autor detém interesse para recorrer. 
• Deve o terceiro recorrente demonstrar o interesse jurídico na vitória de uma das partes, o que exclui a possibilidade de se interpor recurso com base em mero interesse de fato, moral ou econômico; 
• O Ministério Público também deve demonstrar interesse recursal, seja como parte ou como custos legis (sua atuação precisa estar relacionada com as finalidades da intervenção que exige o art. 178). 
INTERESSE RECURSAL E CUMULAÇÃO DE PEDIDOS
	Quando o autor formula pedidos alternativos, ele pretende ver seu pleito satisfeito de um ou de outro modo, formulado o pedido alternativamente, a condenação também será alternativa. 
Exemplo: Pedro ajuíza ação contra João pleiteando a devolução do valor pago por uma bicicleta ou o abatimento no preço, em razão de um defeito verificado após o uso. O juiz condena João a devolver o que Pedro pagou pela bicicleta, devidamente corrigido. Neste exemplo não há interesse recursal por parte de João, já que na petição inicial ele atribuiu equivalência aos pedidos, de modo que o atendimento a qualquer deles implica procedência total da demanda. 
Por outro lado, quando o autor formula um pedido principal e outro (ou outros) secundário (cumulação eventual ou subsidiária de pedidos), a análise do interesse recursal levará em conta os seguintes aspectos: 
• Se numa ordem de preferência o autor pleiteia, por exemplo, o reconhecimento de seu direito a determinado quinhão hereditário e, consequentemente, a anulação de partilha já realizada, ou, subsidiariamente, o ressarcimento de benfeitorias realizadas no imóvel do de cujus, e o juiz acata o último dos pedidos, estará presente o interesse recursal. Nessa hipótese o autor interporá apelação com o objetivo de obter a procedência do pedido principal. E se o juiz não tivesse acatado nenhum dos pedidos? Por óbvio, persistiria o interesse recursal.
	No plano fático o autor obteve a melhor situação possível, sendo incoerente eventual acolhimento de apelação no sentido de dar provimento ao pedido “menos importante”. Em poucas palavras, sucumbência haverá se nenhum dos pedidos for acatado ou se apenas o subsidiário for acolhido.
	A Falta de interesse decorrente de renúncia ou desistência do recurso ocorre a renúncia quando o recorrente, antes da interposição do recurso, abre mão da faculdade de recorrer. A renúncia pode ser manifestada por petição ou oralmente na audiência. O que importa é que a manifestação seja anterior à interposição do recurso. Se for posterior, não será renúncia, mas sim desistência. 
	O prazo para recurso é peremptório, não admitindo convenção das partes, mas pode ser renunciado (art. 225). Dá-se a desistência quando, já interposto o recurso, a parte manifesta a vontade no sentido de que não pretende o seu prosseguimento. A desistência pode ocorrer em qualquer tempo (art. 998).
PREPARO
Os recursos estão sujeitos ao pagamento das despesas processuais correspondentes ao recurso interposto, que compreendem as custas e o porte de remessa e de retorno (art. 1.007). Para certos recursos, o preparo é dispensado, por exemplo, nos embargos de declaração (art. 1.023, parte final). Também são dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal (art. 1.007, § 1º), como os beneficiários da gratuidade judiciária e o curador especial de réu revel a que se refere o art. 72, II. 
Especificamente em relação ao porte de remessa e de retorno, há dispensa de seu recolhimento nos processos eletrônicos (art. 1.007, § 3º).
A rigidez do pressuposto recursal referente ao preparo prévio ou concomitante pode ser mitigada em duas hipóteses: quando o preparo for insuficiente e quando houver justo impedimento. A insuficiência no valor do preparo só implicará deserção, ou seja, não conhecimento do recurso, somente quando o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 dias. Da mesma forma, a absoluta falta de preparo só implicará deserção, se a parte, devidamente intimada, não o fizer em dobro. 
REGULARIDADE FORMAL 
	Quanto à forma, a interposição do recurso deve observar o que for estabelecido em lei:
a) no processo civil, os recursos são interpostos por petição escrita, não se admitindo interposição oral (por termo), nem mediante cota nos autos. 
b) a interposição deve ocorrer no juízo de origem (a quo), com exceção do agravo de instrumento, cuja interposição é diretamente realizada no juízo ad quem;
c) a petição deve indicar e qualificar as partes (salvo se já estiverem qualificadas nos autos), vir acompanhada das razões do inconformismo (causa de pedir) e do pedido de nova decisão, se for o caso;
d) no caso de recurso interposto por terceiro prejudicado, deve-se demonstrar “a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual” (art. 996, parágrafo único).
INEXISTÊNCIA DE FATO EXTINTIVO OU IMPEDITIVO DO DIREITO DE RECORRER
	
	Trata-se de pressuposto recursal genérico de admissibilidade que, uma vez não preenchido, autoriza a negativa de seguimento do recurso. São fatos extintivos do direito de recorrer a renúncia à faculdade de interpor recurso e a aquiescência com a decisão passível de recurso (preclusão lógica). 
	Figura também entre os fatos extintivos o pacto de não recorrer, previsto no art. 190, segundo o qual podem as partes, sendo plenamente capazes e versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. 
EFEITO DOS RECURSOS
Os recursos tem efeito de devolver (transferir) ao órgão jurisdicional hierarquicamente superior (tribunalad quem) o exame de toda a matéria impugnada.
Efeito Devolutivo: Trata-se do efeito devolutivo, que decorre logicamente do princípio dispositivo, segundo o qual o órgão julgador age mediante provocação da parte ou do interessado e nos limites do pedido (arts. 2º, 141 e 492). 
REGRA: é portanto a devolução, a transferência para o TRIBUNAL de toda matéria impugnada. 
Conforme entendimento majoritário é aplicado a todos os recursos, o princípio tantum devolutum quantum appellatum, ou seja, TODO RECURSO devolve ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
parte da doutrina entende que os embargos de declaração não possuem o efeito devolutivo, por serem julgados pelo próprio órgão prolator da decisão embargada. Pois, não se destinam ao reexame de matéria já decidida, mas apenas ao esclarecimento de ponto obscuro ou contraditório, integração de ponto omisso ou correção de erro material (art. 1.022). 
Efeito Translativo: o efeito translativo constitui uma singularidade do efeito devolutivo, como a possibilidade de o julgamento recursal extrapolar os limites do que foi efetivamente impugnado. 
Para alguns doutrinadores existe relação entre esses efeitos, o efeito translativo relaciona-se com a extensão (dimensão horizontal) e profundidade (dimensão vertical) do efeito devolutivo.
O efeito translativo é decorrência direta da dimensão vertical ou profundidade do efeito devolutivo. 
A interposição do recurso devolve as matérias mesmo que não impugnadas, pois se relacionam com o objeto do recurso, o qual devolve também as matérias de ordem pública, pois estão ligadas aos pressupostos processuais, a análise do mérito que dá condições para o provimento final.
REGRA: a instância recursal limita-se a analisar o que foi objeto de impugnação (art. 1.013). 
EXCEÇÃO: os parágrafos do art. 1.013 trazem regras que definem o a extensão da pretensão recursal. Por exemplo, que a questão suscitada não tenha sido decidida por inteiro (art. 1.013, § 1º)
Efeito Suspensivo: com relação ao efeito suspensivo é ope legis, ou seja, quando há previsão legal para a sua atribuição, esse efeito decorre, em um primeiro momento, do simples fato de a decisão ser recorrível. Caso seja interposto recurso com efeito suspensivo, prolonga-se a ineficácia da decisão. 
O sistema recursal não prevê efeito suspensivo automático (ope legis), podendo o relator, em caráter excepcional, atribuir tal efeito. Na apelação a lógica se inverte, a regra específica para esse recurso é o efeito suspensivo automático (art. 1.012, caput. 
REGRA: a regra é a não suspensividade da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso, conforme dispõe o art. 995. Omissa a lei, o recurso não produz o efeito suspensivo, ou seja, a decisão será eficaz e produzirá efeitos.
EXCEÇÃO: o efeito suspensivo é medida excepcional, a ser deferida quando houver risco de dano irreparável à parte. É o que ocorre na ação civil pública (art. 14 da Lei nº 7.347/1985), nos Juizados Especiais (art. 43 da Lei nº 9.099/1995) e nas sentenças concessivas de mandado de segurança (art. 14, § 3º, da Lei nº 12.016/2009). Tais leis preveem o efeito suspensivo como exceção.
Efeito Substitutivo, expansivo e ativo: além dos efeitos já abordados temos o efeito do julgamento do próprio recurso.
O efeito substitutivo consiste em substituir a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso (art. 1.008). A substituição é apenas da parte impugnada. Quanto à parte não impugnada, esta permanece íntegra. Assim, sendo a apelação apenas parcial, o título executivo é formado pela sentença, na parte transitada em julgado, e pelo acórdão. 
O efeito expansivo consiste na possibilidade de o julgamento do recurso ensejar decisão mais abrangente do que o reexame da matéria impugnada, que é o mérito do recurso. O efeito expansivo pode ser subjetivo ou objetivo e, este, interno ou externo. 
Efeito expansivo objetivo interno: há quando o tribunal apreciar apelação interposta contra sentença de mérito, dá-lhe provimento e acolhe preliminar de litispendência, que atingirá todo o ato impugnado (sentença). 
Efeito expansivo objetivo externo: quando o julgamento do recurso atinge outros atos além do impugnado, como o provimento do agravo, que atinge todos os atos processuais que foram praticados posteriormente à sua interposição. 
Efeito expansivo subjetivo: ocorre quando o julgamento do recurso atinge outras pessoas além do recorrente e do recorrido. É o caso, por exemplo, do recurso interposto apenas por um dos litisconsortes sob o regime de unitariedade: a decisão atingirá também o outro litisconsorte”. 
Efeito ativo (ou suspensivo ativo) se refere à possibilidade de o relator conceder, antes do julgamento pelo órgão colegiado, a pretensão recursal almejada pelo recorrente. O efeito ativo nada mais é do que a tutela antecipatória recursal. 
ALCANCE DO RECURSO DO LITISCONSORTE:
 
Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses. 
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns. 
No caput do art. 1.005, somente o recurso interposto por litisconsórcio unitário aproveita aos demais. 
REGRA: no nosso sistema é a completa autonomia dos litisconsortes (art. 117). 
Cada litisconsorte tem de apresentar recurso independente, sob pena de contra ele a sentença transitar em julgado. 
dor a todos aproveitará (art. 1.005, parágrafo único). 
LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO quando o julgamento do recurso deve ser idêntico para todos os litisconsortes, aplica-se o caput do art. 1.005.
 
Exemplo: a ação de petição de herança foi julgada improcedente. Apenas um herdeiro recorreu, porém todos os herdeiros podem ser beneficiados pelo julgamento do recurso. 
O credor tem direito a exigir e receber de um ou alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum (art. 275, caput, do CC). Se a demanda for proposta contra mais de um devedor solidário, teremos o litisconsórcio unitário. 
Entretanto, mesmo que a demanda seja proposta apenas contra um, a solidariedade permanece íntegra, até porque o devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota (art. 283 do CC). Em decorrência da solidariedade, o recurso interposto por um devedor a todos aproveitará (art. 1.005, parágrafo único). 
RECURSO ADESIVO
O recurso adesivo não é uma espécie de recurso, suas espécies estão elencadas no art. 994, mas como forma de interposição. A forma de interposição aderida e condicionada ao recurso da outra parte, denominado principal, só é admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial (art. 997, § 2º, II). 
O recurso adesivo tem como pressuposto específico a sucumbência recíproca. Ambas as partes são vencidas em suas pretensões. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. 
A subordinação ao recurso principal ou independente é limitada, a parte sucumbente que não interpôs o recurso poderá fazê-lo na forma adesiva sem que a matéria impugnada se limite àquela do recurso principal, interposto pela parte contrária. Isso porque a exigência de subordinação a que alude o art. 997 deve ser aferida apenas no plano processual. 
Diz o art. 997 que cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Trata o dispositivo do denominado recurso adesivo. 
Há críticas na doutrina quanto ao nome adotado, sendo que parte da doutrina prefere o nome recurso subordinado, dependente ou, ainda, contraposto. 
REGRAS RECURSO ADESIVO:
• tem legitimidade para interposição do recurso adesivo aquele que figurou como recorrido no recurso principal ou independente; 
• o Ministério Público na condição de fiscal da ordem jurídica, não pode recorrer adesivamente, pois o art. 997 só fala em autor e réu e também porque o Ministério Público, agindonessa qualidade, não sucumbe; 
• o terceiro prejudicado também não pode se valer do recurso adesivo pelo fato de não estar compreendido na expressão “autor e réu” (art. 997, § 1º); 
• O recurso adesivo deve ser interposto no prazo de 15 dias, sua interposição não se condiciona à apresentação das contrarrazões. Deve ser interposto em peça separada da resposta ao recurso principal; 
• O recurso adesivo está sujeito às mesmas regras do recurso principal, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior. Assim, quem desejar recorrer de forma adesiva deve providenciar o pagamento das custas e porte de remessa e retorno, mesmo que haja causa de isenção de preparo em relação ao recurso independente; 
• Como é acessório, está subordinado ao recurso independente (principal). Se o recurso principal não for conhecido, o recurso adesivo também não o será. Do mesmo modo, a eventual desistência do recurso principal implicará o não conhecimento do recurso adesivo interposto pela outra parte (art. 997, § 2º, III); 
• Subindo os autos ao tribunal, apenas para efetivação do duplo grau de jurisdição exigido nas hipóteses do art. 496 (remessa necessária), NÃO se admite recurso adesivo, visto que inexiste recurso principal; 
• Quem interpôs fora do prazo o recurso principal não pode interpor o adesivo, porquanto, conforme interpretação teleológica (finalística), o recurso adesivo somente socorre a parte inicialmente disposta a conformar-se com a decisão, além do que contra aquele que interpôs recurso principal intempestivo opera-se a preclusão (STJ, 4ª Turma, REsp 9.806/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU 30.03.1992); 
• É cabível recurso adesivo para impugnar capítulo acessório da decisão. Assim, ainda que vencedora a parte na totalidade dos pedidos, é possível a interposição do recurso adesivo com a finalidade de majorar a verba honorária (STJ, REsp 1.276.739/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17.11.2011); 
• “De acordo com a doutrina, nada impede que, interposto recurso extraordinário por uma parte, a outra interponha, sob a forma adesiva, recurso especial e vice-versa. 
	Isto porque a lei não determina que o recurso adesivo seja necessariamente subordinado a outro da mesma espécie”. 
• Assim, se, por exemplo, “numa ação anulatória de auto de infração for proferido acórdão reconhecendo a constitucionalidade do tributo, mas houver redução da multa, tanto o autor quanto o réu terão interesse em recorrer, em virtude da sucumbência recíproca. Se o réu interpõe recurso especial, questionando a redução da multa, poderá o autor, de forma adesiva, interpor recurso extraordinário cruzado, buscando o reexame da decisão na parte em que reconheceu a constitucionalidade do tributo”.

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